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Oportunidades
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O rapaz da carteira ao lado
Edmond Sichrovsky
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Um dia, na hora do almoço, o lugar ao lado de Sean era o último vazio no
refeitório. Relutante, sentei ali e tivemos uma conversa informal. Foi quando
descobri que seu pai havia morrido quando ele era muito pequeno, e que sua
mãe trabalhava muito no turno da noite. Consequentemente, ele ficava em
casa sozinho quase que todas as noites e só passava tempo com ela nos fins-
de-semana. Envergonhado de minha intolerância para com ele, decidi tentar
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contrariar minhas inclinações naturais.
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recompensa. Senti-me muitas vezes tentado a
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aquele empenho.
Os meses se seguiram e Sean aos poucos se
tornou mais amigável. Até que uns quatro
meses depois daquela conversa no refeitório,
Sean insistiu em fazer dupla comigo para uma
atividade de classe. Fiquei chocado: “Você vive dizendo que nunca mais quer
ver minha cara” — questionei.
“Não é verdade!” — respondeu com um enorme sorriso. “Você é meu único
amigo, a única pessoa que se importa comigo. Quero que sejamos sempre
amigos.”
Naquele dia, não apenas ganhei uma amizade que dura até hoje, mas
também aprendi uma verdade preciosa: independentemente de como uma
pessoa aja, aparente ou se comporte, todos querem e precisam sentir amor e
aceitação. É comum que as pessoa ocultem sob carapaças de rispidez lindas
flores esperando uma chance para crescer. Palavras gentis e atos amorosos
são para o coração humano o que o sol é para as flores. Talvez demore
semanas, meses ou até anos para os nossos esforços serem recompensados,
mas, um dia, aquela pessoa florescerá.
Quando Jesus disse para “amar o próximo”,1 não se referia apenas ao nosso
vizinho de porta. Quer que amemos qualquer um que precise da nossa
atenção e desvelo, seja o carteiro, a zeladora, o atendente do balcão, ou o
bully da escola, sentado na carteira ao lado.
O poder de um pêssego
Durante a 2 ª Guerra Mundial, a divisão de Tom foi capturada pelo exército
italiano, e ele e seus companheiros foram levados para a Itália. Seus captores
desfilaram com eles pelas ruas da cidade para os humilhar publicamente. A
população que assistia ao cortejo não poupava xingamentos, cusparadas e
outras manifestações de ira e ressentimento.
​De repente, da multidão de escarnecedores “uma jovem se aproximou,
colocou um pêssego na minha mão e se afastou rapidamente, sem que eu
tivesse tempo para lhe gradecer”, lembrou o ex-combatente. “Foi o pêssego
mais delicioso que já comi.”
​Tom, já no fim dos setenta anos, contava a história com brilho nos olhos,
lembrando da moça italiana que lhe mostrou bondade em um momento de
profundo ódio e inimizade entre dois países em guerra. Na sua hora de
vergonha e desesperança, aquela anônima desafiou a pressão social para lhe
dar uma simples e sincera dádiva de compaixão. Viu além da condição do
soldado de um país inimigo e o viu como um humano em sofrimento, que
precisava de ternura. A lembrança daquele pêssego permaneceu com ele
todos aqueles anos, em que a guerra se arrastou lentamente ao seu fim e,
mais tarde, sempre que precisou de força para se agarrar à esperança, deixar
as dores e o sofrimento da guerra para trás, para virar uma página de sua
vida.
Ela provavelmente não percebeu a dimensão do que fizera ao dar “só” um
pêssego. É bem possível que jamais imaginou que aquele jovem louvaria sua
benevolência pelo resto da vida, e que a história ganharia destaque em um
documentário que inspirou muitos a recontar seu feito.
​Promovamos a paz, dividindo que “pêssegos” de amor e misericórdia, mesmo
quando for arriscado ou contrarie as convenções, pois o “fruto” que será
semeado — o fortalecimento de almas cansadas e corações solitários que se
sentirão amados — vale o custo.
