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COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AS ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS DO FAZER 
CIENTÍFICO NA FORMAÇÃO DE UM CAMPO DE SABER 
Kátia Zanvettor Ferreira – USP 
I - Introdução. 
Este trabalho tem como objetivo compreender, com base nos textos analisados da 
revista “Comunicação & Educação”, como se constituiu o discurso científico de um 
campo hoje conhecido como o da comunicação/educação1 que, nas palavras de seus 
pesquisadores, emergiu nas Ciências da Comunicação. Claro que a formação e a 
instituição de um campo científico têm uma dimensão muito ampla, que extrapola os 
limites de qualquer publicação e neste caso não poderia ser diferente. Nosso trabalho é, 
portanto, um estudo preliminar que tem como foco os discursos sobre a constituição do 
fazer científico da comunicação/educação, mas que passa ao largo de qualquer tentativa 
de comprovar, confirmar ou verificar a autenticidade deste saberes e de qualquer 
julgamento de valor sobre sua circulação. 
Contudo, nossas escolhas revelam muito sobre como compreendemos a produção 
científica e o valor que o discurso do fazer científico pode ter sobre a própria ciência. 
Expõem que o que é dito sobre o fazer científico de um grupo, por seus pares em 
primeiro lugar e também em outros espaços sociais, pode significar o próprio processo 
de construção de um saber. Segundo Zamboni (1997), independente das diferentes 
abordagens sobre o fazer científico que ora o aproximam da razão, ora da intuição, 
parece ser consenso a idéia que o conhecimento científico não advém de uma atividade 
solitária. 
“Com a mesma dimensão de atividades sociais que se atribuem modernamente às comunidades 
científicas, desenvolvidas em trabalho de natureza colegiada, deve-se conceber a descoberta da 
ciência, ou seja, o fato científico, como resultante de uma construção social, fruto das 
circunstancias e condições de um determinado estágio do saber, em determinada época e lugar.” 
(Zamboni, 1997: 32) 
1 Este campo de saber que tem como ênfase pesquisas que correlacionem os saberes da educação e da 
comunicação também ficou amplamente conhecido, pelo trabalho desenvolvido na Escola de 
Comunicação e Artes da USP, como o campo da Educomunicação.
Assim, tanto a construção de um campo científico, como suas descobertas, é constituída 
pela interlocução e é por isso que consideramos que a revista científica, pode ser tão 
importante para compreendermos tanto o processo de constituição dos saberes 
produzidos dentro de um campo quanto para sua consolidação como ciência. 
Neste trabalho, portanto, nosso interesse está em entender os efeitos de sentidos2 
gerados por esta interlocução do campo da comunicação/educação, manifestados na 
publicação de mesmo nome editada pelo Departamento de Comunicação e Artes da 
Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Focaremos nosso olhar 
nas estratégias discursivas usadas pelos pesquisadores para confirmar a existência deste 
campo, mas também, nos discursos em que eles se apóiam para consolidar esta idéia de 
um fazer científico próprio, particular, e que, portanto é gerador de uma área específica 
do conhecimento. Assim, voltaremos nossa atenção para a intersecção entre a 
comunicação/educação, mas também para estes dois lugares teóricos, a educação e a 
comunicação, pois o encontro enfatizado no nome da disciplina não apaga suas marcas 
primeiras, ao contrário, enfatizam quais são as origens constitutivas deste campo. 
Com isto também marcamos que nossa atitude diante da linguagem é tomá-la como algo 
não transparente (Charaudeau, 2008, pag.20), isto é, que o que é dito e materializado 
sobre o campo de comunicação/educação não é fruto de uma intencionalidade primeira 
e irrefutável de um ou de outro autor. Acreditamos que os interlocutores de qualquer 
discurso estão, necessariamente, condicionados às tramas de outros discursos, neste 
caso, estão presos não só aos discursos da ciência, mas aos discursos provindos das 
diferentes áreas, a educação e a comunicação, e ainda aos discursos outros que compõe 
estes saberes primeiros (Charaudeau, 2006). Nossa relação com a linguagem, portanto, 
dá outra dimensão para a abordagem do texto, que não se dará a partir de um processo 
de evidenciar o que está apagado e clarear a intencionalidade do autor, mas sim o de 
considerar as diferentes perspectivas que se confrontam para construir os sentidos deste 
discurso de ciência, deste campo comunicação/educação. 
“O interdiscurso tem precedência sobre o discurso. Isso significa propor que a unidade de análise 
pertinente não é o discurso, mas um espaço de trocas entre vários discursos convenientemente 
2 A noção de efeito de sentido desde sua origem está atrelada a noção de discurso, contudo, sua 
abordagem depende da teoria a qual está vinculada. Neste trabalho usamos numa perspectiva ampla, 
como sentido do contexto discursivo e da situação, como também o restringimos ao efeito pretendido, isto 
é, os efeitos que o sujeito comunicante pretende e busca junto ao sujeito destinatário (Charaudeau & 
Maingueneau, 2004), deixando de lado o efeito produzido.
escolhidos (...). Seria a relação interdiscursiva, pois, que estruturaria a identidade. Todo o 
discurso, como toda a cultura, é finito, na medida em que repousa sobre partilhas iniciais, mas 
essas partilhas não tomariam forma sobre um espaço semântico indiferenciado.” (Maingueneau, 
D., 2005: 21) 
Esta abordagem tem como referência explícita a Análise do Discurso de tradição 
francesa, convencionalmente chamada de AD nos estudos da área, que neste trabalho 
essencialmente nos lembra que um discurso só assume sentido no interior de um 
universo de outros discursos (o interdiscurso). Restringiremos, com base no objetivo 
deste trabalho, o uso dos conceitos da AD à abordagem interdiscursiva do texto, 
trabalhando com a hipótese que o discurso de ciência dentro do campo se constitui em 
um primeiro momento a partir de uma idéia de objeto científico para, então, em um 
segundo momento, se instituir como um saber coletivo, construído no processo de 
interlocução. Ou seja, o objeto de estudo de um pesquisador só se efetiva como saber 
científico, a ser partilhado e perpetuado pela humanidade, quando submetido ao 
processo de interlocução com outros pesquisadores. 
Supomos também que há um movimento dialógico entre os saberes da comunicação e 
da educação, dois campos científicos já consolidados, que são trazidos pelos 
pesquisadores para a composição do lugar científico do campo Educação/Comunicação. 
Pretendemos, com a análise destes textos, acompanhar este movimento e perceber se 
realmente ele se constitui a partir de uma perspectiva de interação. 
