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Segunda-feira, 15 de Outubro de 2012.


          Transposição do Cuidado: Enfermagem à Nutrição


                                              Por Sandra Goulart Magalhães*; Fernando Porto**


A emergência do campo da nutrição quer seja como ciência, política social e/ou profissão é um
acontecimento relativamente recente, que data do início do século XX. Mas, este campo do
conhecimento foi estimulado desde a Revolução Industrial na Europa no século XVIII e
desencadeado no período da 1ª Guerra Mundial (1914 - 1918). Mais precisamente, no período
que intermediou as duas Grandes Guerras Mundiais entre 1918-1939, foi que em alguns países da
Europa: Inglaterra, França, Itália, Dinamarca, Alemanha; na América do Norte: Estados Unidos e
Canadá e posteriormente na América Latina: Brasil e Argentina foram efetivamente gerados os
primeiros centros de pesquisas e primeiros cursos para formação de profissionais especialistas e
as primeiras agências de medidas interventoras em nutrição. São fatos relatados por Vasconcelos
(2002), em seu artigo “O nutricionista no Brasil: uma análise histórica” publicado na Revista de
Nutrição, através de revisão de literatura, apontando o que acontecia no contexto mundial.
No Brasil, entretanto, o interesse sobre a alimentação da população brasileira já vinha sendo
sistematizada dentro da área médica, ainda na segunda metade do século XIX. Existem relatos
de pesquisas, a respeito de doenças carenciais relacionadas à alimentação e hábitos alimentares
da população brasileira através de estudos, pesquisas e teses apresentadas nas duas Faculdades de
Medicina existentes à época no país, que eram a da Bahia e a do Rio de Janeiro. Entretanto há
controvérsias sobre esses marcos emergenciais segundo o autor.
Em 1930, considerável conjunto de estudos começou a ser desenvolvido no Rio de Janeiro e São
Paulo e mais tarde em Salvador e Recife na constituição do campo da nutrição brasileira.
Destacando-se vários cientistas e pesquisadores brasileiros, médicos e nutrólogos, todos agentes
sociais que detinham o conhecimento científico garantindo a especificidade no campo da
Nutrição, a legitimidade ou reconhecimento social deste campo. Alguns destes médicos
estudiosos da nutrição eram formados em nutrologia em outros países da América Latina ou na
Europa e passaram a se dedicar ao estudo da Nutrição aqui no Brasil (VASCONCELOS, 2002
p.129).
A Argentina influenciada pelo dietólogo Pedro Escudero criador do Instituto Municipal de
Nutrição em 1926 (Buenos Aires) e que mais tarde em 1933 cria a Escola Municipal de Dietistas,
neste mesmo ano (1933), recebeu convite da Faculdade Nacional de Medicina para ministrar
curso no Rio de Janeiro. Sua passagem pelo Brasil aguçou o interesse da classe médica do Rio de
Janeiro sobre o tema alimentação.
Escudero oferecia bolsas de estudo para os países da América Latina o que foi um avanço na
formação de nutricionistas na América do Sul (A.B.N., 1991 p.2-3; VASCONCELOS, 2002
p.128). Dentre os contemplados com bolsa de estudos no Brasil, foram entre outros, Josué de
Castro (médico) e Lieselotte H. Ornellas (enfermeira).