Prataria roubada
No clássico da literatura Os Miseráveis, Victor Hugo conta a história do
personagem Jean Valjean, cuja vida, que já era difícil, foi quase destruída
pelas cruéis decisões de alguém. Por ter roubado um pão para alimentar os
sobrinhos que passavam fome, Valjean passou 19 anos no infame presídio
de Bagne de Toulon. Incapaz de conseguir um emprego por ser ex-
presidiário, pede ajuda a um bispo que o alimenta e o hospeda por uma
noite. Tomado pelo desespero diante do que lhe parece ser um futuro
tenebroso, o hóspede cede à tentação, rouba alguns artigos de prata e foge
na calada da noite.
Horas depois, é capturado e conduzido pelos policiais de volta à casa do
bispo. Ciente do que acontecerá àquele homem se for novamente
condenado, o religioso decide dar uma chance ao ladrão e diz à polícia: “Eu
dei a prataria a esse homem”.
​Livre da lei, mas não da própria consciência, Valjean se vê diante de outra
decisão e, dessa vez, faz a escolha certa: arrepende-se e, naquele momento,
começa uma nova vida. Os anos seguintes lhe trazem mais inquietações e
novas decisões difíceis, mas ele se mantém leal ao novo curso que Deus o
ajudara a traçar.
3 xícaras de chá
Alexander Sichrovsky
Logo após concluirmos o Ensino
Médio, dois amigos e eu
decidimos viajar pelos países da
margem oeste do
Mediterrâneo. Era 1969 e as
ruas da Europa fervilhavam com
jovens que perambulavam em
busca de sentido para suas
vidas. Tomamos o trem em
Nápoles, Sul da Itália, e depois
passamos a noite em uma balsa
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seguida, viajamos pelo litoral
norte da África pegando carona
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Em determinada ocasião, no
meio do nada, sem nenhum
sinal de uma vila ou mesmo uma aldeia, vimo-nos envolvidos pela noite. Sem
alternativa, fomos para a praia e esticamos os sacos de dormir sobre a areia
morna, para aí dormirmos.
Bem cedo na manhã seguinte, enquanto nos preparávamos para seguir
viagem, vimos um homem de idade avançada caminhar lentamente em nossa
direção. Percebi então uma choupana na qual não reparara na noite anterior.
O velho maltrapilho trazia na mão uma bandeja. Vai querer nos vender
alguma coisa, pensei. Enganei-me. Ele trazia três xícaras de chá de hortelã.
Aos dezoito anos, eu era imaturo e inexperiente, mas fiquei profundamente
sensibilizado. Por que aquele velho, que com grande esforço conseguia
sobreviver naquele lugar inóspito, faria chá para oferecer a estranhos? Não
fazia ideia de quem éramos nem jamais sequer nos havia visto, mas
entendia que tinha o dever de demonstrar hospitalidade.
Enquanto saboreávamos agradecidos a doce e aromática bebida,
pensávamos como retribuir a bondade daquele homem. Oferecer-lhe
dinheiro seria um insulto. Revirando as mochilas, encontramos algumas
latas de comida em conserva com as quais o presenteamos, como um
sinal de gratidão. Não foi possível conversar muito com ele. Seu francês
era ruim e o nosso, bem pior. Por isso, depois de lhe agradecer, pedimos
licença e voltamos para a estrada. Os três ficamos em silêncio a maior
parte do restante daquela manhã, ainda refletindo sobre o encontro com
o homem bondoso que tanto nos impressionara.
Do ponto de vista econômico, ele tinha muito menos que nós, mas de
bom grado compartilhou do que dispunha. Éramos estrangeiros, não
falávamos seu idioma, mas essas barreiras foram facilmente superadas por
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A coragem para ser boa
Olivia Bauer
Numa tarde ensolarada, já se
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caiu do outro lado da cerca,
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"Seria ótimo ter uma bola para brincarmos" — observou um dos meninos.
"Vamos ficar com ela."
Mas uma menina discordou. "Não é certo. Não é nossa", insistindo que
devolvessem a bola para o campo.
Aquele simples gesto de bondade aconteceu no coração da Alemanha
durante a Segunda Guerra Mundial, no início da década de 1940. Os
jogadores eram britânicos prisioneiros de guerra em um campo localizado
na periferia da cidade. Alguns dos jovens protestaram, alegando que os
jogadores eram prisioneiros e questionando por que ficariam com a bola,
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Há força de caráter na bondade — a força moral e mental de se posicionar,
doar, acreditar, perseverar, ser leal às suas convicções, mesmo que signifique
enfrentar desafios ou arcar com consequências. Há bondades que deixam
uma impressão permanente.
