O documento descreve a imigração ucraniana para o Brasil no século XIX, mencionando que os primeiros ucranianos chegaram em 1872 e que ondas maiores ocorreram entre 1895-1897 e 1908-1914, totalizando cerca de 45.000 imigrantes. Também aborda a chegada dos primeiros sacerdotes ortodoxos ucranianos a partir de 1926 e a fundação de 20 paróquias entre 1930-1938.
2. A Imigração Ucraniana no Brasil
Foi nos primórdios do regime
republicano brasileiro que se intensificou
a imigração no Brasil. Um decreto do
Governo Provisório, baixado em junho
de 1890, que vigorou por quatro anos,
regulava a entrada dos migrantes,
concedendo-lhes passagem gratuita
com subvenções conseqüentes às
companhias marítimas para o seu
transporte, distribuindo aos recém
chegados lotes de terras nas colônias
estabelecidas pelo Governo Federal, de
acordo com as administrações
estaduais.
Assim se deu em 1872 a imigração dos
ucranianos, de acordo com o
testemunho do Pe. Rafael Krynitzkyi, um
dos primeiros missionários basilianos
ucranianos no Brasil. Entre estes
imigrantes, havia uma família da
Ucrânia Ocidental (Galícia), município
de Zólotchiv, encabeçada por Nicolau
Morosovytch, que veio para trabalhar
nas fazendas de café do Estado de São
Paulo. O Pe. Rafael encontrou –se com
ele em 1914, já velhinho em São Paulo.
3. Os primeiros ucranianos a chegarem em grupo ao Brasil, no entanto,
foram oito famílias da Galícia Oriental que chegaram em 1891 e
fundando a colônia Santa Bárbara, próximo de Palmeira, situada entre
as cidades de Curitiba e Ponta Grossa, – PR. (RCBU, Estética
Gráphica, Curitiba, 1991). As maiores levas, no entanto, ocorreu sem
dúvida em 1895, 1896 e 1897, quando desembarcaram em terras
brasileiras cerca de 20.000 imigrantes. Só em 1895, desembarcaram
nos portos de Paranaguá e Santos, vindos da Galícia, cerca de 5.500
ucranianos, seguindo daí para os arredores de Curitiba. (Prof. O
Buruszenko). Dos que chegaram em 1896, 1500 famílias, ou seja,
aproximadamente 8.000 pessoas se dirigiram a Prudentópolis e seus
arredores; 800 famílias estabeleceram-se nos arredores de Marechal
Mallet e Dorizon; 2.000 imigrantes fixaram-se na colônia de Água
Amarela (hoje Antônio Olinto); 80 famílias em Jangada (União da
Vitória); 200 famílias procuraram Iracema, região que mais tarde seria
anexada ao Estado de Santa Catarina, fundando núcleos coloniais
que até hoje subsistem. (Pe. V.N. Burko – pág. 49) Nos anos
subseqüentes, 1897-1899, desembarcaram no Paraná mais 300
famílias ucranianas que posteriormente se fixariam nos estados de
São Paulo e Rio Grande do Sul .
4.
Assim, já no início deste século, os ucraniano somavam Paraná cerca de
24.000 imigrantes, sem levar em conta um grande número dos que foram
vítimas de epidemias ou pereceram de outros infortúnios. (Prof. O.
Boruszenko)
De 1901 a 1907 a imigração ucraniana reduziu seu ritmo. Nestes anos, a
média de pessoas que entravam no país, provenientes da Ucrânia, era de 700
a 1.000 por ano. O Estado preferido era ainda o Paraná. Alguns, no entanto,
procuraram os Estados vizinhos.
Mais uma onda de imigração em massa deu-se a partir de 1908 até 1914,
constituída na sua maioria de povos oriundos da Galícia, motivados pela
campanha brasileira que requisitava mão de obra para a construção da
Estrada da Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul. Vendo nisto uma oportunidade
de trabalho, milhares de ucranianos deixaram seu país vindo buscar aqui no
Brasil melhores condições de vida e, se possível, terras baratas. Novos
núcleos coloniais eram assim formados nos Estados do Paraná e Santa
Catarina, bem como no Rio Grande do Sul, tais como: Guarani, Campinas, Ijuí,
Jaguari, Erechim. De um total de vinte mil imigrantes chegados entre 19081914, sabe-se que 18.500 fixaram residência nos estados do Paraná e Santa
Catarina, e os demais foram para o Rio Grande do sul e outros Estados. E
assim, a imigração ucraniana no Brasil até 1914, totalizava cerca de 45.000
pessoas.
