O documento descreve a evolução das principais correntes artísticas de vanguarda da primeira metade do século XX, incluindo o cubismo, o abstracionismo, o suprematismo, o neoplasticismo e a arte informal. Destaca pintores como Kandinsky, Mondrian, Malevitch e Pollock e suas contribuições para a arte abstrata.
2. A arte da primeira década do século XX é avançada em
comparação ao contexto histórico do seu tempo e é inspirada na
industrialização, e daí ser uma arte de “vanguarda”.
A arte de vanguarda propõe-se adequar a sensibilidade da
sociedade ao ritmo do trabalho industrial, ensinando-lhe a discernir
o lado estético ou criativo da dita “civilização das máquinas”.
À correntes de vanguarda contrapõem-se às correntes de sinal
contrário, em substancia, a arte permanece como a única atividade
individual numa cultura de massas.
4. Chega mesmo a negar-se a si própria e prefere suprimir-se a
participar numa situação cultural considerada negativa.
Existe assim uma primeira distinção entre dois grupos de correntes:
No primeiro, incluem-se, para além do cubismo e das vanguardas
“históricas”, a arquitetura “racional”, o desenho industrial, o
movimento holandês e todos os movimentos “construtivistas”.
No segundo, a pintura metafísica, o dadaísmo, o surrealismo e as
duas derivações.
As correntes do primeiro grupo, tendem a reassociar a arte à
sociedade.
As correntes do segundo grupo, tendem sobre a situação atual da
sociedade e sobre o seu comportamento.
6. O abstraccionismo nasceu em 1910, ainda durante o período de O
Cavaleiro Azul.
Anulando o tema e o objecto (motivo) na criação plástica, a arte
abstracta foi encarada como a expressão mais pura da Arte e
também como mais liberta de programas culturais ou ideológicos.
Não contendo em si nenhumas referências à arte do passado, ela
aparece como símbolo da arte moderna.
7. A sua formação não foi mais do que o ponto de chegada das
grandes tendências que a arte europeia vinha explorando desde o
Pós-Impressionismo. Essas tendências tinham evoluído no sentido
de:
• Afirmar a progressiva libertação da arte em relação à
representação mimética da Natureza;
• Haviam procurado uma verdadeira “revolução” técnica e
estética.
Neste sentido, a linguagem abstracta havia já sido instituída, na
pintura. O grande iniciador e teorizador do abstraccionismo foi
Wassily Kandinsky ao afirmar que a pintura podia viver sem
objecto, apoiando-se apenas no jogo dinâmico estabelecido peça
livre estruturação de manchas e linhas sobre o plano da tela.
8. Nasceu da obra de Kandinsky e deriva diretamente do
Expressionismo de O Cavalo Azul. Inspira-se na intuição, no instinto
e na imaginação.
O abstracionismo lírico viveu das formas orgânicas definidas por
manchas cromáticas vibrantes; da dinâmica expressa pelo jogo das
linhas, forma e cores e seus despectivos significados.
Crente na maior pureza da arte abstrata, Kandinsky atribuiu à sua
arte um significado espiritual inspirado na teosofia (doutrina mística
que admite o conhecimento de Deus pela comunicação direta com
Além).
9. Kandinsky foi o principal representante desta corrente. Construiu os
seus quadros com linhas e cores, utilizando estas últimas em
sobreposição de tons ou recorrendo às misturas feitas previamente
na paleta.
Este artista percorreu várias fases ao longo das quais se foi
desligando da realidade concreta e visível até conseguir
abstracções puras.
10. Wassily Kandinsky, Improvisação
X, 1910, óleo sobre tela
Wassily Kandinsky, Sobre
Branco II, 1923, óleo sobre
tela
Wassily Kandinsky, Com o Arco
Negro, 1912, óleo sobre tela
11. Ao contrário do abstraccionismo lírico nascido da necessidade
interior expressiva, e de origem metafísica, no abstraccionismo
geométrico está patente a racionalização nascida da análise
intelectual e científica.
12. O suprematismo foi um movimento pictórico inovador, nascido na
Rússia por volta de 1915-16, na sequência do Raionismo. O seu criador foi
Kasimir Malevitch (1878-1935). Que procurou na pintura a realização
plástica da noção pura do espaço. Fundou-se na necessidade extraída do
Cubismo sintético de animação do espaço pela forma e na
movimentação plástica do Futurismo.
Kasimir Malevitch, Ondas
Sonoras, 1918, óleo sobre tela Kasimir Malevitch, Composição
Kasimir Malevitch, Oito Retângulos Suprematista, 1914, óleo sobre
Vermelhos, 1915, óleo sobre tela tela
13. A pintura suprematista caracteriza-se pelo emprego de formas
geométricas puras. A paleta cromática é restrita, construída por
cores primárias e secundárias, pelo branco e negro.
