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A EXTINÇÃO DO PREPARADOR FÍSICO
GILTERLAN FERREIRA*




       O futebol hoje está mais tático do que nunca. Sendo assim, o tempo
dedicado aos treinamentos deve ser cada vez mais, utilizado de forma
qualitativa. Quando falo isso, refiro-me a treinar de forma racional e objetiva de
acordo com a Especificidade do desporto pretendido, no nosso caso o futebol.
Diante desse pressuposto ouso afirmar que: o papel do preparador físico
tradicional está com os dias contados!




       Sendo o futebol um esporte não linear e por demais complexo é não faz
sentido nos preocuparmos tanto(ou somente) de forma quantitativa: Quantas
repetições temos que fazer? Em quanto tempo devemos realizar cada volta?
Quantos saltos devemos realizar?
A especificidade do futebol está intimamente ligada ao modo como a
equipe joga. José Mourinho define a especificidade do futebol em ''ter uma
metodologia de treinamento integralmente subordinada ao modelo de jogo.'' Se
é dessa forma, temos que transformar a nossa sessão de treino num lugar
onde os jogadores executem ações pertinentes ao modelo de jogo da equipe.
Como posso treinar de maneira diferente do que pretendo? Ora, se quero que
minha equipe adquira hábitos específicos, tenho que criar treinos com
situações específicas. Desta forma, os jogadores vivenciarão variadas
situações e então poderão encontrar soluções para resolver os eventuais
problemas que fatalmente irão surgir. Quanto mais confrontar-se com variados
constrangimentos no treino, mais o jogador aumentará o seu repertório de
aprendizagens e saberá o que fazer para resolver mais rapidamente as
situações-problemas proporcionadas pelo jogo. Assim, as Intenções Prévias,
ou seja, aquilo que temos em mente, aquilo que pedimos aos jogadores para
executar, poderão transformar-se, de fato, em Intenções em Ato, pois os
jogadores estarão habituados a fazê-lo.

        Sobre como criar essas situações (exercícios) Rui Faria (adjunto de José
Mourinho) tem a sua ideia:

''Fundamentalmente temos que perceber que o exercício quando surge já tem que estar
configurado de modo a que os comportamentos que pretendemos em termos de princípio, de
objetivo, se evidenciem, ou seja, quando o estruturamos já críamos condições para que o que
pretendemos surja com frequência. Isto é o mais importante, é a Especificidade do exercício e
nós como treinadores, em função das nossas necessidades é que vamos elaborar o exercício
de acordo com determinado objetivo.''


        Diante disso, como ainda perde-se tempo com corridas cíclicas que nada
tem a ver com o jogo de futebol, excetuando-se o simples fato do futebol
também utilizar-se da corrida? O preparador mais do que nunca tem que
entender de futebol. A fisiologia é um suporte que precisamos, mas não a única
ferramenta, ainda mais se utilizada de forma isolada.

        Por isso, não creio que a figura do preparador físico vá perdurar por
muito     tempo. Falo      do    preparador      físico   tradicional.    O    profissional
descontextualizado com o todo. O separatista! Creio que este profissional
passará a ser um fortíssimo adjunto do treinador. E não somente essa figura
reducionista que hoje existe.


             Estamos em uma época onde paradigmas são constantemente
quebrados. A busca pelo conhecimento é cada vez mais voraz e contínuo.
Portanto, partindo desse pressuposto, creio que estamos a um passo de
transgredir as regras do pensamento analítico em detrimento do pensamento
sistêmico. "(...) esta forma redutora de interpretar os problemas complexos e os
procedimentos abstratos tem caído em falência metodológica." (Durand, 1979).
Hoje aceita-se a ideia de equipe como um sistema complexo de elementos em
interação.




“Concorrendo para essa questão, Morin (1997) refere-nos que o sistema é um
‘todo’ constituído pelas relações dos seus constituintes. Nesse seguimento, o
‘jogar’ expressa as relações de cooperação entre os colegas e de oposição
com os adversários. De acordo com essa concepção, o jogo é um sistema de
‘sistemas’.” (GOMES, 2008)