5. Após a I Guerra Mundial a imigração voltava a
arrefecer-se. Desta vez o declínio era motivado
também por razões políticas. De qualquer modo, o
número dos que haviam chegado ao Brasil até a II
Guerra Mundial não ultrapassou a cifra de 9.000
pessoas. Em seguida a esta guerra, ou seja, a
partir dos meados de 1947 até 1951, mais de 7
mil imigrantes ucranianos foram registrados em
nossos portos, [...] a maioria, desta vez, dirigia-se
para São Paulo, não faltando entretanto os que
continuavam preferindo o Paraná ou Rio Grande
do Sul. Grupos menores também se estabeleciam
nos estados de Goiás, Minas Gerais e Rio de
Janeiro
6. Os Primeiros Sacerdotes
Ortodoxos Ucranianos no Brasil
Após a I Guerra Mundial, por volta de 1926, chegou ao Brasil o primeiro
sacerdote ortodoxo ucraniano, Pe. Nicolau Ziombra, casado e, portanto,
fazendo-se acompanhar de sua esposa, a Pani-matka Zenaide que lhe
auxiliava na catequese às crianças. Começou então a cuidar da Paróquia da
Serra do Tigre e das das comunidades nas colônias de Jangada do Sul,
Antônio Olinto, Cruz Machado, Joaquim Távora e Iapó, onde veio a falecer em
1942.
No ano de 1931 chegou ao Brasil, vindo da China, o Pe. Leôntio Struk,
estabelecendo-se inicialmente em São Paulo. Mais tarde mudou-se com sua
família para a colônia Marco Cinco, passando a atender também a colônia
Jangada do Sul até a ano de 1936. De 1936 a 1939 foi pároco da paróquia
Espírito Santo na colônia Jangada do Sul, atendendo também as comunidades
de Santa Rosa, Santo Ângelo e Porto Alegre no Rio Grande do Sul; Cruz
Machado e Serra do Tigre no Paraná; e Iracema no norte de Santa Catarina.
Em 1939 mudou-se para a colônia Gonçalves Júnior (município de Irati). De
1939 até a sua morte em 1942, atendeu as colônias Gonçalves júnior, São
Roque, Joaquim Távora, Rancharia (SP) Nova Ucrânia e Apucarana.
7.
Ainda em 1942, chega ao Brasil, enviado por sua Eminência Ioan Teodorovitch,
metropolita da Igreja Ortodoxa Ucraniana dos Estados Unidos, o Pe. Gregório
Onysczenko, estabelecendo-se na colônia de Iracema. Este missionário fundou, na
colônia Iracema, a primeira paróquia oficial da Igreja Ortodoxa Ucraniana dedicada a
São Valdomiro Magno. De 1930 a 1942 fundou e administrou as paróquias de Curitiba,
Guajuvira, Iapó, rancharia, Nova Ucrânia e Apucarana. Por motivos ignorados, deixou
em 1942 a Igreja Ortodoxa Ucraniana, vindo a falecer logo a seguir.
No ano de 1931, a pedido dos colonos de Gonçalves Júnior, foi enviado ao Brasil, pelo
Metropolita Teodorovitch, o Protoieréi (Arcipreste) Dmytró Sidckyj. Este missionário
fundou oficialmente a Paróquia de São Pedro e São Paulo, em Gonçalves Júnior e a
Paróquia de São Roque no município de Ivaí. Desde sua chegada até o ano de 1939
atendia as colônias Gonçalves Júnior, Joaquim Távora entre outras. Em 1939 transferiuse para a colônia Iracema falecendo em 1945. Seus restos mortais permanecem lá até
os dias de hoje, naquele município catarinense.
No período entre 1930 e 1938, sob a administração do Proto-Presbítero Dmytró
Sidleckyj, auxiliado pelos padres Nicolau Ziombra, Leôntio Struk e Gregório Onyszenko,
foram fundadas 20 paróquias e missões da Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil, nos
Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Com o falecimento
dos padres Nicolau Ziombra, Leôntio Struk e Dmytró Sidleckyj, e afastamento do Pe.
Gregório Onyszczenko, a Igreja Ortodoxa ficou enfraquecida, a ponto de serem todas as
paróquias e missões, de 1942 a 1947, atendidas por um único sacerdote, o Pe. Basílio
Postolan. Este sacerdote, ordenado em 1941, no Uruguai, pelo Arcebispo Dom Nicolau
(Solovei) faleceu em 1986, sendo sepultado em Gonçalves Júnior, onde permanecem
seus restos mortais.
