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Isto é gestalt-terapia.
Felipe Padilha | CRP 12/21512
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
O que é
gestalt-terapia?
Gestalt-Terapia não é nem uma técnica específica nem uma coleção de
técnicas. Assim por exemplo, ela não é um método de encontro ou
confrontação com uma seqüência estruturada de proposições, ordens
ou desafios.
Tampouco é um método dramático-expressivo visando basicamente a
descarga de tensão. Tensão é energia, a energia é uma coisa preciosa
demais para ser simplesmente descarregada; deve se tornar disponível
para mudanças necessárias ou desejáveis.
A tarefa em terapia é desenvolver suporte suficiente para a
reorganização e canalização de energia.
Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional
Áustria, julho de 1977
O diabo põe a mão em todo empreendimento humano, não apenas em filosofia ou teologia.
Eu o vejo atuando em política e educação, em ciência e arte, e particularmente no nosso
próprio campo, no ensino e a prática de psicoterapia, empenhadíssimo em fornecer não
apenas palavras mas, fórmulas pré-fabricadas, técnicas e macetes, todo um caleidoscópio
de truques para quem é pobre, ignorante e suficientemente crédulo, e disposto a pagar.
O diabo é o mestre do atalho, pretensioso, sedutor e enganador, prometendo, induzindo e
impondo sem parar. Suas ferramentas são simplificação, manipulação e distorção. Agora
vamos do mito ao fato.
Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional
Áustria, julho de 1977
Durante uma reunião do Instituto de Gestalt-terapia de Nova York coloquei a questão: Qual é
a sua resposta quando alguém lhe pergunta: o que é Gestalt-terapia? O nosso vice-presidente
Richard Kitzler, que gosta de bancar o advogado do diabo, falou baixinho: “o assento quente
e a cadeira vazia”.
Obviamente, como Mefistófeles, ele falou contendo o riso. Mas o discípulo ingênuo e
impaciente aceita e não questiona; ele sempre tomará aparte pelo todo.
Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional
Áustria, julho de 1977
A Gestalt Terapia é uma abordagem
fenomenológico-existencial-dialógica e se baseia
na teoria de campo e no holismo. (Yontef, 1998)
É fenomenológica, pois descreve e não interpreta;
É existencial, pois lida com a existência humana
que ali está presente e não com “um problema”,
um objeto;
É dialógica, pois coloca dois seres humanos em
diálogo, ou seja, um interferindo na realidade
vivencial do outro.
RESGATE HISTÓRICO
Perls, já doutor em neuropsiquiatria, publica o artigo
“Resistências Orais” no Simpósio Internacional de
Praga (1936), onde vivencia situações de decepção:
Freud não faz menção de contato e Reich não o
reconhece; sua apresentação é ‘invalidada’ pelos
psicanalistas no congresso.
1942 - lançamento do livro “Ego, fome e agressão”,
onde estabelece sua saída da psicanálise.
1950 - Já estabelecido em Nova York, na condição
de refugiado, constrói o Grupo dos 7.
Laura Perls Fritz Pers
Isadore
From
Sylvester
Eastman
Paul
Goodman
Paul
Weiss
Elliot
Saphiro
CONTEXTUALIZAÇÃO
TEÓRICA
Na Psicologia da Gestalt e na Teoria de Campo, através dos conhecimentos de Laura, Perls
desenvolve possibilidades de organização de alguns conceitos básicos para a criação de sua
nova terapia que é sustentada no fluxo figura fundo como dinâmica de totalidade, na
percepção e nos processos de campo.
Esta visão está baseada na visão fenomenológica sustentada na indissociação
fenômeno/consciência e no conceito de campo em Gestalt, que postula a indissociação
organismo/meio.
Metodologicamente, teremos através desse olhar, a possibilidade de não termos um à priori,
pois estaremos abertos ao momento presente, tal qual nos é apresentado. "O que é figura,
sempre aparece" (PERLS, 1978).
Perls ainda rejeita a técnica da associação livre (que para ele era um ‘falar sobre’) e utiliza a
técnica da concentração no ‘sintoma’, pois só assim se é surpreendido para aquilo que o
‘sintoma’ realiza, ou seja, uma defesa; uma forma de ajustamento possível do organismo no
meio.