Faz quase três quartos de séculos, mas é possível que ainda haja
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imagino que ainda se lembrem da minha avó, a garota da vila, que devolveu
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A senhora da limpeza
No segundo ano do
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ser piada. Eu tinha
visto a faxineira
várias vezes, mas
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papel com a última
pergunta em branco.
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"Certamente!" — foi a resposta. "Nas suas carreiras, vocês encontrarão
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esqueci aquela lição e aprendi que o nome da mulher é Dorothy.
—Joann C. Jones
Image Credits:
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The Boy Sitting Next to Me:
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  • 2. O rapaz da carteira ao lado Edmond Sichrovsky Vai ser tranquilo — disse comigo mesmo enquanto me preparava para ir para o colégio. Não esperava ter dificuldades para fazer amigos ou interagir com meus colegas de sala. Infelizmente, minha autoconfiança sofreu um golpe letal logo no primeiro dia de aula, quando conheci o rapaz que se sentou ao meu lado. Sean tinha a minha altura e o dobro do meu peso. Não levava os estudos a sério, nunca se preparava para as provas, gritava e xingava professores e alunos, sem cerimônias. Estava sempre falando dos jogos de computador violentos que ele jogava sempre que tinha uma chance, os quais exerciam uma influência evidente no seu comportamento irado e destrutivo. Logo comecei a desejar que eu não estivesse sentado ao seu lado. As semanas passaram e Sean foi de mal a pior. Teve notas baixas em quase todas as provas e sempre arrumava briga com os outros alunos. Eu procurava tratá-lo bem, mas mantinha a distância. Um dia, na hora do almoço, o lugar ao lado de Sean era o último vazio no refeitório. Relutante, sentei ali e tivemos uma conversa informal. Foi quando descobri que seu pai havia morrido quando ele era muito pequeno, e que sua mãe trabalhava muito no turno da noite. Consequentemente, ele ficava em casa sozinho quase que todas as noites e só passava tempo com ela nos fins- de-semana. Envergonhado de minha intolerância para com ele, decidi tentar me aproximar de Sean com amor, bondade e aceitação, apesar de isso contrariar minhas inclinações naturais.
  • 3. No início, minhas tentativas foram recebidas com descaso e xingamentos. Sean tinha a fama de bully desde a primeira série e, para se proteger, desenvolveu uma aparência e atitudes muito duras e insensíveis. Era complicado incluí-lo quando escolhíamos os times, era difícil me aproximar dele quando meus esforços tinham sarcasmos como recompensa. Senti-me muitas vezes tentado a ficar zangado e duvidei se valia a pena todo aquele empenho. Os meses se seguiram e Sean aos poucos se tornou mais amigável. Até que uns quatro meses depois daquela conversa no refeitório, Sean insistiu em fazer dupla comigo para uma atividade de classe. Fiquei chocado: “Você vive dizendo que nunca mais quer ver minha cara” — questionei. “Não é verdade!” — respondeu com um enorme sorriso. “Você é meu único amigo, a única pessoa que se importa comigo. Quero que sejamos sempre amigos.” Naquele dia, não apenas ganhei uma amizade que dura até hoje, mas também aprendi uma verdade preciosa: independentemente de como uma pessoa aja, aparente ou se comporte, todos querem e precisam sentir amor e aceitação. É comum que as pessoa ocultem sob carapaças de rispidez lindas flores esperando uma chance para crescer. Palavras gentis e atos amorosos são para o coração humano o que o sol é para as flores. Talvez demore semanas, meses ou até anos para os nossos esforços serem recompensados, mas, um dia, aquela pessoa florescerá. Quando Jesus disse para “amar o próximo”,1 não se referia apenas ao nosso vizinho de porta. Quer que amemos qualquer um que precise da nossa atenção e desvelo, seja o carteiro, a zeladora, o atendente do balcão, ou o bully da escola, sentado na carteira ao lado.
