O documento discute os impactos ambientais e socioeconômicos dos monocultivos de eucalipto no Rio Grande do Sul, argumentando que eles reduzem a disponibilidade de água e biodiversidade enquanto geram poucos empregos. O Centro de Estudos Ambientais mobilizou a comunidade contra um proposto pólo de celulose na década de 1980 com sucesso.
1. Centro de Estudos Ambientais- CEA
23 anos. O coletivo pela Sustentabilidade!!
Desertos Verdes e Pólos de Celulose:
Um quadro de insustentabilidade
Cíntia Barenho
Bióloga
Mestranda em Educação Ambiental
2. CENTRO DE ESTUDOS AMBIENTAIS
Entidade Ecológica sem fins-lucrativos que
desde 1983 prioriza ações em Educação
Ambiental, Direito Ambiental e Ecopolítica.
Movimento Ecológico
FBOMS
Fórum Brasileiro
de ONGs e
Assembléia Movimentos Rede de ONGs da
Permanente das Sociais para o Meio
Entidades em Ambiente e Mata Atlântica
Defesa do Meio Desenvolvimento
Ambiente
3. Quadro atual na Metade Sul
• Segundo a FEPAM atualmente no RS são 360.000 ha plantados
de árvores exóticas;
• Para a próxima década estimativa de 1 milhão ha plantados;
• O Governo do Estado/Federal tem priorizado os investimentos
agrícolas em projetos de monocultivos de árvores exóticas:
•CaixaRS (PROFLORA) “colaborando com a sustentabilidade
do planeta”??
•Emater: Priorizando o apoio aos plantios de exóticas;
•BNDES: mais de 13% de suas operações
•Processo estagnado de Reforma Agrária:
• Valor das terras de +/- R$ 500 para R$ 3000;
4. Quadro atual na Metade Sul
• Incentivos priorizados à Empresas Transnacionais:
•Do pampa “pobre” com 95% dos latifúndios, para um Pampa
de 3 Empresas de capital estrangeiro;
•Investimentos milionários para transformar o RS como Pólo
de Celulose;
•Cada empresa necessita de pelo menos 100.000ha para
iniciar produção;
•Descumprimento da legislação ambiental: não tem
EIA/RIMA;
•Produção de 1 milhão de toneladas de celulose branqueada
para à exportação;
•Desenvolvimento econômico de Quem? Para quem?
5. Custos socioambientais
Redução da disponibilidade de água (quantidade e qualidade)
• Em um ano 1 hectare (de 500-1000 eucaliptos) plantado pode
consumir até 50milhões de litros/ano;
•Pampa argentino redução de 52% no fluxo de água dos rios;
13% dos corpos d’água secaram; elevação na acidez do solo.
Fonte: SCIENCE, 2005;
•O consumo de água pode ser 3X maior que média de chuvas;
• Resíduos de agrotóxicos em corpos d’água;
Transformar o a paisagem do Bioma Pampa em um uma
monoculturas de árvores exóticas garante a diversidade?
6. Custos socioambientais: gerando empregos?
Poucos empregos pois o setor e altamente mecanizado tanto nas
áreas de plantio como na indústria:
•4,5 empregos em 1000ha Fonte:Censo Agropecuário do Uruguai
Trabalhadores na Aracruz Celulose
Trabalhadores Trabalhadores Total
Ano diretos indiretos
1989 6.058 Sem dados 6.058
1996 2.652 Sem dados 2.652
1997 2.393 3.706 7.099
2004 2.031 6.776 8.807
Fontes: informações corporativas, Aracruz Celulose: 1989-2003;
RIMA, 1989; BVQI, 2004).
Com 375 000 hectares de terras e 2 031 empregados diretos, a Aracruz gera
1 emprego direto por cada 185 hectares de terras.
