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Ano da Vida Consagrada
S. Bento de Nursia, fundador da Ordem dos BeneditinosS. Bento de Nursia, fundador da Ordem dos Beneditinos
Nursia, 24 março 480 – Monte Cassino, 21 março 547Nursia, 24 março 480 – Monte Cassino, 21 março 547
100 ANOS DO “GENOCÍDIO DO POVO ARMÉNIO”
• 60 anos da Difusora e da “Bíblica”
• 50 anos da 1ª Bíblia da Difusora
Ano61/maio-junho2015/Nº358/€1.50
ONDE A BÍBLIA SE FAZ VIDA
Que dizem os Evangelhos
sobre a Virgem Maria?
Ler a Bíblia com os pés
Escrevo este apontamento em Jerusalém. Os 50 anos da primeira Bíblia
dos Capuchinhos deram-me esta oportunidade.
NHAR na terra Santa percorrendo os caminhos e os
lugares dos personagens bíblicos, foi para mim uma
forma de poder ler a Bíblia com os pés.
• A Grande Sinagoga dos judeus está perto da casa dos Ca-
puchinhos. Caminhar de uma até à outra foi o meu primeiro
percurso, sentindo-me assim incluído no caminho bíblico
que vai de Abraão até Jesus Cristo.
• Andei pelas calçadas de Jerusalém, gastas pelos pés de tan-
tos profetas, reis, sacerdotes, doutores da lei, curiosos, devo-
tos, turistas… e fui tentando ler nas suas paredes as razões
dos meus passos, sem misturar as probabilidades da história com as verdades teológicas.
• No Muro das Lamentações, olho as pedras que restam do templo antigo e observo,
leio e entendo como «o templo de deus é santo» mas acreditando mais como «vós sois esse
templo» (1Cor 3,17).
• Em Belém, subo até à igreja da Natividade onde encontro a casa do pão e da paz. Porém,
deste lado estão os árabes; do outro lado estão os judeus. Quem os divide é um muro de ci-
mento construído há dias, não Aquele que nasceu em Belém para ser pão e paz para todos.
• Nas margens do Mar Morto (e continua a morrer vários centímetros por ano), com
praias de sal e de mitos, vou decifrando nas estrelas, inseguro mas confiante como Abraão,
códigos de vozes e destinos incertos.
• Perto dali, caminhei com a comunidade essénia dentro das cavernas milenares e escu-
ras de Qunran, segurando numa das mãos os Evangelhos e na outra a lanterna de isaías.
• Um dia, também eu desci de Jerusalém a Jericó; mas foi no regresso que fiz de Bom Sa-
maritano, ao prestar ajuda a um muçulmano, cedendo-lhe duas garrafas de água para o
motor do carro avariado na estrada.
• Mais de uma vez passei pela Porta de Jaffa, para entrar na cidade de tantas cores, sons
e credos… Controladores e câmaras de vigilância só encontrei nos guardas cristãos auto-
ritários, rígidos e intolerantes na disputa e controlo do Santo Sepulcro.
• Nas poeiras do Deserto da Judeia não foi fácil ajustar as minhas pegadas às de Jesus.
Encontrei apenas mosteiros, beduínos e silêncios de João Baptista.
• Ainda subi com alguma dificuldade o Monte da Transfiguração, para, lá em cima, ver o
tempo convertido em templo e voltar a descer para devolver à planície as tábuas de Moisés.
Em meu andar, a palavra bíblica lida com os pés era, no fim do dia, percorrida
pela reflexão da fé, convencido de que o mais importante não é saber andar pelos
caminhos que Jesus pisou, mas saber se Ele anda pelos caminhos que eu piso.
O diretor
cAMI
SITUAR a palavra
01 Ler a Bíblia com os pés
ESTUDAR a palavra
04 Que dizem os Evangelhos sobre a Virgem
Maria?
CELEBRAR a palavra
10 Leituras bíblicas de junho e julho
33 Salmo 116
40 Cântico: Vós sois o sal da terra
SECÇÕES
02 AtUALidAdE: Centenário
do “genocídio arménio”
11 tERRA SANtA:
O Genocídio do Povo Arménio
34 VidA CONSAGRAdA: ter na pele a
sensação de ter salvo uma vida
38 MOViMENtO BíBLiCO: Ações bíblicas 2015
XXiV Semana Bíblica de Barcelos
39 EM fAMíLiA: Voltar ao primeiro amor
41 CRÓNiCA: Na Paróquia Portuguesa de
Paris
43 MáRtiR: dom Óscar Romero, beatificado
45 NOtíCiAS do mundo bíblico
Ano 61 / Nº 358 / maio-junho 2015
Sumário
CAPA: Momentos de evocação do centenário do “genocídio
do povo arménio”, em 24 de abril passado.
CONTRA-CAPA: São Bento, um dos patronos da Europa.
Fresco de Fra Angelico. Festa litúrgica: 11 de julho.
18 60 anos da Revista Bíblica:
História breve de um longo amor
22 50 anos da 1ª edição da Bíblia:
Um livro é como um filho
22 A Bíblia em Portugal
A Bíblia católica em Portugal na segunda
metade do século XX
ASSINATURAS Portugal: € 10,00;
Europa, Macau, Guiné Bissau, S.
Tomé e Príncipe: € 14,50; Países
fora da Europa: € 17,50; Assinante
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indicada para a respetiva assinatura.
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DOSSIÊ / O grão de mostarda
Sem palavras... e sem obras!
O mal feito deve ser reco-
nhecido e, na medida do
possível, reparado. Outro
pressuposto essencial do
perdão e da reconciliação é
a justiça. Não há contradição
alguma entre perdão e jus-
tiça. Com efeito, o perdão
não elimina nem diminui a
exigência de reparação, que
é própria da justiça.»
A dor pela ofensa costu-
ma transformar-se em ira e
ódio para com o agressor e
tudo aquilo que recorda o
prejuízo recebido faz reviver
a dor. Sem perdão é impossí-
vel libertar-se do rancor e do
ódio. É necessário perdoar,
pois só assim se distingue
entre agressor e ofensa, pe-
cado e pecador, dignificando
quem praticou o mal.
Não pretendo fazer uma
alegação reivindicativa, que
não me compete. Porém, nu-
ma publicação cristã e cató-
lica, não podemos deixar de
dizer e buscar a verdade e co-
municá-la, para romper as ca-
deias do rancor; em defini-
tiva, para ser mais livres.
386 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 387
bíblica
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Direção gráfica
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DiFuSORA BíBLiCA
(Franciscanos Capuchinhos)
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Depósito Legal: nº 28340/89
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isento de registo na ERC, ao
abrigo do decreto regulamentar
8/99 - 9/6 do artigo 12 nº 1a)
Tiragem: 8.000 exemplares
Fecho deste número:
05 de maio
Sócio da AIC nº 258
ONDE A BÍBLIA SE FAZ VIDA
de cristãos sírios e assírios.
O termo «genocídio» não
existia nos princípios do sé-
culo XX; foi cunhado 30 anos
depois pelo jurista judeo-po-
laco Raphael Lemkin (que
fugiu à perseguição nazi en-
contrando asilo nos Estados
Unidos), sendo tipificado no
direito internacional como
«o delito que nega o direito
de um grupo humano con-
creto a existir». O não reco-
nhecimento do acontecido,
por parte dos sucessivos go-
vernos da turquia até hoje,
faz com que, cem anos de-
pois, as vítimas continuem a
exigir que se faça justiça.
«Conhecereis a verdade,
e a verdade vos tornará livres» (Jo 8,32)
ATUALIDADE
Centenário do
“genocídio arménio”
Em 24 de abril deste ano
cumpriu-se o centenário do
genocídio arménio. Nessa
mesma data, um século an-
tes, o Governo otomano dos
Jovens turcos promulgava a
Lei de deportação, com a
qual oficialmente se dava i-
nício ao aniquilamento dos
cidadãos arménios do impé-
rio, acabando também com
várias centenas de milhares
O não reconhecimento
do acontecido, por
parte dos sucessivos
governos da Turquia até
hoje, faz com que, cem
anos depois, as vítimas
continuem a exigir que
se faça justiça.
«O perdão, como ato de
amor, também tem as
suas próprias exigên-
cias: a primeira é o
respeito da verdade»
(João Paulo II).
José Manuel Martínez
diretor da revista Tierra Santa
A Turquia insiste em falar de “efeitos colaterais” e considera despropositadas
as palavras do Papa Francisco sobre o “genocídio do povo arménio”. Porém, as
imagens falam por si.
este século, milhões de
crianças,mulhereseho-
mens têm sido vítimas
de atrocidades que desafiam
a imaginação e comovem
profundamenteaconsciência
da humanidade», lê-se no
Preâmbulo do Estatuto de
Roma, em que se cria a Corte
Penalinternacional, organis-
mo encarregado de julgar os
crimes de genocídio.
NN
dizia São João Paulo II, na
sua mensagem para a XXX
Jornada Mundial da Paz, em
1997: «O perdão, como ato
de amor, também tem as su-
as próprias exigências: a pri-
meira é o respeito da verda-
de. Longe de excluir a pro-
cura da verdade, exige-a.
b
DESENHODEPAOLOCOSSI
trou unicamente na morte e na ressurreição
de Jesus. tudo o que se referia à sua vida his-
tórica foi relegado para segundo plano.
Maria, a desfavorecida
depois de Paulo, foi MARCOS quem com-
pôs o seu livro, por volta de ano 70. É o pri-
meiro a dar-lhe o nome de “Maria”, e refere-a
em dois episó-
dios do seu Evan-
gelho.
Num, apresen-
ta-a junto dos ir-
mãos de Jesus, is-
to é, com o resto
da família, e con-
ta como um dia,
em que seu filho
estava a pregar
numa casa da al-
deia, ela chegou
para o procurar e
levar consigo, por-
que pensava que
se tinha tornado
louco, devido às
coisas que ensina-
va (Mc 3,20-21).
Quando Jesus soube que a sua mãe e a sua
família o buscavam, exclamou: «”Quem são a
minha mãe e meus irmãos?” E percorrendo com o
olhar os que estavam à volta dele, disse: “Aí estão
minha mãe e meus irmãos: aquele que fizer a von-
tade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã
e minha mãe”» (Mc 3,31-35).
O relato de Marcos é bastante pouco favo-
rável para Maria, e para o resto dos “irmãos
de Jesus”, pois constituem um grupo que não
compreende a sua missão. Por isso Jesus
toma distância em relação a eles, considera os
seus ouvintes como a sua verdadeira família.
Maria, a ignorada
Os escritos mais antigos do Novo testa-
mento foram as Cartas de SÃO PAULO, com-
postas entre os anos 50 e 56. Nelas, embora
haja três referências ao nascimento de Jesus,
nunca se fala de Maria.
A primeira alusão encontra-se na carta
aos filipenses, onde Paulo afirma de Jesus:
«tornando-se semelhante dos homens» (fl 2,7).
A segunda está na epístola aos Romanos;
diz que Jesus nasceu «da descendência de Da-
vid» (Rm 1,3).
A terceira, e mais explícita, na carta aos
Gálatas: «Quando chegou a plenitude do tempo,
Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher”
(Gl 4,4).
Vemos, pois, que São Paulo nunca men-
ciona Maria, nem ensina o nascimento virgi-
nal de Jesus. talvez o desconhecesse. Ou
talvez preferisse passá-lo por alto, por não o
considerar um dado importante para o anún-
cio do Evangelho. O facto é que Paulo se cen-
Não é herança de família
O segundo episódio em que Marcos
alude a Maria, tem lugar na sinagoga de Na-
zaré. Jesus tinha entrado para pregar, e os
presentes, assombrados, comentaram: «”De
onde lhe vem essa sabedoria e esse poder de fazer
milagres? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Ma-
ria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E
as suas irmãs não estão aqui entre nós?” E isto pare-
cia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: “Um profeta só
é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e
em sua casa”» (Mc 6,1-4).
Estas palavras de Jesus confirmam a opi-
nião desfavorável que Marcos tinha sobre a
família de Jesus, pois reiteram que os seus
parentes e os de sua casa o desprezavam.
Porque terá conservado Marcos, no seu
Evangelho, esta recordação negativa da famí-
lia de Jesus? Ao que parece, a causa deve-se
a que, nos primeiros tempos, os parentes de
Jesus teriam pensado ser os únicos com di-
reito a ser dirigentes das comunidades cris-
tãs. Era uma prática comum no antigo
Oriente, onde o sacerdócio e as outras fun-
ções sociais se recebiam por herança familiar.
Marcos, que escreve para leitores pagãos e
não vê isto com bons olhos, incluiu esta frase
de Jesus a fim de esclarecer que na família do
Senhor se entrava pela escuta da sua palavra,
não por laços de sangue.
Maria, a reconsiderada
Passaram os anos, e o pensamento cristão
começou a interrogar-se e a averiguar mais
acerca da infância de Jesus. Como fruto des-
sas reflexões, foi também aparecendo uma fi-
gura de Maria más destacada.
foi então quando tocou a MATEUS escre-
ver o seu Evangelho, cerca do ano 80. É o pri-
meiro a aportar pormenores da infância de
Jesus (Mt 1-2), e na sua obra relata como o
menino foi concebido por obra do Espírito
Santo, sem a cooperação de José (Mt 1,18).
388 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 389
A BÍBLIA RESPONDE
Que dizem os Evangelhos sobre
a Virgem Maria?
Ariel Álvarez Valdés
arialvavaldes@yahoo.com.ar
As várias Marias
Para muitos cristãos, a figura da Virgem
Maria ocupa um lugar relevante, tanto na sua
fé como na sua devoção. E pensam que toda
a Bíblia apoia este ponto de vista. Mas, se ler-
mos o Novo testamento com cuidado, leva-
mos uma surpresa: nem todos os livros lhe
atribuem um papel destacado.
Porquê? Porque entre os primeiros e os úl-
timos escritos, passaram mais de 60 anos, e
nesse intervalo verificou-se uma evolução na
imagem de Maria.
de facto, quando as primeiras obras do
Novo testamento apareceram, ainda não se
tinha desenvolvido entre os cristãos a grande
veneração que se produzirá mais tarde para
com a mãe de Jesus. Uma tal deferência só
aparecerá gradualmente nas antigas comuni-
dades, e ficará refletida progressivamente
nos autores sagrados.
Uma análise cuidadosa dos textos bíblicos
pode revelar-nos essa evolução.
Muitos cristãos temos Maria como a criatura mais sublime da história da salvação,
e consideramo-la um exemplo de entrega e de amor. Mas, nos primeiros séculos, aos
autores do Novo Testamento não foi fácil entender e desenvolver a sua figura.
Tiveram que evoluir lentamente, e as marcas desta progressão ficaram registadas nos
seus livros. É o que analisamos neste estudo.
Aparece, sobretudo, como
modelo de crente e de mu-
lher atenta à Palavra de
deus.
Maria, aquela que escuta
E que foi feito às duas
cenas negativas de Marcos?
Lucas também as narra, mas
alterando-as, para exaltar
mais a sua figura.
Na primeira, tal como já
fizera Mateus, eliminou a
cena em que ela considerava
Je-sus como louco; e a se-
guinte, quando vai procurá-
lo com os seus irmãos, é
transformada num verdadeiro elogio de
Maria. Para isso, Lucas elimina primeiro a
pergunta de Jesus («Quem são a minha mãe e
meus irmãos?»), que supunha certa distância
entre mãe e filho; em seguida suprime o
gesto de Jesus («percorrendo com o olhar os que
estavam à volta dele»), que marcava um con-
traste entre a sua família carnal e os seus se-
guidores. finalmente, não diz «aí estão minha
mãe e meus irmãos», indicando os seus discí-
pulos e excluindo os seus parentes, mas: «Mi-
nha mãe e meus irmãos são aqueles que escutam a
palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8,19-
-21). Ora, comoantestinha apresentado Maria
totalmente entregue a escutar a palavra de
deus, essas palavras soam implicitamente
como um verdadeiro louvor à mãe de Jesus.
Para mostrar a sua fidelidade
No que diz respeito à segunda cena, em
que Jesus é rejeitado em Nazaré, Marcos ha-
via escrito: «Um profeta só é desprezado na sua
pátria, entre os seus parentes e em sua casa» (Mc
6,4). Mateus suavizou-o: “só na sua pátria e em
sua casa» (Mt 13,57), eliminando os parentes.
E Lucas escreve: «Nenhum profeta é bem rece-
deste modo, sen-
do Maria a única
progenitora, a sua fi-
gura passou a ocu-
par um lugar mais
central na história da
salvação.
Mesmo assim, no
Evangelho de Ma-
teus, ela ainda de-
sempenha um papel
secundário. O perso-
nagem central, du-
rante a infância de
Jesus, é sem dúvida
José. A ele um anjo
anuncia o nasci-
mento de Jesus (Mt
1,20) e o encarrega
de lhe dar o nome,
quando nascer (Mt
1,21). A ele é advertido que fuja para o Egito,
porque queriam matar o menino (Mt 2,13). E
a ele é comunicada a ordem de regressar a is-
rael (Mt 2,20). Maria, pelo contrário, não diz
nada nem faz nada. É uma figura quase de
passagem.
Maria, a resgatada
Mateus também inclui no Evangelho os
dois episódios de Marcos sobre Maria. Mas,
como tem dela um conceito mais positivo,
não pode relatá-los como fez Marcos; por
isso, procura modificá-los.
Em relação ao primeiro, eliminou a cena
em que ela pensa que seu filho está louco; e
embora conserve a seguinte, em que ela o vai
buscar, com seus irmãos, à casa onde estava a
pregar, deixa a impressão de que ela vai bus-
cá-lo, não porque o julgasse transtornado, mas
para escutá-lo, porque era uma verdadeira
discípula, como os outros ouvintes que esta-
vam com Ele nesse momento (Mt 12,46-50).
Com respeito ao segundo episódio, quan-
do Jesus é desprezado em Nazaré, Mateus
diz que Jesus exclamou: «Um profeta só é des-
prezado na sua terra e em sua casa», mas supri-
me «e entre os seus parentes», para que estes
(entre os quais estava Maria), não saíssem
malparados (Mt 13,58).
Mateus, pois, melhorou o perfil de Maria
no seu Evangelho, apesar do papel que de-
sempenha continuar a ser menor.
Maria, a protagonista
No Evangelho de LUCAS, contemporâneo
de Mateus, a figura de Maria atinge um nível
extraordinário. Vemo-lo logo no início da sua
obra, onde ela será a personagem central e
destacada dos relatos da infância de Jesus.
Antes de mais, é a ela e não a José, que o
anjo Gabriel anuncia o nascimento de Jesus
(Lc 1,26-38). É a ela e não a José, a quem se
encarrega de pôr um nome a Jesus (Lc 1,31).
E, diferentemen-
te de Mateus, on-
deelanunca fala,
em Lucas, Maria
não só fala, mas
coloca objeções
ao próprio anjo
(Lc 1,34).
deste modo,
Lucas mostra que
deus tem neces-
sidade de Maria,
e não fará nada
sem o seu con-
sentimento.
Além disso,
enquanto que em
Mateus a conce-
ção virginal é a-
penas um dado
referido num ver-
sículoedepassa-
390 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 391
gem (Mt 1,18), em Lucas o anjo explana lon-
gamente sobre o tema (Lc 1,30-35). E Maria
recebe o título de «cheia de graça» (Lc 1,28),
único em todo o Novo testamento.
Maria, o exemplo
Mas isso ainda não é tudo. Em Lucas há
mais elogios para Maria. Quando visita a sua
parente isabel, esta louva-a, dizendo: «Bendita
és tu entre as mulheres» (Lc 1,42); «Feliz de ti que
acreditaste» (Lc 1,45). E Ela reconhece: «De hoje
em diante, me chamarão bem-aventurada todas as
gerações» (Lc 1,48).
Quando Jesus nasce, Lucas regista que foi
Maria a única a envolvê-lo entre panos e a re-
cliná-lo numa manjedoura (Lc 2,6-7), como se
fosse a única a intervir no mistério do nasci-
mento. E surge duas vezes: «conservava todas es-
tascoisas,poderando-asemseucoração»(Lc2,19.51).
Com Lucas, pela primeira vez o Novo tes-
tamentointeressa-sepessoalmentepor Maria:
as suas reações, o que ela pensa e sente. Já não
é uma figura meramente passiva, como em
Mateus, mas interroga, responde, dialoga,
consente. Ela corre depressa, canta, admira-
-se, maravilha-se, e sofre angustiosamente.
A BÍBLIA RESPONDE
Cristo Pantocrator, ladeado pelas figuras de Maria e do evangelista
Marcos. No livro, em latim, as palvras de Jesus em João 10,9:
“Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo.”
bido na sua pátria» (Lc 4,24), eliminando os pa-
rentes, a casa, e trocando “desprezado” por
“não é bem recebido”; com estas voltas, con-
seguiu evitar qualquer suspeita sobre Maria.
A estes dois episódios de Marcos (e Ma-
teus), Lucas acrescentou outros dois, de
modo que o seu Evangelho contém quatro
paisagens com alusões a Maria, fora da in-
fância de Jesus.
O terceiro está na genealogia, onde se lê:
«Ao iniciar o seu ministério, Jesus tinha uns trin-
ta anos. Supunha-se que era filho de José» (Lc 3,
23). Ao escrever «supunha-se», Lucas faz uma
clara referência à conceção virginal, que já
tinha narrado no início do seu Evangelho.
O quarto episódio é o da mulher que, um
dia, na rua, se emociona e grita para Jesus:
«Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios
que te amamentaram!» E Jesus respondeu-lhe:
«Felizes, antes, são os que escutam a palavra de
Deus e a põem em prática» (Lc 11,27-28). trata-
-se de uma passagem ambígua, que nas suas
origens talvez revelasse a distância entre
Jesus e a sua família biológica, mas que Lucas
utiliza aqui para exaltar Maria pela sua fide-
lidade a à palavra de deus.
Maria, o símbolo
finalmente, por volta do ano 100, é escrito
o Evangelho de JOÃO. E, com ele, chegamos
à máxima glorificação de Maria. Lucas tinha-
a apresentado como exemplo pessoal de dis-
cípula e crente fiel. Agora, João apresenta-a
como símbolo coletivo, como emblema de
toda a comunidade crente. Essa é a razão pela
qual o quarto Evangelho nunca lhe dá o seu
nome próprio de “Maria”, nem refere qual-
quer episódio histórico da sua vida.
Em duas cenas, que são exclusivas deste
Evangelho, nota-se claramente este simbolismo.
A primeira é nas bodas de Caná (Jo 2,1-
-12), quando, no meio de uma festa, os noi-
vos ficam sem vinho. A pedido de sua mãe,
392 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 393
A BÍBLIA RESPONDE
Jesus transforma
600 litros de á-
gua, que os ju-
deus utilizavam
para realizar a su-
as purificações ri-
tuais, em 600 litros
de vinho de exce-
lente qualidade.
Certamente
não estamos aqui
perante um sim-
ples episódio his-
tórico, sucedido
numa aldeia da
Galileia. Pela o-
missão do nome de Maria, e pelo modo como
Jesus lhe fala (chama-lhe “mulher”), vê-se
que o evangelista quis narrar-nos um episó-
dio simbólico. Os profetas tinham anuncia-
do que, quando chegasse o fim dos tempos,
deus organizaria um alegre banquete com vi-
nhos abundantes da melhor qualidade (Am
9,13-14; is 25,6-8; Jl 4,18). Nessa festa, realizar-
-se-ia o matrimónio definitivo entre deus e
toda a comunidade (is 61,10; 62,4; Os 2,16-25).
Pois bem, na cena de Caná, a mãe repre-
senta o povo de israel, a comunidade da an-
tiga aliança, que reconhece e aceita Jesus
como Messias. Por isso está em festa, num
banquete de casamento. E por isso Jesus, o
enviado de deus que devia vir, é que se en-
carrega de dar o vinho aos convidados, nada
menos que 600 litros, de excelente qualidade.
Maria, o símbolo
A segunda cena do Evangelho de João, é
aquela em que Jesus agoniza, suspenso no
madeiro da cruz, e sua mãe está junto dele.
João escreve: «Então Jesus, ao ver ali ao pé a sua
mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe:
“Mulher, eis o teu filho!” Depois, disse ao discí-
pulo: “Eis a tu mãe!”» (Jo 19,26-27).
tampouco este episódio pretende descre-
ver um simples drama familiar, sucedido mi-
nutos antes da morte de Jesus. Uma vez mais,
o evangelista omite o nome de Maria, e Jesus
chama-lhe novamente, “mãe”. trata-se, pois,
como na anterior, de uma cena com forte carga
simbólica. tal como nas bodas de Caná, a mãe
de Jesus personifica o povo de israel, a comu-
nidade fiel da antiga aliança, que agora recebe
o encargo de aceitar como filho o discípulo
amado (símbolo da comunidade cristã da no-
va aliança). desta maneira, o autor quer des-
tacar a unidade que deve existir entre o povo
doAntigo testamento e o do Novo testamento.
A paciência de Deus
Muitos cristãos temos Maria como a cria-
tura mais sublime da história da salvação, e
consideramo-la um exemplo de entrega e de
amor cristãos. Porém, nem sempre foi assim.
Como vimos, nos primeiros séculos, aos au-
tores do Novo testamento não foi fácil en-
tender e desenvolver a sua figura. tiveram
que evoluir lentamente, e as marcas desta
progressão ficaram registadas nos seus livros.
também hoje, entre os cristãos, existem
diferentes posições em relação a Maria. Uns
olham-na com indiferença. Outros tratam-na
com receio. Alguns veneram a sua virgin-
dade e a sua grandeza; mas, na sua própria
vida de fé, só lhe concedem um papel pas-
sivo. Outros tratam-na de um modo mais
ativo, mediante a oração. E há, finalmente,
quem descobriu que o mais importante, na
relação com Maria, é tomá-la como exemplo
de vida e procurar imitá-la.
todos devemos chegar a esta etapa final.
Mas, até lá, temos de respeitar os que vão fa-
zendo o seu percurso lento, e tolerarmo-nos
mutuamente com paciência. A mesma paci-
ência que deus teve com os que escreveram
sobre ela no Novo testamento.
Tradução / LOPES MORGAdO
Matteo Rosselli (Florença, 1578-1650). Visitação de
Maria a Isabel. Ver oração completa no site do Vaticano.
MARIA, MULHER DA ESCUTA,
abre os nossos ouvidos;
faz com que saibamos ouvir
a Palavra do teu Filho Jesus,
no meio das mil palavras deste mundo;
faz com que saibamos ouvir
a realidade em que vivemos,
cada pessoa que encontramos,
especialmente quem é pobre e necessitado,
quem se encontra em dificuldade.
