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15/01/2017 ConJur ­ Gilmar Mendes: É preciso frear o corporativismo de juízes e MP
http://www.conjur.com.br/2016­dez­28/gilmar­mendes­chegou­hora­frear­corporativismo­juizes­mp?imprimir=1 1/2
OPINIÃO
28 de dezembro de 2016, 10h35
Por Gilmar Mendes
*Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo desta quarta-feira (28/12).
Os pensadores que se propuseram a ensaiar explicações abrangentes sobre a
formação de nosso país, de um modo ou de outro, afirmaram as características da
colonização portuguesa e o ranço patrimonialista que dela herdamos.
Em seu ensaio sobre o segundo escalão do poder no Império, Antonio Candido
afirma que uma das formas de ascensão social no Brasil estava na nomeação para
cargo público, o que aproximava o funcionário dos donos do poder, dava-lhe amplo
acesso à burocracia, propiciando-lhe, assim, proteção institucional de direitos,
interesses e privilégios.
Claro que a crítica se centrava na nomeação de apaniguados, muitas vezes não
habilitados para o exercício das funções públicas. A nova ordem constitucional
procurou, por meio da regra do concurso público, prestigiar o mérito para a
investidura no serviço.
Ocorre que isso acabou por alimentar a capacidade organizacional das categorias de
servidores, situação institucional facilitadora da conquista de direitos e privilégios,
muitas vezes em detrimento da maioria da sociedade civil, a qual não conta com o
mesmo nível de organização.
Infelizmente, a Constituição de 1988 não encerrou esse ciclo. Conta-se que
Sepúlveda Pertence, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, costumava dizer que
o constituinte foi tão generoso com o Ministério Público que o órgão deveria ver o
Brasil com os olhos de uma grande nação amiga.
Na prática atual, no entanto, os altos salários, muitas vezes inaceitavelmente acima
do teto constitucional, e os excessos corporativistas dos membros do Parquet e do
Judiciário nos levam a enxergar a presença de um Estado dentro do Estado,
obnubilando, por um lado, a divisão de tarefas entre as instituições, que deveria
viabilizar o adequado funcionamento do governo, e escancarando, por outro, o
É hora de acabar com vantagens ilegais de
juízes e MP e frear o corporativismo
15/01/2017 ConJur ­ Gilmar Mendes: É preciso frear o corporativismo de juízes e MP
http://www.conjur.com.br/2016­dez­28/gilmar­mendes­chegou­hora­frear­corporativismo­juizes­mp?imprimir=1 2/2
crescente corporativismo que se revela a nova roupa do nosso velho
patrimonialismo.
Em contexto de abalo das lideranças políticas e de irresponsabilidade fiscal, esse
cenário nos levou a vivenciar fenômenos como liminares judiciais para concessão
de aumento de subsídios a juízes -travestido de auxílio-moradia- e também conduziu
o Congresso à aprovação de emenda constitucional que estendeu a autonomia
financeira à defensoria pública, o que obviamente se fez acompanhar por pressões
de diversas outras categorias para obter o mesmo tratamento.
Tais providências trazem grandes prejuízos, tanto por reduzirem drasticamente a
capacidade de alocação orçamentária dos Poderes eleitos para tanto como porque
sempre são adotadas em detrimento dos que necessitam de políticas publicas
corajosas e eficientes.
Reiteradas vezes afirmei que o Brasil está a se transformar em uma República
corporativa, em que o menor interesse contrariado gera uma reação descabida, de
forma que a manutenção e conquista de benesses do Estado por parte de categorias
ganham uma centralidade no debate público inimaginável em países civilizados.
A autonomia financeira que se pretende atribuir aos diversos órgãos e as reações
exageradas contra quaisquer projetos que visem a disciplinar seus abusos são a
nova face de nosso indigesto patrimonialismo.
Diante da realidade fiscal da nação e dos Estados, é imperioso acabarmos com
vantagens e penduricalhos ilegais e indevidos concedidos sob justificativas
estapafúrdias e com base nas reivindicadas autonomias financeiras e
administrativas que todo e qualquer órgão pretende angariar para si.
Esse tipo de prática alija o Poder Legislativo do processo decisório, tornando, assim,
extremamente difícil o exercício de qualquer forma de controle sobre essas
medidas.
No momento em que encerramos um dos anos mais difíceis de nossa história
recente, devemos pensar no futuro do país e de nossos filhos e netos. É hora de
finalmente ousarmos construir uma sociedade civil livre e criadora e colocar freios
em nosso crescente corporativismo.
Gilmar Mendes é ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal
Superior Eleitoral.
Revista Consultor Jurídico, 28 de dezembro de 2016, 10h35

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