Para este estudo, além de dados sobre a revista e do próprio programa de pós-graduação, 
obtidos em diferentes artigos, cartas de apresentação e no site oficial da revista, 
selecionamos dois textos, um publicado em 1994, na ocasião que do lançamento da 
“Comunicação & Educação” e outro publicado em 2005, durante as comemorações dos 
dez anos da publicação. Portanto, fazem parte do nosso corpus os textos “Do mundo 
Editado à construção do Mundo”3 e “Dez anos a serviço da construção do campo 
comunicação/educação”4, publicados em momentos diferentes na Revista. 
II - O nascimento da revista: a construção de um campo de saber. 
3 BACCEGA, M. A. Do mundo Editado à construção do mundo. Comunicação & Educação, São Paulo: 
CCA/ECA/USP/Moderna, n. 1, p.7-14, set./dez. 1994. 
4 BACCEGA, M. A. Dez anos a serviço da construção do campo comunicação/educação. Comunicação & 
Educação, São Paulo: CCA/ECA/USP/Ed. Paulinas, Ano X, n.3, set./dez. 2005.
A revista “Comunicação & Educação” surgiu em 1994, vinculada ao núcleo 
“Comunicação e Educação” do curso de pós-graduação Lato Sensu em Gestão da 
Comunicação, do Departamento de Comunicação e Artes da Escola de Comunicação e 
Artes da Universidade de São Paulo. Aos comemorar seus dez anos de história a revista 
contava com 30 números editados e uma circulação significativa que, além do Brasil, 
atingia também países da América Latina, Europa e Estados Unidos (PIRES, 2005). Sua 
história, recuperada durante uma mesa redonda com pesquisadores fundadores, na 
ocasião do seu aniversário de dez anos, é contada a partir do esforço de parte dos 
professores do Departamento de Comunicação e Artes em priorizar a formação teórica e 
defender o intercâmbio entre as diferentes habilidades da Escola, justamente em um 
momento que a divisão e formação técnica ganhavam força (Baccega, 2005: in: Fígaro) 
O projeto da revista nasceu junto com o projeto do curso de especialização Gestão da 
Comunicação, que por sua vez era acompanhado por uma proposta mais geral de um 
curso de graduação na área de processos comunicacionais, que não se consolidou. A 
idéia de se ter uma revista vinculada ao curso era reforçada pelo fato de se tratar de um 
campo em formação, que precisava de um debate público para aclarar suas questões 
(BACCEGA, 2005). Sua política editorial buscou, já nos primeiros números, conciliar o 
rigor acadêmico com debates de ordem prática, inserindo a revista em espaços 
heterogêneos e atingindo públicos diferenciados, como professores e profissionais de 
comunicação. 
“Seu propósito sempre foi ser um espaço de publicação científica das pesquisas no campo da 
comunicação/educação, além de servir de apoio para o professor nas suas atividades didáticas, 
estimulando-o a utilizar a comunicação e a mídia nas atividades educacionais. Sua linha editorial 
parte do pressuposto de que vivemos em um mundo editado, onde, nas palavras de BACCEGA, 
instituições e pessoas selecionam o que vamos ouvir, ver ou ler; que fazem a montagem do 
mundo que conhecemos.” (PIRES, 2005: 12) 
A proposta editorial da revista assim como está colocada pela autora sinaliza o esforço 
para a instituição do campo como um lugar de saber. Percebemos, contudo, que este 
esforço está atravessado por duas preocupações aparentemente antagônicas, mas que 
mostra uma abordagem da ciência como algo livre da interferência dos sujeitos, com 
seus valores e crenças (CORACINI, 1998). Assim, de um lado o campo é apresentado 
como um espaço de saber teórico, submetido e divulgado pela revista sob o controle e o 
rigor próprios deste saber, de outro lado ele é um lugar de encontro com a prática, não
só com um lugar de “aplicabilidade” da teoria, mas também tendo a prática como 
inspiradora desta teoria. 
Coracini (1998) ao estudar a relação entre teoria e prática na lingüística aplicada mostra 
como é polêmico, na contemporaneidade, estas duas visões de ciência. De um lado ela é 
descrita como algo a ser aplicada na vida prática e por outro também aparece submetida 
a uma visão idealizada de uma saber puro, sem interferência do concreto, uma 
dicotomia que demonstra o quanto ainda lidamos com uma concepção de ciência 
ideologizada, que supostamente estaria livre dos interesses em confronto na sociedade. 
No texto de apresentação da edição comemorativa dos dez anos da revista Comunicação 
& Educação, este conflito entre a construção do saber teórico e a aplicabilidade prática 
aparece na recuperação histórica do projeto: 
“...a revista nasceu da decisão de um conjunto de professores do Departamento de Comunicação 
e Artes da ECA, os quais, juntamente com suas pesquisas, com sua produção de conhecimento 
no campo da comunicação, sempre preocuparam com a formação de alunos e docentes, de todos 
os níveis, além dos demais agentes de educação, para vivenciarem a contemporaneidade.” 
(Baccega, 2005: 263) 
A teoria é o conhecimento gerado pelo trabalho de pesquisa desenvolvido por 
professores em suas atividades acadêmicas, portanto um conhecimento construído, 
sistematizado pela intervenção da pesquisa. A prática, também é resultado de uma 
intervenção do pesquisador sobre os acontecimentos do mundo, a formação dos 
professores, alunos e demais agentes de educação só existe em função de um querer dos 
pesquisadores. Ainda que a prática e teoria no campo, neste momento da revista, sejam 
vistos como um processo em construção, não é bem isso que encontramos na época da 
sua fundação. Ao contrário, o campo é visto como um lugar que já existe no cotidiano e 
que apenas carece de uma sistematização. 
“Está nascendo a revista Comunicação & Educação. Seu objetivo, como o próprio nome diz, é 
dialogar com esse espaço, já construído, onde Educação e Comunicação se encontram. Trata-se 
de um espaço cuja ação está presente em cada sala de aula, em cada grupo de pessoas, em cada 
um de nós” (Baccega, 1994: 7. grifos nossos). 
O campo comunicação/educação seria portando um lugar já pronto, ele está no mundo, 
se estabelece a partir das relações já existentes provocadas pela presença dos meios de 
comunicação de massa nos espaços sociais, especialmente nos espaços em que o
processo educativo acontece. O papel da revista e, posteriormente do próprio campo, 
seria o de evidenciar esta presença e os mecanismos de “edição do mundo” próprios 
destes meios, colaborando para uma abordagem crítica deste processo. 
