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FORMAS NARRATIVAS FÍLMICAS E O
OLHAR DO PERSONAGEM: CINEMA E
CRÍTICA SOCIAL EM A HORA DA ESTRELA
Anderson Paes Barretto
Programa de Pós-graduação em
Comunicação
PPGCOM - UFPE
INTRODUÇÃO
Browne (2004) recomenda que a percepção visual cinematográfica esteja
vinculada, ao mesmo tempo, ao olhar do narrador e ao olhar do espectador.
Ao analisar o clássico No tempo das diligências, (John Ford, 1939), Browne
propõe entender não apenas a maneira como os personagens veem uns aos
outros, mas também o modo como essas relações são transmitidas ao
espectador, de forma que ele esteja posicionado dentro do texto fílmico.
ANÁLISE FÍLMICA
É necessário haver uma vinculação do
“estado mental” de um personagem,
suas intenções e atitudes, a uma
interpretação do enquadramento em
si.
Ou seja, é preciso que cada sequência
de planos em cada pedaço de cena
estejam de alguma maneira associados
à atenção (visual ou intencional) dos
personagens na história.
LUCY E DALLAS
“Ocupamos formalmente o
lugar de outro, estamos “no”
filme, embora ao mesmo
tempo estejamos “fora”, em
nossa poltrona”
(BROWNE, 2004, p. 241).
OBJETIVO
Este artigo visa compreender a
maneira através da qual os
elementos formais do cinema
(enquadramentos, planos,
posicionamento dos personagens,
direção de seus olhares em cena)
contribuem para narrativa fílmica
de modo a permitir leituras
diversas, implícitas ou não.
METODOLOGIA
Para a análise fílmica, adotamos
uma aproximação como modelo
proposto por Nick Browne,
utilizando como objeto, no nosso
caso, o filme A Hora da Estrela,
adaptação cinematográfica da
obra de Clarice Lispector,
realizada pela cineasta Suzana
Amaral em 1985.
MACABÉA
Uma jovem de 19 anos, miserável
e inocente ao extremo.
Representa o perfil dos migrantes
nordestinos da década de 1970,
perdidos na “civilização” e imersos
na paisagem urbana e caótica das
grandes cidades “em
desenvolvimento”.
Ela era incompetente.
Incompetente para a vida. [...]
Só vagamente tomava
conhecimento da espécie de
ausência que tinha de si em si
mesma. Se fosse criatura que se
exprimisse diria: o mundo é fora
de mim, eu sou fora de mim
(LISPECTOR, 2008, p.24).
Ela era incompetente.
Incompetente para a vida. [...]
Só vagamente tomava
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ausência que tinha de si em si
mesma. Se fosse criatura que se
exprimisse diria: o mundo é fora
de mim, eu sou fora de mim
(LISPECTOR, 2008, p.24).
CENA 1 - GLÓRIA
Na cena, Macabéa chega ao
trabalho após ter faltado no dia
anterior. Glória, esperta, percebe
o batom que a jovem usa pela
primeira vez e pergunta, de longe,
o que aconteceu.
Glória está num nível do piso
superior a olhar Macabéa de
cima, elevando a voz como uma
chefe que não era, enquanto a
moça responde um simples “nada”.
CENA 1
– Nada, é? Ontem você falta, hoje
me chega com a boca pintada. O
que aconteceu? Me conta!
– Ontem eu conheci um moço. Ele é
lá da Paraíba. Ele é metalúrgico.
– Como é o nome dele?
– Num sei. Num falou.
– Você não perguntou o nome
dele? Mas você é tonta, hein? Você
é tonta! (AMARAL, 1985).
CENA 1
Enquanto Macabéa veste roupas
opacas que quase se confundem com o
cenário escuro, sujo e desbotado do
escritório, a sua colega está com uma
roupa clara que contrasta com o
ambiente.
No enquadramento em que ambas
aparecem, há uma luz de destaque nos
cabelos loiros de Glória, em seu rosto,
num plano próximo, enquanto
Macabéa é praticamente uma sombra
escura e fora de foco.
CONTRASTES
CENA 2 - OLÍMPICO
– Eu quero lhe dizer uma coisa. Eu
quero lhe dizer que o nosso
namoro acabou. Eu encontrei outra
moça, estou apaixonado.
