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107
1. INTRODUÇÃO
Com precipitação média anual de 1552 mm (Brasil,
1992), o Distrito Federal apresenta como característica
climática importante a ocorrência de um período chuvo-
so (verão) e outro seco (inverno) bem definidos. O pri-
meiro com ocorrência de outubro a abril, concentra 92%
do total da precipitação anual e permite o desenvolvi-
mento de culturas anuais, principalmente grãos, sem a
necessidade da prática regular de irrigação. No período
seco, de maio a setembro, quando ocorre apenas 8%
da precipitação total, há uma intensa demanda
evaporativa em função da baixa umidade relativa do ar,
maior insolação e ocorrência freqüente de ventos. Nes-
se período, só é possível o cultivo de plantas anuais
com o uso da irrigação como prática obrigatória.
A tabela 1 apresenta os valores normais para o DF
(média de 30 anos) dos principais parâmetros climáticos.
O desenvolvimento da fruticultura, com a utilização
de plantas perenes e semi-perenes, encontra, de ma-
neira geral, condições satisfatórias de desenvolvimento
no período chuvoso, especialmente para aquelas frutei-
ras cujo período de florescimento e formação de frutos
ocorre neste período e a colheita (pico de produção)
ocorre em meados do primeiro semestre (março/abril).
Fruteiras como o maracujazeiro, a goiabeira, o limão
tahiti e a aceroleira são exemplos dessa situação. Isso,
porém, acaba por favorecer a concentração da produção
e provoca invariavelmente uma queda acentuada dos
preços recebidos pelos agricultores.
No caso de fruteiras com esse tipo de comporta-
mento, a irrigação é uma prática importante no que diz
respeito à diferenciação da época de produção, visando
à obtenção de melhores preços na comercialização dos
produtos.
Para se alcançar este objetivo é necessário conju-
gar práticas de poda, fertilização, derrubada de florada,
indução floral e outras, dependendo da espécie, com a
correta aplicação de água na irrigação, que viabiliza o
uso destas práticas, ao garantir um adequado suprimento
de água às plantas.
Para as fruteiras que apresentam seu pico de pro-
dução no segundo semestre com a ocorrência da florada
e desenvolvimento dos frutos no período seco, é impor-
tante a manutenção de índices adequados de água no
solo, que influem diretamente na obtenção de frutos
de boa qualidade e maiores índices de produtividade.
Esse é caso de fruteiras como a laranjeira, a gravioleira
e o abacaxizeiro.
Além dos aspectos relacionados à diferenciação
da época de produção e aumento da produtividade, a
prática da irrigação contribui para a racionalização de
práticas culturais como as adubações de cobertura, o
controle de plantas invasoras e algumas pragas que pre-
Lúcio Taveira Valadão
Tabela 1. Valores normais mensais dos principais parâmetros climáticos do DF.
MESES
Temp. Máx.
Média
( C)°
Temp. Min.
Média
(°C)
Temp.
Média
(°C)
Precipitação
Total
(mm)
Evaporação
Total
(mm)
Umidade
Relativa
(%)
Insolação
(horas)
JAN 26.9 17.4 21.6 241.4 105.5 76 157.4
FEV 26.7 17.4 21.8 214.7 102.8 77 157.5
MAR 27.1 17.5 22.0 188.9 108.6 76 180.9
ABR 26.6 16.8 21.4 123.8 107.4 75 201.1
MAI 25.7 15.0 20.2 39.3 128.6 68 234.3
JUN 25.2 13.3 19.1 8.8 149.2 61 253.4
JUL 25.1 12.9 19.1 11.8 182.1 56 265.3
AGO 27.3 14.6 21.2 12.8 236.6 49 262.9
SET 28.3 16.0 22.5 51.9 227.7 53 203.2
OUT 27.5 17.4 22.1 172.1 153.7 66 168.2
NOV 26.6 17.5 21.7 238 107.7 75 142.5
DEZ 26.2 17.5 21.5 248.6 96.8 79 138.1
Fonte: Brasil (1992).
108
Figura 1. Exemplo uso de sulcos para irrigação.
FRUTICULTURA IRRIGADA
judicam as culturas. No caso da adubação de cobertura
a utilização da fertirrigação permite maior parcelamento
das doses aplicadas e melhor aproveitamento dos nutri-
entes com a aplicação através da água de irrigação. Já
a utilização de sistema de irrigação localizada diminui a
incidência de plantas invasoras e a irrigação por asper-
são contribui para a diminuição da incidência de oídio e
ácaros.
No Distrito Federal são irrigados atualmente 11.000
ha, utilizando-se os sistemas de aspersão (93%), su-
perfície (2,0%) e irrigação localizada (5,0%), represen-
tando 14% da área cultivada. Do total da área irrigada a
fruticultura ocupa 4,5% com 500 ha de um total de 3.174
ha cultivados, o que demonstra o grande potencial para
o crescimento da irrigação de fruteiras, especialmente
com a utilização de sistemas de irrigação localizada.
2. ESCOLHA DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO
A utilização da irrigação nas culturas deve basear-
se na viabilidade técnica e econômica do projeto
(Mantovani, 1996), bem como nos benefícios sociais
advindos com sua aplicação.
Não existe, como regra geral, um sistema de irriga-
ção mais adequado do que outro, uma vez que cada
sistema apresenta características próprias, com custos
variáveis, vantagens e desvantagens, adequando-se di-
ferentemente às condições locais (Marouelli e Silva,
1998).
No Distrito Federal, os principais sistemas de irri-
gação em uso são:
a) Superfície: utiliza o próprio solo para condução
e distribuição da água.
Classifica-se em sulcos, faixas, inundação e sub-
superficial, sendo que o primeiro é o de utilização mais
freqüente na irrigação de fruteiras no DF.
São abertos pequenos sulcos paralelos à fileira de
árvores, com declividade variando desde próximo a zero
até 2%, de tal forma que a água, ao longo do tempo,
infiltra-se no fundo e nas laterais do sulco e, pela movi-
mentação lateral e vertical, fornece água suficiente ao
desenvolvimento da cultura (figura 1). A magnitude des-
ta movimentação depende da textura do solo.
Esse método apresenta três características impor-
tantes: irriga apenas parte do terreno, é o que tem me-
nor custo de implantação e utiliza maiores quantidades
de água.
A implantação dos sistemas de irrigação por sul-
cos requer terrenos relativamente planos. As fruteiras
devem ser plantadas obedecendo-se a declividade, com-
primento e disposição compatíveis, que serão utilizadas
na construção dos sulcos. Os solos mais indicados para
sua utilização são aqueles que não apresentam eleva-
das taxas de infiltração, que favorecem as perdas de
água por percolação. Solos sob cerrado, possuem ele-
vado grau de agregação e, mesmo quando argilosos,
possuem comportamento semelhante ao de um solo are-
noso, favorecendo as perdas por percolação. Para
minimizar essas perdas é necessário diminuir o compri-
mento dos sulcos, o que termina por aumentar a mão-
de-obra no manejo do sistema. As perdas que ocorrem
no final dos sulcos, quando não controladas, contribu-
em de maneira significativa para o aumento do consumo
de água nesse sistema. Para diminuir as perdas pode-
se utilizar o fluxo intermitente na aplicação da água no
sulco ou a redução da vazão ao longo da aplicação
(Bernardo, 1988).
Outras características deste sistema de irrigação,
de acordo com Frizzone (1993), que se mostram inte-
ressantes na fruticultura são:
I) não depende do porte da cultura e da ocorrência
de ventos;
II) água de baixa qualidade física, química ou bioló-
gica não impõe severas restrições a sua utilização, uma
vez que, em geral, a água não entra em contato direto
com as partes vegetais consumidas in natura.Também
não existem dispositivos muito sujeitos à obstrução
física;
III) não interfere em esquemas de tratamento
fitossanitários sistemáticos, pois não molha a parte
aérea das plantas;
IV) apresenta suficiente capacidade para superar
eventuais problemas operacionais, não dependendo de
assistência técnica para equipamentos, exceto para o
conjunto motobomba quando presente;
V) o dimensionamento deste sistema exige ensai-
os de campo, que somente após análise intensiva, reve-
lam dados que permitem definir parâmetros para o pro-
jeto.
A eficiência de irrigação no sistema de sulcos varia
de acordo com a textura do solo, topografia do terreno e
aspectos construtivos e de manejo, sendo normalmente
inferior a 70%, com valores típicos entre 30 e 50%.
b) Aspersão: os sistemas de irrigação por asper-
são aplicam a água sob a forma de chuva artificial sobre
o solo e a cultura, através de mecanismos pressurizados,
denominados aspersores.
Os principais tipos de sistemas de aspersão são:
convencional (portátil, semi-portátil e fixo), pivô central,
lateral móvel, autopropelido e ramal rolante.
109
FRUTICULTURA IRRIGADA
No Distrito Federal são mais utilizados a aspersão
convencional e o pivô central, que juntos representam
93% da área irrigada. A grande adaptabilidade destes
sistemas às diferentes condições do terreno, solos e
culturas, explicam a grande disseminação desses sis-
temas.
Condições climáticas em que predominam ventos
fortes, umidade relativa do ar baixa e temperaturas ele-
vadas provocam perdas elevadas quando se utilizam sis-
temas aspersão e neste caso a irrigação deve ser feita
em períodos de menor intensidade destas variáveis
(Mantovani, 1996). O molhamento da parte aérea das
plantas afeta o uso de agrotóxicos.
b.1. Sistemas de aspersão convencional
Um aspecto importante na utilização de sistemas
de aspersão convencional na fruticultura é a escolha dos
aspersores, uma vez que a copa das plantas pode re-
presentar uma barreira ao jato de água (figura 2) afetando
a uniformidade de distribuição da água e a eficiência da
irrigação. O impacto do jato de água pode, também, pro-
vocar a queda de folhas, flores e frutos em desenvolvi-
mento e mesmo danos mecânicos nas plantas, depen-
dendo da pressão de serviço utilizada.Essas observa-
ções não são válidas no caso do abacaxizeiro, que é
uma cultura de baixo porte.
