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Aldeamento São João de Sende – Tanque do Piauí

                                                                 Natanael Sales



       Aproximadamente há 246 anos, por volta de 1765, viveu de forma
explorada no atual território do município de Tanque do Piauí um grupo de
índios de maioria Gueguês, mas assim como os outros aldeamentos do nosso
estado esses povos foram massacrados e os poucos que ficaram foram
transferidos para outros estados.

       O aldeamento foi extinto e no local desenvolveu-se um pequeno
povoado,atualmente, chamado de São João de “Sene” e não Sende como
descrito nos registros dos diretores do aldeamento e do governo da época.
Tanto no povoado, como também no município a historia se mistura com as
leituras de mundo que cada cidadão tem e como ocorre no filme “Narradores
de Javé” no qual a personagem principal explica a um de seus entrevistados :
"uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito", tendo isso como lição
procuramos consultar os escritos de Miranda nos livros, “A Ferro e Fogo” e
“Aldeamentos dos Acoroás”,que descreve com grande presição a ação
predatória do homem branco no sertão do Piauí .

       Entre vários relatos, Miranda descreve baseado em uma pesquisa
“paciente e bem fundamentada” a criação, desenvolvimento e extinção do
aldeamento São João de Sende, nome que segundo tal pesquisa foi escolhido
pelo governador João Pereira Caldas que em homenagem ao padroeiro do
aldeamento, também por ele escolhido por ser de seu nome e de sua devoção,
São João Batista, e em homenagem a “Sende” uma localidade no conselho de
Monção, Distrito de Viana do Castelo, Província do Minho, Portugal. Esses
acontecimentos estão relatados em cartas e documentos na Seção de Arquivos
da Casa Anísio Brito. Portanto observa-se o quanto as mudanças linguísticas e
as transformações no dialeto são usados como agentes transformadores dos
fatos e historias ocorridos, temos acima o exemplo do nome da localidade (
Sene para Sende).

       Segundo o escritor a criação do Aldeamento se deu inicialmente para
abrigar 434 índios Gueguês capiturados na bacia ocidental do rio Uruçuí, após
meses de persigas e mortes e como Miranda relata não houve tanta
resistência:

                    “É que eles ainda ressabiados pelo massacre do ano anterior,
                    e diante da inferioridade de força preferiram se compor com os
                    representantes do império lusitano a se confrontarem e
                    sofrerem novas baixas” (MIRANDA,2005,pg.127)
O relato mostra o desgaste do grupo, que além dos portugueses, tinham
relação constante de guerra com os Acoroás.
         O historiador também observa que o estabelecimento do aldeamento a
“oito léguas de Oeiras foi puramente de estratégia militar, uma vez que
facilitaria o controle dos mesmos. Em caso de fuga para suas antigas moradas
no sul, poderiam ser interceptados por tropas militares estabelecidas na cidade
de Oeiras e nas freguesias de Jerumenha e Pastos Bons”( MIRANDA,2005,pg.
127).
         A administração do aldeamento não foi um sucesso. Os administradores
não eram dotados de tais princípios e no decorrer de seus tantos anos a
administração do aldeamento passou inicialmente pelo Tenente-Coronel João
do Rego Castelo Branco, que pelo seu acúmulo de tarefas passa a
administração a Manoel Alves de Araújo. Aos 18 dias de agosto de 1766
Manoel Alves devolve a diretoria a seu antecessor que fica por mais seis anos,
passando a direção a seu filho caçula Antônio do Rego Castelo Branco.
Antonio de Céa Figueiredo assume em novembro de 1776. E em 1778 após a
transferência de alguns índios deste aldeamento pelo atual diretor, há uma fuga
e por este motivo é novamente trocado o diretor, assumindo o posto, sem
grande interesse, Veríssimo Ferreira de Albuquerque.
         Depois de vários problemas administrativos voltam à direção João do
Rego e Veríssimo respectivamente, e em seguida passa por mais dois nomes
até chegar a Raimundo José Nogueira, último diretor do aldeamento
(16/11/1780 a 1786 ano de extinção). O mesmo ficou responsável pelos bens
moveis e imóveis do lugar até 1792 que depois foram doados a particulares do
lugar. Observa-se que além da falta de experiência administrativa dos diretores
os índios,desde início, mostravam-se insatisfeitos com a mudança que foram
submetidos dificultando ainda mais o andamento da missão.
         Em termo de educação, além da catequização o governo tinha como
diretriz implantar duas escolas, uma para meninos e a outra para meninas.
Ambas ensinariam a doutrina cristã, o português além de ler, escrever e a
contar, porém as das meninas eram acrescentadas técnicas de fiar, de renda,
cultura e como Miranda (2005) acrescenta, “todos os mais mistérios de seu
sexo”.
Embora só fosse permitido o uso da palmatória, vários outros tipos de
violência eram vivenciadas pelos alunos silvícolas, fato que fez o vigário do
aldeamento, Frei Manoel de Santa Catarina, denunciar o mestre-escola do
local ao governador. O governador já revoltado com os conflitos de atribuições
no aldeamento, recomenda ao diretor do lugar:

                    “ que tenha advertência de proibir também ao mestre-escola,
                    que não açoute as cunhans, que nela ensinar; por que este
                    castigo absolutamente não lhe pertence , nem pra fazer terá
                    nunca autoridade minha: E tão pouco um tal banco, em que na
                    dita escola costumava fazer o referido castigo, o qual V.M fará
                    logo tirar; para que nunca mais se lhe dê tal exercício, e trate
                    de ser mais prudente, na sua obrigação se é que lhe faz conta
                    o dito oficio; que para ele concedo somente o uso da
                    palmatória,           como           propriamente            lhe
                    compete”(CABACap.cod.147.p.170v) .



      A violência identificada pelo governo era apenas a física, a radical
mudança de costumes era tida como necessária, portanto não era visto como
violência e o governo juntamente com os representantes da igreja reprimiam
qualquer adoração contraria as que eram impostas pela corte. As mulheres
eram as mais violentadas, e isso se dava ao fato de andarem com poucas
vestimentas. Muitas das vezes eram assediadas pelos funcionários na frente
de seus esposos surgindo no aldeamento uma mistura de raças.

      Os vários problemas administrativos levaram o governo a desejar juntar
aos Acoroás, de S. Gonçalo de Amarante, atualmente Regeneração,os
Gueguês e Jaicós. Economicamente essa ideia traria várias vantagens
administrativas no tocante a economia de administradores e párocos. A ideia
não foi bem aceita pelos indígenas, mas mesmo assim começou a tranferencia
em dezembro de 1779, diante de várias recusas e alegando que estavam
acostumados no aldeamento e por não aceitar a convivência com os
Acoroás.Desse modo, os índios são submetidos a obedecerem a ordem para a
transferência de São João de Sende para S.Gonçalo. A transferência não
acontece com totalidade, sendo transferidos a maioria dos homens, ficando
apenas os de problemas físicos,e a maioria das mulheres. Os diretores
achavam que com o tempo as mulheres iriam se reder a falta dos seus maridos
e consequentemente aceitariam a transferência. Isto não aconteceu, elas
abriram mão até mesmo dos maridos.

      As mulheres resistiram o quanto podiam, porém em 1786 uma parte é
convencida e as outras levadas a força, levando à extinção do aldeamento.
Toda a estrutura do aldeamento foi mais tarde doada ao genro do tenente-
coronel João do Rego.

      Hoje o local faz parte do município de Tanque do Piauí a 205 km da
capital, Teresina. Artefatos dessas civilizações ainda são encontrados por
agricultores locais. Professores e estudantes do município na tentativa de se
tornarem ciente destes massacres, fazem visitas ao cemitério e às ruínas das
antigas moradas.




Referência Bibliográfica

Miranda,R. A Ferre e Fogo: Vida e Morte de uma Nação Indígena no Sertão do
Piauí. Teresina, 2005.