PAPA FRANCISCO
Praça de S. Pedro, 31 maio 2013.
394 maio-junho 2015 | Nº 358 395
STANIS-
terrível acontecimento
da Grande catástrofe
(Medz Yeghern, em ar-
ménio), foi o primeiro de ou-
tros genocídios ocorridos no
século passado e que voltam a
repetir-se hoje.
As imagens que se encon-
tram na internet são terríveis
e dramáticas, embora seme-
lhantes ao que os islamistas
fazem hoje na Síria e no ira-
que, por exemplo.
Após os massacreslevados
acabo pelo sultão Abdul Ha-
mid, entre 1894-1896(calcula-
-se que morreram uns 250.000
arménios), perante a impuni-
dade e a apatia internacional,
o governo turco em 1915, diri-
gido pelo Comité União Pro-
gresso dos Jovens turcos, e
mais concretamente os minis-
tros da Marinha, da defesa e
do interior puseram escrupu-
losamente em prática um pla-
no para acabar com os armé-
nios da turquia.
A 24 de abril de 1915, o mi-
nistro do interior mandou
deter todos os inteletuais e no-
táveis da comunidade armé-
nia.
Os soldados arménios que
tinham lutado no exército tur-
co, foram agrupados, desar-
mados e massacrados. Os jo-
vens entre 15 e 20 anos e os
homens adultos de 45 foram
afastados dos seus familiares
e das suas regiões de origem,
para “empregá-los” em traba-
lhos que os esgotariam e aca-
bariam com as suas vidas.
O aniquilamento do povo
arménio decorreu em duas fa-
TERRA SANTA
O Genocídio do Povo Arménio
«Quem se lembra hoje da matança dos arménios?»
(Adolfo Hitler, ao ser-lhe perguntado quais as repercussões da “Solução final”)
José Manuel Martínez
ses: em primeiro lugar, depor-
tação e massacres (maio-se-
tembro 1915); a seguir, tortura
dos sobreviventes nos campos
de concentração do norte da
Síria e Mesopotâmia.
Ao todo calcula-se que fo-
ram assassinados um milhão
e meio de arménios, além de
algumas centenas de milhares
de cristãos de outras confis-
sões (siríacos e assírios).
OO
07 de junho
X domingo do Tempo Comum
SANTÍSSIMO CORPO E
SANGUE DE CRISTO
1ª: Ex 24,3-8. Salmo 116(115),12-13.
15 e16bc.17-18. R/ Tomarei o cálice
da salvação e invocarei o nome do
Senhor. 2ª: Heb 9,11-15. Evange-
lho: Mt 14,12-16.22-26.
Semana II do Saltério.
14 de junho
XI DOMINGO COMUM
1ª: Ez 17,22-24. Salmo 92(91),2-3.
13-14.15-16. R/ É bomlouvar-Vos,
Senhor. 2ª: 2 Cor 5,6-10. Evange-
lho: Mc 4,26-34.
Semana III do Saltério.
21 de junho
XII DOMINGO COMUM
1ª: Is 49,1-6. Salmo 139(138) 1-3.13-
-14a b.14c-15. R/ Eu Vos dou graças,
Senhor, porque admiravelmente me
criastes. 2ª: Cl 3,1-4; ou: 1 Cor 5,6b-
-8. Evangelho: Jo20,1-9.
Semana IV do Saltério.
ESCOLA DA PALAVRA
de junho e julho
Ano B
12 de julho
XV DOMINGO COMUM
1ª:Am7,12-15. Salmo 85(84), 9ab-
-10. 11-12.13-14. R/ Mostrai-nos, Se-
nhor, o vosso amor e dai-nos a vos-
sa salvação. 2ª: Ef 1,3-14. Evange-
lho: Mc 6,7-13.
Semana III do Saltério.
19 de julho
XVI DOMINGO COMUM
1ª: Jr 23,1-6. Salmo 23(22),1-3a.3b-
-4.5.6. R/ O Senhor é meu pastor: na-
da me faltará. 2ª: Ef 2,13-18. Evan-
gelho: Mc 6,30-34.
Semana IV do Saltério.
26 de julho
XVII DOMINGO COMUM
1ª: 2 Rs 4,42-44. Salmo 145(144),
10-11.15-16.17-18. R/ Abris,Senhor,
as vossas mãos e saciais a nossa
fome. 2ª: Ef 4,1-6. Evangelho: Jo 6,
1-15.
Semana I do Saltério.
28 de junho
XIII DOMINGO COMUM
1ª: Sb 1,13-15; 2,23-24. Salmo 30
(29), 2.4.5-6.11.12a.13b. R/ Eu Vos
louvarei, Senhor, porque me sal-
vastes. 2ª: 2 Cor 8,7.9.13-15. Evan-
gelho: Mc 5,21-43.
Semana I do Saltério.
Domingo à tarde
VIGÍLIA S. PEDRO E S. PAULO
1ª: At 3,1-10. Salmo 19(18),2-3.4-5.
R/ A sua mensagem estendeu-se a
toda a terra. 2ª: Gl1,11-20. Evange-
lho: Jo 21,15-19.
05 de julho
XIV DOMINGO COMUM
1ª: Ez 2,2-5. Salmo 123(122),1-2a.
2bcd.3-4. R/ Os nossos olhos estão
postos no Senhor, até que se com-
padeça de nós. 2ª: 2 Cor 12,7-10.
Evangelho: Mc 6,1-6.
Semana II do Saltério.
Leituras
bíblicas
TEMPO COMUM
A 24 de abril de 2015: vigilia no centenário do “genocídio do povo arménio”, con-
siderado “o primeiro genocídio do século XX”, seguido pelo holocausto de
milhões de judeus e outros nos campos de extermínio da Alemanha nazi
e pelos milhões de vítimas nos gulags da Rússia comunista.
Procissão do “Corpo de Deus”, na cidade do Funchal, Madeira,
com o bispo diocesano transportando a custódia (com
O Senhor na hóstia consagrada) sob o pálio.
396 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 397
A GRANDE CATÁSTROFE
O
aniquilamento sistemá-
tico da população armé-
nia, organizado pelo go-
verno otomano dos Jovens
turcos, tem o seu gérmen nos
últimos anos do século XiX. A
recusa dos arménios de sub-
meter-se a uma dupla pressão
fiscal, a imperial e a das tribos
curdas – entre outros motivos
– foi solucionada pelo sultão
Abdul Hamid com uma série
de matanças que “cobraram”
a vida de 200.000 – 250.000 ar-
ménios, mais um milhão de
pessoas saqueadas e despoja-
das dos seus bens, além de
milhares de pessoas raptadas.
Milhares de arménios fo-
ram islamizados à força. A
derrota posterior pela Rússia,
em 1915, e a acusação de os ar-
ménios colaborarem com o
inimigo, voltou a pô-los na
mira das autoridades e assim,
a 24 de abril, o Ministério do
interior, com a Lei provisória
de deportação de 27 de maio,
mandava deter e assassinar
todos os notáveis, inteletuais e
dirigentes; os arménios que até
esse momento estavam integra-
dos no exército foram desarma-
dos, agrupados e massacrados.
No plano de aniquilamento
foram previstas duas fases: a
deportação (entre maio e se-
tembro de 1915) com os massa-
cres que a acompanharam, e a
tortura dos sobreviventes nos
campos de concentração da
Síria e da Mesopotâmia.
Os arménios eram obriga-
dos a meter-se ao caminho,
sem mais nada além do que ti-
nham vestido, geralmente pa-
ra o deserto: a extenuação, a
doença, o esgotamento, as pri-
vações e os ataques (das tribos
curdas) iam dizimando as ca-
ravanas.
No final de 1915 já não ha-
via arménios na Anatólia. de
uma população entre 1.200.
000 e 1.500.000, 300.000 armé-
nios puderam encontrar refú-
gio na Rússia. No outono de
1918, 630.000 pessoas tinham
morrido nos campos de con-
centração e umas 240.000 ti-
nham sido islamizadas, ven-
didas ou raptadas pelas tribos.
TERRA SANTA
arménio. Nenhuma outra voz
– nenhuma! – se ergueu em
defensa «do povo arménio
gravemente castigado e con-
duzido ao seu aniquilamento»
(Acta Apostolicae Saedis 9, 1917,
p. 428ss). A voz de Bento XV
não foi ouvida.
Mais próximo de nós, São
João Paulo II, por ocasião das
celebrações jubilares do ano
2000, num comunicado con-
junto com o Catolicós Karekin
ii, falava claramente do «ge-
nocídio arménio, em princí-
pios do século, prelúdio dos
horrores que seguiriam».
também Bento XVI, diri-
gindo-se aos membros do Sí-
nodo patriarcal arménio, re-
cordava a atuação dos seus
antecessores (Leão XIII e Ben-
to XV) sobre «a terrível perse-
guição que ficou na história
com a expressão tristemente
significativa de Metz Yeghern,
o grande mal» (20/03/2006).
O papa Francisco, desde a
sua missão como arcebispo de
Buenos Aires, sempre mante-
ve um estreito contacto com a
comunidade arménia e falou
claramente do «primeiro ge-
nocídio do século XX, o dos
arménios» (junho 2013).
No dia 12 de abril deste
ano, celebrou em S. Pedro u-
ma missa em memória das ví-
timas do genocídio arménio,
por ocasião do seu centenário.
OS PAPAS E O
GENOCÍDIO ARMÉNIO
D
urante el verano de 1915
llegaron al Vaticano noti-
cias preocupantes sobre
las masacres y deportaciones
que se estaban perpetrando
contra los cristianos otoma-
nos, incluidos los católicos.
Nesse momento a Santa Sé a-
dotou una posição abertamen-
te condenatória, sem fazer
distinção entre católicos, orto-
doxos ou protestantes. Em se-
tembro desse ano, o papa
Bento XV (1914-1922) escre-
veu uma carta ao sultão Mo-
hamed V, na qual pedia que
«tivesse piedade e interviesse
em favor de um povo que, pe-
la religião que professa, acei-
ta ser fiel súbdito da pessoa de
Sua Majestade», distinguindo
entre os arménios «traidores
ou culpáveis de outros deli-
tos», para que «sejam julgados
e condenados», e os «inocen-
tes», para que «Vossa Majes-
tade não permita que no cas-
tigo participem os inocentes e,
ao mesmo tempo, faça descer
sobre os primeiros a sua cle-
mência».
Essa carta pontifícia pro-
vocou grande movimentação
na imprensa europeia e, como
consequência, o sultão procu-
rou aos olhos do mundo tratar
os católicos de maneira mais
benévola. No Consistório de 6
de dezembro de 1915, Bento
XV denunciou perante todo o
mundo a «extrema ruína» que
se havia abatido sobre o povo
LIBRARY OF CONGRESS
Viúva arménia com os seus três
filhos, após o assassinato do marido
nos massacres de 1896-1899,
procura a ajuda dos missionários.
O papa Francisco, desde a sua missão como arcebispo de Buenos Aires, sempre manteve
um estreito contacto com a comunidade arménia e falou claramente do
«primeiro genocídio do século XX, o dos arménios» (junho 2013).
Bento XV, a única voz que
se ergueu em defesa do povo
arménio, mas não foi ouvida.
maio-junho 2015 | Nº 358
COMO A TERRA SANTA
ACOLHEU OS
SOBREVIVENTES
ARMÉNIOS
Melinée Le Priol
A
maior parte dos arménios
da terra Santa são des-
cendentes dos sobrevi-
ventes do genocídio. Na Pa-
lestina havia menos de 1.500
arménios antes de 1915, e dez
vezes mais em 1925. O con-
vento de São tiago, em Jeru-
salém, desempenhou um pa-
pel muito importante na rece-
ção dos deportados.
Erradicar a presença armé-
nia no império otomano foi o
objetivodogovernodosJovens
turcos, em 1915, parcialmente
cumprido, uma vez que duas
terças partes dos arménios da
Anatólia desapareceram du-
rante o genocídio. Na prima-
vera, foram exterminados ou
deportados em massa para a
Síria; em poucos meses, 800.
000 pessoas chegaram a Ale-
po,centrodosistemagenocida.
A partir daí, seguiram três
vías principais: para deir Zor,
no deserto da Síria; a do nor-
deste, para Mossul, e a do sul,
terminando umas vezes na ci-
dade jordana de Aman, e ou-
tras em Jerusalém. Antes de
chegar à cidade três vezes san-
ta, a maioria dos grupos tinha
cruzado as cidades de Hama,
Homs, damasco, Beirute, Hai-
fa e Jafa. O centro de deporta-
dos de Alepo-Jerusalém esta-
va sob o controlo de um só ho-
mem, Yemal Pachá, ministro
da Maringa de Guerra e co-
mandante do Quarto Exército.
Esta era a exceção no tri-
unvirato governante; se Talaat
e Enver Pachá tinham jurado
exterminá-los, os cerca de 120.
000-150.000 «arménios de Ye-
mal» não foram completa-
mente eliminados. «Yemal ti-
nha como objetivo governar a
Síria e a Mesopotâmia depois
da guerra e do colapso prová-
vel do império otomano», diz
o historiador Yves Ternon.
«Os arménios podiam ser-lhe
úteis, pelo que preferiu man-
tê-los vivos.»
Em Jerusalém, a estrada
estava salpicada de uma de-
zena de campos de concentra-
ção, «que, ao contrário dos do
deserto de deir Zor, não eram
lugares de morte», diz Yves
Ternon. Os «arménios de Ye-
mal», depressa foram obriga-
dos a converter-se em massa
ao islão. Em todo este tempo,
as autoridades turcas procura-
ram que os sobreviventes não
excedessem 10% da popula-
ção, paranão poderem recons-
truir outra Arménia.
No outono de 1916, che-
gam a Jerusalém os primeiros
arménios. durante séculos, o
grande convento de São tia-
go, que ocupa uma sexta parte
MILHÃO E MEIO
DE SANTOS
Carta Encíclica de
Karekin II, patriarca
dos arménios ortodoxos.
O
centenário deste Genocí-
dio está diante de nós, e
nas nossas almas ressoa
uma forte exigência de ver-
dade e justiça que não se pode
calar. Cada dia do ano 2015
será um dia de lembrança e
devoção para o nosso povo, u-
ma viagem aos memoriais dos
nossos mártires na pátria e na
diáspora, perante os quais nos
ajoelharemos com humildade
em oração, oferecendo incen-
so pelas almas destas vítimas
inocentes que jazem em túmu-
los sem nome, pois aceitaram
morrer em vez de renegar a
sua fé e a sua nação.
Realmente, «a senda do jus-
to é aurora luminosa, a sua luz
cresce até se fazer meio-dia». […]
Há um século, quando os frag-
mentos da nossa nação armé-
nia, depois de haver perdido
o património, foram dispersos
por todo o mundo, e enquanto
a Arménia oriental travava
uma luta até à última gota de
sangue para sobreviver contra
os invasores turcos, era difícil
acreditar no futuro.
Apesar disso, ressurgimos.
Com a graça do Senhor, o nos-
so povo ergueu-se da morte.
Sobre uma pequena parte re-
cuperada da nossa pátria, a
nos-sa gente restaurou o Es-
tado, recriando um país sobre
as ruínas, e construiu uma
«pátria de luz e de espe-
rança», de ciência, educação e
cultura. Esta é a história do
nosso po-vo durante o século
passado, uma história de ad-
versidades e ressurreição [...].
Glória a ti, ó Senhor! Glória
sem fim.
«Porque Tu, Senhor, abençoas
o justo / e o envolves num escudo
de graça» (Sl 5,13). Pondo a
nossa esperança em ti, ó Se-
nhor, o nosso povo foi ilumi-
nado e fortalecido. A tua luz
acendeu o engenho do nosso
espírito. A tua força empur-
rou-nos até à vitória. Criámos,
embora outros tenham des-
truído as nossas criações; con-
398 maio-junho 2015 | Nº 358 399
TERRA SANTA
da cidade velha, tinha servido
como hospício para os pere-
grinos. teve que acondicio-
nar-se para albergar os sobre-
viventes, que chegaram às
centenas. Conviviam 7 ou 8
pessoas num quarto. A 9 de
dezembro de 1917, quando os
britânicos ocupam Jerusalém,
pondo fim a sete séculos de
domínio muçulmano, desco-
brem que o convento já alber-
gava uns 500 arménios.
Em 1920, em Jerusalém ha-
via uns 2.000, mais mil órfãos.
dos 543.600 sobreviventes do
Genocídio arménio, 5. 000 es-
tavam então na Palestina. Mas
a chegada dos sobreviventes à
terra Santa não acaba aí.
Nos princípios da década
de 1920, a frança prometeu
aos arménios um estado na
Cilícia, a região sul da tur-
quia. 200.000 sobreviventes do
genocídio dirigiram-se para
ali, mas em 1922, em virtude
de um acordo com os turcos, a
frança evacuou a zona.
«A grande maioria dos ar-
ménios dirigiu-se então para o
Líbano e a Síria, alguns para a
Europa, e uns 8.000 para o
porto de Haifa, no Mediterrâ-
neo», diz George Hintlian,
memória viva da comunidade
de Jerusalém. Como nova po-
tência mandatária, os britâni-
cos franziram o sobrolho, mas
finalmente foi autorizado o
desembarco dos sobreviven-
tes. A meados da década de
1920, mais de 13.000 arménios
da Anatólia tinham-se refu-
giado na terra Santa.
Harutiún Vehabedián, patriarca arménio de Jerusalém de 1885 a 1910.
De 1910 a 1921 a sede permaneceu vacante (Fotografia Library of Congress).
Karekin II, patriarca dos
arménios ortodoxos.
m maio de 1975, no Capítulo Provincial realizado em fátima, os fran-
ciscanos Capuchinhos da Província Portuguesa, face às carências de
evangelização postas a nu pela revolução de abril do ano anterior, op-
taram por se dedicar, preferencialmente, ao apostolado bíblico.
Mas esta opção mergulhava as suas raízes duas décadas atrás: em 25
de fevereiro de 1955 já tinham nascido a Difusora Bíblica para editar
os livros da palavra de deus e a Revista Bíblica para ensinar a lê-los e a viver a sua
mensagem. E tudo isto, devido à iniciativa carismática de frei inácio de Vegas, um
sacerdote capuchinho da Província espanhola de Castela, então a viver no convento
e paróquia do Salvador, em Beja. Ora foi precisamente aí, numa diocese considera-
da, então, uma das mais descristianizadas de Portugal, que esse grão de mostarda foi
lançado à terra e começou a expendir-se por todo o país e no estrangeiro.
Estamos, por isso, a celebrar os 60 anos dessa fundação oficial. E também, os 50
anos da primeira edição da Bíblia Sagrada que a difusora Bíblica se encarregou de
fazer traduzir e imprimir até fins de 1964 e pôs à venda no início de 1965.
Nesta revista, já apresentei várias sínteses da história do Movimento Bíblico; a
mais abrangente saiu no nº 296, de janeiro-fevereiro de 2005, pp. 292-302, quando
cumpríamos os 50 anos. No site dos Capuchinhos estão de novo à disposição do
público todas as revistas até ao fim do ano 2013; poderão revisitar essa, em: www.
capuchinhos.org. No menu da Página Principal, à esquerda, abrir em Bíblia; aí, abrir
em Revista Bíblica: no texto de apresentação, clicar nas palavras Arquivo revista
BÍBLICA. depois é só escolher. No nº 436, de janeiro-agosto de 2004,
da revista Estudios Franciscanos editada em Barcelona, também
publiquei uma versão bastante mais desenvolvida (pp. 73-
-113), por ocasião do centenário de nascimento do frei inácio.
Neste número, evoco apenas os grandes passos na
cami-nhada da nossa revista e da 1ª Bíblia editada pela di-
fusora fazendo depois um rápido percurso através da
história da difusora Bíblica e das suas edições, bem como dos
principais obreiros do Movimento Bíblico em geral.
maio-junho 2015 | Nº 358 401
DOSSIÊ
TERRA SANTA
tinuámos a viver, embora ou-
tros nos quisessem mortos. tu,
ó Senhor, quiseste que a nossa
gente, condenada àmorte com
um plano genocida, vivesse e
ressurgisse, de tal modo que
te podemos apresentar a justa
consciência da humanidade e
o direito das gentes, para li-
bertar o mundo da silenciosa
indiferença de Pilatos e da ne-
gação criminosa da turquia.
Pelo bem da justiça, até ao
triunfo da nossa causa, conti-
nuaremosanossalutasem nos
retirarmos – a igreja, a nação e
o Estado juntos. O sangue dos
nossos mártires inocentes e os
sofrimentos do nosso povo
gritam clamando por justiça.
Os nossos santuários destruí-
dos, a violação dos nossos di-
reitos nacionais, a falsificação
e distorsão da nossa história,
gritam clamando por justiça.
tendo sobrevivido ao ge-
nocídio, o nosso povo acredita
e continua a acreditar que, à
multidão de países retos, das
organizações nacionais e civis
e dos indivíduos que têm re-
conhecido e condenado o ge-
nocídio se hão de juntar ou-
tros que acreditam que a afir-
mação da verdade e da justiça
é o requisito e a garantia de
um mundo pacífico, sem hos-
tilidades nem violência.
Em memória do nosso mi-
lhão e meio de mártires do ge-
nocídio, expressamos a nossa
gratidão às nações, às organi-
zações e aos indivíduos que ti-
veram a coragem e a convic-
ção de reconhecer e condenar
o genocídio arménio.
Expressamos gratidão aos
países e povos amigos que a-
ceitaram os filhos da nossa
terra como irmãos e irmãs. Es-
tes exemplos de justiça e hu-
manidade são páginas lumi-
nosas na história da humani-
dade. Eles serão sempre recor-
dados e apreciados ao longo
das gerações, e contribuirão
para uma vida mais tranquila,
segura e melhor.
Como Pontífice dos armé-
nios anuncio à nossa gente
que no dia 23 de abril de 2015,
durante a divina liturgia, a
nossa santa igreja canonizará
como santos «pela fé pela pá-
tria», os seus filhos e filhas
que aceitaram o martírio; e
proclamará o 24 de abril Jor-
nada da memória dos santos
mártires do Genocídio.
Ó povo armeno, nação
mártir, nação ressurgida! Vive
com coragem, avança com se-
gurança, com o teu olhar diri-
gido para o monte Ararat, que
contém a Arca, e com o cora-
ção inquebrantável mantém
alta a tua esperança. O alento
e a mensagem do Senhor es-
tão dirigidos para ti: «Embora
tendo pouca força, guardaste a
minha palavra e não renegaste o
meu nome... Conserva o que tens,
para que ninguém leve a tua co-
roa» (Ap 3,8-11). Portanto, tra-
temos de permanecer unidos
diante do Senhor, justo e ver-
dadeiro, sobre os firmes cami-
nhos da fé que, como a luz da
manhã, dissipa as trevas e
torna visíveis os horizontes da
esperança.
O nosso caminho está com
deus e a vida de fé é a nossa
vitória [...]. transformemos a
memória dos nossos mártires
em energia e força para a nos-
sa vida espiritual e nacional
diante de deus e de todos os
homens; iluminemos o cami-
nho para guiar o nosso passo
até à realização da justiça edas
nossas sagradas aspirações.
A graça, o amor e a paz de
nosso Senhor Jesus Cristo es-
teja com todos vós e com to-
dos nós. ámen.
Tradução
LOPES MORGADO
Lopes Morgado
Chefe de Redação
O GRÃO DE MOSTARDA
ES. Gregório de Narek
Doutor da Igreja
Sacerdote e monge, nascido em
Andzevatsij (na época Arménia,
hoje Turquia), cerca do ano 950 e
falecido em Narek (também na
época Arménia, hoje Turquia) por
volta de 1005. A 12 de abril, na
Basílica de S. Pedro, foi procla-
mado Doutor da Igreja..
maio-junho 2015 | Nº 358402 maio-junho 2015 | Nº 358 403
OGRÃODEMOSTARDA
60 anos da revista “bíblica”
História breve
de um longo amor
revista BÍBLICA teve início
em Beja, na residência dos Ca-
puchinhos adossada à igreja
paroquial do Salvador, a 25 de
fevereiro de 1955. Em junho
desse ano saiu o primeiro número, levando
como antetítulo: revista de cultura e difusão.
trimestral, com 32 páginas ilustradas a preto
e branco, tinha o formato de 13,5x19cm, a
tiragem de 3000 exemplares e a assinatura
anual custava 10$00. Em 1957 passou a
bimestral (duas vezes por ano).
Com o nº 75, em janeiro-fevereiro de 1968,
surge totalmente remodelada: o formato pas-
sa para 17x23, a capa tem quatro cores e o in-
terior de 48 páginas, profusamente ilustrado,
tem duas. Com o nº 231 (março-abril de
1994), aos 40 anos, ganhou também a cor to-
tal no interior, até hoje.
depoisdeuma limpeza dos ficheiros, hoje
está com a tiragem de 8000 exemplares, cor-
respondentes a assinaturas pagas. Em 1963
tinha 15000.
Se cada um destes assinantes ajudasse ou-
tra pessoa, sobretudo jovem, a juntar-se à “fa-
mília BíBLiCA” – além de se tornar um evan-
gelizador, seria retribuído com uma Revista
melhorada! Ah, e continuamos sem qualquer
subsídio de portes. desde sempre!
Duas revistas com o mesmo nome
Atualmente, com o mesmonome,temos uma
revista popular e outra científica.
A popular, de nível médio, é bimestral, tem
48 páginas a quatro cores e destina-se ao
grande público, assegurando um primeiro
contato e descoberta da Bíblia e da sua men-
sagem, bem como a formação e informação
permanente neste campo.
daí a preocupação com a linguagem, a es-
colha e tratamento dos temas.
Os temas da revista popular
Na fase inicial, os temas da revista Bíblica po-
pular incidiram mais na introdução à Sagrada
Escritura (propedêutica) e na espiritualidade
bíblica, mantendo um consultório aberto
para responder aos leitores. depois entrou no
campo monográfico, cobrindo os principais
temas de Bíblia e teologia bíblica.
Em janeiro-fevereiro de 1968, ao cumprir
as bodas de diamante com o nº 75, surgiu
com uma sensível remodelação, a que já fiz
referência, publicando sínteses dos docu-
mentos do concílio Vaticano ii e fazendo uma
série muito apreciada de números monográ-
ficos sobre os Sacramentos.
