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Dádiva e reciprocidade na confecção do Vegetal: O ‘Feitio’ da ayahuasca na sede do Centro
Espiritualista Estrela Universal (CEEU) em Maceió (AL)
Wagner Lins Lira
Foto 01: Sede do Centro Espiritualista Estrela Universal/ Seat of Centro Espiritualista Estrela Universal
Notas sobre a Foto 01: A sede do Centro Espiritualista Estrela Universal (CEEU) localiza-se na Região Metropolitana de Maceió (AL/Brasil) numa
área de Mata Atlântica. Este ‘novo grupo ayahuasqueiro’ mostra-se auto-suficiente na produção, controle e distribuição ritualística da bebida
ayahuasca (localmente conhecida por ‘Vegetal’) no Brasil e nalguns países do exterior, obtendo as plantas para a feitura da beberagem – os cipós
‘Mariri’ (Banisteriopsis caapi) e as folhas da ‘Chacrona’ (Psychotria viridis)- diretamente da Floresta Amazônica. As ‘plantas sagradas’ também
foram transplantadas para a sede alagoana, embora o cultivo ainda não seja suficiente para suprir a demanda da irmandade, que possui filiais na
Europa (em países como Eslovênia e Itália) e na América Central (tangencialmente no México). A sede alagoana - fundada em 2011 pelo Mestre
André Luiz – assim como todas as outras unidades do Centro seguem norteadas pelas ‘Linhas doutrinárias’ daimistas e udvistas.
Notas sobre a Foto 02: As estruturas organizacionais e institucionais do CEEU são semelhantes às observadas nos núcleos do ‘Centro Espírita Beneficente
União do Vegetal’ (instituição ayahuasqueira conhecida pela sigla “UDV”), precipuamente, no tocante à distribuição de cargos hierárquicos dentre os fieis,
tais quais: ‘Visitantes’, ‘Discípulos’, ‘Membros do Corpo Instrutivo’, ‘Membros do Corpo do Conselho’ e ‘Quadro de Mestres’. Aqui os sujeitos
distanciam-se momentaneamente da condição citadina para a realização de suas práticas rituais e meditativas com a bebida, que ocorrem mensalmente em
escala quinzenal. Também encontramos, no calendário da instituição, outros ‘ritos extraordinários’ exclusivos aos ‘Fardados’ (sujeitos mais comprometidos
com as causas da irmandade), assim como densos cerimoniais de preparo da beberagem; os ‘Feitios’, onde o grupo mobiliza-se diante da confecção da
beberagem na sede alagoana, que engloba diversas faixas etárias e procedências sociais, desde crianças e jovens, até adultos e idosos de várias regiões e
nacionalidades.
Foto 02: Um ‘oásis ecológico’ao lado da ‘selva metropolitana’/ An ‘ecological oasis’ in the middle of ‘concrete forest’
Foto 03. Macerando cipós no ‘Feitio do Vegetal’ / Macerating vines in the ‘Preparation of Vegetal’
Notas sobre a Foto 03: Os adeptos do CEEU costumam reunir-se semestralmente na sede alagoana para a manufatura do ‘Vegetal’ durante os
‘Feitios’; ocasiões nos quais os os cipós ‘Mariri’ e as folhas da ‘Chacrona’– são cuidados e tratados antes do cozimento da bebida na fornalha da
‘Casa de Feitio’. Tratadas com carinho e devoção, as folhas são lavadas em água corrente por mulheres, enquanto homens ficam encarregados da
maceração dos cipós. Os ‘Feitios’ no CEEU representam momentos de união, mutirão, vigilância e doação para a manufatura do ‘sacramento’;
processo ritual, que se estende por dias e às vezes semanas seguidos.
Foto 04: ‘De água, plantas, fogo e amigos’: Fornalhas em combustão para a ‘feitura do Vegetal’/ ‘Water, plants, fire and friends’. Furnaces
in the ‘Vegetal preparation’
Notas sobre a Foto 04: Logo que preparadas, as plantas – já imersas em água nas panelas - são levadas à fornalha para cozimento. Cada panela fica
em cocção por 08 horas seguidas, nas quais os adeptos se revezam, tanto na ‘Casa de Feitio’, quanto no interior da fornalha, cujo fogo precisa ser
regulado com frequência. Para concretização de tais atividades é necessária constante sincronia entre os adeptos, que varam dias e noites, revezando-
se para a aquisição da própria bebida sacramental, uma vez que muitas panelas são preparadas e levadas à fornalha durante os ‘Feitios’ no CEEU, na
medida em que a produção do chá – de 50 a 100 litros produzidos por ‘Feitio’ – precisa abastecer semestralmente outras irmandades do Centro.