Miranda,R .Aldeamentos dos Acoroás..Teresina:COMEPI,2003.

CABACap – Casa Anísio Brito, seção dos arquivos referente às capitanias.

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Aldeamento São João de Sende

  • 1. Aldeamento São João de Sende – Tanque do Piauí Natanael Sales Aproximadamente há 246 anos, por volta de 1765, viveu de forma explorada no atual território do município de Tanque do Piauí um grupo de índios de maioria Gueguês, mas assim como os outros aldeamentos do nosso estado esses povos foram massacrados e os poucos que ficaram foram transferidos para outros estados. O aldeamento foi extinto e no local desenvolveu-se um pequeno povoado,atualmente, chamado de São João de “Sene” e não Sende como descrito nos registros dos diretores do aldeamento e do governo da época. Tanto no povoado, como também no município a historia se mistura com as leituras de mundo que cada cidadão tem e como ocorre no filme “Narradores de Javé” no qual a personagem principal explica a um de seus entrevistados : "uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito", tendo isso como lição procuramos consultar os escritos de Miranda nos livros, “A Ferro e Fogo” e “Aldeamentos dos Acoroás”,que descreve com grande presição a ação predatória do homem branco no sertão do Piauí . Entre vários relatos, Miranda descreve baseado em uma pesquisa “paciente e bem fundamentada” a criação, desenvolvimento e extinção do aldeamento São João de Sende, nome que segundo tal pesquisa foi escolhido pelo governador João Pereira Caldas que em homenagem ao padroeiro do aldeamento, também por ele escolhido por ser de seu nome e de sua devoção, São João Batista, e em homenagem a “Sende” uma localidade no conselho de Monção, Distrito de Viana do Castelo, Província do Minho, Portugal. Esses acontecimentos estão relatados em cartas e documentos na Seção de Arquivos da Casa Anísio Brito. Portanto observa-se o quanto as mudanças linguísticas e as transformações no dialeto são usados como agentes transformadores dos fatos e historias ocorridos, temos acima o exemplo do nome da localidade ( Sene para Sende). Segundo o escritor a criação do Aldeamento se deu inicialmente para abrigar 434 índios Gueguês capiturados na bacia ocidental do rio Uruçuí, após meses de persigas e mortes e como Miranda relata não houve tanta resistência: “É que eles ainda ressabiados pelo massacre do ano anterior, e diante da inferioridade de força preferiram se compor com os representantes do império lusitano a se confrontarem e sofrerem novas baixas” (MIRANDA,2005,pg.127)
  • 2. O relato mostra o desgaste do grupo, que além dos portugueses, tinham relação constante de guerra com os Acoroás. O historiador também observa que o estabelecimento do aldeamento a “oito léguas de Oeiras foi puramente de estratégia militar, uma vez que facilitaria o controle dos mesmos. Em caso de fuga para suas antigas moradas no sul, poderiam ser interceptados por tropas militares estabelecidas na cidade de Oeiras e nas freguesias de Jerumenha e Pastos Bons”( MIRANDA,2005,pg. 127). A administração do aldeamento não foi um sucesso. Os administradores não eram dotados de tais princípios e no decorrer de seus tantos anos a administração do aldeamento passou inicialmente pelo Tenente-Coronel João do Rego Castelo Branco, que pelo seu acúmulo de tarefas passa a administração a Manoel Alves de Araújo. Aos 18 dias de agosto de 1766 Manoel Alves devolve a diretoria a seu antecessor que fica por mais seis anos, passando a direção a seu filho caçula Antônio do Rego Castelo Branco. Antonio de Céa Figueiredo assume em novembro de 1776. E em 1778 após a transferência de alguns índios deste aldeamento pelo atual diretor, há uma fuga e por este motivo é novamente trocado o diretor, assumindo o posto, sem grande interesse, Veríssimo Ferreira de Albuquerque. Depois de vários problemas administrativos voltam à direção João do Rego e Veríssimo respectivamente, e em seguida passa por mais dois nomes