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SENHORA
José de Alencar.

Aurélia Camargo era uma moça pobre que ficou rica graças a uma herança recebida do
avô quando completara l8 anos, momento em que é apresentada à sociedade fluminense.
Muito bela, deixa todos encantados. Por ser órfã, vive em companhia de uma parenta a
viúva, Dona Firmina Mascarenhas, porém cabe a ela governar a casa, o que procura
fazer do seu modo. A convivência com a velha senhora, é forma de não chocar aqueles
que se opõem à emancipação feminina, o que a torna uma espécie de "mãe por
encomenda".
Por ser tão bela, acaba despertando o interesse de muitos rapazes, temendo os riscos
sagazes que corre. Reconhece em sua riqueza, um dos motivos para tantos admiradores,
chegando até a ficar revoltada com sua fortuna. Então, começa a atribuir a cada um de
seus pretendentes, um valor diferente em contos de réis, fato conhecido dos rapazes e a
franqueza com fala sobre o assunto, faz com que todos se divertem muito.
O tutor de Aurélia, é o irmão de sua mãe, senhor Lemos que algumas vezes é convocado
para resolver problemas sem muita importância. Numa certa manhã foi chamado para
discutir sobre o casamento de sua jovem sobrinha, o que para sua surpresa, ela própria
lhe apresenta um negócio a ser entabulado para a obtenção do consentimento do futuro
marido, fazendo referência a Manuel Tavares do Amaral, empregado da alfândega, que
ajustou o casamento da filha Adelaide por um dote de trinta contos de réis, com um
rapaz recém-chegado ao Rio de Janeiro.
Pede a seu tutor que a auxilie no desmanche desse casamento, e ainda diz que a moça
deverá se casar com o Doutor Torquato Ribeiro, pois é este seu verdadeiro amor, e que
só foi repelido por ser pobre. Solicita também, que o tutor dê cinquenta contos de réis,
retirados de sua herança, a Ribeiro, para que ele possa comprar o dote da filha de
Adelaide, porque com o moço prometido a Adelaide, é ela quem vai se casar. Diz ainda
que ele deve procurar o moço escolhido, que é Fernando Rodrigues de Seixas, e lhe
propor 100 contos de réis e casamento com separação de bens, mantendo absoluto
segredo sobre quem lhe enviara a proposta.
Fernando Rodrigues de Seixas, era seu pretendido, rapaz de poucos recursos que
conhecera em sua infância e que mora com a mãe e duas irmãs que o veneram. Ficou
órfão aos 18 anos de idade, tendo que abandonar o terceiro ano do curso de Direito em
São Paulo, agora ocupando o cargo de jornalista, alcançando até algum sucesso na
imprensa fluminense. Na sociedade apresenta-se como moço rico, mas em casa, leva
uma vida muito modesta.

Procurado pelo velho, o rapaz de pronto se nega a aceitar o acordo, entretanto, dias mais
tarde, vai encontrá-lo para aceitar a proposta, desde que lhe sejam adiantados vinte
contos de réis, sem dizer em que os aplicará. O adiantamento é aceito. Seixas se decide
pelo acordo porque gastou as economias maternas e agora tem de dar à irmã um dote
para seu casamento. Sente-se ainda mais angustiado, quando descobre que Aurélia sabe
sobre a mudança do casamento com Adelaide. Triste, humilhado, mas temendo, acima
de tudo, a pobreza, decide em confirmar seu propósito com Lemos.

Após receber os vinte contos de réis, Seixas é apresentado à futura noiva. Pelo trajeto,
vai sufocado pela humilhação a que se submete, contudo Lemos avisa que a moça nada
sabe sobre o acordo. Dias mais tarde, oficializa o pedido de casamento, prontamente,
aceito por Aurélia Camargo. A sociedade fluminense fica assombrada com a notícia,
não podendo crer que com tantos admiradores ricos a escolha tenha recaído sobre um
marido sem fortuna. A celebração é modesta com poucos convidados e os noivos se
sentem felizes. Porém, quando ficam a sós, a moça se revela de forma cruel,
demonstrando-lhe desprezo e mencionando o acordo de cem contos de réis.

