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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
ESCOLA DE ENFERMAGEM 
BACHARELADO DE SAÚDE COLETIVA 
UNIDADE DE SAÚDE SOCIEDADE E HUMANIDADES IV 
DOCENTE RESPONSÁVEL: MARIA GABRIELA CURUBETO GODOY 
DOCENTE COLABORADORA: CRISTIANNE FAMER ROCHA 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS 
DICENTES: ANA PAULA CAPPELLARI 
BIANCA OLIVEIRA GOMES 
LETÍCIA COSTA DE SOUZA 
MARIA RAQUEL FERREIRA GARCIA 
PORTO ALEGRE, DEZEMBRO DE 2014.
INTRODUÇÃO 
Contar Histórias é uma das artes mais antigas. Os contos sempre encantaram 
povos em todo mundo, são fontes maravilhosas de experiências assim como meios de 
ampliar o horizonte do ouvinte e de aumentar seu conhecimento em relação ao mundo 
que o cerca uma vez que as histórias são efetivamente formas de ensinar e aprender. 
Mesmo diante de toda tecnologia existente, o contador de Histórias resiste aos 
tempos, é arte viva, pulsante e persistente da cultura de um povo, de sua sensibilidade e 
desenvolvimento e como toda arte, a de “Contar História” também possui suas técnicas. 
Ouvir e contar histórias levam as crianças a desenvolverem seu imaginário assim 
como suas habilidades, trabalhando com o aguçar das habilidades já existentes e no 
desenvolvimento de novas, o que trará muitas construções novas e uma leitura de 
mundo mais ampliada e significativa. Permite a intercomunicação das partes, do 
contador e do ouvinte, contar e interagir nessa arte desenvolve a emoção, percepção e 
aceitação de um fato e amadurecimento sobre ele. 
Esse trabalho apresenta um resgate histórico da Contação de Histórias, suas 
práticas, recursos e principais técnicas, bem como apresenta a Contação de História 
como importante instrumento na área da saúde, da educação e promoção da saúde. 
Contar história é uma arte, e para isso qualquer um de nós pode trabalhar e desenvolver 
algumas qualidades que fazem toda diferença na narrativa.
1) CONTEXTO HISTÓRICO: A ARTE MILENAR DE CONTAR 
HISTÓRIAS 
A arte de narrar histórias encontra suas raízes nos povos ancestrais que 
contavam e encenavam histórias para difundirem seus rituais, os mitos, os 
conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou não, e sobre as experiências adquiridas 
pelo grupo ao longo do tempo. Além da comunicação oral e gestual, ao narrarem suas 
histórias, também, registravam nas paredes das cavernas, com desenhos e pinturas, suas 
experiências, algumas delas vividas no cotidiano. A memória auditiva e a visual eram, 
então, essenciais para a aquisição e o armazenamento dos conhecimentos transmitidos 
(RAMOS, 2011). 
Desde há muito, a transmissão oral, passada de geração em geração, foi uma das 
soluções encontradas pelas comunidades que não possuíam a escrita, para informar às 
gerações mais novas os seus saberes, valores e crenças. Por conseguinte, aqueles 
saberes considerados imprescindíveis para a sobrevivência individual e grupal 
(RAMOS, 2011). 
Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que sabiam 
apresentar conselhos, fundamentados em fatos, histórias e mitos, mantendo viva, enfim, 
a herança cultural pela memória do grupo. Os contadores retiravam de suas vivências e 
dos saberes delas obtidos o que contar. Em assim sendo, narrar dependia de eles 
colherem os saberes da experiência, e de produzi-los em objetos (visuais, auditivos, etc.) 
para serem apresentados a outros (RAMOS, 2011). 
Os camponeses sedentários e os navegantes e/ou comerciantes foram os 
principais responsáveis pela preservação dessas histórias e dessa arte. Os camponeses, 
fixos em suas terras, conheciam intimamente as histórias do lugar onde moravam, e os 
navegantes e/ou comerciantes por trazerem conhecimentos de terras longínquas. Os 
encontros entre narrador (camponeses, navegantes e/ou comerciantes) e ouvintes 
(comunidade) criaram um espaço típico de momentos em que a comunidade, geralmente 
distribuída em semicírculos, sentava-se à volta da fogueira para ouvir e trocar 
conhecimentos. Um momento performático acontecia quando os contadores narravam 
suas histórias. Histórias cheias de ensinamentos e conhecimentos que geravam nos 
ouvintes a curiosidade, e, por vezes, o conforto, a reflexão e a transformação (RAMOS, 
2011).
Os contadores ritualizavam hábitos e costumes de uma comunidade, muitos 
deles com o intuito de constituir uma base “identitária”, ou seja, compor a subjetividade 
desse grupo. Esta prática sustentava o equilíbrio do grupo, evitando assim sua 
desagregação. Portanto, desde então, em sua ação o contador fazia o “convocar imagens 
e ideias de sua lembrança, misturando-as às convenções contextuais e verbais de seu 
grupo, para adaptá-las segundo o ponto de vista cultural e ideológico de sua 
comunidade” (PATRINI, 2005). 
Na Europa, a figura do contador de história esteve sempre ligada às mulheres 
que, durante seus trabalhos domésticos, “teciam” suas histórias, momentos onde podiam 
falar e transmitir sua sabedoria, já que não lhes era permitida a participação na vida 
social e política mais ampla. Por muito tempo o exercício de contar histórias foi uma 
prática doméstica, quase sempre presente no meio rural, sendo abandonada 
paulatinamente com a urbanização e o surgimento de novas tecnologias. Com o 
desenvolvimento tecnológico e o surgimento de novas mídias, como a televisão, o 
cinema e a internet, essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais (RAMOS, 
2011). 
Em meados do séc. XX, os contadores de histórias, após terem quase 
submergido em consequência do surgimento das novas mídias, ressurgem, como 
fenômeno urbano, dando origem, ao que hoje se conhece como novos contadores, ou 
contadores urbanos. Com o surgimento dos contadores urbanos, a arte de contar 
histórias passou a ser reconhecida também no campo pedagógico. Esses novos 
contadores já não realizam apenas a transmissão oral do que vivenciaram, mas a 
transmissão oral de histórias de outros autores e impressos. Suas performances, hoje, 
deixam de ser narrativas de experiências por eles vivenciadas; e dos contadores de 
histórias hoje é exigido o domínio de outras técnicas para que possam (re) contar as 
histórias narradas por outros, algumas impressas, outras disponíveis em espaços da Web 
(RAMOS, 2011). 
No Brasil, por volta dos anos 80, bibliotecários e estudantes da área de 
Educação, desenvolveram um projeto, intitulado “Hora do conto” tendo por objetivo 
aproximar o aluno do livro. Entre as decorrências da execução desse projeto registra-se 
o surgimento de professores-contadores que, em sua sala de aula, ou até mesmo na
biblioteca da escola, exerciam a contação, com o intuito de desenvolverem o gosto pela 
leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita (RAMOS, 2011). 
Nos anos 90, surgiram novas experiências no campo das práticas orais, em 
especial, relacionadas à arte de contar. Vários projetos relevantes foram e vêm sendo 
desenvolvidos, oportunizando cursos de formação e congressos voltados para esta arte. 
Existem muitas estratégias, individuais e coletivas, no trabalho com a literatura, no 
entanto, o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam a participação, o 
movimento, a música, o riso o lúdico e a atribuição de novos sentidos, evitando-se que 
textos literários sejam usados como instrumentos para introduzir exercícios (cansativos 
e mecânicos) ou mesmo como moralizadores (RAMOS, 2011). 
2) O CONTADOR 
Arte de contar história é aquela que comove, emociona, promove a 
sensibilidade. Os contos são verdadeiras obras de arte, pois pertencem ao patrimônio 
cultural de toda a humanidade e representam a visão do mundo, as relações entre o 
homem e a natureza sob as formas estéticas mais acabadas; aquelas que provocam 
precisamente o maravilhoso (GARCIA, 2012). 
"Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido 
com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o 
uso simples e harmônico da voz" (ABRAMOVICH, 1989). 
Como toda arte, a de contar histórias também possui segredos e técnicas. E tem 
como matéria-prima a palavra, prerrogativa das criaturas humanas, e que depende, 
naturalmente, de certa tendência inata, mas pode ser desenvolvida, desde que se goste e 
se reconheça a importância da história. (GARCIA, 2012). 
Em meados do século XX, pós Revolução Industrial, surge nos países 
industrializados da América, e também na França, uma nova figura de contadores que 
podemos chamá-los de contadores urbanos ou até mesmo contemporâneos, os quais 
fizeram ressurgir a prática do (re)conto. Com um novo perfil do contador que difere dos 
contadores tradicionais, porque, lidam com uma matéria oral secundária, ou seja, com a 
escrita, enquanto os tradicionais usavam a linguagem oral primária. Proferem,
frequentemente, palavras a partir das registradas nas produções da literatura, arquivadas 
nas bibliotecas por décadas. Esses contadores, raramente, utilizam em seu repertório 
narrativas orais primárias, ou seja, aquelas utilizadas pelos contadores tradicionais. 
Portanto, parece correto afirmar que o surgimento desses novos contadores e o 
ressurgimento do reconto ocorreram no interior de espaços, quase que sagrados, da 
escrita, isto é, nas bibliotecas. A possibilidade decorreu da cultura escrita que passou a 
resgatar a riqueza das culturas orais (RAMOS, 2011). 
Coentro (2008) destaca algumas das diferenças entre os contadores tradicionais e 
esses novos contadores. Menciona, entre outras, as relativas ao grau de escolaridade, à 
forma como entram em contato com a história, aos locais onde realizam sua 
performance e ao público alvo de cada tipo de contadores. Apesar de estes novos 
contadores terem buscado uma aproximação e/ou um resgate dos contadores 
tradicionais, este resgate está estritamente relacionado à memória e desempenho. 
Segundo Patrini, 2005 a contacção é caracterizada como uma arte testemunhal. 
O contador pode ser uma testemunha de algo que esta por acontecer relatando os fatos 
de maneira propria e pessoal. 
“O contador é uma testemunha para 
mim de algo que vai acontecer. 
É um jogo que é preciso aceitar. 
Aceitar, nos deixar levar pela 
mentira. A arte do contador consiste 
antes de tudo em produzir uma 
versão pessoal dos fatos que ele 
conta, e uma arte testemunhal. 
(PATRINI, 2005, p. 75). 
Hoje em dia os contadores de história devem estar prontos para enfrentar 
diversas situações, adaptando-se às mudanças radicais que o mundo apresenta. 
Mudanças não só na maneira de pensar, mas nos modos pelos quais o mundo é 
percebido. Presente numa modernidade radicalizada, a arte de narrar sofre os efeitos 
dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade. Para complementar a 
caracterização desse novo contador, apresentamos a palavra de Matéo:
É alguém que atua na prática da 
narração, o que não significa atuar 
especialmente em uma prática 
artística que supõe forçosamente a 
representação. O contador pode se 
adaptar a diferentes espaços, 
diferentes atividades, diferentes 
experiências para recontar uma 
história (MATÉO, apud PATRINI, 
2005, p.76). 
Além disso, o contador de histórias deve ser um leitor assíduo, ou seja, não basta 
somente ler a história. A contação de histórias é mais que isso, é transformar para o 
mágico o que na escrita talvez seja monótono, é saber levar o espectador ao plano do 
imaginário e trazê-la novamente para o mundo real. Por isso, para que essa associação 
de fatores seja feita, o contador, antes de tudo, deve ser um bom leitor. 
Uma vez que o contador é um leitor assíduo, tem amplo conhecimento do acervo 
da Literatura e pode testemunhar o seu amor pelo livro, ele estabelece com sua clientela 
laços estreitos com a leitura e busca novos recursos para que o ato de contar histórias e 
o de escutar, ser ouvinte da narrativa contada, se torne interessante. Ao receber esses 
estímulos positivos de leitura desde cedo, a criança já estará dando início a sua 
formação como leitor, que perpassará por toda a sua vida, ajudando-a a compreender 
melhor o mundo. 
Objetivando estimular a leitura e buscando qualificar a formação da criança 
enquanto leitor, o contador de histórias deve saber como desenvolver a contação de 
histórias de maneira a fazer com que as crianças possam descobrir palavras novas 
ampliando seu vocabulário, deparar-se com os vários tons e alterações de voz que há 
durante a prática. E, para isso, quem conta tem que criar o clima de envolvimento, de 
encanto... saber dar as pausas, o tempo para o imaginário da criança construir seu 
cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua floresta, 
vestir a princesa com a roupa que está inventando, pensar na cara do rei e tantas coisas 
mais. 
Os momentos de suspense e emoção são importantes para o sucesso da história 
contada. O contador de histórias deve deixar que as crianças imaginem a história 
partindo do seu mundo de fantasias e encantamentos, fazendo com que ela interaja mais
de perto com o enredo e se interesse mais por ele. Para que isso aconteça, é preciso que 
haja muita pesquisa por parte do contador, em que se busquem novos recursos, leituras 
para conhecer melhor a arte de contar histórias e descobrir o que a criança vai gostar de 
ouvir e de ver durante a prática de contação de histórias. 
3) COMO CONTAR E POR QUE CONTAR HISTÓRIAS 
O processo de estímulo e incentivo para se contar uma história são inúmeros, 
mas sua eficácia depende de como o contador os utilizará. Não há “fórmulas mágicas” 
que substituam o entusiasmo do contador. 