  • 4. O poder de um pêssego Durante a 2 ª Guerra Mundial, a divisão de Tom foi capturada pelo exército italiano, e ele e seus companheiros foram levados para a Itália. Seus captores desfilaram com eles pelas ruas da cidade para os humilhar publicamente. A população que assistia ao cortejo não poupava xingamentos, cusparadas e outras manifestações de ira e ressentimento. ​De repente, da multidão de escarnecedores “uma jovem se aproximou, colocou um pêssego na minha mão e se afastou rapidamente, sem que eu tivesse tempo para lhe gradecer”, lembrou o ex-combatente. “Foi o pêssego mais delicioso que já comi.” ​Tom, já no fim dos setenta anos, contava a história com brilho nos olhos, lembrando da moça italiana que lhe mostrou bondade em um momento de profundo ódio e inimizade entre dois países em guerra. Na sua hora de vergonha e desesperança, aquela anônima desafiou a pressão social para lhe dar uma simples e sincera dádiva de compaixão. Viu além da condição do soldado de um país inimigo e o viu como um humano em sofrimento, que
  • 5. precisava de ternura. A lembrança daquele pêssego permaneceu com ele todos aqueles anos, em que a guerra se arrastou lentamente ao seu fim e, mais tarde, sempre que precisou de força para se agarrar à esperança, deixar as dores e o sofrimento da guerra para trás, para virar uma página de sua vida. Ela provavelmente não percebeu a dimensão do que fizera ao dar “só” um pêssego. É bem possível que jamais imaginou que aquele jovem louvaria sua benevolência pelo resto da vida, e que a história ganharia destaque em um documentário que inspirou muitos a recontar seu feito. ​Promovamos a paz, dividindo que “pêssegos” de amor e misericórdia, mesmo quando for arriscado ou contrarie as convenções, pois o “fruto” que será semeado — o fortalecimento de almas cansadas e corações solitários que se sentirão amados — vale o custo.
  • 6. Prataria roubada No clássico da literatura Os Miseráveis, Victor Hugo conta a história do personagem Jean Valjean, cuja vida, que já era difícil, foi quase destruída pelas cruéis decisões de alguém. Por ter roubado um pão para alimentar os sobrinhos que passavam fome, Valjean passou 19 anos no infame presídio de Bagne de Toulon. Incapaz de conseguir um emprego por ser ex- presidiário, pede ajuda a um bispo que o alimenta e o hospeda por uma noite. Tomado pelo desespero diante do que lhe parece ser um futuro tenebroso, o hóspede cede à tentação, rouba alguns artigos de prata e foge na calada da noite. Horas depois, é capturado e conduzido pelos policiais de volta à casa do bispo. Ciente do que acontecerá àquele homem se for novamente condenado, o religioso decide dar uma chance ao ladrão e diz à polícia: “Eu dei a prataria a esse homem”. ​Livre da lei, mas não da própria consciência, Valjean se vê diante de outra decisão e, dessa vez, faz a escolha certa: arrepende-se e, naquele momento, começa uma nova vida. Os anos seguintes lhe trazem mais inquietações e novas decisões difíceis, mas ele se mantém leal ao novo curso que Deus o ajudara a traçar.