Figura 2: Danos nas folhas de bananeiras causados pelo impacto da água
de aspersor.
SegundoBucheleeSilva(1992)eRamoseMantovani
(1994) os aspersores podem ser classificados quanto à
pressão de operação e raio de alcance em:
a) aspersores de pressão muito baixa (microasper-
sores): possuem pressão de serviço entre 4 e 10 metros
de coluna de água (mca) e pequeno raio de alcance,
adaptando-se a utilização em pequenas áreas e cultu-
ras permanentes;
b) aspersores de pressão de operação baixa: ope-
ram com pressão de serviço entre 10 e 20 mca, com
raio de alcance entre 6 e 18 m;
c) aspersores de pressão de operação média: tra-
balham com pressão de serviço entre 20 e 40 mca e raio
de alcance entre 12 e 30 m;
d) aspersores gigantes ou canhões hidráulicos: re-
presentam os aspersores de grande porte que operam
com pressões acima de 40 mca e raio de alcance que
pode atingir 75 m. Esses aspersores permitem maior
espaçamento entre linhas, porém apresentam elevado
consumo de energia em função da pressão de operação.
Na escolha do aspersor a ser utilizado deve-se ob-
servar os seguintes pontos:
a) a taxa de aplicação de água deve ser sempre
inferior à velocidade de infiltração básica do solo, evitan-
do-se o escorrimento superficial;
b) para fruteiras que apresentam copa alta e flores
e frutos sensíveis à queda é interessante a utilização de
aspersores denominados sob-copa. Estes possuem
ângulo de inclinação dos bocais menores, cerca de 6° e
permitem melhor uniformidade de distribuição da água
(figura 3);
Figura 3: Exemplo do uso de aspersor sob-copa.
c) ângulos dos bocais próximos de 30° devem ser
utilizados em condições de ventos fracos e para propor-
cionar gotas mais finas, próprias para culturas mais sen-
síveis.
As linhas laterais devem ser dispostas em nível, no
sentido perpendicular à direção predominante dos ven-
tos. Uma indicação geral que pode ser adotada quanto
ao espaçamento entre aspersores é a utilização de va-
lores entre 0,25 e 0,5 do diâmetro de cobertura do
aspersor e, para a distância entre laterais, esse valor
não deve exceder a 0,65 do mesmo diâmetro (Olitta,
1988).
b.2. Sistemas de pivô central
Os sistemas de pivô central irrigam áreas de formato
circular, permitem a irrigação de grandes áreas e
possuem elevado grau de automatização, operando com
mão-de-obra reduzida. No DF não existem, atualmente,
sistemas de pivô central irrigando fruteiras. Em outras
regiões do país (GO, SP e MG) sistemas que foram
utilizados algum tempo para produção de culturas de
grãos, hoje estão ocupados irrigando mamoeiro,
goiabeira, abacaxizeiro e outras culturas (figura 4).
110
Figura 4: Pivô central irrigando uma lavoura de goiaba.
A principal limitação para o uso desse sistema em
fruticultura é o vão livre do solo que varia entre 2,80 m e
3,80 m, o que pode limitar a utilização em culturas de
porte mais elevado, como a mangueira por exemplo.
c. Sistema de irrigação localizada
São sistemas que aplicam a água diretamente so-
bre o solo ou próximo a ele, em baixo volume e alta
freqüência. Em função disso, a umidade do solo varia
pouco, criando um ambiente propício ao desenvolvimen-
to das plantas. Os principais tipos de irrigação localiza-
da são a microaspersão e o
gotejamento.
Dentre os sistemas citados,
esse é o que permite maior eco-
nomia no uso da água. A utiliza-
ção desses sistemas está em
franco crescimento no DF em ra-
zão da baixa disponibilidade
hídrica da região, que é da ordem
de 1.528 m3
/hab/ano, segundo
Brasil (1998). De acordo com a
mesma fonte, índices inferiores a
1.700 m3
/hab/ano são um sinal de
alerta de escassez hídrica.
Outrascaracterísticasimpor-
tantes dos sistemas de irrigação
localizada são a alta eficiência de
irrigação (80 a 95%), economia
de energia (opera com baixas
pressões), utilização da fertirriga-
ção, possibilita menor infestação
de plantas invasoras (irriga ape-
nas uma parte do terreno), é pouco afetada pelo vento e
proporciona facilidade para automação.
Ressalta-se também a grande adaptabilidade des-
tes sistemas aos diferentes tipos de solo, à topografia
do terreno e às diversas fruteiras cultivadas. No DF são
irrigados, atualmente, com sistemas localizados o
limoeiro da variedade Tahiti (microaspersão e
gotejamento), maracujazeiro (gotejamento), tangerineira
(microaspersão e gotejamento), abacaxizeiro
(gotejamento), gravioleira (gotejamento), aceloreira
(gotejamento), bananeira (microaspersão), goiabeira
(microaspersão) e em áreas do entorno do DF a laranjei-
ra (gotejamento) e a videira (microaspersão). Estima-se
que a utilização desses sistemas cresceu em mais de
100% no último ano no DF.
O principal limitador da utilização desses sistemas
são os custos iniciais de implantação, em geral mais
elevados do que os demais sistemas. Isso ocorre por-
que tratam-se de sistemas fixos, cujas laterais, geral-
mente em número igual às linhas da cultura, são dis-
postas paralelamente à linha da cultura e necessitam
de sistemas de filtragem eficientes. Quando compara-
do, por exemplo, ao sistema de aspersão deve-se levar
em conta o espaçamento da cultura no qual o sistema
será utilizado e nesse caso para o uso em fruticultura
tem-se uma situação bastante favorável, pois utilizam-
se maiores espaçamentos entre linhas e conseqüente-
mente custos de implantação que são compatíveis com
os da aspersão convencional fixa. Também a existência
de um grande número de fornecedores, a diversidade de
equipamentos disponíveis e as adaptações realizadas,
permitem a montagem de sistemas com custos meno-
res.
A figura 5 mostra uma instalação típica de um sis-
tema de irrigação por gotejamento.
Um aspecto positivo quase sempre associado ao
uso da irrigação localizada é a aplicação de fertilizantes
via água de irrigação (fertirrigação). Essa prática permi-
te melhor aproveitamento dos fertilizantes aplicados,
parcelamento das doses de acordo com as necessida-
des das culturas e da expectativa de produção e melhor
precisão na distribuição de adubos entre outras vanta-
gens.
FRUTICULTURA IRRIGADA
Figura 5: Instalação típica de um sistema de irrigação por gotejamento.
111
Diversos métodos podem ser utilizados para a
injeção de fertilizantes, sendo os mais comuns o uso de
tubo de venturi e bombas injetoras. Os injetores tipo
venturi são de baixo custo e de uso bastante comum na
fruticultura. A figura 6 mostra um injetor desse tipo.
Para o adequado funcionamento dos sistemas de
irrigação localizada é indispensável a utilização de sis-
temas de filtragem eficientes e compatíveis com as ca-
racterísticas dos emissores utilizados e da qualidade
da água de irrigação. Os tipos de filtros mais comuns
são: areia, tela e discos.
Figura 6: Injetor de fertilizantes tipo venturi.
Os filtros de areia (figura 7) retêm partículas maio-
res e material orgânico presentes na água de irrigação e
devem ser sempre o primeiro filtro do sistema.
Figura 7: Conjunto de filtros de areia.
A limpeza desses filtros é realizada invertendo-se o
sentido do fluxo de água no sistema, procedimento co-
nhecido como retro-lavagem.
Os filtros de tela (figura 8) possuem como elemento
filtrante uma tela de aço inoxidável ou nylon e são bas-
tante eficientes na retenção de partículas sólidas. As
dimensões das malhas utilizadas são normalmente de-
signadas “mesh”, definidos como o número de malhas
por polegada linear e variam de 50 a 200 mesh.
Figura 8: Filtro de tela, mostrando o elemento filtrante.
Os filtros de discos (figura 9) têm elemento filtrante
composto por um conjunto de anéis, com ranhuras, so-
bre um suporte central cilíndrico e perfurado. A filtragem
da água ocorre ao passar pelos condutos formados en-
tre dois anéis adjacentes.
Figura 9: Filtro de disco mostrando o elemento filtrante.
Os filtros de tela ou disco são de uso obrigatório
nos sistemas de irrigação localizada e muitas vezes
representam o único dispositivo de filtragem existente.
Isso ocorre freqüentemente nos sistemas de
microaspersão, que são menos exigentes em relação à
filtragem da água e quando se utiliza água de melhor
qualidade nos sistemas de gotejamento.
No dimensionamento do sistema, um dos aspec-
tos a se considerar é a percentagem de solo molhado
(P), representada por:
P =
Onde :
AM = área molhada pelo emissor (determinada em
campo)
AP = área ocupada pela planta.
Para áreas com períodos de seca mais prolonga-
dos, como o DF, recomendam-se valores de P maiores
do que 30% para que não haja restrições ao crescimen-
to do sistema radicular, que pode resultar em menor ca-
pacidade de absorção das raízes e prejudicar a susten-
tação da planta.
c.1. Gotejamento
Dois tipos de sistemas de gotejamento são mais
utilizados para irrigação de fruteiras e podem ser carac-
terizados quanto ao aspecto construtivo e ao
posicionamento do gotejador na lateral.