Quem aspira ser um bom contador de histórias, deve desenvolver alguns passos 
importantes em seus preparativos: 
1) a história a ser contada e apresentada deve estar bem memorizada. Por isso, é 
imprescindível ler a história várias vezes e estar bem familiarizado com cada parágrafo 
do livro, para não perder “o fio da meada” e ficar procurando algum tópico durante a 
apresentação; 
2) destacar e sublinhar os tópicos mais importantes, interessantes e 
significativos, para que na apresentação recebam a devida valorização; 
3) procurar vivenciar a história. Envolver-se com ela, fazer parte dela e sentir a 
emoção dos personagens e ao apresenta-la atrair os ouvintes para a magia da história; 
4) ao apresentar a história, falar com naturalidade e dar destaque aos tópicos 
mais importantes com gestos e variações de voz, de acordo com cada personagem e 
cada nova situação. No entanto, é preciso cuidar para não exagerar nos gestos ou nas 
entonações de voz; 
5) oferecer espaço aos ouvintes que querem interferir na história e participar 
dela. Quem se sente tocado em seu imaginário sente necessidade de participar 
ativamente no desenrolar da história. O importante é que nessa hora não haja pressa, 
contando ou lendo tudo de uma só vez. É preciso respeitar as pausas, perguntas e 
comentários naturais que a história possa despertar, tanto em quem lê quanto em quem 
ouve. É o tempo dos porquês; 
6) toda história e toda dramatização devem ser apresentadas com entusiasmo e 
paixão. Sempre devem transparecer a alegria e o prazer que elas provocam. Sem esses
componentes, os ouvintes não são atingidos e logo perdem o interesse pelo que está 
sendo apresentado. 
Segundo Abramovich (1993), “o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o 
musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o 
escrever, o querer ouvir de novo. Afinal, tudo pode nascer dum texto!” A criança, ao 
ouvir histórias, vive todas essas emoções. Afinal, escutar histórias é o início, o ponto-chave 
para tornar-se um leitor, um inventor, um criador. 
Por que contar histórias? 
As histórias formam o gosto pela leitura: quando a criança aprende a gostar de 
ouvir histórias contadas ou lidas, ela adquire o impulso inicial que mais tarde a atrairá 
para a leitura. 
As histórias são um poderoso recurso de estimulação do desenvolvimento 
psicológico e moral que pode ser utilizado como recurso auxiliar da manutenção da 
saúde mental do indivíduo em crescimento. 
As histórias instruem – ao enriquecer o vocabulário infantil, amplia seu mundo 
de ideias e conhecimentos e desenvolve a linguagem e o pensamento. 
As histórias educam e estimulam o desenvolvimento da atenção, da imaginação, 
observação, memória, reflexão e linguagem. 
As histórias cultivam a sensibilidade, e isso significa educar o espírito. A 
literatura e os contos de fadas dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e 
comunicação e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver 
ainda mais o seu caráter. 
As histórias facilitam a adaptação da criança ao meio ambiente, pela 
incorporação de valores sociais e morais que ela capta da vida de seus personagens. 
As histórias recreiam, distraem, descarregam as tensões, aliviam as sobrecargas 
emocionais e auxiliam, muitas vezes, a resolver conflitos emocionais próprios. 
Exemplo: por alguma razão, uma criança é repreendida pela mãe. Não podendo reagir 
diretamente à “agressão”, identificará a “agressora” na pessoa má do conto. A história
funcionará, dessa forma, como antídoto na solução de seus problemas infantis. Será um 
fator importante na procura do equilíbrio emocional. 
4) QUE HISTÓRIAS CONTAR E PARA QUEM CONTAR? 
O sucesso de uma narrativa depende de vários fatores que se interligam, sendo 
fundamental a elaboração de um planejamento, no sentido de organizar o desempenho 
do narrador, garantindo-lhe segurança e assegurando-lhe naturalidade. 
O primeiro passo, segundo Celso Sisto (2001) consiste em escolher o que contar, 
a quem, onde e quando iremos contar. A escolha é algo pessoal. O contador precisa 
sentir a história, ser capaz de emocionar-se e emocionar os outros. 
Dentre os vários indicadores que nos orientam na seleção da história destaca-se 
o conhecimento dos interesses predominantes em cada faixa etária dos ouvintes, mas 
que isso não impeça o contador de narrar histórias mais elaboradas, principalmente se 
conhecer bem o público para o qual vai atuar. A qualidade literária da história é outro 
fator que determina uma boa contação de histórias. 
Portanto, ao se fazer a seleção das histórias, é preciso saber se o assunto contém 
riqueza de imaginação, se é interessante e do agrado Do público alvo. Os recursos 
onomatopaicos e as repetições contribuem para tornar a história mais apreciada, além de 
fortalecer as expressões. A linguagem deve ser simples, correta, de bom gosto. 
Uma vez escolhida a história a ser contada, passa-se a estudá-la. Isso não 
significa que ela deva ser decorada textualmente. Estudar uma história é, em primeiro 
lugar, divertir-se com ela, captar a sua essência e, em seguida, após algumas leituras, 
identificar os elementos constituintes de sua estrutura: introdução, enredo, clímax, 
desfecho. 
Estudar uma história é também inventar as músicas ou adaptar a letra às músicas 
conhecidas, conforme sugestão do texto, que são introduzidas no decorrer do enredo ou 
no final. Estudar a história é, ainda, escolher a melhor forma ou suporte mais adequado 
de apresentá-la. Os suportes mais utilizados são: a simples narrativa, a narrativa com o 
auxílio de gravuras, de desenhos, de recursos audiovisuais, de objetos variados, e a 
narrativa com interferências do narrador e ouvintes. 
E na hora de contar histórias é preciso adotar algumas posturas recomendadas 
por Celso Sisto (2001), tais como:
•· "Olhar para a plateia”; 
•· Distribuir o olhar igualmente por toda a audiência; 
•· Linguagem de acordo com a plateia; 
•· Linguagem fluida; 
•· Não denunciar o erro: troca de palavras, troca de episódios e fatos; 
esquecimento de algo ou da sequência da história; 
•· Visualizar a história enquanto narra; criar um roteiro visual e verbal, por 
episódio, na sequência da história; 
•· Usar gestos expressivos, que acrescentem algo ao entendimento da história; 
•· Movimentar-se só quando a história ‘exigir'; 
•· Não explicar a história; o texto deve falar por si mesmo; 
•· Preparar a história antes; ensaiar sempre; 
•· Não prender qualquer parte do corpo enquanto está contando, tipo mãos no 
bolso, braços cruzados (na frente ou atrás); 
•· Evitar movimentos repetitivos; 
•· Que o tom de contar seja diferente do tom de bater-papo; 
•· Projetar a voz em direção ao espaço; 
•· Usar diversos ritmos no decorrer da narração; 
•· Acreditar na história que está sendo contada; 
•· Usar pausas durante a história, explorar o silêncio, o movimento sem palavras; 
•· Dar à apresentação um tratamento de espetáculo" 
. 
Novidade é sempre algo que quebra a rotina, cria novas expectativas e possibilita 
experiências novas. Inovar a prática pedagógica com constante leitura e contação de 
histórias, é o desafio que deveria impulsionar o professor no seu fazer cotidiano. 
Mais do que isso, o docente leitor e contador de histórias tornou-se obrigatório 
na promoção da leitura e no resgate da fantasia e do lúdico! 
Variabilidade nos repertórios evidenciada pelas incongruências no uso da 
linguagem e pelo fato de as pessoas construírem diferentes versões sobre um 
acontecimento, as quais permitem fazer novas leituras. A variação é uma consequência 
da grande quantidade de atos que podem ser performatizados por um mesmo ator 
enquanto fala. Analisar os discursos sob o ponto de vista da variabilidade significa 
apontar as similaridades e as exceções, as consistências e inconsistências, incluindo as 
negações que podem sinalizar o encobrimento de condutas “politicamente incorretas”.
Além disso, faz parte do estudo da variabilidade, a identificação dos acentos, das 
entonações, dos silêncios, das lacunas, das interrupções, ou seja, todos os aspectos 
relacionados à modulação e construção de elocuções durante o diálogo. Incluir a 
variabilidade em uma análise significa respeitar a polissemia dos discursos, ao invés de 
homogeneizá- los ou reduzi-los (MENEGUEL,2007). 
Que história contar? Sugestões por faixa etária 
Pré-escolares: até 3 anos 
Histórias de bichos. 
Contos rítmicos que sejam leves, lúdicos, bem humorados e curtos. 
Cantigas de ninar. 
Fase pré-mágica: de 3 a 6 anos 
Histórias de bichos. 
Pequenos contos de fadas com enredo simples e poucas personagens. 
Poemas simples. 
Trava-línguas. 
Parlendas. 
Cantigas de rodas. 
Fase escolar: 7 anos 
Histórias de crianças, animais e encantamentos. 
Contos de fadas mais elaborados. 
Aventuras no ambiente próximo: família e comunidade. 
Fase escolar: 8 anos 
Histórias humorísticas. 
Contos de fadas mais elaborados. 
Lendas folclóricas. 
Fase escolar: 9 anos 
Mitos. 
Contos de fadas mais elaborados. 
Antigo testamento como mito. 
Histórias verídicas. 
Histórias de humor. 
Fase escolar: 10 anos 
Mitos. 
Mitologia nórdica. 
Narrativas de viagens.
Histórias verídicas. 
Fase escolar: 11 anos 
Mitos (hindus, persas, árabes, egípcios). 
Narrativas de viagens. 
Histórias verídicas. 
Mitos de heróis. 
Fase escolar: 12 anos em diante 
Narrativas de viagens 
Histórias verídicas 
Biografias e romances 
5) RECURSOS E MATERIAIS PARA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS 
Para tornar a narrativa mais atraente é interessante valer-se de diversos recursos, 
explorando bastante a criatividade. Esses recursos auxiliam na contação, uma vez que os 
personagens tornam-se, de certa forma reais, chamando a atenção do público que está 
envolvido com a história e estimulando a sua imaginação. 
Para tanto, é necessário que o contador observe as características do público para 
o qual ele contará a história, facilitando assim a escolha da mesma e os recursos a serem 
utilizados. 
Além dos recursos matérias, os gestos, as vozes e as roupas também são grandes 
aliados na contação de histórias, enriquecendo de modo significativo a narrativa. 
Segundo OTTE, 2003, é recomendável ser bastante criativo no uso de recursos 
materiais. Não se prender a certos padrões, mas variar de acordo com o conteúdo da 
história a ser contada ou apresentada: 
1) o velho flanelógrafo (quadro revestido de flanela ou feltro de cor lisa, sobre o 
qual se fazem aderir objetos ou figuras, fixadas ou removidas segundo as necessidades 
do ensino) pode ser uma boa opção para ilustrar uma história com vários assuntos e 
vários simbolismos; 
2) transparências, preferencialmente confeccionadas pelas crianças, podem ser 
outro recurso que desperta interesse e ajuda a fixar a história; 
3) slides com figuras da história que está sendo contada, projetados na parede, 
prendem a atenção das crianças e despertam as fantasias; 
4) para pequenas encenações e dramatizações, fantoches e bichos de pelúcia são 
bons recursos;
5) a massa de modelar pode ser usada pelas pessoas para confeccionar figuras da 
história que acabaram de ouvir, com isso recapitulam e fixam a história; 
6) materiais colhidos na natureza e trazidos pelas pessoas para ilustrar certos 
contos de fadas, por exemplo, prendem a atenção e valorizam a sua participação; 
7) mudar de ambiente para contar a história da cidade: levar as pessoas ao 
museu, a um cemitério com antigas sepulturas e convidar uma pessoa idosa para falar 
do passado. Nesse sentido se oferecem muitas possibilidades que devem ser exploradas. 
8) com livro: leitura dinâmica, dramatizada, com as ilustrações do livro. 
9) Com gravuras: varal, livro ampliado. 
10) Com desenhos: desenhar as personagens enquanto vai contando a história. 
6) ATIVIDADES ARTÍSTICAS E TECNOLOGIAS DECORRENTES DA 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: 
De um modo geral, tecnologia refere-se a uma técnica, artefato ou alternativa 
desenvolvida pelo homem, para facilitar a realização de um trabalho ou criação1. Tanto 
na educação quanto na saúde, os educadores devem compreender as tecnologias como 
meios facilitadores dos processos de construção do conhecimento, numa perspectiva 
criativa, transformadora e crítica (MARTINS, 2011). 
Tecnologias são saberes imprescindíveis para o desenvolvimento do trabalho em 
saúde. Na prática educativa em saúde, a tecnologia deve ser utilizada de modo a 
favorecer a participação dos sujeitos no processo educativo, contribuindo para a 
construção da cidadania e o aumento da autonomia dos envolvidos. Sendo assim, devem 
explorar recursos que vão ao encontro dos significados culturais reconhecidos e 
valorizados no contexto dos usuários e da comunidade, por isso cada vez mais são 
realizadas, na prática educativa, atividades lúdicas, como teatro, música, jogos, entre 
outras manifestações artísticas e culturais (MARTINS,2011). 
Após a contação, é sempre importante realizar um trabalho em que os 
participantes se envolvam e relembrem o que foi contado. Nessa hora, é preciso 
considerar a faixa etária de cada grupo, o que vai guiar você a realizar diferentes tipos 
de atividades. Abaixo, algumas que podem ser aplicadas, modificadas e expandidas 
conforme o seu caso: Dobraduras dos personagens; Desenhos das personagens que mais 
gostou; Construção com sucatas; Música sobre a história; Fantoches diversos; Bonecos
com papel machê; Construção de livrinhos; Dramatizações; Fantasias; Painéis entre 
outros especificados abaixo: 
PRODUÇÃO E CRIAÇÃO DE MÁSCARAS: O teatro de máscaras promove à 
recreação, o jogo, a socialização, melhoria na fala da criança, desinibição dos alunos 
mais tímidos. Quando o trabalho exigir o uso da palavra, a máscara que deve ser 
utilizada é aquela que cobre os olhos e o nariz deixando a boca livre, permitindo que a 
voz saia clara, exibindo a sua expressão verbal. Representando com o rosto oculto, as 
pessoas se permitem viver o enredo dos próprios personagens e o cotidiano social a que 
pertencem (HELBINHA, 2012). 
