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ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1 - jan/abr 2008 ISSN 1980-4814
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos
custos ambientais em indústria de Santa Catarina
__________________________________________________________
Alessandra Vasconcelos Gallon
Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau
Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC
alegallon@sodisa.com.br
Franciane Luiza Salamoni
Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau
Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC
fransalamoni@gegnet.com.br
Ilse Maria Beuren
Doutora em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP
Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC
ilse@furb.br
A crescente preocupação com a preservação ambiental requer a eliminação e/ou redução dos efeitos
negativos do processo de produção industrial. Nesta perspectiva, o artigo objetiva descrever o processo de
fabricação de papel reciclado e identificar ações executadas pela empresa associadas aos custos
ambientais. Para tanto, fez-se uma pesquisa exploratória, por meio de um estudo de caso em indústria
catarinense, com abordagem qualitativa dos dados. Como resultado da pesquisa tem-se que o processo de
fabricação inicia com a adição das matérias-primas, passa pela desagregação e refinação da massa, segue
para a suspensão fibrosa e finaliza com a secagem e rebobinamento do papel para avaliação de sua
qualidade. O tratamento dado aos resíduos pela indústria de reciclagem contribui para a preservação
ambiental, uma vez que quase sua totalidade retorna ao processo fabril de papel sob forma de matéria-
prima. Conclui-se que a sua ação pró-ativa à gestão de custos ambientais é promitente em termos de
prevenção de danos ambientais e conseqüentemente em redução de custos.
Palavras-chave: Tratamento dos resíduos. Papel reciclado. Custos ambientais.
The manufacturing process of recycled paper and actions associated with
environmental costs to industry in the state of Santa Catarina
The growing concern with environmental preservation requires the reduction and/or elimination of
negative effects resulting from industrial production processes. In light of this, the article sets out to
describe the process involved in the fabrication of recycled paper and to identify actions taken by
business associated with environmental costs. To do so, an exploratory study was made, by means of a
case study of a Santa Catarina industry, using a qualitative approach with the data. One result of the
research was to ascertain that the fabrication process begins with the addition of raw materials, passes
through breakdown and refining of pulp, followed by fibrous suspension, and ends with the drying and re-
rolling of the paper in order to evaluate its quality. The treatment given to waste materials by the
recycling industry contributes to environmental preservation since almost all of it goes back into the
industrial process of making paper, in the form of raw material. The study concluded that this figures
prominently as a pro-active function to environmental cost management in terms of prevention of
environmental damage and, consequently, contributes to a reduction in costs.
Key words: Treatment of waste materials. Recycled paper. Environmental Costs.
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria
de Santa Catarina.
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1 Introdução
Embora importantes movimentos de regulamentação de políticas ambientais já tenham ocorrido
na década de 1930, somente por volta do final da década de 1960 aumentou a preocupação com
o meio ambiente. É importante observar que o ambientalismo não possui uma data de nascimento
determinada, mas tentar encontrar suas raízes consiste principalmente na necessidade de se ter
explicações para sua crescente importância (Duarte, 1997).
Deflagrados os limites do sistema ecológico, a sociedade, governos e empresários
começaram a demonstrar sua preocupação com os limites do meio ambiente, com a
capacidade de continuar reagindo aos crescentes níveis de impurezas que lhe são acrescidos
diariamente (Ribeiro, 1992).
Nesta perspectiva e diante da crescente disseminação das informações propiciadas pelas
novas tecnologias de comunicação, as indústrias estão sendo forçadas a tomar posições
diferenciadas com relação às estratégias de mercado nas últimas décadas. Algumas
preocupações com os aspectos sociais nas indústrias podem ser salientadas, especialmente
com relação às questões ambientais.
Gobbi e Brito (2005) destacam que os debates em torno da questão ambiental ganharam
expressa legitimidade social a ponto de se tornar objeto de reflexão das organizações, que
passaram a repensar suas práticas de produção e a formular políticas de gestão ambiental.
A parceria construída entre indústria e fornecedores desenvolve-se em função das exigências
de novas tecnologias que atendam ao aumento na escala de produção, ao comprometimento
com a preservação ao meio ambiente, à economia de energia e insumos e à redução dos
custos, de acordo com a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel – ABTCP (2004).
Entretanto, ao que tudo indica a eliminação dos resíduos provenientes do papel e celulose
pode não estar tendo o destino adequado para a preservação do meio ambiente. Diante disso
surgem algumas indagações incentivadoras da pesquisa: Como se dá o processo de
fabricação de papel reciclado? O tratamento dado aos resíduos nas indústrias de papel
reciclado focaliza a preservação do meio ambiente? Quais ações associadas aos custos
ambientais são executadas nas empresas?
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria
de Santa Catarina.
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Visando responder a essas questões, o artigo descreve o processo de fabricação de papel reciclado
e identifica as ações associadas aos custos ambientais executadas por uma determinada empresa.
A relevância da pesquisa evidencia-se na medida em que se verifica uma crescente preocupação
com a preservação ambiental no mundo, principalmente no que se refere ao descontrole dos
desmatamentos e à poluição do meio ambiente. Também se observa esforços de organizações para
minimizar os efeitos da devastação de recursos, sejam eles recuperáveis ou não.
O trabalho inicia após essa introdução, com uma breve abordagem sobre o surgimento e
importância do papel, seguida de um apanhado teórico sobre reciclagem e meio ambiente, e
gestão de custos ambientais. Na seqüência é evidenciado o método e os procedimentos adotados
na pesquisa. Em seguida faz-se a descrição e análise dos dados coletados na empresa objeto de
estudo. Por último são apresentadas as conclusões da pesquisa, seguidas das referências.
2 Produção e consumo de papel
A invenção da escrita é considerada o fator motivador e modificador das lentas, mas constantes,
evoluções e alterações pelas quais passaram diversas bases (pedra, cerâmica, madeira, ossos,
fios de tecidos, couro curtido e os metais e suas ligas, como o bronze), até se chegar ao papel. Foi
o papiro que deu origem à palavra papel, do latim papyrus (ABTCP, 2004).
De acordo com dados da ABTCP (2004), em 2002, a extração brasileira de celulose foi de 8
milhões de toneladas, o que significou um crescimento de 7,9% em relação ao índice observado
em 2001. Por sua vez o consumo de papel cresceu 1,2% se comparado com o exercício anterior,
chegando a um total de 6,8 milhões de toneladas, o equivalente a 38 quilos anuais per capita.
Conforme a ABTCP (2004), seja qual for o tipo de papel fabricado, a matéria-prima básica é a
celulose, virgem ou de papel reciclado, que pode ser dividida em dois grupos: a de fibra longa
(obtida de espécies como o pínus e a araucária), indicada para papéis de embalagem; e a de
fibra curta (derivada de eucalipto, acácia, gmelina, bétula, entre outros), utilizada
principalmente na fabricação de papéis para imprimir e escrever e para fins sanitários.
A Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA, 1998) ressalta que entre os papéis
consumidos, o maior destaque é para as caixas de papelão ondulado, pois funcionam como
embalagem de transporte para a quase totalidade das mercadorias comercializadas em
supermercados, lojas de departamento (magazines) e estabelecimentos fabris. Também são
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria
de Santa Catarina.
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gerados resíduos de caixas de papelão ondulado nas residências, especialmente as que
servem de embalagem de acondicionamento de eletrodomésticos. Em 1997, segundo dados
daquela associação, 61,6% dos papéis recuperados no Brasil são de “papel ondulado”.
De acordo com o World Business Council for Sustainable Development – WBCSD (1996),
a produção de papel consome enorme quantidade de energia e água. Destaca-se que em
1992 a indústria papeleira americana foi a terceira maior consumidora de energia, ficando
atrás apenas da indústria do petróleo e do setor químico. A água é um ingrediente
essencial na fabricação de papel como parte integrante da massa (polpa) e utilização na
remoção de impurezas da celulose mediante lavagens repetidas, sendo que a emissão de
efluentes na água é um dos impactos ambientais mais significantes causados pela
fabricação de papel e celulose (WBCSD, 1996).
Entretanto, destaca-se que novas tecnologias tornaram possível o maior fechamento do ciclo
de água, o que reduziu a geração de efluentes. A indústria de papel e celulose tem investido
sobremaneira em tecnologia de reutilização (ABTCP, 2004). De acordo com a Divisão de
Tecnologia Industrial do Departamento de Assistência à Média e Pequena Indústria (DETEC),
a indústria de papel e celulose caracteriza-se como moderada geradora de resíduos sólidos de
baixo poder impactante e elevada potencialidade de utilização.
No entanto, Nossa e Carvalho (2003) citam dois estudos que consideram esse setor altamente
poluidor. Destacam que Cormier e Magnan (1997) apontam o setor de papel e celulose como
um dos setores que mais polui. Reforçam esse posicionamento com Forgach (2001), que
apresenta razões para que a indústria de papel e celulose seja assim considerada: a) é
dependente de 100% de fibras florestais naturais e recicladas; b) exige uso intensivo de
energia; c) emite no ar, água e terra ampla gama de poluentes tóxicos e convencionais; d) é
grande produtora de resíduo sólido.
Em relação ao primeiro item apontado por Forgach (2001 in Nossa e Carvalho, 2003), a
indústria de papel reciclado tem menor impacto na extração de fibras florestais naturais
porque utiliza material reciclado. Os demais itens citados também são inerentes ao seu
processo produtivo. Portanto são contingências que precisam ser monitoradas por essas
indústrias em relação ao meio ambiente.
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria
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3 Reciclagem e meio ambiente
A conscientização sobre os problemas que afetam o meio ambiente age como fator
preponderante para compatibilizar a expansão dos meios de produção de acordo com
condições ambientais ideais. A responsabilidade social da empresa deveria voltar-se para a
eliminação e/ou redução dos efeitos negativos do processo de produção e preservação dos
recursos naturais, principalmente os não renováveis, através da adoção de tecnologias
eficientes, concomitantemente ao atendimento dos aspectos econômicos (Ribeiro, 1992).
O aumento da conscientização ambiental tem levado a uma maior demanda por papéis
reciclados e a pressionar para que o papel seja reciclado após sua utilização pelo público
(resíduo após o consumo), ao invés de simplesmente jogá-lo nos aterros (WBCSD, 1996).
Rossato e Ribeiro (2004, p. 62) destacam que “têm aumentado, consideravelmente, nos
últimos anos, as discussões sobre qual a melhor forma para que as empresas conciliem seus
processos produtivos com questões ambientais”.
Segundo Andrade et al. (2002), os gastos com proteção ambiental começam a ser vistos pelas
empresas líderes, não primordialmente como custos, mas como investimentos no futuro e,
paradoxalmente, como vantagem competitiva. Para Hunt e Auster (1990) e Hart (1995),
melhores performances ambientais e econômicas podem coexistir por meio da incorporação
de um novo modelo de organização e de uma cultura empresarial baseada na ecoeficiência, o
que conduzirá a um desenvolvimento sustentável.
Ribeiro (1992) comenta que a incorporação do conceito de “desenvolvimento sustentável” pelo
meio empresarial pode, se não reverter, ao menos amenizar a degradação do meio ambiente.
Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, a redução de agressões ambientais passa a
ser considerada como meio de eliminação de custos e conseqüente melhoria do fluxo de
rendimentos para a empresa.
Nesse sentido, mesmo não se tratando de uma novidade no processo de fabricação do papel,
pois há séculos os materiais utilizados (aparas) têm sido reaproveitados na fabricação de
novos produtos, a reciclagem é um importante aspecto da filosofia preservacionista, que
resulta em benefícios tanto para as empresas como para a coletividade (ABTCP, 2004).
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria
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A reciclagem de papel no Brasil tem seu fundamento em questões de natureza
essencialmente econômicas. Todavia esta vem apresentando um destaque crescente, na
medida em que contribui para a preservação e conservação do meio ambiente e para a
solução da questão da destinação dos lixos urbanos (BRACELPA, 1998).