O primeiro conhecido como fita, “tape” ou tubo
gotejador, caracteriza-se por apresentar gotejadores
100x
AP
AM
FRUTICULTURA IRRIGADA
112
como parte integrante de um tubo de polietileno com
diâmetro em torno de 16 mm (figura 10).
Figura 10: Gotejador tipo “tape”.
Nesse sistema, os gotejadores são uniformemente
espaçados em distâncias de 0,2m até 0,4 m e apresen-
tam vazão geralmente inferior a 4 l/h/gotejador. São sis-
temas de custo mais baixo e o preço de mercado varia
em função da espessura da parede do tubo de polietileno.
O segundo tipo, denominado gotejamento conven-
cional, apresenta gotejadores inseridos sobre o tubo de
polietileno durante a sua montagem no campo e com
vazão de até 8 l/h/gotejador (figura11).
Figura 11: Gotejador inserido sobre o tubo de polietileno.
Essa técnica permite maior adaptabilidade no uso
em fruteiras, pois o espaçamento entre gotejadores e o
seu número por planta pode ser adaptado às caracterís-
ticas e necessidades da cultura, evitando-se o
molhamento entre as plantas.
Nos dois casos a aplicação de água é feita de ma-
neira pontual, resultando na formação de um bulbo mo-
lhado (figura 12), cujas dimensões e forma dependem
da textura e estrutura do solo e da vazão aplicada pelo
emissor.
Para fins de projeto devem ser realizados testes de
campo para avaliar as dimensões da área molhada.
Figura 12: Forma do bulbo molhado
Os gotejadores podem ser dispostos de diferentes
maneiras no campo, de acordo com a percentagem da
área que será irrigada, do volume de água aplicado por
planta, e da textura e agregação do solo. A figura 13
ilustra diferentes maneiras para disposição da linha de
gotejadores.
Figura 13: Diferentes disposições da linha de gotejadores: a) uma linha lateral;
b) duas linhas laterais; c) múltiplas saídas; d) anéis; e) zig-zag.
Aquelas representadas por anéis e múltiplas saí-
das adaptam-se bem a culturas com espaçamento mai-
or, propiciando melhor condição de desenvolvimento do
sistema radicular e não irrigando a
área entre plantas na linha.
c.2. Microaspersão
A microaspersão utiliza pe-
quenos aspersores de plástico
(figura 14) que aplicam a água sob
a forma de chuvisco, em círculo ou
semi-círculo, com raio de alcance
geralmente inferior a 4 m e pressão
de operação de 10 a 30 mca.
Existem disponíveis no mer-
cado micropaspersores que pos-
sibilitam diferentes padrões de
molhamento (figura 15) conferindo
grande maleabilidade ao sistema.
Figura 15: Diferentes padrões de molhamento em microaspersão.
3. MANEJO DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO
Conhecido o método de aplicação de água à cultu-
ra devem-se estabelecer critérios para determinar o mo-
mento da irrigação e a quantidade de água a se aplicar,
visando suprir a planta de água de forma a não limitar
seu desenvolvimento e também não provocar desperdí-
cios desse recurso, já escasso no DF.
O consumo de água em um cultivo é resultante dos
processos de evaporação da água do solo e da
Figura 14: Modelo de um
microaspersor.
FRUTICULTURA IRRIGADA
113
transpiração das plantas, cuja ocorrência simultânea é
denominada evapotranspiração. A parcela de água
que é retida pelos tecidos vegetais é pequena (cerca de
1% do total) e não é computado no consumo total
de água.
A evapotranspiração depende das condições climá-
ticas, do conteúdo de água no solo e da planta.
Condições climáticas que favorecem a evapotrans-
piração são radiação solar intensa, baixa umidade rela-
tiva do ar e ventos intensos.
Para que ocorra a evapotranspiração máxima é ne-
cessário que a umidade do solo seja mantida em valo-
res tais que não ocorra diminuição da capacidade da
planta em atender a demanda atmosférica.
A capacidade dos solos de reter água varia de acor-
do com a textura. A diferença entre o teor de água no
solo na sua máxima capacidade de retenção (capacida-
de de campo) e o ponto de murcha fornece a água dis-
ponível. A tabela 2 (Valadão et al., 1997) apresenta os
valores médios para o limite de água superior e o total
de água disponível para solos com diferentes teores de
argila.
O total de água disponível para a planta correspon-
de a água disponível na profundidade do sistema radicular.
No caso das fruteiras arbóreas essa profundidade pode
atingir mais de 2,0 m e deve ser avaliada de acordo com
o desenvolvimento da planta.
Para que não ocorram prejuízos ao desenvolvimen-
to da cultura não se deve permitir, no intervalo entre as
irrigações, que a planta consuma toda a água disponí-
vel. Para as plantas frutíferas em geral admite-se o con-
sumo de 40 a 50% da água disponível, dependendo do
sistema de irrigação utilizado.
Existem diversos métodos para calcular o consu-
mo de água nas culturas, entretanto poucos alcançam
grau de utilização generalizado entre os agricultores. Isso
ocorre porque de maneira geral os métodos disponíveis
nem sempre reúnem condições de precisão, simplicida-
de e baixo custo.
Os métodos existentes baseiam-se na medida de
parâmetros climáticos, do “status” da água no solo ou
na planta ou ainda na combinação dessas medidas.
Os métodos do tanque classe “A” e o uso de
tensiômetros estão entre aqueles que possuem maior
facilidade de utilização.
3.1. Tanque Classe “A” (TCA)
Consiste em um recipiente circular de aço inoxidá-
vel ou ferro galvanizado, com 121 cm de diâmetro inter-
no e 25,5 cm de profundidade (figura 16).
Figura 16: Tanque Classe “A”.
Os valores de evaporação do tanque são utiliza-
dos na estimativa da evapotranspiração do cultivo de
referência (ETo). Essa estimativa é feita através da
expressão:
ETo = kp x ECA
Onde:
Kp = coeficiente de tanque (tabela 3);
ECA = evaporação do tanque classe “A” (mm);
O valor do Kp é dado em tabela (Doorenbos e
Pruitt,1977).
Tabela 2. Teores médios de argila e areia (%), limite superior de retenção de água no solo (cm3/cm3) e total de água
disponível (milímetro de água por milímetro de solo) para direrentes tipos de solos e teores médios de argila e areia.
FRUTICULTURA IRRIGADA
Tipo de solo Teor de argila (%) Teor de areia (%) Limite superior
(cm /cm )3 3
Total de água
disponível
(mm/mm)
Argiloso
Argilo siltoso
Franco argilo siltoso
Franco argiloso
Franco siltoso
Franco
Franco argilo arenoso
Franco arenoso
Areia franca
Arenoso
60
45
35
35
15
18
28
10
6
5
20
8
10
35
20
40
60
65
82
92
0,53
0,49
0,45
0,39
0,39
0,33
0,30
0,26
0,21
0,18
0,13
0,16
0,17
0,13
0,18
0,14
0,09
0,11
0,09
0,08
114
A evapotranspiração da cultura (ETc - mm) é calcula-
da pela expressão:
ETc = Eto x Kc
Onde
Kc = coeficiente de cultura.
O coeficiente de cultura considera as necessida-
des hídricas da cultura nos seus diversos estádios de
desenvolvimento e ao longo do ano no caso das fruteiras
perenes.
Tabela 3. Coeficiente Kp para o tanque classe A, para estimativa da ETo.
Uma dificuldade no uso dos coeficientes de cultura
na fruticultura é a pequena disponibilidade de dados para
as diversas espécies cultivadas.
A determinação da lâmina de irrigação com o uso
do tanque classe “A” pode ser realizada com o procedi-
mento descrito a seguir:
a) Cálculo da ETo acumulada desde a última irriga-
ção:
ETo = kp x ECA
b) Cálculo da lâmina de irrigação (LI)
FRUTICULTURA IRRIGADA
Tanque circundado por grama Tanque circundado por solo nu
Umidade
relativa(%)
Baixa
<40%
Média 40-
70%
Alta >70% Baixa
<40%
Média 40-
70%
Alta >70%
Vento
(m/s)
Posição
do tanque
R(m)*
Posição
do tanque
R(m)*
Leve <2
Moderado
2-5
Forte 5-8
0
Muito forte
>8
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0,60
0,50
0,45
0,40
0,50
0,45
0,40
0,35
0,80
0,70
0,65
0,60
0,75
0,65
0,60
0,55
0,60
0,55
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0,80
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0,70
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0,55
0,65
0,55
0,50
0,45
115
LI =
Onde
Ei = eficiência do sistema de irrigação (decimal)
Com a utilização do TCA o momento da irrigação é
determinado quando atinge-se um nível preestabelecido
de evapotranspiração da cultura.
3.2. Tensiômetros
São equipamentos utilizados para medir a força com
que a água se encontra retida no solo, que é também a
força que a planta exerce para retirar a água da terra.
A figura 17 apresenta modelo de um tensiômetro,
constituído de:
– cápsula porosa;
– tê de PVC;
– vacuômetro metálico;
– rolha de borracha para vedação;
– tubo de PVC com tamanho variável.
Os tensiômetros são instalados no solo, próximos
às plantas na zona de absorção do sistema radicular
(figura 18). O tubo de PVC deve estar cheio de água e a
cápsula porosa completamente saturada, retirando-se
todo o ar existente na tubulação.
Figura 17: Modelo de um tensiômetro.
Os procedimento para instalação são: abertura de
um buraco no solo com diâmetro semelhante ao do tubo
de PVC do tensiômetro; colocação do tensiômetro na
profundidade desejada e acabamento final para vedação
junto a parede do tubo. A figura 18 ilustra essas opera-
ções.
Figura 18: Colocação de tensiômetros no campo.