Se considerarmos apenas áreas plantio (247 000 hectares) a geração de
emprego 1 direto a cada 122 hectares de eucalipto. Fonte: FASE/WRM
7. Custos socioambientais
Hectares para gerar um emprego em Investimento por emprego
monoculturas de eucalipto e café
Terra para Terra para Custo por emprego
Monocultura gerar 1 gerar 1 Setor gerado (em US$)
emprego emprego)
direto (ha) direto e
Assentamentos 2.900
indireto (ha)
rurais
Indústria 8.400
Eucalipto 183 37
Serviços 12.700
(Veracel
Celulose) Comércio 32.100
Eucalipto 122 28 Indústria de 619.808
(Aracruz celulose (Bahia Sul
Celulose) - 1992)
Café 1 <1 Indústria de 3.323.699
Fontes: Aracruz Celulose, 2004; Veracruz Celulose, 2003; celulose (Aracruz -
MPA, 2004). 2002)
Indústria de 3.750.000
celulose (Veracel -
2005)
8. Que sustentabilidade é essa?
•Estados Unidos consumo médio per capita de 308kg de papel;
•Japão consumo 222kg de papel;
•Brasil consumo de 27kg de papel;
•Bangladesh consumo de 1kg de papel;
(Durning, 1992:91)
E quanto a Reciclagem?
• No Brasil, apenas 37% do papel produzido é reciclado.
Destes:
•80% é destinado à confecção de embalagens;
•18% para papéis sanitário;
• apenas 2% para impressão.
9. Que sustentabilidade é essa?
•Para produzir 1 tonelada de papel são necessárias:
• 2 a 3 toneladas de madeira
• uma grande quantidade de água (cerca de 2.500.000
litros);
•muita energia (5° atividade industrial que mais
consomem energia);
O uso de produtos químicos altamente tóxicos na separação e
no branqueamento da celulose.
Mesmo com o tratamento de efluentes(resíduos) na fábrica, as dioxinas
(cancerígenos) permanecem e são lançadas nos rios, contaminando a
água, o solo e conseqüentemente a vegetação e os animais (inclusive os
de consumo humano). No organismo dos animais e dos humanos, as
dioxinas têm efeito cumulativo, ou seja, não são eliminadas e vão se
armazenando nos tecidos gordurosos do corpo.
10. Que sustentabilidade é essa?
•Privatização dos lucros e socialização dos custos?
•Impactos negativos aqui, produtos lá fora...
•Metade sul estagnada ou falta de política de não concentração de
terra/renda e diversificação produtiva;
•Vender o pampa para 3 empresas multinacionais é diversificação?
•Transformar o Pampa, ecossistema de extrema riqueza de fauna e flora
em milhões de hectares de monocultivo de árvore exótica é diversidade?
•Entregar boa parte do Aqüífero Guarani a empresas de capital
estrangeiro preserva nossa soberania?
•Transformar terras agriculturáveis em monocultivos de árvores
exóticas?
•Alimentar o consumo desigual de países “desenvolvidos” com a riqueza
de nossa nação?
11. Rio Grande diz NÃO ao Pólo de Celulose!
•Em 1987 CEA recebe cópia do projeto inicia mobilização;
•Em 1988 a Sec.Est.de Coordenação e Planejamento anuncia projeto de Pólo
de Celulose para Rio Grande. Paga-se cerca de R$ 150 mil para a Consultoria
Jaako Pöyry (finlandesa) para a elaboração de projeto.
•Em 1988 mobilização de sindicatos, associações, escolas, igrejas,
universidade, e mídia;
•Em 1989 entrega ao prefeito do RIMA elaborado pela FURG/CEA/NEMA e
abaixo-assinado (cerca 40mil assinaturas);
•Prefeito, em nome da comunidade, diz não ao Projeto;
•Início dos anos 90: mobilização em outras municípios (Pelotas, São José do
Norte);
12.
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15. Centro de Estudos Ambientais- CEA
23 anos. O coletivo pela Sustentabilidade!!
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16. MUDOS
...”morrem assassinados os velhos estorvos. Em seu lugar,
crescem os jovens rentáveis. Os bosques nativos abrem espaço
para os bosques artificiais. A ordem, a ordem militar, ordem
industrial, triunfa sobre o caos natural. Parecem soldados em
fila os pinheiros e eucaliptos de exportação, que marcham
rumo ao mercado internacional.
Fast food, fast wood: os bosques artificiais crescem num
instante e vendem-se num piscar de olhos. Fontes de divisas,
exemplos de desenvolvimento, símbolos de progresso, esses
criadouros de madeira ressecam a terra e arruínam os solos.
Neles, os pássaros não cantam.
As pessoas os chamam de bosques do silêncio.
Eduardo Galeano