Quanto à importância da utilização da reciclagem na indústria de papel e celulose como forma de
minimizar os impactos ao meio ambiente, Bellia (1996) relata que a reciclagem de papel leva a uma
redução de energia para a produção de papel e celulose da ordem de 23% a 74%, redução na poluição
do ar de 74%, redução na poluição da água em torno de 35% e redução de 58% no uso de água.
Robles Jr. (2003, p. 139) destaca que “a solução dos problemas ambientais é conseqüência
da existência de um sistema de gestão ambiental bem administrado, para identificação clara
dos problemas e suas causas”. Nesta perspectiva, torna-se imprescindível que a empresa
desfrute de adequada gestão de custos ambientais.
4 Gestão de custos ambientais
Campos (1996) salienta que o termo custo ambiental é de difícil conceituação, não apresentando
definição clara e objetiva, e que a maior dificuldade ao se trabalhar com custos ambientais é o fato de
estes serem, em sua maioria, custos intangíveis. Robles Jr. (2003, p. 141) define custos intangíveis como
“aqueles com alto grau de dificuldade para serem quantificados, embora se perceba claramente a sua
existência. Normalmente não podem ser diretamente associados ao produto ou processo”.
No que diz respeito aos gastos ambientais, Ribeiro e Rocha (1999, p. 2) relatam que “são
todos aqueles relacionados, direta ou indiretamente, ao processo de gerenciamento ambiental,
processo este que compreende todas as atividades inerentes ao controle, preservação e
proteção ao meio ecológico, além de recuperação de áreas contaminadas”.
Ferreira et al. (2007, p. 28) advertem que “uma empresa que polui dentro dos limites legais estabelecidos
não deixa de ter um passivo em relação ao meio ambiente, pois haverá a necessidade de restaurar ou
remediar o meio ambiente, ou seja, poderá haver uma obrigação pecuniária”. Esta obrigação, seja ela de
reputação social ou exigência legal, implica em um custo ambiental para a empresa.
Nos custos ambientais devem ser computadas todas as medidas tomadas pelos gestores da
entidade com a finalidade de evitar, reduzir ou reparar efeitos ambientais negativos. Devem
considerar-se essas medidas, sejam elas necessárias ao cumprimento de determinação legal;
O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria
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ou decorrentes de medidas voluntárias da entidade, para responder às exigências de clientes,
ou melhorar a imagem da entidade (Eurostat in Silva, 2007).
Segundo Hansen e Mowen (2001, p. 567), sob o ponto de vista empresarial, os custos ambientais,
também conhecidos como custos de qualidade ambiental, “são custos incorridos porque existe
uma má qualidade ambiental ou porque pode existir uma má qualidade ambiental”.
Em função das mudanças na relação entre empresas e o meio ambiente, observa-se a
importância da identificação dos custos ambientais pelas empresas para a consecução de
informações consistentes relativas ao quanto se vem perdendo ou deixando de ganhar com
processos e atividades que degradam o meio ambiente.
De acordo com a Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP (2004),
a melhoria na relação da empresa com o meio ambiente é capaz de otimizar a produtividade
dos recursos utilizados, implicando em benefícios diretos para a empresa, o processo
industrial e o produto, como mostra o Quadro 1.
Benefícios para a empresa Benefícios para o processo
produtivo
Benefícios para o produto
• melhoria da imagem da
empresa;
• manutenção dos atuais e
conquista de novos nichos de
mercado;
• redução do risco de desastres
ambientais;
• adição do valor com a
eliminação ou minimização
dos resíduos;
• menor incidência de custos
com multas e processos
judiciais; e
• maior diálogo com os órgãos
de controle e fiscalização.
• economias de matéria-prima e
insumos, resultantes do
processamento mais eficiente e
da sua substituição, reutilização
e reciclagem;
• aumento dos rendimentos do
processo produtivo;
• redução das paralisações, por
meio de maior cuidado na
monitoração e manutenção;
• melhor utilização dos
subprodutos;
• conversão dos desperdícios em
forma de valor;
• menor consumo de água e
energia durante o processo;
• economia, em razão de um
ambiente de trabalho mais
seguro; e
• eliminação ou redução do custo
de atividades envolvidas nas
descargas ou no manuseio,
transporte e descarte de
resíduos.
• mais qualidade e
uniformidade;
• redução dos custos (por
exemplo, com a substituição
de materiais);
• redução nos custos de
embalagens;
• utilização mais eficiente dos
recursos;
• aumento da segurança;
• redução do custo líquido do
descarte pelo cliente; e
• maior valor de revenda e de
sucata do produto.
Quadro 1 – Benefícios causados pela melhoria na relação entre a empresa e o meio ambiente
Fonte: Cartilha de indicadores de desempenho ambiental na indústria – FIESP (2004, p. 13).
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Depreende-se que a melhoria na relação entre a empresa e o meio ambiente traz diversos
benefícios para ambos com a gestão do desperdício, o controle da poluição, gestão da água e
da energia, obediência às leis, entre outros.
As informações dos custos ambientais relacionados aos processos servem como indicativo no
sentido de propor melhorias para diminuir ou até mesmo eliminar tais custos, gerando
vantagem para a empresa. Quanto ao meio ambiente, com a identificação dos custos
ambientais, poder-se-ia propor melhorias nos processos que resultem na diminuição do dano
causado ao meio ambiente, beneficiando o meio ambiente (Campos, 1996).
Para Moura (2000, p. 49-50 in Robles Jr, 2003, p. 139), “os custos da qualidade ambiental
podem ser considerados de dois tipos: custos de controle e custos resultantes da falta de
controle sobre os processos industriais e gerenciais”. A Figura 1 demonstra a identificação dos
custos ambientais de acordo com a classificação do autor.
Figura 1- Identificação dos custos ambientais
Fonte: Robles Júnior (2003, p. 140).
Os custos ambientais, dessa forma, estão associados com a criação, detecção, correção e
prevenção da degradação ambiental. Os custos de controle podem ser classificados em
custos de prevenção e custos de avaliação ou de detecção; e os custos da falta de controle,
classificados em custos de falhas internas e de falhas externas.
Graedel e Allenby (1996, p. 318) conceituam os custos de prevenção ambiental como “o uso
de materiais, processos, ou práticas que reduzam ou eliminem a quantidade ou toxidade de
resíduos na fonte de geração através de atividades que promovam, encorajam ou exijam
Custos de controle
Custos da falta
de controle
Custos de prevenção
Custos de avaliação
Custos de falhas internas
Custos de falhas externas
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modificações nos padrões comportamentais básicos da empresa”. Esses autores consideram
a prevenção como algo muito mais viável para a indústria do que o controle e a correção.
Com relação à viabilidade da ênfase nos custos ambientais de prevenção em detrimento dos
custos ambientais da falta de controle, Hansen e Mowen (2001, p. 564-565) defendem que
“uma abordagem pró-ativa é mais promissora em termos de prevenção de danos ambientais
e, simultaneamente, em redução de custos”. Complementam mencionando que “reguladores e
empresas estão começando a perceber que pode ser menos oneroso prevenir a poluição do
que remediá-la”.
São exemplos de atividades de prevenção ambiental, segundo Hansen e Mowen (2001):
avaliação e seleção de fornecedores, avaliação e seleção de equipamentos de controle da
poluição, projeção de processos e produtos para reduzir ou eliminar os contaminadores,
treinamento de empregados, estudo dos impactos ambientais, auditoria dos riscos ambientais,
execução de pesquisas ambientais, desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental,
reciclagem de produtos e obtenção do certificado ISO 14001.
No que tange aos custos de avaliação ou detecção ambiental, Robles Jr. (2003, p. 140) afirma
que “são custos despendidos para manter os níveis de qualidade ambiental da empresa, por
meio de trabalhos de laboratórios e avaliações formais do sistema de gestão ambiental ou
sistema gerencial, que se ocupem de garantir um bom desempenho ambiental da empresa”.
Estes custos são incorridos ao verificar se os processos e produtos da empresa estão
cumprindo as normas ambientais apropriadas.
Hansen e Mowen (2001) exemplificam as seguintes atividades como de avaliação e detecção
ambiental: auditorias ambientais, inspeção de produtos e processos (para averiguar a
conformidade ambiental), o desenvolvimento de medidas de desempenho ambiental, a
execução de testes de contaminação, a verificação do desempenho ambiental de
fornecedores e a medição de níveis de contaminação.
Com relação aos custos da falta de controle, estes podem ser de falhas ambientais internas
(custos incorridos pelo não-atendimento de normas, padrões, procedimentos operacionais
explícitos de gestão ambiental e correções de não-conformidades) e de falhas ambientais
externas (custos da qualidade ambiental insatisfatória e não-conformidades fora dos limites da
empresa, resultantes de uma gestão ambiental inadequada) (Robles Jr., 2003).
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São exemplos de atividades de falhas internas, segundo Hansen e Mowen (2001): operação
de equipamento para minimizar ou eliminar poluição, tratamento e descarte de materiais
tóxicos, manutenção de equipamento para poluição, licenciamento de instalações para a
produção de contaminantes, retrabalhos em processos causados por não-conformidade
ambiental e reciclagem de sucata.
De acordo com Hansen e Mowen (2001), os custos de falhas ambientais externas podem ser
classificados em: custos realizados de falhas externas (custos incorridos e pagos pela
empresa) e custos não-realizados de falhas externas (custos sociais causados pela empresa,
mas incorridos e pagos por parte fora da empresa).
São exemplos de atividades realizadas de falhas externas, segundo Hansen e Mowen (2001):
limpeza de um rio ou lago poluído, limpeza de solo contaminado, uso ineficiente de materiais e
energia, indenização por acidentes pessoais provenientes de más práticas ambientais,
restauração da terra ao estado natural e perda de vendas causada por uma má reputação
ambiental.
Os exemplos de custos sociais, segundo os autores, incluem: receber cuidados médicos por
causa do ar poluído, perder empregos por causa de contaminação, perder um rio ou lago de
uso recreativo por causa da contaminação e danificar ecossistemas devido ao descarte de
resíduos sólidos.
Diante do exposto, observa-se que a utilização pelas empresas de medidas eficazes para a
qualidade ambiental, identificando e buscando reduzir ou eliminar os custos ambientais (de
controle, correção e falhas existentes) e priorizando os custos de prevenção ambiental,
minimiza a ocorrência das falhas relacionadas ao processo produtivo e ao meio ambiente.
5 Método e procedimentos da pesquisa
O método empregado na presente pesquisa é de natureza exploratória, a qual foi realizada por
meio de um estudo de caso, com abordagem qualitativa dos dados. Para Cervo e Bervian
(1996), a pesquisa exploratória é responsável por observar, registrar, analisar e correlacionar
os fatos ou fenômenos sem manipulá-los.
O estudo de caso foi realizado em uma indústria de papel e celulose estabelecida no Estado
de Santa Catarina, cuja denominação social declina-se revelar por motivos de sigilo das
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estratégias da organização. O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as
características holísticas e significativas dos eventos da vida real (Yin, 2003).
Quanto aos procedimentos de coleta de dados, realizada em abril de 2006, optou-se por
adotar, inicialmente, entrevista semi-estruturada com o gerente de produção da empresa e
duas pessoas encarregadas dos aspectos relacionados ao meio ambiente na empresa.
Segundo Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada é a que parte de certos
questionamentos básicos, apoiados no referencial teórico e hipóteses, que provocam novos
questionamentos no transcorrer da entrevista e influenciam a elaboração do conteúdo da
pesquisa.
Para melhor compreensão do processo de produção da indústria utilizou-se também a técnica
de observação. Sobre o método observacional, Fachin (2001) adverte que o observador deve
reunir certas condições, entre as quais: dispor dos órgãos sensoriais em perfeito estado, de
um bom preparo intelectual, aliado à sagacidade, curiosidade, persistência, perseverança,
paciência e um grau elevado de humildade.
Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos fenômenos, o
estudo desenvolveu-se num ambiente que preconizou a abordagem qualitativa. O método
qualitativo, conforme Richardson (1999), se caracteriza pelo não emprego de
instrumental estatístico como base no processo de análise de um problema. Para os
dados coletados nas entrevistas foi adotada a análise de conteúdo ou content analysis
(Bardin, 2006).
Embora tenha sido adotado o rigor científico necessário em pesquisa dessa natureza,
ressalta-se o fato do estudo se circunscrever a um único objeto ou fenômeno. Esta estratégia
de pesquisa se constitui em uma limitação, uma vez que seus resultados não podem ser
generalizáveis a outros objetos ou fenômenos, dado as particularidades do sujeito da
pesquisa.
6 Descrição do processo de fabricação do papel reciclado e ações associadas aos
custos ambientais da empresa pesquisada
Para a compreensão da fabricação do papel reciclado realizou-se um estudo das
operações em indústria de papel e celulose. Intenta-se mostrar os passos da fabricação
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do papel reciclado, desde a desagregação do papel velho e transformação da massa até
a transformação da folha de papel, com a passagem nos secadores da máquina de
papel. Focaliza-se, também, o tratamento dado pela empresa aos resíduos. Por fim,
apresentam-se as ações associadas aos custos ambientais executadas pela empresa.
6.1 Apresentação da empresa
A indústria de papel e celulose objeto de estudo teve sua constituição na década de
1960, motivada pela preocupação com os elevados volumes de resíduos da atividade
madeireira. Em 1977 iniciou os planos para a produção de papelão ondulado para
embalagens e em 1978 deu início ao processo de fabricação do papelão ondulado
reciclado na empresa.
Depreende-se o que já foi destacado na fundamentação teórica do estudo, de que a
preocupação com a reciclagem de papel tem seu fundamento em questões de natureza
essencialmente econômicas nas empresas, embora haja destaque crescente,
atualmente, para a contribuição da preservação e conservação do meio ambiente
(BRACELPA, 1998).
A empresa em foco tem como objeto social a transformação de resíduos da indústria da
madeira e papel reciclado em papel ondulado (para embalagem de transporte). Sua produção
abastece o grupo empresarial ao qual pertence e o restante da produção é consumido no
mercado interno. Possui 160 empregados, apenas na fabricação do papel reciclado, pois o
grupo empresarial, em todas as suas outras atividades relacionadas à indústria madeireira,
gera em torno de 1.700 empregos e fatura anualmente um milhão de reais.
Para a compreensão do processo de fabricação do papel reciclado são apresentados três
fluxos de operações. No primeiro fluxo são demonstradas as operações de fabricação desde a
desagregação do papel velho até a transformação da massa. No segundo fluxo demonstra-se
a transformação dos resíduos da indústria da madeira e papel reciclado em massa e
hidratação das fibras. No terceiro fluxo mostra-se a transformação do papel ondulado
reciclado.
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6.2 Descrição do processo de fabricação do papel reciclado
Na Figura 2 apresenta-se a etapa inicial do processo da fabricação do papel reciclado, desde
a entrada da matéria-prima até a desagregação da mesma e transformação da massa.
Figura 2 – Fabricação do papel reciclado desde a desagregação do papel velho até a transformação da massa
Fonte: dados da pesquisa.
O processo de fabricação do papel reciclado inicia-se com a colocação da matéria-prima em
uma esteira, que a transporta até o equipamento denominado Hidrapulper onde é acrescido
água e efetua-se a desagregação da matéria-prima. As matérias-primas utilizadas na
fabricação do papel são basicamente aparas (papel reciclado), celulose e pasta químico-
mecânica.
Depois da desagregação da matéria-prima, esta é recebida na forma de fardos que se
transformam em pequenos pedaços de papel formando uma massa. Ressalta-se que no
Hidrapulper a matéria-prima sofre também um processo de pré-depuração, com a finalidade
de remover impurezas, como grampos, clipes, pedras, arames e plásticos.
Após a desagregação, a massa segue por meio de bombas por tubulações para um tanque de
descarga e, em seguida, passa para o processo de depuração, que consiste em remover
impurezas da massa, tais como: areia, plásticos, palitos, isopor e pastilhas de papel, que não
se individualizam na desagregação.
Na seqüência, a massa segue para o processo de transformação da massa e hidratação das
fibras, conforme demonstrado na Figura 3.
Matéria-
prima
Hidrapulper
Esteira
Água
Tanque de
descarga/depuração Engrossadores
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Figura 3 - Transformação da massa e hidratação das fibras
Fonte: dados da pesquisa.
Nesta fase, a depuração da massa segue para os engrossadores onde é extraída a água, e a
consistência da suspensão fibrosa fica em torno de 5% para posterior estocagem nas torres
de massa. A massa é extraída das torres de massa e sofre adição de água para baixar a
consistência, seguindo para os tanques, onde é extraída por meio de bombas para os
equipamentos de refinação. Nos refinadores, a fibra sofre atrito de discos rotativos com
lâminas de aço onde é hidratada. Na Figura 4 apresenta-se a etapa final do processo de
fabricação do papel ondulado reciclado.
Figura 4 - Transformação do papel ondulado reciclado
Fonte: dados da pesquisa.
Na última fase do processo de fabricação do papel ondulado reciclado, após a refinação, a
suspensão fibrosa segue para os tanques de estocagem da máquina de papel. A máquina de
papel é composta das seguintes partes:
Água
Engrossadores
Tanques
Refinadores
Torre de
massas
Refinadores
Tanques de
massas de
papel
Máquina
do
Papel
Caixa de
Entrada
Mesa
Plana Prensas Secadores
Enroladeira
Rebobinamento
Expedição
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Caixa de entrada - equipamento que recebe a massa depurada e distribui uniformemente
sobre a mesa plana; e
Mesa plana - equipamento composto de uma tela e caixas de vácuo que tem a finalidade de
formar a folha de papel e remover parte da água utilizada na diluição da massa; depois de
formada a folha de papel passa para a prensagem.
As prensas são equipamentos compostos por dois rolos, entre os quais há um ou dois feltros,
por onde passa a folha de papel sob pressão. A finalidade desses equipamentos é a
compactação da folha e também a remoção de parte da água contida na folha de papel. Após
prensada, a folha de papel passa para os secadores da máquina de papel.
A fase de secagem é composta por um conjunto de rolos que são aquecidos com a injeção de
vapor, sobre os quais passa a folha de papel. A finalidade desses rolos é remover a
quantidade de água, ainda presente na folha de papel, deixando-a conforme as especificações
ideais de umidade. Após a secagem total da folha de papel esta é enrolada na enroladeira.
A enroladeira é um equipamento composto de um rolo e braços pneumáticos, aos quais é
preso um rolo de diâmetro pequeno chamado estanga. Na estanga é enrolada a folha de papel
que está sendo produzida. Após enrolado, o papel está pronto em uma forma bruta.
O rebobinamento é um equipamento composto de rolos e facas e que tem a finalidade de
receber o rolo de papel bruto e cortá-lo em larguras diversas, conforme a necessidade ou
especificação do pedido. De cada lado do rolo bruto corta-se uma tira de papel, chamada
refile, dando o acabamento final ao produto.
Por último, após rebobinado, o papel é pesado e identificado e fica disponível para ser
expedido se estiver dentro das especificações necessárias de qualidade. As especificações
abrangem os seguintes requisitos: gramatura, rigidez, umidade e cobb (quantidade de água
que o papel após acabado pode absorver).
Dois aspectos destacados na literatura e páginas eletrônicas pesquisadas sobre questões
ambientais são observados nesta descrição: elevado consumo de energia e água ao longo do
processo e a presença intensa de tecnologia para o processamento da matéria-prima. De
acordo com o WBCSD (1996), a produção de papel consome enorme quantidade de energia e
água. A ABTCP (2004) ressalta que a indústria de papel e celulose tem investido em
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tecnologia de reutilização das águas, o que contribui para o gerenciamento do ciclo de água e
reduzir a geração de efluentes.
6.3 Tratamento dado pela indústria aos resíduos e à preservação do meio ambiente
A empresa objeto de estudo busca trabalhar dentro de padrões que permitam o
desenvolvimento da atividade e minimizem a agressão ao meio ambiente. Procura preservar a
atmosfera, hidrosfera e a litosfera, com utilização de tecnologia adequada. De acordo com o
entrevistado, também procura estar de acordo com a legislação, atendendo às exigências
referentes à qualidade da água, solo e gás.
No processo de fabricação do papel reciclado a empresa utiliza 60% da água do Rio do Peixe,
aproveitando uma fonte natural desse recurso. Após passar pelo processo de produção do
papel reciclado, a água é encaminhada para um primeiro filtro, que tem uma peneira. Este
filtro é responsável pela retirada dos resíduos pesados (prego, arames, lâminas, etc). Em
seguida esta água passa por um segundo filtro, que possui uma peneira mais fina que o
primeiro, ficando neste os resíduos mais leves.
Passando pelos filtros, a água é encaminhada para um tanque e recebe tratamento adequado
para que volte a tornar-se água potável. Posteriormente, 10% desta água volta para o Rio do
Peixe e o restante retorna para o processo de fabricação do papel. Isto é, quase a totalidade
da água retorna ao processo fabril de papel. Na fundamentação teórica averiguou-se que a
emissão de efluentes na água é um dos impactos ambientais mais significantes causados pela
fabricação de papel e celulose, o que justifica o seu intenso cuidado na empresa.
Para assegurar a qualidade da água são monitorados os elementos que lhe conferem
características de qualidade, como a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), o oxigênio
dissolvido (OD), indicador ácido base (pH), temperatura, fenóis, óleos e graxas. A análise é
realizada mensalmente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/SC). Há
ainda um intenso controle realizado pela polícia ambiental do município por meio de análise
mensal da água que passa pelo Rio do Peixe e do lago do município em que é estocada a
água que será tratada.
Os resíduos que foram retirados pelas peneiras e filtros passam por uma esteira, sendo
encaminhados para segregar o material em aterros apropriados próprios, os quais possuem
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licenças ambientais aprovadas pela Fundação do Meio Ambiente (FATMA) e Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Quanto ao gás, a empresa não agride o meio ambiente porque não tem forno de cal, caldeiras
de recuperação e nem digestores industriais. Não emite os gases malcheirosos como: sulfeto
de hidrogênio (H2S), metilsulfeto (MESH), dimetilsulfeto (Me2S) e dimetilsulfeto (ME2S2). Tal
deve-se ao fato da empresa trabalhar com matéria-prima reciclada, isto é, esse processo não
resulta em liberação de gases dessa natureza.
Infere-se do exposto que, embora o setor de papel e celulose seja um setor altamente
poluidor, conforme destacam Cormier e Magnan (1997 in Nossa e Carvalho, 2003), a empresa
busca desenvolver suas atividades em conformidade com as exigências legais e à
preservação sustentável. Apresenta menor impacto na extração de fibras florestais naturais
porque utiliza material reciclado, que é um dos itens poluidores desta indústria apontados por
Forgach (2001 in Nossa e Carvalho, 2003). Porém, dois itens poluidores apontados por esse
autor, ainda que monitorados pela empresa, estão presentes nas suas atividades: a) exige uso
intensivo de energia; e b) é grande produtora de resíduo sólido.
Na seqüência, apresentam-se as ações executadas pela empresa objeto de estudo
associadas às classificações dos custos ambientais (prevenção; avaliação ou detecção; falhas
internas e falhas externas).
