2. As Bem-aventuranças com que o Mestre Jesus preambulou o Sermão
da Montanha constituem, sem dúvida alguma, uma mensagem divina
aos homens de todas as raças e de todas as épocas, destinada a servir-
lhes de roteiro, rumo à perfeição. E logo na primeira Aventurança, Ele
afirmou: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus”. Ainda hoje muito se fala sobre tal ensinamento. No
entanto, tal ensino, como tanto outros, resta ainda incompreendido
pelos homens.
3. Para ilustrar esse estudo de total ausência de vaidade e desligamento
das coisas transitórias da Terra, fomos buscar no livro Pontos e
Contos, ditado pelo Irmão X, uma passagem intitulada “Olá, meu
irmão”. É a história de Cipriano Neto, homem de grande inteligência,
homem da literatura, que se encontrava agora no mundo espiritual
falando para uma pequena assembleia de desencarnados. Cipriano
contava sua experiência de vida para ajudar e esclarecer aqueles
irmãos que estavam ali reunidos.
4. Ele, então, conta que, na sua última experiência na carne, passou por
uma prova difícil, e ralado pelas dores chegou à Doutrina Espírita.
Saciado pela água viva de santas consolações, resolveu servir ao
Espiritismo através da palavra ou da pena. Seduzido pela beleza da
Doutrina, descobriu sobre a caridade. Porém, a sua decisão não se
filiava senão à vaidade. Fazia as palestras como se o Espiritismo
necessitasse dele. Admitia, no fundo, que a sua presença honrava
sobremaneira o auditório.
5. Desse modo, alardeava suma importância às suas palestras novas.
Certa ocasião, estando com seus amigos, eis que surge o
Elpídio, velho conhecido seu. Sapatos rotos, calças
remendadas, cabelos despenteados, rosto suarento, abeirou-se dele e
estendeu-lhe a destra, exclamando alegre: - Olá, meu irmão! Fiquei
muito satisfeito com a sua palestra! Cipriano, deveras
humilhado, respondeu à saudação efusiva de Elpídio
secamente, meneando levemente a cabeça. Desapontado, Elpídio
despediu-se e seguiu seu caminho.
6. Cipriano achou um desaforo semelhante homem do povo chama-lo de
irmão, ali, em plena Avenida, diante dos seus amigos da literatura.
Estaria, então, obrigado a relacionar-se com toda espécie de gente?
Revoltado, voltou à aspereza antiga e só cuidava da Doutrina
confinando-se a reduzido circuito doméstico. Retornando à vida
espiritual, e em meio a um aglomerado de espíritos, viu alguém que
não lhe era estranho às suas relações individuais, era o
Elpídio, integralmente transformado, evidenciando nobre posição
espiritual.
7. Cipriano aproximou-se, envergonhado. Quis dizer qualquer coisa que
lhe revelasse a angústia, mas, obedecendo a impulso que jamais soube
explicar, apenas repetiu as antigas palavras dele: - Olá, meu irmão!
Elpídio, longe de retribuir o gesto grosseiro outrora recebido de
Cipriano, abriu-lhe os braços exclamando com sincera alegria:
- Olá, meu amigo, que satisfação!
8. Nessa história, nós já podemos identificar quem é o pobre de espírito
e quem tem grandes dificuldades para sê-lo.
Isso também acontece conosco, porque temos grande dificuldade de
sermos “Elpídios”, mas também temos grande facilidade de sermos
“Ciprianos”. Nós carregamos essas dificuldades, e estamos aqui na
Terra justamente para modificarmos isso. Então, vamos buscar dentro
daquilo que a Doutrina Espírita nos apresenta as informações para
podermos entender o que é ser “pobre de espírito” e, principalmente,
saber qual o caminho que devemos seguir para sermos Elpídio.
9. Quando Jesus pregou o Sermão da Montanha, que define o caráter do
verdadeiro discípulo, suas palavras iniciais foram diretas ao coração,
mas muitos ouvintes não O ouviram, porque nunca passaram do ponto
de partida. Mesmo hoje, a maior parte da mensagem do Evangelho cai
em ouvidos surdos, de homens arrogantes.
Na passagem evangélica narrada por Mateus (V, 3), Jesus vem nos
falar que são bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
Reino dos Céus.
10. Difícil, porém, é a compreensão desse preceito, e de como nos
tornarmos pobres de espírito, para vencermos o homem orgulhoso que
ainda somos. O Mestre não quis dizer que seriam bem-aventurados os
que tivessem pouca inteligência, os ignorantes, os de baixa condição,
os obscuros. Essa pobreza de espírito está associada à humildade,
àqueles que não têm orgulho, àqueles que sabem quem são e àqueles
que se autoconhecem. Àqueles que não se envaidecem pelo que
sabem e que nunca exibem o que têm.
11. Aí está a humildade. O humilde sabe de onde ele veio, porque está
aqui e sabe para onde ele vai. Por isso, ele não se supervaloriza. Sem
a humildade, nenhuma virtude se mantém. Os humildes toleram em
sua singeleza, suportam as injustiças. Pobres de espírito são os bons,
que sabem amar a Deus e ao próximo, tanto quanto a si próprios. Para
estes é que Jesus disse: - “Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o Reino dos Céus”.
Muita Paz!