Vamos estabelecer então, para facilitar nossa argumentação, a existência de dois 
momentos distintos na forma de explicar o fazer científico do campo. No primeiro 
momento, como vimos, o da época da fundação da revista, o que se evidencia é a 
preocupação em mostrar que o campo é um lugar que já está ali, manifestado na 
realidade, e que cabe aos estudiosos da área investigar esta realidade para compreendê-la 
e também confrontá-la. Há, nesta idéia, uma aproximação da noção de ciência como 
uma atividade perceptiva do observador (Zamboni, 2001: 31) 
No segundo momento temos um apagamento desta idéia do campo como lugar já 
estabelecido no mundo, para dar espaço ao sentido de lugar construído pelos 
pesquisadores. Aqui, o fato científico é concebido como resultante de uma construção 
social, fruto das circunstancias e condições de um determinado estágio de saber, em 
uma determinada época e lugar (Idem). Como aparece nesta declaração: 
“Temos convicção de que começamos com uma revista sobre comunicação/educação quando 
ainda não se falava nisso e, passados dez anos, vemos que contribuímos para a formação do 
campo e para uma maior clareza sobre esta questão” (Baccega, 2005: 263) 
Ora, se no primeiro momento vimos que comunicação/educação é um espaço já 
construído, um espaço que se faz nas relações entre os meios de comunicação e as 
atividades sociais, porque ele pode depois, neste segundo momento, ser visto como um 
campo construído ao longo de dez anos de reflexões expostas na revista? 
Estes argumentos podem parecer contraditórios, mas na verdade expõem o próprio 
movimento discursivo da revista, que se esforça para constituir um sentido homogêneo 
de comunicação/educação e, assim, instituí-lo como um novo campo. Como vimos 
anteriormente, nos argumentos de Zamboni, a ciência se constitui em espaços de 
interlocução, ela é resultado de um trabalho coletivo, construído discursivamente e que 
depende, para sua efetivação como saber científico, do reconhecimento de seus pares. 
Logo, no primeiro momento, ainda marcado pela ausência deste diálogo, pois o espaço 
de interlocução estava começando ali, o campo precisa buscar na idéia de fato científico 
um alicerce que justifique sua existência. A constatação de que existe um objeto de 
estudo, um espaço a ser observado parece ser fundamental para o início desta
empreitada de constituição do saber deste campo. Posteriormente, após dez anos de 
trabalho, a revista já acumulava um debate significativo e pode descartar com mais 
facilidade a idéia de que seu objeto está, necessariamente, fora do processo constitutivo 
do fazer cientifico. 
É no debate entre os pares e no reconhecimento do cumprimento dos critérios 
acadêmicos para a validação da sua produção (Fígaro, 2005) que a revista vai funcionar 
como um lugar em que o fazer científico de um campo particular se materializa. Se no 
primeiro momento, a comunicação/educação é algo externo, fora, a ser observado, 
analisado e criticado, no segundo momento ele já é tratado como um campo de saber, 
algo constitutivo e fruto do debate promovido por um círculo colaborativo. 
Assim, notamos que o campo da comunicação/educação se constituiu no discurso de um 
fazer coletivo, perpassado por seu objeto, mas não mais vindo dele e sim como 
resultado de uma reflexão coletiva e tendo como fonte diferentes discursos, 
especialmente o da comunicação e o da educação. 
É justamente sobre os sentidos construídos a partir destes debates que trataremos na 
próxima seção. Até agora restringimos nossa análise ao modo de constituição do 
discurso de ciência deste campo, como ele evoluiu e chegou a um sentido homogêneo 
transformando a comunicação/educação de um objeto de estudo para um campo de 
saber. Agora, nossa argumentação recairá sobre os sentidos em confronto que se 
manifestam no interior deste discurso de ciências. 
Como já sinalizamos pressupomos que esta constituição se dá a partir de um movimento 
interdiscursivo em que o discurso primeiro, que é o do campo da comunicação, compõe 
o discurso segundo, da comunicação/educação. Pretendemos, de forma bem sucinta, 
localizar neste processo interdiscursivo o espaço dado à educação e perceber se a 
integração pretendida e sinalizada no próprio nome do campo, realmente se efetiva. 
Cabe ressaltar que não se pretende aqui esgotar as possibilidades de análise desse 
processo, mas, fundamentalmente, apresentar alguns elementos relevantes para a sua 
compreensão e, então, colocá-los ao debate. 
III – Os sentidos da comunicação e da educação na composição do discurso do 
campo Educação/Comunicação
O campo da comunicação se apresenta em um terreno movediço. Não é difícil 
encontrarmos em trabalhos da área justificativas que nos remetem a inevitável falta de 
definição do que sejam os estudos da comunicação5 e, até mesmo, a dúvida sobre seu 
lugar como ciência. Segundo Lopes (2003), a comunicação não é uma ciência, mas um 
campo de estudo multidisciplinar cujos métodos e teorias foram desenvolvidos a partir 
do quadro de outras teorias sociais. Contudo, esta é uma posição que está longe de ser 
consenso e no quadro dos estudiosos da comunicação, apesar do reconhecimento da sua 
complexidade e da dificuldade de definição do seu objeto de estudo, existe a defesa do 
seu papel científico, mesmo que novo e ainda em construção (Martino, 2003). 
Seria, portanto, precipitado ignorar que a comunicação é atravessada por uma série de 
tensões, contradições e dificuldades. A própria etimologia do termo nos remete, numa 
série de idas e vindas, para as contradições que emanam da comunicação, ora vista 
como uma relação em vias de superar o isolamento, ora como uma idéia de realização, 
ora como encontro social, ou ainda com um sentido “platônico” de participação 
(Martino, 2003: 14). 
Contudo, mesmo no interior de um movimento carregado de tensão6 as definições 
aparecem, circulam e se cristalizam. Reconhecendo a complexidade seus pesquisadores 
não a negam, mas a tomam como a força do seu fazer científico. A comunicação se 
apropriaria dos saberes das Ciências Sociais para transformá-los, por meio de novas 
posturas metodológicas, e com foco nos processos comunicacionais, seu mais caro 
objeto de estudos. 
“Desse modo, a apropriação das ciências sociais para a constituição desse campo se dá num 
processo espiralado de metassignificações, que redundam, obviamente, em novas posturas 
metodológicas, a partir das quais se poderá dar conta da efetividade dos processos 
comunicacionais.” (Baccega, 2005b) 
Os processos comunicacionais não se limitariam ao estudo dos meios de comunicação 
de massa e seus efeitos, abarcariam também o emaranhado de sentidos construídos pela 
mediação da informação coletiva (Baccega, 2005b). Assim, mais que o estudo dos 
5 Neste trabalho não temos como propósito encontrar uma explicação para esta complexidade a qual o 
campo da comunicação está submetido. Para uma leitura sobre esta questão sugerimos a leitura de 
Martino, L. C, 2001 e outros artigos da coletânea organizada por França, V. V., Martino, L. C e Hohlfedt, 
A. 
6 Mesmo não ignorando esta realidade não está nos objetivos deste trabalho superar tamanha 
complexidade e, portanto, faremos uma escolha consciente sobre os sentidos construídos para a idéia de 
ciência da comunicação.
meios, os pesquisadores tem a tarefa de estudar os efeitos, o impacto que a informação 
mediada pode provocar na sociedade contemporânea. No campo da 
comunicação/educação, mesmo se tratando de um outro lugar científico como vimos na 
seção anterior, esta preocupação com o papel dos meios na mediação do mundo aparece 
recorrentemente. 
