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Escola Secundária Dr. Júlio Martins


    Semana da Leitura




A poesia está em todo o lado…



  Poemas lidos em todas as aulas

    do dia 17 de abril de 2012

        pelos professores

das diferentes Áreas Disciplinares
Disciplinar: Artes Visuais


           Eu desenho o mundo
           Eu desenho o mundo azul
           Eu desenho o mundo azul como o mar
           Eu desenho o mundo azul como o mar e o céu

           Desenho o mundo amarelo
           Desenho amarelo como o sol
           Desenho o mundo verde
           Desenho verde como as matas
           Eu desenho o mundo vermelho
           Desenho vermelho como o sangue
           Eu desenho o mundo branco
           Desenho branco como a paz
           Desenho o mundo preto
           Desenho preto como o petróleo

           Eu desenho o mundo
           Eu desenho o mundo num coração
           Eu desenho o mundo num coração carnal
           Eu desenho o mundo num coração carnal e espiritual

           Desenho o mundo com amor
           Desenho com amor fraternal
           Desenho o mundo com saudade
           Desenho com saudade de uma canção
           Eu desenho o mundo com liberdade
           Desenho com liberdade de ser feliz
           Eu desenho o mundo com amizade
           Desenho com amizade e lealdade
           Desenho o mundo com igualdade
           Desenho com igualdade e união

           Eu desenho o mundo
           Eu desenho o mundo colorido
           Eu desenho o mundo colorido como você
           Eu desenho o mundo colorido como você e eu.




                            in http://www.luso-poemas.net
Área Disciplinar: Biologia


Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)
Área Disciplinar: Contabilidade



                             Era uma sonhadora,
                             toda sonhos e poesia ...


                             Na vida, trabalhadora,
                             no meio de números, fazia
                             orçamentos e faturas,
                             muitas contas, "lançamentos",
                             e às vezes os pensamentos
                             fugiam para as loucuras
                             de querer fazer poemas,
                             mas os temas
                             não surgiam...


                             Eram horas de "lançar",
                             de subtrair e somar
                             para o "caixa" encerrar
                             sempre arrumadinho e certo,
                             e depois, no intervalo,
                             na pausa para o almoço,
                             lá escrevia mais um verso
                             sempre disposta a sonhar...


                             Assim viveu muito tempo
                             entregue à contabilidade
                             e quando chegou a idade
                             de deixar de trabalhar,
                             abriu as suas gavetas
                             e encontrou, quase sem letras
                             poemas inacabados...


                             Então, uniu os bocados,
                             juntou mais inspiração
                             e finalmente escreveu
                             com alma e muita emoção
                             os versos que toda a vida
                             lhe encheram o coração!...



Célia Santos in http://www.luso-poemas.net [14/04/2012]
Área Disciplinar: Economia


Os Vendilhões do Templo

Deus disse: faz todo o bem
Neste mundo, e, se puderes,
Acode a toda a desgraça
E não faças a ninguém
Aquilo que tu não queres
Que, por mal, alguém te faça.

Fazer bem não é só dar
Pão aos que dele carecem
E à caridade o imploram,
É também aliviar
As mágoas dos que padecem,
Dos que sofrem, dos que choram.

E o mundo só pode ser
Menos mau, menos atroz,
Se conseguirmos fazer
Mais p'los outros que por nós.

Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou.
São os vendilhões do templo
Que do templo ele expulsou.

E o povo nada conhece...
Obedece ao seu vigário,
Porque julga que obedece
A Cristo — o bom doutrinário.

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
Área Disciplinar: Educação Física

Quando a “física” também é educação
E põe tudo a mexer
Em grande atividade
Dizem que faz bem ao coração
E até ajuda a emagrecer
É inimiga da obesidade.

É a base do desporto
Começando pelo escolar
E acabando no federado
É tudo uma questão de gosto
O importante é praticar
E não ficar parado.

Na nossa escola tem tradição
Trabalha com muita dinâmica
É algo com um cariz especial
Mesmo sem termos pavilhão
Somos especialistas na acrobática
E campeãs no andebol e futsal.