A seguir à Revolução em abril de 1974, até
outubro de 1975, ajudou a fazer a leitura
bíblica da vida e dos acontecimentos da nossa
história, à luz da História da Salvação.
DOSSIÊ
A
Nº 75, janeiro-fevereiro de 1968 quando a revista assumiu
o formato atual, capa a quatro cores e 48 páginas de texto.
Na página seguinte, a capa do nº 231, de 1994, a partir do
qual a revista passou a ter quatro cores também no interior.
A  científica, iniciada em 1993, é apenas
anual. Sai no início do mês de outubro, publi-
ca as conferências feitas em agosto na Sema-
na Bíblica Nacional, e algumas recensões. As
páginas e o preço são variáveis.
404 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 405
60 ANOS DA REVISTA
A partir de 1975, cumprindo a deliberação
do Capítulo Provincial dos Capuchinhos, que
optou preferencialmente pelo Movimento
Bíblico, procurou seguir «uma orientação
mais didática, como órgão de apoio e como e-
lemento dinamizador do Movimento Bíblico»,
em números sobre temas fundamentais da
teologia e da história bíblica.
Apostada na Evangelização e no apoio ao
Movimento Bíblico, de novembro-dezembro
de 1978 a setembro-outubro de 1981 comen-
touostextosdoEvangelho (nº139-156);de1981
a 1984, os textos da Primeira Leitura (nº 157-
-174); de 1984 a 1987, o Salmo Responsorial (n°
175-192).
A partir de 1987, até 1992 (nº 193-222), fez
um comentário ao conjunto das três Leituras
dominicais, sob o título “A Mesa da Palavra”,
depois publicado em livro homólogo; e além
disso, entre 1988 e 1991, um artigo de frei
Joaquim Monteiro sobre os livros da Bíblia
donde é extraída a Segunda Leitura.
No n° 229, em 1993, iniciou-se “A Palavra
meditada”, abrangendo também as Leituras
todas, mas só uma página cada domingo; foi
mantida até1996(n°246).Nonúmero seguin-
te, ainda em 1996, optou-se por acompanhar
os temas do Grande Jubileu 2000.
Entre novembro-dezembro de 1999 (nº
265) e setembro-outubro de 2002 (nº 282), o
frei Manuel Rito dias desenvolveu a apre-
sentação das Leituras dos três ciclos do ano
litúrgico na “Palavra de domingo”, primeiro
apresentada como destacável, depois no ca-
derno central e finalmente no livro Este é o
Dia – Sementes do domingo para todos os dias
(2007). Recorde-se, também, a série de 75 es-
tudos de “Símbolos Bíblicos”, por freiHercu-
lano Alves, de setembro-outubro de 1993 (nº
228) a janeiro-fevereiro de 2002 (nº 278), de
que nasceu, em 2001, o livro Símbolos na Bíblia.
A partir de novembro-dezembro de 2000,
apresentou “figuras Bíblicas”, como intro-
dução e síntese da Revelação e da história da
salvação; e a partir de 2003, começou a con-
densar uma conferência da Semana Bíblica
Nacional em cada número.
No triénio 2009-2012, a revista voltou a in-
cluir comentários a todas as Leituras bíblicas
de domingo, por frei Lopes Morgado, na
rubrica “Escola da Palavra”, e agora deposi-
tados na pasta com o mesmo nome no site
dos Capuchinhos (www.capuchinhos.org).
Em comunhão com a Igreja
Atentos às carências e expetativas das pes-
soas, na BíBLiCA sempre acompanhámos as
propostas dos Papas e da Conferência Epis-
copal Portuguesa. Além da cobertura dos
vários Sínodos dos Bispos, oferecemos estu-
dos e subsídios celebrativos nos anos da Eu-
caristia, do Rosário, da Palavra e do Sacerdócio.
de setembro-outubro de 2012 a novem-
bro-dezembro de 2013 apresentámos um ar-
tigo do Credo em cada número, a propósito
do Ano da fé. tendo aberto o ano 2014 com
um número monográfico sobre a família, in-
cluindo a síntese das conferências da Semana
Bíblica de 2013, em ligação com a 1ª parte do
Sínodo dos Bispos, em 2015 temos dado
atenção ao Ano da VidaConsagrada,esperamos
apresentar outro número sobre a família e já
preparamos um especial sobre os 50 anos do
concílio Vaticano II, para depois acompanhar-
mos o Ano da Misericórdia a partir de novem-
bro-dezembro.
Iluminando a vida com a Bíblia
Com isto, BíBLiCA não se tornou uma revista
pastoral, litúrgica ou de espiritualidade, co-
mo às vezes possa parecer; embora forne-
cendo bons apoios nesses domínios, procu-
ramos valorizar sempre a dimensão bíblica
de cada tema.
Continuamos a apresentar um “dossiê”
no caderno central, além de mantermos, em
quase todos os números, as secções perma-
nentesespecializadas,destacando-se,nocam-
po bíblico, “A Bíblia Responde” de Ariel ál-
varez Valdés.
depois de uma secção temporária dedi-
cada à “família”, criámos duas novas: “terra
Santa”, apoiada pela revista homónima em
espanhol, e “Ecumenismo”, provisoriamente
substituída por “Ano da Vida Consagrada”,
com entrevistas feitas pelo mesmo colabo-
rador, ojornalista António Marujo, premiado
em te-mas religiosos ecuménicos.
fiel ao seu lema, que figura no subtítulo,
a revista Bíblica é onde a Bíblia se faz vida.
DOSSIÊ
Aqui e na página seguinte:
amostragem de alguns temas tratados pela nossa
revista ao longo dos 60 anos aqui evocados.
OGRÃODEMOSTARDA
Fiel ao seu lema, que figura no subtítulo,
a revista Bíblica é onde a Bíblia se faz vida.
406 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 407
DOSSIÊ
OGRÃODEMOSTARDA
50 anos da 1ª Bíblia da DB
Um livro
é como um filho
acompanhei a história da sua vida muito de
perto, assisti aos seus muitos renascimentos e
parece-me ser a hora de o contar à família.
Em Julho de 1963, nas listas das “famí-
lias” ou comunidades dos Capuchinhos em
Portugal, para o triénio de 1963-1966, na alí-
nea sobre o Movimento Bíblico constava:
«Padre inácio de Vegas, director Geral do
Movimento; Padre fernando de Negreiros,
director da Revista BíBLiCA; frei Pascoal do
Sabugal, Administrador da difUSORA BíBLiCA
e da Revista BíBLiCA.
Era também confirmada a Comissão Edito-
rial, presidida pelo frei fernando de Negrei-
ros, associando-se-lhe o frei inácio e o frei
Pascoal» (de nome civil, António Maria Gon-
çalves). Veja as fotografias abaixo.
A 1ª edição da “Bíblia Sagrada”
É esta Equipa que se vai movimentar para
que, nos princípios de 1965, visse a luz, com-
posto e impresso, o Livro dos livros, a que se
deu o nome de Bíblia Sagrada. Adianto desde
já, que ao frei fernando de Negreiros coube a
parte de leão nesse processo, coordenando e
revendo o texto com esmero.
ão basta gerar um filho e dá-
-lo à luz. É preciso criá-lo,
educá-lo, acompanhar o seu
crescimento, a adaptação ao
meio e às vicissitudes do
tempo e do espaço. Porque a vida é uma
constante recriação; nascemos e renascemos
muitas vezes, mesmo não acreditando na
reencarnação. Com um livro acontece a
mesma coisa.
Parto desta comparação para o meu “era
uma vez” acerca da primeira Bíblia que a di-
fUSORA BíBLiCA editou, fez em janeiro 50 anos.
foi a primeira Bíblia que eu tive, quando no
dia 4 de outubro de 1965 vim trabalhar para
esta revista, em Lisboa. Vi-a quase nascer,
N
A julgar pelo frontispício, onde aparece a
data de 1964, deveríamos dizer que a 1ª edi-
ção é deste ano. E a reforçá-lo, estaria o Im-
primatur de d. José do Patrocínio dias, Bispo
de Beja, a 18 de março, o Imprimi potest a 25
de março e o Nihil obstat a 1 de maio – tudo
em 1964. Mas, pelo menos o primeiro cader-
no não pôde ser impresso antes de 8 de janei-
ro de 1965, pois é essa a data das palavras de
congratulação e bênção do Núncio Apostó-
lico em Lisboa, dom Maximiliano de fürs-
temberg (imagem ao lado). Aliás, a revista
Bíblica não fala dela em todo o ano de 1964,
coisa inexplicável se estivesse iminente a sua
saída; ao passo que, no nº 57, de janeiro-fe-
vereiro de 1965, Ano Xi, na página 30 lá vem
o seu anúncio destacado em caixa:
«Bíblia Sagrada (Edição da difusora Bí-
blica). informamos todos os nossos estima-
dos Amigos e Colaboradores que já se encon-
tra à venda a tão esperada e desejada Bíblia
Sagrada.» E «aos assinantes, “Amigos da Pa-
lavra de deus” e participantes nos Colóquio
Bíblicos fazia-se o preço muito especial de
60$00, cada exemplar».
foi um trabalho discreto e recatado, co-
mo se exige numa tarefa destas; e na intimi-
dade, como quem gera um filho. tudo isto,
provavelmente, acentuado pelo facto de só a
18 de novembro de 1965, na Dei Verbum, o
concílio Vaticano ii recomendar as edições da
Da esquerda para a direita: frei Inácio de Vegas, frei Fernando de Negreiros e frei Pascoal de Sabugal.
Acima: Frente e verso do rosto da 1ª Bíblia.
À direita: Carta do Núncio Apostólico em Lisboa.
Em 16 de julho, como a Bertrand apenas
imprimira metade da edição contratada, uma
nova edição de 30000 foi contratada com a
Cartotipo, mantendo o texto anterior, mas
com novas notas de alguns livros do Antigo
testamento.
Em 14 de outubro, a direção da difusora
resolveu convocar uma equipa de especialis-
tas em Sagrada Escritura para uma reunião
na nossa sede de Lisboa, em ordem a se defi-
nirem critérios e serem entregues tarefas para
uma revisão da nossa Bíblia Sagrada. O encon-
tro realizou-se nos dias 19 e 20 de dezembro.
Além dos membros da direção da difUSORA
BíBLiCA e de frei Rafael de Serafão, ministro
provincial, participaram os biblistas: Alcindo
Costa, capuchinho; Joaquim Carreira das
Neves, franciscano; Carlos Alberto de Castro
ferreira, salesiano; António Augusto tavares,
diocesano de Viseu; Joaquim Macedo Lima,
espiritano.
Assentou-se o trabalho a realizar: revisão
das notas, dos lugares paralelos, das intro-
duções aos diferentes livros e aumento do ín-
dice temático; não se pretendia fazer uma
revisão profunda do texto, mas corrigir ex-
pressões ou nomes que não estivessem de
acordo com o original. depois foi feita a dis-
tribuição do trabalho.
No dia 20 de manhã teve lugar a segunda
parte da reunião. Estipulou-se o preço por
cada página da Bíblia revista; e que na en-
trada da nova Bíblia a editar com essas revi-
sões figurariam os nomes de todos por or-
dem alfabética, sem especificar o livro cor-
respondente a cada um. Assim foi feito.
Na reunião de 11 de fevereiro de 1970 de-
cidiu-se acrescentar à Bíblia completa e ao No-
vo Testamento um índice Litúrgico feito por
frei Alcindo Costa, além do índice Bíblico-
-Pastoral já existente.
No dia 18 de junho de 1971, teve lugar no-
va reunião de especialistas em Sagrada Escri-
tura, convocados pela difUSORA BíBLiCA. Com-
pareceram na Casa de Retiros do Bom Pastor,
à Buraca, em Lisboa, os seguintes biblistas:
José Nunes Carreira, António Augusto tava-
res, Geraldo Coelho dias, Manuel Augusto
Rodrigues, Joaquim Carreira das Neves, Rai-
mundo de Oliveira, Joaquim Mendes de Cas-
tro, Carlos Alberto Castro ferreira, Alcindo
Cost; e ainda o ministro provincial dos Ca-
puchinhos e as direções da difusora Bíblica e
da revista Bíblica. desse encontro surgiram
novos colaboradores para revisões futuras,
como veremos.
Novas introduções ao NT
e novo Índice temático-pastoral
Nos meses de setembro e outubro, o frei
Alcindo Costa (na imagem abaixo; + 1976), de-
dicou-se à atualiza-
ção das notas e in-
troduções do Novo
testamento, ultiman-
do um novo índice
bíblico temático-pas-
toral, em que se des-
tacasse a evolução
dos temas bíblicos
mais atuais dentro
da Sagrada Escritura.
O índice anterior foi suprimido, sendo este
novo aproveitado futuramente nas edições
do Novo Testamento e dos Quatro Evangelhos.
No dia 9 de janeiro de 1972, Ano interna-
cional do Livro, saía a tão esperada 4ª edição
da Bíblia Sagrada, de 30000 exemplares. A an-
terior já tinha sido esgotada há anos! O au-
mento do formato de 11,5x16,5 para 12x19,
permitiu reduzir o volume de 2198 páginas,
das edições anteriores, para 1644 páginas.
Além disso, esta inclui outras melhorias sig-
nificativas: nova introdução geral, por frei
Manuel Arantes; nova anotação ao Penta-
408 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 409
OGRÃODEMOSTARDA50 ANOS DA BÍBLIA
Bíblia em vernáculo: «visto que a palavra de
deus deve estar sempre acessível a todos, a
igreja procura com solicitude maternal que
se façam traduções aptas e fiéis nas várias lín-
guas, sobretudo a partir dos textos originais
dos livros sagrados» (nº 22). As palavras do
Senhor Núncio Apostólico não são posterio-
res ao Vaticano ii, mas de alguém que estava
por dentro do seu processo.
Composta e impressa nas Oficinas de São
José, do Porto, no formato de 11,5xl,5 cm,
com um total de 2199 páginas + 8 mapas, em
papel bíblia e ao preço irrisório de 75$00, esta
Bíblia, de 50000 exemplares, era um verda-
deiro acontecimento no interior da igreja Ca-
tólica Portuguesa, cujos fiéis não dispunham
de uma edição da Bíblia num só volume,
acessível na linguagem e no preço; e também
um acontecimento editorial.
Onze anos depois, a difUSORA BíBLiCA a-
tingia o primeiro objetivo apontado pelo frei
Cornélio de San felices no documento oficial
da sua aprovação: «difundir e dar a conhe-
cer melhor a Palavra de deus, a Bíblia, por
meio de edições muito económicas.» Após ter
editado os vários livros em separado – Feitos
dos Apóstolos (1956), Quatro Evangelhos (1957),
Evangelhos e Actos (1961), Cartas de São Paulo
(1958), Cartas Católicas e Apocalipse (1959), No-
vo Testamento (1961), Antigo Testamento abre-
viado (1962) – apresentava agora O LiVRO na
sua totalidade. Estava preparado o terreno e
seleccionada a semente para a grande arran-
cada bíblica da igreja católica em Portugal.
tal como aconteceu com a 1ª, a 2ª edição
da Bíblia Sagrada regista, no frontispício, a da-
ta de 1966; mas, o Boletim Oficial da Província
Portuguesa dos Capuchinhos, de junho-agos-
to de 1967, fala «da 2ª edição da BíBLiA SAGRA-
dA vinda a lume em meados de Maio». Na-
queles três meses, já tinham sido vendidos
7000, e previa-se «esgotarem-se os 15000
desta tiragem até ao fim do ano corrente»
(Vol. iii, Nº 19, p. 528).
O primeiro melhoramento da Bíblia
de repente, pareceu que se tinha dado um
passo maior que a perna, pois as estruturas
gráficas do nosso país não conseguiam res-
ponder a tanta solicitação. Por isso, em 1968,
entregou-se a 3ª edição, de 50000 ex., à Ber-
trand (irmãos) Lda. E decidiu-se incluir nela
12 gravuras a quatro cores e uma Carta do
Núncio Apostólico em Lisboa, mons. José
Maria Sensi. Na reunião da direção, em 13 de
dezembro, foi proposto rever urgentemente
a introdução, notas e índice da Bíblia Sagrada
para novas edições; o trabalho iria ser pedido
a frei Alcindo Costa, que nesse ano concluíra
a licenciatura em ciências bíblicas no Pontifí-
cio instituto Bíblico de Roma.
No dia 28 de janeiro de 1969, a direção do
Movimento Bíblico estabeleceu os critérios
para a próxima edição da Bíblia, quanto ao
texto e lugares paralelos, notas exegéticas e
formato. E este ano, mais uma vez, a nossa
Bíblia foi o livro mais vendido na feira do
Livro de Lisboa.
DOSSIÊ
Foi a Dom José do Patrocínio Dias, bispo de Beja, que tinha
dado a aprovação aos primeiros livros da Difusora, que frei
Inácio pediu também a aprovação da nossa 1ª Bíblia.
maio-junho 2015 | Nº 358410 maio-junho 2015 | Nº 358 411
OGRÃODEMOSTARDA
50 ANOS DA BÍBLIA
teuco, pelo Prof. Nunes Carreira; nova intro-
dução, tradução e notas do livro dos Salmos,
pelo Prof. Carreira das Neves; novas intro-
duções e anotações ao Novo testamento e
o novo índice
temático-pas-
toral, de que
falei atrás, por
frei Alcindo
Costa; além
de novas gra-
vuras a cores.
Esta Bíblia
foi, de novo, o
livro mais pro-
curado na fei-
ra do Livro de
Lisboa, mere-
cendo pala-
vras de elogio do Presidente da República ao
administrador, frei Luís da Graça Lima.
Era, na verdade, um grande passo em
frente, que seria ainda mais reforçado na pró-
xima edição de 50000 exemplares, já a ser
preparada.
Em 1975, a difusora Bíblica também par-
ticipou na feira do Livro de Lisboa. Mas, a-
conteceu o que o vespertino lisboeta “A
Capital” intitulava na sua reportagem de 25
de junho: «Bíblia cede na feira perante livro
político» (ver Bíblica nº 119, pp. 448-449).
A inclusão do Lecionário dominical
Em 13 de maio de 1976, apareceram os
primeiros exemplares da 7ª edição da Bíblia
Sagrada, numa tiragem de 50000 exemplares
enriquecida com o “Leccionário dominical”
para os 3 ciclos do Ano Litúrgico.
No dia 20 é entregue ao ministro provin-
cial, pelo Secretário particular do senhor car-
deal-patriarca de Lisboa, dom António Ri-
beiro, uma carta intitulada “O pão da Pala-
vra”, que vai ser integrada em extra-texto
nesta edição e nas seguintes, até 1998.
No triénio de 1975-78, o movimento da
Bíblia Sagrada foi o seguinte: terminou-se de
vender a 6ª edição, num total de 15845 exem-
plares; completou-se e vendeu-se a 7ª edição,
de 55000; preparou-se a 8ª, da qual se vende-
ram 6000 e preparou-se ainda uma especial
para Angola, de 50000 exemplares.
dos Quatro Evangelhos, em brochura, ven-
deu-se a l5ª edição, de 55000 exemplares, per-
fazendo assim o total de um milhão de Qua-
tro Evangelhos vendidos, nestas 15 edições, e
atingindo-se, finalmente, a meta da Campa-
nha Um milhão de Evangelhos, iniciada pelo frei
inácio de Vegas em 1956!
Em 1982 saiu, na Gráfica de Coimbra, a
10ª edição da Bíblia Sagrada.
“Bíblia de Altar”: 1ª tentativa rejeitada
Em março de 1983, a difusora Bíblica pu-
blicava uma nova Bíblia Sagrada, chamada de
Altar pelo seu formato de 25x27. Com 1700
páginas e tiragem de 10000 exemplares, in-
cluía gravuras e mapas sobre a geografia e a
história do Povo de deus. Preço: 980$00.
O texto era o da edição normal, já do co-
nhecimento público, mas reproduzido a par-
tir dela por am-
pliação fotográ-
fica, o que lhe da-
va uma qualida-
de gráfica muito
deficiente. Moti-
vado pelo des-
crédito que nos
podia acarretar,
o Governo Pro-
vincial dos Ca-
puchinhos sus-
pendeu a sua dis-
tribuição.
Em 21 de setembro já está a ser impressa
a 12ª edição da Bíblia Sagrada, que vai ter uma
tiragem de 45000 exemplares, aproximada-
mente.
Em dezembro de 1986 sai, finalmente, u-
ma Bíblia de altar, 10000 exemplares, com ga-
rantia de qualidade. E em 1990, uma segunda
edição de 5000 exemplares, comemorativa do
25º aniversário da “dei Verbum” e da 1ª edi-
ção da Bíblia Sagrada, em 1965.
A “nova BÍBLIA dos Capuchinhos”
Ao longo destes anos, os franciscanos ca-
puchinhos foram tomando consciência da
responsabilidade que tinham assumido na
igreja com o Movimento Bíblico. O público
exigia cada vez maior qualidade, nomeada-
mente nas edições, a começar pelo texto sa-
grado da Bíblia.
Em 1992, sob a orientação de frei fernan-
do de Negreiros e de frei Lopes Morgado, o
texto e as introduções da Bíblia de Altar foi
bastante revisto, bem como o seu grafismo.
Com esta revisão foi impressa em abril de
1994 uma outra edição de 5000 exemplares,
com fotografias de frei Lopes Morgado e
mapas do Atlas Bíblico Histórico-Geográfico de
frei J. Machado Lopes.
Ao mesmo tempo, o frei Herculano Alves
empenhou-se tenazmente numa nova tradu-
ção e anotação da Bíblia, reunindo para isso
uma equipa de 23 biblistas e nove colabora-
dores. Após vários en-
contros de trabalho, o
últimos dos quais em
16 de dezembro de
1995, a “Nova BíBLiA
dos Capuchinhos” es-
tava impressa em ju-
lho de 1998, sendo a-
provada pela Confe-
rência Episcopal Por-
tuguesa, presidida por
D. João Alves, Bispo
de Coimbra (imagem
ao lado), no dia 1 de
outubro. A apresentação teve lugar no Audi-
tório Cardeal Medeiros, da Universidade Ca-
tólica, em Lisboa, em 24 de novembro desse
ano. Na plateia estavam muitos dos traduto-
res; e na mesa: dom José Policarpo, cardeal-
-patriarca; isidro Alves (+2002), reitor da Uni-
versidade Católica; Saturino Gomes, diretor
DOSSIÊ
A Bíblia de altar de 1986 veio salvar o desare de 1983.
Abaixo, a entrada da 2ª edição, em 1990.
da faculdade de teologia; frei João José
Costa Guedes da Silva, ministro provincial
dos capuchinhos; frei Herculano Alves e frei
Lopes Morgado, que apresentaram a nova
edição. falaram também o doutor isidro
Alves e dom José Policarpo.
No dia 22, o frei Manuel davide Belo (+
2000) apresentou-a na Escola Bíblica, na
Baixa da Banheira. No dia 26, o frei Hercu-
lano fez o mesmo lançamento na UCP do
Porto; no dia 27, na UCP de Viseu; e em 21
de março de 1999, na Biblioteca Municipal
“Rocha Peixoto”, da Póvoa de Varzim.
Em Fátima, o lançamento foi a 11 de de-
zembro, às 15 horas, no Centro Bíblico dos
Capuchinhos, sob a presidência do bispo dio-
cesano, d. Serafim ferreira e Silva e do mi-
nistro provincial, frei João José Costa Guedes
da Silva. Coincidindo com a abertura do ano
para a Escola Bíblica ali existente desde se-
tembro de 1993, o frei Morgado apresentou
as características e valores da nova BÍBLIA
dos Capuchinhos para um auditório que,
além dos “alunos”, incluía o Reitor do San-
tuário e o Pároco de fátima, o Administrador
e os empregados da difusora Bíblica e os Su-
periores e Superioras de muitos institutos re-
ligiosos ali residentes. Seguiu-se a bênção da
nova Livraria Bíblica, a visita às instalações
da difUSORA BíBLiCA, da revista BíBLiCA e do
Secretariado Nacional, e um pequeno lanche
(Veja-se a revista Bíblica, nº 260, janeiro-feve-
reiro de 1999, pp. 331-333).
de tal maneira esta Bíblia surge total-
mente remodelada, em relação à anterior, que
é apresentada como Nova. Nova no formato
(aumentou de 13x20 para 15.5x21.5), nas pá-
ginas (passam de 1696 para 2143), no grafis-
mo da capa e do interior (onde aparecem gra-
vuras integradas no texto), no respeito do
verso nos textos poéticos, hinos e salmos, nas
citações implícitas em itálico, nalguns nomes
de deus em versalete… Mas, sobretudo, nova
na versão dos textos a partir dos originais, in-
cluindo o tratamento de deus por tu; e nas
introduções, notas, lugares paralelos e índi-
ces; nos Quadros cronológicos, Suplementos
e Mapas.
maio-junho 2015 | Nº 358412 maio-junho 2015 | Nº 358 413
OGRÃODEMOSTARDA
Salvaguardadas as devidas diferenças e
exigências, poderemos considerar este vér-
tice da segunda era do Movimento Bíblico
àquele que, em 1965, culminou a década ini-
cial com a 1ª edição da Bíblia Sagrada. O im-
pacte no panorama nacional foi semelhante.
Mas a vida e a história do nosso filho/
/livro continuaram. Em 2000 saiu a 2ª edição,
assumindo novamente o título de Bíblia Sa-
grada e beneficiando de uma revisão com-
pleta do texto, notas, introduções, lugares
paralelos e índices da 1ª edição. A 3ª edição,
de 2001, é a reedição da 2ª, mas recebendo al-
guns melhoramentos em certos pormenores.
também em 2001, fez-se a edição da que
chamamos de Altar, com o formato de 25x17,5
e uma tiragem de 14000 exemplares; o texto
era o da 3ª edição normal. Entretanto, em maio
de 2000, tinha saído a Bíblia em formato de
bolso (15,2x10,5). A 2ª edição desta, incluiu o
texto revisto da 3ª edição em formato normal
itálico, diferente paginação e organização de
gravuras, e um corte razoável de notas.
Em janeiro de 2002 surgia a nova modali-
dade de uma Bíblia média em folha branca.
finalmente, na Páscoa de 2003, foi lançado
o CD-ROM da Bíblia Sagrada, com o texto
completo da 4ª edição, Galeria de Arte dos
Museus Portugueses com cerca de 80 ima-
gens, índice dos nomes próprios da Bíblia,
Panorama Histórico do Atlas Bíblico de J. Ma-
chado Lopes e respetivos Mapas Bíblicos,
todos os Suplementos da Bíblia de 1998 e vá-
rios textos sobre “Como ler a Bíblia”.