O trabalho com máscaras se dá de maneira livre, cada participante cria sua 
máscara, escreve sobre ela, dá-lhe um nome, junta com as máscaras dos colegas e forma 
uma história a partir de um tema proposto, representa-a através das máscaras (teatro de 
fantoches) e conta como foi a experiência de confeccionar a máscara, dar-lhe um nome 
e inseri-la em uma história (HELBINHA, 2012). 
TEATRO DE SOMBRAS: O teatro de sombras, também conhecido como Oricom 
Shohatsu, é uma arte muito antiga de contar histórias e de entretenimento que usa 
figuras articuladas chatas (bonecos de sombra) para criar imagens mantidas entre uma 
fonte de luz e uma tela translúcida ou tecido. As imagens produzidas pelos bonecos 
podem ter diversas cores e outros tipos de detalhes. Muitos efeitos podem ser 
alcançados através da movimentação tanto dos bonecos quanto da fonte de luz. Um 
marionetista talentoso pode fazer as figuras parecerem andar, dançar, lutar, acenar com 
a cabeça e rir. O teatro de sombras é popular em várias culturas; atualmente essa arte é 
praticada por grupos de mais de 20 países. O teatro das sombras é uma velha tradição e 
tem uma longa história no Sudeste da Ásia; especialmente na Indonésia, Malásia, 
Tailândia e Camboja. É também considerada uma arte antiga em outras partes da Ásia 
como na China, Índia e Nepal. É também conhecida no Ocidente, da Turquia, Grécia até 
a França. É uma forma popular de entretenimento tanto para crianças quanto para 
adultos em muitos países ao redor do mundo (BEZERRA, 2012).
LITERATURA DE CORDEL: A literatura de cordel, como poesia popular, é uma das 
mais importantes expressões culturais da população nordestina, está presente nas feiras 
livres, praças e eventos populares. Esse singular meio de comunicação de massa, 
surgido na Península Ibérica, foi trazido para o Nordeste do Brasil pelo colonizador 
europeu, desenvolvendo-se no Ceará, especialmente na cidade de Juazeiro do Norte. 
São folhetos populares, escritos e impressos com ilustrações nas capas; eram 
dependurados em barbantes para venda em locais públicos, daí a sua denominação. 
Desde que surgiram os primeiros folhetos impressos, no último quartel do século XIX, a 
literatura de cordel tem sido uma poderosa ferramenta de alfabetização e incentivo à 
leitura para as populações carentes do Nordeste (MARTINS, 2011). 
A utilização da literatura de cordel na prática educativa em saúde vem 
despertando a atenção de profissionais de saúde, especialmente no Ceará. Um estudo 
sobre o uso da literatura de cordel como meio de promoção do aleitamento materno 
descobriu nessa literatura popular um importante meio de comunicação, pois seu custo é 
mínimo, sua linguagem é acessível e sua mensagem é facilmente compreendida pela 
população. É possível, portanto, que os profissionais de saúde possam aplicar o cordel, 
como ferramenta alternativa de comunicação, transmitindo as mensagens de promoção 
da saúde de modo lúdico (MARTINS, 2011). 
CIBERCULTURA: Segundo Cacciolari, 2009, hoje, poucas famílias conservam o 
antigo hábito de contar histórias para as crianças à hora de dormir, ficando esta tarefa 
para a televisão, e para o computador e para os games a função de provocar a 
imaginação infantil. Embora o papel da televisão se depare com alguma polêmica, 
algumas vezes esse instrumento pode ser bem aproveitado como coadjuvante na 
formação de leitores. O ensino de linguagem audiovisual na escola, acompanhado da 
disciplina de filosofia, faria com que as crianças desenvolvessem a capacidade de 
abstração, ao mesmo tempo em que seriam alfabetizadas nas letras e nas imagens, 
passando, com o tempo, a entender seus códigos, sua grafia, escrever e raciocinar com 
elas, inter-relacionando-as. O grande problema da televisão é que desde o momento em 
que a criança está diante da tela, não percebe mais o texto enquanto texto, mas como 
imagem, e não promove a interação entre a imagem e a leitura de mundo. 
As perspectivas para criação de roteiros em ambientes virtuais e o futuro da 
narrativa no ciberespaço são temas levantados por Janet Murray (2003), em seu livro 
Hamlet on the Holodeck. Para Murray, estamos vivendo o inicio de uma nova cultura, a
cibercultura, proporcionada por computadores e videogames de avançada tecnologia 
capazes de proporcionar ambientes virtuais imersivos e sofisticados processos de 
interação. 
As novas variedades de entretenimento digital, que vão dos videogames ao 
hipertexto, representam novos formatos para o roteiro ficcional. O meio comercialmente 
mais bem sucedido corresponde aos jogos eletrônicos, que estão em constante evolução 
tecnológica e com cada vez mais ênfase na estória. Apesar dessa evolução os jogos de 
ação ainda têm que desenvolver mais suas estórias, sendo que sua estrutura de labirintos 
e níveis nos submete apenas a violência dos tiros e ataques, sem vivenciarmos as 
situações de conflitos e os momentos de clímax da narrativa, que aumentariam o 
envolvimento do jogador durante a partida. Outros gêneros, como os jogos de enigma, 
no entanto, tem uma concepção diferenciada dos jogos de ação, e utilizam recursos 
avançados de gráficos e som para criar cenas e ambientes com grande poder de 
imersibilidade. O engajamento mais lento na estória e as revelações de alto poder 
dramático que permitem a solução dos enigmas tornam as narrativas desses jogos mais 
ricas e complexas. Neste sentido, a popularização da internet proporcionou o 
crescimento da ficção baseada em hipertexto (CACCIOLARI, 2012). 
O hipertexto tem possibilitado a escritores novas experimentações com 
segmentação, justaposição e conectividade: as estórias possuem geralmente mais que 
um ponto de entrada, muitas bifurcações internas e um final não muito claro. 
Para conseguir prender a atenção do usuário, os autores escrevem e expandem 
suas histórias, incluindo múltiplas possibilidades para quem está agindo poder assumir 
um papel mais ativo. 
As narrativas tradicionais, no entanto, têm se aproximado cada vez mais do 
computador, e os cientistas da computação se movem para domínios que antes eram 
restritos aos artistas criativos. A estrutura digital traz com ela muitas possibilidades para 
a narrativa. Cabe aos ciberdramaturgos explorar essas possibilidades sem sobrecarregar 
o participante, e procurar soluções para a disposição da ação dramática de maneira a 
sustentar o fluxo da estória, sem interromper o sonho ficcional que se cria na 
imaginação do público (CACCIOLARI, 2012).
Ao abordarmos a questão da contação de histórias no século XXI, é importante 
entender como se relacionam palavra e imagem nas diversas mídias e o que representa a 
imagem, como linguagem, atualmente. 
Informações não devem ser simplesmente ditas, mas mostradas dramaticamente 
como as causas da história. A exposição não é necessariamente colocada em um bloco 
só no início da narrativa, podendo ser introduzida no contexto conforme a ação exigir, 
sem interferir na fluência da história. 
A cultura contemporânea é sobretudo visual. Videogames, videoclipes, cinema, 
telenovela, propaganda e histórias em quadrinhos são técnicas de comunicação e de 
transmissão de cultura cuja força retórica reside sobretudo na imagem, tal o impacto de 
significação dos recursos imagéticos. Tomando por exemplo, as narrativas visuais do 
cinema ou da telenovela, produtos culturais a que (quase) todos têm acesso e que 
competem diretamente com as narrativas literárias no gosto do público consumidor de 
cultura; o que se capta, em primeiro lugar, é um contexto demonstrativo em vez de um 
contexto verbal: percebe-se pela vestimenta, caracterização e comportamento das 
personagens, pelo lugar onde estão, por seus gestos e expressões faciais, se se trata de 
drama ou comédia, em que época se desenvolve o enredo, enfim, de que modo o 
espectador está sendo convidado a fruir aquele conjunto de significados visuais 
componentes de uma trama. Cada cena comporta um peso visual e auditivo, este dado 
pela trilha sonora, que se comunica imediatamente, sem necessidade de palavras. A 
imagem tem, portanto, seus próprios códigos de interação com o espectador, diversos 
daqueles que a palavra escrita estabelece com o seu leitor. Como as histórias 
reproduzidas em vídeos e DVDs, muito comuns nos desenhos da Disney, nos programas 
da TV Cultura, com contação de histórias, na TV Globo, com as histórias de Monteiro 
Lobato, no Sítio do Picapau Amarelo, que reproduz muito bem a narração oral. 
O cinema (filmes) e o teatro também são representativos contribuintes para o 
ensino de literaturas e contação de histórias, no que se refere ao estímulo e motivação. 
Muitos filmes de desenhos animados começam sempre com o eterno ... “Era uma vez...” 
O filme traz uma nova visão sobre os contos de fadas, em que o herói não se 
sobressai pela beleza e imponência, mas pelo caráter e virtudes. Ao invés do belo 
Príncipe e da linda Princesa, a história incrementa nas almas o senso de contradição 
entre o bem e o mal, mostrando que o hediondo e o horror não são características da 
aparência apenas. Em Shrek, a felicidade alcançável é a que resulta da prática da 
virtude, da perseverança nas vias do bem. Nas histórias de contos de fadas do século
XXI, o sapo já não precisa voltar a ser príncipe. Por isso o ogro, antes monstruoso, 
torna-se figura tão amada das crianças, sem precisar ser transformado em sua aparência. 
Assim, os recursos midiáticos podem contribuir muito para o ensino de 
literatura. Quanto maior o contato com a linguagem, na diversidade textual, mais 
possibilidades se tem de entender o texto como material verbal carregado de intenções e 
de visões de mundo. Diante do exposto, pode-se entender que as práticas da linguagem, 
como fenômeno de uma interlocução viva, perpassam todas as áreas do agir humano, 
potencializando, a perspectiva interdisciplinar (CACCIOLARI, 2012). 
7) A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO RECURSO NA ÁREA DA 
SAÚDE: 
1) Associação Viva e Deixe Viver – Porto Alegre (RS)- Doutorzinhos: 
Fonte: http://www.vivaedeixeviver.org.br 
A Associação Viva e Deixe Viver é uma OSCIP – Organização da Sociedade 
Civil de Interesse Público, que treina e capacita voluntários para se tornarem contadores 
de histórias em hospitais para crianças e adolescentes internados em oito mercados do 
país. 
Os principais recursos da Associação Viva e Deixe Viver atualmente são a 
leitura de obras infantis, as brincadeiras, a criatividade e o bom humor de seus 
voluntários. 
Através de atividades culturais que estimulam o desenvolvimento das aptidões 
dessas crianças, a Associação contribui para a humanização dos serviços a elas
destinados, integrando no seu cotidiano as condições sensíveis de comunicação e 
interação com a realidade externa. 
Para realizar seu objetivo, a Associação Viva e Deixe Viver recebe como doação pelo 
menos duas horas semanais de seus voluntários que contam ou fazem histórias. Sim, 
porque para existir o contador de histórias é necessário que existam aqueles que dão 
suporte, divulgando, treinando, auxiliando e desenvolvendo nossa Associação. 
Em 2004, a Associação Viva e Deixe Viver iniciou suas atividades em Porto 
Alegre. Hoje, atua no Hospital da Criança Santo Antônio e no Hospital da Criança 
Conceição. O resultado desse trabalho tem sido valorizado por toda equipe médica, 
pelas crianças hospitalizadas e seus acompanhantes. No Rio Grande do Sul, o Viva e 
Deixe Viver tem uma parceria com a ONG Doutorzinhos. 
2) Programa de Extensão Contação de Histórias em Ambiente Hospitalar – 
UFCSPA: 
Fonte: http://www.ufcspa.edu.br/ 
O projeto “Contação de histórias em ambiente hospitalar: a capacitação do 
profissional da saúde”, uma interação entre as áreas da Literatura e da Saúde, tem como 
princípio a formação diferenciada do profissional, uma vez que o habilita com uma 
ferramenta inovadora: a de saber técnicas de conforto aos pacientes através do contato 
estabelecido pela literatura. Sabe-se que a relação de confiança entre profissional e 
paciente é a chave para a busca da saúde, e a literatura é uma das formas pelas quais 
isso é possível. O projeto tem dois objetivos: contribuir para uma formação mais 
humanizada do profissional da saúde no trato com o paciente; e, para o internado, busca 
amenizar a situação de isolamento social em que se encontra.
Em atividade desde 2009, o Programa Contação de Histórias da UFCSPA 
objetiva a promoção da saúde pela formação diferenciada e contínua no âmbito da saúde 
para estudantes da UFCSPA, estudantes da saúde de outras IES, profissionais das 
Equipes de Saúde da Família localizadas no Distrito Docente Assistencial e 
profissionais de saúde atuantes no ambiente hospitalar, propiciando o desenvolvimento 
de habilidades para o atendimento humanizado a partir da técnica da contação de 
histórias literárias. 
O Programa possui 5 ações, a saber: 
a) disciplina eletiva para acadêmicos da UFCSPA; 
b) curso de formação de contadores para acadêmicos de outras IES; 
c) curso de formação de contadores para profissionais atuantes no Programa Saúde da 
Família nas unidades do DDA da UFCSPA e profissionais formados atuantes no 
ambiente hospitalar; 
d) Projeto Poesia na Enfermaria; e 
e) Curso de Formação de Voluntários in company SESC/UFCSPA. 