“O mundo que nos é trazido, que conhecemos e a partir do qual refletiremos é um mundo que 
nos chega EDITADO, ou seja, ele é redesenhado num trajeto que passa por centenas, às vezes 
milhares de filtros até que “apareça” no rádio, na televisão.” (Baccega, 1994) 
Portanto, é a partir deste discurso da comunicação, do seu poder de mediação e edição 
do mundo, que o discurso deste novo campo vai se estruturar para se constituir. A 
comunicação é, portanto o Outro do discurso da comunicação/educação, na perspectiva 
interdiscursiva de constituição de um discurso. As marcas são aparentes, como vimos na 
citação e podemos localizá-las em outros trechos dos textos, mas eles não estão 
exclusivamente nesta superfície discursiva. Como bem analisa Maingueneau, este 
processo de relação entre dois discursos não é necessariamente localizável, pois o 
discurso primeiro está fadado a ser ameaçado em seus próprios fundamentos para servir 
aos propósitos do discurso segundo (Maingueneau, 2005: 41). 
No caso do discurso da comunicação/educação, o discurso da comunicação é também 
retomado de uma forma reorganizada justamente para fundamentar a interlocução com a 
educação, e, conseqüentemente, explicar a existência deste novo campo. Os processos 
de mediação, de edição do mundo, de recortes de verdades, de seleção de pontos de 
vista operados pelos meios de comunicação, identificados no discurso da comunicação, 
são recolocados como lugar de produção de saber, portanto, como espaços educativos7. 
Logo, os processos comunicativos passam a assumir papéis educativos, no sentido de 
produção, circulação e perpetuação de saberes8. 
“São esses filtros – instituições e pessoas – que selecionam o que vamos ouvir, ver ou ler; que 
fazem a montagem do mundo que conhecemos. Aqui está um dos pontos básicos da reflexão 
sobre o espaço onde se encontram Comunicação e Educação e que gostaríamos de mostrar: que o 
7 Para o bem o para o mal os meios de comunicação educam, conformam o mundo a partir das suas 
próprias construções da realidade. A relação entre comunicação/educação permite, inclusive, um processo 
de confrontação desta “educação dos meios” (Baccega, 2005b) 
8 Sabemos que não é só atribuindo o papel de educador aos meios de comunicação que a intersecção 
comunicação/educação procura dialogar com a educação, contudo, para o objetivo deste trabalho 
restringimos a análise dos meios como educadores.
mundo é editado e assim ele chega para nós que sua edição obedece interesses de diferentes 
tipos, sobretudo econômicos, e que, desse modo, acabamos por “ver” até a nossa própria 
realidade do jeito que ela foi editada “ (Baccega: 1994) 
O lugar de educador que os meios de comunicação – as instituições e pessoas – 
assumem parece se estruturar dentro de um sentido extremamente centralizador o que 
acaba provocando um apagamento das contradições e das inúmeras possibilidades 
próprias do ato de educar. O que está em questão para o campo, portanto, não são 
resistências, diversidades e diferenças que compõe o processo educativo (Coracini, 
1998) e sim, como os Meios de Comunicação organizam discursos que os legitimam 
como educadores. 
O campo questiona este papel de educador dos Meios e partindo da desconstrução da 
idéia de portadores da “verdade” e do questionamento do próprio conceito de verdade. 
Para o campo este é um conceito construído e que estará sempre atravessado por tensões 
e transgressões, análise que parece trazer uma contradição própria do campo 
comunicativo, que ainda, filosoficamente, não superou a idéia de verdade (Hernandes, 
2005). Logo, é possível perceber que mesmo em uma tentativa de aproximação, 
interação e diálogo com o campo educativo é pelo discurso da comunicação que os 
sentidos do campo “Comunicação/Educação” vão se constituir, pelo menos, nos dizeres 
da revista analisada. 
IV – Considerações Finais 
A ciência é fruto de um processo de construção discursiva. O saber científico só existe e 
se efetiva na interlocução entre os produtores deste saber. O objeto da ciência não pode 
ser visto simplesmente como algo que está fora do processo de produção científica. Ao 
pensar sobre o objeto o cientista e seus pares o transformam, o conformam e até mesmo 
confirmam sua existência ou o condenam ao isolamento. Neste trabalho, pela análise do 
material dos primeiros dez anos de publicação da revista Comunicação & Educação, 
pudemos perceber como se deu este processo de construção coletiva e sua importância 
na transformação de um lugar disperso, onde vários saberes se encontram, para um 
campo homogêneo e reivindicado como um lugar de fazer científico. 
Este processo se evidencia não só na continuidade material da revista e na ampliação da 
sua importância no meio acadêmico, mas, principalmente, nos discursos de seus
pesquisadores que, ao recuperar sua trajetória, identificam-na com um trabalho de 
construção de um campo. Pudemos perceber que os discursos sobre e a forma de tratar a 
“comunicação/educação” se transformam significativamente, passando de objeto de 
estudo para campo de saber, construído e compartilhado. 
E como este novo campo se posiciona? Com quais discursos ele partilha sentidos para 
compor seu olhar sobre o seu fazer científico? Percebemos que, em primeiro lugar, o 
discurso do campo faz um retorno ao discurso da comunicação, mesmo entrando em um 
cenário arenoso e pouco definido, pinça delimitações sobre os processos comunicativos 
e os efeitos deste processo nas relações sociais. 
Este movimento, contudo, não se constitui ao acaso, mas é resultado de uma 
aproximação da comunicação em direção à educação, para então constituir a intersecção 
comunicação/educação. Presumindo o poder dos meios de comunicação sobre a 
sociedade contemporânea, o campo o identifica como um lugar de saber, um espaço de 
educação. Notamos, contudo, que por mais que no discurso de composição do campo 
exista uma tentativa de dialogar com a educação, este movimento dialógico não se 
completa, pelo menos não na perspectiva analisada. De fato a aproximação é feita a 
partir dos sentidos da própria comunicação, abrindo pouco espaço para refletir sobre as 
contradições que também existem no campo educativo. 
Com essas considerações procuramos demonstrar que o processo de formação de um 
campo depende da interlocução entre seus pares e que, os discursos que os legitimam 
são resultados deste processo de interação discursiva. 
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Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade de São Paulo, 2005. 