8. Influência dos imigrantes
Por um vasto período de tempo a população brasileira era, em sua maior
parte, composta por negros e mestiços. Mas com o fim da mão de obra
escrava entre os séculos XIX e XX, a imigração europeia para o Brasil foi
incentivada tanto para o povoamento territorial de regiões ainda nativas e alvo
da cobiça dos países vizinhos, quanto para o trabalho em regime de colonato
(semiassalariados). Apesar de o Brasil ser uma colônia portuguesa, quem
chegou em maior número foram os italianos. Do sul de Minas Gerais até o Rio
Grande do Sul, a população italiana foi se concentrando, principalmente em
São Paulo.
Em relação à quantidade de imigrantes, logo atrás dos italianos vieram os
portugueses e em seguida os alemães, que chegaram em um fluxo contínuo
desde 1824. Os últimos se fixaram especialmente nas regiões Sul e Sudeste
do Brasil, deixando na população muitas de suas influências germânicas.
Apesar de estarem em menor número, também chegaram no Brasil
imigrantes da Espanha, do Japão, da Polônia, da Ucrânia, da França, da
Holanda, do Líbano, da Coréia do Sul e da Suíça, esses últimos vindos em
um movimento organizado contratado pelo governo brasileiro para se
concentrarem no Rio de Janeiro.
Ao contrário do que aconteceu com os índios e africanos, os imigrantes
europeus não tiveram problemas em manter e difundir a sua cultura no Brasil.
Os que viviam em pequenas propriedades familiares mantinham seus
costumes, sua língua e criavam no local uma espécie de cópia das terras que
deixaram na Europa. Já os imigrantes que se fixaram nas grandes fazendas e
centros urbanos rapidamente se integraram na sociedade brasileira, deixando
de lado muitos aspectos de sua herança cultural.
9. O fato das culturas europeias não terem sido reprimidas fez com que,
de maneira geral, a imigração da Europa e de outras regiões do
mundo influenciasse em todos os aspectos a cultura brasileira. A
culinária recebeu notável influência italiana, que transforou pratos
típicos como a pizza em comida popular no Brasil. Os franceses
deixaram grandes contribuições nas artes, os alemães na arquitetura
e os imigrantes eslavos e os japoneses deixaram nas técnicas
agrícolas.
Apesar dessa variedade de povos interessados no Brasil, a imigração
de pessoas deixou de ser frequente a partir de 1970, quando os
atrativos de terra boa para o plantio em fazendas brasileiras deixaram
de existir com a forte industrialização e as novas oportunidades
deixaram de ser interessantes para os povos. Porém, a entrada de
imigrantes no Brasil continuou e englobou países como China, Bolívia,
Colômbia, Peru e Paraguai. Com essa mudança e com o
fortalecimento do processo emigratório, hoje o Brasil não recebe mais
influência imigratória tão impactante como acontecia antigamente. Sua
cultura miscigenada já possui suas características próprias, sendo em
alguns aspectos, como na música e em festas populares, referência
no mundo.
10. As condições sociais de
produção das lembranças entre
imigrantes ucranianos
O presente artigo propõe um enfoque para o estudo das relações
entre "memória" e pertencimento social. A partir de uma crítica dos
objetivos e dos instrumentos propostos nas obras de Maurice
Halbwachs acerca da "memória coletiva", enceta uma discussão sobre
as condições sociais que infletem a produção de lembranças entre
pessoas ligadas a uma dada configuração social. São utilizadas como
material empírico as lembranças produzidas por imigrantes
camponeses de origem eslava – os "rutenos" ou "ucranianos" – a
respeito de sua vinda ao Brasil no final do século XIX. O artigo inicia
com um estudo crítico das idéias de Halbwachs sobre as relações
entre "memória" e "sociedade"; após uma breve apresentação dos
imigrantes ucranianos, explora seus relatos em torno de sua imigração
para discutir os mecanismos sociais que incidem em suas lembranças
em sentidos convergentes ou divergentes entre si; e conclui-se com o
exame de algumas implicações da análise empreendida.
11. como é a vida de estudante na
Ucrânia
Este texto tem como objetivo, a partir de
uma experiência pessoal, relatar a
realidade universitária de uma estudante
brasileira na Ucrânia, as dificuldades
iniciais, os desafios, a superação dos
obstáculos, os aspectos positivos e
negativos, vantagens e desvantagens.