Em cinco anos, o programa já atendeu mais de 1.500 pacientes e realizou 3.000 horas de 
contação no ambiente hospitalar, com a presença de mais de 300 participantes e os 
cursos são oferecidos também para a comunidade externa. 
3) CATAVENTUS – ação de integração social e cultural: 
Fonte: http://www.cataventus.org.br/
A CATAVENTUS – AÇÃO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL E CULTURAL é 
uma associação civil sem fins lucrativos, constituída por educadores de formações e 
experiências profissionais diversas, que utiliza a contação de histórias como instrumento 
de inclusão social. 
Em meados de abril de 1999, iniciou-se a primeira ação desenvolvida por 
pessoas que, atualmente, fazem parte da Coordenação da CATAVENTUS, o Projeto 
“Conte Outra Vez...”. O primeiro grupo atendido pelo projeto foram os meninos do 
Albergue João Paulo II, abrigo para crianças e adolescentes recebidos por 
encaminhamento dos conselhos tutelares ou do Juizado da Infância e da Juventude. 
Inicialmente, com atividades lúdicas foram sendo desenvolvidas as responsabilidades de 
dinâmicas em grupos e criatividade, aumentando sua autoestima. 
Na sequência, foi inserida a contação de histórias, os meninos montaram 
histórias usando filmes para as TVs de madeira, álbuns seriados, varais, cartazes, 
ficando cada vez mais animados. Resultado: trabalhando uma vez por semana, à noite, e 
só por duas horas, eles conseguiriam estar na Feira do Livro no mês de novembro, sete 
meses após o início do trabalho. Foram feitas apresentações em escolas públicas e 
particulares, onde os meninos passaram a ser artistas, dando até autógrafos e entrevistas 
para os jornais dos colégios. Eles participaram de algumas edições da Feira do Livro, do 
FORUMzinho Social Mundial, de cursos de extensão na UFRGS e na ULBRA, e de 
eventos variados, como por exemplo as feiras do livro das escolas. 
Em 2003, durante o II FORUMzinho Social Mundial, os mesmo grupo de 
voluntários organizou o I Encontro Internacional de Contadores de História, para o qual 
vieram contadores de histórias de várias partes do mundo e de muitos estados do Brasil. 
Para fazer a abertura dos dois eventos – o FORUMzinho e o Encontro de Contadores – 
foi montada uma peça infantil – "Uma Viagem pelas Histórias" - que foi um sucesso, 
contando com um público de aproximadamente mil pessoas na abertura. Essa peça 
transformou-se em um dos projetos da CATAVENTUS. 
A missão da Cataventus é promover, nas áreas da EDUCAÇÃO e da 
ASSISTÊNCIA SOCIAL, o acesso e o incentivo à leitura e, especialmente, a inclusão 
social e cultural de crianças e jovens, preferencialmente aqueles em situação de 
vulnerabilidade social, bem como de Portadores de Necessidades Especiais e de 
integrantes da terceira idade, através da contação de histórias, de forma ética, 
socialmente responsável e sustentável. 
Projetos da Cataventus:
a) Projeto “Roda de Histórias” 
Objetivo: Promover o acesso e o interesse pela leitura. 
Público-alvo: Escolas públicas, privadas, hospitais e instituições de apoio a crianças e 
jovens, a Portadores de Necessidades Especiais e a idosos. 
Descrição: Projeto constituído por uma sequência de histórias, apresentadas em 45 
minutos, com diversos temas, e que pode ser adaptada à faixa etária e ao contexto do 
evento. 
b) Projeto “Conte Outra Vez...” 
Objetivo: despertar em pessoas em situação de vulnerabilidade social o interesse pela 
leitura. 
Público-alvo: Instituições de apoio a jovens em situação de risco social, e comunidades 
em geral. 
Descrição: Atividade formativa que visa a despertar em jovens e adultos em situação de 
vulnerabilidade social o interesse pela leitura, resgatando sua autoestima e formando um 
grupo de contadores de histórias. 
c) Projeto “Te Liga na História!” 
Objetivo: esclarecer, informar e auxiliar o público em áreas de prevenção por meio 
de histórias. 
Público-alvo: crianças, adolescentes ou adultos. 
Descrição: Contação de histórias sobre temas específicos, com o objetivo de 
informar e auxiliar o público em áreas de prevenção, tais como saúde bucal, higiene, 
alimentação, meio ambiente, reciclagem. As histórias para adolescentes são 
contadas em linguagem atraente, utilizando-se de uma identificação positiva com os 
personagens. 
d) Projeto “Uma Viagem pelas Histórias”
Objetivo: Popularizar a dramatização de contos atuais, lendas e fábulas. 
Público-alvo: Escolas de ensino fundamental, públicas e privadas, e comunidade. 
Descrição: Peça infantil de uma hora de duração, com vinte voluntários 
interpretando personagens de contos de fadas, lendas e fábulas. 
e) Projeto “AgitAção” 
Objetivo: Contribuir para a formação de uma nova e real consciência, que abranja a 
integridade ecológica, a justiça social, a valorização da educação e da saúde, e a 
defesa dos direitos de todos os seres vivos, facilitando ao homem interagir 
adequadamente com seu meio ambiente para a conservação da vida no planeta, 
incluindo a sua própria e a de seus semelhantes. 
Público-alvo: Alunos de escolas carentes e comunidade. 
Descrição: Projeto em parceria com outras instituições. Oficinas e atividades 
diversas (ex.: educação ambiental, saúde bucal, reciclagem) e contação de histórias 
nas escolas, atendendo a todas as faixas etárias, incluindo pais. 
f) Projeto: Juventude em Ação 
Objetivo: Promover a conscientização de adolescentes, estudantes de escolas 
pública, sobre temas como sexualidade, planejamento familiar, ética, valores, DSTs, 
drogadição, alcoolismo, conflitos sociais, entre outros, através de dinâmicas 
culturais que propiciarão o ambiente acolhedor á manifestação dos sentimentos e 
emoções e a resignificação da cidadania, através do reconhecimento do 
protagonismo dos jovens e de sua condição de agentes de mudanças sociais. 
Público-beneficiário: Jovens estudantes de 5ª a 8ª séries, ambos os sexos, de 08 
escolas públicas de Porto Alegre. 
Descrição: É desenvolvido de jovens para jovens, falando de forma divertida, mas 
seriamente, sobre temas que são importantes nessa fase, como sexualidade, 
planejamento familiar, ética, valores, DSTs, drogadição, alcoolismo, conflitos 
sociais, entre outros, tem um profundo significado e uma forte carga de cidadania, 
através de esquetes teatrais, debates e oficinas de música, expressão corporal,
dramatização, dinâmicas de improvisação, jogos de recreação e exercícios com 
simulação de deficiências vividas por jovens portadores de necessidades especiais. 
g) Projeto: Tem Educação na Contação 
Objetivo: Capacitar o público-beneficiário para o uso da contação de histórias como 
instrumento de promoção do hábito da leitura, da qualificação da educação e 
inclusão social. 
Público-beneficiário: Professores das redes públicas municipal e estadual do RS e 
lideranças comunitárias locais, de ambos os sexos, da capital e interior do estado do 
RS. 
Descrição: Através de oficinas de capacitação em contação de histórias e da criação 
de um grupo virtual de contadores de histórias este projeto visa contribuir a 
melhoria na qualidade da educação e na instrumentalização de educadores e 
lideranças comunitárias locais, que tem no seu dia-a-dia o grande desafio de 
promover a inclusão social e a cidadania através da educação formal e não-formal, 
que são portas de entrada para o conhecimento e fornecem condições para o 
desenvolvimento cultural dos indivíduos. 
h) Projeto “Pílula Mágica” 
Objetivo: Levar uma "pílula" lúdica para crianças hospitalizadas. 
Público-alvo: Pacientes de hospitais, espaços de saúde. 
Descrição: Contação de histórias em leitos, salas de recreação hospitalares, UTIs. 
i) Projeto “JardinAção” 
Objetivo: Conscientizar da responsabilidade com nosso planeta. 
Público-alvo: Comunidade em geral.
Descrição: Um evento em rede, com atividades múltiplas ao ar livre, em parceria 
com o Jardim Botânico. Este evento tem duas edições por ano, no aniversário de 
Porto Alegre em março e no aniversário do Jardim Botânico em setembro. 
j) Projeto “Forinho” 
Objetivo: Atender as crianças junto ao Fórum Social. 
Público-alvo: Com foco em crianças, adolescentes. 
Descrição: Atividades das mais diversas (contação de histórias, oficinas, teatro de 
bonecos, atrações artísticas entre outras) e com muitos parceiros durante 6 dias. 
4) CHALÉ DA CULTURA – GHC 
Fonte: www.ghc.com.br 
A coordenadora do grupo de Contação de Histórias do Grupo Hospitalar 
Conceição, Margareth Jackle, define a contação de histórias como uma troca de 
experiências, uma vez que essa iniciativa é desenvolvida por equipes da instituição, 
bem como por grupos independentes, que atuam em diversos hospitais e unidades de 
saúde de Porto Alegre. A atividade é uma proposta de atenção destinada às crianças 
em momentos que propõem a vivência do lúdico. 
Existe a importância de se estabelecer um vínculo com a infância dos pacientes 
internados no Hospital Criança Conceição (HCC), especialmente na UTI, pois o 
ambiente hospitalar acaba dificultando esse processo. A contação de histórias é 
capaz de promover e incentivar a imaginação dessas crianças, algumas delas 
internadas há anos, é fundamental para a recuperação.
Somos uma equipe que tem o propósito de unir a magia da contação de histórias 
com a magia da arte.... Contar histórias e levar as pessoas ao mundo da 
imaginação.... Fazer materiais de contação e levar pessoas ao mundo da fantasia.... 
Sair da vida cotidiana e ir para o sonho, tudo isto com a dose certa da realidade 
misturada a muito bom humor. 
5) PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA (PSE) 
O Programa Saúde na Escola (PSE), política intersetorial da Saúde e da 
Educação, foi instituído em 2007. As políticas de saúde e educação voltadas às 
crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira se unem para 
promover saúde e educação integral. 
A articulação intersetorial das redes públicas de saúde e de educação e das 
demais redes sociais para o desenvolvimento das ações do PSE implica mais do que 
ofertas de serviços num mesmo território, pois deve propiciar a sustentabilidade das 
ações a partir da conformação de redes de corresponsabilidade. Implica colocar em 
questão: como esses serviços estão se relacionando? Qual o padrão comunicacional 
estabelecido entre as diferentes equipes e serviços? Que modelos de atenção e de 
gestão estão sendo produzidos nesses serviços? 
A articulação entre Escola e Rede Básica de Saúde é à base do Programa Saúde 
na Escola. O PSE é uma estratégia de integração da saúde e educação para o 
desenvolvimento da cidadania e da qualificação das políticas públicas brasileiras. 
Sua sustentabilidade e qualidade dependem de todos nós! 
Este programa também cria possibilidades para a utilização da contação de 
histórias, especialmente pelas equipes de saúde da Atenção Básica.
CONCLUSÃO 
Contação de histórias é uma importante ferramenta no processo de saúde, 
educação e inclusão social, pois, além de contar com a criatividade, a oralidade e o 
pensamento do contador é possível ainda trabalhar com o mecanismo da construção da 
identidade do ouvinte que abre uma estrada para novos horizontes nas diversas 
disciplinas. 
O contador precisa sentir a história, ser capaz de emocionar e emocionar os 
outros, a narrativa deve ser mais atraente é importante valer-se de diversos recursos para 
prender a atenção dos ouvintes e conseguir passar todas as práticas para o 
desenvolvimento na ação de promoção e prevenção por meio de histórias, para 
esclarecer informar e auxiliar a conscientização de adolescentes, crianças, adultos e 
idosos. Enfim fornecer condições para o desenvolvimento cultural dos indivíduos.
REFERÊNCIAS: 
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5. Ed. São Paulo: 
Scipione; 2005. 
ASSOCIAÇÃO VIVA E DEIXE VIVER. Disponível em 
http://www.vivaedeixeviver.org.br . Acesso em 08 de dezembro de 2014. 
BEZERRA, Max Daniel. Teatro de Sombras e sua origem. Blog do professor Max. 
Disponível em http://maxdanielartes.blogspot.com.br/2012/10/generos-teatrais-teatro- 
de-sombras.html . Acesso em 08 de dez de 2014. 
CACCIOLARI, Neide Aparecida. A Importância da Contação de Histórias para o 
futuro da Leitura Literária no século XXI: Cibercultura, Literatura, Escola e Novas 
Tecnologias – Uma Ponte Necessária. Diálogo e Interação. volume 2 (2009) - ISSN 
2175-3687. Disponível em: http://www.faccrei.edu.br/dialogoeinteracao Acesso em 
01 de dez. 2014. 
CATAVENTUS. Ação de Integração Social e Cultural. Disponível em: 
http://www.cataventus.org.br Acesso em: 08 de dez. de 2014. 
COENTRO,V. S. A arte de contar histórias e letramento literário: caminhos 
possíveis. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Instituto de Estudos da 
Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2008. 196f. 
GARCIA, Silvia Craveiro Gusmão. Leitura e contação de Histórias. Um exercício 
imaginário. (2012). Disponível em: 
http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem15 
COLE_3642.pdf. Acesso em: 02/12/2014. 
HELBINHA. Contação de Histórias. Disponível em: 
http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Conta%C3%A7%C3%A3o-De- 
Hist%C3%B3ria/563406.html Acesso em 08 de dez. 2014.