Fato de treino é a nossa vestimenta,
Trabalhamos à chuva, ao sol e até no rio
Com poucos meios atingimos os fins
Promover a saúde é a nossa meta
Mesmo congelados pelo frio
Aquecemos os alunos da Júlio Martins.

Regina Seixas (Professora da ESJM)
Área Discipliar: Eletrotecnia / Educação Tecnológica

O Operário Em Construção

Vinicius de Moraes
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo
será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.


                                        Era ele que erguia casas
                                        Onde antes só havia chão.
                                        Como um pássaro sem asas
                                        Ele subia com as casas
                                        Que lhe brotavam da mão.
                                        Mas tudo desconhecia
                                        De sua grande missão:
                                        Não sabia, por exemplo
                                        Que a casa de um homem é um templo
                                        Um templo sem religião
                                        Como tampouco sabia
                                        Que a casa que ele fazia
                                        Sendo a sua liberdade
                                        Era a sua escravidão.


                                        De fato, como podia
                                        Um operário em construção
                                        Compreender por que um tijolo
                                        Valia mais do que um pão?
                                        Tijolos ele empilhava
                                        Com pá, cimento e esquadria
                                        Quanto ao pão, ele o comia...
                                        Mas fosse comer tijolo!
                                        E assim o operário ia
                                        Com suor e com cimento
                                        Erguendo uma casa aqui
                                        Adiante um apartamento
                                        Além uma igreja, à frente
                                        Um quartel e uma prisão:
                                        Prisão de que sofreria
                                        Não fosse, eventualmente
                                        Um operário em construção.


                                        Mas ele desconhecia
                                        Esse fato extraordinário:
                                        Que o operário faz a coisa
                                        E a coisa faz o operário.
                                        De forma que, certo dia
                                        À mesa, ao cortar o pão
                                        O operário foi tomado
                                        De uma súbita emoção
                                        Ao constatar assombrado
                                        Que tudo naquela mesa
                                        - Garrafa, prato, facão -
                                        Era ele quem os fazia
                                        Ele, um humilde operário,
                                        Um operário em construção.
                                        Olhou em torno: gamela
                                        Banco, enxerga, caldeirão
                                        Vidro, parede, janela
                                        Casa, cidade, nação!
                                        Tudo, tudo o que existia
                                        Era ele quem o fazia
                                        Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.


Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.


Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.


E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.


E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:


Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.


E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.


Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!


Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.


Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.


Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
Área Disciplinar: Espanhol


A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro, solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!



Federico García Lorca
Área Disciplinar: Filosofia
É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

Pecado Original

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.·
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.

Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?

Quantos Césares fui!

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!

Álvaro de Campos
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
Área Disciplinar: Física e Química
Poema para Galileo


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.

António Gedeão
Área Disciplinar: Geografia

A Geografia

A Geografia é uma ciência apaixonante
Nos leva a conhecer e pensar o mundo
Desvendar mistérios próximos e distantes
Em questão de segundos

A Geografia percorre diferentes espaços
Analisa as diferentes sociedades
Quebra correntes, aperta laços
E questiona supostas verdades

Essa ciência que surgiu como estratégia de guerra
Hoje, supera a fase de outrora
E nos leva a refletir a ação do homem na terra
Pensando no planeta ontem, amanhã e agora

Quem penetra no espaço da Geografia
Se encanta com seus ensinamentos
Viaja por lugares que antes desconhecia
vai longe no imaginário e conhecimento.

                        Autor desconhecido
Área Disciplinar: História


Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

Bertold Brecht
Área Disciplinar: Informática


Tempos Modernos


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                  Finaliza o que travar.

                  Acha o atalho. Clica e espera.

                  Propaganda?! "Ignorar"!

                  "Ocupado". Cadê ela???

                  Abre o Orkut. Abre o email.

                  Mexe o mouse entre as janelas.

                  Olha o wink! A tela treme!

                  Fica online, sem receio,

                  Pra poder teclar com ela!