Macabéa, você é um cabelo na
minha sopa. Num dá vontade de
comer. Me desculpe se eu lhe
ofendi, mas estou sendo sincero.
– Vá embora, vai.
(AMARAL, 1985).
CENA 2
A todo instante, nesta sequência,
Macabéa e Olímpico estão no
mesmo enquadramento, entretanto,
o rapaz fica em primeiro plano.
O close em Macabéa só acontece
quando Olímpico sai de cena.
CENA 3 - CARLOTA
A cartomante vê o futuro da moça
sem futuro.
Carlota é um oposto de Macabéa,
mais velha e experiente, esperta e
com roupas e jóias de grã-fina.
O cenário da casa da madame
destoa do mundo desbotado,
manchado e sujo de Macabéa.
CENA 3
Macabéa, quando posicionada
perto de outro personagem, não
costumava ser enquadrada
frontalmente ou em primeiro plano.
No entanto, nesta cena, isso
finalmente acontece.
“Macabeazinha...”
Aproximação da hora da estrela.
CENA 3
Em seu momento místico, a
cartomante, a única personagem a
achar bonito o nome Macabéa,
comunica à moça a chegada de
um futuro próspero, em que um
namorado rico irá fazê-la feliz.
Macabéa sorri como nunca antes.
CENA 3
Macabéa é enquadrada e
posicionada frontalmente, dentro do
foco e da luz, como se tivesse
finalmente a autoridade de conduzir a
narrativa fílmica por meios dos
aspectos formais das imagens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Macabéa
Clarice Lispector
Macabéa
Suzana Amaral
Denúncia e
crítica social
Paralinguagem e
Mise-en-scène
Aspectos formais
narrativos
REFERÊNCIAS
AMARAL, Suzana. A Hora da Estrela, 1985. Brasil. Filme. Cor. 135min.
BROWNE, Nick. O espectador-no-texto: a retórica de No Tempo das
Diligências. In: RAMOS, Fernão (org.) Teoria contemporânea do Cinema.
Volume II Documentário e narratividade ficcional. São Paulo: Senac, 2004. p.
229-249.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 24 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
MUITO OBRIGADO!
andersonpbarretto@gmail.com

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Cinema e crítica social em A Hora da Estrela

  • 1. FORMAS NARRATIVAS FÍLMICAS E O OLHAR DO PERSONAGEM: CINEMA E CRÍTICA SOCIAL EM A HORA DA ESTRELA Anderson Paes Barretto Programa de Pós-graduação em Comunicação PPGCOM - UFPE
  • 2. INTRODUÇÃO Browne (2004) recomenda que a percepção visual cinematográfica esteja vinculada, ao mesmo tempo, ao olhar do narrador e ao olhar do espectador. Ao analisar o clássico No tempo das diligências, (John Ford, 1939), Browne propõe entender não apenas a maneira como os personagens veem uns aos outros, mas também o modo como essas relações são transmitidas ao espectador, de forma que ele esteja posicionado dentro do texto fílmico.
  • 3. ANÁLISE FÍLMICA É necessário haver uma vinculação do “estado mental” de um personagem, suas intenções e atitudes, a uma interpretação do enquadramento em si. Ou seja, é preciso que cada sequência de planos em cada pedaço de cena estejam de alguma maneira associados à atenção (visual ou intencional) dos personagens na história.
  • 4. LUCY E DALLAS “Ocupamos formalmente o lugar de outro, estamos “no” filme, embora ao mesmo tempo estejamos “fora”, em nossa poltrona” (BROWNE, 2004, p. 241).
  • 5. OBJETIVO Este artigo visa compreender a maneira através da qual os elementos formais do cinema (enquadramentos, planos, posicionamento dos personagens, direção de seus olhares em cena) contribuem para narrativa fílmica de modo a permitir leituras diversas, implícitas ou não.
  • 6. METODOLOGIA Para a análise fílmica, adotamos uma aproximação como modelo proposto por Nick Browne, utilizando como objeto, no nosso caso, o filme A Hora da Estrela, adaptação cinematográfica da obra de Clarice Lispector, realizada pela cineasta Suzana Amaral em 1985.
  • 7. MACABÉA Uma jovem de 19 anos, miserável e inocente ao extremo. Representa o perfil dos migrantes nordestinos da década de 1970, perdidos na “civilização” e imersos na paisagem urbana e caótica das grandes cidades “em desenvolvimento”.
  • 8. Ela era incompetente. Incompetente para a vida. [...] Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma. Se fosse criatura que se exprimisse diria: o mundo é fora de mim, eu sou fora de mim (LISPECTOR, 2008, p.24).
  • 9. Ela era incompetente. Incompetente para a vida. [...] Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma. Se fosse criatura que se exprimisse diria: o mundo é fora de mim, eu sou fora de mim (LISPECTOR, 2008, p.24).
  • 10. CENA 1 - GLÓRIA Na cena, Macabéa chega ao trabalho após ter faltado no dia anterior. Glória, esperta, percebe o batom que a jovem usa pela primeira vez e pergunta, de longe, o que aconteceu. Glória está num nível do piso superior a olhar Macabéa de cima, elevando a voz como uma chefe que não era, enquanto a moça responde um simples “nada”.
  • 11. CENA 1 – Nada, é? Ontem você falta, hoje me chega com a boca pintada. O que aconteceu? Me conta! – Ontem eu conheci um moço. Ele é lá da Paraíba. Ele é metalúrgico. – Como é o nome dele? – Num sei. Num falou. – Você não perguntou o nome dele? Mas você é tonta, hein? Você é tonta! (AMARAL, 1985).
  • 12. CENA 1 Enquanto Macabéa veste roupas opacas que quase se confundem com o cenário escuro, sujo e desbotado do escritório, a sua colega está com uma roupa clara que contrasta com o ambiente. No enquadramento em que ambas aparecem, há uma luz de destaque nos cabelos loiros de Glória, em seu rosto, num plano próximo, enquanto Macabéa é praticamente uma sombra escura e fora de foco.
  • 14. CENA 2 - OLÍMPICO – Eu quero lhe dizer uma coisa. Eu quero lhe dizer que o nosso namoro acabou. Eu encontrei outra moça, estou apaixonado. Macabéa, você é um cabelo na minha sopa. Num dá vontade de comer. Me desculpe se eu lhe ofendi, mas estou sendo sincero. – Vá embora, vai. (AMARAL, 1985).
  • 15. CENA 2 A todo instante, nesta sequência, Macabéa e Olímpico estão no mesmo enquadramento, entretanto, o rapaz fica em primeiro plano. O close em Macabéa só acontece quando Olímpico sai de cena.
  • 16. CENA 3 - CARLOTA A cartomante vê o futuro da moça sem futuro. Carlota é um oposto de Macabéa, mais velha e experiente, esperta e com roupas e jóias de grã-fina. O cenário da casa da madame destoa do mundo desbotado, manchado e sujo de Macabéa.
  • 17. CENA 3 Macabéa, quando posicionada perto de outro personagem, não costumava ser enquadrada frontalmente ou em primeiro plano. No entanto, nesta cena, isso finalmente acontece. “Macabeazinha...” Aproximação da hora da estrela.
  • 18. CENA 3 Em seu momento místico, a cartomante, a única personagem a achar bonito o nome Macabéa, comunica à moça a chegada de um futuro próspero, em que um namorado rico irá fazê-la feliz. Macabéa sorri como nunca antes.
  • 19. CENA 3 Macabéa é enquadrada e posicionada frontalmente, dentro do foco e da luz, como se tivesse finalmente a autoridade de conduzir a narrativa fílmica por meios dos aspectos formais das imagens.
  • 20. CONSIDERAÇÕES FINAIS Macabéa Clarice Lispector Macabéa Suzana Amaral Denúncia e crítica social Paralinguagem e Mise-en-scène Aspectos formais narrativos
  • 21. REFERÊNCIAS AMARAL, Suzana. A Hora da Estrela, 1985. Brasil. Filme. Cor. 135min. BROWNE, Nick. O espectador-no-texto: a retórica de No Tempo das Diligências. In: RAMOS, Fernão (org.) Teoria contemporânea do Cinema. Volume II Documentário e narratividade ficcional. São Paulo: Senac, 2004. p. 229-249. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 24 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.