“Bíblia Ilustrada”, um sorriso amarelo
Em Setembro de 2005, no contexto do Cin-
quentenário da fundação da difUSORA Bí-
BLiCA e da revista BíBLiCA, decidiu-se publicar
uma outra Bíblia de Altar, com o texto anteri-
or ampliado, a duas cores e dez cadernos de
oito páginas a quatro cores, em papel couché.
isto, porque, além do mais, este cinquente-
nário coincidia com os 40 anos da 1ª Bíblia Sa-
grada editada pela difUSORA BíBLiCA, agora
nos cinquenta.Chamou-se-lheBíblia Ilustra-
da. O formato era de 52x22, e teve uma tira-
gem de 10000 exemplares.
Sendo o amarelo a cor das Bodas de Ouro,
esperava-se que esta Bíblia fosse um coroa-
mento dourado na caminhada que vimos e-
vocando. Mas, porque à última hora se con-
descendeu em utilizar outro papel proposto
pela tipogra-
fia, maior e
mais calandra-
do, o livro aca-
bou por ser de-
masiado gran-
de e pesado pa-
ra um só vo-
lume. E a im-
pressão dos ca-
dernos de cor
também não foi
perfeita. Por is-
so, o mercado
não correspon-
deu às expeta-
tivas da Edito-
ra, tendo esta
que reduzir bas-
tante o preço
inicial, com lar-
gos prejuízos.
E a aliança de ouro transformou-se num
irónico e gigante sorriso amarelo.
Em março de 2009 fez-se uma 2ª reimpres-
são da Bíblia média, também em papel branco.
Sob a administração de frei Herculano Al-
ves, em 2013 saiu nova edição da Bíblia em
formato médio, mas já não em papel branco; e
em junho de 2014, uma reimpressão de 2000
exemplares da Bíblia em formato normal itá-
lico, com texto da 5ª edição corrigida.
DOSSIÊ
Lançamento da Bíblia na UCP, Lisboa. Da esquerda
para a direita: Saturino Gomes, frei João Guedes, Dom
José Policarpo, Isidro Alves e frei Lopes Morgado. O frei
Herculano estava neste momento no uso da palavra.
Frei Herculano
Alves,
doutorado em
Sagrada Escri-
tura, foi o coor-
denador desta
nova Bíblia e é
o responsável
pela sua revisão
permanente nas
várias edições.
Sobrecapa impressa da Bíblia
ilustrada. Inclui 121 imagens a
quatro cores, em cadernos com um
total de 80 páginas, que apresentam
uma síntese da história da salvação.
414 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 415
OGRÃODEMOSTARDA
BíBLiA que tinha acompanhado os por-
tugueses, a partir dos anos 30 do século
passado,eraado Padre MatosSoares,da
diocese do Porto, traduzida a partir da Vul-
gata latina. Quando este falecia, em 1957, ini-
ciava-se o trabalho de uma nova tradução, a
da Bíblia Ilustrada ou Bíblia Monumental–porser
editada em grande formato – sob a direção
organizativa do cónego José Galamba de
Oliveira da diocese de Leiria, tendo como co-
laboradores os biblistas dessa altura. E curio-
samente,muito antes que esta terminasse o
seu percurso, iniciava-se o trabalho da Bíblia
Sagrada, da difusora Bíblica, concluída em
1964 e editada no ano seguinte.
Normalmente, as traduções da Bíblia em
Portugal seguiram a par e passo a pastoral bí-
blica do momento. Concretamente, esta pri-
meira tradução da Bíblia Sagrada da difusora
foi o culminar de um trabalho de pastoral bí-
blica e de edições parciais da Bíblia, que se
vinham publicando desde 1951; portanto,
uma década depois da encíclica Divino Aflan-
te Spiritu e outra década antes do concílio Va-
ticano ii, nasce esta Bíblia; isto, entre os dois
acontecimentos bíblicos mais relevantes do
séc. XX. deste modo, o Movimento Bíblico dos
franciscanosCapuchinhoséoresultadodare-
ferida encíclica do papa Pio Xii e, ao mesmo
tempo, antecipa-se à Dei Verbum do concílio
Vaticano ii.
A importância da Bíblia de Matos Soares
manifesta-se num acontecimento, pelo me-
nos, curioso: em 2006, a Editorial AO, de Bra-
ga, ainda editou o Novo Testamento e o Evan-
gelho de Jesus Cris-
to da sua tradu-
ção.
1. A BÍBLIA ILUS-
TRADA foi a pri-
meira tradução
feita em Portugal
com critérios ci-
entíficos e a par-
tir dos textos ori-
ginais. foi publi-
cada em fascícu-
los entre 1957-
-1970, em 7 volu-
A Bíblia católica em Portugal
na segunda parte do séc. XX
Ao celebrar os 50 anos da Bíblia editada pela Difusora Bíblica, a nossa Revista
apresenta uma breve nota das outras Bíblias em Portugal, no mesmo período.
Poderíamos dizer que o séc. XX foi o século da Bíblia, devido às encíclicas
Providentissimus deus de Leão XIII (1893) e Spiritus Paraclitus de Pio XII
(1943), que se anteciparam e prepararam a dei Verbum do concílio Vaticano II.
Herculano Alves
A BÍBLIA EM PORTUGAL
AA
A Bíblia dos “50 anos da 1ª Bíblia”
com o Novo Acordo Ortográfico
Ainda a gerir os prejuízos da má expe-
riência nas Bodas de Ouro da difUSORA e da
REViStA, a atual administração da difusora e
da Revista, presidida por frei Luís Leitão, não
deixou de meter mãos a novas edições: em
outubro de 2014, a 1ª edição da Bíblia de bolso
com notas reduzidas e, pela primeira vez em
Portugal, com o novo Acordo Ortográfico de
1990; a edição foi de 10000 exemplares, sendo
metade para Angola, e tem no fronstispício
uma tarja na cor, indicativa dos 50 anos da 1ª
edição da Bíblia Sagrada, em 1965. Em no-
vembro de 2014, uma edição de 15000 em for-
mato normal, 5ª reimpressão da 5ª edição.
Mas, sobretudo, em janeiro de 2015, teve
outra iniciativa marcante: uma Bíblia come-
morativa dos 50 anos da 1ª edição, em formato
médio, também com o novo acordo ortográfico,
para a qual o grafista José Morgado Matos
criou uma capa completa e o frontispício com
desenho e letragem originais.
O frei Herculano não quis perder a opor-
tunidade para introduzir um novo melhora-
mento no texto desta edição: a palavra ta-
bernáculo (de origem latina) foi substituída
pelas palavras tenda, morada ou templo, con-
forme a palavra utilizada no original hebrai-
co. O qual supôs, também, rever os índices,
para incluir estas novas entradas.
Eis: um livro, como um filho, nunca está
definitivamente criado.
DOSSIÊ
50 ANOS DA BÍBLIA
• A única Bíblia Católica atual, traduzida direta-
mente a partir dos originaispara Português.
• O texto obedece ao novo Acordo Ortográfico.
• Só ela tem imagens no texto, com temas ex-
clusivos de cada livro.
• A nomenclaturade pessoas e localidades, e dos
Nomes de Deus foi tratada cuidadosamente.
• Tem 180 páginas de Introduções e extra-textos
com sínteses ou destaques.
• As notas explicativas e lugares paralelos de ou-
tros livros ocupam centenas de páginas.
• Os textos poéticos dos originais são aqui apre-
sentados também em forma poética.
• Índice de Notas dos principais temas.
• Índice Bíblico-Pastoral, apresentando a evolu-
ção dos temas na revelação bíblica.
• Lecionário dominical e festivo da Missa.
• 8 Suplementos, incluindo a Cronologia geral do contexto bíblico, a Formação
do Antigo e do Novo Testamento e 8 Mapas.
A Bíblia comemorativa dos 50 anos da
primeira edição da Difusora Bíblica, 1965.
416 maio-junho 2015 | Nº 358 417
Se Deus é infinito,
como é que pode haver algo que não seja Deus?
Salmo 116
Amo o Senhor
porque Ele é bom
e amou-me primeiro.
Espero no Senhor
porque Ele é fiel
e cumpre.
Creio no Senhor
porque O vejo na vida
e caminha comigo.
Agradeço ao Senhor
porque d’Ele tudo vem
e eu, sem Ele, nada encontro.
Canto ao Senhor
porque Ele é belo
e dá sentido ao meu canto.
Recorro ao Senhor
porque Ele me estende os braços
e dá segurança.
Vou com o Senhor
porque Ele me chamou
e é o Caminho.
Rezo ao Senhor
porque Ele é o santuário
e a porta.
Respondo ao Senhor
porque Ele perguntou
e eu ouvi.
Vivo no Senhor
porque eu estava morto
e Ele restaurou a minha vida.
Frei Manuel Rito Dias
Andarei na presença do Senhor,
no mundo dos vivos. (v. 9)
OGRÃODEMOSTARDA
mes, pela Editora Universus, do Porto. O
Novo Testamento foi também editado em 1957,
em 2 volumes, e o Antigo entre 1961-1970, em
4 volumes. Ultimamente foi editada como Bí-
blia manual na diocese de Aveiro (Mel Edito-
res, 2013), mas certamente o seu texto
merecia uma profunda revisão.
1.1. A Edições Theologica,deBraga, lan-
çou também a edição desta tradução para o
Novo Testamento em três volumes, entre 1986
e 1991.
1.2. J. Mendes de Castro, um dos tradu-
tores desta Bíblia, editou as suas traduções
em separado:
• Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo,
1993.
• Livro dos Salmos, 1993.
2. A BÍBLIA SAGRADA, da difusora Bíblica
(franciscanos Capuchinhos).
2.1.Aprimeiratradução(1964). Para colma-
tar a falta de uma Bíblia popular atualizada,
a difusora Bíblica empreendeu a tradução de
uma edição para o povo. de facto, a Bíblia
Ilustrada, em edições de luxo e em vários e
grandes volumes,
não era acessível
às fracas posses da
generalidade do
povo português,
nem de fácil ma-
nuseamento. As-
sim, entre as déca-
das de sessenta e
noventa do século
passado, aparece-
rão as duas tradu-
ções da Bíblia Sa-
grada da Difusora Bíblica ou Bíblia dos Capu-
chinhos, feitas a partir dos originais, a se-
gunda das quais já no fim do século: a 1ª, em
1964/65, em pleno Concílio e um ano antes
da promulgação da constituição conciliar
sobre a Bíblia, a Dei Verbum. Por não ser uma
Bíblia perfeita, teve uma revisão em 1968,
sendo a tradução novamente comparada
com o texto original.
2.1.1. Este texto da Bíblia da difusora Bí-
blica foi publicado por várias editoras cristãs,
sobretudo na Bíblia Interconfessional de
1993, pela
Sociedade
Bíblica de
Portugal,
em coedi-
ção com a
d i f u s o r a
Bíblica, e te-
ve várias e-
dições. O
título do
frontispício
diz: “Bíblia
Sagrada –
A Boa No-
va/tradu-
ção inter-
confessional do hebraico, do aramaico e do
grego em português corrente/Edição da di-
fusora Bíblica (franciscanos Capuchinhos),
1999.”
2.2. A Nova tradução dos originais (1ª edi-
ção, 1998; 5ª edição, 2008). Sentiu-se a urgên-
cia de fazer uma nova tradução dos originais,
pelo que foram convidados todos os biblistas
portugueses da altura. Quer isto dizer que a
primeira tradução fez o seu caminho, du-
rante 34 anos, embora com muita humildade,
no que toca à apresentação do texto bíblico.
A segunda tradução da difusora é a única
feita diretamente a partir dos originais e dis-
ponível em língua portuguesa, neste mo-
mento, em Portugal.
todas as outras são adaptações feitas a
partir de Bíblias do Brasil, que não conside-
ramos aqui.
50 ANOS DA BÍBLIA
419418 maio-junho 2015 | Nº 358
que eles tinham para trabalhar era boa vontade e
um medidor de dioptrias. Não havia sequer lentes
nem óculos.»
Jimmy acabou por morrer. Mas houve
consequências. «As mortes só são em vão se não
acordarmos» – diz, convicta.Por causa desse
rapaz, a irmã irene foi, com um coronel dos
capacetes azuis, oftalmologista num hospital
para militares da ONU, falar com responsá-
veis da Organização Mundial de Saúde na re-
gião. Ganharam a promessa de equipar o
hospital de oftalmologia de Goma.
da experiência nos campos de refugia-
dos, guarda memória viva da esperança:
«Nunca experimentei tanto a fidelidade de Deus
como quando estamos junto do mal. E nunca vivi
a esperança como com aquelas pessoas: não é op-
timismo, é uma graça que faz com que elas consi-
gam padecer o incalculável.»
Uma ideia que não se acalmava
no coração
A vontade de trabalhar com refugiados e
o JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados) foi-se for-
mando aos poucos. Começou vagamente
após ter vivido, na áustria, com duas refu-
giadas curdas do iraque. Só mais tarde se
apaixonaria pelo tema, quando leu textos do
padre Pedro Arrupe, geral dos jesuítas, que
fundara o JRS.
Em 1989, no Porto, recebeu um fax da su-
periora geral a perguntar se queria trabalhar
num colégio em Bikop, a 80 quilómetros da
capital dos Camarões, Yaoundé. A escola,
destinada a meninas de uma zona de selva,
dava formação profissional e a escolaridade
básica. Esteve lá dois anos e isso fez aumen-
tar a vontade de um trabalho com pessoas
ainda mais fragilizadas.
«Desde que conheci o trabalho do JRS que
pedia à superiora geral um tempo para trabalhar
com refugiados.» No fim do ano 2005, quando
escrevia a carta anual à geral, deu consigo a
pensar que a ideia a acompanhava há muito.
E o facto de Pedro Arrupe ter tido uma trom-
bose que o deixou imobilizado logo após fun-
dar o JRS (a 14 de Novembro de 1980, data
do seu aniversário) dava-lhe a «certeza de que
o JRS era obra de Deus».
A ideia «não se acalmava no coração». Per-
guntou de novo à geral se podia partir. Meses
depois, em Abril de 2006, a geral telefonou
com a resposta positiva. O JRS pediu-lhe para
trabalhar, primeiro, com refugiados congole-
ses de etnia tutsi no Ruanda; depois, com os
hútus e deslocados internos à força no Kivu
Norte, em Goma (Congo). tutsis e hútus vi-
raram-se uns contra outros, com um «terrível
sofrimento».
Acabou por ficar mais tempo que os dois
anos que duram normalmente as missões do
JRS. O governo-geral da congregação queria
colaborar com a organização, mas só num se-
gundo momento foi possível outra irmã
“substituir” irene Guia.
VIDA CONSAGRADA
hegou de capacete na cabeça, partiu de-
pois de o colocar de novo, sentada na
motorizada da congregação, que utiliza
nas suas deslocações em Lisboa.
Houve um dia, num campo de refugi-
ados do Congo, em que a motorizada pode-
ria ter dado jeito à irmã Irene Guia, 55 anos,
das Escravas do Sagrado Coração de Jesus.
O pequeno Saidi, 14 anos que mais pa-
reciam oito, mal nutrido, ventre enorme, mãe
doente, foi identificado como precisando de
cuidados de saúde. Mas tinha de andar 100
metros até ao posto de atendimento. Quando
percebeu isso, começou a chorar.
«Um homem que me acompanhava pô-lo às
cavalitas e ele parou o choro.» A mãe, que tinha
António Marujo / jornalista *
Viu Saidi a correr para ela e nesse
momento sentiu na pele a sensação
de ter salvo uma vida. Viu Jimmy
morrer com um tumor e foi pedir
mais meios para evitar mortes
assim. E viu a esperança que faz
com que pessoas no limite
“consigam padecer o incalculável.”
CC
Ter na pele
a sensação
de ter salvo
uma vida
um cancro e era igualmente mal nutrida, foi
levada com o filho para o hospital. «Duas se-
manas depois, fui visitá-los. Quando me viu,
Saidi desatou a correr. Nesse dia, tive a sensação
na pele de que tinha salvo uma vida.»
Nem sempre tiveram um final assim fe-
liz, as histórias desses pouco mais de quatro
anos (2006-2010) nos campos de refugiados
do Ruanda e do Congo. Numa outra ocasião,
ainda em Goma, província de Kivu Norte
(Congo), apareceu Jimmy, uma criança de
quatro anos com um tumor na cabeça que já
lhe saía por um dos olhos, do qual cegara.
Um dos oftalmologistas – dois médicos para
dois milhões de pessoas – pôs ainda a hipó-
tese de lhe extrair uma parte do tumor. «O
Irene Guia, das Escravas do
Sagrado Coração de Jesus
maio-junho 2015 | Nº 358 421420 maio-junho 2015 | Nº 358
Nos campos, o JRS tinha a seu cargo a
educação. A escola é, naqueles lugares, «pro-
tecção e esperança». todo esse tempo permitiu-
lhe viver por dentro a parábola do capí-
tulo 25 do evangelho de São Mateus: «Eu não
sofria como eles, mas estava a protegê-los.» E não
experimentava medo quando reunia com po-
líticos ou polícias, que sabia serem ex-crimi-
nosos. «Vivi a liberdade que Cristo nos dá.»
Não é por acaso que irene Guia cita o
texto de Mateus. A Bíblia – que estudou na
Universidade Gregoriana (Roma), com Bru-
na Costacurta, uma «extraordinária professora»
– «é palavra viva: preciso de conhecer o contexto
em que foi escrita para que ela me fale.»
Há vários textos que se tornaram referên-
cia: nos três primeiros capítulos do livro do
Génesis, «está tudo: quem somos, de onde vimos,
para onde vamos, a relação com Deus e com os ou-
tros, as grandes questões que nos colocamos».
do Novo testamento, cita a parábola dos
trabalhadores que, contratados a horas dife-
rentes, recebem o mesmo salário. «A bondade
de Deus está fora dos nossos esquemas. É isso que
a parábola diz.» E há ainda outro texto que vê
como o seu AdN: nos Actos dos Apóstolos,
Pedro e João sobem ao templo para rezar e
respondem ao coxo de nascença: «Não tenho
ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou. Em
nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e
anda.»
“O mundo andará sem nós...”
Nascida em Lisboa, embora com as raí-
zes no Norte (mãe) e Ribatejo (pai), irene tem
duas irmãs, além de um irmão que morreu.
Herdou dos pais a boa disposição, o sentido
da autonomia e do serviço aos outros. «Eles
diziam que, qualquer que fosse a profissão, deve-
ríamos ser os primeiros na entrega.»
desde cedo, estudou música na Acade-
mia de Santa Cecília. «A música educa muito o
coração.» Aprendeu piano até aos 18 anos,
quando foi para a áustria estudar contra-
baixo. ficou numa residência universitária
internacional e foi aí que se cruzou com as re-
fugiadas curdas. «Fiquei muito amiga da comu-
nidade, ainda sem perceber que eram refugiados. E
isso deu-me uma grande abertura ao universal.»
Aos 13 anos, deixou de ir à missa. Aos 17,
depois da morte do irmão, começou um pro-
cesso de busca inverso. O final veio quatro
anos depois, num retiro no seminário do
fundão, por altura do Natal, com péssimas
condições e um frio imenso. Ouviu: «Deus
ama-nos e Jesus deu a vida por nós.» A frase
feita levou-a, no contexto, a perguntar o que
devia fazer. Voltou para a áustria, já com o
Novo testamento na bagagem e a anunciar
aos amigos da residência que, nesse do-
mingo, queria participar naeucaristia.Ofere-
ceu-se para colaborar na paróquia, aprendeu
a rezar com um pequeno grupo evangélico,
teve «conversas muito giras» sobre deus, a fé,
a Bíblia...
Voltou para Portugal, trabalhou três anos
num banco, envolvendo-se ao mesmo tempo
num grupo de jovens que se reunia no colé-
gio das Escravas. «Às tantas, aparece-me a ques-
tão vocacional. Nuns Exercícios Espirituais,
percebi que era essa a espiritualidade em que me
encontrava em casa e configurava a minha vida à
vida de Jesus Cristo.»
Procurou várias congregações, mas foi
nas Escravas que ficou. E não lhe faz confu-
são o nome? «O que eu não gostava mesmo era
do ‘Coração de Jesus’. A iconografia ligada à de-
voção complicava-me mais do que ‘Escravas’.»
Reconciliou-se com a ideia também através
de um texto do padre Arrupe, intitulado Só
nele a esperança – por uma teologia do sagrado co-
ração. Com a ideia, mas não com a iconogra-
fia, que considera «pornografia religiosa: nem
tudo serve para transmitir a mensagem, a Igreja
deveria ter mais cuidado com o que propõe quando
fala de Deus».
As Escravas, como todas as congrega-
ções, são «convocadas para a missão: se esta não
for o centro, podemos ser solteirões e egoístas,
ainda mais sabendo que temos o futuro assegu-
rado». Os riscos da vida religiosa contempo-
rânea, diz, são a solidão, a inveja, a falta de
entusiasmo. «A nossa vida tem de estar centrada
em Jesus. Se não, o que andamos a fazer?»
Preocupa-a também o lugar das mulhe-
res na igreja: «Tem de haver uma alteração muito
grande na Igreja.» Que pode chegar ao sacer-
dócio, sim. «O papel da mulher vai ser uma
questão central do mundo. E o mundo não pode
aceitar uma Igreja que, sendo misericórdia, conti-
nua a reduzir a mulher a um papel secundário.»
também aqui, recorda uma frase de
Pedro Arrupe: «Não me preocupa que o
mundo mude. Preocupa-me que demos res-
postas de ontem aos problemas de hoje. O
mundo anda sem nós; de nós depende que
ande connosco.»
Da experiência nos campos
de refugiados, guarda
memória viva da esperança:
«Nunca experimentei tanto a
fidelidade de Deus como quando
estamos junto do mal. E nunca
vivi a esperança como com
aquelas pessoas: não é
optimismo, é uma graça que faz
com que elas consigam padecer
o incalculável.»
«Os riscos da vida religiosa
contemporânea, são a solidão,
a inveja, a falta de entusiasmo.
A nossa vida tem de estar
centrada em Jesus. Se não,
o que andamos a fazer?»
*O autor escreve segundo a anterior norma ortográfica.
422 maio-junho 2015 | Nº 358
►28 junho 2015
ENCONTRO NACIONAL
DOS GRUPOS BÍBLICOS
É a festa da Palavra para to-
dos os grupos, mesmo os que
tiveram Encontros Regionais.
também vai participar a Fa-
mília Franciscana Capuchi-
nha, com os seus familiares
e os que frequentam as co-
munidades a nós confiadas.
● Início às 9h30, com Aco-
lhimento solene à Palavra.
►19-24 julho 2015
RETIRO BÍBLICO
Sobre a leitura orante da Bí-
blia, ou Lectio divina. Orien-
tado por frei Manuel Arantes
da Silva e frei Luís Manuel
Leitão.
23. DOMINGO
21:00, Apresentação da Semana.
Frei Manuel Arantes, ofmcap / Secretário da Semana.
21:15, O consagrado num mundo secularizado:
Frei Fernando Alberto, ministro provincial ofmcap.
21:45, PowerPoint. Frei Manuel Rito, ofmcap.
22:00, Oração da noite. Equipa de Liturgia.
24. SEGUNDA
10:00, O profano, o religioso, o sagrado e o consagrado
na vida e na Bíblia. Frei Herculano Alves, ofmcap.
11:15, Intervalo.
11:45, Comunicação: Aliança e Vida Consagrada. Irmã
Maria das Dores Rodrigues, fma.
15:30, Povo de Deus, um povo de consagrados.
Padre Manuel Barbosa, scj.
25. TERÇA
10:00, Profetas, os consagrados à Palavra. Frei Bernardo
Correia, ofm / UCP Porto.
11:15, Intervalo.
11:45, Comunicação: Consagrados ao serviço da Palavra.
Irmã Núria, Verbum Dei.
15:30, Jesus Cristo, o consagrado do Pai, para o mundo.
Doutor José Carlos Carvalho, UCP Porto.
26. QUARTA
10:00, Vocação e missão de Paulo, paradigma da vida
consagrada. D. António Couto, Bispo de Lamego.
11:15, Intervalo.
11:45, Comunicação: Consagrados, santificados em Cristo.
Irmã Graça Guedes, superiora provincial rad
15:30, Os consagrados na vida e na história da Igreja.
D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar de Braga.
27. QUINTA
09:30, Desafios e futuro da Vida Consagrada.
D. Augusto César.
11:00, EUCARISTIA de encerramento. D. Augusto César.
SANTIFICADOS PELA PALAVRA
,
Ser Consagrado, Hoje
na Igreja e no Mundo
XXXVIII SEMANA BÍBLICA NACIONAL
Fátima, 23 a 27 de agosto de 2015
INSCRIÇÕES
E INFORMAÇÕES
Telefones:
249 530 210; 249 539 215;
249 530 390; 926 261 463.
E-mails:
fatima@capuchinhos.org
sndb@difusorabiblica.com
Centro Bíblico dos Capuchinhos
“Na plenitude da alegria pascal”
«Voltar sempre
ao primeiro amor»
d
essa mesma certeza de-
ramtestemunho,no dia
8 de abril passado, três
irmãos capuchinhos que reno-
varam a sua consagração ao Se-
nhor. O frei Manuel Luís, do
Porto, eo freiAdelinoSoares, da
Mata Mourisca, com50 anos de
profissão religiosa; o frei Júlio
Cunha, de Ribas, com 25.
O frei Manuel Luís Tei-
xeira, sempre em Portugal, em
lugares de formação como dire-
tor, mestre de noviços, guardião
e conselheiro provincial; o frei
Adelino, após algum tempo em
Portugal, está desde 1978 em
Angola, onde tem feito um pou-
co de tudo, agora integrado nes-
savice-Província, e reconduzido
comoSecretário vice-Províncial;
o frei Júlio, depois de um ano
em Angola, no serviço fraterno
em Portugal como irmão não
clérigo, mas a concluir o curso
de teologia para ser ordenado
sacerdote.
Lopes Morgado
Texto e imagem
«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?»
– desafiava Paulo, na Carta aos Romanos (8,35.39).
A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez,
o perigo, a espada?» E concluía: «Estou convencido de
que nenhuma criatura poderá separar-nos do amor de Deus
que está em Cristo, Senhor nosso.»
Souberam a «primitivo amor» (Ap 2,4) gravado a ouro e prata, as mesmas
palavras de há tantos anos ditas com a mesma fé e confiança no Deus Fiel.