LOPES, Maria Immacolata V. Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Loyola, 2003, 7ª 
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  • 1. COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AS ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS DO FAZER CIENTÍFICO NA FORMAÇÃO DE UM CAMPO DE SABER Kátia Zanvettor Ferreira – USP I - Introdução. Este trabalho tem como objetivo compreender, com base nos textos analisados da revista “Comunicação & Educação”, como se constituiu o discurso científico de um campo hoje conhecido como o da comunicação/educação1 que, nas palavras de seus pesquisadores, emergiu nas Ciências da Comunicação. Claro que a formação e a instituição de um campo científico têm uma dimensão muito ampla, que extrapola os limites de qualquer publicação e neste caso não poderia ser diferente. Nosso trabalho é, portanto, um estudo preliminar que tem como foco os discursos sobre a constituição do fazer científico da comunicação/educação, mas que passa ao largo de qualquer tentativa de comprovar, confirmar ou verificar a autenticidade deste saberes e de qualquer julgamento de valor sobre sua circulação. Contudo, nossas escolhas revelam muito sobre como compreendemos a produção científica e o valor que o discurso do fazer científico pode ter sobre a própria ciência. Expõem que o que é dito sobre o fazer científico de um grupo, por seus pares em primeiro lugar e também em outros espaços sociais, pode significar o próprio processo de construção de um saber. Segundo Zamboni (1997), independente das diferentes abordagens sobre o fazer científico que ora o aproximam da razão, ora da intuição, parece ser consenso a idéia que o conhecimento científico não advém de uma atividade solitária. “Com a mesma dimensão de atividades sociais que se atribuem modernamente às comunidades científicas, desenvolvidas em trabalho de natureza colegiada, deve-se conceber a descoberta da ciência, ou seja, o fato científico, como resultante de uma construção social, fruto das circunstancias e condições de um determinado estágio do saber, em determinada época e lugar.” (Zamboni, 1997: 32) 1 Este campo de saber que tem como ênfase pesquisas que correlacionem os saberes da educação e da comunicação também ficou amplamente conhecido, pelo trabalho desenvolvido na Escola de Comunicação e Artes da USP, como o campo da Educomunicação.
  • 2. Assim, tanto a construção de um campo científico, como suas descobertas, é constituída pela interlocução e é por isso que consideramos que a revista científica, pode ser tão importante para compreendermos tanto o processo de constituição dos saberes produzidos dentro de um campo quanto para sua consolidação como ciência. Neste trabalho, portanto, nosso interesse está em entender os efeitos de sentidos2 gerados por esta interlocução do campo da comunicação/educação, manifestados na publicação de mesmo nome editada pelo Departamento de Comunicação e Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Focaremos nosso olhar nas estratégias discursivas usadas pelos pesquisadores para confirmar a existência deste campo, mas também, nos discursos em que eles se apóiam para consolidar esta idéia de um fazer científico próprio, particular, e que, portanto é gerador de uma área específica do conhecimento. Assim, voltaremos nossa atenção para a intersecção entre a comunicação/educação, mas também para estes dois lugares teóricos, a educação e a comunicação, pois o encontro enfatizado no nome da disciplina não apaga suas marcas primeiras, ao contrário, enfatizam quais são as origens constitutivas deste campo. Com isto também marcamos que nossa atitude diante da linguagem é tomá-la como algo não transparente (Charaudeau, 2008, pag.20), isto é, que o que é dito e materializado sobre o campo de comunicação/educação não é fruto de uma intencionalidade primeira e irrefutável de um ou de outro autor. Acreditamos que os interlocutores de qualquer discurso estão, necessariamente, condicionados às tramas de outros discursos, neste caso, estão presos não só aos discursos da ciência, mas aos discursos provindos das diferentes áreas, a educação e a comunicação, e ainda aos discursos outros que compõe estes saberes primeiros (Charaudeau, 2006). Nossa relação com a linguagem, portanto, dá outra dimensão para a abordagem do texto, que não se dará a partir de um processo de evidenciar o que está apagado e clarear a intencionalidade do autor, mas sim o de considerar as diferentes perspectivas que se confrontam para construir os sentidos deste discurso de ciência, deste campo comunicação/educação. “O interdiscurso tem precedência sobre o discurso. Isso significa propor que a unidade de análise pertinente não é o discurso, mas um espaço de trocas entre vários discursos convenientemente 2 A noção de efeito de sentido desde sua origem está atrelada a noção de discurso, contudo, sua abordagem depende da teoria a qual está vinculada. Neste trabalho usamos numa perspectiva ampla, como sentido do contexto discursivo e da situação, como também o restringimos ao efeito pretendido, isto é, os efeitos que o sujeito comunicante pretende e busca junto ao sujeito destinatário (Charaudeau & Maingueneau, 2004), deixando de lado o efeito produzido.
  • 3. escolhidos (...). Seria a relação interdiscursiva, pois, que estruturaria a identidade. Todo o discurso, como toda a cultura, é finito, na medida em que repousa sobre partilhas iniciais, mas essas partilhas não tomariam forma sobre um espaço semântico indiferenciado.” (Maingueneau, D., 2005: 21) Esta abordagem tem como referência explícita a Análise do Discurso de tradição francesa, convencionalmente chamada de AD nos estudos da área, que neste trabalho essencialmente nos lembra que um discurso só assume sentido no interior de um universo de outros discursos (o interdiscurso). Restringiremos, com base no objetivo deste trabalho, o uso dos conceitos da AD à abordagem interdiscursiva do texto, trabalhando com a hipótese que o discurso de ciência dentro do campo se constitui em um primeiro momento a partir de uma idéia de objeto científico para, então, em um segundo momento, se instituir como um saber coletivo, construído no processo de interlocução. Ou seja, o objeto de estudo de um pesquisador só se efetiva como saber científico, a ser partilhado e perpetuado pela humanidade, quando submetido ao processo de interlocução com outros pesquisadores. Supomos também que há um movimento dialógico entre os saberes da comunicação e da educação, dois campos científicos já consolidados, que são trazidos pelos pesquisadores para a composição do lugar científico do campo Educação/Comunicação. Pretendemos, com a análise destes textos, acompanhar este movimento e perceber se realmente ele se constitui a partir de uma perspectiva de interação. Para este estudo, além de dados sobre a revista e do próprio programa de pós-graduação, obtidos em diferentes artigos, cartas de apresentação e no site oficial da revista, selecionamos dois textos, um publicado em 1994, na ocasião que do lançamento da “Comunicação & Educação” e outro publicado em 2005, durante as comemorações dos dez anos da publicação. Portanto, fazem parte do nosso corpus os textos “Do mundo Editado à construção do Mundo”3 e “Dez anos a serviço da construção do campo comunicação/educação”4, publicados em momentos diferentes na Revista. II - O nascimento da revista: a construção de um campo de saber. 3 BACCEGA, M. A. Do mundo Editado à construção do mundo. Comunicação & Educação, São Paulo: CCA/ECA/USP/Moderna, n. 1, p.7-14, set./dez. 1994. 4 BACCEGA, M. A. Dez anos a serviço da construção do campo comunicação/educação. Comunicação & Educação, São Paulo: CCA/ECA/USP/Ed. Paulinas, Ano X, n.3, set./dez. 2005.