Foto 05. Mulheres e panelas na ‘Casa de Feitio’/ Women and pots in the ‘House of ayahuasca Preparation’
Notas sobre a Foto 05: Na ‘Casa de Feitio’ – contrariamente aos grupos ayahuasqueiros tradicionais – inexiste “tabus de gênero”, no tocante à participação de
mulheres na confecção do chá, pois mulheres e crianças participam de todos os processos destinados à cocção da beberagem. Entretanto, os adeptos se revezam
de acordo com suas aptidões e limitações. Aqui, os ‘Trabalhos de Preparo’, até certo ponto, seguem a lógica daimista, sendo a produção do chá acompanhada da
convivência direta entre adeptos e lideranças, que “se doam” para, na verdade, “se beberem” ao consagrarem um chá feito por eles próprios, cujas ‘energias’,
intenções e motivações são substancializadas no sacramento em produção. Assim, a manufatura do chá vem acompanhada por uma atmosfera de musicalidade,
meditação, dança, entusiasmo, respeito e devoção pelas ‘forças da natureza’.
Foto 06: O ‘Bailado’ na Igreja do Centro Espiritualista Estrela Universal/ The ballet in the church of Centro Espiritualista Estrela Universal
Notas da Foto 06: As ‘Sessões’ com ‘Vegetal’ acontecem no Templo; uma edificação erigida com madeira e palhas de sapé. No Centro do ‘Salão’ fica a ‘mesa
central’, ocupada por adeptos escolhidos pelo ‘Mestre Dirigente’. Músicos de várias habilidades frequentam a irmandade; grande parte ‘fardados’ e que são
convidados a ocupar a mesa, nos instantes do ‘Bailado’ dos ‘Hinários’ daimistas. Antes disso, os participantes desfrutam de momentos visionários, nos quais
consagram a bebida, ficando em estado de concentração, ouvindo músicas, melodias e prelações dos ‘Mestres’, ‘Conselheiros’ e adeptos da ‘Casa’. Nos
instantes do ‘Bailado’, os fiéis dividem-se – em relação ao gênero - em duas alas principais ocupadas por mulheres, que ficam à esquerda da mesa, enquanto a
ala masculina fica perfilada ao lado direito da mesma. As duas alas movimentam-se sincronicamente, ‘Bailando’ e cantando as letras dos ‘Hinos’ ritmados pela
cadência de tambores, maracás e violas, que entoam valsas, marchas e mazurcas. E assim estes amigos varam noite adentro, louvando as ‘forças da natureza’,
comungando um ‘sagrado vegetal’, por eles mesmos produzidos dadivosamente nos ritos de ‘Feitio’.
Dádiva e reciprocidade na confecção do Vegetal: O ‘Feitio’ da ayahuasca na sede do Centro Espiritualista
Estrela Universal (CEEU) em Maceió (Al)
Gift and reciprocity in the confection of Vegetal: The preparation of ayahuasca in the Centro Espiritualista
Estrela Universal (CEEU) in the Maceió (Al)
Autor/Author:
Wagner Lins Lira
Doutor em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Departamento de Antropologia e
Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA/DAM/UFPE) e Pós-Doutorando do Programa de
Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades da Fundação Joaquim Nabuco e da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (PPGECI/FUNDAJ/UFRPE). Membro do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre
Psicoativos (NEIP), do Grupo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas (GEAD/UFPE) e do Grupo de Estudos da
Transdisciplinaridade, da Infância e da Juventude (GETIJ/UFRPE)
Fotos/Photografics:
Wagner Lins Lira
Direção e Texto/Direction and Text:
Wagner Lins Lira
Edição de Imagem/Image Editing
Wagner Lins Lira
Imagens obtidas no mês de agosto de 2014, durante trabalho de campo,
envolvendo pesquisas etnográficas tangentes aos ‘novos grupos ayahuasqueiros’ nordestinos.