De certa forma, este texto pode ser
considerado também a voz e o
sentimento de muitos estudantes na
Ucrânia.
No Brasil, muitos jovens, descendentes
ou não de ucranianos, sonham estudar
no exterior. Poucos, porém, conseguem.
Não basta sonhar e querer. É preciso,
sobretudo, ter coragem e motivação
suficientes para enfrentar os desafios
que a nova realidade impõem. Diria
também, é preciso ter coragem e
determinação para lançar-se na
aventura de fazer novas experiências de
aprendizado, de convivência com
pessoas de visão filosófica e de mundo
diferente e, até mesmo, com nível de
conhecimento superior ao de muitos
jovens brasileiros
12. No início, tudo é muito difícil. A dificuldade de falar a língua
ucraniana, de comunicar-se com as pessoas na rua e com
os colegas na universidade, de adaptar-se a uma realidade
estranha e diferente, de pedir ajuda, pois estrangeiros nem
sempre são bem vistos e, às vezes, ser tratado com
desprezo e grosseria.
Se num mesmo país existem diferenças culturais enormes,
então, o que dizer de continentes diferentes? Onde está o
Brasil e onde está a Ucrânia? Além da distância
geográfica, existe também uma enorme distância cultural.
Costuma-se dizer que os desafios movem o mundo, posi
forçam a busca de uma motivação a mais para conhecer
aquilo que ainda não se conhece, de aprender coisas
novas, de trocar experiências, de fazer experiências
novas.
13.
Quinze ou vinte anos atrás, quem, dos
jovens brasileiros descendentes de
ucranianos, pensava estudar na
Ucrânia? Era algo não só impossível,
mas impensável. Hoje é realidade que
tornou-se possível graças ao Projeto da
Representação Ucraniana Brasileira,
conduzido pelo seu Presidente, Dr.
Vitório Sorotiuk. É uma oportunidade
que se abre para muitos jovens das
comunidades e colônias ucranianas no
Brasil. É claro, para alguns pode ser um
privilégio, para outros a realização de
um sonho, para muitos uma grande
frustração. Na minha opinião, a questão
de estudar na Ucrânia precisa ser
pensada muito além de uma
oportunidade profissional ou de
realização de sonhos pessoais, mas
também como uma necessidade de
troca, e de contribuição com a
comunidade ucraniana do Brasil, ou
seja, de partilhar as aquisições culturais
com os patrícios do Brasil.
14. Aqui na Ucrânia é muito valorizada a bagagem cultural que cada
brasileiro traz e, frequentemente somos desafiados. Nos debates e
mesmo nas conversas informais, afloram perguntas sobre o Brasil e
sobre a imigração ucraniana no nosso país. É necessário ter um bom
conhecimento sobre essas realidades, pois quem vem para cá tem o
compromisso de representar o nosso país e o grupo ucraniano,
principalmente quando diz “я з Бразилії»! Diga-se de passagem,
temos passado por situações bastante constrangedoras diante de
perguntas provocativas e comentários depreciativos a respeito do
Brasil. É nesses momentos que a gente sente orgulho de ser
brasileiro.
A Ucrânia, um país de mais de mil anos de história, antiga e rica
arquitetura e construções centenárias, oferece um ensino de
qualidade e de nível igual ao dos países europeus. Aqui está umas
das mais antigas universidades europeias – a Universidade Nacional
Taras Shevchenko, por exemplo.
15.
O ensino funciona em período integral.
O estudante passa a maior parte do dia
na Universidade: em sala de aula, na
biblioteca ou participando de
seminários, debates, conferências e
outros expedientes acadêmicos. Estudar
aqui é dedicação total. A rotina
acadêmica consome o dia todo – como
dizemos no Brasil, é muito “puxado”. O
ano letivo inicia-se em setembro e vai
até final de junho. A Faculdade de
História Geral da Universidade Católica
de Lviv, por exemplo, oferece cursos de
várias línguas, como latim, inglês,
grego, língua eslava antiga (caso seja
preciso ler documentos antigos),
alemão, italiano e russo. Em cinco anos,
que é o tempo de duração do curso, o
estudante tem chances de aprender
várias línguas ou pelo menos o
necessário para poder dar conta dos
conteúdos das disciplinas e das leituras
obrigatórias em língua estrangeira.