1. 6 | caderno3 DIÁRIO DO NORDESTE | FORTALEZA, CEARÁ - QUINTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2010
REEDIÇÃO
ENTREVISTA
Ednardo
“O Massafeira
O álbum duplo da
foi um
movimento
catalizador de
uma mudança”
música cearense
disco, tiveram como inspira- ra do autor Petrúcio Maia”. Pontes e Ednardo. Às vezes a
Lançado ção o carneiro. Quando o Ed- Uma menção à viúva do pia-
CD DUPLO
gente já está dentro do so-
nacionalmente em nardo viu os esboços, ele ime- nista e compositor cearense, nho e não percebe”.
1980 pela CBS, o vinil diatamente imaginou que a Bigha Maia. “Naturalmente, Massafeira Livre Outro que gravou sua voz
duplo “Massafeira fonte da inspiração havia si- fiquei chateado. Mas não Vários artistas pela primeira vez em um dis-
Livre” registrou um do a canção ‘Carneiro’, dele e guardo rancor, porque atri- co foi o cantor, compositor
do Augusto Pontes, mas não buo o fato a uma legislação e músico Calé Alencar, que
encontro de gerações foi. A ideia do carneiro veio atrasada de direitos autorais sua parceria com Zé Maia,
da música cearense. da associação que trago des- e à atitude de uma senhora.
2010
AURA “Vento rei”. “Saímos daqui
Agora, finalmente de a infância entre este ani- Não é possível fazer nada a EDIÇÕES no ônibus da Itapemirim, re-
MUSICAIS
ganha edição oficial mal e a feira popular”, esclare- respeito, no momento”. 24 FAIXAS pleto de músicos, foi uma
em CD ce Brandão, em entrevista ao A cantora e compositora festa. Durante três dias acor-
Comoforamasprimeirasreu-
Caderno 3. Mona Gadelha, cearense dava, dormia e vivia músi-
niões e como surgiu o nome
“A inspiração gráfica for- atualmente radicada em São ca. Além do convívio com os
MassaFeiraLivre? NELSON AUGUSTO
Repórter mal, da cabeça do carneiro, Paulo, fez sua estreia no disco colegas, existia a expectati-
As reuniões, que varavam as
veio de minha admiração pelo “Massafeira Livre” e recorda Apenas Lúcio Ricardo e Mona va de conhecer o estúdio da
madrugadas, aconteceram
G
ravado em 1979, magnífico desenho a bico de com carinho a viagem para o Gadelha seguiam a vertente CBS, onde gravavam gran-
primeiramente num aparta-
mas só disponibili- pena da cabeça de um cavalo Rio de Janeiro, para a grava- do blues e do rock n´ roll. A des nomes da MPB, ter o
mento em que eu morava
zado no mercado segurando uma rosa na boca, ção. “Na época, não tinha di- cantora, que gravou seu blues primeiro registro em disco,
aqui em Fortaleza. Em pou-
em 1980 - em ple- feito pelo Fausto Nilo para a mensão da importância que a “Cor de sonho” no álbum, des- mostrar pra família e pros
co tempo ficou uma coisa
na crise do petró- capa do programa da peça de participação no show, a via- taca a importância do contato amigos, conhecer o Rio de
gigantesca, com muita gen-
leo, contexto que dificultava o teatro ‘Bodas de Sangue’, que gem ao Rio, o convívio com os com artistas de outras concep- Janeiro”, entusiasma-se.
te participando. Daí, por con-
lançamento de álbuns duplos foiencenada no Teatro Univer- amigos, a gravação do disco ções. “O ponto de vista musi- “Ficamos um bom tempo
ta dos incômodos que causa-
-, o disco “Massafeira Livre” sitário e marcou época”. teriam na minha vida”, afir- cal foi muito relevante, por- em Santa Teresa, um conví-
vam para minha mulher e
foi uma iniciativa ousada para ma. “Certamente, o lança- que me permitiu uma convi- vio super legal com a turma
minha filha pequena, eu dis- Música retirada
a época. Isso porque, apesar mento do álbum duplo me vência com outras ideias, cor- toda, várias gerações se en-
se uma vez para o Brandão:
de reunir artistas já então re- Além de ilustrar o disco, o deu um norte. Era o meu pri- rentes alternadas de estilos, contrando, fazendo músi-
“Isso está virando uma feira
nomados, como Ednardo, Fag- também letrista Brandão te- meiro registro fonográfico, descobertas no dia a dia com ca. Todo mundo participan-
livre!”. Ele respondeu: “Essa
ner, Belchior e Petrúcio Maia, ve sua parceria com Petrúcio num grande estúdio, numa todo mundo cantando e com- do e dando força pro outro.