             Alguns de nós, Preparadores Físicos, alegamos trabalhar em
especificidade, pois não utilizamos longas corridas contínuas e trabalhamos
'com bola', porém, a visão cartesiana continua norteando todo o processo. Não
quero aqui dizer que, EU trabalho em Especificidade, longe disso. O assunto é
por demais complexo, e não me deixa falar em tal situação. Porém, creio que o
primeiro passo, para que isso um dia realmente ocorra, será libertarmos-nos
das correntes do comodismo, das amarras dos pensamentos arcaicos,
retrógrados     e   reducionistas   que   permeiam     a   nossa    sociedade.
Tenho falado que é difícil sairmos da nossa zona de conforto, pois é muito mais
cômodo repetirmos o que fazemos, repetidamente, ano após ano. Muitos, para
justificar o que não se conhece, falam na questão cultural de nossos jogadores
como um dos fatores limitadores para emprego da Periodização Tática. Ora, se
nossos jogadores são produtos do meio em que estão inseridos, como
podemos mudar esse quadro cultural? (A resposta é óbvia! Ou não?). Isso, ao
meu ver, é a prova maior do comodismo ao qual estamos inseridos. Pensar e
sistematizar nossa prática é tarefa árdua, e não estamos acostumados a
pensar complexamente.
       Eu, como Preparador Físico, não me sinto 'ameaçado' ou coisa parecida.
Sinto-me, cada vez mais, entusiasmado com a mudança de paradigma que se
desenha. Cada vez mais, vislumbro a possibilidade de fazer parte de um
'futebol pensante'. Afinal, o futebol nada mais é do que um jogo. E o jogo é pra
ser jogado!


*Gilterlan Ferreira é Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual do Rio Grande
do Norte e Especialista em Treinamento Desportivo pela Universidade Veiga de Almeida- RJ




Referências

Amieiro, N., Barreto, N., Oliveira, B., & Resende, N. “Mourinho – Porquê tantas vitórias? (1ed.).
Lisboa. Gradiva, 2006.

CAMPOS, Carlos (2007); A Singularidade da Intervenção do Treinador como a sua «Impressão
Digital» na… Justificação da Periodização Táctica como uma «fenomenotécnica». Porto: C.
Campos. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade
do Porto. Sob orientação do Professor Doutor Vitor Frade.

GOMES, Marisa S. “O desenvolvimento do jogar, segundo a Periodização Tática”. Pontevedra.
McSports, 2008.

OLIVEIRA, José Guilherme (2004); Uma concepção de treino: Periodização Tática. Faculdade
de Ciências do Desporto e de Educação Física - Universidade do Porto - Gabinete de Futebol –
Mestrado de Alto Rendimento Desportivo.

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A extinção do preparador físico