                  Paixão de MSN...


                  Ederson Peka

                  31/03/2010
Área Disciplinar: Inglês

Louis Armstrong - Let's Call The Whole Thing Off

Things have come to a pretty pass,
Our romance is growing flat,
For you like this and the other
While I go for this and that.
Goodness knows what the end will be,
Oh, I don't know where I'm at...
It looks as if we two will never be one,
Something must be done.

You say eether and I say eyether,
You say neether and I say nyther,
Eether, eyether, neether, nyther,
Let's call the whole thing off!
You like potato and I like potahto,
You like tomato and I like tomahto,
Potato, potahto, tomato, tomahto!
Let's call the whole thing off!
But oh! If we call the whole thing off,
Then we must part.
And oh! If we ever part,
Then that might break my heart!
So, if you like pajamas and I like pajahmas,
I'll wear pajamas and give up pajahmas.
For we know we need each other,
So we better call the calling off off.
Let's call the whole thing off!

You say laughter and I say lawfter,
You say after and I say awfter,
Laughter, lawfter, after, awfter,
Let's call the whole thing off!
You like vanilla and I like vanella,
You, sa's'parilla and I sa's'parella,
Vanilla, vanella, Choc'late, strawb'ry!
Let's call the whole thing off!
But oh! If we call the whole thing off,
Then we must part.
And oh! If we ever part,
Then that might break my heart!
So, if you go for oysters and I go for ersters
I'll order oysters and cancel the ersters.
For we know we need each other,
So we better call the calling off off!
Área Disciplinar: Matemática

Coisas da matemática

Um Quociente apaixonou-se
Um dia,
Doidamente,
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...

Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
uma vida
Paralela à dela.

Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E ao falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs:
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar,
Constituir um lar.
Mais do que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.

Era o Triângulo,
Tão chamado amoroso.
Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu
A Relatividade.
E tudo o que era espúrio passou a ser
Moralidade.
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
      (autor desconhecido)
Área Disciplinar: Português (Básico)


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Área Disciplinar: Português (Secundário)
Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes

Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,

Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
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  • 2. Disciplinar: Artes Visuais Eu desenho o mundo Eu desenho o mundo azul Eu desenho o mundo azul como o mar Eu desenho o mundo azul como o mar e o céu Desenho o mundo amarelo Desenho amarelo como o sol Desenho o mundo verde Desenho verde como as matas Eu desenho o mundo vermelho Desenho vermelho como o sangue Eu desenho o mundo branco Desenho branco como a paz Desenho o mundo preto Desenho preto como o petróleo Eu desenho o mundo Eu desenho o mundo num coração Eu desenho o mundo num coração carnal Eu desenho o mundo num coração carnal e espiritual Desenho o mundo com amor Desenho com amor fraternal Desenho o mundo com saudade Desenho com saudade de uma canção Eu desenho o mundo com liberdade Desenho com liberdade de ser feliz Eu desenho o mundo com amizade Desenho com amizade e lealdade Desenho o mundo com igualdade Desenho com igualdade e união Eu desenho o mundo Eu desenho o mundo colorido Eu desenho o mundo colorido como você Eu desenho o mundo colorido como você e eu. in http://www.luso-poemas.net
  • 3. Área Disciplinar: Biologia Lágrima de Preta Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar. Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado. Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente. Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais. Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume: Nem sinais de negro, nem vestígios de ódio. Água (quase tudo) e cloreto de sódio. (António Gedeão)
  • 4. Área Disciplinar: Contabilidade Era uma sonhadora, toda sonhos e poesia ... Na vida, trabalhadora, no meio de números, fazia orçamentos e faturas, muitas contas, "lançamentos", e às vezes os pensamentos fugiam para as loucuras de querer fazer poemas, mas os temas não surgiam... Eram horas de "lançar", de subtrair e somar para o "caixa" encerrar sempre arrumadinho e certo, e depois, no intervalo, na pausa para o almoço, lá escrevia mais um verso sempre disposta a sonhar... Assim viveu muito tempo entregue à contabilidade e quando chegou a idade de deixar de trabalhar, abriu as suas gavetas e encontrou, quase sem letras poemas inacabados... Então, uniu os bocados, juntou mais inspiração e finalmente escreveu com alma e muita emoção os versos que toda a vida lhe encheram o coração!... Célia Santos in http://www.luso-poemas.net [14/04/2012]
  • 5. Área Disciplinar: Economia Os Vendilhões do Templo Deus disse: faz todo o bem Neste mundo, e, se puderes, Acode a toda a desgraça E não faças a ninguém Aquilo que tu não queres Que, por mal, alguém te faça. Fazer bem não é só dar Pão aos que dele carecem E à caridade o imploram, É também aliviar As mágoas dos que padecem, Dos que sofrem, dos que choram. E o mundo só pode ser Menos mau, menos atroz, Se conseguirmos fazer Mais p'los outros que por nós. Quem desmente, por exemplo, Tudo o que Cristo ensinou. São os vendilhões do templo Que do templo ele expulsou. E o povo nada conhece... Obedece ao seu vigário, Porque julga que obedece A Cristo — o bom doutrinário. António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
  • 6. Área Disciplinar: Educação Física Quando a “física” também é educação E põe tudo a mexer Em grande atividade Dizem que faz bem ao coração E até ajuda a emagrecer É inimiga da obesidade. É a base do desporto Começando pelo escolar E acabando no federado É tudo uma questão de gosto O importante é praticar E não ficar parado. Na nossa escola tem tradição Trabalha com muita dinâmica É algo com um cariz especial Mesmo sem termos pavilhão Somos especialistas na acrobática E campeãs no andebol e futsal. Fato de treino é a nossa vestimenta, Trabalhamos à chuva, ao sol e até no rio Com poucos meios atingimos os fins Promover a saúde é a nossa meta Mesmo congelados pelo frio Aquecemos os alunos da Júlio Martins. Regina Seixas (Professora da ESJM)
  • 7. Área Discipliar: Eletrotecnia / Educação Tecnológica O Operário Em Construção Vinicius de Moraes E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: - Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: - Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Lucas, cap. V, vs. 5-8. Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia, por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão. De fato, como podia Um operário em construção Compreender por que um tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pá, cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia... Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento Além uma igreja, à frente Um quartel e uma prisão: Prisão de que sofreria Não fosse, eventualmente Um operário em construção. Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa - Garrafa, prato, facão - Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário, Um operário em construção. Olhou em torno: gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem o fazia Ele, um humilde operário