  • 4. A revista “Comunicação & Educação” surgiu em 1994, vinculada ao núcleo “Comunicação e Educação” do curso de pós-graduação Lato Sensu em Gestão da Comunicação, do Departamento de Comunicação e Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Aos comemorar seus dez anos de história a revista contava com 30 números editados e uma circulação significativa que, além do Brasil, atingia também países da América Latina, Europa e Estados Unidos (PIRES, 2005). Sua história, recuperada durante uma mesa redonda com pesquisadores fundadores, na ocasião do seu aniversário de dez anos, é contada a partir do esforço de parte dos professores do Departamento de Comunicação e Artes em priorizar a formação teórica e defender o intercâmbio entre as diferentes habilidades da Escola, justamente em um momento que a divisão e formação técnica ganhavam força (Baccega, 2005: in: Fígaro) O projeto da revista nasceu junto com o projeto do curso de especialização Gestão da Comunicação, que por sua vez era acompanhado por uma proposta mais geral de um curso de graduação na área de processos comunicacionais, que não se consolidou. A idéia de se ter uma revista vinculada ao curso era reforçada pelo fato de se tratar de um campo em formação, que precisava de um debate público para aclarar suas questões (BACCEGA, 2005). Sua política editorial buscou, já nos primeiros números, conciliar o rigor acadêmico com debates de ordem prática, inserindo a revista em espaços heterogêneos e atingindo públicos diferenciados, como professores e profissionais de comunicação. “Seu propósito sempre foi ser um espaço de publicação científica das pesquisas no campo da comunicação/educação, além de servir de apoio para o professor nas suas atividades didáticas, estimulando-o a utilizar a comunicação e a mídia nas atividades educacionais. Sua linha editorial parte do pressuposto de que vivemos em um mundo editado, onde, nas palavras de BACCEGA, instituições e pessoas selecionam o que vamos ouvir, ver ou ler; que fazem a montagem do mundo que conhecemos.” (PIRES, 2005: 12) A proposta editorial da revista assim como está colocada pela autora sinaliza o esforço para a instituição do campo como um lugar de saber. Percebemos, contudo, que este esforço está atravessado por duas preocupações aparentemente antagônicas, mas que mostra uma abordagem da ciência como algo livre da interferência dos sujeitos, com seus valores e crenças (CORACINI, 1998). Assim, de um lado o campo é apresentado como um espaço de saber teórico, submetido e divulgado pela revista sob o controle e o rigor próprios deste saber, de outro lado ele é um lugar de encontro com a prática, não
  • 5. só com um lugar de “aplicabilidade” da teoria, mas também tendo a prática como inspiradora desta teoria. Coracini (1998) ao estudar a relação entre teoria e prática na lingüística aplicada mostra como é polêmico, na contemporaneidade, estas duas visões de ciência. De um lado ela é descrita como algo a ser aplicada na vida prática e por outro também aparece submetida a uma visão idealizada de uma saber puro, sem interferência do concreto, uma dicotomia que demonstra o quanto ainda lidamos com uma concepção de ciência ideologizada, que supostamente estaria livre dos interesses em confronto na sociedade. No texto de apresentação da edição comemorativa dos dez anos da revista Comunicação & Educação, este conflito entre a construção do saber teórico e a aplicabilidade prática aparece na recuperação histórica do projeto: “...a revista nasceu da decisão de um conjunto de professores do Departamento de Comunicação e Artes da ECA, os quais, juntamente com suas pesquisas, com sua produção de conhecimento no campo da comunicação, sempre preocuparam com a formação de alunos e docentes, de todos os níveis, além dos demais agentes de educação, para vivenciarem a contemporaneidade.” (Baccega, 2005: 263) A teoria é o conhecimento gerado pelo trabalho de pesquisa desenvolvido por professores em suas atividades acadêmicas, portanto um conhecimento construído, sistematizado pela intervenção da pesquisa. A prática, também é resultado de uma intervenção do pesquisador sobre os acontecimentos do mundo, a formação dos professores, alunos e demais agentes de educação só existe em função de um querer dos pesquisadores. Ainda que a prática e teoria no campo, neste momento da revista, sejam vistos como um processo em construção, não é bem isso que encontramos na época da sua fundação. Ao contrário, o campo é visto como um lugar que já existe no cotidiano e que apenas carece de uma sistematização. “Está nascendo a revista Comunicação & Educação. Seu objetivo, como o próprio nome diz, é dialogar com esse espaço, já construído, onde Educação e Comunicação se encontram. Trata-se de um espaço cuja ação está presente em cada sala de aula, em cada grupo de pessoas, em cada um de nós” (Baccega, 1994: 7. grifos nossos). O campo comunicação/educação seria portando um lugar já pronto, ele está no mundo, se estabelece a partir das relações já existentes provocadas pela presença dos meios de comunicação de massa nos espaços sociais, especialmente nos espaços em que o
  • 6. processo educativo acontece. O papel da revista e, posteriormente do próprio campo, seria o de evidenciar esta presença e os mecanismos de “edição do mundo” próprios destes meios, colaborando para uma abordagem crítica deste processo. Vamos estabelecer então, para facilitar nossa argumentação, a existência de dois momentos distintos na forma de explicar o fazer científico do campo. No primeiro momento, como vimos, o da época da fundação da revista, o que se evidencia é a preocupação em mostrar que o campo é um lugar que já está ali, manifestado na realidade, e que cabe aos estudiosos da área investigar esta realidade para compreendê-la e também confrontá-la. Há, nesta idéia, uma aproximação da noção de ciência como uma atividade perceptiva do observador (Zamboni, 2001: 31) No segundo momento temos um apagamento desta idéia do campo como lugar já estabelecido no mundo, para dar espaço ao sentido de lugar construído pelos pesquisadores. Aqui, o fato científico é concebido como resultante de uma construção social, fruto das circunstancias e condições de um determinado estágio de saber, em uma determinada época e lugar (Idem). Como aparece nesta declaração: “Temos convicção de que começamos com uma revista sobre comunicação/educação quando ainda não se falava nisso e, passados dez anos, vemos que contribuímos para a formação do campo e para uma maior clareza sobre esta questão” (Baccega, 2005: 263) Ora, se no primeiro momento vimos que comunicação/educação é um espaço já construído, um espaço que se faz nas relações entre os meios de comunicação e as atividades sociais, porque ele pode depois, neste segundo momento, ser visto como um campo construído ao longo de dez anos de reflexões expostas na revista? Estes argumentos podem parecer contraditórios, mas na verdade expõem o próprio movimento discursivo da revista, que se esforça para constituir um sentido homogêneo de comunicação/educação e, assim, instituí-lo como um novo campo. Como vimos anteriormente, nos argumentos de Zamboni, a ciência se constitui em espaços de interlocução, ela é resultado de um trabalho coletivo, construído discursivamente e que depende, para sua efetivação como saber científico, do reconhecimento de seus pares. Logo, no primeiro momento, ainda marcado pela ausência deste diálogo, pois o espaço de interlocução estava começando ali, o campo precisa buscar na idéia de fato científico um alicerce que justifique sua existência. A constatação de que existe um objeto de estudo, um espaço a ser observado parece ser fundamental para o início desta