À medida que o solo seca, a água contida no
tensiômetro passa para o solo criando um vácuo no seu
interior. Esse vácuo, ou tensão, é medido pelo
vacuômetro e o seu valor determina o momento da irri-
gação. Conhecendo a capacidade de retenção de água
no solo em diferentes tensões (curva de retenção) é pos-
sível determinar a quantidade de água a ser aplicada.
Após a aplicação da água de irrigação ou ocorrência de
chuva, a umidade do solo aumenta e o tensiômetro ab-
sorve água através da cápsula porosa e o vácuo diminui
no interior do equipamento. À medida que a cultura per-
de água o processo volta a se repetir.
Além da curva de retenção, pode-se utilizar a tabe-
la 2 para estimar o volume de água a ser aplicado (Silva
e Valadão, 1997). Isso é feito a partir da estimativa do
total de água disponível em diferentes tensões.
A determinação da lâmina de água (LI) a ser aplica-
da é feita com a seguinte expressão :
LI =
Onde:
UA = umidade do solo atual (g/g);
Pr = profundidade de irrigação (cm);
Cc = capacidade de campo (limite superior de água no
solo) g/g;
Da = densidade aparente do solo (g/cm3
).
4. INFORMAÇÕES PARA A IRRIGAÇÃO DE ALGUMAS
FRUTEIRAS NO DISTRITO FEDERAL
4.1. Abacaxizeiro
Os principais sistemas de irrigação adaptáveis à
cultura do abacaxi são: aspersão convencional, pivô
central e gotejamento. O plantio realizado em fileiras
duplas permite a utilização de uma linha lateral com
gotejadores por fileira dupla da cultura (figura 19).
O coefiente de cultura (kc) varia entre 0,4 e 0,5 no
ciclo da cultura, com necessidade de água entre 700 a
1000 mm anuais (Doorenbos e Kassan, 1979). Entre-
tanto a cultura é sensível ao déficit hídrico, especial-
Ei
kcxEto
xDax
Ei
uacc
Pr




 −
FRUTICULTURA IRRIGADA
116
menteduranteoperíododecrescimentovegetativo,quan-
do são determinados o tamanho e as características da
frutificação. O déficit hídrico durante a floração tem efei-
tos menos graves e pode até acelerar a frutificação, re-
sultando numa maturação mais uniforme.
Segundo Cunha et al. (1995), a irrigação deve ser
suspensa 8 a 15 dias antes da colheita a fim de evitar a
redução dos sólidos solúveis totais.
O abacaxizeiro apresenta sistema radicular
superfical, geralmente com 0,3 a 0,6 m de profundidade
e extenso.
Para o reinício das irrigações admite-se o esgota-
mento de até 50% da água disponível no solo.
4.2. Aceroleira
A irrigação da aceroleira pode ser feita por asper-
são convencional, sistemas de irrigação localizados e
por superfície (sulcos).
Gonzaga Neto e Soares (1994) recomendam a utili-
zação dos coeficentes de cultura dos citros, devido à
falta de informações específicas deste coeficiente para
a acerola e a manutenção do nível de água disponível
entre 80 e 100%.
4.3. Citros
Segundo Coelho (1996), a irrigação em citros pode
resultar em aumento da produtividade da ordem de 30 a
75%, e resulta também em melhor qualidade dos frutos,
maior pegamento de flores e frutos e maior quantidade
de óleo na casca.
Sistemas de aspersão, sulcos e irrigação localiza-
da podem ser utilizados na irrigação de citros. Em fun-
ção das características das copas das árvores, os sis-
temas de aspersão tendem a provocar elevadas perdas
de água, quando a aplicação da água ocorre sobre a
copa. Por outro lado, a utlização da microaspersão, com
aplicação de água em excesso no colo da planta pode
favorecer a ocorrência de gomose. Para se evitar essa
situação o ideal é utiliziar microaspersores com raio de
molhamento inferior a 360o
.
As necessidades de água variam entre 900 e 1200
mm anuais. Os valores de Kc sugeridos por Doorenbos
e Pruitt (1977) são descritos na tabela 4.
Quando se utilizam tensiômetros para o controle
da água, a faixa de tensão para determinar o momento
de se iniciar a irrigação é de 0,5 a 1,0 atm.
A época de maior consumo de água ocorre no
florescimento e a ocorrência de déficit ligeiro durante a
maturação pode ser desejável para aumentar o teor de
sólidos solúveis e de ácidos nos frutos.
No caso do limão Tahiti a ocorrência de déficit hídrico
no período de verão pode induzir a floração tardia e a
obtenção de colheita fora de época normal de produção.
O sistema radicular tipo pivotante e bem desenvol-
vido permite níveis de esgotamento da água no solo de
até 60 a 70% fora do período de florescimento. No
florescimento, o nível de esgotamento não deve ultra-
passar 40%.
4.4. Gravioleira
Os sistemas de irrigação por sulcos, aspersão sob-
copa e localizados podem ser utilizados na irrigação da
graviola. Devido ao espaçamento amplo utilizado nessa
Figura 19.
Abacaxizeiro
irrigado por
gotejamento
com laterais
tipo “tape”.
Tabela 4. Valores de Kc para citros cultivados em zonas predominantemente secas.
FRUTICULTURA IRRIGADA
TIPO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Árvores grandes adultas que proporcionam uma
percentagem de solo sombreado superior a 70%
0,5 0,5 0,55 0,55 0,55 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,55 0,55
Árvores que proporcionam uma percentagem de solo
sombreado de mais ou menos 50%
0,45 0,45 0,5 0,5 0,5 0,55 0,55 0,55 0,55 0,55 0,5 0,5
Árvores que proporcionam uma percentagem de solo
sombreado inferior a 20%
0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,4 0,4
117
cultura recomenda-se a preferência por sistemas de
gotejamento e microapsersão.
Pinto e Silva (1994) estimam a necessidade de água
da cultura em 1000 a 1200 mm anuais. O pico de produ-
ção no DF ocorre no início do segundo semestre, coin-
cidindo com o período de maior demanda evaporativa,
nesse período, a planta deve ser adequadamente irrigada
para obtenção de produtividades mais elevadas.
A falta de informações mínimas para o manejo da
água nessa cultura obriga, no estágio atual, a utilização
de informações gerais para adoção da estratégia de
manejo.
4.5. Goiabeira
A goiabeira quando irrigada e conduzida com siste-
ma de poda adequado produz até duas safras por ano.
Os sistemas de irrigação preferenciais para uso na
goiabeira são gotejamento, microaspersão e sulcos.
Não existem informações específicas de coeficien-
tes de cultura para a goiabeira. Gonzaga Neto e Soares
(1994) recomendam a utilização dos coeficientes dispo-
níveis para uva. A tabela 5 indica os índices sugeridos.
Para que se alcancem os objetivos de produção em
época diferenciada, os níveis de água no solo devem ser
mantidos em pelo menos 50% da água disponível após
a poda da planta. Os mesmos autores recomendam a
suspensão da irrigação por um período de um a dois
meses antes da poda, visando submeter a planta a um
estresse hídrico.
4.6. Mangueira
Cultivada com espaçamentos amplos, com porte
médio a grande e sistema radicular bem desenvolvido, a
mangueira pode ser irrigada por microaspersão,
gotejamento e aspersão sob-copa.
Cunha et al. (1994) recomendam que a irrigação
seja interrompida dois a três meses antes da época de
florescimento, para que as plantas entrem em repouso
vegetativo, evitando a queda de flores e problemas
fitossanitários. Nas fases de formação e desenvolvimen-
to do fruto que se iniciam em pleno perído seco a irriga-
ção deve ser freqüente, para se evitar a queda dos frutos
recém formados.
Silva et al. (1996) recomendam a seguinte estraté-
gia para o manejo da água de irrigação com a utilização
de tensiômetros na mangueira:
– Plantio: as irrigações visam a favorecer o
pegamento das mudas, sem o monitoramento do nível
da água do solo;
– Desenvolvimento inicial: manter os primeiros
60 cm de solo com uma tensão de água em torno de
0,3 atm;
– Desenvolvimento da planta: a irrigação deve ser
feita toda vez que a tensão de água na profundidade de
0,3 m atingir um valor em torno de 0,5 atm;
– Repouso fenológico (após a colheita): a irrigação
deve ser realizada de forma que a planta reduza o lança-
mento de brotos vegetativos, mas na quantidade e
freqüência necessárias para a manutenção da atividade
fotossintética;
– Período de estresse hídrico: neste período a irri-
gação é paralisada de forma gradativa;
– Floração e produção: retomam-se as irrigações.
4.7. Maracujazeiro
Os sistemas de irrigação preferenciais são o
gotejamento e a microaspersão. No caso da aspersão
convencional, Ruggiero et al. (1996) recomendam que o
uso da irrigação por aspersão deve ser realizado predo-
minantemente no período noturno e nunca à tarde, no
período de floração.
Segundo os mesmos autores, independentemente
do método utilizado, é importante que a planta não seja
submetida a nenhum tipo de estresse hídrico, pois an-
tes mesmo do aparecimento dos sintomas visuais de
falta de água já ocorreu o comprometimento da produ-
ção de matéria seca. Recomenda-se a manutenção
do perfil de umidade do solo próxima à capacidade de
campo.
O uso da irrigação nessa cultura permite a obten-
ção de boas produtividades nas épocas de maior preço.
Para o manejo da água devem-se utilizar parâmetros
de solo, uma vez que não existe disponibilidade de infor-
mações quanto ao consumo de água nas diversas fases
da cultura.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Inventário de dados de recursos hídricos e
irrigação para América Latina e Caribe.Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal. Secretaria de Re-
cursos Hídricos. Departamento de Aproveitamen-
to Hidroagrícola,1998. 10 f.