  • 8. Um operário que sabia Exercer a profissão. Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento! Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu também o operário. Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele não cresceu em vão Pois além do que sabia - Exercer a profissão - O operário adquiriu Uma nova dimensão: A dimensão da poesia. E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edifício em construção Que sempre dizia sim Começou a dizer não. E aprendeu a notar coisas A que não dava atenção: Notou que sua marmita Era o prato do patrão Que sua cerveja preta Era o uísque do patrão Que seu macacão de zuarte Era o terno do patrão Que o casebre onde morava Era a mansão do patrão Que seus dois pés andarilhos Eram as rodas do patrão Que a dureza do seu dia Era a noite do patrão Que sua imensa fadiga Era amiga do patrão. E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte Na sua resolução.
  • 9. Como era de se esperar As bocas da delação Começaram a dizer coisas Aos ouvidos do patrão. Mas o patrão não queria Nenhuma preocupação - "Convençam-no" do contrário - Disse ele sobre o operário E ao dizer isso sorria. Dia seguinte, o operário Ao sair da construção Viu-se súbito cercado Dos homens da delação E sofreu, por destinado Sua primeira agressão. Teve seu rosto cuspido Teve seu braço quebrado Mas quando foi perguntado O operário disse: Não! Em vão sofrera o operário Sua primeira agressão Muitas outras se seguiram Muitas outras seguirão. Porém, por imprescindível Ao edifício em construção Seu trabalho prosseguia E todo o seu sofrimento Misturava-se ao cimento Da construção que crescia. Sentindo que a violência Não dobraria o operário Um dia tentou o patrão Dobrá-lo de modo vário. De sorte que o foi levando Ao alto da construção E num momento de tempo Mostrou-lhe toda a região E apontando-a ao operário Fez-lhe esta declaração: - Dar-te-ei todo esse poder E a sua satisfação Porque a mim me foi entregue E dou-o a quem bem quiser. Dou-te tempo de lazer Dou-te tempo de mulher. Portanto, tudo o que vês Será teu se me adorares E, ainda mais, se abandonares O que te faz dizer não. Disse, e fitou o operário Que olhava e que refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria. O operário via as casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão
  • 10. Área Disciplinar: Espanhol A las cinco de la tarde. Eran las cinco en punto de la tarde. Un niño trajo la blanca sábana a las cinco de la tarde. Una espuerta de cal ya prevenida a las cinco de la tarde. Lo demás era muerte y sólo muerte a las cinco de la tarde. El viento se llevó los algodones a las cinco de la tarde. Y el óxido sembró cristal y níquel a las cinco de la tarde. Ya luchan la paloma y el leopardo a las cinco de la tarde. Y un muslo con un asta desolada a las cinco de la tarde. Comenzaron los sones del bordón a las cinco de la tarde. Las campanas de arsénico y el humo a las cinco de la tarde. En las esquinas grupos de silencio a las cinco de la tarde. ¡Y el toro, solo corazón arriba! a las cinco de la tarde. Cuando el sudor de nieve fue llegando a las cinco de la tarde, cuando la plaza se cubrió de yodo a las cinco de la tarde, la muerte puso huevos en la herida a las cinco de la tarde. A las cinco de la tarde. A las cinco en punto de la tarde. Un ataúd con ruedas es la cama a las cinco de la tarde. Huesos y flautas suenan en su oído a las cinco de la tarde. El toro ya mugía por su frente a las cinco de la tarde. El cuarto se irisaba de agonía a las cinco de la tarde. A lo lejos ya viene la gangrena a las cinco de la tarde. Trompa de lirio por las verdes ingles a las cinco de la tarde. Las heridas quemaban como soles
  • 11. a las cinco de la tarde, y el gentío rompía las ventanas a las cinco de la tarde. A las cinco de la tarde. ¡Ay qué terribles cinco de la tarde! ¡Eran las cinco en todos los relojes! ¡Eran las cinco en sombra de la tarde! Federico García Lorca
  • 12. Área Disciplinar: Filosofia É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma Não basta abrir a janela Para ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cego Para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. Há só cada um de nós, como uma cave. Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" (Heterónimo de Fernando Pessoa) Pecado Original Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? Será essa, se alguém a escrever, A verdadeira história da humanidade.· O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo; O que não há somos nós, e a verdade está aí. Sou quem falhei ser. Somos todos quem nos supusemos. A nossa realidade é o que não conseguimos nunca. Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância? Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois? Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas Sobre o parapeito alto da janela de sacada, Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar. Que é da minha realidade, que só tenho a vida? Que é de mim, que sou só quem existo? Quantos Césares fui! Na alma, e com alguma verdade; Na imaginação, e com alguma justiça; Na inteligência, e com alguma razão — Meu Deus! meu Deus! meu Deus! Quantos Césares fui! Quantos Césares fui! Quantos Césares fui! Álvaro de Campos (Heterónimo de Fernando Pessoa)
