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EXAME DO APARELHO CARDIOVASCULAR                      Vitor Amaral Gonçalves – Medicina – SEMIOLOGIA - 4º período – 2011.2


1. Inspeção e palpação do precórdio:                                                    -Foco pulmonar: 2º EIE justaesternal. Nesse foco verifica-se o desdobramento
                                                                                        da 2ª bulha pulmonar (fisiológico ou patológico).
Devem ser realizados simultaneamente. Devem ser analisados: pesquisa de
abaulamentos, análise do ictus cordis, análise de batimentos visíveis ou pal-           -Outras regiões de ausculta: bordas esternais, mesocárdio, regiões infra e
páveis e pesquisa de frêmito cardiovascular.                                            supra-claviculares e regiões laterais do pescoço.

1.1. Pesquisa de abaulamentos:                                                          2.2. Bulhas cardíacas:

Deve ser visto em duas incidências: tangencial (no lado direito) e frontal (nos
pés do paciente). Abaulamentos podem indicar cardiomegalia, derrame peri-
cárdico, aneurisma da aorta. É principalmente a dilatação do VD que provoca
abaulamentos precordiais. O abaulamento “não-cardíaco” é diferenciado pela
não impulsão do precórdio.

1.2. Ictus cordis:

Devem ser analisados: localização, extensão, mobilidade, intensidade, forma
da impulsão, ritmo e freqüência.

A localização é comum no 5º EIE na LHC e corresponde a 1-2 polpas digitais
(aumenta em casos de hipertrofia do VE). Pode não palpável em pacientes
com DPOC. O deslocamento indica dilatação e/ou hipertrofia do VE, comum
na estenose aórtica, insuficiência aórtica, hipertensão arterial, miocardioes-
clerose, miocardiopatias, cardiopatias congênitas, etc. O ictus não se desloca
em casos de sínfise pericárdica. Pode aumentar de intensidade com exercício,
hipertrofia do VE, insuficiência aórtica, hipertireoidismo, etc. O ritmo de
galope é facilmente reconhecido pela palpação.
                                                                                        - Primeira bulha (B1): Fechamento das valvas atrioventriculares (mitral e tri-
Quando o ictus é >3-4 polpas digitais, diz-se que é difuso (dilatação do VE).           cúspide), com o componente mitral antecedendo o tricúspide. Coincide com
Quando levanta a mão espalmada, diz-se que é propulsivo (hipertrofia do VE).            o ictus cordis e com o pulso carotídeo.

1.3. Batimentos ou movimentos:                                                          - Segunda bulha (B2): Fechamento das valvas aórtica e pulmonar. Ausculta-
                                                                                        se apenas o componente aórtico, com exceção do foco pulmonar (compo-
Além do ictus, podem ser encontrados: retração sistólica apical (hipertrofia do         nente pulmonar). Durante a inspiração, onde ocorre prolongamento da
VD), impulsão sistólica do precórdio (hipertrofia do VD), choques valvares              sístole do VD, observa-se o desdobramento fisiológico de B2.
(bulhas cardíacas palpáveis), pulsações na fúrcula esternal (normal, HAS,
insuficiência aórtica, etc.) e pulsação epigástrica.                                    - Terceira bulha (B3): É um ruído protodiastólico de baixa freqüência que se
                                                                                        origina do enchimento ventricular rápido. Comumente é normal em crianças
                                                                                        e adultos jovens.
A pulsação epigástrica pode ser normal, ou indicar hipertrofia do VD. Outra
causa é o pulso hepático, que pode ser causado por estenose tricúspide                  - Quarta bulha (B4): É um ruído telediastólico que ocorre pelo impacto do
(pulsação pré-sistólica) ou insuficiência tricúspide (pulsação sistólica).              sangue proveniente do átrio com o do ventrículo. É normal em crianças e
                                                                                        adultos jovens.
1.4. Frêmito cardiovascular:
                                                                                        2.3. Ritmo e freqüência cardíaca:
São vibrações produzidas no coração ou nos grandes vasos. Quando encon-
trado, devem ser analisados: localização (utilizando-se os focos de ausculta),          O ritmo pode ser em dois tempos (TUM-TA, TUM-TA) ou em três tempos/
situação no ciclo cardíaco (sistólico, diastólico, sistodiastólico) e intensidade       tríplice (TUM-TA-TU, TUM-TA-TU). A freqüência cardíaca varia de 60-100bpm,
(+ a ++++). Correspondem aos sopros.                                                    sendo bradicardia <60 e taquicardia >100.