MARTINS, A.K.L.; NUNES, J.M.; NÓBREGA, M.F.B.; PINHEIRO, P.N.C.; 
SOUZA, A.M.A.; VIEIRA, N.F.C. FERNANDES, A.F.C. Literatura de cordel: 
tecnologia de educação para saúde e enfermagem. Rev. Enferm. UERJ, Rio de 
Janeiro, abr/jun; v.19, n.2, p. 324-9, 2011. Disponível em: 
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MURRAY, Janet H. HAMLET NO HOLODECK - O futuro da narrativa no 
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OTTE, M.W e KOVÁCS, A. A magia de contar histórias. Instituto Catarinense de 
Pós-Graduação – www.icpg.com.br. Acesso em 02 de dez. 2014. 
PAGLIUCA, L.M.F.; OLIVEIRA, P.M.P.; REBOUCAS, C.B.A.; GALVAO, 
M.T.G. Literatura de cordel: veículo de comunicação e educação em saúde. Texto 
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PATRINI, M. de L. A renovação do conto: emergência de uma prática oral. São 
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PROGRAMA CONTAÇÃO DE HISTÒRIAS UFCSPA. Disponível em: 
http://www.ufcspa.edu.br/index.php/programas-e-projetos/376-contacao-de-historias- 
em-ambiente-hospitalar-a-capacitacao-do-profissional-da-saude. 
Acesso em: 08 de dez. de 2014. 
RAMOS, Ana Cláudia, Contação de Histórias: um caminho para a formação de 
leitores? Dissertação de Mestrado da Universidade Estadual de Londrina: Londrina, 
2011.
RAMOS, Magda Maria. A literatura como fruição na escola. Disponível em: 
<http://www.cce.ufsc.br/~neitzel/literinfantil/magda.htm>. Acessado em 02 dez. 
2014. 
SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. Chapecó, 
SC: Argos, 2001.

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENFERMAGEM BACHARELADO DE SAÚDE COLETIVA UNIDADE DE SAÚDE SOCIEDADE E HUMANIDADES IV DOCENTE RESPONSÁVEL: MARIA GABRIELA CURUBETO GODOY DOCENTE COLABORADORA: CRISTIANNE FAMER ROCHA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS DICENTES: ANA PAULA CAPPELLARI BIANCA OLIVEIRA GOMES LETÍCIA COSTA DE SOUZA MARIA RAQUEL FERREIRA GARCIA PORTO ALEGRE, DEZEMBRO DE 2014.
  • 2. INTRODUÇÃO Contar Histórias é uma das artes mais antigas. Os contos sempre encantaram povos em todo mundo, são fontes maravilhosas de experiências assim como meios de ampliar o horizonte do ouvinte e de aumentar seu conhecimento em relação ao mundo que o cerca uma vez que as histórias são efetivamente formas de ensinar e aprender. Mesmo diante de toda tecnologia existente, o contador de Histórias resiste aos tempos, é arte viva, pulsante e persistente da cultura de um povo, de sua sensibilidade e desenvolvimento e como toda arte, a de “Contar História” também possui suas técnicas. Ouvir e contar histórias levam as crianças a desenvolverem seu imaginário assim como suas habilidades, trabalhando com o aguçar das habilidades já existentes e no desenvolvimento de novas, o que trará muitas construções novas e uma leitura de mundo mais ampliada e significativa. Permite a intercomunicação das partes, do contador e do ouvinte, contar e interagir nessa arte desenvolve a emoção, percepção e aceitação de um fato e amadurecimento sobre ele. Esse trabalho apresenta um resgate histórico da Contação de Histórias, suas práticas, recursos e principais técnicas, bem como apresenta a Contação de História como importante instrumento na área da saúde, da educação e promoção da saúde. Contar história é uma arte, e para isso qualquer um de nós pode trabalhar e desenvolver algumas qualidades que fazem toda diferença na narrativa.
  • 3. 1) CONTEXTO HISTÓRICO: A ARTE MILENAR DE CONTAR HISTÓRIAS A arte de narrar histórias encontra suas raízes nos povos ancestrais que contavam e encenavam histórias para difundirem seus rituais, os mitos, os conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou não, e sobre as experiências adquiridas pelo grupo ao longo do tempo. Além da comunicação oral e gestual, ao narrarem suas histórias, também, registravam nas paredes das cavernas, com desenhos e pinturas, suas experiências, algumas delas vividas no cotidiano. A memória auditiva e a visual eram, então, essenciais para a aquisição e o armazenamento dos conhecimentos transmitidos (RAMOS, 2011). Desde há muito, a transmissão oral, passada de geração em geração, foi uma das soluções encontradas pelas comunidades que não possuíam a escrita, para informar às gerações mais novas os seus saberes, valores e crenças. Por conseguinte, aqueles saberes considerados imprescindíveis para a sobrevivência individual e grupal (RAMOS, 2011). Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que sabiam apresentar conselhos, fundamentados em fatos, histórias e mitos, mantendo viva, enfim, a herança cultural pela memória do grupo. Os contadores retiravam de suas vivências e dos saberes delas obtidos o que contar. Em assim sendo, narrar dependia de eles colherem os saberes da experiência, e de produzi-los em objetos (visuais, auditivos, etc.) para serem apresentados a outros (RAMOS, 2011). Os camponeses sedentários e os navegantes e/ou comerciantes foram os principais responsáveis pela preservação dessas histórias e dessa arte. Os camponeses, fixos em suas terras, conheciam intimamente as histórias do lugar onde moravam, e os navegantes e/ou comerciantes por trazerem conhecimentos de terras longínquas. Os encontros entre narrador (camponeses, navegantes e/ou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaço típico de momentos em que a comunidade, geralmente distribuída em semicírculos, sentava-se à volta da fogueira para ouvir e trocar conhecimentos. Um momento performático acontecia quando os contadores narravam suas histórias. Histórias cheias de ensinamentos e conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade, e, por vezes, o conforto, a reflexão e a transformação (RAMOS, 2011).
  • 4. Os contadores ritualizavam hábitos e costumes de uma comunidade, muitos deles com o intuito de constituir uma base “identitária”, ou seja, compor a subjetividade desse grupo. Esta prática sustentava o equilíbrio do grupo, evitando assim sua desagregação. Portanto, desde então, em sua ação o contador fazia o “convocar imagens e ideias de sua lembrança, misturando-as às convenções contextuais e verbais de seu grupo, para adaptá-las segundo o ponto de vista cultural e ideológico de sua comunidade” (PATRINI, 2005). Na Europa, a figura do contador de história esteve sempre ligada às mulheres que, durante seus trabalhos domésticos, “teciam” suas histórias, momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria, já que não lhes era permitida a participação na vida social e política mais ampla. Por muito tempo o exercício de contar histórias foi uma prática doméstica, quase sempre presente no meio rural, sendo abandonada paulatinamente com a urbanização e o surgimento de novas tecnologias. Com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento de novas mídias, como a televisão, o cinema e a internet, essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais (RAMOS, 2011). Em meados do séc. XX, os contadores de histórias, após terem quase submergido em consequência do surgimento das novas mídias, ressurgem, como fenômeno urbano, dando origem, ao que hoje se conhece como novos contadores, ou contadores urbanos. Com o surgimento dos contadores urbanos, a arte de contar histórias passou a ser reconhecida também no campo pedagógico. Esses novos contadores já não realizam apenas a transmissão oral do que vivenciaram, mas a transmissão oral de histórias de outros autores e impressos. Suas performances, hoje, deixam de ser narrativas de experiências por eles vivenciadas; e dos contadores de histórias hoje é exigido o domínio de outras técnicas para que possam (re) contar as histórias narradas por outros, algumas impressas, outras disponíveis em espaços da Web (RAMOS, 2011). No Brasil, por volta dos anos 80, bibliotecários e estudantes da área de Educação, desenvolveram um projeto, intitulado “Hora do conto” tendo por objetivo aproximar o aluno do livro. Entre as decorrências da execução desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que, em sua sala de aula, ou até mesmo na
  • 5. biblioteca da escola, exerciam a contação, com o intuito de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita (RAMOS, 2011). Nos anos 90, surgiram novas experiências no campo das práticas orais, em especial, relacionadas à arte de contar. Vários projetos relevantes foram e vêm sendo desenvolvidos, oportunizando cursos de formação e congressos voltados para esta arte. Existem muitas estratégias, individuais e coletivas, no trabalho com a literatura, no entanto, o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam a participação, o movimento, a música, o riso o lúdico e a atribuição de novos sentidos, evitando-se que textos literários sejam usados como instrumentos para introduzir exercícios (cansativos e mecânicos) ou mesmo como moralizadores (RAMOS, 2011). 2) O CONTADOR Arte de contar história é aquela que comove, emociona, promove a sensibilidade. Os contos são verdadeiras obras de arte, pois pertencem ao patrimônio cultural de toda a humanidade e representam a visão do mundo, as relações entre o homem e a natureza sob as formas estéticas mais acabadas; aquelas que provocam precisamente o maravilhoso (GARCIA, 2012). "Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz" (ABRAMOVICH, 1989). Como toda arte, a de contar histórias também possui segredos e técnicas. E tem como matéria-prima a palavra, prerrogativa das criaturas humanas, e que depende, naturalmente, de certa tendência inata, mas pode ser desenvolvida, desde que se goste e se reconheça a importância da história. (GARCIA, 2012). Em meados do século XX, pós Revolução Industrial, surge nos países industrializados da América, e também na França, uma nova figura de contadores que podemos chamá-los de contadores urbanos ou até mesmo contemporâneos, os quais fizeram ressurgir a prática do (re)conto. Com um novo perfil do contador que difere dos contadores tradicionais, porque, lidam com uma matéria oral secundária, ou seja, com a escrita, enquanto os tradicionais usavam a linguagem oral primária. Proferem,
  • 6. frequentemente, palavras a partir das registradas nas produções da literatura, arquivadas nas bibliotecas por décadas. Esses contadores, raramente, utilizam em seu repertório narrativas orais primárias, ou seja, aquelas utilizadas pelos contadores tradicionais. Portanto, parece correto afirmar que o surgimento desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de espaços, quase que sagrados, da escrita, isto é, nas bibliotecas. A possibilidade decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais (RAMOS, 2011). Coentro (2008) destaca algumas das diferenças entre os contadores tradicionais e esses novos contadores. Menciona, entre outras, as relativas ao grau de escolaridade, à forma como entram em contato com a história, aos locais onde realizam sua performance e ao público alvo de cada tipo de contadores. Apesar de estes novos contadores terem buscado uma aproximação e/ou um resgate dos contadores tradicionais, este resgate está estritamente relacionado à memória e desempenho. Segundo Patrini, 2005 a contacção é caracterizada como uma arte testemunhal. O contador pode ser uma testemunha de algo que esta por acontecer relatando os fatos de maneira propria e pessoal. “O contador é uma testemunha para mim de algo que vai acontecer. É um jogo que é preciso aceitar. Aceitar, nos deixar levar pela mentira. A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versão pessoal dos fatos que ele conta, e uma arte testemunhal. (PATRINI, 2005, p. 75). Hoje em dia os contadores de história devem estar prontos para enfrentar diversas situações, adaptando-se às mudanças radicais que o mundo apresenta. Mudanças não só na maneira de pensar, mas nos modos pelos quais o mundo é percebido. Presente numa modernidade radicalizada, a arte de narrar sofre os efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade. Para complementar a caracterização desse novo contador, apresentamos a palavra de Matéo:
  • 7. É alguém que atua na prática da narração, o que não significa atuar especialmente em uma prática artística que supõe forçosamente a representação. O contador pode se adaptar a diferentes espaços, diferentes atividades, diferentes experiências para recontar uma história (MATÉO, apud PATRINI, 2005, p.76). Além disso, o contador de histórias deve ser um leitor assíduo, ou seja, não basta somente ler a história. A contação de histórias é mais que isso, é transformar para o mágico o que na escrita talvez seja monótono, é saber levar o espectador ao plano do imaginário e trazê-la novamente para o mundo real. Por isso, para que essa associação de fatores seja feita, o contador, antes de tudo, deve ser um bom leitor. Uma vez que o contador é um leitor assíduo, tem amplo conhecimento do acervo da Literatura e pode testemunhar o seu amor pelo livro, ele estabelece com sua clientela laços estreitos com a leitura e busca novos recursos para que o ato de contar histórias e o de escutar, ser ouvinte da narrativa contada, se torne interessante. Ao receber esses estímulos positivos de leitura desde cedo, a criança já estará dando início a sua formação como leitor, que perpassará por toda a sua vida, ajudando-a a compreender melhor o mundo. Objetivando estimular a leitura e buscando qualificar a formação da criança enquanto leitor, o contador de histórias deve saber como desenvolver a contação de histórias de maneira a fazer com que as crianças possam descobrir palavras novas ampliando seu vocabulário, deparar-se com os vários tons e alterações de voz que há durante a prática. E, para isso, quem conta tem que criar o clima de envolvimento, de encanto... saber dar as pausas, o tempo para o imaginário da criança construir seu cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua floresta, vestir a princesa com a roupa que está inventando, pensar na cara do rei e tantas coisas mais. Os momentos de suspense e emoção são importantes para o sucesso da história contada. O contador de histórias deve deixar que as crianças imaginem a história partindo do seu mundo de fantasias e encantamentos, fazendo com que ela interaja mais