2. BRASIL. Normais climatológicas (1961-1990).
Brasília: Ministério da Agricultura e Reforma
Agrária. Secretaria Nacional de Irrigação/DNMET,
1992. 84 p.
Tabela 5. Coeficientes de cultura (Kc) para goiabeira.
FRUTICULTURA IRRIGADA
Discrimi- Percentagem de solo sombreado
nação 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Kc .45 .45 .5 .6 .65 .7 .75 .75 .75 .75

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  • 1. 107 1. INTRODUÇÃO Com precipitação média anual de 1552 mm (Brasil, 1992), o Distrito Federal apresenta como característica climática importante a ocorrência de um período chuvo- so (verão) e outro seco (inverno) bem definidos. O pri- meiro com ocorrência de outubro a abril, concentra 92% do total da precipitação anual e permite o desenvolvi- mento de culturas anuais, principalmente grãos, sem a necessidade da prática regular de irrigação. No período seco, de maio a setembro, quando ocorre apenas 8% da precipitação total, há uma intensa demanda evaporativa em função da baixa umidade relativa do ar, maior insolação e ocorrência freqüente de ventos. Nes- se período, só é possível o cultivo de plantas anuais com o uso da irrigação como prática obrigatória. A tabela 1 apresenta os valores normais para o DF (média de 30 anos) dos principais parâmetros climáticos. O desenvolvimento da fruticultura, com a utilização de plantas perenes e semi-perenes, encontra, de ma- neira geral, condições satisfatórias de desenvolvimento no período chuvoso, especialmente para aquelas frutei- ras cujo período de florescimento e formação de frutos ocorre neste período e a colheita (pico de produção) ocorre em meados do primeiro semestre (março/abril). Fruteiras como o maracujazeiro, a goiabeira, o limão tahiti e a aceroleira são exemplos dessa situação. Isso, porém, acaba por favorecer a concentração da produção e provoca invariavelmente uma queda acentuada dos preços recebidos pelos agricultores. No caso de fruteiras com esse tipo de comporta- mento, a irrigação é uma prática importante no que diz respeito à diferenciação da época de produção, visando à obtenção de melhores preços na comercialização dos produtos. Para se alcançar este objetivo é necessário conju- gar práticas de poda, fertilização, derrubada de florada, indução floral e outras, dependendo da espécie, com a correta aplicação de água na irrigação, que viabiliza o uso destas práticas, ao garantir um adequado suprimento de água às plantas. Para as fruteiras que apresentam seu pico de pro- dução no segundo semestre com a ocorrência da florada e desenvolvimento dos frutos no período seco, é impor- tante a manutenção de índices adequados de água no solo, que influem diretamente na obtenção de frutos de boa qualidade e maiores índices de produtividade. Esse é caso de fruteiras como a laranjeira, a gravioleira e o abacaxizeiro. Além dos aspectos relacionados à diferenciação da época de produção e aumento da produtividade, a prática da irrigação contribui para a racionalização de práticas culturais como as adubações de cobertura, o controle de plantas invasoras e algumas pragas que pre- Lúcio Taveira Valadão Tabela 1. Valores normais mensais dos principais parâmetros climáticos do DF. MESES Temp. Máx. Média ( C)° Temp. Min. Média (°C) Temp. Média (°C) Precipitação Total (mm) Evaporação Total (mm) Umidade Relativa (%) Insolação (horas) JAN 26.9 17.4 21.6 241.4 105.5 76 157.4 FEV 26.7 17.4 21.8 214.7 102.8 77 157.5 MAR 27.1 17.5 22.0 188.9 108.6 76 180.9 ABR 26.6 16.8 21.4 123.8 107.4 75 201.1 MAI 25.7 15.0 20.2 39.3 128.6 68 234.3 JUN 25.2 13.3 19.1 8.8 149.2 61 253.4 JUL 25.1 12.9 19.1 11.8 182.1 56 265.3 AGO 27.3 14.6 21.2 12.8 236.6 49 262.9 SET 28.3 16.0 22.5 51.9 227.7 53 203.2 OUT 27.5 17.4 22.1 172.1 153.7 66 168.2 NOV 26.6 17.5 21.7 238 107.7 75 142.5 DEZ 26.2 17.5 21.5 248.6 96.8 79 138.1 Fonte: Brasil (1992).
  • 2. 108 Figura 1. Exemplo uso de sulcos para irrigação. FRUTICULTURA IRRIGADA judicam as culturas. No caso da adubação de cobertura a utilização da fertirrigação permite maior parcelamento das doses aplicadas e melhor aproveitamento dos nutri- entes com a aplicação através da água de irrigação. Já a utilização de sistema de irrigação localizada diminui a incidência de plantas invasoras e a irrigação por asper- são contribui para a diminuição da incidência de oídio e ácaros. No Distrito Federal são irrigados atualmente 11.000 ha, utilizando-se os sistemas de aspersão (93%), su- perfície (2,0%) e irrigação localizada (5,0%), represen- tando 14% da área cultivada. Do total da área irrigada a fruticultura ocupa 4,5% com 500 ha de um total de 3.174 ha cultivados, o que demonstra o grande potencial para o crescimento da irrigação de fruteiras, especialmente com a utilização de sistemas de irrigação localizada. 2. ESCOLHA DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO A utilização da irrigação nas culturas deve basear- se na viabilidade técnica e econômica do projeto (Mantovani, 1996), bem como nos benefícios sociais advindos com sua aplicação. Não existe, como regra geral, um sistema de irriga- ção mais adequado do que outro, uma vez que cada sistema apresenta características próprias, com custos variáveis, vantagens e desvantagens, adequando-se di- ferentemente às condições locais (Marouelli e Silva, 1998). No Distrito Federal, os principais sistemas de irri- gação em uso são: a) Superfície: utiliza o próprio solo para condução e distribuição da água. Classifica-se em sulcos, faixas, inundação e sub- superficial, sendo que o primeiro é o de utilização mais freqüente na irrigação de fruteiras no DF. São abertos pequenos sulcos paralelos à fileira de árvores, com declividade variando desde próximo a zero até 2%, de tal forma que a água, ao longo do tempo, infiltra-se no fundo e nas laterais do sulco e, pela movi- mentação lateral e vertical, fornece água suficiente ao desenvolvimento da cultura (figura 1). A magnitude des- ta movimentação depende da textura do solo. Esse método apresenta três características impor- tantes: irriga apenas parte do terreno, é o que tem me- nor custo de implantação e utiliza maiores quantidades de água. A implantação dos sistemas de irrigação por sul- cos requer terrenos relativamente planos. As fruteiras devem ser plantadas obedecendo-se a declividade, com- primento e disposição compatíveis, que serão utilizadas na construção dos sulcos. Os solos mais indicados para sua utilização são aqueles que não apresentam eleva- das taxas de infiltração, que favorecem as perdas de água por percolação. Solos sob cerrado, possuem ele- vado grau de agregação e, mesmo quando argilosos, possuem comportamento semelhante ao de um solo are- noso, favorecendo as perdas por percolação. Para minimizar essas perdas é necessário diminuir o compri- mento dos sulcos, o que termina por aumentar a mão- de-obra no manejo do sistema. As perdas que ocorrem no final dos sulcos, quando não controladas, contribu- em de maneira significativa para o aumento do consumo de água nesse sistema. Para diminuir as perdas pode- se utilizar o fluxo intermitente na aplicação da água no sulco ou a redução da vazão ao longo da aplicação (Bernardo, 1988). Outras características deste sistema de irrigação, de acordo com Frizzone (1993), que se mostram inte- ressantes na fruticultura são: I) não depende do porte da cultura e da ocorrência de ventos; II) água de baixa qualidade física, química ou bioló- gica não impõe severas restrições a sua utilização, uma vez que, em geral, a água não entra em contato direto com as partes vegetais consumidas in natura.Também não existem dispositivos muito sujeitos à obstrução física; III) não interfere em esquemas de tratamento fitossanitários sistemáticos, pois não molha a parte aérea das plantas; IV) apresenta suficiente capacidade para superar eventuais problemas operacionais, não dependendo de assistência técnica para equipamentos, exceto para o conjunto motobomba quando presente; V) o dimensionamento deste sistema exige ensai- os de campo, que somente após análise intensiva, reve- lam dados que permitem definir parâmetros para o pro- jeto. A eficiência de irrigação no sistema de sulcos varia de acordo com a textura do solo, topografia do terreno e aspectos construtivos e de manejo, sendo normalmente inferior a 70%, com valores típicos entre 30 e 50%. b) Aspersão: os sistemas de irrigação por asper- são aplicam a água sob a forma de chuva artificial sobre o solo e a cultura, através de mecanismos pressurizados, denominados aspersores. Os principais tipos de sistemas de aspersão são: convencional (portátil, semi-portátil e fixo), pivô central, lateral móvel, autopropelido e ramal rolante.