  • 7. 3 xícaras de chá Alexander Sichrovsky Logo após concluirmos o Ensino Médio, dois amigos e eu decidimos viajar pelos países da margem oeste do Mediterrâneo. Era 1969 e as ruas da Europa fervilhavam com jovens que perambulavam em busca de sentido para suas vidas. Tomamos o trem em Nápoles, Sul da Itália, e depois passamos a noite em uma balsa que nos levou à Tunísia. Em seguida, viajamos pelo litoral norte da África pegando carona em caminhões e automóveis. Em determinada ocasião, no meio do nada, sem nenhum sinal de uma vila ou mesmo uma aldeia, vimo-nos envolvidos pela noite. Sem alternativa, fomos para a praia e esticamos os sacos de dormir sobre a areia morna, para aí dormirmos. Bem cedo na manhã seguinte, enquanto nos preparávamos para seguir viagem, vimos um homem de idade avançada caminhar lentamente em nossa direção. Percebi então uma choupana na qual não reparara na noite anterior. O velho maltrapilho trazia na mão uma bandeja. Vai querer nos vender alguma coisa, pensei. Enganei-me. Ele trazia três xícaras de chá de hortelã. Aos dezoito anos, eu era imaturo e inexperiente, mas fiquei profundamente sensibilizado. Por que aquele velho, que com grande esforço conseguia sobreviver naquele lugar inóspito, faria chá para oferecer a estranhos? Não
  • 8. fazia ideia de quem éramos nem jamais sequer nos havia visto, mas entendia que tinha o dever de demonstrar hospitalidade. Enquanto saboreávamos agradecidos a doce e aromática bebida, pensávamos como retribuir a bondade daquele homem. Oferecer-lhe dinheiro seria um insulto. Revirando as mochilas, encontramos algumas latas de comida em conserva com as quais o presenteamos, como um sinal de gratidão. Não foi possível conversar muito com ele. Seu francês era ruim e o nosso, bem pior. Por isso, depois de lhe agradecer, pedimos licença e voltamos para a estrada. Os três ficamos em silêncio a maior parte do restante daquela manhã, ainda refletindo sobre o encontro com o homem bondoso que tanto nos impressionara. Do ponto de vista econômico, ele tinha muito menos que nós, mas de bom grado compartilhou do que dispunha. Éramos estrangeiros, não falávamos seu idioma, mas essas barreiras foram facilmente superadas por aquele coração generoso.
  • 9. A coragem para ser boa Olivia Bauer Numa tarde ensolarada, já se vão uns 70 anos, uma jovem e seus amigos assistiam a uma partida de futebol, encantados com a emoção do jogo e a habilidade dos jogadores. De repente, a bola caiu do outro lado da cerca, próximo de onde estavam as crianças. "Seria ótimo ter uma bola para brincarmos" — observou um dos meninos. "Vamos ficar com ela." Mas uma menina discordou. "Não é certo. Não é nossa", insistindo que devolvessem a bola para o campo. Aquele simples gesto de bondade aconteceu no coração da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, no início da década de 1940. Os jogadores eram britânicos prisioneiros de guerra em um campo localizado na periferia da cidade. Alguns dos jovens protestaram, alegando que os jogadores eram prisioneiros e questionando por que ficariam com a bola, quando as crianças não tinham nenhuma. Há força de caráter na bondade — a força moral e mental de se posicionar, doar, acreditar, perseverar, ser leal às suas convicções, mesmo que signifique enfrentar desafios ou arcar com consequências. Há bondades que deixam uma impressão permanente. Faz quase três quartos de séculos, mas é possível que ainda haja sobreviventes que presenciaram aquela cena de verão — e se houver, imagino que ainda se lembrem da minha avó, a garota da vila, que devolveu a bola de futebol.
  • 10. A senhora da limpeza No segundo ano do curso de enfermagem, nosso professor aplicou um questionário em que a última pergunta era: "Qual é o nome da mulher que limpa a escola?" Só podia ser piada. Eu tinha visto a faxineira várias vezes, mas como eu ia saber seu nome? Entreguei o papel com a última pergunta em branco. Antes do fim da aula, uma colega perguntou se a última questão valia nota. "Certamente!" — foi a resposta. "Nas suas carreiras, vocês encontrarão muitas pessoas. Todas são importantes. Todas merecem sua atenção e desvelo, mesmo se tudo que puder fazer for sorrir e dizer olá." Nunca esqueci aquela lição e aprendi que o nome da mulher é Dorothy. —Joann C. Jones
  • 11. Image Credits: Cover art copyright TFI. The Boy Sitting Next to Me: Image 1: Kirimatsu via DeviantArt.com; used under CC license. Image 2: Flamespeedy via DeviantArt.com; used under CC-NC license. The Power of a Peach Image 1: National Geographic; used under Fair Use guidelines. Image 2: Patrick via Flickr; used under Creative Commons-Attribution-Non Commercial license. Stolen Silver Image courtesy of http://lesmiserablesshoujocosette.wikia.com/wiki/The_Silver_Candlesticks. Three Cups of Tea Image 1: In public domain. Image 2: Courtesy of Wikimedia Commons The Soccer Ball Image is in public domain The Cleaning Lady Image designed by Iconicbestiary via Freepik.com www.freekidstories.org