Emília, mãe de Aurélia, casara-se com um médico pobre, Pedro Camargo, filho natural
de um rico fazendeiro, Lourenço de Sousa Camargo, que por não reconhecer a união
dos dois, manda buscar o filho que volta para a fazenda do pai,por falta de coragem de
enfrenta-lo. Sem conseguir esquecer Emília, envia-lhe cartas amorosas e dinheiro para
seu sustento. Já separados por um ano, o casal se reencontra, resultando no nascimento
do primeiro filho, Emílio, que o pai só veio a conhecer com dois meses de vida. A partir
daí começam a conviver algumas semanas juntos e outras separados, por temerem que o
velho descubra tudo e não mais os ajude. Nessa fase nasce Aurélia, a segunda filha do
casal.
Sem poder revelar nada de seu casamento, Emília acaba por levar uma vida suspeita e
obscura. Pedro, apesar de tudo, continua a sustentar a família e a educar bem os filhos, e
após doze anos de convivência com a esposa e com apenas trinta e seis anos de idade, O
pai lhe apresenta uma noiva de quinze anos, um golpe cruel, para Pedro que se esconde
em um rancho e tem febre cerebral, não resistindo, morre, deixando três contos de réis
para que um tropeiro levasse a Emília, pedindo-o para que não mencionasse a dor pela
qual está passando, assim, faz o homem. Emília, depois dos acontecimentos perde para
sempre a alegria de viver.
Em sua infância, Aurélia levou uma vida modesta na companhia da mãe e do irmão, que
era muito fraco e que dependia sempre da ajuda, em seu trabalho de caixeiro, por ela,
que vivia sobrecarregada com tantas tarefas. Quando seu irmão morre, sua mãe começa
a preocupar-se com o seu destino, falando-lhe constantemente sobre a necessidade dela
se casar e manda que se coloque na janela, para que pudessem apreciarem sua beleza,
assim arrumaria pretendentes logo., Aurélia atende aos apelos, apesar de muito
desgostosa. Lemos, seu tio, logo corre à janela, como se candidato fosse, mas por querer
reatar laços com a família materna, ela não reage, mas quando o tio lhe deixa um bilhete
galanteador, Aurélia rompe de vez a amizade.

Fernando Seixas, é o próximo a se candidatar que, conquistando a atenção de Aurélia,
começa a frequentar sua casa, mas sente-se constrangido por namorar uma moça tão
pobre. Há outro pretendente, Eduardo Abreu, um rapaz rico e de boa família que
encantado com a beleza da moça, resolve pedir sua mão em casamento, só que ela ama
Seixas. Preocupada sua mãe resolve perguntar ao eleito sobre suas intenções em relação
à filha, mas que ao ficar sabendo do interesse de Abreu pela garota, Fernando prefere
perdê-la a fazê-la sofrer com sua pobreza, mas ao saber que Aurélia recusou o pedido de
Eduardo Abreu, retorna e a pede em casamento.

Perturbado com os rumos dos acontecimentos, o senhor Lemos resolve interferir e ao
encontrar o pai de Adelaide Amaral fala-lhe sobre as vantagens do casamento de sua
filha, já prometida a outro, com Seixas. Proposta logo aceita pelo pai que não gosta do
pretendente da filha, Doutor Torquato Ribeiro, pois sem posses, não teria muito a
oferecer a ela, no futuro. Interessa-se então por Seixas e por isso o apresenta em casa.