até chegar a Raimundo José Nogueira, último diretor do aldeamento (16/11/1780 a 1786 ano de extinção). O mesmo ficou responsável pelos bens moveis e imóveis do lugar até 1792 que depois foram doados a particulares do lugar. Observa-se que além da falta de experiência administrativa dos diretores os índios,desde início, mostravam-se insatisfeitos com a mudança que foram submetidos dificultando ainda mais o andamento da missão. Em termo de educação, além da catequização o governo tinha como diretriz implantar duas escolas, uma para meninos e a outra para meninas. Ambas ensinariam a doutrina cristã, o português além de ler, escrever e a contar, porém as das meninas eram acrescentadas técnicas de fiar, de renda, cultura e como Miranda (2005) acrescenta, “todos os mais mistérios de seu sexo”.
  • 3. Embora só fosse permitido o uso da palmatória, vários outros tipos de violência eram vivenciadas pelos alunos silvícolas, fato que fez o vigário do aldeamento, Frei Manoel de Santa Catarina, denunciar o mestre-escola do local ao governador. O governador já revoltado com os conflitos de atribuições no aldeamento, recomenda ao diretor do lugar: “ que tenha advertência de proibir também ao mestre-escola, que não açoute as cunhans, que nela ensinar; por que este castigo absolutamente não lhe pertence , nem pra fazer terá nunca autoridade minha: E tão pouco um tal banco, em que na dita escola costumava fazer o referido castigo, o qual V.M fará logo tirar; para que nunca mais se lhe dê tal exercício, e trate de ser mais prudente, na sua obrigação se é que lhe faz conta o dito oficio; que para ele concedo somente o uso da palmatória, como propriamente lhe compete”(CABACap.cod.147.p.170v) . A violência identificada pelo governo era apenas a física, a radical mudança de costumes era tida como necessária, portanto não era visto como violência e o governo juntamente com os representantes da igreja reprimiam qualquer adoração contraria as que eram impostas pela corte. As mulheres eram as mais violentadas, e isso se dava ao fato de andarem com poucas vestimentas. Muitas das vezes eram assediadas pelos funcionários na frente de seus esposos surgindo no aldeamento uma mistura de raças. Os vários problemas administrativos levaram o governo a desejar juntar aos Acoroás, de S. Gonçalo de Amarante, atualmente Regeneração,os Gueguês e Jaicós. Economicamente essa ideia traria várias vantagens administrativas no tocante a economia de administradores e párocos. A ideia não foi bem aceita pelos indígenas, mas mesmo assim começou a tranferencia em dezembro de 1779, diante de várias recusas e alegando que estavam acostumados no aldeamento e por não aceitar a convivência com os Acoroás.Desse modo, os índios são submetidos a obedecerem a ordem para a transferência de São João de Sende para S.Gonçalo. A transferência não acontece com totalidade, sendo transferidos a maioria dos homens, ficando apenas os de problemas físicos,e a maioria das mulheres. Os diretores achavam que com o tempo as mulheres iriam se reder a falta dos seus maridos
  • 4. e consequentemente aceitariam a transferência. Isto não aconteceu, elas abriram mão até mesmo dos maridos. As mulheres resistiram o quanto podiam, porém em 1786 uma parte é convencida e as outras levadas a força, levando à extinção do aldeamento. Toda a estrutura do aldeamento foi mais tarde doada ao genro do tenente- coronel João do Rego. Hoje o local faz parte do município de Tanque do Piauí a 205 km da capital, Teresina. Artefatos dessas civilizações ainda são encontrados por agricultores locais. Professores e estudantes do município na tentativa de se tornarem ciente destes massacres, fazem visitas ao cemitério e às ruínas das antigas moradas. Referência Bibliográfica Miranda,R. A Ferre e Fogo: Vida e Morte de uma Nação Indígena no Sertão do Piauí. Teresina, 2005. Miranda,R .Aldeamentos dos Acoroás..Teresina:COMEPI,2003. CABACap – Casa Anísio Brito, seção dos arquivos referente às capitanias.