  • 3. 109 FRUTICULTURA IRRIGADA No Distrito Federal são mais utilizados a aspersão convencional e o pivô central, que juntos representam 93% da área irrigada. A grande adaptabilidade destes sistemas às diferentes condições do terreno, solos e culturas, explicam a grande disseminação desses sis- temas. Condições climáticas em que predominam ventos fortes, umidade relativa do ar baixa e temperaturas ele- vadas provocam perdas elevadas quando se utilizam sis- temas aspersão e neste caso a irrigação deve ser feita em períodos de menor intensidade destas variáveis (Mantovani, 1996). O molhamento da parte aérea das plantas afeta o uso de agrotóxicos. b.1. Sistemas de aspersão convencional Um aspecto importante na utilização de sistemas de aspersão convencional na fruticultura é a escolha dos aspersores, uma vez que a copa das plantas pode re- presentar uma barreira ao jato de água (figura 2) afetando a uniformidade de distribuição da água e a eficiência da irrigação. O impacto do jato de água pode, também, pro- vocar a queda de folhas, flores e frutos em desenvolvi- mento e mesmo danos mecânicos nas plantas, depen- dendo da pressão de serviço utilizada.Essas observa- ções não são válidas no caso do abacaxizeiro, que é uma cultura de baixo porte. Figura 2: Danos nas folhas de bananeiras causados pelo impacto da água de aspersor. SegundoBucheleeSilva(1992)eRamoseMantovani (1994) os aspersores podem ser classificados quanto à pressão de operação e raio de alcance em: a) aspersores de pressão muito baixa (microasper- sores): possuem pressão de serviço entre 4 e 10 metros de coluna de água (mca) e pequeno raio de alcance, adaptando-se a utilização em pequenas áreas e cultu- ras permanentes; b) aspersores de pressão de operação baixa: ope- ram com pressão de serviço entre 10 e 20 mca, com raio de alcance entre 6 e 18 m; c) aspersores de pressão de operação média: tra- balham com pressão de serviço entre 20 e 40 mca e raio de alcance entre 12 e 30 m; d) aspersores gigantes ou canhões hidráulicos: re- presentam os aspersores de grande porte que operam com pressões acima de 40 mca e raio de alcance que pode atingir 75 m. Esses aspersores permitem maior espaçamento entre linhas, porém apresentam elevado consumo de energia em função da pressão de operação. Na escolha do aspersor a ser utilizado deve-se ob- servar os seguintes pontos: a) a taxa de aplicação de água deve ser sempre inferior à velocidade de infiltração básica do solo, evitan- do-se o escorrimento superficial; b) para fruteiras que apresentam copa alta e flores e frutos sensíveis à queda é interessante a utilização de aspersores denominados sob-copa. Estes possuem ângulo de inclinação dos bocais menores, cerca de 6° e permitem melhor uniformidade de distribuição da água (figura 3); Figura 3: Exemplo do uso de aspersor sob-copa. c) ângulos dos bocais próximos de 30° devem ser utilizados em condições de ventos fracos e para propor- cionar gotas mais finas, próprias para culturas mais sen- síveis. As linhas laterais devem ser dispostas em nível, no sentido perpendicular à direção predominante dos ven- tos. Uma indicação geral que pode ser adotada quanto ao espaçamento entre aspersores é a utilização de va- lores entre 0,25 e 0,5 do diâmetro de cobertura do aspersor e, para a distância entre laterais, esse valor não deve exceder a 0,65 do mesmo diâmetro (Olitta, 1988). b.2. Sistemas de pivô central Os sistemas de pivô central irrigam áreas de formato circular, permitem a irrigação de grandes áreas e possuem elevado grau de automatização, operando com mão-de-obra reduzida. No DF não existem, atualmente, sistemas de pivô central irrigando fruteiras. Em outras regiões do país (GO, SP e MG) sistemas que foram utilizados algum tempo para produção de culturas de grãos, hoje estão ocupados irrigando mamoeiro, goiabeira, abacaxizeiro e outras culturas (figura 4).
  • 4. 110 Figura 4: Pivô central irrigando uma lavoura de goiaba. A principal limitação para o uso desse sistema em fruticultura é o vão livre do solo que varia entre 2,80 m e 3,80 m, o que pode limitar a utilização em culturas de porte mais elevado, como a mangueira por exemplo. c. Sistema de irrigação localizada São sistemas que aplicam a água diretamente so- bre o solo ou próximo a ele, em baixo volume e alta freqüência. Em função disso, a umidade do solo varia pouco, criando um ambiente propício ao desenvolvimen- to das plantas. Os principais tipos de irrigação localiza- da são a microaspersão e o gotejamento. Dentre os sistemas citados, esse é o que permite maior eco- nomia no uso da água. A utiliza- ção desses sistemas está em franco crescimento no DF em ra- zão da baixa disponibilidade hídrica da região, que é da ordem de 1.528 m3 /hab/ano, segundo Brasil (1998). De acordo com a mesma fonte, índices inferiores a 1.700 m3 /hab/ano são um sinal de alerta de escassez hídrica. Outrascaracterísticasimpor- tantes dos sistemas de irrigação localizada são a alta eficiência de irrigação (80 a 95%), economia de energia (opera com baixas pressões), utilização da fertirriga- ção, possibilita menor infestação de plantas invasoras (irriga ape- nas uma parte do terreno), é pouco afetada pelo vento e proporciona facilidade para automação. Ressalta-se também a grande adaptabilidade des- tes sistemas aos diferentes tipos de solo, à topografia do terreno e às diversas fruteiras cultivadas. No DF são irrigados, atualmente, com sistemas localizados o limoeiro da variedade Tahiti (microaspersão e gotejamento), maracujazeiro (gotejamento), tangerineira (microaspersão e gotejamento), abacaxizeiro (gotejamento), gravioleira (gotejamento), aceloreira (gotejamento), bananeira (microaspersão), goiabeira (microaspersão) e em áreas do entorno do DF a laranjei- ra (gotejamento) e a videira (microaspersão). Estima-se que a utilização desses sistemas cresceu em mais de 100% no último ano no DF. O principal limitador da utilização desses sistemas são os custos iniciais de implantação, em geral mais elevados do que os demais sistemas. Isso ocorre por- que tratam-se de sistemas fixos, cujas laterais, geral- mente em número igual às linhas da cultura, são dis- postas paralelamente à linha da cultura e necessitam de sistemas de filtragem eficientes. Quando compara- do, por exemplo, ao sistema de aspersão deve-se levar em conta o espaçamento da cultura no qual o sistema será utilizado e nesse caso para o uso em fruticultura tem-se uma situação bastante favorável, pois utilizam- se maiores espaçamentos entre linhas e conseqüente- mente custos de implantação que são compatíveis com os da aspersão convencional fixa. Também a existência de um grande número de fornecedores, a diversidade de equipamentos disponíveis e as adaptações realizadas, permitem a montagem de sistemas com custos meno- res. A figura 5 mostra uma instalação típica de um sis- tema de irrigação por gotejamento. Um aspecto positivo quase sempre associado ao uso da irrigação localizada é a aplicação de fertilizantes via água de irrigação (fertirrigação). Essa prática permi- te melhor aproveitamento dos fertilizantes aplicados, parcelamento das doses de acordo com as necessida- des das culturas e da expectativa de produção e melhor precisão na distribuição de adubos entre outras vanta- gens. FRUTICULTURA IRRIGADA Figura 5: Instalação típica de um sistema de irrigação por gotejamento.
  • 5. 111 Diversos métodos podem ser utilizados para a injeção de fertilizantes, sendo os mais comuns o uso de tubo de venturi e bombas injetoras. Os injetores tipo venturi são de baixo custo e de uso bastante comum na fruticultura. A figura 6 mostra um injetor desse tipo. Para o adequado funcionamento dos sistemas de irrigação localizada é indispensável a utilização de sis- temas de filtragem eficientes e compatíveis com as ca- racterísticas dos emissores utilizados e da qualidade da água de irrigação. Os tipos de filtros mais comuns são: areia, tela e discos. Figura 6: Injetor de fertilizantes tipo venturi. Os filtros de areia (figura 7) retêm partículas maio- res e material orgânico presentes na água de irrigação e devem ser sempre o primeiro filtro do sistema. Figura 7: Conjunto de filtros de areia. A limpeza desses filtros é realizada invertendo-se o sentido do fluxo de água no sistema, procedimento co- nhecido como retro-lavagem. Os filtros de tela (figura 8) possuem como elemento filtrante uma tela de aço inoxidável ou nylon e são bas- tante eficientes na retenção de partículas sólidas. As dimensões das malhas utilizadas são normalmente de- signadas “mesh”, definidos como o número de malhas por polegada linear e variam de 50 a 200 mesh. Figura 8: Filtro de tela, mostrando o elemento filtrante. Os filtros de discos (figura 9) têm elemento filtrante composto por um conjunto de anéis, com ranhuras, so- bre um suporte central cilíndrico e perfurado. A filtragem da água ocorre ao passar pelos condutos formados en- tre dois anéis adjacentes. Figura 9: Filtro de disco mostrando o elemento filtrante. Os filtros de tela ou disco são de uso obrigatório nos sistemas de irrigação localizada e muitas vezes representam o único dispositivo de filtragem existente. Isso ocorre freqüentemente nos sistemas de microaspersão, que são menos exigentes em relação à filtragem da água e quando se utiliza água de melhor qualidade nos sistemas de gotejamento. No dimensionamento do sistema, um dos aspec- tos a se considerar é a percentagem de solo molhado (P), representada por: P = Onde : AM = área molhada pelo emissor (determinada em campo) AP = área ocupada pela planta. Para áreas com períodos de seca mais prolonga- dos, como o DF, recomendam-se valores de P maiores do que 30% para que não haja restrições ao crescimen- to do sistema radicular, que pode resultar em menor ca- pacidade de absorção das raízes e prejudicar a susten- tação da planta. c.1. Gotejamento Dois tipos de sistemas de gotejamento são mais utilizados para irrigação de fruteiras e podem ser carac- terizados quanto ao aspecto construtivo e ao posicionamento do gotejador na lateral. O primeiro conhecido como fita, “tape” ou tubo gotejador, caracteriza-se por apresentar gotejadores 100x AP AM FRUTICULTURA IRRIGADA