425maio-junho 2015 | Nº 358
escendo o periférico de Paris, junto a Gen-
tilly, dá-se de caras com a torre da igreja
do Sacré-Coeur. O estar edificada numa
pequena elevação e os 63 metros da torre cam-
panária impõem-na à paisagem da cidade e aos
seus habitantes. No último terço da torre, qua-
tros anjos com seis metros de altura, do escultor
Georges Salpique (1889-961): voltados nas
quatro direções, de cabeça inclinada, mãos pos-
tas em oração e asas abertas, lembram anjos
protetores de quem lá vive ou passa.
A beleza desta igreja começou quando Ro-
bert Picard (+1969), assistente espiritual dos es-
tudantes católicos da universidade, mais tarde
Bispo de Orléans, convocou os artistas de fran-
ça para a ornamentarem; o pintor Angel Zagar-
ra, o arquiteto Pierre Paquet e o vitralista Jac-
ques Gruber deixaram, assim, a sua marca nes-
ta igreja de estilo romano-bizantino.
foi consagrada em 1936 pelo card. Verdier
e os estudantes católicos de 50 nacionalidades
desta universidade fizeram a festa. Mas a cons-
trução do periférico em 1960 ergueu uma bar-
reira entre ela e a universidade; e o movimento
de maio de 68 levou os estudantes a abandoná-
-la, acabando a ideia pastoral de Robert Picard,
de fazer da fé e da ciência uma caminhada
jovem e solidária.
Mas, deus vai fazendo a sua escrita nas li-
nhas curvas. Na mesma década de 60, cresceu a
emigração de portugueses para frança, empur-
rados pelas carências no país e a guerra no ul-
tramar. E este povo no deserto começou a di-
rigir-se para a igreja do Sacré-Coeur, em Gen-
tilly, que se tornou espaço de (re)encontro e re-
toma da sua condição humana: no convívio, na
oração e no canto em língua materna, recupe-
raram sentido para a vida e fortaleza para a fé!
Em 1979, os responsáveis das igrejas de
Paris e Portugal reuniram-se e convidaram
estes cristãos a juntarem-se e criar uma comu-
nidade identificada como Paróquia dos Portu-
gueses de Paris. Hoje, cada fim de semana,
reúnem-se ali 3 mil pessoas. As crianças da ca-
tequese são 850, distribuídas pelos dois turnos
CRÓNICA
Na Paróquia
Portuguesa de Paris
César Pinto
DD
Vós sois o sal da terra
A igreja do Sacré-Coeur,
em Gentilly, onde está
sediada a paróquia
portuguesa de Paris.
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  • 1. Ano da Vida Consagrada S. Bento de Nursia, fundador da Ordem dos BeneditinosS. Bento de Nursia, fundador da Ordem dos Beneditinos Nursia, 24 março 480 – Monte Cassino, 21 março 547Nursia, 24 março 480 – Monte Cassino, 21 março 547 100 ANOS DO “GENOCÍDIO DO POVO ARMÉNIO” • 60 anos da Difusora e da “Bíblica” • 50 anos da 1ª Bíblia da Difusora Ano61/maio-junho2015/Nº358/€1.50 ONDE A BÍBLIA SE FAZ VIDA Que dizem os Evangelhos sobre a Virgem Maria?
  • 2. Ler a Bíblia com os pés Escrevo este apontamento em Jerusalém. Os 50 anos da primeira Bíblia dos Capuchinhos deram-me esta oportunidade. NHAR na terra Santa percorrendo os caminhos e os lugares dos personagens bíblicos, foi para mim uma forma de poder ler a Bíblia com os pés. • A Grande Sinagoga dos judeus está perto da casa dos Ca- puchinhos. Caminhar de uma até à outra foi o meu primeiro percurso, sentindo-me assim incluído no caminho bíblico que vai de Abraão até Jesus Cristo. • Andei pelas calçadas de Jerusalém, gastas pelos pés de tan- tos profetas, reis, sacerdotes, doutores da lei, curiosos, devo- tos, turistas… e fui tentando ler nas suas paredes as razões dos meus passos, sem misturar as probabilidades da história com as verdades teológicas. • No Muro das Lamentações, olho as pedras que restam do templo antigo e observo, leio e entendo como «o templo de deus é santo» mas acreditando mais como «vós sois esse templo» (1Cor 3,17). • Em Belém, subo até à igreja da Natividade onde encontro a casa do pão e da paz. Porém, deste lado estão os árabes; do outro lado estão os judeus. Quem os divide é um muro de ci- mento construído há dias, não Aquele que nasceu em Belém para ser pão e paz para todos. • Nas margens do Mar Morto (e continua a morrer vários centímetros por ano), com praias de sal e de mitos, vou decifrando nas estrelas, inseguro mas confiante como Abraão, códigos de vozes e destinos incertos. • Perto dali, caminhei com a comunidade essénia dentro das cavernas milenares e escu- ras de Qunran, segurando numa das mãos os Evangelhos e na outra a lanterna de isaías. • Um dia, também eu desci de Jerusalém a Jericó; mas foi no regresso que fiz de Bom Sa- maritano, ao prestar ajuda a um muçulmano, cedendo-lhe duas garrafas de água para o motor do carro avariado na estrada. • Mais de uma vez passei pela Porta de Jaffa, para entrar na cidade de tantas cores, sons e credos… Controladores e câmaras de vigilância só encontrei nos guardas cristãos auto- ritários, rígidos e intolerantes na disputa e controlo do Santo Sepulcro. • Nas poeiras do Deserto da Judeia não foi fácil ajustar as minhas pegadas às de Jesus. Encontrei apenas mosteiros, beduínos e silêncios de João Baptista. • Ainda subi com alguma dificuldade o Monte da Transfiguração, para, lá em cima, ver o tempo convertido em templo e voltar a descer para devolver à planície as tábuas de Moisés. Em meu andar, a palavra bíblica lida com os pés era, no fim do dia, percorrida pela reflexão da fé, convencido de que o mais importante não é saber andar pelos caminhos que Jesus pisou, mas saber se Ele anda pelos caminhos que eu piso. O diretor cAMI SITUAR a palavra 01 Ler a Bíblia com os pés ESTUDAR a palavra 04 Que dizem os Evangelhos sobre a Virgem Maria? CELEBRAR a palavra 10 Leituras bíblicas de junho e julho 33 Salmo 116 40 Cântico: Vós sois o sal da terra SECÇÕES 02 AtUALidAdE: Centenário do “genocídio arménio” 11 tERRA SANtA: O Genocídio do Povo Arménio 34 VidA CONSAGRAdA: ter na pele a sensação de ter salvo uma vida 38 MOViMENtO BíBLiCO: Ações bíblicas 2015 XXiV Semana Bíblica de Barcelos 39 EM fAMíLiA: Voltar ao primeiro amor 41 CRÓNiCA: Na Paróquia Portuguesa de Paris 43 MáRtiR: dom Óscar Romero, beatificado 45 NOtíCiAS do mundo bíblico Ano 61 / Nº 358 / maio-junho 2015 Sumário CAPA: Momentos de evocação do centenário do “genocídio do povo arménio”, em 24 de abril passado. CONTRA-CAPA: São Bento, um dos patronos da Europa. Fresco de Fra Angelico. Festa litúrgica: 11 de julho. 18 60 anos da Revista Bíblica: História breve de um longo amor 22 50 anos da 1ª edição da Bíblia: Um livro é como um filho 22 A Bíblia em Portugal A Bíblia católica em Portugal na segunda metade do século XX ASSINATURAS Portugal: € 10,00; Europa, Macau, Guiné Bissau, S. Tomé e Príncipe: € 14,50; Países fora da Europa: € 17,50; Assinante Benfeitor: Quantia superior à indicada para a respetiva assinatura. PAGAMENTO Adiantado no início do ano, em nome de Difusora Bíblica. Por transferência bancária: Banco Santander Totta – Fátima. NIB 0018 0003 37573862020 67 IBAN PT50 0018 0003 37573862020 67 BIC/SWIFT TOTAPTPL (Envie-nos o comprovativo do Banco). Já pagou a sua assinatura de 2015? No envelope da revista, a data junto do seu nome é a do ano que já está pago. LEMBRE-SE: esta revista só vive do pagamento dos seus assinantes. ATENÇÃO ASSINANTES NO ESTRANGEIRO! Em virtude das elevadas taxas a pagar por cheques estrangeiros, pedimos o favor de: > Enviar em nome de “Difusora Bíblica” > Em euros, sobre um Banco português > Melhor ainda, por transferência bancária (ver NIB/IBAN, acima). DOSSIÊ / O grão de mostarda Sem palavras... e sem obras!
  • 3. O mal feito deve ser reco- nhecido e, na medida do possível, reparado. Outro pressuposto essencial do perdão e da reconciliação é a justiça. Não há contradição alguma entre perdão e jus- tiça. Com efeito, o perdão não elimina nem diminui a exigência de reparação, que é própria da justiça.» A dor pela ofensa costu- ma transformar-se em ira e ódio para com o agressor e tudo aquilo que recorda o prejuízo recebido faz reviver a dor. Sem perdão é impossí- vel libertar-se do rancor e do ódio. É necessário perdoar, pois só assim se distingue entre agressor e ofensa, pe- cado e pecador, dignificando quem praticou o mal. Não pretendo fazer uma alegação reivindicativa, que não me compete. Porém, nu- ma publicação cristã e cató- lica, não podemos deixar de dizer e buscar a verdade e co- municá-la, para romper as ca- deias do rancor; em defini- tiva, para ser mais livres. 386 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 387 bíblica Diretor Manuel Rito Dias Administrador Luís Manuel Leitão Chefe de Redação Lopes Morgado Redatores Permanentes Abílio Pina Ribeiro, Acílio Mendes, António Marujo, Ariel Álvarez Valdés, César Pedrosa Pinto, Fernando Ventura, Herculano Alves, João Santos Costa, Manuel Arantes, Vítor Arantes Direção gráfica Lopes Morgado Paginação Tânia Cordeiro Edição DiFuSORA BíBLiCA (Franciscanos Capuchinhos) Administração e Redação Rua de S. Francisco de Assis,160 Apartado 208 2496-908 FÁTiMA Telefone: 249 530 210 Telemóvel: 926 261 459 Fax: 249 530 214 e-mail: difusora@difusorabiblica.com home page: www.difusorabiblica.com Telefone: 217 742 445 Telemóvel: 926 261 457 Fax: 217 782 371 Propriedade Província Portuguesa da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos Pré-Impressão Difusora Bíblica/Fátima Impressão e Acabamento Sersilito - Empresa Gráfica, Lda. Apartado 1208 / 4471-909 MAiA Telefone: 229 436 920 e-mail: sersilito@sersilito.pt ISSN 0874-3061 Depósito Legal: nº 28340/89 NIF: 500 766 762 isento de registo na ERC, ao abrigo do decreto regulamentar 8/99 - 9/6 do artigo 12 nº 1a) Tiragem: 8.000 exemplares Fecho deste número: 05 de maio Sócio da AIC nº 258 ONDE A BÍBLIA SE FAZ VIDA de cristãos sírios e assírios. O termo «genocídio» não existia nos princípios do sé- culo XX; foi cunhado 30 anos depois pelo jurista judeo-po- laco Raphael Lemkin (que fugiu à perseguição nazi en- contrando asilo nos Estados Unidos), sendo tipificado no direito internacional como «o delito que nega o direito de um grupo humano con- creto a existir». O não reco- nhecimento do acontecido, por parte dos sucessivos go- vernos da turquia até hoje, faz com que, cem anos de- pois, as vítimas continuem a exigir que se faça justiça. «Conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres» (Jo 8,32) ATUALIDADE Centenário do “genocídio arménio” Em 24 de abril deste ano cumpriu-se o centenário do genocídio arménio. Nessa mesma data, um século an- tes, o Governo otomano dos Jovens turcos promulgava a Lei de deportação, com a qual oficialmente se dava i- nício ao aniquilamento dos cidadãos arménios do impé- rio, acabando também com várias centenas de milhares O não reconhecimento do acontecido, por parte dos sucessivos governos da Turquia até hoje, faz com que, cem anos depois, as vítimas continuem a exigir que se faça justiça. «O perdão, como ato de amor, também tem as suas próprias exigên- cias: a primeira é o respeito da verdade» (João Paulo II). José Manuel Martínez diretor da revista Tierra Santa A Turquia insiste em falar de “efeitos colaterais” e considera despropositadas as palavras do Papa Francisco sobre o “genocídio do povo arménio”. Porém, as imagens falam por si. este século, milhões de crianças,mulhereseho- mens têm sido vítimas de atrocidades que desafiam a imaginação e comovem profundamenteaconsciência da humanidade», lê-se no Preâmbulo do Estatuto de Roma, em que se cria a Corte Penalinternacional, organis- mo encarregado de julgar os crimes de genocídio. NN dizia São João Paulo II, na sua mensagem para a XXX Jornada Mundial da Paz, em 1997: «O perdão, como ato de amor, também tem as su- as próprias exigências: a pri- meira é o respeito da verda- de. Longe de excluir a pro- cura da verdade, exige-a. b DESENHODEPAOLOCOSSI
  • 4. trou unicamente na morte e na ressurreição de Jesus. tudo o que se referia à sua vida his- tórica foi relegado para segundo plano. Maria, a desfavorecida depois de Paulo, foi MARCOS quem com- pôs o seu livro, por volta de ano 70. É o pri- meiro a dar-lhe o nome de “Maria”, e refere-a em dois episó- dios do seu Evan- gelho. Num, apresen- ta-a junto dos ir- mãos de Jesus, is- to é, com o resto da família, e con- ta como um dia, em que seu filho estava a pregar numa casa da al- deia, ela chegou para o procurar e levar consigo, por- que pensava que se tinha tornado louco, devido às coisas que ensina- va (Mc 3,20-21). Quando Jesus soube que a sua mãe e a sua família o buscavam, exclamou: «”Quem são a minha mãe e meus irmãos?” E percorrendo com o olhar os que estavam à volta dele, disse: “Aí estão minha mãe e meus irmãos: aquele que fizer a von- tade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”» (Mc 3,31-35). O relato de Marcos é bastante pouco favo- rável para Maria, e para o resto dos “irmãos de Jesus”, pois constituem um grupo que não compreende a sua missão. Por isso Jesus toma distância em relação a eles, considera os seus ouvintes como a sua verdadeira família. Maria, a ignorada Os escritos mais antigos do Novo testa- mento foram as Cartas de SÃO PAULO, com- postas entre os anos 50 e 56. Nelas, embora haja três referências ao nascimento de Jesus, nunca se fala de Maria. A primeira alusão encontra-se na carta aos filipenses, onde Paulo afirma de Jesus: «tornando-se semelhante dos homens» (fl 2,7). A segunda está na epístola aos Romanos; diz que Jesus nasceu «da descendência de Da- vid» (Rm 1,3). A terceira, e mais explícita, na carta aos Gálatas: «Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher” (Gl 4,4). Vemos, pois, que São Paulo nunca men- ciona Maria, nem ensina o nascimento virgi- nal de Jesus. talvez o desconhecesse. Ou talvez preferisse passá-lo por alto, por não o considerar um dado importante para o anún- cio do Evangelho. O facto é que Paulo se cen- Não é herança de família O segundo episódio em que Marcos alude a Maria, tem lugar na sinagoga de Na- zaré. Jesus tinha entrado para pregar, e os presentes, assombrados, comentaram: «”De onde lhe vem essa sabedoria e esse poder de fazer milagres? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Ma- ria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?” E isto pare- cia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: “Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa”» (Mc 6,1-4). Estas palavras de Jesus confirmam a opi- nião desfavorável que Marcos tinha sobre a família de Jesus, pois reiteram que os seus parentes e os de sua casa o desprezavam. Porque terá conservado Marcos, no seu Evangelho, esta recordação negativa da famí- lia de Jesus? Ao que parece, a causa deve-se a que, nos primeiros tempos, os parentes de Jesus teriam pensado ser os únicos com di- reito a ser dirigentes das comunidades cris- tãs. Era uma prática comum no antigo Oriente, onde o sacerdócio e as outras fun- ções sociais se recebiam por herança familiar. Marcos, que escreve para leitores pagãos e não vê isto com bons olhos, incluiu esta frase de Jesus a fim de esclarecer que na família do Senhor se entrava pela escuta da sua palavra, não por laços de sangue. Maria, a reconsiderada Passaram os anos, e o pensamento cristão começou a interrogar-se e a averiguar mais acerca da infância de Jesus. Como fruto des- sas reflexões, foi também aparecendo uma fi- gura de Maria más destacada. foi então quando tocou a MATEUS escre- ver o seu Evangelho, cerca do ano 80. É o pri- meiro a aportar pormenores da infância de Jesus (Mt 1-2), e na sua obra relata como o menino foi concebido por obra do Espírito Santo, sem a cooperação de José (Mt 1,18). 388 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 389 A BÍBLIA RESPONDE Que dizem os Evangelhos sobre a Virgem Maria? Ariel Álvarez Valdés arialvavaldes@yahoo.com.ar As várias Marias Para muitos cristãos, a figura da Virgem Maria ocupa um lugar relevante, tanto na sua fé como na sua devoção. E pensam que toda a Bíblia apoia este ponto de vista. Mas, se ler- mos o Novo testamento com cuidado, leva- mos uma surpresa: nem todos os livros lhe atribuem um papel destacado. Porquê? Porque entre os primeiros e os úl- timos escritos, passaram mais de 60 anos, e nesse intervalo verificou-se uma evolução na imagem de Maria. de facto, quando as primeiras obras do Novo testamento apareceram, ainda não se tinha desenvolvido entre os cristãos a grande veneração que se produzirá mais tarde para com a mãe de Jesus. Uma tal deferência só aparecerá gradualmente nas antigas comuni- dades, e ficará refletida progressivamente nos autores sagrados. Uma análise cuidadosa dos textos bíblicos pode revelar-nos essa evolução. Muitos cristãos temos Maria como a criatura mais sublime da história da salvação, e consideramo-la um exemplo de entrega e de amor. Mas, nos primeiros séculos, aos autores do Novo Testamento não foi fácil entender e desenvolver a sua figura. Tiveram que evoluir lentamente, e as marcas desta progressão ficaram registadas nos seus livros. É o que analisamos neste estudo.
  • 5. Aparece, sobretudo, como modelo de crente e de mu- lher atenta à Palavra de deus. Maria, aquela que escuta E que foi feito às duas cenas negativas de Marcos? Lucas também as narra, mas alterando-as, para exaltar mais a sua figura. Na primeira, tal como já fizera Mateus, eliminou a cena em que ela considerava Je-sus como louco; e a se- guinte, quando vai procurá- lo com os seus irmãos, é transformada num verdadeiro elogio de Maria. Para isso, Lucas elimina primeiro a pergunta de Jesus («Quem são a minha mãe e meus irmãos?»), que supunha certa distância entre mãe e filho; em seguida suprime o gesto de Jesus («percorrendo com o olhar os que estavam à volta dele»), que marcava um con- traste entre a sua família carnal e os seus se- guidores. finalmente, não diz «aí estão minha mãe e meus irmãos», indicando os seus discí- pulos e excluindo os seus parentes, mas: «Mi- nha mãe e meus irmãos são aqueles que escutam a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8,19- -21). Ora, comoantestinha apresentado Maria totalmente entregue a escutar a palavra de deus, essas palavras soam implicitamente como um verdadeiro louvor à mãe de Jesus. Para mostrar a sua fidelidade No que diz respeito à segunda cena, em que Jesus é rejeitado em Nazaré, Marcos ha- via escrito: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa» (Mc 6,4). Mateus suavizou-o: “só na sua pátria e em sua casa» (Mt 13,57), eliminando os parentes. E Lucas escreve: «Nenhum profeta é bem rece- deste modo, sen- do Maria a única progenitora, a sua fi- gura passou a ocu- par um lugar mais central na história da salvação. Mesmo assim, no Evangelho de Ma- teus, ela ainda de- sempenha um papel secundário. O perso- nagem central, du- rante a infância de Jesus, é sem dúvida José. A ele um anjo anuncia o nasci- mento de Jesus (Mt 1,20) e o encarrega de lhe dar o nome, quando nascer (Mt 1,21). A ele é advertido que fuja para o Egito, porque queriam matar o menino (Mt 2,13). E a ele é comunicada a ordem de regressar a is- rael (Mt 2,20). Maria, pelo contrário, não diz nada nem faz nada. É uma figura quase de passagem. Maria, a resgatada Mateus também inclui no Evangelho os dois episódios de Marcos sobre Maria. Mas, como tem dela um conceito mais positivo, não pode relatá-los como fez Marcos; por isso, procura modificá-los. Em relação ao primeiro, eliminou a cena em que ela pensa que seu filho está louco; e embora conserve a seguinte, em que ela o vai buscar, com seus irmãos, à casa onde estava a pregar, deixa a impressão de que ela vai bus- cá-lo, não porque o julgasse transtornado, mas para escutá-lo, porque era uma verdadeira discípula, como os outros ouvintes que esta- vam com Ele nesse momento (Mt 12,46-50). Com respeito ao segundo episódio, quan- do Jesus é desprezado em Nazaré, Mateus diz que Jesus exclamou: «Um profeta só é des- prezado na sua terra e em sua casa», mas supri- me «e entre os seus parentes», para que estes (entre os quais estava Maria), não saíssem malparados (Mt 13,58). Mateus, pois, melhorou o perfil de Maria no seu Evangelho, apesar do papel que de- sempenha continuar a ser menor. Maria, a protagonista No Evangelho de LUCAS, contemporâneo de Mateus, a figura de Maria atinge um nível extraordinário. Vemo-lo logo no início da sua obra, onde ela será a personagem central e destacada dos relatos da infância de Jesus. Antes de mais, é a ela e não a José, que o anjo Gabriel anuncia o nascimento de Jesus (Lc 1,26-38). É a ela e não a José, a quem se encarrega de pôr um nome a Jesus (Lc 1,31). E, diferentemen- te de Mateus, on- deelanunca fala, em Lucas, Maria não só fala, mas coloca objeções ao próprio anjo (Lc 1,34). deste modo, Lucas mostra que deus tem neces- sidade de Maria, e não fará nada sem o seu con- sentimento. Além disso, enquanto que em Mateus a conce- ção virginal é a- penas um dado referido num ver- sículoedepassa- 390 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 391 gem (Mt 1,18), em Lucas o anjo explana lon- gamente sobre o tema (Lc 1,30-35). E Maria recebe o título de «cheia de graça» (Lc 1,28), único em todo o Novo testamento. Maria, o exemplo Mas isso ainda não é tudo. Em Lucas há mais elogios para Maria. Quando visita a sua parente isabel, esta louva-a, dizendo: «Bendita és tu entre as mulheres» (Lc 1,42); «Feliz de ti que acreditaste» (Lc 1,45). E Ela reconhece: «De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc 1,48). Quando Jesus nasce, Lucas regista que foi Maria a única a envolvê-lo entre panos e a re- cliná-lo numa manjedoura (Lc 2,6-7), como se fosse a única a intervir no mistério do nasci- mento. E surge duas vezes: «conservava todas es- tascoisas,poderando-asemseucoração»(Lc2,19.51). Com Lucas, pela primeira vez o Novo tes- tamentointeressa-sepessoalmentepor Maria: as suas reações, o que ela pensa e sente. Já não é uma figura meramente passiva, como em Mateus, mas interroga, responde, dialoga, consente. Ela corre depressa, canta, admira- -se, maravilha-se, e sofre angustiosamente. A BÍBLIA RESPONDE Cristo Pantocrator, ladeado pelas figuras de Maria e do evangelista Marcos. No livro, em latim, as palvras de Jesus em João 10,9: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo.”
  • 6. bido na sua pátria» (Lc 4,24), eliminando os pa- rentes, a casa, e trocando “desprezado” por “não é bem recebido”; com estas voltas, con- seguiu evitar qualquer suspeita sobre Maria. A estes dois episódios de Marcos (e Ma- teus), Lucas acrescentou outros dois, de modo que o seu Evangelho contém quatro paisagens com alusões a Maria, fora da in- fância de Jesus. O terceiro está na genealogia, onde se lê: «Ao iniciar o seu ministério, Jesus tinha uns trin- ta anos. Supunha-se que era filho de José» (Lc 3, 23). Ao escrever «supunha-se», Lucas faz uma clara referência à conceção virginal, que já tinha narrado no início do seu Evangelho. O quarto episódio é o da mulher que, um dia, na rua, se emociona e grita para Jesus: «Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!» E Jesus respondeu-lhe: «Felizes, antes, são os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11,27-28). trata- -se de uma passagem ambígua, que nas suas origens talvez revelasse a distância entre Jesus e a sua família biológica, mas que Lucas utiliza aqui para exaltar Maria pela sua fide- lidade a à palavra de deus. Maria, o símbolo finalmente, por volta do ano 100, é escrito o Evangelho de JOÃO. E, com ele, chegamos à máxima glorificação de Maria. Lucas tinha- a apresentado como exemplo pessoal de dis- cípula e crente fiel. Agora, João apresenta-a como símbolo coletivo, como emblema de toda a comunidade crente. Essa é a razão pela qual o quarto Evangelho nunca lhe dá o seu nome próprio de “Maria”, nem refere qual- quer episódio histórico da sua vida. Em duas cenas, que são exclusivas deste Evangelho, nota-se claramente este simbolismo. A primeira é nas bodas de Caná (Jo 2,1- -12), quando, no meio de uma festa, os noi- vos ficam sem vinho. A pedido de sua mãe, 392 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 393 A BÍBLIA RESPONDE Jesus transforma 600 litros de á- gua, que os ju- deus utilizavam para realizar a su- as purificações ri- tuais, em 600 litros de vinho de exce- lente qualidade. Certamente não estamos aqui perante um sim- ples episódio his- tórico, sucedido numa aldeia da Galileia. Pela o- missão do nome de Maria, e pelo modo como Jesus lhe fala (chama-lhe “mulher”), vê-se que o evangelista quis narrar-nos um episó- dio simbólico. Os profetas tinham anuncia- do que, quando chegasse o fim dos tempos, deus organizaria um alegre banquete com vi- nhos abundantes da melhor qualidade (Am 9,13-14; is 25,6-8; Jl 4,18). Nessa festa, realizar- -se-ia o matrimónio definitivo entre deus e toda a comunidade (is 61,10; 62,4; Os 2,16-25). Pois bem, na cena de Caná, a mãe repre- senta o povo de israel, a comunidade da an- tiga aliança, que reconhece e aceita Jesus como Messias. Por isso está em festa, num banquete de casamento. E por isso Jesus, o enviado de deus que devia vir, é que se en- carrega de dar o vinho aos convidados, nada menos que 600 litros, de excelente qualidade. Maria, o símbolo A segunda cena do Evangelho de João, é aquela em que Jesus agoniza, suspenso no madeiro da cruz, e sua mãe está junto dele. João escreve: «Então Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois, disse ao discí- pulo: “Eis a tu mãe!”» (Jo 19,26-27). tampouco este episódio pretende descre- ver um simples drama familiar, sucedido mi- nutos antes da morte de Jesus. Uma vez mais, o evangelista omite o nome de Maria, e Jesus chama-lhe novamente, “mãe”. trata-se, pois, como na anterior, de uma cena com forte carga simbólica. tal como nas bodas de Caná, a mãe de Jesus personifica o povo de israel, a comu- nidade fiel da antiga aliança, que agora recebe o encargo de aceitar como filho o discípulo amado (símbolo da comunidade cristã da no- va aliança). desta maneira, o autor quer des- tacar a unidade que deve existir entre o povo doAntigo testamento e o do Novo testamento. A paciência de Deus Muitos cristãos temos Maria como a cria- tura mais sublime da história da salvação, e consideramo-la um exemplo de entrega e de amor cristãos. Porém, nem sempre foi assim. Como vimos, nos primeiros séculos, aos au- tores do Novo testamento não foi fácil en- tender e desenvolver a sua figura. tiveram que evoluir lentamente, e as marcas desta progressão ficaram registadas nos seus livros. também hoje, entre os cristãos, existem diferentes posições em relação a Maria. Uns olham-na com indiferença. Outros tratam-na com receio. Alguns veneram a sua virgin- dade e a sua grandeza; mas, na sua própria vida de fé, só lhe concedem um papel pas- sivo. Outros tratam-na de um modo mais ativo, mediante a oração. E há, finalmente, quem descobriu que o mais importante, na relação com Maria, é tomá-la como exemplo de vida e procurar imitá-la. todos devemos chegar a esta etapa final. Mas, até lá, temos de respeitar os que vão fa- zendo o seu percurso lento, e tolerarmo-nos mutuamente com paciência. A mesma paci- ência que deus teve com os que escreveram sobre ela no Novo testamento. Tradução / LOPES MORGAdO Matteo Rosselli (Florença, 1578-1650). Visitação de Maria a Isabel. Ver oração completa no site do Vaticano. MARIA, MULHER DA ESCUTA, abre os nossos ouvidos; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus, no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade. PAPA FRANCISCO Praça de S. Pedro, 31 maio 2013.
