1. Unidade III – Comédias Shakespearianas
William Shakespeare começou a escrever suas comedias aproximadamente entre
1590 e 1611. Por volta de 1611, ele aposentou-se em Stratford, onde morava com
a sua família.
As comédias de William Shakespeare celebram a vida social e expõem a tolice
humana, passando por fases. As primeiras são na maioria farsas leves, que
incluem tramas e personagens cômicos. Há também as comédias alegres,
marcadas por um tom alegre e personagens cativantes. Já as comédias baseadas
em problemas tratam de temas complexos e normalmente desagradáveis,
contendo personagens cujos defeitos morais são mais graves e difíceis de
modificar que os defeitos dos personagens das farsas ou comédias alegres.
Algumas das principais comédias de Shakespeare foram: O Mercador de
Veneza; Sonho de uma noite de verão; A Comédia dos Erros; Os Dois Cavaleiros
de Verona; Muito barulho por nada, Noite de reis; Medida por medida; Conto do
Inverno; Cimbelino; Trabalhos de amor perdido; Megera Domada; Como gostais e
A Tempestade
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2. Em muitos casos, as comédias consistem na reelaboração e enriquecimento de
histórias consagradas que se preservaram e foram popularizadas depois do
aparecimento da imprensa. Embora partindo da temática consagrada, como
escreve Oscar Mendes, “Shakespeare deu-lhe mais complexidade, mais
flexibilidade, mais fluidez, tornando-a um desfile variegado de surpresas, de
inverosimilhanças, de intrigas que se complicam sempre mais, levando o
espectador a um clímax de excitação e curiosidade ansiosa que somente o
desenlace feliz, alegre, satisfatório, consegue aliviar”.
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3. O tema dominante é sempre o amor, vítima de desencontros que suscitam
confusões capazes de prender o público e também de diverti-lo grandemente.
Noite de reis, que é incluída entre as “grandes comédias”, por todos os grandes
estudiosos de Shakespeare, pode servir de exemplo do tipo de trama e das
situações desencontradas. Dois irmãos gêmeos (Viola e Sebastião) acabam
separados por um naufrágio e imaginam-se mortos, embora ambos hajam sido
salvos, sem o saber. A moça, tendo perdido a oportunidade de entrar para o
serviço de uma rica Condessa, disfarça-se com trajes masculinos e, nessa
condição, provoca paixões. Até que o irmão reapareça e tudo se torne claro, há
outros equívocos de personalidade. Entram em cena tipos exóticos e equívocos
paralelos ao central.
Ainda que em todas elas haja um toque de realismo, de modo a fazer crer que se
trata de gente de carne e osso, as comédias são geralmente intemporais e sem
representar lugares conhecidos, capazes de permitir comparações. Sua ação
transcorre em Cortes idealizadas, sem localização precisa. A única exceção dá-se
no caso de As alegres comadres de Windsor. Segundo a tradição, esta última teria
sido elaborada a fim de atender a uma sugestão da Rainha Elizabete I no sentido
de que relatasse os amores de Falstaff, personagem que tanto sucesso alcançara
nos dramas históricos.
Sonho de uma noite de verão: A obra de Shakespeare Sonho de Uma Noite de
Verão é ambientada na Grécia mítica e conta-nos a história de seres élficos e
personagens mitológicos descrevendo a magia e a realidade em uma só
dimensão. Teseu, grande herói grego está para se casar com Hipólita, a rainha
das amazonas. Nos dias que antecedem esse grande acontecimento em Atenas,
Egeu, um pai aflito busca a orientação de Teseu para forçar sua filha Hérmia a
casar-se com o jovem escolhido por ele, Demétrio. Hérmia, como está apaixonada
por Lisandro, recusa-se a fazer a vontade do pai e por isso é ameaçada pela
morte, conforme a lei ateniense que não dá à mulher direito de escolher o marido
e pune com a morte a desobediência. Lisandro então resolve fugir com Hérmia
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4. para se casarem longe de Atenas, onde as penas da lei não os alcançarão.
Marcam de se encontrarem em um bosque nos arredores de Atenas à noite.
