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Texto_João Paulo Soares [Consultor]
Novos Rurais e
Novos Urbanos
“Desde que o Homem tenha comida na sua boca, terá
resolvido todas as suas questões, por algum tempo”.
Franz Kafka
Opinião | Falas da Terra
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
1. Os abutres são extremamente impor-
tantes para manter a sanidade dos ecos-
sistemas porque, ao consumirem carne
morta, limpam os campos de carcaças
e diminuem o risco de propagação de
doenças. Metade das espécies de abutres
existentes no mundo estão ameaçadas de
extinção. As populações do sul da Ásia
diminuíram drasticamente devido ao enve-
nenamento massivo com o anti-inflamatório
Diclofenac. As principais ameaças para os
abutres incluem: a perda ou perturbação
do seu habitat natural, em particular dos
locais de nidificação; a mortalidade por
acção humana, em resultado do uso ilegal
de venenos, da colisão e electrocussão
em linhas eléctricas, da presença de con-
taminantes nos alimentos que ingerem, ou
mesmo, nalgumas regiões do mundo, do
seu abate propositado e a diminuição de
alimento disponível.
2. Nada mais normal que ir à praia e pas-
sar o protector solar para se proteger dos
raios ultra violetas (UV) que podem causar
cancro. Porém, sabia que pode prejudicar
- e muito - o ecossistema marítimo? Um
novo estudo, realizado por cientistas das
Universidades de Ilhas Baleares e Rio San
Pedro, na Espanha, publicado na revista
ACS EnvironmentalScience&Technology,
acredita que a loção protectora possa ser
responsável pela morte de inúmeros seres
vivos do mar. Isto porque, quando alguns
ingredientes do filtro, como o dióxido de
titânio e o óxido de zinco, reagem com os
raios solares, elas formam novos compos-
tos tóxicos, como o peróxido de hidrogénio,
prejudicial a alguns habitantes minúsculos
do oceano, como o fitoplâncton - algas
microscópicas que são importante fonte
alimentar de muitos outros seres vivos ao
seu redor. Se o plâncton é morto, o im-
pacto pode ser enorme, porque eles são a
principal fonte de alimento para os animais
marinhos de maiores dimensões.
Trouxe estes dois estudos para demons-
trar que tanto a nível rural e urbano preci-
samos de novos rurais e novos urbanos. A
estratégia dos 3R deve ser horizontal, bem
estruturada e os alimentos tendencialmen-
te obtidos com o menor impacte ambiental
possível.
Os produtores e os consumidores andam
a várias velocidades e raramente são “ou-
vidos” pelos governos. É crónico no nosso
País o divórcio entre a sociedade civil (cada
vez mais actuante) e a “inércia” do Governo
e estruturas que representam o País na
União Europeia e no limite máximo os
países que fazem negócios com Portugal.
Na ruralidade é importante a divulgação
e promoção da agricultura sustentável,
uma gestão transparente dos baldios, a
garantia de emprego justo, uma economia
agro-pecuária menos dependente da artifi-
cialização. O respeito da RAN e da REN o
mais estritamente possível. No global, uma
agricultura mais adequada aos solos e em
que se dê relevo a aspectos etnobotânicos
que urge garantir para um uso mais amiga
do Planeta.
Nas escolas curiosamente o ambien-
talismo começa com a questão como
comemos? Quanta água é despendida
e que fontes de energia são utilizadas na
produção agrícola? Os transgénicos, o uso
de pesticidas…E temos os primeiros acti-
vistas ambientais muitas vezes etiquetados
como animalistas e vegetarianos “radicais”,
quando por vezes basta o diálogo de
gerações e mais dinâmicas sociais que
publicitem métodos agrícolas como o
método (Masanobu) Fukuoka. O seu méto-
do de agricultura natural é cada vez mais
valorizado à volta do mundo. Ele criou um
sistema de cultivo que reproduz e respeita
os processos naturais da terra.
Em termos científicos e de clarificação da
agricultura é de louvar o trabalho excelso
da AgroBio na tentativa de promover a cer-
tificação e a sustentabilidade da agricultura
nacional e regional.É importante também
divulgar e apoiar formas de incentivo eco-
nómico e financeiro aos produtores locais,
como as AMAC ou AMAP ou AMAR (Asso-
ciações para a Manutenção da Agricultura
Camponesa ou de Proximidade ou Rural), a
AAC (Agricultura Apoiada pela Comunida-
de, em inglês CSA – Community Supported
Agriculture), e outras formas de apoio.
O que é pretendido é que se multipliquem
soluções de integração de urbanismo com
ruralismo, como o bairro de Genebra,
Suíça que criou uma horta comunitária e
cada morador planta um alimento para
compartilhar com outros ou em Vancou-
ver, no Canadá, onde diversas formas de
cultivo de vegetais (hortas urbanas, jardins
agrícolas) estão envolvidas na agricultura
biológica, orgânica, ecológica, natural e
agroecológica.
Algumas cidades estão a integrar concei-
tos inovadores como a permacultura e a
recuperação de quintas históricas (evitando
o destino habitual como a venda para os
bancos ou destruição dessa área arboriza-
da para habitação), as hortas comunitárias,
no cumprimento da pegada alimentar.
Finalmente não poderemos ignorar o tra-
balho fantástico do combate ao desperdício
alimentar que tem sido feito por diversas
instituições de apoio social, mas também
da sociedade civil como a Re-Food.