1. Comemoraçãodo121ºAniversáriodeFerreiradeCastro–24demaio
Momento de Leitura por Ferreira de Castro
(1898 – 1974)
1928 - Emigrantes
(…) Numa bela manhã de primavera, Manuel Júlio dormia profundamente quando sua
mãe, Deolinda, o chamou:
- Manuel acorda!
Mas Manuel estava com muita preguiça. Quando a mãe lhe disse que iam ter com o
pai à estação, Manuel saltou da cama com rapidez e entusiasmo. Tinha muitas saudades
do pai.
Partiram para a estação de caminhos de ferro, situada em Oliveira de Azeméis.(…)
Enquanto esperavam por Afonso, sentados num banco de pedra cinza e frio, apareceu
Manuel da Bouça, avô de Manuel Júnior, pai de Deolinda.
Há bastante tempo que não se viam, pois desde que Afonso partira, Deolinda arranjara
emprego em Vale de Cambra e os horários não lhe permitiam visitar o seu pai.
Manuel vinha de casaco desabotoado, calças escuras e uma bengala na mão.
Cambaleava até eles e sentou-se num banco em frente à filha e ao neto.
Manuel Júnior apressou-se a cumprimentar o avô e sentou-se no seu colo, afagando-
lhe o rosto cansado e escuro, rosto de uma vida de trabalho ao tempo, rosto amargurado
de uma vida que não o presenteou.
Sentado no seu colo, Manuel aproveitava aquele momento para sorver o avô, como se
não o visse há já vários anos. Assim que na estação anunciaram a chegada de um
comboio oriundo de Lisboa, Manuel da Bouça começou a contar ao neto, a sua história
de vida.
Sabes Júnior, era primavera. Eu vivia numa aldeia em Ossela. Tratava das minhas
terras, sustento de toda a família, mas ainda assim era pouco dinheiro e a vida estava
cada vez mais difícil… Na ilusão de juntar dinheiro decidi emigrar para o Brasil na
esperança de voltar daí a cinco, seis anos, comprar uns terrenos e construir uma
moradia. Tudo para dar melhores condições de vida à tua mãe e a Amélia, tua avó.
Era analfabeto por isso qualquer um me enganava se eu não estivesse atento ou se
não pedisse ajuda.
Certo dia, enchi-me de coragem e disse à tua mãe e à tua avó que partiria para o
Brasil daí a poucos dias. Nem imaginas como elas ficaram… tristes, chorosas, achavam
que eu nunca mais voltaria. (…)
In Turma do 4º ano da EB1 de Areosa: Ano Letivo 2015/2016, Emigrantes, Chiado Editora, 2017,
pp.8-10.