  • 7. empreitada de constituição do saber deste campo. Posteriormente, após dez anos de trabalho, a revista já acumulava um debate significativo e pode descartar com mais facilidade a idéia de que seu objeto está, necessariamente, fora do processo constitutivo do fazer cientifico. É no debate entre os pares e no reconhecimento do cumprimento dos critérios acadêmicos para a validação da sua produção (Fígaro, 2005) que a revista vai funcionar como um lugar em que o fazer científico de um campo particular se materializa. Se no primeiro momento, a comunicação/educação é algo externo, fora, a ser observado, analisado e criticado, no segundo momento ele já é tratado como um campo de saber, algo constitutivo e fruto do debate promovido por um círculo colaborativo. Assim, notamos que o campo da comunicação/educação se constituiu no discurso de um fazer coletivo, perpassado por seu objeto, mas não mais vindo dele e sim como resultado de uma reflexão coletiva e tendo como fonte diferentes discursos, especialmente o da comunicação e o da educação. É justamente sobre os sentidos construídos a partir destes debates que trataremos na próxima seção. Até agora restringimos nossa análise ao modo de constituição do discurso de ciência deste campo, como ele evoluiu e chegou a um sentido homogêneo transformando a comunicação/educação de um objeto de estudo para um campo de saber. Agora, nossa argumentação recairá sobre os sentidos em confronto que se manifestam no interior deste discurso de ciências. Como já sinalizamos pressupomos que esta constituição se dá a partir de um movimento interdiscursivo em que o discurso primeiro, que é o do campo da comunicação, compõe o discurso segundo, da comunicação/educação. Pretendemos, de forma bem sucinta, localizar neste processo interdiscursivo o espaço dado à educação e perceber se a integração pretendida e sinalizada no próprio nome do campo, realmente se efetiva. Cabe ressaltar que não se pretende aqui esgotar as possibilidades de análise desse processo, mas, fundamentalmente, apresentar alguns elementos relevantes para a sua compreensão e, então, colocá-los ao debate. III – Os sentidos da comunicação e da educação na composição do discurso do campo Educação/Comunicação
  • 8. O campo da comunicação se apresenta em um terreno movediço. Não é difícil encontrarmos em trabalhos da área justificativas que nos remetem a inevitável falta de definição do que sejam os estudos da comunicação5 e, até mesmo, a dúvida sobre seu lugar como ciência. Segundo Lopes (2003), a comunicação não é uma ciência, mas um campo de estudo multidisciplinar cujos métodos e teorias foram desenvolvidos a partir do quadro de outras teorias sociais. Contudo, esta é uma posição que está longe de ser consenso e no quadro dos estudiosos da comunicação, apesar do reconhecimento da sua complexidade e da dificuldade de definição do seu objeto de estudo, existe a defesa do seu papel científico, mesmo que novo e ainda em construção (Martino, 2003). Seria, portanto, precipitado ignorar que a comunicação é atravessada por uma série de tensões, contradições e dificuldades. A própria etimologia do termo nos remete, numa série de idas e vindas, para as contradições que emanam da comunicação, ora vista como uma relação em vias de superar o isolamento, ora como uma idéia de realização, ora como encontro social, ou ainda com um sentido “platônico” de participação (Martino, 2003: 14). Contudo, mesmo no interior de um movimento carregado de tensão6 as definições aparecem, circulam e se cristalizam. Reconhecendo a complexidade seus pesquisadores não a negam, mas a tomam como a força do seu fazer científico. A comunicação se apropriaria dos saberes das Ciências Sociais para transformá-los, por meio de novas posturas metodológicas, e com foco nos processos comunicacionais, seu mais caro objeto de estudos. “Desse modo, a apropriação das ciências sociais para a constituição desse campo se dá num processo espiralado de metassignificações, que redundam, obviamente, em novas posturas metodológicas, a partir das quais se poderá dar conta da efetividade dos processos comunicacionais.” (Baccega, 2005b) Os processos comunicacionais não se limitariam ao estudo dos meios de comunicação de massa e seus efeitos, abarcariam também o emaranhado de sentidos construídos pela mediação da informação coletiva (Baccega, 2005b). Assim, mais que o estudo dos 5 Neste trabalho não temos como propósito encontrar uma explicação para esta complexidade a qual o campo da comunicação está submetido. Para uma leitura sobre esta questão sugerimos a leitura de Martino, L. C, 2001 e outros artigos da coletânea organizada por França, V. V., Martino, L. C e Hohlfedt, A. 6 Mesmo não ignorando esta realidade não está nos objetivos deste trabalho superar tamanha complexidade e, portanto, faremos uma escolha consciente sobre os sentidos construídos para a idéia de ciência da comunicação.
  • 9. meios, os pesquisadores tem a tarefa de estudar os efeitos, o impacto que a informação mediada pode provocar na sociedade contemporânea. No campo da comunicação/educação, mesmo se tratando de um outro lugar científico como vimos na seção anterior, esta preocupação com o papel dos meios na mediação do mundo aparece recorrentemente. “O mundo que nos é trazido, que conhecemos e a partir do qual refletiremos é um mundo que nos chega EDITADO, ou seja, ele é redesenhado num trajeto que passa por centenas, às vezes milhares de filtros até que “apareça” no rádio, na televisão.” (Baccega, 1994) Portanto, é a partir deste discurso da comunicação, do seu poder de mediação e edição do mundo, que o discurso deste novo campo vai se estruturar para se constituir. A comunicação é, portanto o Outro do discurso da comunicação/educação, na perspectiva interdiscursiva de constituição de um discurso. As marcas são aparentes, como vimos na citação e podemos localizá-las em outros trechos dos textos, mas eles não estão exclusivamente nesta superfície discursiva. Como bem analisa Maingueneau, este processo de relação entre dois discursos não é necessariamente localizável, pois o discurso primeiro está fadado a ser ameaçado em seus próprios fundamentos para servir aos propósitos do discurso segundo (Maingueneau, 2005: 41). No caso do discurso da comunicação/educação, o discurso da comunicação é também retomado de uma forma reorganizada justamente para fundamentar a interlocução com a educação, e, conseqüentemente, explicar a existência deste novo campo. Os processos de mediação, de edição do mundo, de recortes de verdades, de seleção de pontos de vista operados pelos meios de comunicação, identificados no discurso da comunicação, são recolocados como lugar de produção de saber, portanto, como espaços educativos7. Logo, os processos comunicativos passam a assumir papéis educativos, no sentido de produção, circulação e perpetuação de saberes8. “São esses filtros – instituições e pessoas – que selecionam o que vamos ouvir, ver ou ler; que fazem a montagem do mundo que conhecemos. Aqui está um dos pontos básicos da reflexão sobre o espaço onde se encontram Comunicação e Educação e que gostaríamos de mostrar: que o 7 Para o bem o para o mal os meios de comunicação educam, conformam o mundo a partir das suas próprias construções da realidade. A relação entre comunicação/educação permite, inclusive, um processo de confrontação desta “educação dos meios” (Baccega, 2005b) 8 Sabemos que não é só atribuindo o papel de educador aos meios de comunicação que a intersecção comunicação/educação procura dialogar com a educação, contudo, para o objetivo deste trabalho restringimos a análise dos meios como educadores.