Nisso o rapaz começa a calcular as vantagens do casamento com Adelaide e, por fim,
quando o chefe da casa lhe oferece o dote de trinta contos de réis, aceita o pedido
imediatamente. E é através de uma carta anônima que Aurélia fica sabendo que
Fernando havia lhe trocara por um dote de trinta contos de réis, ela fica muito infeliz, e
por outro lado, o avô a reencontra, pois decidira reconhecer mãe e filha. Mas por um
infortúnio, tanto a mãe quanto o avô logo morrem. Mas em visita de um comerciante
Aurélia recebe o testamento de Lourenço de Sousa Camargo, seu avô, reconhecendo-a
como herdeira universal, juntamente apresenta uma lista de seus bens lhe explicando
sobre os negócios pendentes. Todos os parentes que jamais se aproximaram dela, assim
que souberam sobre a herança, correm para visitá-la, inclusive seu tio Lemos, já levando
uma nomeação para ser seu tutor. Muito esperta, Aurélia sabe muito bem conduzir os
negócios, graças, sobretudo ao aprendizado adquirido com o trabalho do irmão, vendose desamparada passa a morar com a parenta afastada, D. Firmina.

Pensando em recusar a tutela, Aurélia logo acha interessante ter um tutor que domina,
então aceita-o sob a condição de jamais viver com a família que tanto desprezara sua
mãe. Então fica acertado seu casamento com Fernando Seixas, por cem contos de réis, o
que é revelado por ela na noite de núpcias, quando expõe todo seu desgosto para com o
comportamento anterior do rapaz. Ao ver a fúria da noiva, diz não amá-la, que só se
interessara pelo dote e, portanto, está pronto para atender suas ordens. Atônita fica
aflita, angustiada e surpresa, então ordena que ele se retire. Daí para frente, vivem de
aparência fingindo ser um casal feliz, mas se martirizam com ironias e sarcasmos,
vivendo separados quando estão longe do convívio social.
Algum tempo depois, Fernando fica sabendo que tem direito a vinte contos de réis, que
lhe é devido de um negócio realizado enquanto solteiro. Marca um encontro reservado
com a esposa e a restitui com juros, os cem contos de réis, contando-lhe sobre as
circunstâncias que o levaram a aceitar o dinheiro. Aurélia confessa que o ama e o
perdoa, pede que ele a ame e como prova de que não o engana, mostra-lhe seu
testamento, passando-lhe tudo o que tem. Finalmente, se beijam e ficam felizes.

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  • 1. SENHORA José de Alencar. Aurélia Camargo era uma moça pobre que ficou rica graças a uma herança recebida do avô quando completara l8 anos, momento em que é apresentada à sociedade fluminense. Muito bela, deixa todos encantados. Por ser órfã, vive em companhia de uma parenta a viúva, Dona Firmina Mascarenhas, porém cabe a ela governar a casa, o que procura fazer do seu modo. A convivência com a velha senhora, é forma de não chocar aqueles que se opõem à emancipação feminina, o que a torna uma espécie de "mãe por encomenda". Por ser tão bela, acaba despertando o interesse de muitos rapazes, temendo os riscos sagazes que corre. Reconhece em sua riqueza, um dos motivos para tantos admiradores, chegando até a ficar revoltada com sua fortuna. Então, começa a atribuir a cada um de seus pretendentes, um valor diferente em contos de réis, fato conhecido dos rapazes e a franqueza com fala sobre o assunto, faz com que todos se divertem muito. O tutor de Aurélia, é o irmão de sua mãe, senhor Lemos que algumas vezes é convocado para resolver problemas sem muita importância. Numa certa manhã foi chamado para discutir sobre o casamento de sua jovem sobrinha, o que para sua surpresa, ela própria lhe apresenta um negócio a ser entabulado para a obtenção do consentimento do futuro marido, fazendo referência a Manuel Tavares do Amaral, empregado da alfândega, que ajustou o casamento da filha Adelaide por um dote de trinta contos de réis, com um rapaz recém-chegado ao Rio de Janeiro. Pede