O documento descreve a história de João Bosco da Silva, um agricultor de 62 anos que luta pela terra e direitos dos agricultores locais. Apesar das dificuldades, João Bosco e sua filha Lêda cultivam frutas e hortaliças com sucesso em uma propriedade às margens do Açude Patu. João sonha em perfurar um poço para garantir o suprimento de água e continuar produzindo alimentos saudáveis para sua família e comunidade.
1. João Bosco, um agricultor exemplo de determinação
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº 1986
Novembro/2014
Senador Pompeu
Um exemplo de coragem, determinação, força de vontade de
trabalhar que vem do Sítio Timbaúba, município de Senador
Pompeu (CE). João Bosco da Silva, 62 anos, com muita
vitalidade e cheio de sonhos, produz frutas e verduras em
sua propriedade às margens doAçude Patu.
No começo da década de 1980, teve início a construção doAçude
Patu. Centenas de famílias de pequenos agricultores foram
impactadas pela construção. A terra da família de João Bosco
também ficava na área que seria inundada pelas águas do
açude. Os agricultores e agricultoras foram obrigados a saírem
de suas propriedades sem a devida indenização. As famílias se
organizaram e iniciaram a luta por seus direitos. Numa época de
muita repressão no campo, as famílias organizadas contaram
com a ajuda do então Padre da paróquia, o italiano Albino
Donatti, que esteve sempre do lado dos agricultores(as),
organizando mobilizações, que por vezes pararam máquinas no
canteiro de obras e realizaram atos na sede do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DNOCS) em Fortaleza, reivindicando os direitos das famílias que foram violados. Foi a partir dessa
luta que o Centro de Defesa dos Direitos Humanos foi criado, para dar suporte jurídico às famílias
pelo direito à indenização e terra para retomarem suas
vidas.
A família de João Bosco foi uma das que estiveram nessa
luta. Segundo ele, sua mãe não quis receber indenização
pelas benfeitorias, preferiu receber um lote de terra, com
propósito de deixar para a família trabalhar. “Então a gente
recebeu esse lote, está com mais de 20 anos que a gente
vem trabalhando aqui dentro”, diz.
Ele conta com a ajuda da filha Lêda da Silva, que mora a
pouco mais de 200 metros de sua casa. Uma liderança
comunitária que está à frente dos movimentos da
comunidade em busca de melhores condições de vida.
Destemida e determinada, ela está sempre mobilizando a
comunidade e reivindicando aos órgãos públicos o que é de
direito para a comunidade.
2. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Com a ajuda e orientação da Cooperativa de Senador Pompeu,
João Bosco e sua filha Lêda iniciaram um plantio de frutas e
hortaliças no oitão de casa, há pouco mais de três anos.Atualmente
produzem mamão, goiaba, banana, laranja e hortaliças. A
produção é vendida para os mercantis de Senador Pompeu, mas
também vende de porta em porta nas comunidades vizinhas.
Lêda diz que ajuda o pai nas vendas e organização, “mas quem
cuida mesmo da plantação é ele”. Fala das dificuldades para levar
os produtos para vender na cidade, mas considera uma grande
conquista poder produzir alimentos saudáveis que alimentam a
família e geram renda. “Desde criança que moro aqui, vi o sacrifício
do meu pai, hoje pra mim é uma conquista grande, quem imaginaria
a gente ter uma produção de goiaba, como hoje nós temos, em
saber que está beneficiando a comunidade, o município e
principalmente a minha família.Agente produz frutas de qualidade,
a gente não usa veneno, é uma fruta sadia”, enfatiza Lêda.
A água utilizada para aguar o plantio vem do Açude Patu, João
Bosco diz que em períodos longos de estiagem a água fica muito longe, atualmente está pegando
água de um pequeno açude que fica próximo à sua casa, mas teme que o açude seque e prejudique
o seu plantio, por isso sonha com a possibilidade de perfurar um poço em sua propriedade. “Se eu
tiver oportunidade de perfurar um poço aqui, vai beneficiar meus vizinhos também e eu não vou
correr o risco de perder minha plantação”.
João Bosco da Silva é perseverante e gosta de falar dos tempos em que conviveu com Pe. Albino
Donatti, segundo ele, muito do que sabe hoje, foi o Padre Albino que lhe ensinou, enquanto lutava
junto aos agricultores e agricultoras pelo direito à indenização das terras e benfeitorias que foram
inundadas com as águas do açude Patu.
João Bosco diz ser um homem perseverante, gosta de trabalhar e ajudar ao próximo. Nas horas
vagas é rezador. “Às vezes saio a pé com um balde de frutas para vender pela vizinhança, aí as
pessoas me pedem para fazer uma reza, para curar doenças, e eu faço isso com maior prazer, por
ser um dom que Deus me deu”, afirma.
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