ideia de feira livre é massa!”.
a maioria dos intérpretes e ins- Maia, “Frio da serra”, nas vo- gravadora multinacional, a pondo junto. Aquelas referên- Na minha gravação tem um
“Então vamos chamar de
trumentistas reunidos ao lon- zes de Ednardo, Fagner e Mar- primeira ida ao Rio, ao que se cias estão na música que faço monte de gente no coro:
Massa Feira Livre”. Daí co-
go das 24 faixas dos dois LPs ta Lopes, incluída no lança- chamava de ‘sul maravilha’. hoje. Foi também uma incrível Téti, Graco, Rogério, Ana...
meçaram efetivamente ou-
era formada por nomes desco- mento original do álbum em Tudo diferente dos ensaios oportunidade de aprender Foi tudo massa mesmo!”. o
tras reuniões no Estoril e co-
nhecidos do grande público 1980. Mas, na nova edição em de garagem, dos shows de com todos aqueles artistas ma-
meçou a acontecer de uma
no Brasil. O conceito visual CD, a música foi suprimida. banda de rock que a gente ravilhosos em pleno rito de
maneira mais organizada,
ou então desorganizada,
do disco foi criado pelo letris- No encarte, consta o seguinte fazia em Fortaleza”. passagem da adolescência pa- VEJA
dentro do possível que a gen-
ta e arquiteto Brandão. “A ar-
te gráfica, que incluiu princi-
aviso: “Esta obra constante
no disco original do Massafei-
A maioria dos cantores e
compositores presentes no
ra a vida adulta”, reconhece.
“Me considero privilegiada
AMANHÃ
C MASSAFEIRA - O LIVRO
te pudesse suportá-la com a
palmente os dois cartazes do ra foi retirada deste CD por disco possui seus trabalhos por ter participado, por ter si-
praticidade de se levar para
Massafeira Livre e a capa do exigência exclusiva da herdei- mais aproximados da MPB. do convidada por Augusto
frente a ideia coletiva do
evento.
Quandovocêsdecidiramrea-
lizar o evento, realmente já
planejaram que seriam qua-
trodias?
De início pensamos só um
ou dois dias. Foi aí que sur-
giu o Augusto Pontes e dis-
se: “A única coisa que vocês
podem fazer para evitar que
outros que não participem
fiquem constrangidos, pois
também possuem um traba-
lho muito bom, é abraçar o
máximo possível de artis-
tas”. Daí resolvemos am-
pliar para quatro dias.
Qual é a repercussão, tanto
para o público, quanto para
os artistas que participaram
doMassafeiraLivre?
A grande maioria que partici-
pou assistindo ou mostrando
sua artes em várias vertentes
acha que foi um grande even-
to, não só aqui para o Ceará,
mas foi uma forma de mos-
trar para o Brasil todo que, no
final da década de 70 e início
dos anos 80, já tínhamos con-
diçõesdenosdesvinculardes-
sesgrandesfestivaisqueacon-
teciam no eixo Rio e São Pau-
lo. Os artistas que eram de
forafoiquevieramparaForta-
leza, quando o normal seria o
contrário. Nesse aspecto,
acho que o Massafeira foi um
movimento catalizador de
uma mudança, que nos deu
uma condição de quebrar es-
se estigma de que, para se
fazer um movimento artísti-
co, teria de ir para o Sudeste.
Quais os artistas que vieram
deoutrosestadoseparticipa-
ram do lançamento do ál-
bum duplo Massafeira Livre
em1980?
B A GRAVAÇÃO DO LP
I
duplo nos estúdios da CBS, no
Veio o Walter Franco, que é Rio de Janeiro: artistas como
de São Paulo, o Zé Ramalho, Mona Gadelha, Zé Maia,
da Paraíba, a Amelinha, que Eugênio Stone, Augusto
já estava morando fora do Pontes, Régis e Rogério,
Ceará. Além deles veio o pes- Gerardo Gondim, Luiz Miguel
soal de Sobral e do Cariri. E Caldas, Stélio Valle, Téti e
Rodger Rogério
pela primeira vez o grande FOTO: ACERVO / GENTIL BARREIRA
públicodeFortalezateveaces-
so a uma apresentação do Pa-
tativa do Assaré