Perls vai denominar esta ‘técnica’ de awareness - a atenção na vivência temporal da situação;
um entrar em contato com a ocorrência que existe no momento presente.
A partir disto, Perls reformula a noção de sintoma, não mais como a expressão de um
conflito de conteúdos anteriores que continuam a se manifestar, mas como uma interrupção
da awareness, demonstrando que a pessoa está impedida de criar, de fluir no presente,
indicando que existe o impedimento de uma necessidade organísmica.
Então, em Gestalt-terapia, sintoma passa a ser visto como forma (ação) e não como conteúdo
(significado). Portanto, o trabalho terapêutico não tem como objetivo procurar uma causa,
um conteúdo reprimido e sim experimentações, vivências, que coloquem a concentração na
identificação no ‘o que’ e ‘como’ a pessoa se interrompe através da awareness.
INDIFERENCIA
ÇÃO COM O
MEIO
CONFLUÊNCIA PROJEÇÃO EGOTISMO
INTROJEÇÃO RETROFLEXÃO
INTROJEÇÕES
DE PARTES DO
MEIO
ALIENAÇÃO DE
PARTES QUE
APARECEM NO
MEIO
AÇÃO NO MEIO
BLOQUEIO DO
IMPULSO
A NEUROSE EM GESTALT-TERAPIA
CONFLUÊNCIA PROJEÇÃO EGOTISMO
INTROJEÇÃO RETROFLEXÃO
A POSTURA DO
GESTALT-TERAPEUTA
Vídeo
Como facilitar este desenvolvimento de funções mais elásticas de suporte nos nossos pacientes depende do
suporte que temos em nós mesmos e da nossa noção clara do que o nosso cliente tem à sua disposição: Um
bom terapeuta não usa técnicas, ele se usa dentro e de acordo com uma situação com os conhecimentos,
habilidades e experiência global de vida que formam parte integrada de seu próprio “fundo” e com a percepção
que tiver em qualquer momento dado.
Por isso começamos com o óbvio, com aquilo que é diretamente perceptível tanto para o terapeuta como para o
cliente, e deste ponto partimos em passos miúdos que são diretamente experenciados e por isso mais
facilmente assimiláveis. Este é um processo que exige tempo, muitas vezes mal entendido por pessoas ávidas
de efeitos fáceis e resultados mágicos.
Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional
Áustria, julho de 1977
Porém, milagres resultam não só de intuição mas da escolha do momento certo. Desconfio do milagreiro e estou
cansada da “catarse” instantânea. Frequentemente ela acaba numa reação terapêutica negativa, uma recaída ou
mesmo uma quebra psicótica. Evidencia falta de respeito pelo sofrimento existencial do paciente, não aceitando-
o como ele é neste momento, mas manipulando-o rapidamente para onde nós achamos que ele deveria estar.
Isto não contribui para o desenvolvimento da sua conscientização própria e autonomia, e tampouco para a
evolução do terapeuta.
Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional
Áustria, julho de 1977
Proporcionamos de maneira hábil a
frustração suficiente para que o
cliente seja forçado a encontrar seu
próprio caminho, a descobrir seus
próprios potenciais, e a descobrir
que aquilo que ele espera do
processo terapêutico, pode encontrar
muito bem sozinho (PERLS, 1977).
O Gestalt-terapeuta também
mostra as próprias dúvidas, expressa
limites, raiva e aborrecimento,
compartilha suas observações de
aspectos do paciente, negados
pelo paciente mas observados pelo
terapeuta.
Tem suficiente perspectiva
independente para ter uma noção
clara e precisa a respeito do
paciente para direcionar o trabalho
(Yontef, 1998, p. 252)
"Usualmente, o desaparecimento de um cliente
pode significar que ele conseguiu o que queria
e já sente-se melhor" (JOYCE & SILLS, 2016).
Awareness do fim (JOYCE & SILLS, 2016).
A vida é como um rio
Cada pedra que se joga na transparência
torna-se um novo som no ar
Cada pedaço de pau que for lançado,
flutuará
até o oceano
num caminho que é só dele.
A sua única tarefa enquanto você está
aqui é aprender a olhar em volta e,
graciosamente
submeter-se
à viagem que nos cerca
Seu mestre será alguém que vem
Para dizer-lhe onde você está
Para que você não seja arrastado.