6.4 Ações associadas aos custos ambientais executadas pela empresa
Com o objetivo de identificar as ações associadas aos custos ambientais executadas pela
empresa, se demonstra a partir da pesquisa teórica e empírica, as atividades relacionadas que
são executadas e que não são executadas pela empresa objeto de estudo. As ações
compreendem quatro categorias de custos: custos de prevenção ambiental, custos de
detecção ou avaliação ambiental, custos de falhas ambientais internas e custos de falhas
ambientais externas.
Para cada categoria de custos ambientais, com base na fundamentação teórica e na
observação da realidade da empresa, foram listadas possíveis ações. A Tabela 1 apresenta as
atividades executadas e não executadas na empresa no que se refere aos custos de
prevenção ambiental.
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Tabela 1 – Atividades de prevenção ambiental executadas e não executadas na empresa
Custos de Prevenção Ambiental
Atividades de Prevenção Executada Não Executada
1. Avaliar e selecionar fornecedores X
2. Avaliar e selecionar equipamentos de controle da poluição X
3. Projetar processos para reduzir/eliminar os contaminadores X
4. Treinar empregados X
5. Executar estudos ambientais X
6. Auditar riscos ambientais X
7. Executar pesquisas ambientais X
8. Desenvolver sistemas de gestão ambiental X
9. Reciclar produtos X
10. Obter certificado ISO 14001 X
Total 6 4
Percentual 60% 40%
Fonte: dados da pesquisa.
Verifica-se que a empresa realiza 60% das atividades de prevenção listadas, entre elas a
avaliação e seleção dos fornecedores e dos equipamentos de controle da poluição, o
treinamento intensivo dos empregados, a prática de auditorias ambientais e a reciclagem de
produtos. Entretanto, não projeta processos para reduzir/eliminar os contaminadores, não
executa pesquisas ambientais e nem utiliza um sistema de gestão ambiental. Foi ressaltado
pelo entrevistado que a empresa pretende obter o certificado ISO 14001 nos próximos anos.
A Tabela 2 apresenta as atividades executadas e não executadas na empresa no que se
refere aos custos de detecção ou avaliação ambiental.
Tabela 2 – Atividades de detecção ambiental executadas e não executadas na empresa
Custos de Detecção Ambiental
Atividades de Detecção ou Avaliação Executada Não Executada
1. Auditar atividades ambientais X
2. Inspecionar produtos e processos (conformidade ambiental) X
3. Desenvolver medidas de desempenho ambiental X
4. Testar e medir níveis de contaminação X
5. Verificar desempenho ambiental de fornecedores X
Total 3 2
Percentual 60% 40%
Fonte: dados da pesquisa.
Percebe-se que a empresa realiza 60% das atividades de detecção ou avaliação ambiental
listadas. Não realiza 40%, pois não desenvolve medidas de desempenho ambiental e nem
verifica o mesmo em seus fornecedores. A Tabela 3 apresenta as atividades executadas e não
executadas na empresa no que se refere aos custos de falhas ambientais internas.
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Tabela 3 – Atividades de falhas ambientais internas executadas e não executadas na empresa
Custos de Falhas Ambientais Internas
Atividades de Falhas Internas Executada Não Executada
1. Operar equipamentos de controle da poluição X
2. Tratar e descartar materiais tóxicos X
3. Manter equipamento de poluição X
4. Licenciar instalações para produzir contaminantes X
5. Reciclar sucatas X
6. Incorrer em retrabalho em processos por não-conformidade
ambiental X
Total 2 4
Percentual 33,33% 66,67%
Fonte: dados da pesquisa.
De um total de seis atividades possíveis, nota-se que a empresa não realiza 66,67% das
atividades de falhas ambientais internas listadas. Executa apenas o tratamento e o descarte
de materiais tóxicos e a reciclagem de sucatas. A Tabela 4 apresenta as atividades
executadas e não executadas na empresa no que se refere aos custos de falhas ambientais
externas, realizados e não-realizados (sociais).
Tabela 4 – Atividades de falhas ambientais externas executadas e não executadas na empresa
Custos de Falhas Ambientais Externas
Atividades – Custos Realizados Executada Não Executada
1. Limpar um rio ou lago poluído X
2. Limpar o solo contaminado X
3. Indenizar dados pessoais (relacionados ao meio ambiente) X
4. Restaurar a terra ao estado natural X
5. Perder vendas devido à má reputação ambiental X
6. Usar materiais e energia ineficientemente X
Total 1 5
Percentual 16,67% 83,33%
Atividades – Custos Não-Realizados Executada Não Executada
1. Receber cuidados médicos devido a ar poluído X
2. Perder emprego devido à contaminação X
3. Perder um rio ou lago de uso recreativo X
4. Danificar ecossistemas com o descarte de resíduos sólidos X
Total 0 4
Percentual 0% 100%
Fonte: dados da pesquisa.
Entre as 10 atividades de falhas ambientais externas listadas, sejam elas relacionadas aos
custos realizados ou não-realizados, a empresa executa apenas a atividade de restaurar a
terra ao estado natural. Ou seja, 83,33% das atividades listadas relacionadas aos custos
realizados e 100% das atividades relacionadas aos custos não-realizados não são executadas
na empresa.
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Diante do exposto, pode-se observar que a empresa analisada prioriza os custos de detecção
e prevenção ambiental, minimiza a ocorrência das falhas relacionadas ao processo produtivo e
ao meio ambiente. Tal atitude da empresa encontra suporte na teoria. Conforme Graedel e
Allenby (1996) e Hansen e Mowen (2001), a abordagem pró-ativa, baseada na prevenção de
danos ambientais, pode ser menos onerosa que os custos ambientais de falhas internas e
externas.
Ressalta-se que a pesquisa limitou-se à coleta de dados qualitativos para identificação das
ações executadas pela empresa referente às classificações dos custos ambientais, não
adentrando nos valores empregados na execução das atividades de prevenção, detecção e de
falhas internas e externas. A estratégia de pesquisa utilizada deve-se ao fato de muitos
destes custos serem intangíveis, portanto de difícil mensuração.
7 Considerações Finais
O artigo objetivou descrever o processo de fabricação de papel reciclado e identificar ações
associadas aos custos ambientais executadas pela empresa. Para tanto, realizou-se um
estudo exploratório, por meio de um estudo de caso em indústria estabelecida no Estado de
Santa Catarina, com abordagem qualitativa dos dados.
No que concerne ao processo de fabricação de papel reciclado, este foi segmentado em três
fluxos de operações. Primeiro demonstraram-se as operações de fabricação desde a
desagregação do papel velho até a transformação da massa. No segundo fluxo evidenciou-se
a transformação dos resíduos da indústria da madeira e papel reciclado em massa e
hidratação das fibras. No terceiro fluxo mostrou-se a transformação do papel ondulado
reciclado.
Como resultado da pesquisa tem-se que o processo de fabricação de papel reciclado inicia
com a adição das matérias-primas, passa pela desagregação e refinação da massa, segue
para a suspensão fibrosa e finaliza com a secagem e rebobinamento do papel. Com relação
ao tratamento dado pela empresa à matéria-prima reciclada, observou-se que esta utiliza
tecnologia que lhe permite adequada gestão dos recursos ambientais. No entanto, mesmo que
siga padrões que visam o desenvolvimento sustentável, procurando preservar a atmosfera,
hidrosfera e a litosfera, e estar de acordo com a legislação, atendendo as exigências
referentes à qualidade da água, solo e gás, é inerente à atividade o custo ambiental e social.
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Para assegurar a qualidade da água que retorna ao rio, o SENAI/SC monitora os elementos
que lhe conferem essa característica. Os resíduos sólidos são encaminhados para segregar o
material em aterros próprios, com licenças ambientais do IBAMA e FATMA. No que diz
respeito ao gás, a empresa não agride o meio ambiente porque não tem forno de cal, caldeiras
de recuperação e nem digestores industriais, portanto, não emite gases malcheirosos em
decorrência de estar utilizando material reciclável.
Com relação às ações associadas aos custos ambientais, constatou-se que as ações
executadas pela indústria são essencialmente de custos de detecção e prevenção ambiental.
Sua ação pró-ativa à gestão de custos ambientais é promitente em termos de prevenção de
danos ambientais e, conseqüentemente, em redução de custos. Sendo assim, a atitude da
empresa encontra suporte na literatura, que afirma que a abordagem pró-ativa, baseada na
prevenção de danos ambientais, pode ser menos onerosa que os custos ambientais de falhas
internas e externas.
Conclui-se que o tratamento dado ao papel reciclado pela indústria de reciclagem contribui
para a preservação ambiental, uma vez que quase sua totalidade retorna ao processo fabril de
papel sob forma de matéria-prima. Tal fato tem suporte nos fundamentos teóricos
apresentados, que caracterizam a indústria de papel e celulose como moderada geradora de
resíduos sólidos de baixo poder impactante e elevada potencialidade de utilização. No
entanto, é inerente à atividade um elevado consumo de energia e de água, caranterizando-a
como altamente poluidora sob esse aspecto.
Consideradas as limitações da pesquisa realizada, recomenda-se para futuros estudos
investigar se o processo de fabricação de papel reciclado e as ações executadas pela
empresa associadas aos custos ambientais ocorrem de forma semelhante em indústrias
congêneres. Sugere-se, também, pesquisar os valores monetários das diferentes categorias
de custos ambientais utilizando-se da estratégia de pesquisa participante.
Referências
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aplicado ao desenvolvimento sustentável. São Paulo, Makron Books, 2ª ed., 206 p.
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Associação Brasileira de celulose e papel - BRACELPA. 1998. Considerações gerais sobre a atividade
de reciclagem de papel no Brasil. São Paulo, BRACELPA. Palestra, III Seminário de Avaliação de
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Associação Brasileira técnica de celulose e papel - ABTCP. 2004. Disponível em
http://www.abctp.org.br, acesso em 05/08/2006.
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BELLIA, V. 1996. Introdução a economia do meio ambiente. Brasília, Ibama, 262 p.
CAMPOS, L.M.S. 1996. Um estudo para definição e identificação dos custos da qualidade ambiental.
Dissertação de mestrado em Engenharia da Produção. Universidade Federal de Santa Catarina.
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CERVO, A. e BERVIAN, A. 1996. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. São
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YIN, R.K. 2003. Estudo de caso: planejamento e métodos. São Paulo, Bookman, 254 p.
Submissão: 18/11/2007
Aceite: 15/04/2008

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Artigo aprovado revista ab custos papel reciclado (4)

  • 1. ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1 - jan/abr 2008 ISSN 1980-4814 O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina __________________________________________________________ Alessandra Vasconcelos Gallon Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC alegallon@sodisa.com.br Franciane Luiza Salamoni Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC fransalamoni@gegnet.com.br Ilse Maria Beuren Doutora em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP Rua Antônio da Veiga, B.Victor Konder, 140, 89012-900, Blumenau-SC ilse@furb.br A crescente preocupação com a preservação ambiental requer a eliminação e/ou redução dos efeitos negativos do processo de produção industrial. Nesta perspectiva, o artigo objetiva descrever o processo de fabricação de papel reciclado e identificar ações executadas pela empresa associadas aos custos ambientais. Para tanto, fez-se uma pesquisa exploratória, por meio de um estudo de caso em indústria catarinense, com abordagem qualitativa dos dados. Como resultado da pesquisa tem-se que o processo de fabricação inicia com a adição das matérias-primas, passa pela desagregação e refinação da massa, segue para a suspensão fibrosa e finaliza com a secagem e rebobinamento do papel para avaliação de sua qualidade. O tratamento dado aos resíduos pela indústria de reciclagem contribui para a preservação ambiental, uma vez que quase sua totalidade retorna ao processo fabril de papel sob forma de matéria- prima. Conclui-se que a sua ação pró-ativa à gestão de custos ambientais é promitente em termos de prevenção de danos ambientais e conseqüentemente em redução de custos. Palavras-chave: Tratamento dos resíduos. Papel reciclado. Custos ambientais. The manufacturing process of recycled paper and actions associated with environmental costs to industry in the state of Santa Catarina The growing concern with environmental preservation requires the reduction and/or elimination of negative effects resulting from industrial production processes. In light of this, the article sets out to describe the process involved in the fabrication of recycled paper and to identify actions taken by business associated with environmental costs. To do so, an exploratory study was made, by means of a case study of a Santa Catarina industry, using a qualitative approach with the data. One result of the research was to ascertain that the fabrication process begins with the addition of raw materials, passes through breakdown and refining of pulp, followed by fibrous suspension, and ends with the drying and re- rolling of the paper in order to evaluate its quality. The treatment given to waste materials by the recycling industry contributes to environmental preservation since almost all of it goes back into the industrial process of making paper, in the form of raw material. The study concluded that this figures prominently as a pro-active function to environmental cost management in terms of prevention of environmental damage and, consequently, contributes to a reduction in costs. Key words: Treatment of waste materials. Recycled paper. Environmental Costs.