  • 6. 112 como parte integrante de um tubo de polietileno com diâmetro em torno de 16 mm (figura 10). Figura 10: Gotejador tipo “tape”. Nesse sistema, os gotejadores são uniformemente espaçados em distâncias de 0,2m até 0,4 m e apresen- tam vazão geralmente inferior a 4 l/h/gotejador. São sis- temas de custo mais baixo e o preço de mercado varia em função da espessura da parede do tubo de polietileno. O segundo tipo, denominado gotejamento conven- cional, apresenta gotejadores inseridos sobre o tubo de polietileno durante a sua montagem no campo e com vazão de até 8 l/h/gotejador (figura11). Figura 11: Gotejador inserido sobre o tubo de polietileno. Essa técnica permite maior adaptabilidade no uso em fruteiras, pois o espaçamento entre gotejadores e o seu número por planta pode ser adaptado às caracterís- ticas e necessidades da cultura, evitando-se o molhamento entre as plantas. Nos dois casos a aplicação de água é feita de ma- neira pontual, resultando na formação de um bulbo mo- lhado (figura 12), cujas dimensões e forma dependem da textura e estrutura do solo e da vazão aplicada pelo emissor. Para fins de projeto devem ser realizados testes de campo para avaliar as dimensões da área molhada. Figura 12: Forma do bulbo molhado Os gotejadores podem ser dispostos de diferentes maneiras no campo, de acordo com a percentagem da área que será irrigada, do volume de água aplicado por planta, e da textura e agregação do solo. A figura 13 ilustra diferentes maneiras para disposição da linha de gotejadores. Figura 13: Diferentes disposições da linha de gotejadores: a) uma linha lateral; b) duas linhas laterais; c) múltiplas saídas; d) anéis; e) zig-zag. Aquelas representadas por anéis e múltiplas saí- das adaptam-se bem a culturas com espaçamento mai- or, propiciando melhor condição de desenvolvimento do sistema radicular e não irrigando a área entre plantas na linha. c.2. Microaspersão A microaspersão utiliza pe- quenos aspersores de plástico (figura 14) que aplicam a água sob a forma de chuvisco, em círculo ou semi-círculo, com raio de alcance geralmente inferior a 4 m e pressão de operação de 10 a 30 mca. Existem disponíveis no mer- cado micropaspersores que pos- sibilitam diferentes padrões de molhamento (figura 15) conferindo grande maleabilidade ao sistema. Figura 15: Diferentes padrões de molhamento em microaspersão. 3. MANEJO DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO Conhecido o método de aplicação de água à cultu- ra devem-se estabelecer critérios para determinar o mo- mento da irrigação e a quantidade de água a se aplicar, visando suprir a planta de água de forma a não limitar seu desenvolvimento e também não provocar desperdí- cios desse recurso, já escasso no DF. O consumo de água em um cultivo é resultante dos processos de evaporação da água do solo e da Figura 14: Modelo de um microaspersor. FRUTICULTURA IRRIGADA
  • 7. 113 transpiração das plantas, cuja ocorrência simultânea é denominada evapotranspiração. A parcela de água que é retida pelos tecidos vegetais é pequena (cerca de 1% do total) e não é computado no consumo total de água. A evapotranspiração depende das condições climá- ticas, do conteúdo de água no solo e da planta. Condições climáticas que favorecem a evapotrans- piração são radiação solar intensa, baixa umidade rela- tiva do ar e ventos intensos. Para que ocorra a evapotranspiração máxima é ne- cessário que a umidade do solo seja mantida em valo- res tais que não ocorra diminuição da capacidade da planta em atender a demanda atmosférica. A capacidade dos solos de reter água varia de acor- do com a textura. A diferença entre o teor de água no solo na sua máxima capacidade de retenção (capacida- de de campo) e o ponto de murcha fornece a água dis- ponível. A tabela 2 (Valadão et al., 1997) apresenta os valores médios para o limite de água superior e o total de água disponível para solos com diferentes teores de argila. O total de água disponível para a planta correspon- de a água disponível na profundidade do sistema radicular. No caso das fruteiras arbóreas essa profundidade pode atingir mais de 2,0 m e deve ser avaliada de acordo com o desenvolvimento da planta. Para que não ocorram prejuízos ao desenvolvimen- to da cultura não se deve permitir, no intervalo entre as irrigações, que a planta consuma toda a água disponí- vel. Para as plantas frutíferas em geral admite-se o con- sumo de 40 a 50% da água disponível, dependendo do sistema de irrigação utilizado. Existem diversos métodos para calcular o consu- mo de água nas culturas, entretanto poucos alcançam grau de utilização generalizado entre os agricultores. Isso ocorre porque de maneira geral os métodos disponíveis nem sempre reúnem condições de precisão, simplicida- de e baixo custo. Os métodos existentes baseiam-se na medida de parâmetros climáticos, do “status” da água no solo ou na planta ou ainda na combinação dessas medidas. Os métodos do tanque classe “A” e o uso de tensiômetros estão entre aqueles que possuem maior facilidade de utilização. 3.1. Tanque Classe “A” (TCA) Consiste em um recipiente circular de aço inoxidá- vel ou ferro galvanizado, com 121 cm de diâmetro inter- no e 25,5 cm de profundidade (figura 16). Figura 16: Tanque Classe “A”. Os valores de evaporação do tanque são utiliza- dos na estimativa da evapotranspiração do cultivo de referência (ETo). Essa estimativa é feita através da expressão: ETo = kp x ECA Onde: Kp = coeficiente de tanque (tabela 3); ECA = evaporação do tanque classe “A” (mm); O valor do Kp é dado em tabela (Doorenbos e Pruitt,1977). Tabela 2. Teores médios de argila e areia (%), limite superior de retenção de água no solo (cm3/cm3) e total de água disponível (milímetro de água por milímetro de solo) para direrentes tipos de solos e teores médios de argila e areia. FRUTICULTURA IRRIGADA Tipo de solo Teor de argila (%) Teor de areia (%) Limite superior (cm /cm )3 3 Total de água disponível (mm/mm) Argiloso Argilo siltoso Franco argilo siltoso Franco argiloso Franco siltoso Franco Franco argilo arenoso Franco arenoso Areia franca Arenoso 60 45 35 35 15 18 28 10 6 5 20 8 10 35 20 40 60 65 82 92 0,53 0,49 0,45 0,39 0,39 0,33 0,30 0,26 0,21 0,18 0,13 0,16 0,17 0,13 0,18 0,14 0,09 0,11 0,09 0,08
  • 8. 114 A evapotranspiração da cultura (ETc - mm) é calcula- da pela expressão: ETc = Eto x Kc Onde Kc = coeficiente de cultura. O coeficiente de cultura considera as necessida- des hídricas da cultura nos seus diversos estádios de desenvolvimento e ao longo do ano no caso das fruteiras perenes. Tabela 3. Coeficiente Kp para o tanque classe A, para estimativa da ETo. Uma dificuldade no uso dos coeficientes de cultura na fruticultura é a pequena disponibilidade de dados para as diversas espécies cultivadas. A determinação da lâmina de irrigação com o uso do tanque classe “A” pode ser realizada com o procedi- mento descrito a seguir: a) Cálculo da ETo acumulada desde a última irriga- ção: ETo = kp x ECA b) Cálculo da lâmina de irrigação (LI) FRUTICULTURA IRRIGADA Tanque circundado por grama Tanque circundado por solo nu Umidade relativa(%) Baixa <40% Média 40- 70% Alta >70% Baixa <40% Média 40- 70% Alta >70% Vento (m/s) Posição do tanque R(m)* Posição do tanque R(m)* Leve <2 Moderado 2-5 Forte 5-8 0 Muito forte >8 0 10 100 1000 0 10 100 1000 0 10 100 1000 0 10 100 1000 0,55 0,65 0,70 0,75 0,50 0,60 0,65 0,70 0,45 0,55 0,60 0,65 0,40 0,45 0,50 0,55 0,65 0,75 0,80 0,85 0,60 0,70 0,75 0,80 0,50 0,60 0,65 0,70 0,45 0,55 0,60 0,60 0,75 0,85 0,85 0,85 0,65 0,75 0,80 0,80 0,60 0,65 0,75 0,75 0,50 0,60 0,65 0,65 0 10 100 1000 0 10 100 1000 0 10 100 1000 0 10 100 1000 0,70 0,60 0,55 0,50 0,65 0,55 0,50 0,45 0,60 0,50 0,45 0,40 0,50 0,45 0,40 0,35 0,80 0,70 0,65 0,60 0,75 0,65 0,60 0,55 0,60 0,55 0,50 0,45 0,60 0,50 0,45 0,40 0,85 0,80 0,75 0,70 0,80 0,70 0,65 0,60 0,70 0,65 0,60 0,55 0,65 0,55 0,50 0,45