Suas palavras soarão como uma forte
corrente
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"Você tem presente a sua voz?
O que você está fazendo agora?
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Você está ensaiando algo
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o seu coração batendo forte lhe dirão
para não se aproximar.
Mas o mestre dirá para você ficar um
pouco
Pois embora a corrente seja fria,
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E toda vez que você se afastar de como
as coisas são agora
a sua voz lhe perguntará
"O que é tão melhor no futuro?
Você prefere pensamentos gastos sobre
o passado
por onde o rio há muito já passou?"
E então você ri.
Você não pode ser amanhã
agora.
Você não pode manter o tempo
no bolso.
Suas calças são novas.
Uma mariposa o acompanha.
Também há margaridas em volta,
E eu me pergunto por que o céu é
azul.
Robert K. Hall
Minha vida medida em palavras
abandonadas
No presente momento é o firme apoio, o
equilíbrio, o centro da minha experiência
mutável, em andamento.
E agora estou aqui, escrevendo palavras, com
lágrimas de gratidão nos olhos, lembrando-me
de Fritz Perls e das últimas palavras do
Garbige Pail: "Será que algum dia eu vou
aprender a confiar totalmente em mim?"
(STEVENS, 1977, pg. 359)
"
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JOYCE, Phil; SILLS, Charlotte. Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia, 4ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2016. 407 p.
PERLS, Fritz. Gestalt Terapia Explicada. 3ª ed. São Paul:, Editora Summus, 1977. 370 p.
STEVENS, John O.. Apoio e Equilíbrio. In: STEVENS, John et al (org.). Isto é gestalt. São Paulo:
Summus Editorial Ltda, 1977. Cap. 22. p. 355-359.
TOBIN, Stephen A.. Totalidade e Autossustentação. In: STEVENS, John et al (org.). Isto é
gestalt. São Paulo: Summus Editorial Ltda, 1977. Cap. 13. p. 176-200.
FRAZÃO, L. M. ‘Um pouco da história... um pouco dos bastidores’. In: FRAZÃO, L. M. e
FUKUMITSU, K. O. (org.). Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências
filosóficas. São Paulo: Summus, 2013.

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  • 1. Isto é gestalt-terapia. Felipe Padilha | CRP 12/21512 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
  • 2.
  • 3.
  • 5. Gestalt-Terapia não é nem uma técnica específica nem uma coleção de técnicas. Assim por exemplo, ela não é um método de encontro ou confrontação com uma seqüência estruturada de proposições, ordens ou desafios. Tampouco é um método dramático-expressivo visando basicamente a descarga de tensão. Tensão é energia, a energia é uma coisa preciosa demais para ser simplesmente descarregada; deve se tornar disponível para mudanças necessárias ou desejáveis. A tarefa em terapia é desenvolver suporte suficiente para a reorganização e canalização de energia. Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional Áustria, julho de 1977
  • 6. O diabo põe a mão em todo empreendimento humano, não apenas em filosofia ou teologia. Eu o vejo atuando em política e educação, em ciência e arte, e particularmente no nosso próprio campo, no ensino e a prática de psicoterapia, empenhadíssimo em fornecer não apenas palavras mas, fórmulas pré-fabricadas, técnicas e macetes, todo um caleidoscópio de truques para quem é pobre, ignorante e suficientemente crédulo, e disposto a pagar. O diabo é o mestre do atalho, pretensioso, sedutor e enganador, prometendo, induzindo e impondo sem parar. Suas ferramentas são simplificação, manipulação e distorção. Agora vamos do mito ao fato. Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional Áustria, julho de 1977
  • 7. Durante uma reunião do Instituto de Gestalt-terapia de Nova York coloquei a questão: Qual é a sua resposta quando alguém lhe pergunta: o que é Gestalt-terapia? O nosso vice-presidente Richard Kitzler, que gosta de bancar o advogado do diabo, falou baixinho: “o assento quente e a cadeira vazia”. Obviamente, como Mefistófeles, ele falou contendo o riso. Mas o discípulo ingênuo e impaciente aceita e não questiona; ele sempre tomará aparte pelo todo. Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional Áustria, julho de 1977
  • 8. A Gestalt Terapia é uma abordagem fenomenológico-existencial-dialógica e se baseia na teoria de campo e no holismo. (Yontef, 1998) É fenomenológica, pois descreve e não interpreta; É existencial, pois lida com a existência humana que ali está presente e não com “um problema”, um objeto; É dialógica, pois coloca dois seres humanos em diálogo, ou seja, um interferindo na realidade vivencial do outro.
