1) Claraluz teve um encontro inesperado e emocionante com um homem chamado Mandel em um bate-papo online;
2) Ela ficou tão encantada com ele que teve dificuldades em se concentrar no trabalho no hospital;
3) Sua colega Regina a aconselha a ter cuidado com relacionamentos online pois não sabe se a pessoa é realmente quem diz ser.
1. O plantão daquela sexta‐feira foi o mais inusitado da sua vida. Claraluz não conseguia
se concentrar direito depois daquela situação totalmente atípica que lhe ocorrerá na internet.
Por duas vezes, teve que ser auxiliada pela enfermeira‐chefe no diagnóstico e decisões sobre
os pacientes internados. As lembranças do mágico diálogo com Mandel insistiam em dominar
seu pensamento. Não conseguia lutar contra eles. Estava tão inebriada por ter conhecido
Mandel e ter experimentado uma liberdade estranha, mas forte o suficiente para balançar
seus alicerces, que já não conseguia mais trabalhar com atenção.
– Tá parecendo que viu passarinho verde! – fala Regina, a enfermeira‐chefe de plantão
da ala da pediatria do Hospital Federal da Lagoa, um dos hospitais brasileiros de renome no
mundo da medicina, situado no Bairro Jardim Botânico, às margens da Lagoa Rodrigo de
Freitas, numa das áreas mais belas e charmosas do Rio de Janeiro.
‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐x‐
– Me diga! O que aconteceu para tu estar na lua, rindo a toa sem motivo aparente, de
um jeito que nem consegue aterrissar? Bebeu escondida, usou alguma droga alucinógena? –
fala Regina, soltando aquele sorriso maroto e debochado.
– Claro que não! – responde Claraluz – Tu sabes como sou intransigente no respeito às
normas e regras. Mas aconteceu uma coisa louca hoje, e que me pegou desprevenida. Estava
com a defesa toda escancarada e tomei uma goleada! – ri orgulhosa, demonstrando
intimidade com o futebol, onde se coloca como torcedora do Fluminense, por influência do
pai, tricolor de carteirinha.
– Entrei numa destas salas de bate papo com o nome gata médica. – continua Claraluz.
– Fiquei lá observando o comportamento das pessoas. Vieram muitos homens querendo falar
comigo, mas nem dei bola. Aí apareceu um cara, o Mandel, lá de Minas, e com aquele jeitinho
mineiro, foi colocando poesia em tudo que falava. Um homem interessante, inteligente,
galanteador... O papo foi rolando até irmos para o Messenger. Conversamos mais longamente.
Abri minhas angústias para ele como se fosse um conhecido de muito tempo, e não queria sair
de lá. Foi um sacrifício! Tive que desligar rápido, porque já havia um chamado e eu comecei a
demorar mais do que devia.
– E a senhorita, quase senhora, ficou encantada por este mineirin... E agora doutora?
Tu terás que usar toda a sua luz para resolver esta parada, Claraluz! – adverte Regina.
Claraluz da um sorriso tímido e envergonhado, pois sabia que esta foi uma das
aventuras proibidas da sua vida. Mas ao mesmo tempo não demonstra nenhum sinal de
2. arrependimento. Pelo contrário, só pensa no próximo encontro virtual com Mandel. E depois
de divagar sobre o que Regina havia dito, respondeu:
– E tu sabes que fiquei encantada por ele mesmo? E tenho certeza que ele também se
encantou comigo. Houve uma atração instantânea e poderosa entre nós. Em resumo, foi i – ne
– vi – tá – vel! – ressaltando as sílabas para demonstrar o tamanho da emoção em que se
encontrava por ter tido este encontro.
– Tudo bem, minha amiga. Fico feliz por te ver mais leve. Tu estás tão carregada de uns
meses para cá... Eu sei o que se passa, mas só te peço pra tomar cuidado com relacionamentos
pela internet. Tu não conheces o cara, nem sabe ao menos se é realmente homem ou se é
uma mulher disfarçada de homem! – adverte Regina, comum sorriso irônico.
– Não! Homem eu sei que ele é. Não tem como enganar no caso dele. – interrompe
Claraluz, soltando uma risada depois.
– E tu estás precisando de um homem, disso eu sei! – retruca Regina, soltando uma
gargalhada. – De um homem vivo, que tem a energia de uma fornalha!