2. Ausculta cardíaca:                                                                   2.4. Alterações das bulhas cardíacas:

É o principal meio de examinar a região precordial. Devem ser analisados:               2.4.1. Alterações da primeira bulha (B1):
bulhas cardíacas, ritmo e freqüência cardíaca, ritmos tríplices, alterações das
bulhas cardíacas, cliques ou estalidos, sopros e outros ruídos.
                                                                                        -Intensidade: Avalia-se nos focos mitral e tricúspide. O principal fator que
                                                                                        influi na intensidade é a posição dos folhetos no instante da contração
Localização dos fenômenos estetoacústicos: protossístole, mesossístole,                 ventricular. A hiperfonese ocorre em situações que levam à diminuição do
telessístole, protodiástole, mesodiástole, telediástole (pré-sístole).                  enchimento ventricular (taquicardia, hipertireoidismo, extra-sístoles), aumen-
                                                                                        to a pressão atrial (estenose mitral), fibrose valvar. A hipofonese ocorre nas
2.1. Focos de ausculta:                                                                 miocardiopatias, ICC, IAM, calcificações valvares, choque cardiogênico.

-Foco mitral: 5º EIE na LHC, correspondendo ao ictus cordis.                            -Timbre e tonalidade: Na estenose mitral, ocorre fibrose valvar com ruídos
                                                                                        mais intensos e de timbre metálico.
-Foco tricúspide: Base do processo xifóide. Durante a inspiração ocorre
aumento da intensidade de sopros de origem tricúspide.                                  -Desdobramento: É fisiológico em crianças e jovens. Aparece nos bloqueios de
                                                                                        ramo direito, retardando o fechamento da tricúspide (TLUM-TA, TLUM-TA).
-Foco aórtico: 2º EID justaesternal. O melhor local de ausculta, entretanto, é
no 3º-4º EIE justaesternal (foco aórtico acessório).                                    -Mascaramento: Ocorre nos sopros sistólicos de regurgitação.




                                                                                                          EXAME DO APARELHO CARDIOVASCULAR – Vitor Amaral Gonçalves
2.4.2. Alterações da segunda bulha (B2):                                                          2.6.3. Intensidade:

-Intensidade: Avalia-se nos focos aórtico e pulmonar. A posição das valvas no                     (+): Sopros que só são audíveis em locais silenciosos e com atenção.
início de seu fechamento é o principal fator (quanto maior a distância, maior o
ruído). Ocorre hiperfonese nas condições que aumentam o débito cardíaco                           (++): Sopros de intensidade moderada.
(persistência do canal arterial, CIA) e nas hipertensões arteriais sistêmica e
pulmonar. Hipofonese ocorre quando há diminuição do débito (estenose                              (+++): Sopros intensos.
aórtica, estenose pulmonar, miocardiopatias) e calcificações valvares.
                                                                                                  (++++): Sopros muito intensos, mesmo quando se afasta o estetoscópio.
-Desdobramento: Quando constante (TUM-TLA, TUM-TLA) pode ser por blo-
queio de ramo direito ou por estenose pulmonar. É fisiológico durante a
                                                                                                  2.6.4. Timbre e tonalidade:
inspiração.
                                                                                                  Os mais comuns são: suave, rude, musical, aspirativo (IAo), em jato de vapor,
2.4.3. Alterações da terceira e quarta bulhas (B3 e B4):
                                                                                                  granuloso (estenose aórtica), piante e ruflar (estenose mitral).
Podem ser normais como citado acima. B3 é patológica em casos de insu-
                                                                                                  2.6.5. Modificações do sopro:
ficiência mitral, miocardiopatias, CIA, CIV, PCA. B4 é patológica nas situações
que diminuem a complacência ventricular (estenose aórtica, estenose
pulmonar, hipertensão arterial, miocardiopatias hipertróficas, etc.).                             -Com a respiração: Utiliza-se a manobra de Rivero-Carvalho, que diferencia o
                                                                                                  sopro da insuficiência tricúspide (aumenta com a inspiração) da insuficiência
                                                                                                  mitral (não se modifica). Quando modifica, diz-se +.
2.5. Cliques e estalidos:
                                                                                                  -Com a posição do paciente: aumentam de intensidade os sopros da base
Podem ser classificados em sistólicos e diastólicos. Os estalidos diastólicos
                                                                                                  (posição sentada), estenose mitral (decúbito lateral esquerdo) e diminuem no
podem ocorrer nas estenoses das valvas mitral (estalido intenso, seco, de
                                                                                                  rumor venoso (decúbito dorsal).
curta duração; TUM-TA-TÉ) e tricúspide (audível na borda esternal esquerda).
Os estalidos protossistólicos são de origem vascular (pulmonar e aórtico;
TUM-TÉ-TA). Os meso e telessistólicos ocorrem nas bridas pericárdicas, pleu-                      -Com o exercício: aumenta a velocidade sanguínea e o sist. adrenérgico.
ropericárdicas e prolapso da valva mitral.
                                                                                                  2.7. Atrito pericárdico:
2.6. Sopros cardiovasculares:
                                                                                                  A causa mais comum é a pericardite fibrinosa, não coincide com nenhuma
São sons produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo san-                         fase do ciclo cardíaco, é auscultado entre o ictus e a borda esternal esquerda,
guíneo. Podem aparecer por: aumento da velocidade da corrente sanguínea                           não se irradia, tem ruído característico e pode se modificar com freqüência.
(exercício, febre, anemia), diminuição da viscosidade do sangue (anemia),
passagem de sangue através de uma zona estreitada (estenoses valvares,
insuficiências valvares, CIA, CIV, PCA) e passagem de sangue para uma zona
dilatada (aneurismas).

As características semiológicas são: situação no ciclo cardíaco, localização,
irradiação, intensidade, timbre e tonalidade, modificação com a fase da
respiração, com a posição do paciente e com o exercício físico.

2.6.1. Situação no ciclo cardíaco:

       Sopros                                      Características

Sistólicos                  De ejeção: Aparece na estenose aórtica e estenose pulmonar. É
                            um sopro panssistólico. Cresce na protossístole, é máximo na
                            mesossístole e decresce na telessístole.
                            De regurgitação: Aparece na insuficiência mitral, insuficiência
                            tricúspide e CIV. Também é panssistólico, só que mascara B1.

Diastólicos                 Aparecem nas estenoses mitral e tricúspide e nas insuficiências
                            aórtica e pulmonar. Na estenose mitral, é mesossistólico, com
                            reforço na pré-sístole (contração atrial), de baixa freqüência, com
                            caráter de “ruflar”. Na insuficiência aórtica, podem ser pan-
                            diastólicos, de alta freqüência, com caráter “aspirativo”.

Contínuos                   Recobrem e mascaram B1 e B2. Aparecem na PCA, fístulas aterio-
                            venosas, anomalias dos septos aortopulmonares e rumor venoso.
                            Não devem ser confundidos com sistólicos + diastólicos.



2.6.2. Localização e irradiação:

Localiza-se um sopro na área em que ele é mais audível. Deve ser associada à
irradiação, para entendimento do local de origem.

Quando um sopro irradia-se para o pescoço, é indicativo de estenose aórtica.
Irradiação para a axila é indicativo de insuficiência mitral.




                                                                                                                     EXAME DO APARELHO CARDIOVASCULAR – Vitor Amaral Gonçalves

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EXAME CARDIOVASCULAR COMPLETO

  • 1. EXAME DO APARELHO CARDIOVASCULAR Vitor Amaral Gonçalves – Medicina – SEMIOLOGIA - 4º período – 2011.2 1. Inspeção e palpação do precórdio: -Foco pulmonar: 2º EIE justaesternal. Nesse foco verifica-se o desdobramento da 2ª bulha pulmonar (fisiológico ou patológico). Devem ser realizados simultaneamente. Devem ser analisados: pesquisa de abaulamentos, análise do ictus cordis, análise de batimentos visíveis ou pal- -Outras regiões de ausculta: bordas esternais, mesocárdio, regiões infra e páveis e pesquisa de frêmito cardiovascular. supra-claviculares e regiões laterais do pescoço. 1.1. Pesquisa de abaulamentos: 2.2. Bulhas cardíacas: Deve ser visto em duas incidências: tangencial (no lado direito) e frontal (nos pés do paciente). Abaulamentos podem indicar cardiomegalia, derrame peri- cárdico, aneurisma da aorta. É principalmente a dilatação do VD que provoca abaulamentos precordiais. O abaulamento “não-cardíaco” é diferenciado pela não impulsão do precórdio. 1.2. Ictus cordis: Devem ser analisados: localização, extensão, mobilidade, intensidade, forma da impulsão, ritmo e freqüência. A localização é comum no 5º EIE na LHC e corresponde a 1-2 polpas digitais (aumenta em casos de hipertrofia do VE). Pode não palpável em pacientes com DPOC. O deslocamento indica dilatação e/ou hipertrofia do VE, comum na estenose aórtica, insuficiência aórtica, hipertensão arterial, miocardioes- clerose, miocardiopatias, cardiopatias congênitas, etc. O ictus não se desloca em casos de sínfise pericárdica. Pode aumentar de intensidade com exercício, hipertrofia do VE, insuficiência aórtica, hipertireoidismo, etc. O ritmo de galope é facilmente reconhecido pela palpação. - Primeira bulha (B1): Fechamento das valvas atrioventriculares (mitral e tri- Quando o ictus é >3-4 polpas digitais, diz-se que é difuso (dilatação do VE). cúspide), com o componente mitral antecedendo o tricúspide. Coincide com Quando levanta a mão espalmada, diz-se que é propulsivo (hipertrofia do VE). o ictus cordis e com o pulso carotídeo. 1.3. Batimentos ou movimentos: - Segunda bulha (B2): Fechamento das valvas aórtica e pulmonar. Ausculta- se apenas o componente aórtico, com exceção do foco pulmonar (compo- Além do ictus, podem ser encontrados: retração sistólica apical (hipertrofia do nente pulmonar). Durante a inspiração, onde ocorre prolongamento da VD), impulsão sistólica do precórdio (hipertrofia do VD), choques valvares sístole do VD, observa-se o desdobramento fisiológico de B2. (bulhas cardíacas palpáveis), pulsações na fúrcula esternal (normal, HAS, insuficiência aórtica, etc.) e pulsação epigástrica. - Terceira bulha (B3): É um ruído protodiastólico de baixa freqüência que se origina do enchimento ventricular rápido. Comumente é normal em crianças e adultos jovens. A pulsação epigástrica pode ser normal, ou indicar hipertrofia do VD. Outra causa é o pulso hepático, que pode ser causado por estenose tricúspide - Quarta bulha (B4): É um ruído telediastólico que ocorre pelo impacto do (pulsação pré-sistólica) ou insuficiência tricúspide (pulsação sistólica). sangue proveniente do átrio com o do ventrículo. É normal em crianças e adultos jovens. 1.4. Frêmito cardiovascular: 2.3. Ritmo e freqüência cardíaca: São vibrações produzidas no coração ou nos grandes vasos. Quando encon- trado, devem ser analisados: localização (utilizando-se os focos de ausculta), O ritmo pode ser em dois tempos (TUM-TA, TUM-TA) ou em três tempos/ situação no ciclo cardíaco (sistólico, diastólico, sistodiastólico) e intensidade tríplice (TUM-TA-TU, TUM-TA-TU). A freqüência cardíaca varia de 60-100bpm, (+ a ++++). Correspondem aos sopros. sendo bradicardia <60 e taquicardia >100. 2. Ausculta cardíaca: 2.4. Alterações das bulhas cardíacas: É o principal meio de examinar a região precordial. Devem ser analisados: 2.4.1. Alterações da primeira bulha (B1): bulhas cardíacas, ritmo e freqüência cardíaca, ritmos tríplices, alterações das bulhas cardíacas, cliques ou estalidos, sopros e outros ruídos. -Intensidade: Avalia-se nos focos mitral e tricúspide. O principal fator que influi na intensidade é a posição dos folhetos no instante da contração Localização dos fenômenos estetoacústicos: protossístole, mesossístole, ventricular. A hiperfonese ocorre em situações que levam à diminuição do telessístole, protodiástole, mesodiástole, telediástole (pré-sístole). enchimento ventricular (taquicardia, hipertireoidismo, extra-sístoles), aumen- to a pressão atrial (estenose mitral), fibrose valvar. A hipofonese ocorre nas 2.1. Focos de ausculta: miocardiopatias, ICC, IAM, calcificações valvares, choque cardiogênico. -Foco mitral: 5º EIE na LHC, correspondendo ao ictus cordis. -Timbre e tonalidade: Na estenose mitral, ocorre fibrose valvar com ruídos mais intensos e de timbre metálico. -Foco tricúspide: Base do processo xifóide. Durante a inspiração ocorre aumento da intensidade de sopros de origem tricúspide. -Desdobramento: É fisiológico em crianças e jovens. Aparece nos bloqueios de ramo direito, retardando o fechamento da tricúspide (TLUM-TA, TLUM-TA). -Foco aórtico: 2º EID justaesternal. O melhor local de ausculta, entretanto, é no 3º-4º EIE justaesternal (foco aórtico acessório). -Mascaramento: Ocorre nos sopros sistólicos de regurgitação. EXAME DO APARELHO CARDIOVASCULAR – Vitor Amaral Gonçalves
  • 2. 2.4.2. Alterações da segunda bulha (B2): 2.6.3. Intensidade: -Intensidade: Avalia-se nos focos aórtico e pulmonar. A posição das valvas no (+): Sopros que só são audíveis em locais silenciosos e com atenção. início de seu fechamento é o principal fator (quanto maior a distância, maior o ruído). Ocorre hiperfonese nas condições que aumentam o débito cardíaco (++): Sopros de intensidade moderada. (persistência do canal arterial, CIA) e nas hipertensões arteriais sistêmica e pulmonar. Hipofonese ocorre quando há diminuição do débito (estenose (+++): Sopros intensos. aórtica, estenose pulmonar, miocardiopatias) e calcificações valvares. (++++): Sopros muito intensos, mesmo quando se afasta o estetoscópio. -Desdobramento: Quando constante (TUM-TLA, TUM-TLA) pode ser por blo- queio de ramo direito ou por estenose pulmonar. É fisiológico durante a 2.6.4. Timbre e tonalidade: inspiração. Os mais comuns são: suave, rude, musical, aspirativo (IAo), em jato de vapor, 2.4.3. Alterações da terceira e quarta bulhas (B3 e B4): granuloso (estenose aórtica), piante e ruflar (estenose mitral). Podem ser normais como citado acima. B3 é patológica em casos de insu- 2.6.5. Modificações do sopro: ficiência mitral, miocardiopatias, CIA, CIV, PCA. B4 é patológica nas situações que diminuem a complacência ventricular (estenose aórtica, estenose pulmonar, hipertensão arterial, miocardiopatias hipertróficas, etc.). -Com a respiração: Utiliza-se a manobra de Rivero-Carvalho, que diferencia o sopro da insuficiência tricúspide (aumenta com a inspiração) da insuficiência mitral (não se modifica). Quando modifica, diz-se +. 2.5. Cliques e estalidos: -Com a posição do paciente: aumentam de intensidade os sopros da base Podem ser classificados em sistólicos e diastólicos. Os estalidos diastólicos (posição sentada), estenose mitral (decúbito lateral esquerdo) e diminuem no podem ocorrer nas estenoses das valvas mitral (estalido intenso, seco, de rumor venoso (decúbito dorsal). curta duração; TUM-TA-TÉ) e tricúspide (audível na borda esternal esquerda). Os estalidos protossistólicos são de origem vascular (pulmonar e aórtico; TUM-TÉ-TA). Os meso e telessistólicos ocorrem nas bridas pericárdicas, pleu- -Com o exercício: aumenta a velocidade sanguínea e o sist. adrenérgico. ropericárdicas e prolapso da valva mitral. 2.7. Atrito pericárdico: 2.6. Sopros cardiovasculares: A causa mais comum é a pericardite fibrinosa, não coincide com nenhuma São sons produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo san- fase do ciclo cardíaco, é auscultado entre o ictus e a borda esternal esquerda, guíneo. Podem aparecer por: aumento da velocidade da corrente sanguínea não se irradia, tem ruído característico e pode se modificar com freqüência. (exercício, febre, anemia), diminuição da viscosidade do sangue (anemia), passagem de sangue através de uma zona estreitada (estenoses valvares, insuficiências valvares, CIA, CIV, PCA) e passagem de sangue para uma zona dilatada (aneurismas). As características semiológicas são: situação no ciclo cardíaco, localização, irradiação, intensidade, timbre e tonalidade, modificação com a fase da respiração, com a posição do paciente e com o exercício físico. 2.6.1. Situação no ciclo cardíaco: Sopros Características Sistólicos De ejeção: Aparece na estenose aórtica e estenose pulmonar. É um sopro panssistólico. Cresce na protossístole, é máximo na mesossístole e decresce na telessístole. De regurgitação: Aparece na insuficiência mitral, insuficiência tricúspide e CIV. Também é panssistólico, só que mascara B1. Diastólicos Aparecem nas estenoses mitral e tricúspide e nas insuficiências aórtica e pulmonar. Na estenose mitral, é mesossistólico, com reforço na pré-sístole (contração atrial), de baixa freqüência, com caráter de “ruflar”. Na insuficiência aórtica, podem ser pan- diastólicos, de alta freqüência, com caráter “aspirativo”. Contínuos Recobrem e mascaram B1 e B2. Aparecem na PCA, fístulas aterio- venosas, anomalias dos septos aortopulmonares e rumor venoso. Não devem ser confundidos com sistólicos + diastólicos. 2.6.2. Localização e irradiação: Localiza-se um sopro na área em que ele é mais audível. Deve ser associada à irradiação, para entendimento do local de origem. Quando um sopro irradia-se para o pescoço, é indicativo de estenose aórtica. Irradiação para a axila é indicativo de insuficiência mitral. EXAME DO APARELHO CARDIOVASCULAR – Vitor Amaral Gonçalves