  • 10. mundo é editado e assim ele chega para nós que sua edição obedece interesses de diferentes tipos, sobretudo econômicos, e que, desse modo, acabamos por “ver” até a nossa própria realidade do jeito que ela foi editada “ (Baccega: 1994) O lugar de educador que os meios de comunicação – as instituições e pessoas – assumem parece se estruturar dentro de um sentido extremamente centralizador o que acaba provocando um apagamento das contradições e das inúmeras possibilidades próprias do ato de educar. O que está em questão para o campo, portanto, não são resistências, diversidades e diferenças que compõe o processo educativo (Coracini, 1998) e sim, como os Meios de Comunicação organizam discursos que os legitimam como educadores. O campo questiona este papel de educador dos Meios e partindo da desconstrução da idéia de portadores da “verdade” e do questionamento do próprio conceito de verdade. Para o campo este é um conceito construído e que estará sempre atravessado por tensões e transgressões, análise que parece trazer uma contradição própria do campo comunicativo, que ainda, filosoficamente, não superou a idéia de verdade (Hernandes, 2005). Logo, é possível perceber que mesmo em uma tentativa de aproximação, interação e diálogo com o campo educativo é pelo discurso da comunicação que os sentidos do campo “Comunicação/Educação” vão se constituir, pelo menos, nos dizeres da revista analisada. IV – Considerações Finais A ciência é fruto de um processo de construção discursiva. O saber científico só existe e se efetiva na interlocução entre os produtores deste saber. O objeto da ciência não pode ser visto simplesmente como algo que está fora do processo de produção científica. Ao pensar sobre o objeto o cientista e seus pares o transformam, o conformam e até mesmo confirmam sua existência ou o condenam ao isolamento. Neste trabalho, pela análise do material dos primeiros dez anos de publicação da revista Comunicação & Educação, pudemos perceber como se deu este processo de construção coletiva e sua importância na transformação de um lugar disperso, onde vários saberes se encontram, para um campo homogêneo e reivindicado como um lugar de fazer científico. Este processo se evidencia não só na continuidade material da revista e na ampliação da sua importância no meio acadêmico, mas, principalmente, nos discursos de seus
  • 11. pesquisadores que, ao recuperar sua trajetória, identificam-na com um trabalho de construção de um campo. Pudemos perceber que os discursos sobre e a forma de tratar a “comunicação/educação” se transformam significativamente, passando de objeto de estudo para campo de saber, construído e compartilhado. E como este novo campo se posiciona? Com quais discursos ele partilha sentidos para compor seu olhar sobre o seu fazer científico? Percebemos que, em primeiro lugar, o discurso do campo faz um retorno ao discurso da comunicação, mesmo entrando em um cenário arenoso e pouco definido, pinça delimitações sobre os processos comunicativos e os efeitos deste processo nas relações sociais. Este movimento, contudo, não se constitui ao acaso, mas é resultado de uma aproximação da comunicação em direção à educação, para então constituir a intersecção comunicação/educação. Presumindo o poder dos meios de comunicação sobre a sociedade contemporânea, o campo o identifica como um lugar de saber, um espaço de educação. Notamos, contudo, que por mais que no discurso de composição do campo exista uma tentativa de dialogar com a educação, este movimento dialógico não se completa, pelo menos não na perspectiva analisada. De fato a aproximação é feita a partir dos sentidos da própria comunicação, abrindo pouco espaço para refletir sobre as contradições que também existem no campo educativo. Com essas considerações procuramos demonstrar que o processo de formação de um campo depende da interlocução entre seus pares e que, os discursos que os legitimam são resultados deste processo de interação discursiva. Bibliografia. BACCEGA, M. A. Do mundo Editado à construção do mundo. Comunicação & Educação, São Paulo: CCA/ECA/USP/Moderna, n. 1, p.7-14, set./dez. 1994. _______________. Dez anos a serviço da construção do campo comunicação/educação. Comunicação & Educação, São Paulo: CCA/ECA/USP/Ed. Paulinas, Ano X, n.3, set./dez. 2005. _______________.Comunicação e Educação: um campo em ação. Actas do 3° SOPCOM/ 4° LUSOCOM/ 2° IBÉRICO, 2005b. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/_listas/tematica.php?codtema=83 . Acessado em 10 de Julho de 2008.
  • 12. CHARAUDEAU, P. & MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2004. CHARAUDEAU, P. Discurso das Mídias. São Paulo: Contexto, 2006. ________________. Linguagem e Discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008. CORACINI, M.J. A TEORIA E A PRÁTICA: A QUESTÃO DA DIFERENÇA NO DISCURSO SOBRE E DA SALA DE AULA. São Paulo: DELTA, vol. 14, n. 1, Feb./1998 FIGARO, R. Dez anos de Comunicação & Educação. Comunicação & Educação, São Paulo: CCA/ECA/USP/Ed. Paulinas, Ano X, n.3, set./dez. 2005. HERNANDES, N. Semiótica dos Jornais. Análise do Jornal Nacional, Folha de São Paulo, Jornal da CBN, Portal UOL, revista Veja. (Tese de Doutorado) São Paulo: Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade de São Paulo, 2005. LOPES, Maria Immacolata V. Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Loyola, 2003, 7ª ed. MAINGUENEAU, D. Gênese dos discursos. Curitiba, PR: Criar Edições, 2005. PIRES, S.S.P. Comunicação & Educação. Novas propostas de gestão da comunicação. Trab. Esp., São Paulo: CCA/ECA/USP, disponível em < http://www.eca.usp.br/gestcom/pdf/pires_SSP.pdf> acessado em 10 de julho de 2008. ZAMBONI, L. M. S. Cientistas, jornalistas e a divulgação científica: subjetividade e heterogeneidade no discurso de divulgação científica. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.