  • 7. 394 maio-junho 2015 | Nº 358 395 STANIS- terrível acontecimento da Grande catástrofe (Medz Yeghern, em ar- ménio), foi o primeiro de ou- tros genocídios ocorridos no século passado e que voltam a repetir-se hoje. As imagens que se encon- tram na internet são terríveis e dramáticas, embora seme- lhantes ao que os islamistas fazem hoje na Síria e no ira- que, por exemplo. Após os massacreslevados acabo pelo sultão Abdul Ha- mid, entre 1894-1896(calcula- -se que morreram uns 250.000 arménios), perante a impuni- dade e a apatia internacional, o governo turco em 1915, diri- gido pelo Comité União Pro- gresso dos Jovens turcos, e mais concretamente os minis- tros da Marinha, da defesa e do interior puseram escrupu- losamente em prática um pla- no para acabar com os armé- nios da turquia. A 24 de abril de 1915, o mi- nistro do interior mandou deter todos os inteletuais e no- táveis da comunidade armé- nia. Os soldados arménios que tinham lutado no exército tur- co, foram agrupados, desar- mados e massacrados. Os jo- vens entre 15 e 20 anos e os homens adultos de 45 foram afastados dos seus familiares e das suas regiões de origem, para “empregá-los” em traba- lhos que os esgotariam e aca- bariam com as suas vidas. O aniquilamento do povo arménio decorreu em duas fa- TERRA SANTA O Genocídio do Povo Arménio «Quem se lembra hoje da matança dos arménios?» (Adolfo Hitler, ao ser-lhe perguntado quais as repercussões da “Solução final”) José Manuel Martínez ses: em primeiro lugar, depor- tação e massacres (maio-se- tembro 1915); a seguir, tortura dos sobreviventes nos campos de concentração do norte da Síria e Mesopotâmia. Ao todo calcula-se que fo- ram assassinados um milhão e meio de arménios, além de algumas centenas de milhares de cristãos de outras confis- sões (siríacos e assírios). OO 07 de junho X domingo do Tempo Comum SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO 1ª: Ex 24,3-8. Salmo 116(115),12-13. 15 e16bc.17-18. R/ Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. 2ª: Heb 9,11-15. Evange- lho: Mt 14,12-16.22-26. Semana II do Saltério. 14 de junho XI DOMINGO COMUM 1ª: Ez 17,22-24. Salmo 92(91),2-3. 13-14.15-16. R/ É bomlouvar-Vos, Senhor. 2ª: 2 Cor 5,6-10. Evange- lho: Mc 4,26-34. Semana III do Saltério. 21 de junho XII DOMINGO COMUM 1ª: Is 49,1-6. Salmo 139(138) 1-3.13- -14a b.14c-15. R/ Eu Vos dou graças, Senhor, porque admiravelmente me criastes. 2ª: Cl 3,1-4; ou: 1 Cor 5,6b- -8. Evangelho: Jo20,1-9. Semana IV do Saltério. ESCOLA DA PALAVRA de junho e julho Ano B 12 de julho XV DOMINGO COMUM 1ª:Am7,12-15. Salmo 85(84), 9ab- -10. 11-12.13-14. R/ Mostrai-nos, Se- nhor, o vosso amor e dai-nos a vos- sa salvação. 2ª: Ef 1,3-14. Evange- lho: Mc 6,7-13. Semana III do Saltério. 19 de julho XVI DOMINGO COMUM 1ª: Jr 23,1-6. Salmo 23(22),1-3a.3b- -4.5.6. R/ O Senhor é meu pastor: na- da me faltará. 2ª: Ef 2,13-18. Evan- gelho: Mc 6,30-34. Semana IV do Saltério. 26 de julho XVII DOMINGO COMUM 1ª: 2 Rs 4,42-44. Salmo 145(144), 10-11.15-16.17-18. R/ Abris,Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome. 2ª: Ef 4,1-6. Evangelho: Jo 6, 1-15. Semana I do Saltério. 28 de junho XIII DOMINGO COMUM 1ª: Sb 1,13-15; 2,23-24. Salmo 30 (29), 2.4.5-6.11.12a.13b. R/ Eu Vos louvarei, Senhor, porque me sal- vastes. 2ª: 2 Cor 8,7.9.13-15. Evan- gelho: Mc 5,21-43. Semana I do Saltério. Domingo à tarde VIGÍLIA S. PEDRO E S. PAULO 1ª: At 3,1-10. Salmo 19(18),2-3.4-5. R/ A sua mensagem estendeu-se a toda a terra. 2ª: Gl1,11-20. Evange- lho: Jo 21,15-19. 05 de julho XIV DOMINGO COMUM 1ª: Ez 2,2-5. Salmo 123(122),1-2a. 2bcd.3-4. R/ Os nossos olhos estão postos no Senhor, até que se com- padeça de nós. 2ª: 2 Cor 12,7-10. Evangelho: Mc 6,1-6. Semana II do Saltério. Leituras bíblicas TEMPO COMUM A 24 de abril de 2015: vigilia no centenário do “genocídio do povo arménio”, con- siderado “o primeiro genocídio do século XX”, seguido pelo holocausto de milhões de judeus e outros nos campos de extermínio da Alemanha nazi e pelos milhões de vítimas nos gulags da Rússia comunista. Procissão do “Corpo de Deus”, na cidade do Funchal, Madeira, com o bispo diocesano transportando a custódia (com O Senhor na hóstia consagrada) sob o pálio.
  • 8. 396 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 397 A GRANDE CATÁSTROFE O aniquilamento sistemá- tico da população armé- nia, organizado pelo go- verno otomano dos Jovens turcos, tem o seu gérmen nos últimos anos do século XiX. A recusa dos arménios de sub- meter-se a uma dupla pressão fiscal, a imperial e a das tribos curdas – entre outros motivos – foi solucionada pelo sultão Abdul Hamid com uma série de matanças que “cobraram” a vida de 200.000 – 250.000 ar- ménios, mais um milhão de pessoas saqueadas e despoja- das dos seus bens, além de milhares de pessoas raptadas. Milhares de arménios fo- ram islamizados à força. A derrota posterior pela Rússia, em 1915, e a acusação de os ar- ménios colaborarem com o inimigo, voltou a pô-los na mira das autoridades e assim, a 24 de abril, o Ministério do interior, com a Lei provisória de deportação de 27 de maio, mandava deter e assassinar todos os notáveis, inteletuais e dirigentes; os arménios que até esse momento estavam integra- dos no exército foram desarma- dos, agrupados e massacrados. No plano de aniquilamento foram previstas duas fases: a deportação (entre maio e se- tembro de 1915) com os massa- cres que a acompanharam, e a tortura dos sobreviventes nos campos de concentração da Síria e da Mesopotâmia. Os arménios eram obriga- dos a meter-se ao caminho, sem mais nada além do que ti- nham vestido, geralmente pa- ra o deserto: a extenuação, a doença, o esgotamento, as pri- vações e os ataques (das tribos curdas) iam dizimando as ca- ravanas. No final de 1915 já não ha- via arménios na Anatólia. de uma população entre 1.200. 000 e 1.500.000, 300.000 armé- nios puderam encontrar refú- gio na Rússia. No outono de 1918, 630.000 pessoas tinham morrido nos campos de con- centração e umas 240.000 ti- nham sido islamizadas, ven- didas ou raptadas pelas tribos. TERRA SANTA arménio. Nenhuma outra voz – nenhuma! – se ergueu em defensa «do povo arménio gravemente castigado e con- duzido ao seu aniquilamento» (Acta Apostolicae Saedis 9, 1917, p. 428ss). A voz de Bento XV não foi ouvida. Mais próximo de nós, São João Paulo II, por ocasião das celebrações jubilares do ano 2000, num comunicado con- junto com o Catolicós Karekin ii, falava claramente do «ge- nocídio arménio, em princí- pios do século, prelúdio dos horrores que seguiriam». também Bento XVI, diri- gindo-se aos membros do Sí- nodo patriarcal arménio, re- cordava a atuação dos seus antecessores (Leão XIII e Ben- to XV) sobre «a terrível perse- guição que ficou na história com a expressão tristemente significativa de Metz Yeghern, o grande mal» (20/03/2006). O papa Francisco, desde a sua missão como arcebispo de Buenos Aires, sempre mante- ve um estreito contacto com a comunidade arménia e falou claramente do «primeiro ge- nocídio do século XX, o dos arménios» (junho 2013). No dia 12 de abril deste ano, celebrou em S. Pedro u- ma missa em memória das ví- timas do genocídio arménio, por ocasião do seu centenário. OS PAPAS E O GENOCÍDIO ARMÉNIO D urante el verano de 1915 llegaron al Vaticano noti- cias preocupantes sobre las masacres y deportaciones que se estaban perpetrando contra los cristianos otoma- nos, incluidos los católicos. Nesse momento a Santa Sé a- dotou una posição abertamen- te condenatória, sem fazer distinção entre católicos, orto- doxos ou protestantes. Em se- tembro desse ano, o papa Bento XV (1914-1922) escre- veu uma carta ao sultão Mo- hamed V, na qual pedia que «tivesse piedade e interviesse em favor de um povo que, pe- la religião que professa, acei- ta ser fiel súbdito da pessoa de Sua Majestade», distinguindo entre os arménios «traidores ou culpáveis de outros deli- tos», para que «sejam julgados e condenados», e os «inocen- tes», para que «Vossa Majes- tade não permita que no cas- tigo participem os inocentes e, ao mesmo tempo, faça descer sobre os primeiros a sua cle- mência». Essa carta pontifícia pro- vocou grande movimentação na imprensa europeia e, como consequência, o sultão procu- rou aos olhos do mundo tratar os católicos de maneira mais benévola. No Consistório de 6 de dezembro de 1915, Bento XV denunciou perante todo o mundo a «extrema ruína» que se havia abatido sobre o povo LIBRARY OF CONGRESS Viúva arménia com os seus três filhos, após o assassinato do marido nos massacres de 1896-1899, procura a ajuda dos missionários. O papa Francisco, desde a sua missão como arcebispo de Buenos Aires, sempre manteve um estreito contacto com a comunidade arménia e falou claramente do «primeiro genocídio do século XX, o dos arménios» (junho 2013). Bento XV, a única voz que se ergueu em defesa do povo arménio, mas não foi ouvida.
  • 9. maio-junho 2015 | Nº 358 COMO A TERRA SANTA ACOLHEU OS SOBREVIVENTES ARMÉNIOS Melinée Le Priol A maior parte dos arménios da terra Santa são des- cendentes dos sobrevi- ventes do genocídio. Na Pa- lestina havia menos de 1.500 arménios antes de 1915, e dez vezes mais em 1925. O con- vento de São tiago, em Jeru- salém, desempenhou um pa- pel muito importante na rece- ção dos deportados. Erradicar a presença armé- nia no império otomano foi o objetivodogovernodosJovens turcos, em 1915, parcialmente cumprido, uma vez que duas terças partes dos arménios da Anatólia desapareceram du- rante o genocídio. Na prima- vera, foram exterminados ou deportados em massa para a Síria; em poucos meses, 800. 000 pessoas chegaram a Ale- po,centrodosistemagenocida. A partir daí, seguiram três vías principais: para deir Zor, no deserto da Síria; a do nor- deste, para Mossul, e a do sul, terminando umas vezes na ci- dade jordana de Aman, e ou- tras em Jerusalém. Antes de chegar à cidade três vezes san- ta, a maioria dos grupos tinha cruzado as cidades de Hama, Homs, damasco, Beirute, Hai- fa e Jafa. O centro de deporta- dos de Alepo-Jerusalém esta- va sob o controlo de um só ho- mem, Yemal Pachá, ministro da Maringa de Guerra e co- mandante do Quarto Exército. Esta era a exceção no tri- unvirato governante; se Talaat e Enver Pachá tinham jurado exterminá-los, os cerca de 120. 000-150.000 «arménios de Ye- mal» não foram completa- mente eliminados. «Yemal ti- nha como objetivo governar a Síria e a Mesopotâmia depois da guerra e do colapso prová- vel do império otomano», diz o historiador Yves Ternon. «Os arménios podiam ser-lhe úteis, pelo que preferiu man- tê-los vivos.» Em Jerusalém, a estrada estava salpicada de uma de- zena de campos de concentra- ção, «que, ao contrário dos do deserto de deir Zor, não eram lugares de morte», diz Yves Ternon. Os «arménios de Ye- mal», depressa foram obriga- dos a converter-se em massa ao islão. Em todo este tempo, as autoridades turcas procura- ram que os sobreviventes não excedessem 10% da popula- ção, paranão poderem recons- truir outra Arménia. No outono de 1916, che- gam a Jerusalém os primeiros arménios. durante séculos, o grande convento de São tia- go, que ocupa uma sexta parte MILHÃO E MEIO DE SANTOS Carta Encíclica de Karekin II, patriarca dos arménios ortodoxos. O centenário deste Genocí- dio está diante de nós, e nas nossas almas ressoa uma forte exigência de ver- dade e justiça que não se pode calar. Cada dia do ano 2015 será um dia de lembrança e devoção para o nosso povo, u- ma viagem aos memoriais dos nossos mártires na pátria e na diáspora, perante os quais nos ajoelharemos com humildade em oração, oferecendo incen- so pelas almas destas vítimas inocentes que jazem em túmu- los sem nome, pois aceitaram morrer em vez de renegar a sua fé e a sua nação. Realmente, «a senda do jus- to é aurora luminosa, a sua luz cresce até se fazer meio-dia». […] Há um século, quando os frag- mentos da nossa nação armé- nia, depois de haver perdido o património, foram dispersos por todo o mundo, e enquanto a Arménia oriental travava uma luta até à última gota de sangue para sobreviver contra os invasores turcos, era difícil acreditar no futuro. Apesar disso, ressurgimos. Com a graça do Senhor, o nos- so povo ergueu-se da morte. Sobre uma pequena parte re- cuperada da nossa pátria, a nos-sa gente restaurou o Es- tado, recriando um país sobre as ruínas, e construiu uma «pátria de luz e de espe- rança», de ciência, educação e cultura. Esta é a história do nosso po-vo durante o século passado, uma história de ad- versidades e ressurreição [...]. Glória a ti, ó Senhor! Glória sem fim. «Porque Tu, Senhor, abençoas o justo / e o envolves num escudo de graça» (Sl 5,13). Pondo a nossa esperança em ti, ó Se- nhor, o nosso povo foi ilumi- nado e fortalecido. A tua luz acendeu o engenho do nosso espírito. A tua força empur- rou-nos até à vitória. Criámos, embora outros tenham des- truído as nossas criações; con- 398 maio-junho 2015 | Nº 358 399 TERRA SANTA da cidade velha, tinha servido como hospício para os pere- grinos. teve que acondicio- nar-se para albergar os sobre- viventes, que chegaram às centenas. Conviviam 7 ou 8 pessoas num quarto. A 9 de dezembro de 1917, quando os britânicos ocupam Jerusalém, pondo fim a sete séculos de domínio muçulmano, desco- brem que o convento já alber- gava uns 500 arménios. Em 1920, em Jerusalém ha- via uns 2.000, mais mil órfãos. dos 543.600 sobreviventes do Genocídio arménio, 5. 000 es- tavam então na Palestina. Mas a chegada dos sobreviventes à terra Santa não acaba aí. Nos princípios da década de 1920, a frança prometeu aos arménios um estado na Cilícia, a região sul da tur- quia. 200.000 sobreviventes do genocídio dirigiram-se para ali, mas em 1922, em virtude de um acordo com os turcos, a frança evacuou a zona. «A grande maioria dos ar- ménios dirigiu-se então para o Líbano e a Síria, alguns para a Europa, e uns 8.000 para o porto de Haifa, no Mediterrâ- neo», diz George Hintlian, memória viva da comunidade de Jerusalém. Como nova po- tência mandatária, os britâni- cos franziram o sobrolho, mas finalmente foi autorizado o desembarco dos sobreviven- tes. A meados da década de 1920, mais de 13.000 arménios da Anatólia tinham-se refu- giado na terra Santa. Harutiún Vehabedián, patriarca arménio de Jerusalém de 1885 a 1910. De 1910 a 1921 a sede permaneceu vacante (Fotografia Library of Congress). Karekin II, patriarca dos arménios ortodoxos.
  • 10. m maio de 1975, no Capítulo Provincial realizado em fátima, os fran- ciscanos Capuchinhos da Província Portuguesa, face às carências de evangelização postas a nu pela revolução de abril do ano anterior, op- taram por se dedicar, preferencialmente, ao apostolado bíblico. Mas esta opção mergulhava as suas raízes duas décadas atrás: em 25 de fevereiro de 1955 já tinham nascido a Difusora Bíblica para editar os livros da palavra de deus e a Revista Bíblica para ensinar a lê-los e a viver a sua mensagem. E tudo isto, devido à iniciativa carismática de frei inácio de Vegas, um sacerdote capuchinho da Província espanhola de Castela, então a viver no convento e paróquia do Salvador, em Beja. Ora foi precisamente aí, numa diocese considera- da, então, uma das mais descristianizadas de Portugal, que esse grão de mostarda foi lançado à terra e começou a expendir-se por todo o país e no estrangeiro. Estamos, por isso, a celebrar os 60 anos dessa fundação oficial. E também, os 50 anos da primeira edição da Bíblia Sagrada que a difusora Bíblica se encarregou de fazer traduzir e imprimir até fins de 1964 e pôs à venda no início de 1965. Nesta revista, já apresentei várias sínteses da história do Movimento Bíblico; a mais abrangente saiu no nº 296, de janeiro-fevereiro de 2005, pp. 292-302, quando cumpríamos os 50 anos. No site dos Capuchinhos estão de novo à disposição do público todas as revistas até ao fim do ano 2013; poderão revisitar essa, em: www. capuchinhos.org. No menu da Página Principal, à esquerda, abrir em Bíblia; aí, abrir em Revista Bíblica: no texto de apresentação, clicar nas palavras Arquivo revista BÍBLICA. depois é só escolher. No nº 436, de janeiro-agosto de 2004, da revista Estudios Franciscanos editada em Barcelona, também publiquei uma versão bastante mais desenvolvida (pp. 73- -113), por ocasião do centenário de nascimento do frei inácio. Neste número, evoco apenas os grandes passos na cami-nhada da nossa revista e da 1ª Bíblia editada pela di- fusora fazendo depois um rápido percurso através da história da difusora Bíblica e das suas edições, bem como dos principais obreiros do Movimento Bíblico em geral. maio-junho 2015 | Nº 358 401 DOSSIÊ TERRA SANTA tinuámos a viver, embora ou- tros nos quisessem mortos. tu, ó Senhor, quiseste que a nossa gente, condenada àmorte com um plano genocida, vivesse e ressurgisse, de tal modo que te podemos apresentar a justa consciência da humanidade e o direito das gentes, para li- bertar o mundo da silenciosa indiferença de Pilatos e da ne- gação criminosa da turquia. Pelo bem da justiça, até ao triunfo da nossa causa, conti- nuaremosanossalutasem nos retirarmos – a igreja, a nação e o Estado juntos. O sangue dos nossos mártires inocentes e os sofrimentos do nosso povo gritam clamando por justiça. Os nossos santuários destruí- dos, a violação dos nossos di- reitos nacionais, a falsificação e distorsão da nossa história, gritam clamando por justiça. tendo sobrevivido ao ge- nocídio, o nosso povo acredita e continua a acreditar que, à multidão de países retos, das organizações nacionais e civis e dos indivíduos que têm re- conhecido e condenado o ge- nocídio se hão de juntar ou- tros que acreditam que a afir- mação da verdade e da justiça é o requisito e a garantia de um mundo pacífico, sem hos- tilidades nem violência. Em memória do nosso mi- lhão e meio de mártires do ge- nocídio, expressamos a nossa gratidão às nações, às organi- zações e aos indivíduos que ti- veram a coragem e a convic- ção de reconhecer e condenar o genocídio arménio. Expressamos gratidão aos países e povos amigos que a- ceitaram os filhos da nossa terra como irmãos e irmãs. Es- tes exemplos de justiça e hu- manidade são páginas lumi- nosas na história da humani- dade. Eles serão sempre recor- dados e apreciados ao longo das gerações, e contribuirão para uma vida mais tranquila, segura e melhor. Como Pontífice dos armé- nios anuncio à nossa gente que no dia 23 de abril de 2015, durante a divina liturgia, a nossa santa igreja canonizará como santos «pela fé pela pá- tria», os seus filhos e filhas que aceitaram o martírio; e proclamará o 24 de abril Jor- nada da memória dos santos mártires do Genocídio. Ó povo armeno, nação mártir, nação ressurgida! Vive com coragem, avança com se- gurança, com o teu olhar diri- gido para o monte Ararat, que contém a Arca, e com o cora- ção inquebrantável mantém alta a tua esperança. O alento e a mensagem do Senhor es- tão dirigidos para ti: «Embora tendo pouca força, guardaste a minha palavra e não renegaste o meu nome... Conserva o que tens, para que ninguém leve a tua co- roa» (Ap 3,8-11). Portanto, tra- temos de permanecer unidos diante do Senhor, justo e ver- dadeiro, sobre os firmes cami- nhos da fé que, como a luz da manhã, dissipa as trevas e torna visíveis os horizontes da esperança. O nosso caminho está com deus e a vida de fé é a nossa vitória [...]. transformemos a memória dos nossos mártires em energia e força para a nos- sa vida espiritual e nacional diante de deus e de todos os homens; iluminemos o cami- nho para guiar o nosso passo até à realização da justiça edas nossas sagradas aspirações. A graça, o amor e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo es- teja com todos vós e com to- dos nós. ámen. Tradução LOPES MORGADO Lopes Morgado Chefe de Redação O GRÃO DE MOSTARDA ES. Gregório de Narek Doutor da Igreja Sacerdote e monge, nascido em Andzevatsij (na época Arménia, hoje Turquia), cerca do ano 950 e falecido em Narek (também na época Arménia, hoje Turquia) por volta de 1005. A 12 de abril, na Basílica de S. Pedro, foi procla- mado Doutor da Igreja..
  • 11. maio-junho 2015 | Nº 358402 maio-junho 2015 | Nº 358 403 OGRÃODEMOSTARDA 60 anos da revista “bíblica” História breve de um longo amor revista BÍBLICA teve início em Beja, na residência dos Ca- puchinhos adossada à igreja paroquial do Salvador, a 25 de fevereiro de 1955. Em junho desse ano saiu o primeiro número, levando como antetítulo: revista de cultura e difusão. trimestral, com 32 páginas ilustradas a preto e branco, tinha o formato de 13,5x19cm, a tiragem de 3000 exemplares e a assinatura anual custava 10$00. Em 1957 passou a bimestral (duas vezes por ano). Com o nº 75, em janeiro-fevereiro de 1968, surge totalmente remodelada: o formato pas- sa para 17x23, a capa tem quatro cores e o in- terior de 48 páginas, profusamente ilustrado, tem duas. Com o nº 231 (março-abril de 1994), aos 40 anos, ganhou também a cor to- tal no interior, até hoje. depoisdeuma limpeza dos ficheiros, hoje está com a tiragem de 8000 exemplares, cor- respondentes a assinaturas pagas. Em 1963 tinha 15000. Se cada um destes assinantes ajudasse ou- tra pessoa, sobretudo jovem, a juntar-se à “fa- mília BíBLiCA” – além de se tornar um evan- gelizador, seria retribuído com uma Revista melhorada! Ah, e continuamos sem qualquer subsídio de portes. desde sempre! Duas revistas com o mesmo nome Atualmente, com o mesmonome,temos uma revista popular e outra científica. A popular, de nível médio, é bimestral, tem 48 páginas a quatro cores e destina-se ao grande público, assegurando um primeiro contato e descoberta da Bíblia e da sua men- sagem, bem como a formação e informação permanente neste campo. daí a preocupação com a linguagem, a es- colha e tratamento dos temas. Os temas da revista popular Na fase inicial, os temas da revista Bíblica po- pular incidiram mais na introdução à Sagrada Escritura (propedêutica) e na espiritualidade bíblica, mantendo um consultório aberto para responder aos leitores. depois entrou no campo monográfico, cobrindo os principais temas de Bíblia e teologia bíblica. Em janeiro-fevereiro de 1968, ao cumprir as bodas de diamante com o nº 75, surgiu com uma sensível remodelação, a que já fiz referência, publicando sínteses dos docu- mentos do concílio Vaticano ii e fazendo uma série muito apreciada de números monográ- ficos sobre os Sacramentos. A seguir à Revolução em abril de 1974, até outubro de 1975, ajudou a fazer a leitura bíblica da vida e dos acontecimentos da nossa história, à luz da História da Salvação. DOSSIÊ A Nº 75, janeiro-fevereiro de 1968 quando a revista assumiu o formato atual, capa a quatro cores e 48 páginas de texto. Na página seguinte, a capa do nº 231, de 1994, a partir do qual a revista passou a ter quatro cores também no interior. A  científica, iniciada em 1993, é apenas anual. Sai no início do mês de outubro, publi- ca as conferências feitas em agosto na Sema- na Bíblica Nacional, e algumas recensões. As páginas e o preço são variáveis.