  • 9. RESGATE HISTÓRICO Perls, já doutor em neuropsiquiatria, publica o artigo “Resistências Orais” no Simpósio Internacional de Praga (1936), onde vivencia situações de decepção: Freud não faz menção de contato e Reich não o reconhece; sua apresentação é ‘invalidada’ pelos psicanalistas no congresso. 1942 - lançamento do livro “Ego, fome e agressão”, onde estabelece sua saída da psicanálise. 1950 - Já estabelecido em Nova York, na condição de refugiado, constrói o Grupo dos 7.
  • 10. Laura Perls Fritz Pers Isadore From Sylvester Eastman Paul Goodman Paul Weiss Elliot Saphiro
  • 12. Na Psicologia da Gestalt e na Teoria de Campo, através dos conhecimentos de Laura, Perls desenvolve possibilidades de organização de alguns conceitos básicos para a criação de sua nova terapia que é sustentada no fluxo figura fundo como dinâmica de totalidade, na percepção e nos processos de campo. Esta visão está baseada na visão fenomenológica sustentada na indissociação fenômeno/consciência e no conceito de campo em Gestalt, que postula a indissociação organismo/meio. Metodologicamente, teremos através desse olhar, a possibilidade de não termos um à priori, pois estaremos abertos ao momento presente, tal qual nos é apresentado. "O que é figura, sempre aparece" (PERLS, 1978).
  • 13. Perls ainda rejeita a técnica da associação livre (que para ele era um ‘falar sobre’) e utiliza a técnica da concentração no ‘sintoma’, pois só assim se é surpreendido para aquilo que o ‘sintoma’ realiza, ou seja, uma defesa; uma forma de ajustamento possível do organismo no meio. Perls vai denominar esta ‘técnica’ de awareness - a atenção na vivência temporal da situação; um entrar em contato com a ocorrência que existe no momento presente. A partir disto, Perls reformula a noção de sintoma, não mais como a expressão de um conflito de conteúdos anteriores que continuam a se manifestar, mas como uma interrupção da awareness, demonstrando que a pessoa está impedida de criar, de fluir no presente, indicando que existe o impedimento de uma necessidade organísmica.
  • 14. Então, em Gestalt-terapia, sintoma passa a ser visto como forma (ação) e não como conteúdo (significado). Portanto, o trabalho terapêutico não tem como objetivo procurar uma causa, um conteúdo reprimido e sim experimentações, vivências, que coloquem a concentração na identificação no ‘o que’ e ‘como’ a pessoa se interrompe através da awareness.
  • 15. INDIFERENCIA ÇÃO COM O MEIO CONFLUÊNCIA PROJEÇÃO EGOTISMO INTROJEÇÃO RETROFLEXÃO INTROJEÇÕES DE PARTES DO MEIO ALIENAÇÃO DE PARTES QUE APARECEM NO MEIO AÇÃO NO MEIO BLOQUEIO DO IMPULSO A NEUROSE EM GESTALT-TERAPIA CONFLUÊNCIA PROJEÇÃO EGOTISMO INTROJEÇÃO RETROFLEXÃO
  • 18. Como facilitar este desenvolvimento de funções mais elásticas de suporte nos nossos pacientes depende do suporte que temos em nós mesmos e da nossa noção clara do que o nosso cliente tem à sua disposição: Um bom terapeuta não usa técnicas, ele se usa dentro e de acordo com uma situação com os conhecimentos, habilidades e experiência global de vida que formam parte integrada de seu próprio “fundo” e com a percepção que tiver em qualquer momento dado. Por isso começamos com o óbvio, com aquilo que é diretamente perceptível tanto para o terapeuta como para o cliente, e deste ponto partimos em passos miúdos que são diretamente experenciados e por isso mais facilmente assimiláveis. Este é um processo que exige tempo, muitas vezes mal entendido por pessoas ávidas de efeitos fáceis e resultados mágicos. Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional Áustria, julho de 1977
  • 19. Porém, milagres resultam não só de intuição mas da escolha do momento certo. Desconfio do milagreiro e estou cansada da “catarse” instantânea. Frequentemente ela acaba numa reação terapêutica negativa, uma recaída ou mesmo uma quebra psicótica. Evidencia falta de respeito pelo sofrimento existencial do paciente, não aceitando- o como ele é neste momento, mas manipulando-o rapidamente para onde nós achamos que ele deveria estar. Isto não contribui para o desenvolvimento da sua conscientização própria e autonomia, e tampouco para a evolução do terapeuta. Conferência de Laura Perls no Congresso da Associação Européia de Análise Transacional Áustria, julho de 1977
  • 20. Proporcionamos de maneira hábil a frustração suficiente para que o cliente seja forçado a encontrar seu próprio caminho, a descobrir seus próprios potenciais, e a descobrir que aquilo que ele espera do processo terapêutico, pode encontrar muito bem sozinho (PERLS, 1977).