a seu tutor que a auxilie no desmanche desse casamento, e ainda diz que a moça deverá se casar com o Doutor Torquato Ribeiro, pois é este seu verdadeiro amor, e que só foi repelido por ser pobre. Solicita também, que o tutor dê cinquenta contos de réis, retirados de sua herança, a Ribeiro, para que ele possa comprar o dote da filha de Adelaide, porque com o moço prometido a Adelaide, é ela quem vai se casar. Diz ainda que ele deve procurar o moço escolhido, que é Fernando Rodrigues de Seixas, e lhe propor 100 contos de réis e casamento com separação de bens, mantendo absoluto segredo sobre quem lhe enviara a proposta. Fernando Rodrigues de Seixas, era seu pretendido, rapaz de poucos recursos que conhecera em sua infância e que mora com a mãe e duas irmãs que o veneram. Ficou
  • 2. órfão aos 18 anos de idade, tendo que abandonar o terceiro ano do curso de Direito em São Paulo, agora ocupando o cargo de jornalista, alcançando até algum sucesso na imprensa fluminense. Na sociedade apresenta-se como moço rico, mas em casa, leva uma vida muito modesta. Procurado pelo velho, o rapaz de pronto se nega a aceitar o acordo, entretanto, dias mais tarde, vai encontrá-lo para aceitar a proposta, desde que lhe sejam adiantados vinte contos de réis, sem dizer em que os aplicará. O adiantamento é aceito. Seixas se decide pelo acordo porque gastou as economias maternas e agora tem de dar à irmã um dote para seu casamento. Sente-se ainda mais angustiado, quando descobre que Aurélia sabe sobre a mudança do casamento com Adelaide. Triste, humilhado, mas temendo, acima de tudo, a pobreza, decide em confirmar seu propósito com Lemos. Após receber os vinte contos de réis, Seixas é apresentado à futura noiva. Pelo trajeto, vai sufocado pela humilhação a que se submete, contudo Lemos avisa que a moça nada sabe sobre o acordo. Dias mais tarde, oficializa o pedido de casamento, prontamente, aceito por Aurélia Camargo. A sociedade fluminense fica assombrada com a notícia, não podendo crer que com tantos admiradores ricos a escolha tenha recaído sobre um marido sem fortuna. A celebração é modesta com poucos convidados e os noivos se sentem felizes. Porém, quando ficam a sós, a moça se revela de forma cruel, demonstrando-lhe desprezo e mencionando o acordo de cem contos de réis. Emília, mãe de Aurélia, casara-se com um médico pobre, Pedro Camargo, filho natural de um rico fazendeiro, Lourenço de Sousa Camargo, que por não reconhecer a união dos dois, manda buscar o filho que volta para a fazenda do pai,por falta de coragem de enfrenta-lo. Sem conseguir esquecer Emília, envia-lhe cartas amorosas e dinheiro para seu sustento. Já separados por um ano, o casal se reencontra, resultando no nascimento do primeiro filho, Emílio, que o pai só veio a conhecer com dois meses de vida. A partir daí começam a conviver algumas semanas juntos e outras separados, por temerem que o velho descubra tudo e não mais os ajude. Nessa fase nasce Aurélia, a segunda filha do casal. Sem poder revelar nada de seu casamento, Emília acaba por levar uma vida suspeita e obscura. Pedro, apesar de tudo, continua a sustentar a família e a educar bem os filhos, e
  • 3. após doze anos de convivência com a esposa e com apenas trinta e seis anos de idade, O pai lhe apresenta uma noiva de quinze anos, um golpe cruel, para Pedro que se esconde em um rancho e tem febre cerebral, não resistindo, morre, deixando três contos de réis para que um tropeiro levasse a Emília, pedindo-o para que não mencionasse a dor pela qual está passando, assim, faz o homem. Emília, depois dos acontecimentos perde para sempre a alegria de viver. Em sua infância, Aurélia levou uma vida modesta na companhia da mãe e do irmão, que era muito fraco e que dependia sempre da ajuda, em seu trabalho de caixeiro, por ela, que vivia sobrecarregada com tantas tarefas. Quando seu irmão