  • 12. 404 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 405 60 ANOS DA REVISTA A partir de 1975, cumprindo a deliberação do Capítulo Provincial dos Capuchinhos, que optou preferencialmente pelo Movimento Bíblico, procurou seguir «uma orientação mais didática, como órgão de apoio e como e- lemento dinamizador do Movimento Bíblico», em números sobre temas fundamentais da teologia e da história bíblica. Apostada na Evangelização e no apoio ao Movimento Bíblico, de novembro-dezembro de 1978 a setembro-outubro de 1981 comen- touostextosdoEvangelho (nº139-156);de1981 a 1984, os textos da Primeira Leitura (nº 157- -174); de 1984 a 1987, o Salmo Responsorial (n° 175-192). A partir de 1987, até 1992 (nº 193-222), fez um comentário ao conjunto das três Leituras dominicais, sob o título “A Mesa da Palavra”, depois publicado em livro homólogo; e além disso, entre 1988 e 1991, um artigo de frei Joaquim Monteiro sobre os livros da Bíblia donde é extraída a Segunda Leitura. No n° 229, em 1993, iniciou-se “A Palavra meditada”, abrangendo também as Leituras todas, mas só uma página cada domingo; foi mantida até1996(n°246).Nonúmero seguin- te, ainda em 1996, optou-se por acompanhar os temas do Grande Jubileu 2000. Entre novembro-dezembro de 1999 (nº 265) e setembro-outubro de 2002 (nº 282), o frei Manuel Rito dias desenvolveu a apre- sentação das Leituras dos três ciclos do ano litúrgico na “Palavra de domingo”, primeiro apresentada como destacável, depois no ca- derno central e finalmente no livro Este é o Dia – Sementes do domingo para todos os dias (2007). Recorde-se, também, a série de 75 es- tudos de “Símbolos Bíblicos”, por freiHercu- lano Alves, de setembro-outubro de 1993 (nº 228) a janeiro-fevereiro de 2002 (nº 278), de que nasceu, em 2001, o livro Símbolos na Bíblia. A partir de novembro-dezembro de 2000, apresentou “figuras Bíblicas”, como intro- dução e síntese da Revelação e da história da salvação; e a partir de 2003, começou a con- densar uma conferência da Semana Bíblica Nacional em cada número. No triénio 2009-2012, a revista voltou a in- cluir comentários a todas as Leituras bíblicas de domingo, por frei Lopes Morgado, na rubrica “Escola da Palavra”, e agora deposi- tados na pasta com o mesmo nome no site dos Capuchinhos (www.capuchinhos.org). Em comunhão com a Igreja Atentos às carências e expetativas das pes- soas, na BíBLiCA sempre acompanhámos as propostas dos Papas e da Conferência Epis- copal Portuguesa. Além da cobertura dos vários Sínodos dos Bispos, oferecemos estu- dos e subsídios celebrativos nos anos da Eu- caristia, do Rosário, da Palavra e do Sacerdócio. de setembro-outubro de 2012 a novem- bro-dezembro de 2013 apresentámos um ar- tigo do Credo em cada número, a propósito do Ano da fé. tendo aberto o ano 2014 com um número monográfico sobre a família, in- cluindo a síntese das conferências da Semana Bíblica de 2013, em ligação com a 1ª parte do Sínodo dos Bispos, em 2015 temos dado atenção ao Ano da VidaConsagrada,esperamos apresentar outro número sobre a família e já preparamos um especial sobre os 50 anos do concílio Vaticano II, para depois acompanhar- mos o Ano da Misericórdia a partir de novem- bro-dezembro. Iluminando a vida com a Bíblia Com isto, BíBLiCA não se tornou uma revista pastoral, litúrgica ou de espiritualidade, co- mo às vezes possa parecer; embora forne- cendo bons apoios nesses domínios, procu- ramos valorizar sempre a dimensão bíblica de cada tema. Continuamos a apresentar um “dossiê” no caderno central, além de mantermos, em quase todos os números, as secções perma- nentesespecializadas,destacando-se,nocam- po bíblico, “A Bíblia Responde” de Ariel ál- varez Valdés. depois de uma secção temporária dedi- cada à “família”, criámos duas novas: “terra Santa”, apoiada pela revista homónima em espanhol, e “Ecumenismo”, provisoriamente substituída por “Ano da Vida Consagrada”, com entrevistas feitas pelo mesmo colabo- rador, ojornalista António Marujo, premiado em te-mas religiosos ecuménicos. fiel ao seu lema, que figura no subtítulo, a revista Bíblica é onde a Bíblia se faz vida. DOSSIÊ Aqui e na página seguinte: amostragem de alguns temas tratados pela nossa revista ao longo dos 60 anos aqui evocados. OGRÃODEMOSTARDA Fiel ao seu lema, que figura no subtítulo, a revista Bíblica é onde a Bíblia se faz vida.
  • 13. 406 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 407 DOSSIÊ OGRÃODEMOSTARDA 50 anos da 1ª Bíblia da DB Um livro é como um filho acompanhei a história da sua vida muito de perto, assisti aos seus muitos renascimentos e parece-me ser a hora de o contar à família. Em Julho de 1963, nas listas das “famí- lias” ou comunidades dos Capuchinhos em Portugal, para o triénio de 1963-1966, na alí- nea sobre o Movimento Bíblico constava: «Padre inácio de Vegas, director Geral do Movimento; Padre fernando de Negreiros, director da Revista BíBLiCA; frei Pascoal do Sabugal, Administrador da difUSORA BíBLiCA e da Revista BíBLiCA. Era também confirmada a Comissão Edito- rial, presidida pelo frei fernando de Negrei- ros, associando-se-lhe o frei inácio e o frei Pascoal» (de nome civil, António Maria Gon- çalves). Veja as fotografias abaixo. A 1ª edição da “Bíblia Sagrada” É esta Equipa que se vai movimentar para que, nos princípios de 1965, visse a luz, com- posto e impresso, o Livro dos livros, a que se deu o nome de Bíblia Sagrada. Adianto desde já, que ao frei fernando de Negreiros coube a parte de leão nesse processo, coordenando e revendo o texto com esmero. ão basta gerar um filho e dá- -lo à luz. É preciso criá-lo, educá-lo, acompanhar o seu crescimento, a adaptação ao meio e às vicissitudes do tempo e do espaço. Porque a vida é uma constante recriação; nascemos e renascemos muitas vezes, mesmo não acreditando na reencarnação. Com um livro acontece a mesma coisa. Parto desta comparação para o meu “era uma vez” acerca da primeira Bíblia que a di- fUSORA BíBLiCA editou, fez em janeiro 50 anos. foi a primeira Bíblia que eu tive, quando no dia 4 de outubro de 1965 vim trabalhar para esta revista, em Lisboa. Vi-a quase nascer, N A julgar pelo frontispício, onde aparece a data de 1964, deveríamos dizer que a 1ª edi- ção é deste ano. E a reforçá-lo, estaria o Im- primatur de d. José do Patrocínio dias, Bispo de Beja, a 18 de março, o Imprimi potest a 25 de março e o Nihil obstat a 1 de maio – tudo em 1964. Mas, pelo menos o primeiro cader- no não pôde ser impresso antes de 8 de janei- ro de 1965, pois é essa a data das palavras de congratulação e bênção do Núncio Apostó- lico em Lisboa, dom Maximiliano de fürs- temberg (imagem ao lado). Aliás, a revista Bíblica não fala dela em todo o ano de 1964, coisa inexplicável se estivesse iminente a sua saída; ao passo que, no nº 57, de janeiro-fe- vereiro de 1965, Ano Xi, na página 30 lá vem o seu anúncio destacado em caixa: «Bíblia Sagrada (Edição da difusora Bí- blica). informamos todos os nossos estima- dos Amigos e Colaboradores que já se encon- tra à venda a tão esperada e desejada Bíblia Sagrada.» E «aos assinantes, “Amigos da Pa- lavra de deus” e participantes nos Colóquio Bíblicos fazia-se o preço muito especial de 60$00, cada exemplar». foi um trabalho discreto e recatado, co- mo se exige numa tarefa destas; e na intimi- dade, como quem gera um filho. tudo isto, provavelmente, acentuado pelo facto de só a 18 de novembro de 1965, na Dei Verbum, o concílio Vaticano ii recomendar as edições da Da esquerda para a direita: frei Inácio de Vegas, frei Fernando de Negreiros e frei Pascoal de Sabugal. Acima: Frente e verso do rosto da 1ª Bíblia. À direita: Carta do Núncio Apostólico em Lisboa.
  • 14. Em 16 de julho, como a Bertrand apenas imprimira metade da edição contratada, uma nova edição de 30000 foi contratada com a Cartotipo, mantendo o texto anterior, mas com novas notas de alguns livros do Antigo testamento. Em 14 de outubro, a direção da difusora resolveu convocar uma equipa de especialis- tas em Sagrada Escritura para uma reunião na nossa sede de Lisboa, em ordem a se defi- nirem critérios e serem entregues tarefas para uma revisão da nossa Bíblia Sagrada. O encon- tro realizou-se nos dias 19 e 20 de dezembro. Além dos membros da direção da difUSORA BíBLiCA e de frei Rafael de Serafão, ministro provincial, participaram os biblistas: Alcindo Costa, capuchinho; Joaquim Carreira das Neves, franciscano; Carlos Alberto de Castro ferreira, salesiano; António Augusto tavares, diocesano de Viseu; Joaquim Macedo Lima, espiritano. Assentou-se o trabalho a realizar: revisão das notas, dos lugares paralelos, das intro- duções aos diferentes livros e aumento do ín- dice temático; não se pretendia fazer uma revisão profunda do texto, mas corrigir ex- pressões ou nomes que não estivessem de acordo com o original. depois foi feita a dis- tribuição do trabalho. No dia 20 de manhã teve lugar a segunda parte da reunião. Estipulou-se o preço por cada página da Bíblia revista; e que na en- trada da nova Bíblia a editar com essas revi- sões figurariam os nomes de todos por or- dem alfabética, sem especificar o livro cor- respondente a cada um. Assim foi feito. Na reunião de 11 de fevereiro de 1970 de- cidiu-se acrescentar à Bíblia completa e ao No- vo Testamento um índice Litúrgico feito por frei Alcindo Costa, além do índice Bíblico- -Pastoral já existente. No dia 18 de junho de 1971, teve lugar no- va reunião de especialistas em Sagrada Escri- tura, convocados pela difUSORA BíBLiCA. Com- pareceram na Casa de Retiros do Bom Pastor, à Buraca, em Lisboa, os seguintes biblistas: José Nunes Carreira, António Augusto tava- res, Geraldo Coelho dias, Manuel Augusto Rodrigues, Joaquim Carreira das Neves, Rai- mundo de Oliveira, Joaquim Mendes de Cas- tro, Carlos Alberto Castro ferreira, Alcindo Cost; e ainda o ministro provincial dos Ca- puchinhos e as direções da difusora Bíblica e da revista Bíblica. desse encontro surgiram novos colaboradores para revisões futuras, como veremos. Novas introduções ao NT e novo Índice temático-pastoral Nos meses de setembro e outubro, o frei Alcindo Costa (na imagem abaixo; + 1976), de- dicou-se à atualiza- ção das notas e in- troduções do Novo testamento, ultiman- do um novo índice bíblico temático-pas- toral, em que se des- tacasse a evolução dos temas bíblicos mais atuais dentro da Sagrada Escritura. O índice anterior foi suprimido, sendo este novo aproveitado futuramente nas edições do Novo Testamento e dos Quatro Evangelhos. No dia 9 de janeiro de 1972, Ano interna- cional do Livro, saía a tão esperada 4ª edição da Bíblia Sagrada, de 30000 exemplares. A an- terior já tinha sido esgotada há anos! O au- mento do formato de 11,5x16,5 para 12x19, permitiu reduzir o volume de 2198 páginas, das edições anteriores, para 1644 páginas. Além disso, esta inclui outras melhorias sig- nificativas: nova introdução geral, por frei Manuel Arantes; nova anotação ao Penta- 408 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 409 OGRÃODEMOSTARDA50 ANOS DA BÍBLIA Bíblia em vernáculo: «visto que a palavra de deus deve estar sempre acessível a todos, a igreja procura com solicitude maternal que se façam traduções aptas e fiéis nas várias lín- guas, sobretudo a partir dos textos originais dos livros sagrados» (nº 22). As palavras do Senhor Núncio Apostólico não são posterio- res ao Vaticano ii, mas de alguém que estava por dentro do seu processo. Composta e impressa nas Oficinas de São José, do Porto, no formato de 11,5xl,5 cm, com um total de 2199 páginas + 8 mapas, em papel bíblia e ao preço irrisório de 75$00, esta Bíblia, de 50000 exemplares, era um verda- deiro acontecimento no interior da igreja Ca- tólica Portuguesa, cujos fiéis não dispunham de uma edição da Bíblia num só volume, acessível na linguagem e no preço; e também um acontecimento editorial. Onze anos depois, a difUSORA BíBLiCA a- tingia o primeiro objetivo apontado pelo frei Cornélio de San felices no documento oficial da sua aprovação: «difundir e dar a conhe- cer melhor a Palavra de deus, a Bíblia, por meio de edições muito económicas.» Após ter editado os vários livros em separado – Feitos dos Apóstolos (1956), Quatro Evangelhos (1957), Evangelhos e Actos (1961), Cartas de São Paulo (1958), Cartas Católicas e Apocalipse (1959), No- vo Testamento (1961), Antigo Testamento abre- viado (1962) – apresentava agora O LiVRO na sua totalidade. Estava preparado o terreno e seleccionada a semente para a grande arran- cada bíblica da igreja católica em Portugal. tal como aconteceu com a 1ª, a 2ª edição da Bíblia Sagrada regista, no frontispício, a da- ta de 1966; mas, o Boletim Oficial da Província Portuguesa dos Capuchinhos, de junho-agos- to de 1967, fala «da 2ª edição da BíBLiA SAGRA- dA vinda a lume em meados de Maio». Na- queles três meses, já tinham sido vendidos 7000, e previa-se «esgotarem-se os 15000 desta tiragem até ao fim do ano corrente» (Vol. iii, Nº 19, p. 528). O primeiro melhoramento da Bíblia de repente, pareceu que se tinha dado um passo maior que a perna, pois as estruturas gráficas do nosso país não conseguiam res- ponder a tanta solicitação. Por isso, em 1968, entregou-se a 3ª edição, de 50000 ex., à Ber- trand (irmãos) Lda. E decidiu-se incluir nela 12 gravuras a quatro cores e uma Carta do Núncio Apostólico em Lisboa, mons. José Maria Sensi. Na reunião da direção, em 13 de dezembro, foi proposto rever urgentemente a introdução, notas e índice da Bíblia Sagrada para novas edições; o trabalho iria ser pedido a frei Alcindo Costa, que nesse ano concluíra a licenciatura em ciências bíblicas no Pontifí- cio instituto Bíblico de Roma. No dia 28 de janeiro de 1969, a direção do Movimento Bíblico estabeleceu os critérios para a próxima edição da Bíblia, quanto ao texto e lugares paralelos, notas exegéticas e formato. E este ano, mais uma vez, a nossa Bíblia foi o livro mais vendido na feira do Livro de Lisboa. DOSSIÊ Foi a Dom José do Patrocínio Dias, bispo de Beja, que tinha dado a aprovação aos primeiros livros da Difusora, que frei Inácio pediu também a aprovação da nossa 1ª Bíblia.
  • 15. maio-junho 2015 | Nº 358410 maio-junho 2015 | Nº 358 411 OGRÃODEMOSTARDA 50 ANOS DA BÍBLIA teuco, pelo Prof. Nunes Carreira; nova intro- dução, tradução e notas do livro dos Salmos, pelo Prof. Carreira das Neves; novas intro- duções e anotações ao Novo testamento e o novo índice temático-pas- toral, de que falei atrás, por frei Alcindo Costa; além de novas gra- vuras a cores. Esta Bíblia foi, de novo, o livro mais pro- curado na fei- ra do Livro de Lisboa, mere- cendo pala- vras de elogio do Presidente da República ao administrador, frei Luís da Graça Lima. Era, na verdade, um grande passo em frente, que seria ainda mais reforçado na pró- xima edição de 50000 exemplares, já a ser preparada. Em 1975, a difusora Bíblica também par- ticipou na feira do Livro de Lisboa. Mas, a- conteceu o que o vespertino lisboeta “A Capital” intitulava na sua reportagem de 25 de junho: «Bíblia cede na feira perante livro político» (ver Bíblica nº 119, pp. 448-449). A inclusão do Lecionário dominical Em 13 de maio de 1976, apareceram os primeiros exemplares da 7ª edição da Bíblia Sagrada, numa tiragem de 50000 exemplares enriquecida com o “Leccionário dominical” para os 3 ciclos do Ano Litúrgico. No dia 20 é entregue ao ministro provin- cial, pelo Secretário particular do senhor car- deal-patriarca de Lisboa, dom António Ri- beiro, uma carta intitulada “O pão da Pala- vra”, que vai ser integrada em extra-texto nesta edição e nas seguintes, até 1998. No triénio de 1975-78, o movimento da Bíblia Sagrada foi o seguinte: terminou-se de vender a 6ª edição, num total de 15845 exem- plares; completou-se e vendeu-se a 7ª edição, de 55000; preparou-se a 8ª, da qual se vende- ram 6000 e preparou-se ainda uma especial para Angola, de 50000 exemplares. dos Quatro Evangelhos, em brochura, ven- deu-se a l5ª edição, de 55000 exemplares, per- fazendo assim o total de um milhão de Qua- tro Evangelhos vendidos, nestas 15 edições, e atingindo-se, finalmente, a meta da Campa- nha Um milhão de Evangelhos, iniciada pelo frei inácio de Vegas em 1956! Em 1982 saiu, na Gráfica de Coimbra, a 10ª edição da Bíblia Sagrada. “Bíblia de Altar”: 1ª tentativa rejeitada Em março de 1983, a difusora Bíblica pu- blicava uma nova Bíblia Sagrada, chamada de Altar pelo seu formato de 25x27. Com 1700 páginas e tiragem de 10000 exemplares, in- cluía gravuras e mapas sobre a geografia e a história do Povo de deus. Preço: 980$00. O texto era o da edição normal, já do co- nhecimento público, mas reproduzido a par- tir dela por am- pliação fotográ- fica, o que lhe da- va uma qualida- de gráfica muito deficiente. Moti- vado pelo des- crédito que nos podia acarretar, o Governo Pro- vincial dos Ca- puchinhos sus- pendeu a sua dis- tribuição. Em 21 de setembro já está a ser impressa a 12ª edição da Bíblia Sagrada, que vai ter uma tiragem de 45000 exemplares, aproximada- mente. Em dezembro de 1986 sai, finalmente, u- ma Bíblia de altar, 10000 exemplares, com ga- rantia de qualidade. E em 1990, uma segunda edição de 5000 exemplares, comemorativa do 25º aniversário da “dei Verbum” e da 1ª edi- ção da Bíblia Sagrada, em 1965. A “nova BÍBLIA dos Capuchinhos” Ao longo destes anos, os franciscanos ca- puchinhos foram tomando consciência da responsabilidade que tinham assumido na igreja com o Movimento Bíblico. O público exigia cada vez maior qualidade, nomeada- mente nas edições, a começar pelo texto sa- grado da Bíblia. Em 1992, sob a orientação de frei fernan- do de Negreiros e de frei Lopes Morgado, o texto e as introduções da Bíblia de Altar foi bastante revisto, bem como o seu grafismo. Com esta revisão foi impressa em abril de 1994 uma outra edição de 5000 exemplares, com fotografias de frei Lopes Morgado e mapas do Atlas Bíblico Histórico-Geográfico de frei J. Machado Lopes. Ao mesmo tempo, o frei Herculano Alves empenhou-se tenazmente numa nova tradu- ção e anotação da Bíblia, reunindo para isso uma equipa de 23 biblistas e nove colabora- dores. Após vários en- contros de trabalho, o últimos dos quais em 16 de dezembro de 1995, a “Nova BíBLiA dos Capuchinhos” es- tava impressa em ju- lho de 1998, sendo a- provada pela Confe- rência Episcopal Por- tuguesa, presidida por D. João Alves, Bispo de Coimbra (imagem ao lado), no dia 1 de outubro. A apresentação teve lugar no Audi- tório Cardeal Medeiros, da Universidade Ca- tólica, em Lisboa, em 24 de novembro desse ano. Na plateia estavam muitos dos traduto- res; e na mesa: dom José Policarpo, cardeal- -patriarca; isidro Alves (+2002), reitor da Uni- versidade Católica; Saturino Gomes, diretor DOSSIÊ A Bíblia de altar de 1986 veio salvar o desare de 1983. Abaixo, a entrada da 2ª edição, em 1990.
  • 16. da faculdade de teologia; frei João José Costa Guedes da Silva, ministro provincial dos capuchinhos; frei Herculano Alves e frei Lopes Morgado, que apresentaram a nova edição. falaram também o doutor isidro Alves e dom José Policarpo. No dia 22, o frei Manuel davide Belo (+ 2000) apresentou-a na Escola Bíblica, na Baixa da Banheira. No dia 26, o frei Hercu- lano fez o mesmo lançamento na UCP do Porto; no dia 27, na UCP de Viseu; e em 21 de março de 1999, na Biblioteca Municipal “Rocha Peixoto”, da Póvoa de Varzim. Em Fátima, o lançamento foi a 11 de de- zembro, às 15 horas, no Centro Bíblico dos Capuchinhos, sob a presidência do bispo dio- cesano, d. Serafim ferreira e Silva e do mi- nistro provincial, frei João José Costa Guedes da Silva. Coincidindo com a abertura do ano para a Escola Bíblica ali existente desde se- tembro de 1993, o frei Morgado apresentou as características e valores da nova BÍBLIA dos Capuchinhos para um auditório que, além dos “alunos”, incluía o Reitor do San- tuário e o Pároco de fátima, o Administrador e os empregados da difusora Bíblica e os Su- periores e Superioras de muitos institutos re- ligiosos ali residentes. Seguiu-se a bênção da nova Livraria Bíblica, a visita às instalações da difUSORA BíBLiCA, da revista BíBLiCA e do Secretariado Nacional, e um pequeno lanche (Veja-se a revista Bíblica, nº 260, janeiro-feve- reiro de 1999, pp. 331-333). de tal maneira esta Bíblia surge total- mente remodelada, em relação à anterior, que é apresentada como Nova. Nova no formato (aumentou de 13x20 para 15.5x21.5), nas pá- ginas (passam de 1696 para 2143), no grafis- mo da capa e do interior (onde aparecem gra- vuras integradas no texto), no respeito do verso nos textos poéticos, hinos e salmos, nas citações implícitas em itálico, nalguns nomes de deus em versalete… Mas, sobretudo, nova na versão dos textos a partir dos originais, in- cluindo o tratamento de deus por tu; e nas introduções, notas, lugares paralelos e índi- ces; nos Quadros cronológicos, Suplementos e Mapas. maio-junho 2015 | Nº 358412 maio-junho 2015 | Nº 358 413 OGRÃODEMOSTARDA Salvaguardadas as devidas diferenças e exigências, poderemos considerar este vér- tice da segunda era do Movimento Bíblico àquele que, em 1965, culminou a década ini- cial com a 1ª edição da Bíblia Sagrada. O im- pacte no panorama nacional foi semelhante. Mas a vida e a história do nosso filho/ /livro continuaram. Em 2000 saiu a 2ª edição, assumindo novamente o título de Bíblia Sa- grada e beneficiando de uma revisão com- pleta do texto, notas, introduções, lugares paralelos e índices da 1ª edição. A 3ª edição, de 2001, é a reedição da 2ª, mas recebendo al- guns melhoramentos em certos pormenores. também em 2001, fez-se a edição da que chamamos de Altar, com o formato de 25x17,5 e uma tiragem de 14000 exemplares; o texto era o da 3ª edição normal. Entretanto, em maio de 2000, tinha saído a Bíblia em formato de bolso (15,2x10,5). A 2ª edição desta, incluiu o texto revisto da 3ª edição em formato normal itálico, diferente paginação e organização de gravuras, e um corte razoável de notas. Em janeiro de 2002 surgia a nova modali- dade de uma Bíblia média em folha branca. finalmente, na Páscoa de 2003, foi lançado o CD-ROM da Bíblia Sagrada, com o texto completo da 4ª edição, Galeria de Arte dos Museus Portugueses com cerca de 80 ima- gens, índice dos nomes próprios da Bíblia, Panorama Histórico do Atlas Bíblico de J. Ma- chado Lopes e respetivos Mapas Bíblicos, todos os Suplementos da Bíblia de 1998 e vá- rios textos sobre “Como ler a Bíblia”. “Bíblia Ilustrada”, um sorriso amarelo Em Setembro de 2005, no contexto do Cin- quentenário da fundação da difUSORA Bí- BLiCA e da revista BíBLiCA, decidiu-se publicar uma outra Bíblia de Altar, com o texto anteri- or ampliado, a duas cores e dez cadernos de oito páginas a quatro cores, em papel couché. isto, porque, além do mais, este cinquente- nário coincidia com os 40 anos da 1ª Bíblia Sa- grada editada pela difUSORA BíBLiCA, agora nos cinquenta.Chamou-se-lheBíblia Ilustra- da. O formato era de 52x22, e teve uma tira- gem de 10000 exemplares. Sendo o amarelo a cor das Bodas de Ouro, esperava-se que esta Bíblia fosse um coroa- mento dourado na caminhada que vimos e- vocando. Mas, porque à última hora se con- descendeu em utilizar outro papel proposto pela tipogra- fia, maior e mais calandra- do, o livro aca- bou por ser de- masiado gran- de e pesado pa- ra um só vo- lume. E a im- pressão dos ca- dernos de cor também não foi perfeita. Por is- so, o mercado não correspon- deu às expeta- tivas da Edito- ra, tendo esta que reduzir bas- tante o preço inicial, com lar- gos prejuízos. E a aliança de ouro transformou-se num irónico e gigante sorriso amarelo. Em março de 2009 fez-se uma 2ª reimpres- são da Bíblia média, também em papel branco. Sob a administração de frei Herculano Al- ves, em 2013 saiu nova edição da Bíblia em formato médio, mas já não em papel branco; e em junho de 2014, uma reimpressão de 2000 exemplares da Bíblia em formato normal itá- lico, com texto da 5ª edição corrigida. DOSSIÊ Lançamento da Bíblia na UCP, Lisboa. Da esquerda para a direita: Saturino Gomes, frei João Guedes, Dom José Policarpo, Isidro Alves e frei Lopes Morgado. O frei Herculano estava neste momento no uso da palavra. Frei Herculano Alves, doutorado em Sagrada Escri- tura, foi o coor- denador desta nova Bíblia e é o responsável pela sua revisão permanente nas várias edições. Sobrecapa impressa da Bíblia ilustrada. Inclui 121 imagens a quatro cores, em cadernos com um total de 80 páginas, que apresentam uma síntese da história da salvação.
