O romance O último cais se passa em 1879 e conta a história de Marcos Vaz de Lacerda, um médico que viaja frequentemente deixando sua esposa Raquel e seus filhos na ilha da Madeira. O livro explora o papel das mulheres na época e mostra Raquel como uma mulher progressista. Raquel morre dando à luz sua filha Clara. Marcos se apaixona novamente por Luciana anos depois. O título se refere ao destino final de Marcos, que morre na cidade do Funchal.
1. Registo de Apresentação de Livros
O último cais
Por Ana Luísa Cota Mateiro da Silva, turma A do 12ºano
Ficha Técnica
Autor: Helena Marques
Título: o último cais
Editora: Leya
Ano de publicação: 1992
Data da 1ª edição BIS: Maio de 2009
Relatório de apresentação
Período de Leitura: Aproximadamente três semanas.
Apresentação geral do livro:
O último cais é um romance que se inicia em 1879 com o Diário de Bordo de Marcos
Vaz de Lacerda. Marcos era um médico-cirurgião que prestava serviço em navios, o que o
levava a quebrar as regras e deixar no Funchal por períodos largos a sua mulher Raquel e os
seus dois filhos, Benedita e André.
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2. Neste Romance a mulher tem um papel fundamental. Tem o dever de cuidar dos
filhos, gerir a família e a casa, adquirindo assim o papel central da narrativa. São abordadas
diferentes mulheres, sendo cada uma representante de um modelo de mulher da época,
nomeadamente:
Raquel: uma mulher de intervenção, defensora dos direitos das mulheres, feliz no
casamento apesar da ausência do marido. Morre aquando do nascimento da sua filha
Clara;
Constança: tia de Marcos, é uma senhora infeliz e solitária que fora enganada por um
homem com o qual se tivera casado;
Catarina Isabel: médica, o que na época era um escândalo enquanto profissão
feminina;
Benedita: filha mais velha de Raquel que tenta a todo o custo fazer parecer-se com a
mãe;
Charlotte: femininista que tenta convencer as mulheres a apelarem pelo direito ao
voto;
Clara: filha mais nova de Raquel, inocente e harmoniosa; Raquel morre quando ela
nasce;
Luciana: mulher pela qual Marcos se apaixona após a morte física de Raquel, uma
mulher demasiado avançada para a época em que vive.
Raquel é feliz na ilha, apesar da ausência do marido e do isolamento. O regresso de
Marcos é sempre um regresso muito ansiado por todos, pelo que nessa altura a casa é limpa a
fundo e é preparado um jantar de boas vindas.
No dia em que Marcos regressa de mais um tempo fora de casa, o casal tem uma
experiência amorosa única, tendo estes “ (…) ficado com a felicidade escrita em cada milímetro
da pele (…)”.
Marcos é destacado para mais uma viagem, desta vez até à Guiana Britânica, mas é-
lhe proposto pelos agentes que se faça acompanhar pela sua mulher, deste modo a tia
Constança aconselha que Raquel o acompanhe na viagem, e assim partem.
Dias passados, Marcos dá pela ausência de menstruação de Raquel de há já alguns
meses. É então que fica consciente de que terá mais um filho, o que não o agrada pois teme
pela vida de Raquel. Dessa gravidez nasce uma menina chamada Clara a pedido da mãe. Mas
aquando do nascimento de Clara, Raquel morre. Tivera passado dois dias em trabalho de
parto, as contracções processavam-se a bom ritmo mas a criança não descia. Após o esforço
do parto Raquel acabara por sucumbir em virtude de tamanho sofrimento.
Marcos regressa ao Funchal juntamente com Peregrina, ama de Clara, Clara e um
caixão, mas devido a uma doença que a pequena contraíra decidem afastar-se do foco da
doença, ficando alojados num hotel, onde permanecem por longos anos.
A paixão surge de novo na sua vida, Luciana é a escolhida. “Marcos amou-a mas dentro
das limitações estritas que lhe consentia a fidelidade a Raquel.”
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3. Os anos continuam, Benedita casa-se e tem filhos e a saúde de Marcos começa a
fracassar. Tem um acidente cardiovascular o que o torna sedentário. Começa-se a sentir fraco
e acaba por ser “levado pelo vento”.
Relação título-livro: O título do livro está directamente relacionado com o destino final de
Marcos. É no Funchal o seu último cais, o local onde morre. É também no capítulo de se
intitula de o último cais que Marcos acaba por falecer.
Transcrição de ideias / frases relevantes:
“(…) Rua do Vale Formoso. (…) “Formosa sim, mas vele! Para veles
desce-se, não se sobe.””
“ (…) os homens, para agradarem às mulheres, devem ser como o café,
hot, sweet and strong.”
“”Ninguém casa um Homem e uma mulher, um homem e uma mulher
casam-se um ao outro, comprometem-se um com o outro perante Deus
para toda a vida, o padre é apenas o mestre da cerimónia, conduz as
orações e invoca as bênçãos do Céu, mas são a mulher e o homem aqui
ajoelhados que celebram o casamento pela sua própria vontade, pela
sua própria voz, ambos prometem um ao outro a procura da felicidade,
a renúncia ao egoísmo, a prática quotidiana da alegria.””
“Procriar e parir são actos naturais, a ciência tem de corrigir-lhe as
imperfeições e os defeitos mas, até agora, os médicos limitam-se a ser
pouco mais de que espectadores, só tomam consciência quando são
também autores e actores da tragédia, pais involuntários ou viúvos
culpados, haverá papel mais absurdo do que o do homem face à mulher
que morre porque ele a engravidou inconscientemente,
involuntariamente, irresponsavelmente?”
“Qualquer dia, decide Luciana, visto-me de verde, de azul, de grenat, de
amarelo, haverá outro escândalo que as pessoas serão obrigadas a
engolir, esta cidade só se domina a chicote.”
Reacção pessoal ao livro:
Gostei bastante do livro. É um livro com bastantes analepses, o que requer
atenção. À semelhança do Memorial do Convento não tem os diálogos assinalados por
travessões, no entanto, o diálogo é intercalado com a voz narrativa através de aspas.
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4. Achei interessante a visão femininista do Mundo que nos é proporcionada e
também a necessidade de se obter liberdade por parte de algumas mulheres,
enquanto outras se resignavam à sua condição de donas de casa.
Curiosidades:
Todos os capítulos têm nomes de pessoas como título à excepção do
primeiro e do último, intitulados de Diário de Bordo e O último cais,
respectivamente.
O livro é constituído por passagens em diversas línguas, nomeadamente
Português, Latim, Francês e Inglês.
Helena Marques nasceu em Lisboa, em 1935, mas é oriunda de
famílias madeirenses e foi na Ilha da Madeira que viveu desde a
infância até 1971. Foi no Funchal que iniciou a longa carreira de
jornalista que prosseguiu durante 36 anos, tendo sido directora-
adjunta do Diário de Notícias. Em 1986, recebeu o Prémio
Jornalista do Ano, atribuído pela revista Mulheres.
É em 1992, que publica O Último Cais, obra que teve imediato,
reconhecimento na literatura portuguesas, tendo recebido quatro
prémios literários. Desde 1993 dedica-se exclusivamente à ficção.
Considerando-se uma "feminista racional", pela constatação da
injustiça a que as mulheres têm sido sujeitas ao longo da História,
Helena Marques junta a esse sentimento a sua tendência natural
para "ser feliz" na construção de personagens femininas
carismáticas, com um grande equilíbrio de força e delicadeza. De
entre elas, salienta-se a personagem de Raquel Villa, a
personagem telúrica e mítica de O Último Cais.
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