A pureza plástica assim levada ao extremo culminou em duas
composições realizadas entre 1918 e 1920: Quadrado Negro Sobre
Fundo Branco (1918) e Quadrado Branco Sobre Fundo Branco
(1920).
Kasimir Malevich, Quadrado
Branco Sobre Fundo
Branco, 1920
Kasimir
Malevich, Quadr
ado Negro
Sobre Fundo
Branco, 1918
14. O neoplasticismo foi um movimento artístico holandês que englobou
as artes plásticas, a arquitetura, o design e a literatura. Este
movimento nasceu por volta de 1917, quando saiu a lume a revista
De Stijl (O Estilo).
Estes autores preconizaram uma arte pura, clara, objetiva, não
ilusória e não representativa – e como tal anti naturalista. Nas
composições abstratas, estas formas e linhas estabelecem
múltiplas relações espaciais.
15. O ângulo recto e a harmonia estiveram presentes em todas as
actividades artísticas neoplásticas.
Estas características estilísticas visavam atingir uma visão
impessoal e objectiva da arte.
Procuravam a perfeição e a verdade suprema, ultrapassando o
mundo físico e emotivo.
Este movimento teve como grande objectivo a “eliminação do
trágico da vida”.
16. O grande animador e teórico do Neoplasticismo. O seu
percurso ficou marcado por uma pesquisa teórico-prática constante.
Sofreu influências simbolistas e fauves para evoluir no sentido de
uma progressiva depuração plástica. A última fase da sua obra foi a
do seu exílio em Nova Iorque, cidade que o tocou particularmente
pelo facto de o seu traçado e seus edifícios utilizarem uma
linguagem rectilínea e ortogonal.
Piet Mondrian, Quadro II, 1921-25, óleo Piet Mondrian, Composição em Cor
sobre tela A, óleo sobre tela
17. Theo Van Doesburg;
Huszar ;
Van der Leck (1886-1958);
Wantongerloo;
Robert van Hoff (1887-1979);
Pier Oud;
Gerrit Rietveld (1888-1964).
Theo van Doesburg, Contra-
Construção, Casa do Artista,1923, lápis
e pastel
18. A partir da Segunda Grande Guerra, surgiu uma nova
tendência artística de raiz abstracta, directamente influenciada pelo
Abstraccionismo Lírico e pelas novas técnicas artísticas
introduzidas pelo Cubismo, pelo Dadaísmo e pelo Surrealismo. Por
englobar diferentes e individualizadas expressões plásticas que
apresentavam de comum uma execução técnica conceptual que
desrespeitava qualquer formalidade anterior.
Denominou-se esta tendência,
genericamente, Arte Informal ou Informalismo.
Hans Hurtung, H-30 Marc Tobey, Sobre a Terra
19. A arte informal alterou radicalmente os processos de
concepção e de criação pictóricos, reintroduzindo, na arte, o factor
artesanal da sua elaboração. No informalismo, a técnica e o
material assumem-se como parte essencial da
concepção, subordinando os outros elementos estilísticos, como o
tema, a cor e a composição, mas sem negar a forma em si própria.
O artista manifesta a sua
individualidade no tratamento
do material.
Franz Kline, Pintura nº 2
Sam Francis, Pintura, 1956
20. Nasceu na Suíça e teve Jean Dubuffet (1901-1985) como seu
principal representante. Outro autor relacionado com esta arte foi
Jean Fautier (1898-1964), um dos primeiros informalistas;
22. Tendência relacionada com a arte do americano Jackson
Pollock (1912-1956). A sua execução pictórica, feita em grande
formato, foi concebida como um verdadeiro ritual de atuação. Por
esta técnica toda a tela ficava coberta por riscos de tinta – processo
designado por all-over.
Jackson Pollock, Number 8, 1949
23. É uma filiação do informalismo que coloca a tónica na matéria
executando uma pintura corpórea, texturada, de características
abstratas, que mistura materiais não pictóricos sobre os quais
intervêm com grattages e outros processos.
24. Artista catalão, saído do grupo Dau al Set.
Utilizou suportes de madeira cobertos com uma pasta que continha
pó de mármore, pigmentos de cor e aglutinantes. As cores
oscilavam entre os tons terra, branco e cinzas.
Antoní Tápies, Pintura, 1955
Antoní Tápies, Grande Pintura
Cinzenta, III, 1955, técnica mista sobre tela
25. Artista italiano, empregou telas de sarapilheira
“recosidas”, plásticos, ferros e chapas metálicas.