  • 1. A EXTINÇÃO DO PREPARADOR FÍSICO GILTERLAN FERREIRA* O futebol hoje está mais tático do que nunca. Sendo assim, o tempo dedicado aos treinamentos deve ser cada vez mais, utilizado de forma qualitativa. Quando falo isso, refiro-me a treinar de forma racional e objetiva de acordo com a Especificidade do desporto pretendido, no nosso caso o futebol. Diante desse pressuposto ouso afirmar que: o papel do preparador físico tradicional está com os dias contados! Sendo o futebol um esporte não linear e por demais complexo é não faz sentido nos preocuparmos tanto(ou somente) de forma quantitativa: Quantas repetições temos que fazer? Em quanto tempo devemos realizar cada volta? Quantos saltos devemos realizar?
  • 2. A especificidade do futebol está intimamente ligada ao modo como a equipe joga. José Mourinho define a especificidade do futebol em ''ter uma metodologia de treinamento integralmente subordinada ao modelo de jogo.'' Se é dessa forma, temos que transformar a nossa sessão de treino num lugar onde os jogadores executem ações pertinentes ao modelo de jogo da equipe. Como posso treinar de maneira diferente do que pretendo? Ora, se quero que minha equipe adquira hábitos específicos, tenho que criar treinos com situações específicas. Desta forma, os jogadores vivenciarão variadas situações e então poderão encontrar soluções para resolver os eventuais problemas que fatalmente irão surgir. Quanto mais confrontar-se com variados constrangimentos no treino, mais o jogador aumentará o seu repertório de aprendizagens e saberá o que fazer para resolver mais rapidamente as situações-problemas proporcionadas pelo jogo. Assim, as Intenções Prévias, ou seja, aquilo que temos em mente, aquilo que pedimos aos jogadores para executar, poderão transformar-se, de fato, em Intenções em Ato, pois os jogadores estarão habituados a fazê-lo. Sobre como criar essas situações (exercícios) Rui Faria (adjunto de José Mourinho) tem a sua ideia: ''Fundamentalmente temos que perceber que o exercício quando surge já tem que estar configurado de modo a que os comportamentos que pretendemos em termos de princípio, de objetivo, se evidenciem, ou seja, quando o estruturamos já críamos condições para que o que pretendemos surja com frequência. Isto é o mais importante, é a Especificidade do exercício e nós como treinadores, em função das nossas necessidades é que vamos elaborar o exercício de acordo com determinado objetivo.'' Diante disso, como ainda perde-se tempo com corridas cíclicas que nada tem a ver com o jogo de futebol, excetuando-se o simples fato do futebol também utilizar-se da corrida? O preparador mais do que nunca tem que entender de futebol. A fisiologia é um suporte que precisamos, mas não a única ferramenta, ainda mais se utilizada de forma isolada. Por isso, não creio que a figura do preparador físico vá perdurar por muito tempo. Falo do preparador físico tradicional. O profissional descontextualizado com o todo. O separatista! Creio que este profissional
  • 3. passará a ser um fortíssimo adjunto do treinador. E não somente essa figura reducionista que hoje existe. Estamos em uma época onde paradigmas são constantemente quebrados. A busca pelo conhecimento é cada vez mais voraz e contínuo. Portanto, partindo desse pressuposto, creio que estamos a um passo de transgredir as regras do pensamento analítico em detrimento do pensamento sistêmico. "(...) esta forma redutora de interpretar os problemas complexos e os procedimentos abstratos tem caído em falência metodológica." (Durand, 1979). Hoje aceita-se a ideia de equipe como um sistema complexo de elementos em interação. “Concorrendo para essa questão, Morin (1997) refere-nos que o sistema é um ‘todo’ constituído pelas relações dos seus constituintes. Nesse seguimento, o ‘jogar’ expressa as relações de cooperação entre os colegas e de oposição com os adversários. De acordo com essa concepção, o jogo é um sistema de ‘sistemas’.” (GOMES, 2008) Alguns de nós, Preparadores Físicos, alegamos trabalhar em especificidade, pois não utilizamos longas corridas contínuas e trabalhamos 'com bola', porém, a visão cartesiana continua norteando todo o processo. Não quero aqui dizer que, EU trabalho em Especificidade, longe disso. O assunto é por demais complexo, e não me deixa falar em tal situação. Porém, creio que o primeiro passo, para que isso um dia realmente ocorra, será libertarmos-nos das correntes do comodismo, das amarras dos pensamentos arcaicos, retrógrados e reducionistas que permeiam a nossa sociedade.
  • 4. Tenho falado que é difícil sairmos da nossa zona de conforto, pois é muito mais cômodo repetirmos o que fazemos, repetidamente, ano após ano. Muitos, para justificar o que não se conhece, falam na questão cultural de nossos jogadores como um dos fatores limitadores para emprego da Periodização Tática. Ora, se nossos jogadores são produtos do meio em que estão inseridos, como podemos mudar esse quadro cultural? (A resposta é óbvia! Ou não?). Isso, ao meu ver, é a prova maior do comodismo ao qual estamos inseridos. Pensar e sistematizar nossa prática é tarefa árdua, e não estamos acostumados a pensar complexamente. Eu, como Preparador Físico, não me sinto 'ameaçado' ou coisa parecida. Sinto-me, cada vez mais, entusiasmado com a mudança de paradigma que se desenha. Cada vez mais, vislumbro a possibilidade de fazer parte de um 'futebol pensante'. Afinal, o futebol nada mais é do que um jogo. E o jogo é pra ser jogado! *Gilterlan Ferreira é Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte e Especialista em Treinamento Desportivo pela Universidade Veiga de Almeida- RJ Referências Amieiro, N., Barreto, N., Oliveira, B., & Resende, N. “Mourinho – Porquê tantas vitórias? (1ed.). Lisboa. Gradiva, 2006. CAMPOS, Carlos (2007); A Singularidade da Intervenção do Treinador como a sua «Impressão Digital» na… Justificação da Periodização Táctica como uma «fenomenotécnica». Porto: C. Campos. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Sob orientação do Professor Doutor Vitor Frade. GOMES, Marisa S. “O desenvolvimento do jogar, segundo a Periodização Tática”. Pontevedra. McSports, 2008. OLIVEIRA, José Guilherme (2004); Uma concepção de treino: Periodização Tática. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física - Universidade do Porto - Gabinete de Futebol – Mestrado de Alto Rendimento Desportivo.