  • 21. O Gestalt-terapeuta também mostra as próprias dúvidas, expressa limites, raiva e aborrecimento, compartilha suas observações de aspectos do paciente, negados pelo paciente mas observados pelo terapeuta. Tem suficiente perspectiva independente para ter uma noção clara e precisa a respeito do paciente para direcionar o trabalho (Yontef, 1998, p. 252)
  • 22. "Usualmente, o desaparecimento de um cliente pode significar que ele conseguiu o que queria e já sente-se melhor" (JOYCE & SILLS, 2016). Awareness do fim (JOYCE & SILLS, 2016).
  • 23. A vida é como um rio Cada pedra que se joga na transparência torna-se um novo som no ar Cada pedaço de pau que for lançado, flutuará até o oceano num caminho que é só dele. A sua única tarefa enquanto você está aqui é aprender a olhar em volta e, graciosamente submeter-se à viagem que nos cerca Seu mestre será alguém que vem Para dizer-lhe onde você está Para que você não seja arrastado. Suas palavras soarão como uma forte corrente Ou o despertarão, como um sino. "Você tem presente a sua voz? O que você está fazendo agora? O que suas mãos estão fazendo? Você está ensaiando algo Ou prefere atuar ao vivo?" Haverá lugares onde o seu peito doído e o seu coração batendo forte lhe dirão para não se aproximar. Mas o mestre dirá para você ficar um pouco Pois embora a corrente seja fria, Só no seu fluxo você será livre. E toda vez que você se afastar de como as coisas são agora a sua voz lhe perguntará "O que é tão melhor no futuro? Você prefere pensamentos gastos sobre o passado por onde o rio há muito já passou?" E então você ri. Você não pode ser amanhã agora. Você não pode manter o tempo no bolso. Suas calças são novas. Uma mariposa o acompanha. Também há margaridas em volta, E eu me pergunto por que o céu é azul. Robert K. Hall Minha vida medida em palavras abandonadas
  • 24. No presente momento é o firme apoio, o equilíbrio, o centro da minha experiência mutável, em andamento. E agora estou aqui, escrevendo palavras, com lágrimas de gratidão nos olhos, lembrando-me de Fritz Perls e das últimas palavras do Garbige Pail: "Será que algum dia eu vou aprender a confiar totalmente em mim?" (STEVENS, 1977, pg. 359) "
  • 25. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JOYCE, Phil; SILLS, Charlotte. Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia, 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2016. 407 p. PERLS, Fritz. Gestalt Terapia Explicada. 3ª ed. São Paul:, Editora Summus, 1977. 370 p. STEVENS, John O.. Apoio e Equilíbrio. In: STEVENS, John et al (org.). Isto é gestalt. São Paulo: Summus Editorial Ltda, 1977. Cap. 22. p. 355-359. TOBIN, Stephen A.. Totalidade e Autossustentação. In: STEVENS, John et al (org.). Isto é gestalt. São Paulo: Summus Editorial Ltda, 1977. Cap. 13. p. 176-200. FRAZÃO, L. M. ‘Um pouco da história... um pouco dos bastidores’. In: FRAZÃO, L. M. e FUKUMITSU, K. O. (org.). Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas. São Paulo: Summus, 2013.