Alberto Burri, Branco, 1952, óleo e
Alberto Burri, composição, 1955, saco e tela esmalte sobre madeira
26. É a componente “herética” da pintura informal e distingue-se pelo
interesse em incorporar na tela a terceira dimensão, real ou ilusória.
Esta pintura abriu caminho às artes conceptual e minimal (anos 60).
27. Burri;
Lucio Fontana (1889-1968);
Lucio Fontana, Conceito Espacial
II, 1959, óleo sobre tela
Yves Klein (1928-1962). Lucio Fontana, Conceito
Espacial, 1958, óleo sobre tela
28. Desenvolveu a sua arte em três fases distintas:
A primeira, caracteriza-se pelas antropometrias, telas marcadas por
corpos de mulher besuntados com tinta que rolavam sobre elas;
A segunda, é constituída por telas monocromáticas sobre as quais
colocava esponjas e outros objectos pintados da mesma cor do
fundo;
A terceira, foi a fase das cosmogonias,
telas de cor lisa sobre as quais
atuavam vários elementos
naturais.
Yves Klein, Relevo – Esponja
Azul, c.1960, esponjas, resina sintética, areia
29. A pintura expressionista de tipo informalista surgiu nos EUA por
volta de 1947, resultante da fusão do Surrealismo com o
Abstracionismo.
Os expressionistas abstratos americanos foram marcadamente
antropocentristas e individualistas.
Dos seus autores, destacam-se:
Arshille Gorky (1904-1948)
As linhas emaranhadas e livres com manchas de cor planas e
formas ondulantes revelam uma forte influência surrealista.
30. Execução gestualista, aplicada
a figurações esquemáticas.
Mais tarde enveredou por
pinturas abstractas a branco e
negro, as quais o gestualismo
e a pincelada forte conferem
grande força expressiva.
Depois voltou à
figuração, principalmente
feminina, mas grosseira e
grotesca.
Willelm de Kooning, Mulher
I, 1952, óleo sobre tela
32. Artistas abstractos
foram, também, os artistas
deste grupo, surgido em
1949.
Karel Appel (n. 1921), a sua
pintura tem reminências
figurativas de corpos
deformados, produzidos com
grossos empastes feitos a
espátula.
Karel Appel, Nu Vermelho
33. Mark Rohtko, Vermelho –
Claro sobre Preto
Mark Rohtko (1903-1970);
Robert Motherwell (1915-1992);
Adolph Gottlieb (1903-1974);
Ad Reinhardt (1913-1967).
Movimento Colour Field.
Robert Motherwell, Elegia à República
Espanhola nº 108, 1957-77, óleo sobre tela
34. Este movimento nasceu do Informalismo e distingue-se da Action
Painting e do Espacialismo pela pureza e limpidez das cores que
emprega. Uma tal arte anula a expressão individual e a
emoção, fazendo da pintura um exercício plástico e conceptual.
A abstracção geométrica nasceu nos EUA, nos anos 50 e, para
alem do Informalismo, recebeu influencia de Josef Albers e do
Neoplasticismo de Mondrian. Na pintura da abstracção
geométrica, a cor sobrepõe-se à forma e torna-se independente
dela.
35. Morris Louis (1916-1962);
Barnett Newman (1905-1970);
Ad Reinhardt (1913-1967).
Barnett
Ad Reinhardt, Pintura
Newman, Tundra,1950, óleo
Vermelha, 1952, óleo sobre tela
sobre tela
36. Após a 1ª grande guerra e durante a 2ª e 3ª décadas do séc. XX, a
arte ocidental conheceu uma tendência de cariz realista.
Este regresso da arte a um realismo socialmente comprometido
foi consequência do período difícil do pós-guerra e da instabilidade
social, económica e politica.
A filosofia comunista rejeitou o individualismo liberal e burguês, e
concebia a arte como uma atividade eminentemente social, não lhe
reconhecendo autonomia fora desse contexto.
Exaltou o povo trabalhador anónimo nas suas tarefas
comunitárias, em episódios heroicos e nas grandes vitórias do
regime, com caráter propagandístico e apologético.
37. Estas ditaduras fizeram da estética realista e académica a estética
oficial dos seus regimes, onde a arte era controlada pela censura e
manipulada politicamente.
Contudo, nos restantes países europeus e americanos, a tendência
realista manifestou-se com um sentido mais ético e humanitário e
concretizou-se de forma mais livre e pessoal – Realismo Social e
Neo-Realismo. Daí que, embora a temática escolhida estivesse
sempre direccionada para a intervenção político-social, as formas
de concretização plásticas revestiram maior diversidade pessoal e
um cunho modernista.
Esta corrente deixou marcas importantes no percurso artístico de
alguns dos maiores vultos da pintura europeia de então, mas
manifestou-se particularmente na Alemanha, em França, na Itália e
em Portugal.