  • 8. de perto com o enredo e se interesse mais por ele. Para que isso aconteça, é preciso que haja muita pesquisa por parte do contador, em que se busquem novos recursos, leituras para conhecer melhor a arte de contar histórias e descobrir o que a criança vai gostar de ouvir e de ver durante a prática de contação de histórias. 3) COMO CONTAR E POR QUE CONTAR HISTÓRIAS O processo de estímulo e incentivo para se contar uma história são inúmeros, mas sua eficácia depende de como o contador os utilizará. Não há “fórmulas mágicas” que substituam o entusiasmo do contador. Quem aspira ser um bom contador de histórias, deve desenvolver alguns passos importantes em seus preparativos: 1) a história a ser contada e apresentada deve estar bem memorizada. Por isso, é imprescindível ler a história várias vezes e estar bem familiarizado com cada parágrafo do livro, para não perder “o fio da meada” e ficar procurando algum tópico durante a apresentação; 2) destacar e sublinhar os tópicos mais importantes, interessantes e significativos, para que na apresentação recebam a devida valorização; 3) procurar vivenciar a história. Envolver-se com ela, fazer parte dela e sentir a emoção dos personagens e ao apresenta-la atrair os ouvintes para a magia da história; 4) ao apresentar a história, falar com naturalidade e dar destaque aos tópicos mais importantes com gestos e variações de voz, de acordo com cada personagem e cada nova situação. No entanto, é preciso cuidar para não exagerar nos gestos ou nas entonações de voz; 5) oferecer espaço aos ouvintes que querem interferir na história e participar dela. Quem se sente tocado em seu imaginário sente necessidade de participar ativamente no desenrolar da história. O importante é que nessa hora não haja pressa, contando ou lendo tudo de uma só vez. É preciso respeitar as pausas, perguntas e comentários naturais que a história possa despertar, tanto em quem lê quanto em quem ouve. É o tempo dos porquês; 6) toda história e toda dramatização devem ser apresentadas com entusiasmo e paixão. Sempre devem transparecer a alegria e o prazer que elas provocam. Sem esses
  • 9. componentes, os ouvintes não são atingidos e logo perdem o interesse pelo que está sendo apresentado. Segundo Abramovich (1993), “o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo. Afinal, tudo pode nascer dum texto!” A criança, ao ouvir histórias, vive todas essas emoções. Afinal, escutar histórias é o início, o ponto-chave para tornar-se um leitor, um inventor, um criador. Por que contar histórias? As histórias formam o gosto pela leitura: quando a criança aprende a gostar de ouvir histórias contadas ou lidas, ela adquire o impulso inicial que mais tarde a atrairá para a leitura. As histórias são um poderoso recurso de estimulação do desenvolvimento psicológico e moral que pode ser utilizado como recurso auxiliar da manutenção da saúde mental do indivíduo em crescimento. As histórias instruem – ao enriquecer o vocabulário infantil, amplia seu mundo de ideias e conhecimentos e desenvolve a linguagem e o pensamento. As histórias educam e estimulam o desenvolvimento da atenção, da imaginação, observação, memória, reflexão e linguagem. As histórias cultivam a sensibilidade, e isso significa educar o espírito. A literatura e os contos de fadas dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter. As histórias facilitam a adaptação da criança ao meio ambiente, pela incorporação de valores sociais e morais que ela capta da vida de seus personagens. As histórias recreiam, distraem, descarregam as tensões, aliviam as sobrecargas emocionais e auxiliam, muitas vezes, a resolver conflitos emocionais próprios. Exemplo: por alguma razão, uma criança é repreendida pela mãe. Não podendo reagir diretamente à “agressão”, identificará a “agressora” na pessoa má do conto. A história
  • 10. funcionará, dessa forma, como antídoto na solução de seus problemas infantis. Será um fator importante na procura do equilíbrio emocional. 4) QUE HISTÓRIAS CONTAR E PARA QUEM CONTAR? O sucesso de uma narrativa depende de vários fatores que se interligam, sendo fundamental a elaboração de um planejamento, no sentido de organizar o desempenho do narrador, garantindo-lhe segurança e assegurando-lhe naturalidade. O primeiro passo, segundo Celso Sisto (2001) consiste em escolher o que contar, a quem, onde e quando iremos contar. A escolha é algo pessoal. O contador precisa sentir a história, ser capaz de emocionar-se e emocionar os outros. Dentre os vários indicadores que nos orientam na seleção da história destaca-se o conhecimento dos interesses predominantes em cada faixa etária dos ouvintes, mas que isso não impeça o contador de narrar histórias mais elaboradas, principalmente se conhecer bem o público para o qual vai atuar. A qualidade literária da história é outro fator que determina uma boa contação de histórias. Portanto, ao se fazer a seleção das histórias, é preciso saber se o assunto contém riqueza de imaginação, se é interessante e do agrado Do público alvo. Os recursos onomatopaicos e as repetições contribuem para tornar a história mais apreciada, além de fortalecer as expressões. A linguagem deve ser simples, correta, de bom gosto. Uma vez escolhida a história a ser contada, passa-se a estudá-la. Isso não significa que ela deva ser decorada textualmente. Estudar uma história é, em primeiro lugar, divertir-se com ela, captar a sua essência e, em seguida, após algumas leituras, identificar os elementos constituintes de sua estrutura: introdução, enredo, clímax, desfecho. Estudar uma história é também inventar as músicas ou adaptar a letra às músicas conhecidas, conforme sugestão do texto, que são introduzidas no decorrer do enredo ou no final. Estudar a história é, ainda, escolher a melhor forma ou suporte mais adequado de apresentá-la. Os suportes mais utilizados são: a simples narrativa, a narrativa com o auxílio de gravuras, de desenhos, de recursos audiovisuais, de objetos variados, e a narrativa com interferências do narrador e ouvintes. E na hora de contar histórias é preciso adotar algumas posturas recomendadas por Celso Sisto (2001), tais como:
  • 11. •· "Olhar para a plateia”; •· Distribuir o olhar igualmente por toda a audiência; •· Linguagem de acordo com a plateia; •· Linguagem fluida; •· Não denunciar o erro: troca de palavras, troca de episódios e fatos; esquecimento de algo ou da sequência da história; •· Visualizar a história enquanto narra; criar um roteiro visual e verbal, por episódio, na sequência da história; •· Usar gestos expressivos, que acrescentem algo ao entendimento da história; •· Movimentar-se só quando a história ‘exigir'; •· Não explicar a história; o texto deve falar por si mesmo; •· Preparar a história antes; ensaiar sempre; •· Não prender qualquer parte do corpo enquanto está contando, tipo mãos no bolso, braços cruzados (na frente ou atrás); •· Evitar movimentos repetitivos; •· Que o tom de contar seja diferente do tom de bater-papo; •· Projetar a voz em direção ao espaço; •· Usar diversos ritmos no decorrer da narração; •· Acreditar na história que está sendo contada; •· Usar pausas durante a história, explorar o silêncio, o movimento sem palavras; •· Dar à apresentação um tratamento de espetáculo" . Novidade é sempre algo que quebra a rotina, cria novas expectativas e possibilita experiências novas. Inovar a prática pedagógica com constante leitura e contação de histórias, é o desafio que deveria impulsionar o professor no seu fazer cotidiano. Mais do que isso, o docente leitor e contador de histórias tornou-se obrigatório na promoção da leitura e no resgate da fantasia e do lúdico! Variabilidade nos repertórios evidenciada pelas incongruências no uso da linguagem e pelo fato de as pessoas construírem diferentes versões sobre um acontecimento, as quais permitem fazer novas leituras. A variação é uma consequência da grande quantidade de atos que podem ser performatizados por um mesmo ator enquanto fala. Analisar os discursos sob o ponto de vista da variabilidade significa apontar as similaridades e as exceções, as consistências e inconsistências, incluindo as negações que podem sinalizar o encobrimento de condutas “politicamente incorretas”.
  • 12. Além disso, faz parte do estudo da variabilidade, a identificação dos acentos, das entonações, dos silêncios, das lacunas, das interrupções, ou seja, todos os aspectos relacionados à modulação e construção de elocuções durante o diálogo. Incluir a variabilidade em uma análise significa respeitar a polissemia dos discursos, ao invés de homogeneizá- los ou reduzi-los (MENEGUEL,2007). Que história contar? Sugestões por faixa etária Pré-escolares: até 3 anos Histórias de bichos. Contos rítmicos que sejam leves, lúdicos, bem humorados e curtos. Cantigas de ninar. Fase pré-mágica: de 3 a 6 anos Histórias de bichos. Pequenos contos de fadas com enredo simples e poucas personagens. Poemas simples. Trava-línguas. Parlendas. Cantigas de rodas. Fase escolar: 7 anos Histórias de crianças, animais e encantamentos. Contos de fadas mais elaborados. Aventuras no ambiente próximo: família e comunidade. Fase escolar: 8 anos Histórias humorísticas. Contos de fadas mais elaborados. Lendas folclóricas. Fase escolar: 9 anos Mitos. Contos de fadas mais elaborados. Antigo testamento como mito. Histórias verídicas. Histórias de humor. Fase escolar: 10 anos Mitos. Mitologia nórdica. Narrativas de viagens.
  • 13. Histórias verídicas. Fase escolar: 11 anos Mitos (hindus, persas, árabes, egípcios). Narrativas de viagens. Histórias verídicas. Mitos de heróis. Fase escolar: 12 anos em diante Narrativas de viagens Histórias verídicas Biografias e romances 5) RECURSOS E MATERIAIS PARA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS Para tornar a narrativa mais atraente é interessante valer-se de diversos recursos, explorando bastante a criatividade. Esses recursos auxiliam na contação, uma vez que os personagens tornam-se, de certa forma reais, chamando a atenção do público que está envolvido com a história e estimulando a sua imaginação. Para tanto, é necessário que o contador observe as características do público para o qual ele contará a história, facilitando assim a escolha da mesma e os recursos a serem utilizados. Além dos recursos matérias, os gestos, as vozes e as roupas também são grandes aliados na contação de histórias, enriquecendo de modo significativo a narrativa. Segundo OTTE, 2003, é recomendável ser bastante criativo no uso de recursos materiais. Não se prender a certos padrões, mas variar de acordo com o conteúdo da história a ser contada ou apresentada: 1) o velho flanelógrafo (quadro revestido de flanela ou feltro de cor lisa, sobre o qual se fazem aderir objetos ou figuras, fixadas ou removidas segundo as necessidades do ensino) pode ser uma boa opção para ilustrar uma história com vários assuntos e vários simbolismos; 2) transparências, preferencialmente confeccionadas pelas crianças, podem ser outro recurso que desperta interesse e ajuda a fixar a história; 3) slides com figuras da história que está sendo contada, projetados na parede, prendem a atenção das crianças e despertam as fantasias; 4) para pequenas encenações e dramatizações, fantoches e bichos de pelúcia são bons recursos;
  • 14. 5) a massa de modelar pode ser usada pelas pessoas para confeccionar figuras da história que acabaram de ouvir, com isso recapitulam e fixam a história; 6) materiais colhidos na natureza e trazidos pelas pessoas para ilustrar certos contos de fadas, por exemplo, prendem a atenção e valorizam a sua participação; 7) mudar de ambiente para contar a história da cidade: levar as pessoas ao museu, a um cemitério com antigas sepulturas e convidar uma pessoa idosa para falar do passado. Nesse sentido se oferecem muitas possibilidades que devem ser exploradas. 8) com livro: leitura dinâmica, dramatizada, com as ilustrações do livro. 9) Com gravuras: varal, livro ampliado. 10) Com desenhos: desenhar as personagens enquanto vai contando a história. 6) ATIVIDADES ARTÍSTICAS E TECNOLOGIAS DECORRENTES DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: De um modo geral, tecnologia refere-se a uma técnica, artefato ou alternativa desenvolvida pelo homem, para facilitar a realização de um trabalho ou criação1. Tanto na educação quanto na saúde, os educadores devem compreender as tecnologias como meios facilitadores dos processos de construção do conhecimento, numa perspectiva criativa, transformadora e crítica (MARTINS, 2011). Tecnologias são saberes imprescindíveis para o desenvolvimento do trabalho em saúde. Na prática educativa em saúde, a tecnologia deve ser utilizada de modo a favorecer a participação dos sujeitos no processo educativo, contribuindo para a construção da cidadania e o aumento da autonomia dos envolvidos. Sendo assim, devem explorar recursos que vão ao encontro dos significados culturais reconhecidos e valorizados no contexto dos usuários e da comunidade, por isso cada vez mais são realizadas, na prática educativa, atividades lúdicas, como teatro, música, jogos, entre outras manifestações artísticas e culturais (MARTINS,2011). Após a contação, é sempre importante realizar um trabalho em que os participantes se envolvam e relembrem o que foi contado. Nessa hora, é preciso considerar a faixa etária de cada grupo, o que vai guiar você a realizar diferentes tipos de atividades. Abaixo, algumas que podem ser aplicadas, modificadas e expandidas conforme o seu caso: Dobraduras dos personagens; Desenhos das personagens que mais gostou; Construção com sucatas; Música sobre a história; Fantoches diversos; Bonecos
  • 15. com papel machê; Construção de livrinhos; Dramatizações; Fantasias; Painéis entre outros especificados abaixo: PRODUÇÃO E CRIAÇÃO DE MÁSCARAS: O teatro de máscaras promove à recreação, o jogo, a socialização, melhoria na fala da criança, desinibição dos alunos mais tímidos. Quando o trabalho exigir o uso da palavra, a máscara que deve ser utilizada é aquela que cobre os olhos e o nariz deixando a boca livre, permitindo que a voz saia clara, exibindo a sua expressão verbal. Representando com o rosto oculto, as pessoas se permitem viver o enredo dos próprios personagens e o cotidiano social a que pertencem (HELBINHA, 2012). O trabalho com máscaras se dá de maneira livre, cada participante cria sua máscara, escreve sobre ela, dá-lhe um nome, junta com as máscaras dos colegas e forma uma história a partir de um tema proposto, representa-a através das máscaras (teatro de fantoches) e conta como foi a experiência de confeccionar a máscara, dar-lhe um nome e inseri-la em uma história (HELBINHA, 2012). TEATRO DE SOMBRAS: O teatro de sombras, também conhecido como Oricom Shohatsu, é uma arte muito antiga de contar histórias e de entretenimento que usa figuras articuladas chatas (bonecos de sombra) para criar imagens mantidas entre uma fonte de luz e uma tela translúcida ou tecido. As imagens produzidas pelos bonecos podem ter diversas cores e outros tipos de detalhes. Muitos efeitos podem ser alcançados através da movimentação tanto dos bonecos quanto da fonte de luz. Um marionetista talentoso pode fazer as figuras parecerem andar, dançar, lutar, acenar com a cabeça e rir. O teatro de sombras é popular em várias culturas; atualmente essa arte é praticada por grupos de mais de 20 países. O teatro das sombras é uma velha tradição e tem uma longa história no Sudeste da Ásia; especialmente na Indonésia, Malásia, Tailândia e Camboja. É também considerada uma arte antiga em outras partes da Ásia como na China, Índia e Nepal. É também conhecida no Ocidente, da Turquia, Grécia até a França. É uma forma popular de entretenimento tanto para crianças quanto para adultos em muitos países ao redor do mundo (BEZERRA, 2012).