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Dádiva e reciprocidade na confecção do Vegetal: O ‘Feitio’ da ayahuasca na sede do Centro Espiritualista Estrela Universal (CEEU) em Maceió (AL)

  • 1. Dádiva e reciprocidade na confecção do Vegetal: O ‘Feitio’ da ayahuasca na sede do Centro Espiritualista Estrela Universal (CEEU) em Maceió (AL) Wagner Lins Lira
  • 2. Foto 01: Sede do Centro Espiritualista Estrela Universal/ Seat of Centro Espiritualista Estrela Universal Notas sobre a Foto 01: A sede do Centro Espiritualista Estrela Universal (CEEU) localiza-se na Região Metropolitana de Maceió (AL/Brasil) numa área de Mata Atlântica. Este ‘novo grupo ayahuasqueiro’ mostra-se auto-suficiente na produção, controle e distribuição ritualística da bebida ayahuasca (localmente conhecida por ‘Vegetal’) no Brasil e nalguns países do exterior, obtendo as plantas para a feitura da beberagem – os cipós ‘Mariri’ (Banisteriopsis caapi) e as folhas da ‘Chacrona’ (Psychotria viridis)- diretamente da Floresta Amazônica. As ‘plantas sagradas’ também foram transplantadas para a sede alagoana, embora o cultivo ainda não seja suficiente para suprir a demanda da irmandade, que possui filiais na Europa (em países como Eslovênia e Itália) e na América Central (tangencialmente no México). A sede alagoana - fundada em 2011 pelo Mestre André Luiz – assim como todas as outras unidades do Centro seguem norteadas pelas ‘Linhas doutrinárias’ daimistas e udvistas.
  • 3. Notas sobre a Foto 02: As estruturas organizacionais e institucionais do CEEU são semelhantes às observadas nos núcleos do ‘Centro Espírita Beneficente União do Vegetal’ (instituição ayahuasqueira conhecida pela sigla “UDV”), precipuamente, no tocante à distribuição de cargos hierárquicos dentre os fieis, tais quais: ‘Visitantes’, ‘Discípulos’, ‘Membros do Corpo Instrutivo’, ‘Membros do Corpo do Conselho’ e ‘Quadro de Mestres’. Aqui os sujeitos distanciam-se momentaneamente da condição citadina para a realização de suas práticas rituais e meditativas com a bebida, que ocorrem mensalmente em escala quinzenal. Também encontramos, no calendário da instituição, outros ‘ritos extraordinários’ exclusivos aos ‘Fardados’ (sujeitos mais comprometidos com as causas da irmandade), assim como densos cerimoniais de preparo da beberagem; os ‘Feitios’, onde o grupo mobiliza-se diante da confecção da beberagem na sede alagoana, que engloba diversas faixas etárias e procedências sociais, desde crianças e jovens, até adultos e idosos de várias regiões e nacionalidades. Foto 02: Um ‘oásis ecológico’ao lado da ‘selva metropolitana’/ An ‘ecological oasis’ in the middle of ‘concrete forest’
  • 4. Foto 03. Macerando cipós no ‘Feitio do Vegetal’ / Macerating vines in the ‘Preparation of Vegetal’ Notas sobre a Foto 03: Os adeptos do CEEU costumam reunir-se semestralmente na sede alagoana para a manufatura do ‘Vegetal’ durante os ‘Feitios’; ocasiões nos quais os os cipós ‘Mariri’ e as folhas da ‘Chacrona’– são cuidados e tratados antes do cozimento da bebida na fornalha da ‘Casa de Feitio’. Tratadas com carinho e devoção, as folhas são lavadas em água corrente por mulheres, enquanto homens ficam encarregados da maceração dos cipós. Os ‘Feitios’ no CEEU representam momentos de união, mutirão, vigilância e doação para a manufatura do ‘sacramento’; processo ritual, que se estende por dias e às vezes semanas seguidos.