  • 9. 115 LI = Onde Ei = eficiência do sistema de irrigação (decimal) Com a utilização do TCA o momento da irrigação é determinado quando atinge-se um nível preestabelecido de evapotranspiração da cultura. 3.2. Tensiômetros São equipamentos utilizados para medir a força com que a água se encontra retida no solo, que é também a força que a planta exerce para retirar a água da terra. A figura 17 apresenta modelo de um tensiômetro, constituído de: – cápsula porosa; – tê de PVC; – vacuômetro metálico; – rolha de borracha para vedação; – tubo de PVC com tamanho variável. Os tensiômetros são instalados no solo, próximos às plantas na zona de absorção do sistema radicular (figura 18). O tubo de PVC deve estar cheio de água e a cápsula porosa completamente saturada, retirando-se todo o ar existente na tubulação. Figura 17: Modelo de um tensiômetro. Os procedimento para instalação são: abertura de um buraco no solo com diâmetro semelhante ao do tubo de PVC do tensiômetro; colocação do tensiômetro na profundidade desejada e acabamento final para vedação junto a parede do tubo. A figura 18 ilustra essas opera- ções. Figura 18: Colocação de tensiômetros no campo. À medida que o solo seca, a água contida no tensiômetro passa para o solo criando um vácuo no seu interior. Esse vácuo, ou tensão, é medido pelo vacuômetro e o seu valor determina o momento da irri- gação. Conhecendo a capacidade de retenção de água no solo em diferentes tensões (curva de retenção) é pos- sível determinar a quantidade de água a ser aplicada. Após a aplicação da água de irrigação ou ocorrência de chuva, a umidade do solo aumenta e o tensiômetro ab- sorve água através da cápsula porosa e o vácuo diminui no interior do equipamento. À medida que a cultura per- de água o processo volta a se repetir. Além da curva de retenção, pode-se utilizar a tabe- la 2 para estimar o volume de água a ser aplicado (Silva e Valadão, 1997). Isso é feito a partir da estimativa do total de água disponível em diferentes tensões. A determinação da lâmina de água (LI) a ser aplica- da é feita com a seguinte expressão : LI = Onde: UA = umidade do solo atual (g/g); Pr = profundidade de irrigação (cm); Cc = capacidade de campo (limite superior de água no solo) g/g; Da = densidade aparente do solo (g/cm3 ). 4. INFORMAÇÕES PARA A IRRIGAÇÃO DE ALGUMAS FRUTEIRAS NO DISTRITO FEDERAL 4.1. Abacaxizeiro Os principais sistemas de irrigação adaptáveis à cultura do abacaxi são: aspersão convencional, pivô central e gotejamento. O plantio realizado em fileiras duplas permite a utilização de uma linha lateral com gotejadores por fileira dupla da cultura (figura 19). O coefiente de cultura (kc) varia entre 0,4 e 0,5 no ciclo da cultura, com necessidade de água entre 700 a 1000 mm anuais (Doorenbos e Kassan, 1979). Entre- tanto a cultura é sensível ao déficit hídrico, especial- Ei kcxEto xDax Ei uacc Pr      − FRUTICULTURA IRRIGADA
  • 10. 116 menteduranteoperíododecrescimentovegetativo,quan- do são determinados o tamanho e as características da frutificação. O déficit hídrico durante a floração tem efei- tos menos graves e pode até acelerar a frutificação, re- sultando numa maturação mais uniforme. Segundo Cunha et al. (1995), a irrigação deve ser suspensa 8 a 15 dias antes da colheita a fim de evitar a redução dos sólidos solúveis totais. O abacaxizeiro apresenta sistema radicular superfical, geralmente com 0,3 a 0,6 m de profundidade e extenso. Para o reinício das irrigações admite-se o esgota- mento de até 50% da água disponível no solo. 4.2. Aceroleira A irrigação da aceroleira pode ser feita por asper- são convencional, sistemas de irrigação localizados e por superfície (sulcos). Gonzaga Neto e Soares (1994) recomendam a utili- zação dos coeficentes de cultura dos citros, devido à falta de informações específicas deste coeficiente para a acerola e a manutenção do nível de água disponível entre 80 e 100%. 4.3. Citros Segundo Coelho (1996), a irrigação em citros pode resultar em aumento da produtividade da ordem de 30 a 75%, e resulta também em melhor qualidade dos frutos, maior pegamento de flores e frutos e maior quantidade de óleo na casca. Sistemas de aspersão, sulcos e irrigação localiza- da podem ser utilizados na irrigação de citros. Em fun- ção das características das copas das árvores, os sis- temas de aspersão tendem a provocar elevadas perdas de água, quando a aplicação da água ocorre sobre a copa. Por outro lado, a utlização da microaspersão, com aplicação de água em excesso no colo da planta pode favorecer a ocorrência de gomose. Para se evitar essa situação o ideal é utiliziar microaspersores com raio de molhamento inferior a 360o . As necessidades de água variam entre 900 e 1200 mm anuais. Os valores de Kc sugeridos por Doorenbos e Pruitt (1977) são descritos na tabela 4. Quando se utilizam tensiômetros para o controle da água, a faixa de tensão para determinar o momento de se iniciar a irrigação é de 0,5 a 1,0 atm. A época de maior consumo de água ocorre no florescimento e a ocorrência de déficit ligeiro durante a maturação pode ser desejável para aumentar o teor de sólidos solúveis e de ácidos nos frutos. No caso do limão Tahiti a ocorrência de déficit hídrico no período de verão pode induzir a floração tardia e a obtenção de colheita fora de época normal de produção. O sistema radicular tipo pivotante e bem desenvol- vido permite níveis de esgotamento da água no solo de até 60 a 70% fora do período de florescimento. No florescimento, o nível de esgotamento não deve ultra- passar 40%. 4.4. Gravioleira Os sistemas de irrigação por sulcos, aspersão sob- copa e localizados podem ser utilizados na irrigação da graviola. Devido ao espaçamento amplo utilizado nessa Figura 19. Abacaxizeiro irrigado por gotejamento com laterais tipo “tape”. Tabela 4. Valores de Kc para citros cultivados em zonas predominantemente secas. FRUTICULTURA IRRIGADA TIPO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Árvores grandes adultas que proporcionam uma percentagem de solo sombreado superior a 70% 0,5 0,5 0,55 0,55 0,55 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,55 0,55 Árvores que proporcionam uma percentagem de solo sombreado de mais ou menos 50% 0,45 0,45 0,5 0,5 0,5 0,55 0,55 0,55 0,55 0,55 0,5 0,5 Árvores que proporcionam uma percentagem de solo sombreado inferior a 20% 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,4 0,4
  • 11. 117 cultura recomenda-se a preferência por sistemas de gotejamento e microapsersão. Pinto e Silva (1994) estimam a necessidade de água da cultura em 1000 a 1200 mm anuais. O pico de produ- ção no DF ocorre no início do segundo semestre, coin- cidindo com o período de maior demanda evaporativa, nesse período, a planta deve ser adequadamente irrigada para obtenção de produtividades mais elevadas. A falta de informações mínimas para o manejo da água nessa cultura obriga, no estágio atual, a utilização de informações gerais para adoção da estratégia de manejo. 4.5. Goiabeira A goiabeira quando irrigada e conduzida com siste- ma de poda adequado produz até duas safras por ano. Os sistemas de irrigação preferenciais para uso na goiabeira são gotejamento, microaspersão e sulcos. Não existem informações específicas de coeficien- tes de cultura para a goiabeira. Gonzaga Neto e Soares (1994) recomendam a utilização dos coeficientes dispo- níveis para uva. A tabela 5 indica os índices sugeridos. Para que se alcancem os objetivos de produção em época diferenciada, os níveis de água no solo devem ser mantidos em pelo menos 50% da água disponível após a poda da planta. Os mesmos autores recomendam a suspensão da irrigação por um período de um a dois meses antes da poda, visando submeter a planta a um estresse hídrico. 4.6. Mangueira Cultivada com espaçamentos amplos, com porte médio a grande e sistema radicular bem desenvolvido, a mangueira pode ser irrigada por microaspersão, gotejamento e aspersão sob-copa. Cunha et al. (1994) recomendam que a irrigação seja interrompida dois a três meses antes da época de florescimento, para que as plantas entrem em repouso vegetativo, evitando a queda de flores e problemas fitossanitários. Nas fases de formação e desenvolvimen- to do fruto que se iniciam em pleno perído seco a irriga- ção deve ser freqüente, para se evitar a queda dos frutos recém formados. Silva et al. (1996) recomendam a seguinte estraté- gia para o manejo da água de irrigação com a utilização de tensiômetros na mangueira: – Plantio: as irrigações visam a favorecer o pegamento das mudas, sem o monitoramento do nível da água do solo; – Desenvolvimento inicial: manter os primeiros 60 cm de solo com uma tensão de água em torno de 0,3 atm; – Desenvolvimento da planta: a irrigação deve ser feita toda vez que a tensão de água na profundidade de 0,3 m atingir um valor em torno de 0,5 atm; – Repouso fenológico (após a colheita): a irrigação deve ser realizada de forma que a planta reduza o lança- mento de brotos vegetativos, mas na quantidade e freqüência necessárias para a manutenção da atividade fotossintética; – Período de estresse hídrico: neste período a irri- gação é paralisada de forma gradativa; – Floração e produção: retomam-se as irrigações. 4.7. Maracujazeiro Os sistemas de irrigação preferenciais são o gotejamento e a microaspersão. No caso da aspersão convencional, Ruggiero et al. (1996) recomendam que o uso da irrigação por aspersão deve ser realizado predo- minantemente no período noturno e nunca à tarde, no período de floração. Segundo os mesmos autores, independentemente do método utilizado, é importante que a planta não seja submetida a nenhum tipo de estresse hídrico, pois an- tes mesmo do aparecimento dos sintomas visuais de falta de água já ocorreu o comprometimento da produ- ção de matéria seca. Recomenda-se a manutenção do perfil de umidade do solo próxima à capacidade de campo. O uso da irrigação nessa cultura permite a obten- ção de boas produtividades nas épocas de maior preço. Para o manejo da água devem-se utilizar parâmetros de solo, uma vez que não existe disponibilidade de infor- mações quanto ao consumo de água nas diversas fases da cultura. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL. Inventário de dados de recursos hídricos e irrigação para América Latina e Caribe.Brasília: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Secretaria de Re- cursos Hídricos. Departamento de Aproveitamen- to Hidroagrícola,1998. 10 f. 2. BRASIL. Normais climatológicas (1961-1990). Brasília: Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Secretaria Nacional de Irrigação/DNMET, 1992. 84 p. Tabela 5. Coeficientes de cultura (Kc) para goiabeira. FRUTICULTURA IRRIGADA Discrimi- Percentagem de solo sombreado nação 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Kc .45 .45 .5 .6 .65 .7 .75 .75 .75 .75