  • 16. LITERATURA DE CORDEL: A literatura de cordel, como poesia popular, é uma das mais importantes expressões culturais da população nordestina, está presente nas feiras livres, praças e eventos populares. Esse singular meio de comunicação de massa, surgido na Península Ibérica, foi trazido para o Nordeste do Brasil pelo colonizador europeu, desenvolvendo-se no Ceará, especialmente na cidade de Juazeiro do Norte. São folhetos populares, escritos e impressos com ilustrações nas capas; eram dependurados em barbantes para venda em locais públicos, daí a sua denominação. Desde que surgiram os primeiros folhetos impressos, no último quartel do século XIX, a literatura de cordel tem sido uma poderosa ferramenta de alfabetização e incentivo à leitura para as populações carentes do Nordeste (MARTINS, 2011). A utilização da literatura de cordel na prática educativa em saúde vem despertando a atenção de profissionais de saúde, especialmente no Ceará. Um estudo sobre o uso da literatura de cordel como meio de promoção do aleitamento materno descobriu nessa literatura popular um importante meio de comunicação, pois seu custo é mínimo, sua linguagem é acessível e sua mensagem é facilmente compreendida pela população. É possível, portanto, que os profissionais de saúde possam aplicar o cordel, como ferramenta alternativa de comunicação, transmitindo as mensagens de promoção da saúde de modo lúdico (MARTINS, 2011). CIBERCULTURA: Segundo Cacciolari, 2009, hoje, poucas famílias conservam o antigo hábito de contar histórias para as crianças à hora de dormir, ficando esta tarefa para a televisão, e para o computador e para os games a função de provocar a imaginação infantil. Embora o papel da televisão se depare com alguma polêmica, algumas vezes esse instrumento pode ser bem aproveitado como coadjuvante na formação de leitores. O ensino de linguagem audiovisual na escola, acompanhado da disciplina de filosofia, faria com que as crianças desenvolvessem a capacidade de abstração, ao mesmo tempo em que seriam alfabetizadas nas letras e nas imagens, passando, com o tempo, a entender seus códigos, sua grafia, escrever e raciocinar com elas, inter-relacionando-as. O grande problema da televisão é que desde o momento em que a criança está diante da tela, não percebe mais o texto enquanto texto, mas como imagem, e não promove a interação entre a imagem e a leitura de mundo. As perspectivas para criação de roteiros em ambientes virtuais e o futuro da narrativa no ciberespaço são temas levantados por Janet Murray (2003), em seu livro Hamlet on the Holodeck. Para Murray, estamos vivendo o inicio de uma nova cultura, a
  • 17. cibercultura, proporcionada por computadores e videogames de avançada tecnologia capazes de proporcionar ambientes virtuais imersivos e sofisticados processos de interação. As novas variedades de entretenimento digital, que vão dos videogames ao hipertexto, representam novos formatos para o roteiro ficcional. O meio comercialmente mais bem sucedido corresponde aos jogos eletrônicos, que estão em constante evolução tecnológica e com cada vez mais ênfase na estória. Apesar dessa evolução os jogos de ação ainda têm que desenvolver mais suas estórias, sendo que sua estrutura de labirintos e níveis nos submete apenas a violência dos tiros e ataques, sem vivenciarmos as situações de conflitos e os momentos de clímax da narrativa, que aumentariam o envolvimento do jogador durante a partida. Outros gêneros, como os jogos de enigma, no entanto, tem uma concepção diferenciada dos jogos de ação, e utilizam recursos avançados de gráficos e som para criar cenas e ambientes com grande poder de imersibilidade. O engajamento mais lento na estória e as revelações de alto poder dramático que permitem a solução dos enigmas tornam as narrativas desses jogos mais ricas e complexas. Neste sentido, a popularização da internet proporcionou o crescimento da ficção baseada em hipertexto (CACCIOLARI, 2012). O hipertexto tem possibilitado a escritores novas experimentações com segmentação, justaposição e conectividade: as estórias possuem geralmente mais que um ponto de entrada, muitas bifurcações internas e um final não muito claro. Para conseguir prender a atenção do usuário, os autores escrevem e expandem suas histórias, incluindo múltiplas possibilidades para quem está agindo poder assumir um papel mais ativo. As narrativas tradicionais, no entanto, têm se aproximado cada vez mais do computador, e os cientistas da computação se movem para domínios que antes eram restritos aos artistas criativos. A estrutura digital traz com ela muitas possibilidades para a narrativa. Cabe aos ciberdramaturgos explorar essas possibilidades sem sobrecarregar o participante, e procurar soluções para a disposição da ação dramática de maneira a sustentar o fluxo da estória, sem interromper o sonho ficcional que se cria na imaginação do público (CACCIOLARI, 2012).
  • 18. Ao abordarmos a questão da contação de histórias no século XXI, é importante entender como se relacionam palavra e imagem nas diversas mídias e o que representa a imagem, como linguagem, atualmente. Informações não devem ser simplesmente ditas, mas mostradas dramaticamente como as causas da história. A exposição não é necessariamente colocada em um bloco só no início da narrativa, podendo ser introduzida no contexto conforme a ação exigir, sem interferir na fluência da história. A cultura contemporânea é sobretudo visual. Videogames, videoclipes, cinema, telenovela, propaganda e histórias em quadrinhos são técnicas de comunicação e de transmissão de cultura cuja força retórica reside sobretudo na imagem, tal o impacto de significação dos recursos imagéticos. Tomando por exemplo, as narrativas visuais do cinema ou da telenovela, produtos culturais a que (quase) todos têm acesso e que competem diretamente com as narrativas literárias no gosto do público consumidor de cultura; o que se capta, em primeiro lugar, é um contexto demonstrativo em vez de um contexto verbal: percebe-se pela vestimenta, caracterização e comportamento das personagens, pelo lugar onde estão, por seus gestos e expressões faciais, se se trata de drama ou comédia, em que época se desenvolve o enredo, enfim, de que modo o espectador está sendo convidado a fruir aquele conjunto de significados visuais componentes de uma trama. Cada cena comporta um peso visual e auditivo, este dado pela trilha sonora, que se comunica imediatamente, sem necessidade de palavras. A imagem tem, portanto, seus próprios códigos de interação com o espectador, diversos daqueles que a palavra escrita estabelece com o seu leitor. Como as histórias reproduzidas em vídeos e DVDs, muito comuns nos desenhos da Disney, nos programas da TV Cultura, com contação de histórias, na TV Globo, com as histórias de Monteiro Lobato, no Sítio do Picapau Amarelo, que reproduz muito bem a narração oral. O cinema (filmes) e o teatro também são representativos contribuintes para o ensino de literaturas e contação de histórias, no que se refere ao estímulo e motivação. Muitos filmes de desenhos animados começam sempre com o eterno ... “Era uma vez...” O filme traz uma nova visão sobre os contos de fadas, em que o herói não se sobressai pela beleza e imponência, mas pelo caráter e virtudes. Ao invés do belo Príncipe e da linda Princesa, a história incrementa nas almas o senso de contradição entre o bem e o mal, mostrando que o hediondo e o horror não são características da aparência apenas. Em Shrek, a felicidade alcançável é a que resulta da prática da virtude, da perseverança nas vias do bem. Nas histórias de contos de fadas do século
  • 19. XXI, o sapo já não precisa voltar a ser príncipe. Por isso o ogro, antes monstruoso, torna-se figura tão amada das crianças, sem precisar ser transformado em sua aparência. Assim, os recursos midiáticos podem contribuir muito para o ensino de literatura. Quanto maior o contato com a linguagem, na diversidade textual, mais possibilidades se tem de entender o texto como material verbal carregado de intenções e de visões de mundo. Diante do exposto, pode-se entender que as práticas da linguagem, como fenômeno de uma interlocução viva, perpassam todas as áreas do agir humano, potencializando, a perspectiva interdisciplinar (CACCIOLARI, 2012). 7) A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO RECURSO NA ÁREA DA SAÚDE: 1) Associação Viva e Deixe Viver – Porto Alegre (RS)- Doutorzinhos: Fonte: http://www.vivaedeixeviver.org.br A Associação Viva e Deixe Viver é uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, que treina e capacita voluntários para se tornarem contadores de histórias em hospitais para crianças e adolescentes internados em oito mercados do país. Os principais recursos da Associação Viva e Deixe Viver atualmente são a leitura de obras infantis, as brincadeiras, a criatividade e o bom humor de seus voluntários. Através de atividades culturais que estimulam o desenvolvimento das aptidões dessas crianças, a Associação contribui para a humanização dos serviços a elas
  • 20. destinados, integrando no seu cotidiano as condições sensíveis de comunicação e interação com a realidade externa. Para realizar seu objetivo, a Associação Viva e Deixe Viver recebe como doação pelo menos duas horas semanais de seus voluntários que contam ou fazem histórias. Sim, porque para existir o contador de histórias é necessário que existam aqueles que dão suporte, divulgando, treinando, auxiliando e desenvolvendo nossa Associação. Em 2004, a Associação Viva e Deixe Viver iniciou suas atividades em Porto Alegre. Hoje, atua no Hospital da Criança Santo Antônio e no Hospital da Criança Conceição. O resultado desse trabalho tem sido valorizado por toda equipe médica, pelas crianças hospitalizadas e seus acompanhantes. No Rio Grande do Sul, o Viva e Deixe Viver tem uma parceria com a ONG Doutorzinhos. 2) Programa de Extensão Contação de Histórias em Ambiente Hospitalar – UFCSPA: Fonte: http://www.ufcspa.edu.br/ O projeto “Contação de histórias em ambiente hospitalar: a capacitação do profissional da saúde”, uma interação entre as áreas da Literatura e da Saúde, tem como princípio a formação diferenciada do profissional, uma vez que o habilita com uma ferramenta inovadora: a de saber técnicas de conforto aos pacientes através do contato estabelecido pela literatura. Sabe-se que a relação de confiança entre profissional e paciente é a chave para a busca da saúde, e a literatura é uma das formas pelas quais isso é possível. O projeto tem dois objetivos: contribuir para uma formação mais humanizada do profissional da saúde no trato com o paciente; e, para o internado, busca amenizar a situação de isolamento social em que se encontra.