Hérmia, que sabe da paixão de sua amiga de infância Helena por Demétrio,
resolve contar sobre a fuga para que amiga se anime e tente reconquistar
Demétrio. Helena conta para Demétrio para provar-lhe sua fidelidade. Titânia é a
rainha das fadas e habita o bosque. Oberon é o reio dos elfos e esposo de Titânia,
porém os dois estão em conflito porque Titânia não quer entregar a Oberon um
órfão indiano para lhe servir de pajem. Na mesma noite da fuga, Oberon e Titânia
se encontram e discutem no bosque. Nessa mesma noite vem alguns artesão de
Atenas para ensaiar uma peça de teatro para apresentar no dia do casamento de
Teseu. Oberon pede para que Puck, um elfo, que lhe traga a flor do amor perfeito,
pois ele quer pingar o sumo dessa flor em Titânia que dorme para que ela, ao
acordar, se apaixone pelo primeiro ser que vir. Enquanto isso, Demétrio veio até o
bosque interromper a fuga de Hérmia e Lisandro e foi seguido por Helena que
declara lhe sempre seu amor. Puck traz a flor e Oberon pinga sobre os olhos de
Titânia e ainda pede a Puck que encontre o casal de atenienses e pingue sobre os
olhos do moço o sumo da flor para que ele se apaixone por Helena. Puck ao
encontrar os artesãos ensaiando assusta-os e transforma um deles em um
monstro, dando-lhe a cabeça de um asno. Quando Titânia acorda, vê aquele
monstro com cabeça de asno e se apaixona por ele. Depois Puck encontra Hérmia
e Lisandro dormindo, e pensando que aquele é o ateniense de que Oberon falou,
espreme-lhe o sumo nos olhos. Helena chega, vê o casal dormindo, Lisandro
acorda e a vê e se apaixona por ela e a segue. Hérmia acorda sozinha e de
repente chega Demétrio, que lhe declara seu amor. Oberon percebe que Puck
espremeu o sumo no ateniense errado e pede para Puck colocar sobre os olhos
de Demétrio que também se apaixona por Helena. Os dois, Demétrio e Lisandro,
ficam brigando pela atenção de Helena que não compreende. Então os casais,
cansados, deitam e Puck coloca o sumo sobre os olhos de Lisandro, que vê
Hémia ao acordar e volta a se apaixonar por ela. Titânia é convencida por Oberon
que está apaixonada por um asno e resolve entregar-lhe o menino indiano para
que ele desfaça a magia. Nesse momento chegam ao bosque Teseu, Hipólita e
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5. Egeu em busca dos casais. Ao encontrá-los, Egeu quer a punição de Lisandro
pela fuga e que Teseu decrete o casamento de Hérmia com Demétrio, porém
Demétrio diz que ama Helena e não quer mais se casar com Hérmia. Então Teseu
decide que as núpcias dos casais serão no mesmo dia que ele se casará com
Hipólita. Oberon e Titânia vão até o palácio de Teseu para abençoar o lugar em
que os noivos irão morar. E Puck, que foi o que mais se divertiu com as confusões
que ele provocou, diz que tudo aquilo não passou de um sonho de uma noite de
verão.
A comedia dos erros: A Comédia dos Erros, a mais curta das peças de William
Shakespeare, é inspirada no comediógrafo romano Plauto e gira em torno das
confusões causadas por dois pares de gêmeos. É considerada pelos
pesquisadores como a primeira peça de Shakespeare, com sua estréia nos palcos
tendo ocorrido provavelmente em 1594.
Os erros a que se refere o título são enganos provocados pelas pessoas que
conversam alternadamente com um gêmeo e o outro, sendo um residente de
Éfeso, onde se passa a ação, e o outro, estrangeiro. Os gêmeos são idênticos e
têm ambos os mesmo nomes: Antífolo. As confusões multiplicam-se, assim como
a comicidade da trama, porque há mais um par de gêmeos idênticos em cena, os
irmãos que atende pelo nome de Drômio.
Entretanto, A Comédia dos Erros não deve ser confundida com uma comédia leve.
Muito ao gosto de Shakespeare, ainda que em sua estréia como dramaturgo, os
diálogos introduzem considerações sobre a condição feminina e sobre a condição
servil; há credores e devedores e a honra de cada um; discute-se o lugar do ciúme
no casamento; existe uma autoridade política que procura administrar justiça com
compaixão; mais importante ainda, há a moderna busca pela identidade própria.
Tudo acontece quando dois irmãos gêmeos são separados na infância e por ironia
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6. passam a ter o mesmo nome: Menecmo.
A ação se passa anos mais tarde, em Epidamno, cidade da Ilíria (hoje Albânia),
aonde chega um dos Menecmos à procura de seu irmão, o outro Menecmo,
que mora na cidade. Enquanto um, que acaba de chegar, é sucessivamente
confundido pela amante do outro (que o explora), por Vassourinha, um
vagabundo, que o delata a esposa do outro e ao sogro. Mas quem
sucessivamente sofre punições pelo o que não fez é o outro Menecmo.
E assim, de engano em engano, a peça caminha para o seu final feliz, quando
os irmãos se encontram e se reconhecem.
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