38. Cândido Portinari, Colheita
do Café
(pormenor), 1934, óleo sobre
tela
Otto Dix, Retrato dos Pais do
Artista II ,1924, óleo sobre tela
Ben Shahn, As Mulheres
dos Mineiros
(pormenor),1968, têmper
a sobre cartão
39. Merece referência especial pela qualidade plástica das obras
produzidas, onde a temática social, de forte cunho marxista e
nacionalista, foi traduzida numa linguagem moderna, recriada a
partir das vanguardas europeias.
Alfaro Siqueiros, A Marcha da
Humanidade, 1965-71, pormenor do mural
interior do Polyforum Cultural Siqueiros, Cidade
do México
40. Diego Rivera (1886-1957);
José Clemente Orozco (1883-1940);
David Alfaro Siqueiros (1898-1974).
José Clemente Diego Rivera, A Festa do
Orozco, Zapatistas, Milho, 1923-24, fresco
1931, óleo sobre tela
41. Iniciou-se em França por volta de 1919. Em parte decorrente
do Dadaísmo, o Surrealismo constitui sobretudo um movimento de
ideias que se estendeu a vários campos de actividade:
Em primeiro lugar à literatura;
Depois às artes plásticas;
Mais tarde ao cinema;
E por fim à música;
42. Em termos conceptuais, o Surrealismo surgiu, à semelhança do
movimento Dada, como reacção à cultura e à civilização ocidentais
e a tudo o que ela invocassem, em particular ao racionalismo e o
convencionalismo. A estes valores opuseram outro, como os da
liberdade e da irracionalidade, através de obras que utilizassem o
sonho, a metáfora, o inverosímil e o insólito.
O Surrealismo pode ser caracterizado por afastamento das
normas e das convenções, sistematizando a transgressão do
modo repetido.
Em termos estéticos baseou-se nas correntes de pensamento
romântico e do Simbolismo do final do século XIX.
43. Salvador Dalí, A Persistência da
Memória, 1931, óleo sobre tela Arcimboldo, Terra, c.
1570, óleo sobre madeira
44. A visão do mundo não é exclusiva dos surrealistas e dos autores e
movimentos já descritos, tendo aparecido no passado com Hieronimus
Bosch no final da idade média e com Giuseppe Arcimboldo, no
maneirismo.
Plasticamente aproveitaram e utilizaram os ensinamentos do
Dadaísmo assim como as suas técnicas o desenho e a pintura
automáticos e as técnicas clássicas de desenho e de gradação
cromática. Estes processos técnico-artísticos estão presentes em
associação com:
A colagem, o frottage, a assemblage, o dripping e a
decalcomania, sobretudo na obra de Max Ernst;
O “desenho e a pintura automáticos” onde a correspondência entre
inconsciente e a ação se desenrola sem controlo da razão e é pautada
por um forte individualismo, como no caso de André Masson.
45. H. Bosch, Monstro com Cabeça de
Pássaro, pormenor de o Jardim das
Delícias, 1480-90, óleo sobre madeira
Füssli, Titânia, Bottom e as Fadas, 1794
46. As técnicas clássicas
aplicadas a formas
fantasmagóricas ou
incongruentemente associadas
ao “trompe-l’oeil” ou “trompe-
idée”.
Paul Delvaux, Todas as Luzes, óleo sobre
tela
Yves Tanguy, Dia de Lentidão, óleo sobre
tela, final da década de 30 do século XX
47. Procurou vias de libertação
em relação aos movimentos já
existentes que tinha integrado.
Francis Picabia, O Olho Cacodilato, 1921, óleo e
colagens sobre tela
48. Com uma obra distinta de todos os surrealistas, nas suas
formas e cores de regresso à infância.
Juan Miró, O Caçador
49. Marc Chagall (1887-1985)
Com os seus seres voadores e as memórias da sua pátria
russa, construiu uma obra fortemente onírica.
Man Ray (1890-1976)
Que, vindo do Dadaísmo, foi pioneiro nas montagens fotográficas
e nos rayografics.
Pablo Picasso (1881-1973)
Integrou o Surrealismo durante uma fase da sua obra, que na
pintura quer nas assemblages.
50. O artista franco-germânico vindo do movimento
Dada, Hans Arp (1886-1966);
O artista suíço, Alberto Giacometti (1901-1966), com as suas
figuras humanas longilíneas e reduzidas à estrutura;
O artista inglês, Henry Moore (1898-1986), valorizou o espaço
vazio como contraponto às fortes massas das
suas figuras reclinadas,
conseguindo uma grande
ligação com o espaço
onde foram integradas.
Henry Moore, Figura Reclinada nº 5 (Seagram), 1963, bronze