  • 2. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 46 1 Introdução Embora importantes movimentos de regulamentação de políticas ambientais já tenham ocorrido na década de 1930, somente por volta do final da década de 1960 aumentou a preocupação com o meio ambiente. É importante observar que o ambientalismo não possui uma data de nascimento determinada, mas tentar encontrar suas raízes consiste principalmente na necessidade de se ter explicações para sua crescente importância (Duarte, 1997). Deflagrados os limites do sistema ecológico, a sociedade, governos e empresários começaram a demonstrar sua preocupação com os limites do meio ambiente, com a capacidade de continuar reagindo aos crescentes níveis de impurezas que lhe são acrescidos diariamente (Ribeiro, 1992). Nesta perspectiva e diante da crescente disseminação das informações propiciadas pelas novas tecnologias de comunicação, as indústrias estão sendo forçadas a tomar posições diferenciadas com relação às estratégias de mercado nas últimas décadas. Algumas preocupações com os aspectos sociais nas indústrias podem ser salientadas, especialmente com relação às questões ambientais. Gobbi e Brito (2005) destacam que os debates em torno da questão ambiental ganharam expressa legitimidade social a ponto de se tornar objeto de reflexão das organizações, que passaram a repensar suas práticas de produção e a formular políticas de gestão ambiental. A parceria construída entre indústria e fornecedores desenvolve-se em função das exigências de novas tecnologias que atendam ao aumento na escala de produção, ao comprometimento com a preservação ao meio ambiente, à economia de energia e insumos e à redução dos custos, de acordo com a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel – ABTCP (2004). Entretanto, ao que tudo indica a eliminação dos resíduos provenientes do papel e celulose pode não estar tendo o destino adequado para a preservação do meio ambiente. Diante disso surgem algumas indagações incentivadoras da pesquisa: Como se dá o processo de fabricação de papel reciclado? O tratamento dado aos resíduos nas indústrias de papel reciclado focaliza a preservação do meio ambiente? Quais ações associadas aos custos ambientais são executadas nas empresas?
  • 3. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 47 Visando responder a essas questões, o artigo descreve o processo de fabricação de papel reciclado e identifica as ações associadas aos custos ambientais executadas por uma determinada empresa. A relevância da pesquisa evidencia-se na medida em que se verifica uma crescente preocupação com a preservação ambiental no mundo, principalmente no que se refere ao descontrole dos desmatamentos e à poluição do meio ambiente. Também se observa esforços de organizações para minimizar os efeitos da devastação de recursos, sejam eles recuperáveis ou não. O trabalho inicia após essa introdução, com uma breve abordagem sobre o surgimento e importância do papel, seguida de um apanhado teórico sobre reciclagem e meio ambiente, e gestão de custos ambientais. Na seqüência é evidenciado o método e os procedimentos adotados na pesquisa. Em seguida faz-se a descrição e análise dos dados coletados na empresa objeto de estudo. Por último são apresentadas as conclusões da pesquisa, seguidas das referências. 2 Produção e consumo de papel A invenção da escrita é considerada o fator motivador e modificador das lentas, mas constantes, evoluções e alterações pelas quais passaram diversas bases (pedra, cerâmica, madeira, ossos, fios de tecidos, couro curtido e os metais e suas ligas, como o bronze), até se chegar ao papel. Foi o papiro que deu origem à palavra papel, do latim papyrus (ABTCP, 2004). De acordo com dados da ABTCP (2004), em 2002, a extração brasileira de celulose foi de 8 milhões de toneladas, o que significou um crescimento de 7,9% em relação ao índice observado em 2001. Por sua vez o consumo de papel cresceu 1,2% se comparado com o exercício anterior, chegando a um total de 6,8 milhões de toneladas, o equivalente a 38 quilos anuais per capita. Conforme a ABTCP (2004), seja qual for o tipo de papel fabricado, a matéria-prima básica é a celulose, virgem ou de papel reciclado, que pode ser dividida em dois grupos: a de fibra longa (obtida de espécies como o pínus e a araucária), indicada para papéis de embalagem; e a de fibra curta (derivada de eucalipto, acácia, gmelina, bétula, entre outros), utilizada principalmente na fabricação de papéis para imprimir e escrever e para fins sanitários. A Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA, 1998) ressalta que entre os papéis consumidos, o maior destaque é para as caixas de papelão ondulado, pois funcionam como embalagem de transporte para a quase totalidade das mercadorias comercializadas em supermercados, lojas de departamento (magazines) e estabelecimentos fabris. Também são
  • 4. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 48 gerados resíduos de caixas de papelão ondulado nas residências, especialmente as que servem de embalagem de acondicionamento de eletrodomésticos. Em 1997, segundo dados daquela associação, 61,6% dos papéis recuperados no Brasil são de “papel ondulado”. De acordo com o World Business Council for Sustainable Development – WBCSD (1996), a produção de papel consome enorme quantidade de energia e água. Destaca-se que em 1992 a indústria papeleira americana foi a terceira maior consumidora de energia, ficando atrás apenas da indústria do petróleo e do setor químico. A água é um ingrediente essencial na fabricação de papel como parte integrante da massa (polpa) e utilização na remoção de impurezas da celulose mediante lavagens repetidas, sendo que a emissão de efluentes na água é um dos impactos ambientais mais significantes causados pela fabricação de papel e celulose (WBCSD, 1996). Entretanto, destaca-se que novas tecnologias tornaram possível o maior fechamento do ciclo de água, o que reduziu a geração de efluentes. A indústria de papel e celulose tem investido sobremaneira em tecnologia de reutilização (ABTCP, 2004). De acordo com a Divisão de Tecnologia Industrial do Departamento de Assistência à Média e Pequena Indústria (DETEC), a indústria de papel e celulose caracteriza-se como moderada geradora de resíduos sólidos de baixo poder impactante e elevada potencialidade de utilização. No entanto, Nossa e Carvalho (2003) citam dois estudos que consideram esse setor altamente poluidor. Destacam que Cormier e Magnan (1997) apontam o setor de papel e celulose como um dos setores que mais polui. Reforçam esse posicionamento com Forgach (2001), que apresenta razões para que a indústria de papel e celulose seja assim considerada: a) é dependente de 100% de fibras florestais naturais e recicladas; b) exige uso intensivo de energia; c) emite no ar, água e terra ampla gama de poluentes tóxicos e convencionais; d) é grande produtora de resíduo sólido. Em relação ao primeiro item apontado por Forgach (2001 in Nossa e Carvalho, 2003), a indústria de papel reciclado tem menor impacto na extração de fibras florestais naturais porque utiliza material reciclado. Os demais itens citados também são inerentes ao seu processo produtivo. Portanto são contingências que precisam ser monitoradas por essas indústrias em relação ao meio ambiente.
  • 5. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 49 3 Reciclagem e meio ambiente A conscientização sobre os problemas que afetam o meio ambiente age como fator preponderante para compatibilizar a expansão dos meios de produção de acordo com condições ambientais ideais. A responsabilidade social da empresa deveria voltar-se para a eliminação e/ou redução dos efeitos negativos do processo de produção e preservação dos recursos naturais, principalmente os não renováveis, através da adoção de tecnologias eficientes, concomitantemente ao atendimento dos aspectos econômicos (Ribeiro, 1992). O aumento da conscientização ambiental tem levado a uma maior demanda por papéis reciclados e a pressionar para que o papel seja reciclado após sua utilização pelo público (resíduo após o consumo), ao invés de simplesmente jogá-lo nos aterros (WBCSD, 1996). Rossato e Ribeiro (2004, p. 62) destacam que “têm aumentado, consideravelmente, nos últimos anos, as discussões sobre qual a melhor forma para que as empresas conciliem seus processos produtivos com questões ambientais”. Segundo Andrade et al. (2002), os gastos com proteção ambiental começam a ser vistos pelas empresas líderes, não primordialmente como custos, mas como investimentos no futuro e, paradoxalmente, como vantagem competitiva. Para Hunt e Auster (1990) e Hart (1995), melhores performances ambientais e econômicas podem coexistir por meio da incorporação de um novo modelo de organização e de uma cultura empresarial baseada na ecoeficiência, o que conduzirá a um desenvolvimento sustentável. Ribeiro (1992) comenta que a incorporação do conceito de “desenvolvimento sustentável” pelo meio empresarial pode, se não reverter, ao menos amenizar a degradação do meio ambiente. Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, a redução de agressões ambientais passa a ser considerada como meio de eliminação de custos e conseqüente melhoria do fluxo de rendimentos para a empresa. Nesse sentido, mesmo não se tratando de uma novidade no processo de fabricação do papel, pois há séculos os materiais utilizados (aparas) têm sido reaproveitados na fabricação de novos produtos, a reciclagem é um importante aspecto da filosofia preservacionista, que resulta em benefícios tanto para as empresas como para a coletividade (ABTCP, 2004).
  • 6. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 50 A reciclagem de papel no Brasil tem seu fundamento em questões de natureza essencialmente econômicas. Todavia esta vem apresentando um destaque crescente, na medida em que contribui para a preservação e conservação do meio ambiente e para a solução da questão da destinação dos lixos urbanos (BRACELPA, 1998). Quanto à importância da utilização da reciclagem na indústria de papel e celulose como forma de minimizar os impactos ao meio ambiente, Bellia (1996) relata que a reciclagem de papel leva a uma redução de energia para a produção de papel e celulose da ordem de 23% a 74%, redução na poluição do ar de 74%, redução na poluição da água em torno de 35% e redução de 58% no uso de água. Robles Jr. (2003, p. 139) destaca que “a solução dos problemas ambientais é conseqüência da existência de um sistema de gestão ambiental bem administrado, para identificação clara dos problemas e suas causas”. Nesta perspectiva, torna-se imprescindível que a empresa desfrute de adequada gestão de custos ambientais. 4 Gestão de custos ambientais Campos (1996) salienta que o termo custo ambiental é de difícil conceituação, não apresentando definição clara e objetiva, e que a maior dificuldade ao se trabalhar com custos ambientais é o fato de estes serem, em sua maioria, custos intangíveis. Robles Jr. (2003, p. 141) define custos intangíveis como “aqueles com alto grau de dificuldade para serem quantificados, embora se perceba claramente a sua existência. Normalmente não podem ser diretamente associados ao produto ou processo”. No que diz respeito aos gastos ambientais, Ribeiro e Rocha (1999, p. 2) relatam que “são todos aqueles relacionados, direta ou indiretamente, ao processo de gerenciamento ambiental, processo este que compreende todas as atividades inerentes ao controle, preservação e proteção ao meio ecológico, além de recuperação de áreas contaminadas”. Ferreira et al. (2007, p. 28) advertem que “uma empresa que polui dentro dos limites legais estabelecidos não deixa de ter um passivo em relação ao meio ambiente, pois haverá a necessidade de restaurar ou remediar o meio ambiente, ou seja, poderá haver uma obrigação pecuniária”. Esta obrigação, seja ela de reputação social ou exigência legal, implica em um custo ambiental para a empresa. Nos custos ambientais devem ser computadas todas as medidas tomadas pelos gestores da entidade com a finalidade de evitar, reduzir ou reparar efeitos ambientais negativos. Devem considerar-se essas medidas, sejam elas necessárias ao cumprimento de determinação legal;
  • 7. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 51 ou decorrentes de medidas voluntárias da entidade, para responder às exigências de clientes, ou melhorar a imagem da entidade (Eurostat in Silva, 2007). Segundo Hansen e Mowen (2001, p. 567), sob o ponto de vista empresarial, os custos ambientais, também conhecidos como custos de qualidade ambiental, “são custos incorridos porque existe uma má qualidade ambiental ou porque pode existir uma má qualidade ambiental”. Em função das mudanças na relação entre empresas e o meio ambiente, observa-se a importância da identificação dos custos ambientais pelas empresas para a consecução de informações consistentes relativas ao quanto se vem perdendo ou deixando de ganhar com processos e atividades que degradam o meio ambiente. De acordo com a Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP (2004), a melhoria na relação da empresa com o meio ambiente é capaz de otimizar a produtividade dos recursos utilizados, implicando em benefícios diretos para a empresa, o processo industrial e o produto, como mostra o Quadro 1. Benefícios para a empresa Benefícios para o processo produtivo Benefícios para o produto • melhoria da imagem da empresa; • manutenção dos atuais e conquista de novos nichos de mercado; • redução do risco de desastres ambientais; • adição do valor com a eliminação ou minimização dos resíduos; • menor incidência de custos com multas e processos judiciais; e • maior diálogo com os órgãos de controle e fiscalização. • economias de matéria-prima e insumos, resultantes do processamento mais eficiente e da sua substituição, reutilização e reciclagem; • aumento dos rendimentos do processo produtivo; • redução das paralisações, por meio de maior cuidado na monitoração e manutenção; • melhor utilização dos subprodutos; • conversão dos desperdícios em forma de valor; • menor consumo de água e energia durante o processo; • economia, em razão de um ambiente de trabalho mais seguro; e • eliminação ou redução do custo de atividades envolvidas nas descargas ou no manuseio, transporte e descarte de resíduos. • mais qualidade e uniformidade; • redução dos custos (por exemplo, com a substituição de materiais); • redução nos custos de embalagens; • utilização mais eficiente dos recursos; • aumento da segurança; • redução do custo líquido do descarte pelo cliente; e • maior valor de revenda e de sucata do produto. Quadro 1 – Benefícios causados pela melhoria na relação entre a empresa e o meio ambiente Fonte: Cartilha de indicadores de desempenho ambiental na indústria – FIESP (2004, p. 13).
  • 8. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 52 Depreende-se que a melhoria na relação entre a empresa e o meio ambiente traz diversos benefícios para ambos com a gestão do desperdício, o controle da poluição, gestão da água e da energia, obediência às leis, entre outros. As informações dos custos ambientais relacionados aos processos servem como indicativo no sentido de propor melhorias para diminuir ou até mesmo eliminar tais custos, gerando vantagem para a empresa. Quanto ao meio ambiente, com a identificação dos custos ambientais, poder-se-ia propor melhorias nos processos que resultem na diminuição do dano causado ao meio ambiente, beneficiando o meio ambiente (Campos, 1996). Para Moura (2000, p. 49-50 in Robles Jr, 2003, p. 139), “os custos da qualidade ambiental podem ser considerados de dois tipos: custos de controle e custos resultantes da falta de controle sobre os processos industriais e gerenciais”. A Figura 1 demonstra a identificação dos custos ambientais de acordo com a classificação do autor. Figura 1- Identificação dos custos ambientais Fonte: Robles Júnior (2003, p. 140). Os custos ambientais, dessa forma, estão associados com a criação, detecção, correção e prevenção da degradação ambiental. Os custos de controle podem ser classificados em custos de prevenção e custos de avaliação ou de detecção; e os custos da falta de controle, classificados em custos de falhas internas e de falhas externas. Graedel e Allenby (1996, p. 318) conceituam os custos de prevenção ambiental como “o uso de materiais, processos, ou práticas que reduzam ou eliminem a quantidade ou toxidade de resíduos na fonte de geração através de atividades que promovam, encorajam ou exijam Custos de controle Custos da falta de controle Custos de prevenção Custos de avaliação Custos de falhas internas Custos de falhas externas
  • 9. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 53 modificações nos padrões comportamentais básicos da empresa”. Esses autores consideram a prevenção como algo muito mais viável para a indústria do que o controle e a correção. Com relação à viabilidade da ênfase nos custos ambientais de prevenção em detrimento dos custos ambientais da falta de controle, Hansen e Mowen (2001, p. 564-565) defendem que “uma abordagem pró-ativa é mais promissora em termos de prevenção de danos ambientais e, simultaneamente, em redução de custos”. Complementam mencionando que “reguladores e empresas estão começando a perceber que pode ser menos oneroso prevenir a poluição do que remediá-la”. São exemplos de atividades de prevenção ambiental, segundo Hansen e Mowen (2001): avaliação e seleção de fornecedores, avaliação e seleção de equipamentos de controle da poluição, projeção de processos e produtos para reduzir ou eliminar os contaminadores, treinamento de empregados, estudo dos impactos ambientais, auditoria dos riscos ambientais, execução de pesquisas ambientais, desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental, reciclagem de produtos e obtenção do certificado ISO 14001. No que tange aos custos de avaliação ou detecção ambiental, Robles Jr. (2003, p. 140) afirma que “são custos despendidos para manter os níveis de qualidade ambiental da empresa, por meio de trabalhos de laboratórios e avaliações formais do sistema de gestão ambiental ou sistema gerencial, que se ocupem de garantir um bom desempenho ambiental da empresa”. Estes custos são incorridos ao verificar se os processos e produtos da empresa estão cumprindo as normas ambientais apropriadas. Hansen e Mowen (2001) exemplificam as seguintes atividades como de avaliação e detecção ambiental: auditorias ambientais, inspeção de produtos e processos (para averiguar a conformidade ambiental), o desenvolvimento de medidas de desempenho ambiental, a execução de testes de contaminação, a verificação do desempenho ambiental de fornecedores e a medição de níveis de contaminação. Com relação aos custos da falta de controle, estes podem ser de falhas ambientais internas (custos incorridos pelo não-atendimento de normas, padrões, procedimentos operacionais explícitos de gestão ambiental e correções de não-conformidades) e de falhas ambientais externas (custos da qualidade ambiental insatisfatória e não-conformidades fora dos limites da empresa, resultantes de uma gestão ambiental inadequada) (Robles Jr., 2003).
  • 10. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 54 São exemplos de atividades de falhas internas, segundo Hansen e Mowen (2001): operação de equipamento para minimizar ou eliminar poluição, tratamento e descarte de materiais tóxicos, manutenção de equipamento para poluição, licenciamento de instalações para a produção de contaminantes, retrabalhos em processos causados por não-conformidade ambiental e reciclagem de sucata. De acordo com Hansen e Mowen (2001), os custos de falhas ambientais externas podem ser classificados em: custos realizados de falhas externas (custos incorridos e pagos pela empresa) e custos não-realizados de falhas externas (custos sociais causados pela empresa, mas incorridos e pagos por parte fora da empresa). São exemplos de atividades realizadas de falhas externas, segundo Hansen e Mowen (2001): limpeza de um rio ou lago poluído, limpeza de solo contaminado, uso ineficiente de materiais e energia, indenização por acidentes pessoais provenientes de más práticas ambientais, restauração da terra ao estado natural e perda de vendas causada por uma má reputação ambiental. Os exemplos de custos sociais, segundo os autores, incluem: receber cuidados médicos por causa do ar poluído, perder empregos por causa de contaminação, perder um rio ou lago de uso recreativo por causa da contaminação e danificar ecossistemas devido ao descarte de resíduos sólidos. Diante do exposto, observa-se que a utilização pelas empresas de medidas eficazes para a qualidade ambiental, identificando e buscando reduzir ou eliminar os custos ambientais (de controle, correção e falhas existentes) e priorizando os custos de prevenção ambiental, minimiza a ocorrência das falhas relacionadas ao processo produtivo e ao meio ambiente. 5 Método e procedimentos da pesquisa O método empregado na presente pesquisa é de natureza exploratória, a qual foi realizada por meio de um estudo de caso, com abordagem qualitativa dos dados. Para Cervo e Bervian (1996), a pesquisa exploratória é responsável por observar, registrar, analisar e correlacionar os fatos ou fenômenos sem manipulá-los. O estudo de caso foi realizado em uma indústria de papel e celulose estabelecida no Estado de Santa Catarina, cuja denominação social declina-se revelar por motivos de sigilo das
  • 11. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 55 estratégias da organização. O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real (Yin, 2003). Quanto aos procedimentos de coleta de dados, realizada em abril de 2006, optou-se por adotar, inicialmente, entrevista semi-estruturada com o gerente de produção da empresa e duas pessoas encarregadas dos aspectos relacionados ao meio ambiente na empresa. Segundo Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada é a que parte de certos questionamentos básicos, apoiados no referencial teórico e hipóteses, que provocam novos questionamentos no transcorrer da entrevista e influenciam a elaboração do conteúdo da pesquisa. Para melhor compreensão do processo de produção da indústria utilizou-se também a técnica de observação. Sobre o método observacional, Fachin (2001) adverte que o observador deve reunir certas condições, entre as quais: dispor dos órgãos sensoriais em perfeito estado, de um bom preparo intelectual, aliado à sagacidade, curiosidade, persistência, perseverança, paciência e um grau elevado de humildade. Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos fenômenos, o estudo desenvolveu-se num ambiente que preconizou a abordagem qualitativa. O método qualitativo, conforme Richardson (1999), se caracteriza pelo não emprego de instrumental estatístico como base no processo de análise de um problema. Para os dados coletados nas entrevistas foi adotada a análise de conteúdo ou content analysis (Bardin, 2006). Embora tenha sido adotado o rigor científico necessário em pesquisa dessa natureza, ressalta-se o fato do estudo se circunscrever a um único objeto ou fenômeno. Esta estratégia de pesquisa se constitui em uma limitação, uma vez que seus resultados não podem ser generalizáveis a outros objetos ou fenômenos, dado as particularidades do sujeito da pesquisa. 6 Descrição do processo de fabricação do papel reciclado e ações associadas aos custos ambientais da empresa pesquisada Para a compreensão da fabricação do papel reciclado realizou-se um estudo das operações em indústria de papel e celulose. Intenta-se mostrar os passos da fabricação
  • 12. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 56 do papel reciclado, desde a desagregação do papel velho e transformação da massa até a transformação da folha de papel, com a passagem nos secadores da máquina de papel. Focaliza-se, também, o tratamento dado pela empresa aos resíduos. Por fim, apresentam-se as ações associadas aos custos ambientais executadas pela empresa. 6.1 Apresentação da empresa A indústria de papel e celulose objeto de estudo teve sua constituição na década de 1960, motivada pela preocupação com os elevados volumes de resíduos da atividade madeireira. Em 1977 iniciou os planos para a produção de papelão ondulado para embalagens e em 1978 deu início ao processo de fabricação do papelão ondulado reciclado na empresa. Depreende-se o que já foi destacado na fundamentação teórica do estudo, de que a preocupação com a reciclagem de papel tem seu fundamento em questões de natureza essencialmente econômicas nas empresas, embora haja destaque crescente, atualmente, para a contribuição da preservação e conservação do meio ambiente (BRACELPA, 1998). A empresa em foco tem como objeto social a transformação de resíduos da indústria da madeira e papel reciclado em papel ondulado (para embalagem de transporte). Sua produção abastece o grupo empresarial ao qual pertence e o restante da produção é consumido no mercado interno. Possui 160 empregados, apenas na fabricação do papel reciclado, pois o grupo empresarial, em todas as suas outras atividades relacionadas à indústria madeireira, gera em torno de 1.700 empregos e fatura anualmente um milhão de reais. Para a compreensão do processo de fabricação do papel reciclado são apresentados três fluxos de operações. No primeiro fluxo são demonstradas as operações de fabricação desde a desagregação do papel velho até a transformação da massa. No segundo fluxo demonstra-se a transformação dos resíduos da indústria da madeira e papel reciclado em massa e hidratação das fibras. No terceiro fluxo mostra-se a transformação do papel ondulado reciclado.
  • 13. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 57 6.2 Descrição do processo de fabricação do papel reciclado Na Figura 2 apresenta-se a etapa inicial do processo da fabricação do papel reciclado, desde a entrada da matéria-prima até a desagregação da mesma e transformação da massa. Figura 2 – Fabricação do papel reciclado desde a desagregação do papel velho até a transformação da massa Fonte: dados da pesquisa. O processo de fabricação do papel reciclado inicia-se com a colocação da matéria-prima em uma esteira, que a transporta até o equipamento denominado Hidrapulper onde é acrescido água e efetua-se a desagregação da matéria-prima. As matérias-primas utilizadas na fabricação do papel são basicamente aparas (papel reciclado), celulose e pasta químico- mecânica. Depois da desagregação da matéria-prima, esta é recebida na forma de fardos que se transformam em pequenos pedaços de papel formando uma massa. Ressalta-se que no Hidrapulper a matéria-prima sofre também um processo de pré-depuração, com a finalidade de remover impurezas, como grampos, clipes, pedras, arames e plásticos. Após a desagregação, a massa segue por meio de bombas por tubulações para um tanque de descarga e, em seguida, passa para o processo de depuração, que consiste em remover impurezas da massa, tais como: areia, plásticos, palitos, isopor e pastilhas de papel, que não se individualizam na desagregação. Na seqüência, a massa segue para o processo de transformação da massa e hidratação das fibras, conforme demonstrado na Figura 3. Matéria- prima Hidrapulper Esteira Água Tanque de descarga/depuração Engrossadores
  • 14. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 58 Figura 3 - Transformação da massa e hidratação das fibras Fonte: dados da pesquisa. Nesta fase, a depuração da massa segue para os engrossadores onde é extraída a água, e a consistência da suspensão fibrosa fica em torno de 5% para posterior estocagem nas torres de massa. A massa é extraída das torres de massa e sofre adição de água para baixar a consistência, seguindo para os tanques, onde é extraída por meio de bombas para os equipamentos de refinação. Nos refinadores, a fibra sofre atrito de discos rotativos com lâminas de aço onde é hidratada. Na Figura 4 apresenta-se a etapa final do processo de fabricação do papel ondulado reciclado. Figura 4 - Transformação do papel ondulado reciclado Fonte: dados da pesquisa. Na última fase do processo de fabricação do papel ondulado reciclado, após a refinação, a suspensão fibrosa segue para os tanques de estocagem da máquina de papel. A máquina de papel é composta das seguintes partes: Água Engrossadores Tanques Refinadores Torre de massas Refinadores Tanques de massas de papel Máquina do Papel Caixa de Entrada Mesa Plana Prensas Secadores Enroladeira Rebobinamento Expedição
  • 15. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 59 Caixa de entrada - equipamento que recebe a massa depurada e distribui uniformemente sobre a mesa plana; e Mesa plana - equipamento composto de uma tela e caixas de vácuo que tem a finalidade de formar a folha de papel e remover parte da água utilizada na diluição da massa; depois de formada a folha de papel passa para a prensagem. As prensas são equipamentos compostos por dois rolos, entre os quais há um ou dois feltros, por onde passa a folha de papel sob pressão. A finalidade desses equipamentos é a compactação da folha e também a remoção de parte da água contida na folha de papel. Após prensada, a folha de papel passa para os secadores da máquina de papel. A fase de secagem é composta por um conjunto de rolos que são aquecidos com a injeção de vapor, sobre os quais passa a folha de papel. A finalidade desses rolos é remover a quantidade de água, ainda presente na folha de papel, deixando-a conforme as especificações ideais de umidade. Após a secagem total da folha de papel esta é enrolada na enroladeira. A enroladeira é um equipamento composto de um rolo e braços pneumáticos, aos quais é preso um rolo de diâmetro pequeno chamado estanga. Na estanga é enrolada a folha de papel que está sendo produzida. Após enrolado, o papel está pronto em uma forma bruta. O rebobinamento é um equipamento composto de rolos e facas e que tem a finalidade de receber o rolo de papel bruto e cortá-lo em larguras diversas, conforme a necessidade ou especificação do pedido. De cada lado do rolo bruto corta-se uma tira de papel, chamada refile, dando o acabamento final ao produto. Por último, após rebobinado, o papel é pesado e identificado e fica disponível para ser expedido se estiver dentro das especificações necessárias de qualidade. As especificações abrangem os seguintes requisitos: gramatura, rigidez, umidade e cobb (quantidade de água que o papel após acabado pode absorver). Dois aspectos destacados na literatura e páginas eletrônicas pesquisadas sobre questões ambientais são observados nesta descrição: elevado consumo de energia e água ao longo do processo e a presença intensa de tecnologia para o processamento da matéria-prima. De acordo com o WBCSD (1996), a produção de papel consome enorme quantidade de energia e água. A ABTCP (2004) ressalta que a indústria de papel e celulose tem investido em
  • 16. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 60 tecnologia de reutilização das águas, o que contribui para o gerenciamento do ciclo de água e reduzir a geração de efluentes. 6.3 Tratamento dado pela indústria aos resíduos e à preservação do meio ambiente A empresa objeto de estudo busca trabalhar dentro de padrões que permitam o desenvolvimento da atividade e minimizem a agressão ao meio ambiente. Procura preservar a atmosfera, hidrosfera e a litosfera, com utilização de tecnologia adequada. De acordo com o entrevistado, também procura estar de acordo com a legislação, atendendo às exigências referentes à qualidade da água, solo e gás. No processo de fabricação do papel reciclado a empresa utiliza 60% da água do Rio do Peixe, aproveitando uma fonte natural desse recurso. Após passar pelo processo de produção do papel reciclado, a água é encaminhada para um primeiro filtro, que tem uma peneira. Este filtro é responsável pela retirada dos resíduos pesados (prego, arames, lâminas, etc). Em seguida esta água passa por um segundo filtro, que possui uma peneira mais fina que o primeiro, ficando neste os resíduos mais leves. Passando pelos filtros, a água é encaminhada para um tanque e recebe tratamento adequado para que volte a tornar-se água potável. Posteriormente, 10% desta água volta para o Rio do Peixe e o restante retorna para o processo de fabricação do papel. Isto é, quase a totalidade da água retorna ao processo fabril de papel. Na fundamentação teórica averiguou-se que a emissão de efluentes na água é um dos impactos ambientais mais significantes causados pela fabricação de papel e celulose, o que justifica o seu intenso cuidado na empresa. Para assegurar a qualidade da água são monitorados os elementos que lhe conferem características de qualidade, como a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), o oxigênio dissolvido (OD), indicador ácido base (pH), temperatura, fenóis, óleos e graxas. A análise é realizada mensalmente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/SC). Há ainda um intenso controle realizado pela polícia ambiental do município por meio de análise mensal da água que passa pelo Rio do Peixe e do lago do município em que é estocada a água que será tratada. Os resíduos que foram retirados pelas peneiras e filtros passam por uma esteira, sendo encaminhados para segregar o material em aterros apropriados próprios, os quais possuem
  • 17. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 61 licenças ambientais aprovadas pela Fundação do Meio Ambiente (FATMA) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Quanto ao gás, a empresa não agride o meio ambiente porque não tem forno de cal, caldeiras de recuperação e nem digestores industriais. Não emite os gases malcheirosos como: sulfeto de hidrogênio (H2S), metilsulfeto (MESH), dimetilsulfeto (Me2S) e dimetilsulfeto (ME2S2). Tal deve-se ao fato da empresa trabalhar com matéria-prima reciclada, isto é, esse processo não resulta em liberação de gases dessa natureza. Infere-se do exposto que, embora o setor de papel e celulose seja um setor altamente poluidor, conforme destacam Cormier e Magnan (1997 in Nossa e Carvalho, 2003), a empresa busca desenvolver suas atividades em conformidade com as exigências legais e à preservação sustentável. Apresenta menor impacto na extração de fibras florestais naturais porque utiliza material reciclado, que é um dos itens poluidores desta indústria apontados por Forgach (2001 in Nossa e Carvalho, 2003). Porém, dois itens poluidores apontados por esse autor, ainda que monitorados pela empresa, estão presentes nas suas atividades: a) exige uso intensivo de energia; e b) é grande produtora de resíduo sólido. Na seqüência, apresentam-se as ações executadas pela empresa objeto de estudo associadas às classificações dos custos ambientais (prevenção; avaliação ou detecção; falhas internas e falhas externas). 6.4 Ações associadas aos custos ambientais executadas pela empresa Com o objetivo de identificar as ações associadas aos custos ambientais executadas pela empresa, se demonstra a partir da pesquisa teórica e empírica, as atividades relacionadas que são executadas e que não são executadas pela empresa objeto de estudo. As ações compreendem quatro categorias de custos: custos de prevenção ambiental, custos de detecção ou avaliação ambiental, custos de falhas ambientais internas e custos de falhas ambientais externas. Para cada categoria de custos ambientais, com base na fundamentação teórica e na observação da realidade da empresa, foram listadas possíveis ações. A Tabela 1 apresenta as atividades executadas e não executadas na empresa no que se refere aos custos de prevenção ambiental.
  • 18. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 62 Tabela 1 – Atividades de prevenção ambiental executadas e não executadas na empresa Custos de Prevenção Ambiental Atividades de Prevenção Executada Não Executada 1. Avaliar e selecionar fornecedores X 2. Avaliar e selecionar equipamentos de controle da poluição X 3. Projetar processos para reduzir/eliminar os contaminadores X 4. Treinar empregados X 5. Executar estudos ambientais X 6. Auditar riscos ambientais X 7. Executar pesquisas ambientais X 8. Desenvolver sistemas de gestão ambiental X 9. Reciclar produtos X 10. Obter certificado ISO 14001 X Total 6 4 Percentual 60% 40% Fonte: dados da pesquisa. Verifica-se que a empresa realiza 60% das atividades de prevenção listadas, entre elas a avaliação e seleção dos fornecedores e dos equipamentos de controle da poluição, o treinamento intensivo dos empregados, a prática de auditorias ambientais e a reciclagem de produtos. Entretanto, não projeta processos para reduzir/eliminar os contaminadores, não executa pesquisas ambientais e nem utiliza um sistema de gestão ambiental. Foi ressaltado pelo entrevistado que a empresa pretende obter o certificado ISO 14001 nos próximos anos. A Tabela 2 apresenta as atividades executadas e não executadas na empresa no que se refere aos custos de detecção ou avaliação ambiental. Tabela 2 – Atividades de detecção ambiental executadas e não executadas na empresa Custos de Detecção Ambiental Atividades de Detecção ou Avaliação Executada Não Executada 1. Auditar atividades ambientais X 2. Inspecionar produtos e processos (conformidade ambiental) X 3. Desenvolver medidas de desempenho ambiental X 4. Testar e medir níveis de contaminação X 5. Verificar desempenho ambiental de fornecedores X Total 3 2 Percentual 60% 40% Fonte: dados da pesquisa. Percebe-se que a empresa realiza 60% das atividades de detecção ou avaliação ambiental listadas. Não realiza 40%, pois não desenvolve medidas de desempenho ambiental e nem verifica o mesmo em seus fornecedores. A Tabela 3 apresenta as atividades executadas e não executadas na empresa no que se refere aos custos de falhas ambientais internas.
