O documento discute um vídeo que enfatiza dizer "não" às crianças. O autor argumenta que embora o "não" seja importante, enfatizá-lo excessivamente pode ser prejudicial, e que afeto, presença e respeito são igualmente importantes na educação dos filhos.
1. Está rolando na internet um vídeo intitulado “Vitamina N” (N de
“não”), com uma fala de um psicólogo americano (John
Rosemond) conclamando os pais a dizerem mais "não" do que
"sim" para seus filhos, e questionando se nossos filhos estão
recebendo “doses suficientes de vitamina N”.
Imagino que ninguém duvide da importância de ensinar os filhos a
ouvir um "não" e de efetivamente dizer-lhes “não” quando preciso
for.
O “não” na educação da criança é estruturante de sua
personalidade, e a ajudará a lidar com as frustrações que surgirão
no decorrer de sua vida.
Neste sentido, o vídeo ajuda a nos lembrar disto. E acho que por
isso mesmo ele vai sendo replicado e compartilhado por pais e
mães bem intencionados e desejosos em aprimorar sua maneira
de educar seus filhos.
Mas lamento que o vídeo tenha ficado apenas na ênfase do
“não”.
Confesso a vocês que, na minha posição de educador, psicólogo
e pai, tenho muita dificuldade em me identificar com este discurso
que enfatiza o “não”, ao invés de enfatizar o afeto e a percepção
das necessidades das crianças. Esta ênfase no “não” passa a ideia
de que o grande problema das crianças atualmente é que não lhe
disseram "não" o suficiente. O que, para mim, é uma compreensão
muito rasa, que desconsidera a complexidade das relações
familiares e sociais.
O que tenho visto é que muitos pais, com medo de criar um filho
“mimado”, se vêem na obrigação de dizer “não”, mesmo em
situações em que seria possível dizer “sim”. Parece que a
paternidade/maternidade virou uma competição do tipo “quem
manda mais”. “Ele tem que aprender a me obedecer”. “É não e
pronto”.
Já vi pais tratando filhos com rigidez e críticas excessivas, com
inflexibilidade, com intolerância a mínimos erros. Já presenciei
cenas de mães sendo estúpidas com suas crianças porque elas
estavam sendo… crianças.
Para além do “não”
O “não” na
educação da
criança é
estruturante de sua
personalidade, e a
ajudará a lidar com
a frustações que
surgirão no
decorrer da vida
CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA
João David C. Mendonça
Psicólogo - CRP 12/07
Whatsapp (48) 999-81-3821
Email: psicojd@gmail.com
REAUTORIA é uma
publicação mensal
associada ao consultório
de psicologia de João
David C. Mendonça.
Os textos e reflexões aqui
contidos podem ser
compartilhados à vontade,
desde que citada a fonte.
N° 02 - maio/2017
2. Já observei pais com um nível de cobrança e exigência pesado
sobre a criança, pais que não dão espaço pros erros que fazem
parte do desenvolvimento de qualquer ser humano. Já presenciei
pais e mães puxando orelhas, dando beliscões, batendo na
bunda, ameaçando com chinelos, tudo em nome da “boa
educação”.
E para mim, inflexibilidade, rigidez, intolerância, excesso de crítica,
agressividade, são tão prejudiciais para uma criança quanto
deixar de dizer-lhe “não” quando necessário.
O próprio John Rosemond, autor do vídeo, infelizmente é adepto
da ideia de que “bater numa criança pode ser efetivo, e não lhe é
prejudicial” (ele escreveu isto num texto de 2014 intitulado
“Spanking is not a clear cut issue for every parent”).
Uma pena também que o vídeo traga algumas ideias clichês, que
são aceitas como verdade sem muita reflexão crítica. Por
exemplo, a ideia de que a saúde mental das crianças dos anos 50
era melhor que as de hoje porque elas tinham menos coisas. Ou
ainda, a crença de que a falta de “não” fez com que as taxas de
depressão em crianças e adolescentes disparassem nas últimas
décadas.
Enfim, mantendo-me na analogia sugerida pelo vídeo, eu diria que
a tal Vitamina N (de Não) só terá efeito real se vier acompanhada
da Vitamina S (de Sim), da Vitamina A (de Afeto), da Vitamina P
(de Presença), da Vitamina R (de Respeito). O "não" só vai
funcionar se vier dentro de um conjunto vitamínico que engloba
toda a complexidade da relação entre pais e filhos.
De minha parte, com todo o respeito ao meu xará John, eu
continuarei dizendo SIM pros meus filhos, muito mais do que "não".
Direi SIM pras necessidades deles, pra ficar no meu colo, pra dormir
na minha cama quando estiverem com medo, pra poder ter
brinquedos legais, e até quebrar alguns deles de vez em quando -
sim, acontece com qualquer criança.
E sempre que for preciso também receberão um "não".
João David Cavallazzi Mendonça
Inflexibilidade,
rigidez, intolerância,
excesso de crítica,
agressividade, são
tão prejudiciais para
uma criança quanto
deixar de dizer-lhe
“não” quando
necessário
Afeto
Presença
Respeito
Acho que a parte mais difícil de ser mãe é ter que conviver com o Mito de Ser Mãe.
Meu desejo para este Dia das Mães é que cada mãe seja livre. Livre para não ter
que amar o tempo inteiro, livre para errar, livre para se escabelar, livre para não se
responsabilizar por tudo, livre para não aceitar as exigências da perfeição.
O paradoxo nisso tudo é que livre destas amarras, você será muito mais mãe.
Sobre o dia das Mães