  • 21. Em atividade desde 2009, o Programa Contação de Histórias da UFCSPA objetiva a promoção da saúde pela formação diferenciada e contínua no âmbito da saúde para estudantes da UFCSPA, estudantes da saúde de outras IES, profissionais das Equipes de Saúde da Família localizadas no Distrito Docente Assistencial e profissionais de saúde atuantes no ambiente hospitalar, propiciando o desenvolvimento de habilidades para o atendimento humanizado a partir da técnica da contação de histórias literárias. O Programa possui 5 ações, a saber: a) disciplina eletiva para acadêmicos da UFCSPA; b) curso de formação de contadores para acadêmicos de outras IES; c) curso de formação de contadores para profissionais atuantes no Programa Saúde da Família nas unidades do DDA da UFCSPA e profissionais formados atuantes no ambiente hospitalar; d) Projeto Poesia na Enfermaria; e e) Curso de Formação de Voluntários in company SESC/UFCSPA. Em cinco anos, o programa já atendeu mais de 1.500 pacientes e realizou 3.000 horas de contação no ambiente hospitalar, com a presença de mais de 300 participantes e os cursos são oferecidos também para a comunidade externa. 3) CATAVENTUS – ação de integração social e cultural: Fonte: http://www.cataventus.org.br/
  • 22. A CATAVENTUS – AÇÃO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL E CULTURAL é uma associação civil sem fins lucrativos, constituída por educadores de formações e experiências profissionais diversas, que utiliza a contação de histórias como instrumento de inclusão social. Em meados de abril de 1999, iniciou-se a primeira ação desenvolvida por pessoas que, atualmente, fazem parte da Coordenação da CATAVENTUS, o Projeto “Conte Outra Vez...”. O primeiro grupo atendido pelo projeto foram os meninos do Albergue João Paulo II, abrigo para crianças e adolescentes recebidos por encaminhamento dos conselhos tutelares ou do Juizado da Infância e da Juventude. Inicialmente, com atividades lúdicas foram sendo desenvolvidas as responsabilidades de dinâmicas em grupos e criatividade, aumentando sua autoestima. Na sequência, foi inserida a contação de histórias, os meninos montaram histórias usando filmes para as TVs de madeira, álbuns seriados, varais, cartazes, ficando cada vez mais animados. Resultado: trabalhando uma vez por semana, à noite, e só por duas horas, eles conseguiriam estar na Feira do Livro no mês de novembro, sete meses após o início do trabalho. Foram feitas apresentações em escolas públicas e particulares, onde os meninos passaram a ser artistas, dando até autógrafos e entrevistas para os jornais dos colégios. Eles participaram de algumas edições da Feira do Livro, do FORUMzinho Social Mundial, de cursos de extensão na UFRGS e na ULBRA, e de eventos variados, como por exemplo as feiras do livro das escolas. Em 2003, durante o II FORUMzinho Social Mundial, os mesmo grupo de voluntários organizou o I Encontro Internacional de Contadores de História, para o qual vieram contadores de histórias de várias partes do mundo e de muitos estados do Brasil. Para fazer a abertura dos dois eventos – o FORUMzinho e o Encontro de Contadores – foi montada uma peça infantil – "Uma Viagem pelas Histórias" - que foi um sucesso, contando com um público de aproximadamente mil pessoas na abertura. Essa peça transformou-se em um dos projetos da CATAVENTUS. A missão da Cataventus é promover, nas áreas da EDUCAÇÃO e da ASSISTÊNCIA SOCIAL, o acesso e o incentivo à leitura e, especialmente, a inclusão social e cultural de crianças e jovens, preferencialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social, bem como de Portadores de Necessidades Especiais e de integrantes da terceira idade, através da contação de histórias, de forma ética, socialmente responsável e sustentável. Projetos da Cataventus:
  • 23. a) Projeto “Roda de Histórias” Objetivo: Promover o acesso e o interesse pela leitura. Público-alvo: Escolas públicas, privadas, hospitais e instituições de apoio a crianças e jovens, a Portadores de Necessidades Especiais e a idosos. Descrição: Projeto constituído por uma sequência de histórias, apresentadas em 45 minutos, com diversos temas, e que pode ser adaptada à faixa etária e ao contexto do evento. b) Projeto “Conte Outra Vez...” Objetivo: despertar em pessoas em situação de vulnerabilidade social o interesse pela leitura. Público-alvo: Instituições de apoio a jovens em situação de risco social, e comunidades em geral. Descrição: Atividade formativa que visa a despertar em jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social o interesse pela leitura, resgatando sua autoestima e formando um grupo de contadores de histórias. c) Projeto “Te Liga na História!” Objetivo: esclarecer, informar e auxiliar o público em áreas de prevenção por meio de histórias. Público-alvo: crianças, adolescentes ou adultos. Descrição: Contação de histórias sobre temas específicos, com o objetivo de informar e auxiliar o público em áreas de prevenção, tais como saúde bucal, higiene, alimentação, meio ambiente, reciclagem. As histórias para adolescentes são contadas em linguagem atraente, utilizando-se de uma identificação positiva com os personagens. d) Projeto “Uma Viagem pelas Histórias”
  • 24. Objetivo: Popularizar a dramatização de contos atuais, lendas e fábulas. Público-alvo: Escolas de ensino fundamental, públicas e privadas, e comunidade. Descrição: Peça infantil de uma hora de duração, com vinte voluntários interpretando personagens de contos de fadas, lendas e fábulas. e) Projeto “AgitAção” Objetivo: Contribuir para a formação de uma nova e real consciência, que abranja a integridade ecológica, a justiça social, a valorização da educação e da saúde, e a defesa dos direitos de todos os seres vivos, facilitando ao homem interagir adequadamente com seu meio ambiente para a conservação da vida no planeta, incluindo a sua própria e a de seus semelhantes. Público-alvo: Alunos de escolas carentes e comunidade. Descrição: Projeto em parceria com outras instituições. Oficinas e atividades diversas (ex.: educação ambiental, saúde bucal, reciclagem) e contação de histórias nas escolas, atendendo a todas as faixas etárias, incluindo pais. f) Projeto: Juventude em Ação Objetivo: Promover a conscientização de adolescentes, estudantes de escolas pública, sobre temas como sexualidade, planejamento familiar, ética, valores, DSTs, drogadição, alcoolismo, conflitos sociais, entre outros, através de dinâmicas culturais que propiciarão o ambiente acolhedor á manifestação dos sentimentos e emoções e a resignificação da cidadania, através do reconhecimento do protagonismo dos jovens e de sua condição de agentes de mudanças sociais. Público-beneficiário: Jovens estudantes de 5ª a 8ª séries, ambos os sexos, de 08 escolas públicas de Porto Alegre. Descrição: É desenvolvido de jovens para jovens, falando de forma divertida, mas seriamente, sobre temas que são importantes nessa fase, como sexualidade, planejamento familiar, ética, valores, DSTs, drogadição, alcoolismo, conflitos sociais, entre outros, tem um profundo significado e uma forte carga de cidadania, através de esquetes teatrais, debates e oficinas de música, expressão corporal,
  • 25. dramatização, dinâmicas de improvisação, jogos de recreação e exercícios com simulação de deficiências vividas por jovens portadores de necessidades especiais. g) Projeto: Tem Educação na Contação Objetivo: Capacitar o público-beneficiário para o uso da contação de histórias como instrumento de promoção do hábito da leitura, da qualificação da educação e inclusão social. Público-beneficiário: Professores das redes públicas municipal e estadual do RS e lideranças comunitárias locais, de ambos os sexos, da capital e interior do estado do RS. Descrição: Através de oficinas de capacitação em contação de histórias e da criação de um grupo virtual de contadores de histórias este projeto visa contribuir a melhoria na qualidade da educação e na instrumentalização de educadores e lideranças comunitárias locais, que tem no seu dia-a-dia o grande desafio de promover a inclusão social e a cidadania através da educação formal e não-formal, que são portas de entrada para o conhecimento e fornecem condições para o desenvolvimento cultural dos indivíduos. h) Projeto “Pílula Mágica” Objetivo: Levar uma "pílula" lúdica para crianças hospitalizadas. Público-alvo: Pacientes de hospitais, espaços de saúde. Descrição: Contação de histórias em leitos, salas de recreação hospitalares, UTIs. i) Projeto “JardinAção” Objetivo: Conscientizar da responsabilidade com nosso planeta. Público-alvo: Comunidade em geral.
  • 26. Descrição: Um evento em rede, com atividades múltiplas ao ar livre, em parceria com o Jardim Botânico. Este evento tem duas edições por ano, no aniversário de Porto Alegre em março e no aniversário do Jardim Botânico em setembro. j) Projeto “Forinho” Objetivo: Atender as crianças junto ao Fórum Social. Público-alvo: Com foco em crianças, adolescentes. Descrição: Atividades das mais diversas (contação de histórias, oficinas, teatro de bonecos, atrações artísticas entre outras) e com muitos parceiros durante 6 dias. 4) CHALÉ DA CULTURA – GHC Fonte: www.ghc.com.br A coordenadora do grupo de Contação de Histórias do Grupo Hospitalar Conceição, Margareth Jackle, define a contação de histórias como uma troca de experiências, uma vez que essa iniciativa é desenvolvida por equipes da instituição, bem como por grupos independentes, que atuam em diversos hospitais e unidades de saúde de Porto Alegre. A atividade é uma proposta de atenção destinada às crianças em momentos que propõem a vivência do lúdico. Existe a importância de se estabelecer um vínculo com a infância dos pacientes internados no Hospital Criança Conceição (HCC), especialmente na UTI, pois o ambiente hospitalar acaba dificultando esse processo. A contação de histórias é capaz de promover e incentivar a imaginação dessas crianças, algumas delas internadas há anos, é fundamental para a recuperação.
  • 27. Somos uma equipe que tem o propósito de unir a magia da contação de histórias com a magia da arte.... Contar histórias e levar as pessoas ao mundo da imaginação.... Fazer materiais de contação e levar pessoas ao mundo da fantasia.... Sair da vida cotidiana e ir para o sonho, tudo isto com a dose certa da realidade misturada a muito bom humor. 5) PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA (PSE) O Programa Saúde na Escola (PSE), política intersetorial da Saúde e da Educação, foi instituído em 2007. As políticas de saúde e educação voltadas às crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira se unem para promover saúde e educação integral. A articulação intersetorial das redes públicas de saúde e de educação e das demais redes sociais para o desenvolvimento das ações do PSE implica mais do que ofertas de serviços num mesmo território, pois deve propiciar a sustentabilidade das ações a partir da conformação de redes de corresponsabilidade. Implica colocar em questão: como esses serviços estão se relacionando? Qual o padrão comunicacional estabelecido entre as diferentes equipes e serviços? Que modelos de atenção e de gestão estão sendo produzidos nesses serviços? A articulação entre Escola e Rede Básica de Saúde é à base do Programa Saúde na Escola. O PSE é uma estratégia de integração da saúde e educação para o desenvolvimento da cidadania e da qualificação das políticas públicas brasileiras. Sua sustentabilidade e qualidade dependem de todos nós! Este programa também cria possibilidades para a utilização da contação de histórias, especialmente pelas equipes de saúde da Atenção Básica.
  • 28. CONCLUSÃO Contação de histórias é uma importante ferramenta no processo de saúde, educação e inclusão social, pois, além de contar com a criatividade, a oralidade e o pensamento do contador é possível ainda trabalhar com o mecanismo da construção da identidade do ouvinte que abre uma estrada para novos horizontes nas diversas disciplinas. O contador precisa sentir a história, ser capaz de emocionar e emocionar os outros, a narrativa deve ser mais atraente é importante valer-se de diversos recursos para prender a atenção dos ouvintes e conseguir passar todas as práticas para o desenvolvimento na ação de promoção e prevenção por meio de histórias, para esclarecer informar e auxiliar a conscientização de adolescentes, crianças, adultos e idosos. Enfim fornecer condições para o desenvolvimento cultural dos indivíduos.
  • 29. REFERÊNCIAS: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5. Ed. São Paulo: Scipione; 2005. ASSOCIAÇÃO VIVA E DEIXE VIVER. Disponível em http://www.vivaedeixeviver.org.br . Acesso em 08 de dezembro de 2014. BEZERRA, Max Daniel. Teatro de Sombras e sua origem. Blog do professor Max. Disponível em http://maxdanielartes.blogspot.com.br/2012/10/generos-teatrais-teatro- de-sombras.html . Acesso em 08 de dez de 2014. CACCIOLARI, Neide Aparecida. A Importância da Contação de Histórias para o futuro da Leitura Literária no século XXI: Cibercultura, Literatura, Escola e Novas Tecnologias – Uma Ponte Necessária. Diálogo e Interação. volume 2 (2009) - ISSN 2175-3687. Disponível em: http://www.faccrei.edu.br/dialogoeinteracao Acesso em 01 de dez. 2014. CATAVENTUS. Ação de Integração Social e Cultural. Disponível em: http://www.cataventus.org.br Acesso em: 08 de dez. de 2014. COENTRO,V. S. A arte de contar histórias e letramento literário: caminhos possíveis. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2008. 196f. GARCIA, Silvia Craveiro Gusmão. Leitura e contação de Histórias. Um exercício imaginário. (2012). Disponível em: http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem15 COLE_3642.pdf. Acesso em: 02/12/2014. HELBINHA. Contação de Histórias. Disponível em: http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Conta%C3%A7%C3%A3o-De- Hist%C3%B3ria/563406.html Acesso em 08 de dez. 2014.
  • 30. MARTINS, A.K.L.; NUNES, J.M.; NÓBREGA, M.F.B.; PINHEIRO, P.N.C.; SOUZA, A.M.A.; VIEIRA, N.F.C. FERNANDES, A.F.C. Literatura de cordel: tecnologia de educação para saúde e enfermagem. Rev. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, abr/jun; v.19, n.2, p. 324-9, 2011. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v19n2/v19n2a25.pdf MENEGHEL, Stela Nazareth; IÑIGUEZ, Lupicínio. “Contadores de histórias: práticas discursivas e violência de gênero”. Cad. Saúde Pública, v. 23, n. 8, p. 1815- 1824, ago. 2007. MURRAY, Janet H. HAMLET NO HOLODECK - O futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Unesp e Itaú Cultural, 2003. Disponível em http://ebook.stepor.com/book/hamlet-on-the-holodeck-the-future-of-narrative-in-cyberspace- 20102-pdf.html. Acesso em 04 de dez. 2014 OTTE, M.W e KOVÁCS, A. A magia de contar histórias. Instituto Catarinense de Pós-Graduação – www.icpg.com.br. Acesso em 02 de dez. 2014. PAGLIUCA, L.M.F.; OLIVEIRA, P.M.P.; REBOUCAS, C.B.A.; GALVAO, M.T.G. Literatura de cordel: veículo de comunicação e educação em saúde. Texto contexto - enferm. , vol.16, n.4, p. 662-670, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v16n4/a10v16n4.pdf PATRINI, M. de L. A renovação do conto: emergência de uma prática oral. São Paulo: Cortez, 2005. PROGRAMA CONTAÇÃO DE HISTÒRIAS UFCSPA. Disponível em: http://www.ufcspa.edu.br/index.php/programas-e-projetos/376-contacao-de-historias- em-ambiente-hospitalar-a-capacitacao-do-profissional-da-saude. Acesso em: 08 de dez. de 2014. RAMOS, Ana Cláudia, Contação de Histórias: um caminho para a formação de leitores? Dissertação de Mestrado da Universidade Estadual de Londrina: Londrina, 2011.
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