    Pedro Escudero                  Lieselotte H. Ornellas           Getulio Vargas


Embora no início do século XX, o conhecimento da nutrição norteava e determinava um
conjunto de ideias e comportamentos científicos nos homens da época, pode-se considerar
que o início de uma política nacional voltada para a alimentação e nutrição deu-se na
década de 30 /40. Em 1939 o presidente Getúlio Vargas através da Portaria de SCm 163
criou o Serviço Central de Alimentação e Nutrição -SCN subordinado ao Instituto de
Aposentadorias e Pensões dos Industriários(IAPI) (D’ ÁVILA,1997 p.43).
Este Serviço, no ano seguinte transforma-se no Serviço de Alimentação da Previdência
Social (SAPS), criado em 5 de agosto de 1940, sendo responsável pela criação e formação
de recursos humanos na área da Nutrição, a partir de 1943 (ibidem p.132). O curso de
Nutricionista do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS) teve o seu
reconhecimento pelo Decreto nº 1946 de 21 de dezembro de 1962, publicado em D. O. Em
16 de janeiro de 1963 (A.B.N., 1991 p.37), hoje a atual Escola de Nutrição da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO.
Ressaltamos que foi Lieselotte Hoeschl Ornellas, enfermeira formada pela Escola Anna Nery
em 1939, que tendo sido convidada pelo Nutrólogo argentino Pedro Escudero para fazer
Curso de Dietista em Buenos Aires, lá permaneceu de 1940 a 1943, período em que se
delineava a profissão de nutricionista no Brasil. Ao regressar, passa a integrar o grupo de
professoras da EAN na qualidade de Instrutora de Nutrição. Um ano mais tarde em 1944,
passa a ministrar aulas de dietética na Escola do SAPS, a fim de formar futuros nutricionistas.
Atualmente é considerada a primeira nutricionista do Brasil.


REFERÊNCIAS
A.B.N. Associação Brasileira de Nutrição. Histórico do Nutricionista no Brasil 1939/1989:
coletânea de depoimentos e documentos. S.P.: Atheneu, 1991.


D’ÁVILA, Elaine Marly Masini. “Memória do Curso de Nutrição do Serviço de Alimentação
da Previdência Social e Alimentação Popular”. Dissertação de mestrado apresentada no
Curso de Pós Graduação Memória Social e Documento da UNIRIO em 1997.

VASCONCELOS, Francisco de A Guedes de. O nutricionista no Brasil: uma análise histórica.
Revista de Nutrição. Vol. 15. Nº 2, agosto de 2002.



*Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Biociências e Enfermagem da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto. Professora da Escola de Nutrição, da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro; **Doutor em Enfermagem com pós-doutoramento pela Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo. Professor do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Biociências e
Enfermagem e da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro.


Como citar este posts (Vancouver adaptado):

Magalhães SG, Porto F. Transposição do Cuidado: Enfermagem à Nutrição [internet]. Rio de
Janeiro (Br): Sandra Goulart Magalhães; 2012 – [Acesso em: dia mês (abreviado) ano].
Disponível em: http://lacenfunirio.blogspot.com.br/