  • 19. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 63 Tabela 3 – Atividades de falhas ambientais internas executadas e não executadas na empresa Custos de Falhas Ambientais Internas Atividades de Falhas Internas Executada Não Executada 1. Operar equipamentos de controle da poluição X 2. Tratar e descartar materiais tóxicos X 3. Manter equipamento de poluição X 4. Licenciar instalações para produzir contaminantes X 5. Reciclar sucatas X 6. Incorrer em retrabalho em processos por não-conformidade ambiental X Total 2 4 Percentual 33,33% 66,67% Fonte: dados da pesquisa. De um total de seis atividades possíveis, nota-se que a empresa não realiza 66,67% das atividades de falhas ambientais internas listadas. Executa apenas o tratamento e o descarte de materiais tóxicos e a reciclagem de sucatas. A Tabela 4 apresenta as atividades executadas e não executadas na empresa no que se refere aos custos de falhas ambientais externas, realizados e não-realizados (sociais). Tabela 4 – Atividades de falhas ambientais externas executadas e não executadas na empresa Custos de Falhas Ambientais Externas Atividades – Custos Realizados Executada Não Executada 1. Limpar um rio ou lago poluído X 2. Limpar o solo contaminado X 3. Indenizar dados pessoais (relacionados ao meio ambiente) X 4. Restaurar a terra ao estado natural X 5. Perder vendas devido à má reputação ambiental X 6. Usar materiais e energia ineficientemente X Total 1 5 Percentual 16,67% 83,33% Atividades – Custos Não-Realizados Executada Não Executada 1. Receber cuidados médicos devido a ar poluído X 2. Perder emprego devido à contaminação X 3. Perder um rio ou lago de uso recreativo X 4. Danificar ecossistemas com o descarte de resíduos sólidos X Total 0 4 Percentual 0% 100% Fonte: dados da pesquisa. Entre as 10 atividades de falhas ambientais externas listadas, sejam elas relacionadas aos custos realizados ou não-realizados, a empresa executa apenas a atividade de restaurar a terra ao estado natural. Ou seja, 83,33% das atividades listadas relacionadas aos custos realizados e 100% das atividades relacionadas aos custos não-realizados não são executadas na empresa.
  • 20. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 64 Diante do exposto, pode-se observar que a empresa analisada prioriza os custos de detecção e prevenção ambiental, minimiza a ocorrência das falhas relacionadas ao processo produtivo e ao meio ambiente. Tal atitude da empresa encontra suporte na teoria. Conforme Graedel e Allenby (1996) e Hansen e Mowen (2001), a abordagem pró-ativa, baseada na prevenção de danos ambientais, pode ser menos onerosa que os custos ambientais de falhas internas e externas. Ressalta-se que a pesquisa limitou-se à coleta de dados qualitativos para identificação das ações executadas pela empresa referente às classificações dos custos ambientais, não adentrando nos valores empregados na execução das atividades de prevenção, detecção e de falhas internas e externas. A estratégia de pesquisa utilizada deve-se ao fato de muitos destes custos serem intangíveis, portanto de difícil mensuração. 7 Considerações Finais O artigo objetivou descrever o processo de fabricação de papel reciclado e identificar ações associadas aos custos ambientais executadas pela empresa. Para tanto, realizou-se um estudo exploratório, por meio de um estudo de caso em indústria estabelecida no Estado de Santa Catarina, com abordagem qualitativa dos dados. No que concerne ao processo de fabricação de papel reciclado, este foi segmentado em três fluxos de operações. Primeiro demonstraram-se as operações de fabricação desde a desagregação do papel velho até a transformação da massa. No segundo fluxo evidenciou-se a transformação dos resíduos da indústria da madeira e papel reciclado em massa e hidratação das fibras. No terceiro fluxo mostrou-se a transformação do papel ondulado reciclado. Como resultado da pesquisa tem-se que o processo de fabricação de papel reciclado inicia com a adição das matérias-primas, passa pela desagregação e refinação da massa, segue para a suspensão fibrosa e finaliza com a secagem e rebobinamento do papel. Com relação ao tratamento dado pela empresa à matéria-prima reciclada, observou-se que esta utiliza tecnologia que lhe permite adequada gestão dos recursos ambientais. No entanto, mesmo que siga padrões que visam o desenvolvimento sustentável, procurando preservar a atmosfera, hidrosfera e a litosfera, e estar de acordo com a legislação, atendendo as exigências referentes à qualidade da água, solo e gás, é inerente à atividade o custo ambiental e social.
  • 21. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 65 Para assegurar a qualidade da água que retorna ao rio, o SENAI/SC monitora os elementos que lhe conferem essa característica. Os resíduos sólidos são encaminhados para segregar o material em aterros próprios, com licenças ambientais do IBAMA e FATMA. No que diz respeito ao gás, a empresa não agride o meio ambiente porque não tem forno de cal, caldeiras de recuperação e nem digestores industriais, portanto, não emite gases malcheirosos em decorrência de estar utilizando material reciclável. Com relação às ações associadas aos custos ambientais, constatou-se que as ações executadas pela indústria são essencialmente de custos de detecção e prevenção ambiental. Sua ação pró-ativa à gestão de custos ambientais é promitente em termos de prevenção de danos ambientais e, conseqüentemente, em redução de custos. Sendo assim, a atitude da empresa encontra suporte na literatura, que afirma que a abordagem pró-ativa, baseada na prevenção de danos ambientais, pode ser menos onerosa que os custos ambientais de falhas internas e externas. Conclui-se que o tratamento dado ao papel reciclado pela indústria de reciclagem contribui para a preservação ambiental, uma vez que quase sua totalidade retorna ao processo fabril de papel sob forma de matéria-prima. Tal fato tem suporte nos fundamentos teóricos apresentados, que caracterizam a indústria de papel e celulose como moderada geradora de resíduos sólidos de baixo poder impactante e elevada potencialidade de utilização. No entanto, é inerente à atividade um elevado consumo de energia e de água, caranterizando-a como altamente poluidora sob esse aspecto. Consideradas as limitações da pesquisa realizada, recomenda-se para futuros estudos investigar se o processo de fabricação de papel reciclado e as ações executadas pela empresa associadas aos custos ambientais ocorrem de forma semelhante em indústrias congêneres. Sugere-se, também, pesquisar os valores monetários das diferentes categorias de custos ambientais utilizando-se da estratégia de pesquisa participante. Referências ANDRADE, R.O.B.; TACHIZAWA, T. e CARVALHO, A.B. 2002. Gestão ambiental: enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. São Paulo, Makron Books, 2ª ed., 206 p.
  • 22. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 66 Associação Brasileira de celulose e papel - BRACELPA. 1998. Considerações gerais sobre a atividade de reciclagem de papel no Brasil. São Paulo, BRACELPA. Palestra, III Seminário de Avaliação de Experiências Brasileiras de Coleta Seletiva de Lixo, 14p. Associação Brasileira técnica de celulose e papel - ABTCP. 2004. Disponível em http://www.abctp.org.br, acesso em 05/08/2006. BARDIN, L. 2006. Análise de conteúdo. Lisboa, Edições 70, 3ª ed., 225 p. BELLIA, V. 1996. Introdução a economia do meio ambiente. Brasília, Ibama, 262 p. CAMPOS, L.M.S. 1996. Um estudo para definição e identificação dos custos da qualidade ambiental. Dissertação de mestrado em Engenharia da Produção. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1996, 104 p. CERVO, A. e BERVIAN, A. 1996. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 4ª ed., 209 p. Departamento de assistência à média e a pequena indústria - DETEC. 1989. Gerenciamento de resíduos em complexos integrados de papel e celulose. Rio de Janeiro, CNI, DAMPI. Convenio CNI- SESI/DN e SENAI/DN. 39p. DUARTE, M.D. 1997. Caracterização da rotulagem ambiental de produtos. 1997. Dissertação de mestrado em Engenharia da Produção. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Disponível em http://www.eps.ufsc.br/disserta97/duarte/biblio.htm#BI, acesso em: 08/08/2006. FACHIN, O. 2001. Fundamentos de metodologia. São Paulo, Saraiva 3ª ed., 200 p. Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP. 2004. Cartilha de indicadores de desempenho ambiental na indústria. São Paulo, FIESP/CIESP, jun. 29p. Disponível em http://www.fiesp.com.br/download/publicacoes_meio_ambiente/cartilha_indic_ambiental.pdf, acesso em: 08/08/2006. FERREIRA, A.C.S.; BUFONI, A.L. e MUNIZ, N.P. 2007. Utilização do modelo ISAR/UNCTAD: uma análise comparativa. Pensar Contábil, 9(35):27-34. GOBBI, B.C. e BRITO, M.J. 2005. Gestão ambiental como prática social em uma organização produtora de celulose: uma análise interpretativa. In: ENANPAD, 29., 2005, Curitiba. Anais… Rio de Janeiro: ANPAD. CD-ROM. GRAEDEL, T.E. e ALLENBY, B.R. 1996. Design for environment. Upper Saddle River, Prentice Hall, 175 p. HANSEN, D.R. e MOWEN, M.M. 2001. Gestão de custos: contabilidade e controle. São Paulo, Pioneira Thompson Learning, 783 p. HART, S.L. 1995. A natural-resource-based view of the firm. Academy of Management Review, v. 20, n. 4, p. 986-1014, oct.
  • 23. O processo de fabricação de papel reciclado e as ações associadas aos custos ambientais em indústria de Santa Catarina. Alessandra Vasconcelos Gallon, Franciane Luiza Salamoni, Ilse Maria Beuren ABCustos Associação Brasileira de Custos - Vol. III n°1:45-67 - jan/abr 2008 67 HUNT, C.B. e AUSTER, E.R. 1990. Proactive environmental management: avoiding the toxic trap. Sloam Managenent Review, v. 31, n. 2, p. 7-18, winter. NOSSA, V. e CARVALHO, L.N.G. 2003. Uma análise do conteúdo do disclosure ambiental de empresas do setor de papel e celulose em nível internacional. In: ENANPAD, 27, Salvador, 2003. Anais... Rio de Janeiro, ANPAD. RIBEIRO, M.S. 1992. Contabilidade e meio ambiente. Dissertação de mestrado em Contabilidade. Universidade de São Paulo, São Paulo, 141 p. RIBEIRO, M.S. e ROCHA, W. 1999. Gestão estratégica dos custos ambientais. In: Congresso Brasileiro de Custos, 6, São Paulo, 1999. Anais… São Paulo: ABC, FEA/USP. CD-ROM. RICHARDSON, R.J. 1999. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo, Atlas, 3ª ed., 389 p. ROBLES Jr., A. 2003. Custos da qualidade: aspectos econômicos da gestão da qualidade e da gestão ambiental. São Paulo, Atlas, 2ª ed., 135 p. ROSSATO, V. e RIBEIRO, M.S. 2004. Aplicação da contabilidade ambiental na indústria madeireira. Revista Contabilidade & Finanças, n. 35, maio/ago. 2004,p. 54-67. SILVA, H.V. 2007.Custos e proveitos ambientais: proposta de divulgação e relato na atividade de produção de eletricidade. Revista Universo Contábil, 3(2)116-124. TRIVIÑOS, A.N.S. 1987. Introdução à pesquisa em ciências sociais: A pesquisa qualitativa em educação. São Paulo, Atlas, 175 p. World business council for sustainable development – WBCSD, 1996. Um futuro em transformação para o papel: seu impacto na sociedade e no meio ambiente, como a indústria do papel pode gerenciar estas mudanças, formas de tornar mais sustentável o ciclo do papel. Genebra, Suíça, WBCSD, il. Tradução de: Towards a sustainable paper cycle, 31p. YIN, R.K. 2003. Estudo de caso: planejamento e métodos. São Paulo, Bookman, 254 p. Submissão: 18/11/2007 Aceite: 15/04/2008