  • 5. Foto 04: ‘De água, plantas, fogo e amigos’: Fornalhas em combustão para a ‘feitura do Vegetal’/ ‘Water, plants, fire and friends’. Furnaces in the ‘Vegetal preparation’ Notas sobre a Foto 04: Logo que preparadas, as plantas – já imersas em água nas panelas - são levadas à fornalha para cozimento. Cada panela fica em cocção por 08 horas seguidas, nas quais os adeptos se revezam, tanto na ‘Casa de Feitio’, quanto no interior da fornalha, cujo fogo precisa ser regulado com frequência. Para concretização de tais atividades é necessária constante sincronia entre os adeptos, que varam dias e noites, revezando- se para a aquisição da própria bebida sacramental, uma vez que muitas panelas são preparadas e levadas à fornalha durante os ‘Feitios’ no CEEU, na medida em que a produção do chá – de 50 a 100 litros produzidos por ‘Feitio’ – precisa abastecer semestralmente outras irmandades do Centro.
  • 6. Foto 05. Mulheres e panelas na ‘Casa de Feitio’/ Women and pots in the ‘House of ayahuasca Preparation’ Notas sobre a Foto 05: Na ‘Casa de Feitio’ – contrariamente aos grupos ayahuasqueiros tradicionais – inexiste “tabus de gênero”, no tocante à participação de mulheres na confecção do chá, pois mulheres e crianças participam de todos os processos destinados à cocção da beberagem. Entretanto, os adeptos se revezam de acordo com suas aptidões e limitações. Aqui, os ‘Trabalhos de Preparo’, até certo ponto, seguem a lógica daimista, sendo a produção do chá acompanhada da convivência direta entre adeptos e lideranças, que “se doam” para, na verdade, “se beberem” ao consagrarem um chá feito por eles próprios, cujas ‘energias’, intenções e motivações são substancializadas no sacramento em produção. Assim, a manufatura do chá vem acompanhada por uma atmosfera de musicalidade, meditação, dança, entusiasmo, respeito e devoção pelas ‘forças da natureza’.
  • 7. Foto 06: O ‘Bailado’ na Igreja do Centro Espiritualista Estrela Universal/ The ballet in the church of Centro Espiritualista Estrela Universal Notas da Foto 06: As ‘Sessões’ com ‘Vegetal’ acontecem no Templo; uma edificação erigida com madeira e palhas de sapé. No Centro do ‘Salão’ fica a ‘mesa central’, ocupada por adeptos escolhidos pelo ‘Mestre Dirigente’. Músicos de várias habilidades frequentam a irmandade; grande parte ‘fardados’ e que são convidados a ocupar a mesa, nos instantes do ‘Bailado’ dos ‘Hinários’ daimistas. Antes disso, os participantes desfrutam de momentos visionários, nos quais consagram a bebida, ficando em estado de concentração, ouvindo músicas, melodias e prelações dos ‘Mestres’, ‘Conselheiros’ e adeptos da ‘Casa’. Nos instantes do ‘Bailado’, os fiéis dividem-se – em relação ao gênero - em duas alas principais ocupadas por mulheres, que ficam à esquerda da mesa, enquanto a ala masculina fica perfilada ao lado direito da mesma. As duas alas movimentam-se sincronicamente, ‘Bailando’ e cantando as letras dos ‘Hinos’ ritmados pela cadência de tambores, maracás e violas, que entoam valsas, marchas e mazurcas. E assim estes amigos varam noite adentro, louvando as ‘forças da natureza’, comungando um ‘sagrado vegetal’, por eles mesmos produzidos dadivosamente nos ritos de ‘Feitio’.
  • 8. Dádiva e reciprocidade na confecção do Vegetal: O ‘Feitio’ da ayahuasca na sede do Centro Espiritualista Estrela Universal (CEEU) em Maceió (Al) Gift and reciprocity in the confection of Vegetal: The preparation of ayahuasca in the Centro Espiritualista Estrela Universal (CEEU) in the Maceió (Al) Autor/Author: Wagner Lins Lira Doutor em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA/DAM/UFPE) e Pós-Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades da Fundação Joaquim Nabuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (PPGECI/FUNDAJ/UFRPE). Membro do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP), do Grupo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas (GEAD/UFPE) e do Grupo de Estudos da Transdisciplinaridade, da Infância e da Juventude (GETIJ/UFRPE) Fotos/Photografics: Wagner Lins Lira Direção e Texto/Direction and Text: Wagner Lins Lira Edição de Imagem/Image Editing Wagner Lins Lira Imagens obtidas no mês de agosto de 2014, durante trabalho de campo, envolvendo pesquisas etnográficas tangentes aos ‘novos grupos ayahuasqueiros’ nordestinos.