morre, sua mãe começa a preocupar-se com o seu destino, falando-lhe constantemente sobre a necessidade dela se casar e manda que se coloque na janela, para que pudessem apreciarem sua beleza, assim arrumaria pretendentes logo., Aurélia atende aos apelos, apesar de muito desgostosa. Lemos, seu tio, logo corre à janela, como se candidato fosse, mas por querer reatar laços com a família materna, ela não reage, mas quando o tio lhe deixa um bilhete galanteador, Aurélia rompe de vez a amizade. Fernando Seixas, é o próximo a se candidatar que, conquistando a atenção de Aurélia, começa a frequentar sua casa, mas sente-se constrangido por namorar uma moça tão pobre. Há outro pretendente, Eduardo Abreu, um rapaz rico e de boa família que encantado com a beleza da moça, resolve pedir sua mão em casamento, só que ela ama Seixas. Preocupada sua mãe resolve perguntar ao eleito sobre suas intenções em relação à filha, mas que ao ficar sabendo do interesse de Abreu pela garota, Fernando prefere perdê-la a fazê-la sofrer com sua pobreza, mas ao saber que Aurélia recusou o pedido de Eduardo Abreu, retorna e a pede em casamento. Perturbado com os rumos dos acontecimentos, o senhor Lemos resolve interferir e ao encontrar o pai de Adelaide Amaral fala-lhe sobre as vantagens do casamento de sua filha, já prometida a outro, com Seixas. Proposta logo aceita pelo pai que não gosta do pretendente da filha, Doutor Torquato Ribeiro, pois sem posses, não teria muito a oferecer a ela, no futuro. Interessa-se então por Seixas e por isso o apresenta em casa. Nisso o rapaz começa a calcular as vantagens do casamento com Adelaide e, por fim, quando o chefe da casa lhe oferece o dote de trinta contos de réis, aceita o pedido imediatamente. E é através de uma carta anônima que Aurélia fica sabendo que
  • 4. Fernando havia lhe trocara por um dote de trinta contos de réis, ela fica muito infeliz, e por outro lado, o avô a reencontra, pois decidira reconhecer mãe e filha. Mas por um infortúnio, tanto a mãe quanto o avô logo morrem. Mas em visita de um comerciante Aurélia recebe o testamento de Lourenço de Sousa Camargo, seu avô, reconhecendo-a como herdeira universal, juntamente apresenta uma lista de seus bens lhe explicando sobre os negócios pendentes. Todos os parentes que jamais se aproximaram dela, assim que souberam sobre a herança, correm para visitá-la, inclusive seu tio Lemos, já levando uma nomeação para ser seu tutor. Muito esperta, Aurélia sabe muito bem conduzir os negócios, graças, sobretudo ao aprendizado adquirido com o trabalho do irmão, vendose desamparada passa a morar com a parenta afastada, D. Firmina. Pensando em recusar a tutela, Aurélia logo acha interessante ter um tutor que domina, então aceita-o sob a condição de jamais viver com a família que tanto desprezara sua mãe. Então fica acertado seu casamento com Fernando Seixas, por cem contos de réis, o que é revelado por ela na noite de núpcias, quando expõe todo seu desgosto para com o comportamento anterior do rapaz. Ao ver a fúria da noiva, diz não amá-la, que só se interessara pelo dote e, portanto, está pronto para atender suas ordens. Atônita fica aflita, angustiada e surpresa, então ordena que ele se retire. Daí para frente, vivem de aparência fingindo ser um casal feliz, mas se martirizam com ironias e sarcasmos, vivendo separados quando estão longe do convívio social. Algum tempo depois, Fernando fica sabendo que tem direito a vinte contos de réis, que lhe é devido de um negócio realizado enquanto solteiro. Marca um encontro reservado com a esposa e a restitui com juros, os cem contos de réis, contando-lhe sobre as circunstâncias que o levaram a aceitar o dinheiro. Aurélia confessa que o ama e o perdoa, pede que ele a ame e como prova de que não o engana, mostra-lhe seu testamento, passando-lhe tudo o que tem. Finalmente, se beijam e ficam felizes.