  • 17. 414 maio-junho 2015 | Nº 358 maio-junho 2015 | Nº 358 415 OGRÃODEMOSTARDA BíBLiA que tinha acompanhado os por- tugueses, a partir dos anos 30 do século passado,eraado Padre MatosSoares,da diocese do Porto, traduzida a partir da Vul- gata latina. Quando este falecia, em 1957, ini- ciava-se o trabalho de uma nova tradução, a da Bíblia Ilustrada ou Bíblia Monumental–porser editada em grande formato – sob a direção organizativa do cónego José Galamba de Oliveira da diocese de Leiria, tendo como co- laboradores os biblistas dessa altura. E curio- samente,muito antes que esta terminasse o seu percurso, iniciava-se o trabalho da Bíblia Sagrada, da difusora Bíblica, concluída em 1964 e editada no ano seguinte. Normalmente, as traduções da Bíblia em Portugal seguiram a par e passo a pastoral bí- blica do momento. Concretamente, esta pri- meira tradução da Bíblia Sagrada da difusora foi o culminar de um trabalho de pastoral bí- blica e de edições parciais da Bíblia, que se vinham publicando desde 1951; portanto, uma década depois da encíclica Divino Aflan- te Spiritu e outra década antes do concílio Va- ticano ii, nasce esta Bíblia; isto, entre os dois acontecimentos bíblicos mais relevantes do séc. XX. deste modo, o Movimento Bíblico dos franciscanosCapuchinhoséoresultadodare- ferida encíclica do papa Pio Xii e, ao mesmo tempo, antecipa-se à Dei Verbum do concílio Vaticano ii. A importância da Bíblia de Matos Soares manifesta-se num acontecimento, pelo me- nos, curioso: em 2006, a Editorial AO, de Bra- ga, ainda editou o Novo Testamento e o Evan- gelho de Jesus Cris- to da sua tradu- ção. 1. A BÍBLIA ILUS- TRADA foi a pri- meira tradução feita em Portugal com critérios ci- entíficos e a par- tir dos textos ori- ginais. foi publi- cada em fascícu- los entre 1957- -1970, em 7 volu- A Bíblia católica em Portugal na segunda parte do séc. XX Ao celebrar os 50 anos da Bíblia editada pela Difusora Bíblica, a nossa Revista apresenta uma breve nota das outras Bíblias em Portugal, no mesmo período. Poderíamos dizer que o séc. XX foi o século da Bíblia, devido às encíclicas Providentissimus deus de Leão XIII (1893) e Spiritus Paraclitus de Pio XII (1943), que se anteciparam e prepararam a dei Verbum do concílio Vaticano II. Herculano Alves A BÍBLIA EM PORTUGAL AA A Bíblia dos “50 anos da 1ª Bíblia” com o Novo Acordo Ortográfico Ainda a gerir os prejuízos da má expe- riência nas Bodas de Ouro da difUSORA e da REViStA, a atual administração da difusora e da Revista, presidida por frei Luís Leitão, não deixou de meter mãos a novas edições: em outubro de 2014, a 1ª edição da Bíblia de bolso com notas reduzidas e, pela primeira vez em Portugal, com o novo Acordo Ortográfico de 1990; a edição foi de 10000 exemplares, sendo metade para Angola, e tem no fronstispício uma tarja na cor, indicativa dos 50 anos da 1ª edição da Bíblia Sagrada, em 1965. Em no- vembro de 2014, uma edição de 15000 em for- mato normal, 5ª reimpressão da 5ª edição. Mas, sobretudo, em janeiro de 2015, teve outra iniciativa marcante: uma Bíblia come- morativa dos 50 anos da 1ª edição, em formato médio, também com o novo acordo ortográfico, para a qual o grafista José Morgado Matos criou uma capa completa e o frontispício com desenho e letragem originais. O frei Herculano não quis perder a opor- tunidade para introduzir um novo melhora- mento no texto desta edição: a palavra ta- bernáculo (de origem latina) foi substituída pelas palavras tenda, morada ou templo, con- forme a palavra utilizada no original hebrai- co. O qual supôs, também, rever os índices, para incluir estas novas entradas. Eis: um livro, como um filho, nunca está definitivamente criado. DOSSIÊ 50 ANOS DA BÍBLIA • A única Bíblia Católica atual, traduzida direta- mente a partir dos originaispara Português. • O texto obedece ao novo Acordo Ortográfico. • Só ela tem imagens no texto, com temas ex- clusivos de cada livro. • A nomenclaturade pessoas e localidades, e dos Nomes de Deus foi tratada cuidadosamente. • Tem 180 páginas de Introduções e extra-textos com sínteses ou destaques. • As notas explicativas e lugares paralelos de ou- tros livros ocupam centenas de páginas. • Os textos poéticos dos originais são aqui apre- sentados também em forma poética. • Índice de Notas dos principais temas. • Índice Bíblico-Pastoral, apresentando a evolu- ção dos temas na revelação bíblica. • Lecionário dominical e festivo da Missa. • 8 Suplementos, incluindo a Cronologia geral do contexto bíblico, a Formação do Antigo e do Novo Testamento e 8 Mapas. A Bíblia comemorativa dos 50 anos da primeira edição da Difusora Bíblica, 1965.
  • 18. 416 maio-junho 2015 | Nº 358 417 Se Deus é infinito, como é que pode haver algo que não seja Deus? Salmo 116 Amo o Senhor porque Ele é bom e amou-me primeiro. Espero no Senhor porque Ele é fiel e cumpre. Creio no Senhor porque O vejo na vida e caminha comigo. Agradeço ao Senhor porque d’Ele tudo vem e eu, sem Ele, nada encontro. Canto ao Senhor porque Ele é belo e dá sentido ao meu canto. Recorro ao Senhor porque Ele me estende os braços e dá segurança. Vou com o Senhor porque Ele me chamou e é o Caminho. Rezo ao Senhor porque Ele é o santuário e a porta. Respondo ao Senhor porque Ele perguntou e eu ouvi. Vivo no Senhor porque eu estava morto e Ele restaurou a minha vida. Frei Manuel Rito Dias Andarei na presença do Senhor, no mundo dos vivos. (v. 9) OGRÃODEMOSTARDA mes, pela Editora Universus, do Porto. O Novo Testamento foi também editado em 1957, em 2 volumes, e o Antigo entre 1961-1970, em 4 volumes. Ultimamente foi editada como Bí- blia manual na diocese de Aveiro (Mel Edito- res, 2013), mas certamente o seu texto merecia uma profunda revisão. 1.1. A Edições Theologica,deBraga, lan- çou também a edição desta tradução para o Novo Testamento em três volumes, entre 1986 e 1991. 1.2. J. Mendes de Castro, um dos tradu- tores desta Bíblia, editou as suas traduções em separado: • Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, 1993. • Livro dos Salmos, 1993. 2. A BÍBLIA SAGRADA, da difusora Bíblica (franciscanos Capuchinhos). 2.1.Aprimeiratradução(1964). Para colma- tar a falta de uma Bíblia popular atualizada, a difusora Bíblica empreendeu a tradução de uma edição para o povo. de facto, a Bíblia Ilustrada, em edições de luxo e em vários e grandes volumes, não era acessível às fracas posses da generalidade do povo português, nem de fácil ma- nuseamento. As- sim, entre as déca- das de sessenta e noventa do século passado, aparece- rão as duas tradu- ções da Bíblia Sa- grada da Difusora Bíblica ou Bíblia dos Capu- chinhos, feitas a partir dos originais, a se- gunda das quais já no fim do século: a 1ª, em 1964/65, em pleno Concílio e um ano antes da promulgação da constituição conciliar sobre a Bíblia, a Dei Verbum. Por não ser uma Bíblia perfeita, teve uma revisão em 1968, sendo a tradução novamente comparada com o texto original. 2.1.1. Este texto da Bíblia da difusora Bí- blica foi publicado por várias editoras cristãs, sobretudo na Bíblia Interconfessional de 1993, pela Sociedade Bíblica de Portugal, em coedi- ção com a d i f u s o r a Bíblica, e te- ve várias e- dições. O título do frontispício diz: “Bíblia Sagrada – A Boa No- va/tradu- ção inter- confessional do hebraico, do aramaico e do grego em português corrente/Edição da di- fusora Bíblica (franciscanos Capuchinhos), 1999.” 2.2. A Nova tradução dos originais (1ª edi- ção, 1998; 5ª edição, 2008). Sentiu-se a urgên- cia de fazer uma nova tradução dos originais, pelo que foram convidados todos os biblistas portugueses da altura. Quer isto dizer que a primeira tradução fez o seu caminho, du- rante 34 anos, embora com muita humildade, no que toca à apresentação do texto bíblico. A segunda tradução da difusora é a única feita diretamente a partir dos originais e dis- ponível em língua portuguesa, neste mo- mento, em Portugal. todas as outras são adaptações feitas a partir de Bíblias do Brasil, que não conside- ramos aqui. 50 ANOS DA BÍBLIA
  • 19. 419418 maio-junho 2015 | Nº 358 que eles tinham para trabalhar era boa vontade e um medidor de dioptrias. Não havia sequer lentes nem óculos.» Jimmy acabou por morrer. Mas houve consequências. «As mortes só são em vão se não acordarmos» – diz, convicta.Por causa desse rapaz, a irmã irene foi, com um coronel dos capacetes azuis, oftalmologista num hospital para militares da ONU, falar com responsá- veis da Organização Mundial de Saúde na re- gião. Ganharam a promessa de equipar o hospital de oftalmologia de Goma. da experiência nos campos de refugia- dos, guarda memória viva da esperança: «Nunca experimentei tanto a fidelidade de Deus como quando estamos junto do mal. E nunca vivi a esperança como com aquelas pessoas: não é op- timismo, é uma graça que faz com que elas consi- gam padecer o incalculável.» Uma ideia que não se acalmava no coração A vontade de trabalhar com refugiados e o JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados) foi-se for- mando aos poucos. Começou vagamente após ter vivido, na áustria, com duas refu- giadas curdas do iraque. Só mais tarde se apaixonaria pelo tema, quando leu textos do padre Pedro Arrupe, geral dos jesuítas, que fundara o JRS. Em 1989, no Porto, recebeu um fax da su- periora geral a perguntar se queria trabalhar num colégio em Bikop, a 80 quilómetros da capital dos Camarões, Yaoundé. A escola, destinada a meninas de uma zona de selva, dava formação profissional e a escolaridade básica. Esteve lá dois anos e isso fez aumen- tar a vontade de um trabalho com pessoas ainda mais fragilizadas. «Desde que conheci o trabalho do JRS que pedia à superiora geral um tempo para trabalhar com refugiados.» No fim do ano 2005, quando escrevia a carta anual à geral, deu consigo a pensar que a ideia a acompanhava há muito. E o facto de Pedro Arrupe ter tido uma trom- bose que o deixou imobilizado logo após fun- dar o JRS (a 14 de Novembro de 1980, data do seu aniversário) dava-lhe a «certeza de que o JRS era obra de Deus». A ideia «não se acalmava no coração». Per- guntou de novo à geral se podia partir. Meses depois, em Abril de 2006, a geral telefonou com a resposta positiva. O JRS pediu-lhe para trabalhar, primeiro, com refugiados congole- ses de etnia tutsi no Ruanda; depois, com os hútus e deslocados internos à força no Kivu Norte, em Goma (Congo). tutsis e hútus vi- raram-se uns contra outros, com um «terrível sofrimento». Acabou por ficar mais tempo que os dois anos que duram normalmente as missões do JRS. O governo-geral da congregação queria colaborar com a organização, mas só num se- gundo momento foi possível outra irmã “substituir” irene Guia. VIDA CONSAGRADA hegou de capacete na cabeça, partiu de- pois de o colocar de novo, sentada na motorizada da congregação, que utiliza nas suas deslocações em Lisboa. Houve um dia, num campo de refugi- ados do Congo, em que a motorizada pode- ria ter dado jeito à irmã Irene Guia, 55 anos, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus. O pequeno Saidi, 14 anos que mais pa- reciam oito, mal nutrido, ventre enorme, mãe doente, foi identificado como precisando de cuidados de saúde. Mas tinha de andar 100 metros até ao posto de atendimento. Quando percebeu isso, começou a chorar. «Um homem que me acompanhava pô-lo às cavalitas e ele parou o choro.» A mãe, que tinha António Marujo / jornalista * Viu Saidi a correr para ela e nesse momento sentiu na pele a sensação de ter salvo uma vida. Viu Jimmy morrer com um tumor e foi pedir mais meios para evitar mortes assim. E viu a esperança que faz com que pessoas no limite “consigam padecer o incalculável.” CC Ter na pele a sensação de ter salvo uma vida um cancro e era igualmente mal nutrida, foi levada com o filho para o hospital. «Duas se- manas depois, fui visitá-los. Quando me viu, Saidi desatou a correr. Nesse dia, tive a sensação na pele de que tinha salvo uma vida.» Nem sempre tiveram um final assim fe- liz, as histórias desses pouco mais de quatro anos (2006-2010) nos campos de refugiados do Ruanda e do Congo. Numa outra ocasião, ainda em Goma, província de Kivu Norte (Congo), apareceu Jimmy, uma criança de quatro anos com um tumor na cabeça que já lhe saía por um dos olhos, do qual cegara. Um dos oftalmologistas – dois médicos para dois milhões de pessoas – pôs ainda a hipó- tese de lhe extrair uma parte do tumor. «O Irene Guia, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus
  • 20. maio-junho 2015 | Nº 358 421420 maio-junho 2015 | Nº 358 Nos campos, o JRS tinha a seu cargo a educação. A escola é, naqueles lugares, «pro- tecção e esperança». todo esse tempo permitiu- lhe viver por dentro a parábola do capí- tulo 25 do evangelho de São Mateus: «Eu não sofria como eles, mas estava a protegê-los.» E não experimentava medo quando reunia com po- líticos ou polícias, que sabia serem ex-crimi- nosos. «Vivi a liberdade que Cristo nos dá.» Não é por acaso que irene Guia cita o texto de Mateus. A Bíblia – que estudou na Universidade Gregoriana (Roma), com Bru- na Costacurta, uma «extraordinária professora» – «é palavra viva: preciso de conhecer o contexto em que foi escrita para que ela me fale.» Há vários textos que se tornaram referên- cia: nos três primeiros capítulos do livro do Génesis, «está tudo: quem somos, de onde vimos, para onde vamos, a relação com Deus e com os ou- tros, as grandes questões que nos colocamos». do Novo testamento, cita a parábola dos trabalhadores que, contratados a horas dife- rentes, recebem o mesmo salário. «A bondade de Deus está fora dos nossos esquemas. É isso que a parábola diz.» E há ainda outro texto que vê como o seu AdN: nos Actos dos Apóstolos, Pedro e João sobem ao templo para rezar e respondem ao coxo de nascença: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou. Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda.» “O mundo andará sem nós...” Nascida em Lisboa, embora com as raí- zes no Norte (mãe) e Ribatejo (pai), irene tem duas irmãs, além de um irmão que morreu. Herdou dos pais a boa disposição, o sentido da autonomia e do serviço aos outros. «Eles diziam que, qualquer que fosse a profissão, deve- ríamos ser os primeiros na entrega.» desde cedo, estudou música na Acade- mia de Santa Cecília. «A música educa muito o coração.» Aprendeu piano até aos 18 anos, quando foi para a áustria estudar contra- baixo. ficou numa residência universitária internacional e foi aí que se cruzou com as re- fugiadas curdas. «Fiquei muito amiga da comu- nidade, ainda sem perceber que eram refugiados. E isso deu-me uma grande abertura ao universal.» Aos 13 anos, deixou de ir à missa. Aos 17, depois da morte do irmão, começou um pro- cesso de busca inverso. O final veio quatro anos depois, num retiro no seminário do fundão, por altura do Natal, com péssimas condições e um frio imenso. Ouviu: «Deus ama-nos e Jesus deu a vida por nós.» A frase feita levou-a, no contexto, a perguntar o que devia fazer. Voltou para a áustria, já com o Novo testamento na bagagem e a anunciar aos amigos da residência que, nesse do- mingo, queria participar naeucaristia.Ofere- ceu-se para colaborar na paróquia, aprendeu a rezar com um pequeno grupo evangélico, teve «conversas muito giras» sobre deus, a fé, a Bíblia... Voltou para Portugal, trabalhou três anos num banco, envolvendo-se ao mesmo tempo num grupo de jovens que se reunia no colé- gio das Escravas. «Às tantas, aparece-me a ques- tão vocacional. Nuns Exercícios Espirituais, percebi que era essa a espiritualidade em que me encontrava em casa e configurava a minha vida à vida de Jesus Cristo.» Procurou várias congregações, mas foi nas Escravas que ficou. E não lhe faz confu- são o nome? «O que eu não gostava mesmo era do ‘Coração de Jesus’. A iconografia ligada à de- voção complicava-me mais do que ‘Escravas’.» Reconciliou-se com a ideia também através de um texto do padre Arrupe, intitulado Só nele a esperança – por uma teologia do sagrado co- ração. Com a ideia, mas não com a iconogra- fia, que considera «pornografia religiosa: nem tudo serve para transmitir a mensagem, a Igreja deveria ter mais cuidado com o que propõe quando fala de Deus». As Escravas, como todas as congrega- ções, são «convocadas para a missão: se esta não for o centro, podemos ser solteirões e egoístas, ainda mais sabendo que temos o futuro assegu- rado». Os riscos da vida religiosa contempo- rânea, diz, são a solidão, a inveja, a falta de entusiasmo. «A nossa vida tem de estar centrada em Jesus. Se não, o que andamos a fazer?» Preocupa-a também o lugar das mulhe- res na igreja: «Tem de haver uma alteração muito grande na Igreja.» Que pode chegar ao sacer- dócio, sim. «O papel da mulher vai ser uma questão central do mundo. E o mundo não pode aceitar uma Igreja que, sendo misericórdia, conti- nua a reduzir a mulher a um papel secundário.» também aqui, recorda uma frase de Pedro Arrupe: «Não me preocupa que o mundo mude. Preocupa-me que demos res- postas de ontem aos problemas de hoje. O mundo anda sem nós; de nós depende que ande connosco.» Da experiência nos campos de refugiados, guarda memória viva da esperança: «Nunca experimentei tanto a fidelidade de Deus como quando estamos junto do mal. E nunca vivi a esperança como com aquelas pessoas: não é optimismo, é uma graça que faz com que elas consigam padecer o incalculável.» «Os riscos da vida religiosa contemporânea, são a solidão, a inveja, a falta de entusiasmo. A nossa vida tem de estar centrada em Jesus. Se não, o que andamos a fazer?» *O autor escreve segundo a anterior norma ortográfica.
  • 21. 422 maio-junho 2015 | Nº 358 ►28 junho 2015 ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS BÍBLICOS É a festa da Palavra para to- dos os grupos, mesmo os que tiveram Encontros Regionais. também vai participar a Fa- mília Franciscana Capuchi- nha, com os seus familiares e os que frequentam as co- munidades a nós confiadas. ● Início às 9h30, com Aco- lhimento solene à Palavra. ►19-24 julho 2015 RETIRO BÍBLICO Sobre a leitura orante da Bí- blia, ou Lectio divina. Orien- tado por frei Manuel Arantes da Silva e frei Luís Manuel Leitão. 23. DOMINGO 21:00, Apresentação da Semana. Frei Manuel Arantes, ofmcap / Secretário da Semana. 21:15, O consagrado num mundo secularizado: Frei Fernando Alberto, ministro provincial ofmcap. 21:45, PowerPoint. Frei Manuel Rito, ofmcap. 22:00, Oração da noite. Equipa de Liturgia. 24. SEGUNDA 10:00, O profano, o religioso, o sagrado e o consagrado na vida e na Bíblia. Frei Herculano Alves, ofmcap. 11:15, Intervalo. 11:45, Comunicação: Aliança e Vida Consagrada. Irmã Maria das Dores Rodrigues, fma. 15:30, Povo de Deus, um povo de consagrados. Padre Manuel Barbosa, scj. 25. TERÇA 10:00, Profetas, os consagrados à Palavra. Frei Bernardo Correia, ofm / UCP Porto. 11:15, Intervalo. 11:45, Comunicação: Consagrados ao serviço da Palavra. Irmã Núria, Verbum Dei. 15:30, Jesus Cristo, o consagrado do Pai, para o mundo. Doutor José Carlos Carvalho, UCP Porto. 26. QUARTA 10:00, Vocação e missão de Paulo, paradigma da vida consagrada. D. António Couto, Bispo de Lamego. 11:15, Intervalo. 11:45, Comunicação: Consagrados, santificados em Cristo. Irmã Graça Guedes, superiora provincial rad 15:30, Os consagrados na vida e na história da Igreja. D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar de Braga. 27. QUINTA 09:30, Desafios e futuro da Vida Consagrada. D. Augusto César. 11:00, EUCARISTIA de encerramento. D. Augusto César. SANTIFICADOS PELA PALAVRA , Ser Consagrado, Hoje na Igreja e no Mundo XXXVIII SEMANA BÍBLICA NACIONAL Fátima, 23 a 27 de agosto de 2015 INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES Telefones: 249 530 210; 249 539 215; 249 530 390; 926 261 463. E-mails: fatima@capuchinhos.org sndb@difusorabiblica.com Centro Bíblico dos Capuchinhos “Na plenitude da alegria pascal” «Voltar sempre ao primeiro amor» d essa mesma certeza de- ramtestemunho,no dia 8 de abril passado, três irmãos capuchinhos que reno- varam a sua consagração ao Se- nhor. O frei Manuel Luís, do Porto, eo freiAdelinoSoares, da Mata Mourisca, com50 anos de profissão religiosa; o frei Júlio Cunha, de Ribas, com 25. O frei Manuel Luís Tei- xeira, sempre em Portugal, em lugares de formação como dire- tor, mestre de noviços, guardião e conselheiro provincial; o frei Adelino, após algum tempo em Portugal, está desde 1978 em Angola, onde tem feito um pou- co de tudo, agora integrado nes- savice-Província, e reconduzido comoSecretário vice-Províncial; o frei Júlio, depois de um ano em Angola, no serviço fraterno em Portugal como irmão não clérigo, mas a concluir o curso de teologia para ser ordenado sacerdote. Lopes Morgado Texto e imagem «Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?» – desafiava Paulo, na Carta aos Romanos (8,35.39). A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?» E concluía: «Estou convencido de que nenhuma criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo, Senhor nosso.» Souberam a «primitivo amor» (Ap 2,4) gravado a ouro e prata, as mesmas palavras de há tantos anos ditas com a mesma fé e confiança no Deus Fiel.
  • 22. 425maio-junho 2015 | Nº 358 escendo o periférico de Paris, junto a Gen- tilly, dá-se de caras com a torre da igreja do Sacré-Coeur. O estar edificada numa pequena elevação e os 63 metros da torre cam- panária impõem-na à paisagem da cidade e aos seus habitantes. No último terço da torre, qua- tros anjos com seis metros de altura, do escultor Georges Salpique (1889-961): voltados nas quatro direções, de cabeça inclinada, mãos pos- tas em oração e asas abertas, lembram anjos protetores de quem lá vive ou passa. A beleza desta igreja começou quando Ro- bert Picard (+1969), assistente espiritual dos es- tudantes católicos da universidade, mais tarde Bispo de Orléans, convocou os artistas de fran- ça para a ornamentarem; o pintor Angel Zagar- ra, o arquiteto Pierre Paquet e o vitralista Jac- ques Gruber deixaram, assim, a sua marca nes- ta igreja de estilo romano-bizantino. foi consagrada em 1936 pelo card. Verdier e os estudantes católicos de 50 nacionalidades desta universidade fizeram a festa. Mas a cons- trução do periférico em 1960 ergueu uma bar- reira entre ela e a universidade; e o movimento de maio de 68 levou os estudantes a abandoná- -la, acabando a ideia pastoral de Robert Picard, de fazer da fé e da ciência uma caminhada jovem e solidária. Mas, deus vai fazendo a sua escrita nas li- nhas curvas. Na mesma década de 60, cresceu a emigração de portugueses para frança, empur- rados pelas carências no país e a guerra no ul- tramar. E este povo no deserto começou a di- rigir-se para a igreja do Sacré-Coeur, em Gen- tilly, que se tornou espaço de (re)encontro e re- toma da sua condição humana: no convívio, na oração e no canto em língua materna, recupe- raram sentido para a vida e fortaleza para a fé! Em 1979, os responsáveis das igrejas de Paris e Portugal reuniram-se e convidaram estes cristãos a juntarem-se e criar uma comu- nidade identificada como Paróquia dos Portu- gueses de Paris. Hoje, cada fim de semana, reúnem-se ali 3 mil pessoas. As crianças da ca- tequese são 850, distribuídas pelos dois turnos CRÓNICA Na Paróquia Portuguesa de Paris César Pinto DD Vós sois o sal da terra A igreja do Sacré-Coeur, em Gentilly, onde está sediada a paróquia portuguesa de Paris.