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  • 1. Segunda-feira, 15 de Outubro de 2012. Transposição do Cuidado: Enfermagem à Nutrição Por Sandra Goulart Magalhães*; Fernando Porto** A emergência do campo da nutrição quer seja como ciência, política social e/ou profissão é um acontecimento relativamente recente, que data do início do século XX. Mas, este campo do conhecimento foi estimulado desde a Revolução Industrial na Europa no século XVIII e desencadeado no período da 1ª Guerra Mundial (1914 - 1918). Mais precisamente, no período que intermediou as duas Grandes Guerras Mundiais entre 1918-1939, foi que em alguns países da Europa: Inglaterra, França, Itália, Dinamarca, Alemanha; na América do Norte: Estados Unidos e Canadá e posteriormente na América Latina: Brasil e Argentina foram efetivamente gerados os primeiros centros de pesquisas e primeiros cursos para formação de profissionais especialistas e as primeiras agências de medidas interventoras em nutrição. São fatos relatados por Vasconcelos (2002), em seu artigo “O nutricionista no Brasil: uma análise histórica” publicado na Revista de Nutrição, através de revisão de literatura, apontando o que acontecia no contexto mundial. No Brasil, entretanto, o interesse sobre a alimentação da população brasileira já vinha sendo sistematizada dentro da área médica, ainda na segunda metade do século XIX. Existem relatos de pesquisas, a respeito de doenças carenciais relacionadas à alimentação e hábitos alimentares da população brasileira através de estudos, pesquisas e teses apresentadas nas duas Faculdades de Medicina existentes à época no país, que eram a da Bahia e a do Rio de Janeiro. Entretanto há controvérsias sobre esses marcos emergenciais segundo o autor. Em 1930, considerável conjunto de estudos começou a ser desenvolvido no Rio de Janeiro e São Paulo e mais tarde em Salvador e Recife na constituição do campo da nutrição brasileira. Destacando-se vários cientistas e pesquisadores brasileiros, médicos e nutrólogos, todos agentes sociais que detinham o conhecimento científico garantindo a especificidade no campo da Nutrição, a legitimidade ou reconhecimento social deste campo. Alguns destes médicos estudiosos da nutrição eram formados em nutrologia em outros países da América Latina ou na Europa e passaram a se dedicar ao estudo da Nutrição aqui no Brasil (VASCONCELOS, 2002 p.129). A Argentina influenciada pelo dietólogo Pedro Escudero criador do Instituto Municipal de Nutrição em 1926 (Buenos Aires) e que mais tarde em 1933 cria a Escola Municipal de Dietistas, neste mesmo ano (1933), recebeu convite da Faculdade Nacional de Medicina para ministrar
  • 2. curso no Rio de Janeiro. Sua passagem pelo Brasil aguçou o interesse da classe médica do Rio de Janeiro sobre o tema alimentação. Escudero oferecia bolsas de estudo para os países da América Latina o que foi um avanço na formação de nutricionistas na América do Sul (A.B.N., 1991 p.2-3; VASCONCELOS, 2002 p.128). Dentre os contemplados com bolsa de estudos no Brasil, foram entre outros, Josué de Castro (médico) e Lieselotte H. Ornellas (enfermeira). Pedro Escudero Lieselotte H. Ornellas Getulio Vargas Embora no início do século XX, o conhecimento da nutrição norteava e determinava um conjunto de ideias e comportamentos científicos nos homens da época, pode-se considerar que o início de uma política nacional voltada para a alimentação e nutrição deu-se na década de 30 /40. Em 1939 o presidente Getúlio Vargas através da Portaria de SCm 163 criou o Serviço Central de Alimentação e Nutrição -SCN subordinado ao Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários(IAPI) (D’ ÁVILA,1997 p.43). Este Serviço, no ano seguinte transforma-se no Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), criado em 5 de agosto de 1940, sendo responsável pela criação e formação de recursos humanos na área da Nutrição, a partir de 1943 (ibidem p.132). O curso de Nutricionista do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS) teve o seu reconhecimento pelo Decreto nº 1946 de 21 de dezembro de 1962, publicado em D. O. Em 16 de janeiro de 1963 (A.B.N., 1991 p.37), hoje a atual Escola de Nutrição da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. Ressaltamos que foi Lieselotte Hoeschl Ornellas, enfermeira formada pela Escola Anna Nery em 1939, que tendo sido convidada pelo Nutrólogo argentino Pedro Escudero para fazer Curso de Dietista em Buenos Aires, lá permaneceu de 1940 a 1943, período em que se delineava a profissão de nutricionista no Brasil. Ao regressar, passa a integrar o grupo de
  • 3. professoras da EAN na qualidade de Instrutora de Nutrição. Um ano mais tarde em 1944, passa a ministrar aulas de dietética na Escola do SAPS, a fim de formar futuros nutricionistas. Atualmente é considerada a primeira nutricionista do Brasil. REFERÊNCIAS A.B.N. Associação Brasileira de Nutrição. Histórico do Nutricionista no Brasil 1939/1989: coletânea de depoimentos e documentos. S.P.: Atheneu, 1991. D’ÁVILA, Elaine Marly Masini. “Memória do Curso de Nutrição do Serviço de Alimentação da Previdência Social e Alimentação Popular”. Dissertação de mestrado apresentada no Curso de Pós Graduação Memória Social e Documento da UNIRIO em 1997. VASCONCELOS, Francisco de A Guedes de. O nutricionista no Brasil: uma análise histórica. Revista de Nutrição. Vol. 15. Nº 2, agosto de 2002. *Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Biociências e Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto. Professora da Escola de Nutrição, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; **Doutor em Enfermagem com pós-doutoramento pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Professor do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Biociências e Enfermagem e da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Como citar este posts (Vancouver adaptado): Magalhães SG, Porto F. Transposição do Cuidado: Enfermagem à Nutrição [internet]. Rio de Janeiro (Br): Sandra Goulart Magalhães; 2012 – [Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: http://lacenfunirio.blogspot.com.br/