  • 13. Área Disciplinar: Física e Química Poema para Galileo Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano, aquele teu retrato que toda a gente conhece, em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de pano. Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença. (Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício. Disse Galeria dos Ofícios.) Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença. Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria… Eu sei… eu sei… As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia. Ai que saudade, Galileo Galilei! Olha. Sabes? Lá em Florença está guardado um dedo da tua mão direita num relicário. Palavra de honra que está! As voltas que o mundo dá! Se calhar até há gente que pensa que entraste no calendário. Eu queria agradecer-te, Galileo, a inteligência das coisas que me deste. Eu, e quantos milhões de homens como eu a quem tu esclareceste, ia jurar- que disparate, Galileo! - e jurava a pés juntos e apostava a cabeça sem a menor hesitação- que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são. Pois não é evidente, Galileo? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia? Esta era a inteligência que Deus nos deu. Estava agora a lembrar-me, Galileo, daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo e tinhas à tua frente um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo a olharem-te severamente. Estavam todos a ralhar contigo, que parecia impossível que um homem da tua idade e da tua condição, se tivesse tornado num perigo para a Humanidade e para a Civilização. Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios, e percorrias, cheio de piedade, os rostos impenetráveis daquela fila de sábios. Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas, desceram lá das suas alturas e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -, nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas. E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual conforme suas eminências desejavam, e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal e que os astros bailavam e entoavam à meia-noite louvores à harmonia universal. E juraste que nunca mais repetirias nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
  • 14. aquelas abomináveis heresias que ensinavas e descrevias para eterna perdição da tua alma. Ai Galileo! Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços, andavam a correr e a rolar pelos espaços à razão de trinta quilómetros por segundo. Tu é que sabias, Galileo Galilei. Por isso eram teus olhos misericordiosos, por isso era teu coração cheio de piedade, piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos a quem Deus dispensou de buscar a verdade. Por isso estoicamente, mansamente, resististe a todas as torturas, a todas as angústias, a todos os contratempos, enquanto eles, do alto incessível das suas alturas, foram caindo, caindo, caindo, caindo, caindo sempre, e sempre, ininterruptamente, na razão directa do quadrado dos tempos. António Gedeão
  • 15. Área Disciplinar: Geografia A Geografia A Geografia é uma ciência apaixonante Nos leva a conhecer e pensar o mundo Desvendar mistérios próximos e distantes Em questão de segundos A Geografia percorre diferentes espaços Analisa as diferentes sociedades Quebra correntes, aperta laços E questiona supostas verdades Essa ciência que surgiu como estratégia de guerra Hoje, supera a fase de outrora E nos leva a refletir a ação do homem na terra Pensando no planeta ontem, amanhã e agora Quem penetra no espaço da Geografia Se encanta com seus ensinamentos Viaja por lugares que antes desconhecia vai longe no imaginário e conhecimento. Autor desconhecido
  • 16. Área Disciplinar: História Perguntas de um Operário Letrado Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros vem o nome dos reis, Mas foram os reis que transportaram as pedras? Babilónia, tantas vezes destruída, Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas Da Lima Dourada moravam seus obreiros? No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde Foram os seus pedreiros? A grande Roma Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio Só tinha palácios Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida Na noite em que o mar a engoliu Viu afogados gritar por seus escravos. O jovem Alexandre conquistou as Índias Sozinho? César venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha Chorou. E ninguém mais? Frederico II ganhou a guerra dos sete anos Quem mais a ganhou? Em cada página uma vitória. Quem cozinhava os festins? Em cada década um grande homem. Quem pagava as despesas? Tantas histórias Quantas perguntas Bertold Brecht
  • 17. Área Disciplinar: Informática Tempos Modernos Liga. Espera iniciar. Põe a senha. Faz login. Deixa o Windows carregar. Atualiza. Clica em "sim". Finaliza o que travar. Acha o atalho. Clica e espera. Propaganda?! "Ignorar"! "Ocupado". Cadê ela??? Abre o Orkut. Abre o email. Mexe o mouse entre as janelas. Olha o wink! A tela treme! Fica online, sem receio, Pra poder teclar com ela! Paixão de MSN... Ederson Peka 31/03/2010
  • 18. Área Disciplinar: Inglês Louis Armstrong - Let's Call The Whole Thing Off Things have come to a pretty pass, Our romance is growing flat, For you like this and the other While I go for this and that. Goodness knows what the end will be, Oh, I don't know where I'm at... It looks as if we two will never be one, Something must be done. You say eether and I say eyether, You say neether and I say nyther, Eether, eyether, neether, nyther, Let's call the whole thing off! You like potato and I like potahto, You like tomato and I like tomahto, Potato, potahto, tomato, tomahto! Let's call the whole thing off! But oh! If we call the whole thing off, Then we must part. And oh! If we ever part, Then that might break my heart! So, if you like pajamas and I like pajahmas, I'll wear pajamas and give up pajahmas. For we know we need each other, So we better call the calling off off. Let's call the whole thing off! You say laughter and I say lawfter, You say after and I say awfter, Laughter, lawfter, after, awfter, Let's call the whole thing off! You like vanilla and I like vanella, You, sa's'parilla and I sa's'parella, Vanilla, vanella, Choc'late, strawb'ry! Let's call the whole thing off! But oh! If we call the whole thing off, Then we must part. And oh! If we ever part, Then that might break my heart! So, if you go for oysters and I go for ersters I'll order oysters and cancel the ersters. For we know we need each other, So we better call the calling off off!
  • 19. Área Disciplinar: Matemática Coisas da matemática Um Quociente apaixonou-se Um dia, Doidamente, Por uma Incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável E viu-a, do Ápice à Base... Uma Figura Ímpar; Olhos rombóides, boca trapezóide, Corpo ortogonal, seios esferóides. Fez da sua uma vida Paralela à dela. Até que se encontraram No Infinito. "Quem és tu?" indagou ele Com ânsia radical. "Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode chamar-me Hipotenusa." E ao falarem descobriram que eram O que, em aritmética, corresponde A almas irmãs: Primos-entre-si. E assim se amaram Ao quadrado da velocidade da luz. Numa sexta potenciação Traçando Ao sabor do momento E da paixão Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais. Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas E os exegetas do Universo Finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
  • 20. E, enfim, resolveram casar, Constituir um lar. Mais do que um lar. Uma Perpendicular. Convidaram para padrinhos O Poliedro e a Bissectriz. E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro Sonhando com uma felicidade Integral E diferencial. E casaram-se e tiveram uma secante e três cones Muito engraçadinhos. E foram felizes Até aquele dia Em que tudo, afinal, Vira monotonia. Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum... Frequentador de Círculos Concêntricos. Viciosos. Ofereceu-lhe, a ela, Uma Grandeza Absoluta, E reduziu-a a um Denominador Comum. Ele, Quociente, percebeu Que com ela não formava mais Um Todo. Uma Unidade. Era o Triângulo, Tão chamado amoroso. Desse problema ela era a fracção Mais ordinária. Mas foi então que Einstein descobriu A Relatividade. E tudo o que era espúrio passou a ser Moralidade. Como aliás, em qualquer Sociedade. (autor desconhecido)
  • 21. Área Disciplinar: Português (Básico) Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer! Ler é maçada, Estudar é nada. Sol doira Sem literatura O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como o tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor, quanto há bruma, Esperar por D.Sebastião, Quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca. Mais que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca... Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
  • 22. Área Disciplinar: Português (Secundário) Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes Dizes-me: tu és mais alguma cousa Que uma pedra ou uma planta. Dizes-me: sentes, pensas e sabes Que pensas e sentes. Então as pedras escrevem versos? Então as plantas têm ideias sobre o mundo? Sim: há diferença. Mas não é a diferença que encontras; Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas: Só me obriga a ser consciente. Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei. Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos. Ter consciência é mais que ter cor? Pode ser e pode não ser. Sei que é diferente apenas. Ninguém pode provar que é mais que só diferente. Sei que a pedra é a real, e que a planta existe. Sei isto porque elas existem. Sei isto porque os meus sentidos mo mostram. Sei que sou real também. Sei isto porque os meus sentidos mo mostram, Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta. Não sei mais nada. Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos. Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas. Mas é que as pedras não são poetas, são pedras; E as plantas são plantas só, e não pensadores. Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto, Como que sou inferior. Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra", Digo da planta, "é uma planta", Digo de mim, "sou eu". E não digo mais nada. Que mais há a dizer? Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa