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Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação 
IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] 
www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 
1 
Pequenas Solidões. Avaliação crítica da obra Intimidades, 
Série Orgasmo 8 
Alexandra Martins Costa 
RESUMO 
O presente artigo constituiu-se de reflexões, a partir de um levantamento bibliográfico de referenciais 
conceituais, a partir de um trabalho artístico autoral denominado Intimidades, série Orgasmo 8. A obra, eixo 
central deste trabalho, é uma compilação de autorretratos durante o ciclo de um gozo mostrando as nuances 
do rosto e do corpo durante este momento íntimo. O resultado é o estranhamento de uma performance da qual 
não imaginava que fazia e o (re)conhecimento de um corpo numa situação que até o momento nunca me havia 
sido revelada. Toda parte que envolve o corpo, na hora do gozo solitário, se tornar reveladora de nossas 
sensações, do desejo ao repúdio. 
Palavras-chave: Corpo. Performance. Masturbação. Fotografia. Gênero. 
ABSTRACT 
The present article consists a bibliographical survey on references of the conceptual artwork called Intimacies, 
series Orgasm 8. The central axis of this work is a collection of self-portraits during cycles of orgasm, 
showing the nuances of the face and body during this intimate moment. The result is the strangeness of a 
performance that was not previously imagined and the (re)cognition of a state of mind that had never been 
revealed. Every part that involves the body, in that time of solitary enjoyment, becomes indicative of our 
sensations, from desire to rejection. 
Keyword: Body. Performance. Masturbation. Photography. Gender. 
Inicialmente, o interesse por um tema que faz uso do corpo como narrativa pessoal 
partiu da necessidade de registrar os rostos de amigas em um momento íntimo de orgasmo. 
Diante da dificuldade de convencê-las a posar, tomo a liberdade de me fotografar nessa 
situação e a consequência foi o (re)conhecimento de um corpo numa situação que nunca me 
havia sido revelada antes. 
Em alguma medida, essa experiência se relaciona com a minha vivência enquanto 
fotógrafa, pois assim como fotografar é um ato solitário, o autoprazer também é feito nas 
descobertas dessas pequenas solidões. “O corpo é, de fato, uma das grandes percepções que 
permeiam a obra dos artistas contemporâneos, que se mostram atentos às tensões situadas 
em um corpo cada vez mais idealizado pela sociedade de consumo” (CANTON, 2009, p 
25). O exercício de dizer silêncios ao corpo gera uma profunda sensação de encontro com o 
vazio. Reconheço assim a experiência do corpo como uma partilha do sensível solitária que 
afeta e é afetada por outros corpos e espaços permeáveis. 
Ao dividir este momento íntimo com outras pessoas há um compartilhamento da 
experiência individual e naturalizando essa prática que possui um histórico de repressão. 
Na sociedade em geral, mas especificamente as mulheres possuem muitas dificuldades de 
falar, sentir e descrever um orgasmo por medo, vergonha ou até nunca ter tido essa 
experiência. A dificuldade de se falar do gozo feminino como um assunto pouco discutido é 
um dos motivos que impulsiona a criação deste trabalho
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IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] 
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2 
Fotografia como um certificado de presença 
Dentre as séries de ciclos de orgasmo fotografados, a oitava foi escolhida para ser 
apresentada porque foi observado um amadurecimento e potencialidade em comparação aos 
registros anteriores. Ao contrário das outras séries, na oitava encaro a máquina fotográfica, 
deixando os olhos em abertos na maior parte do tempo e assim evocando a possível 
presença de alguém como numa espécie de repartir esse momento íntimo. “Toda fotografia 
é um certificado de presença. Esse certificado é o gene novo que sua invenção introduziu na 
família das imagens” (BARTHES, p.129, 1980). Quando se fecha os olhos, se reforça o 
local particular. No entanto, quando se abre os olhos é revelada a tentativa de outra 
aproximação dessa vez mais compartilhada, mais presente na ação. Toda parte que envolve 
o corpo, na hora do gozo solitário, se torna reveladora de sensações, do desejo ao repúdio. 
São individualidades expressas através da experiência estética que o ciclo do orgasmo pode 
causar. Observar como funciona o trajeto do meu corpo, por meio da observação e 
reconhecimento nas imagens, durante um estado de excitação abrange possibilidades 
poéticas do prazer. 
Performances masturbatórias: menos tensão, mais tesão. 
As narrativas da vida íntima e doméstica são postas em cena trazendo revelações 
subjetivas, cotidianas, despreocupadas e confessionais onde o eixo principal dos trabalhos é 
muito menos a obra final apresentada, mas sim a caminhada feita nesses processos. Daí a 
importância do registro como elemento que permite a busca experimental de um trabalho 
do qual dificilmente se sabe como a dinâmica acontecerá. 
Infere-se então que a vida está estruturada por comportamentos repetidos e que a 
performance não está apenas associada ao fazer mas ao refazer a partir de uma 
autoconsciência poética sobre o que se apresenta. Portanto, o presente trabalho, para além 
de um ensaio fotográfico, também é uma performance registrada na medida que masturbar-se 
faz parte de um ritual, de uma ação, de uma repetição da atividade humana que possui 
uma série de pesos sociais e está presente no nosso cotidiano. No entanto, quando mostrada 
como expressão poética e características artísticas, essa atividade ganha outras 
potencialidades e outros lugares onde “podemos fazer ações sem pensar, mas, quando 
pensamos sobre elas, isso introduz uma consciência que lhes dá qualidade de performance” 
(CARLSON, 2010, p. 15). Sirvo-me desse pensamento para tecer considerações sobre o 
corpo e a ação na formação da performance como lugar efêmero e transitório, que revela o 
outro do mundo sensível. 
Os trabalhos apresentados à seguir partilham da mesma estratégia de projeção da 
vida privada revelando indícios de como alguns artistas lidam com a temática do (auto) 
prazer como alguns artistas contemporâneos como Elke Krystufef através do trabalho
Satisfaction (Figura1) e Andy Warhol com Blow Job (Figura 2) cujas estratégias utilizadas 
aproximam-se da realizada em Intimidades, Série Orgasmo 8 (Figura 3) na medida em que 
são registradas experiências do orgasmo revelando indícios de como esses artistas 
voluntariamente tornam pública a sua vida privada. 
Em Satisfaction, Elke Krystufek expõe sua intimidade durante uma performance, 
em 1997, durante a Bienal de Viena, onde se masturba publicamente diante de uma vitrine 
cujo público assiste a esse ritual do privado separado por um vidro que separa o espaço da 
intimidade da artista e o ambiente da galeria. Ela está deitada numa banheira cheia de água 
enquanto revela o ciclo de gozos em um espaço branco que lembra a de um banheiro. No 
chão, perto da banheira, há outros utensílios que a artista usa para obter prazer. “Atuando 
como protagonistas de sua própria obra, são as musas masturbatórias. Não é mais o 
espectador que se masturba frente à imagem. É nesse jogo que o objeto se torna o sujeito do 
desejo e realiza suas fantasias antes que o público o faça”. (DE MARTINO. 2010. p. 92). A 
galeria de arte e sua privacidade se confundem numa experiência voyeur. Como em um 
Zoológico, a artista também se coloca em uma posição de observadora que também assiste 
aos rostos e olhares do compartilhamento do orgasmo com as pessoas que a assistem. 
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3 
Figura 1: Imagens da performance Satisfaction da performer Elke Krystufek. 
Fonte: http://31.media.tumblr.com/tumblr_mc6wt1hMXa1r3ctglo1_500.jpg 
Em Blow Job (p/b, 16 mm, 1964), de Andy Warhol (Figura 2), é mostrado em plano 
seqüência o rosto de um homem cuja expressão facial muda no decorrer do filme aludindo 
à presença de uma segunda pessoa que estaria fazendo sexo oral neste jovem. É possível 
supor essa relação por meio de pequenos movimentos do rosto, ombro, cabeça e pescoço. 
E, claro, pelo próprio nome escolhido para nomear a obra: Blow Job (Boquete, chupeta ou 
sexo oral. Tradução da autora). Em grande parte dos trinta e seis minutos do filme, o 
personagem olha para um ponto indefinido, às vezes fuma um cigarro e em outros 
momentos dirige o olhar direto para a câmera como se estivesse dialogando sem palavras.
Vídeo Blow Job – Andy Warhol (1964) 
https://vimeo.com/45258317 
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4 
Figura 2: Imagens do vídeo Blow Job de Andy Warhol. 
Fonte: http://cinespect.com/wp-content/uploads/2011/01/Warhol_Blow_Job.gif 
Ao não revelar quais outros personagens estaria presentes na ação do ato sexual, 
quer dizer, por quem o jovem recebe o prazer e se, inclusive, é possível nomear essa(s) 
pessoa(s), Blow Job deixa uma fissura que rompe com toda uma série de dicotomias: 
homossexualidade/heterossexualidade, homem/mulher, masculino/feminino. 
Ao tomar o corpo como um espaço de construção bio-política, que age como lugar 
de opressão, mas também como centro de resistência, Beatriz Preciado apregoa a 
construção do gênero – a partir das práticas contra-sexuais - para além daquelas identidades 
sexuais tradicionalmente associadas à reprodução, como a de homem ou mulher. Para 
Beatriz Preciado em seu Manifiesto contra-sexual: prácticas subversivas de identidad 
sexual sugere que as formas mais eficazes de resistência da produção de sexualidade não 
seria a luta pela proibição, mas sim uma produção de forma de prazer alternativa. Assim, a 
“paródia” e “simulação” dos efeitos associados ao orgasmo transformariam uma reação 
natural ideologicamente construída, onde pênis e vagina são transformados em centros 
orgásticos¹. 
Em Intimidades, Série Orgasmo 8 (figura 3) revela a sequência de 87 fotos 
transformadas em arquivo de vídeo apresentando um estudo visual do ciclo de um gozo a 
partir da decomposição do movimento em pequenos fragmentos deste processo. A
experiência é mostrada sequencialmente e linear, delimitando o começo, meio e fim deste 
ciclo. Nega-se o cabelo como elemento construtor de uma identidade fixa ao me fotografar 
após a raspagem total do cabelo com máquina zero. Manejos do corpo para aludir à imagem 
de um ser cujo gênero não está explícito, um ser andrógino cuja ambigüidade remete a um 
“anjo sem sexo”. Brinco com a aura da divindade angelical que se reforça a partir das 
possibilidades de prazer independe da variabilidade do sexo. É por ser um ser divino que se 
pode possuir qualquer atributo humano de prazer. 
elemento primordial para que a narrativa seja exposta: uma causa social, um 
engajamento político, um veículo de transferência, um emissor da dor, como um 
suporte para a existência niilista, como um questionador do ser e do estar e como 
uma máquina desejante que fere e é ferido. Um corpo sem órgãos que evagina o 
desejo (DE MARTINO. 2009. p. 18) 
A existência de cada frame-imagem pressupõe o término e o começo da obra na 
medida em que cada fotografia me revela novas modalidades do gozo. Minha excitação 
aumenta à cada clic² ao ponto de não saber ao certo se é o meu corpo ou a câmera que 
conduzem a ação. Num dado momento estreito relações com esse espelho que me vê e traio 
meu corpo ao fechar os olhos e permitir penetrar em outro estado. Assumo pra mim mesma 
que não consigo mais manter o olhar aberto e aceito esse jogo de tensão/tesão que a 
masturbação nos convida à participar. 
Intimidades, Série Orgasmo 8 
http://vimeo.com/35572864 
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IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] 
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5 
Figura 3: 67ª imagem da série Intimidades, Orgasmo 8. 
Fonte: Arquivo pessoal
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6 
A experiência de um corpo-cidade que goza 
O gozo expandido e aberto que frui por entre os poros do espaço público, escondida 
entre os cantos da esquina por meio da excitação dos corpos-cidade. A proposta de trazer o 
orgasmo para o espaço público se relaciona com a necessidade de naturalizar essa 
performance como elemento presente no cotidiano. Para tanto, uma das 87 fotos da série foi 
escolhida para ser transformada em um stencil³ de quatro cores (Figura 4). A imagem, ápice 
do ciclo do orgasmo onde a fotografada passa por uma intensidade corporal para em 
seguida passar por um descanso do corpo, foi colocado em centros da cidade de Brasília 
como Rodoviária, Setor Comercial Sul, algumas quadras do Plano Piloto e nos arredores da 
Universidade de Brasília. 
Figura 4: 67ª imagem da série Intimidades, Orgasmo 8 (versão stencil). 
Fonte: Arquivo pessoal 
Ao levar essa projeção feita no espaço privado para o espaço público me utilizo de 
táticas para desvio de espaços normatizantes e de constante policiamento, como é o local da 
rua, para o aparecimento de discursos não-oficiais da cidade - um local de conflito e troca - 
na medida em que as pessoas começam a se apropriar do corpo urbano para colocar suas 
reivindicações e criar um deslocamento simbólico, pois inicialmente não se espera que o 
orgasmo esteja presente nas ruas e exposto às pessoas. 
Ao assumir o orgasmo em público há uma negociação constante do meu 
corpo com o corpo da cidade a partir dessa fissura que permite que a rua se torne um 
local de troca-troca onde o total controle sobre os corpos (o corpo da cidade e o 
corpo humano) é dificultado pelo atravessamento biopolítico que esse tema carrega. 
É preciso situar para atuar: se colocar no mundo para interagir e agir. 
Trago a complacência de outros elementos que pensam de corpo inteiro: como ferramenta 
de existência onde é possível partilhar um espaço já demandado por uma série de acordos, 
negociações, tensões e tesões.
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7 
Referências 
BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980. 
CANTON, Katia, Corpo, Identidade e Erotismo – Temas da Arte Contemporânea. São 
Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. 
CARLSON, Marvin. Performance: Uma Introdução Crítica. Editora UFMG.Tradução 
de Thaís Flores Nogueira Diniz e Maria Antonieta Pereira. Belo Horizonte. 2010. 
DE MARTINO, Marlen Batista. Narrativas do eu: confissões na arte contemporânea - o 
corpo como diário. Porto Alegre: Editora UFRGS. 2009. 
_____. Relatos em primeira pessoa: Confissões Artísticas. Revista Poiésis, n 16, p.86-95, 
Dez. de 2010. 
NOTAS 
¹ La contra-sexualidad afirma que el deseo, la excitación sexual y el orgasmo son sino los 
productos retrospectivos de cierta tecnología sexual que identifica los órganos 
reproductivos como órganos sexuales, en detrimento de una sexualización de la totalidad 
del cuerpo. (PRECIADO, 2002). 
² Som do fechamento do espelho da máquina fotográfica por onde a luz entra para atingir o 
sensor e assim formar a imagem fotográfica. 
³ 
Técnica que permite a aplicação de uma tinta através do molde vazado em uma base de 
papel ou acetato. Neste caso foram usadas quatro camadas de stencil sobrepostas – do 
mesmo molde – para criar ilusão de profundidade.

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Intimidades orgasmo 8 alexandra martins costa - coma 2013

  • 1. Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 1 Pequenas Solidões. Avaliação crítica da obra Intimidades, Série Orgasmo 8 Alexandra Martins Costa RESUMO O presente artigo constituiu-se de reflexões, a partir de um levantamento bibliográfico de referenciais conceituais, a partir de um trabalho artístico autoral denominado Intimidades, série Orgasmo 8. A obra, eixo central deste trabalho, é uma compilação de autorretratos durante o ciclo de um gozo mostrando as nuances do rosto e do corpo durante este momento íntimo. O resultado é o estranhamento de uma performance da qual não imaginava que fazia e o (re)conhecimento de um corpo numa situação que até o momento nunca me havia sido revelada. Toda parte que envolve o corpo, na hora do gozo solitário, se tornar reveladora de nossas sensações, do desejo ao repúdio. Palavras-chave: Corpo. Performance. Masturbação. Fotografia. Gênero. ABSTRACT The present article consists a bibliographical survey on references of the conceptual artwork called Intimacies, series Orgasm 8. The central axis of this work is a collection of self-portraits during cycles of orgasm, showing the nuances of the face and body during this intimate moment. The result is the strangeness of a performance that was not previously imagined and the (re)cognition of a state of mind that had never been revealed. Every part that involves the body, in that time of solitary enjoyment, becomes indicative of our sensations, from desire to rejection. Keyword: Body. Performance. Masturbation. Photography. Gender. Inicialmente, o interesse por um tema que faz uso do corpo como narrativa pessoal partiu da necessidade de registrar os rostos de amigas em um momento íntimo de orgasmo. Diante da dificuldade de convencê-las a posar, tomo a liberdade de me fotografar nessa situação e a consequência foi o (re)conhecimento de um corpo numa situação que nunca me havia sido revelada antes. Em alguma medida, essa experiência se relaciona com a minha vivência enquanto fotógrafa, pois assim como fotografar é um ato solitário, o autoprazer também é feito nas descobertas dessas pequenas solidões. “O corpo é, de fato, uma das grandes percepções que permeiam a obra dos artistas contemporâneos, que se mostram atentos às tensões situadas em um corpo cada vez mais idealizado pela sociedade de consumo” (CANTON, 2009, p 25). O exercício de dizer silêncios ao corpo gera uma profunda sensação de encontro com o vazio. Reconheço assim a experiência do corpo como uma partilha do sensível solitária que afeta e é afetada por outros corpos e espaços permeáveis. Ao dividir este momento íntimo com outras pessoas há um compartilhamento da experiência individual e naturalizando essa prática que possui um histórico de repressão. Na sociedade em geral, mas especificamente as mulheres possuem muitas dificuldades de falar, sentir e descrever um orgasmo por medo, vergonha ou até nunca ter tido essa experiência. A dificuldade de se falar do gozo feminino como um assunto pouco discutido é um dos motivos que impulsiona a criação deste trabalho
  • 2. Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 2 Fotografia como um certificado de presença Dentre as séries de ciclos de orgasmo fotografados, a oitava foi escolhida para ser apresentada porque foi observado um amadurecimento e potencialidade em comparação aos registros anteriores. Ao contrário das outras séries, na oitava encaro a máquina fotográfica, deixando os olhos em abertos na maior parte do tempo e assim evocando a possível presença de alguém como numa espécie de repartir esse momento íntimo. “Toda fotografia é um certificado de presença. Esse certificado é o gene novo que sua invenção introduziu na família das imagens” (BARTHES, p.129, 1980). Quando se fecha os olhos, se reforça o local particular. No entanto, quando se abre os olhos é revelada a tentativa de outra aproximação dessa vez mais compartilhada, mais presente na ação. Toda parte que envolve o corpo, na hora do gozo solitário, se torna reveladora de sensações, do desejo ao repúdio. São individualidades expressas através da experiência estética que o ciclo do orgasmo pode causar. Observar como funciona o trajeto do meu corpo, por meio da observação e reconhecimento nas imagens, durante um estado de excitação abrange possibilidades poéticas do prazer. Performances masturbatórias: menos tensão, mais tesão. As narrativas da vida íntima e doméstica são postas em cena trazendo revelações subjetivas, cotidianas, despreocupadas e confessionais onde o eixo principal dos trabalhos é muito menos a obra final apresentada, mas sim a caminhada feita nesses processos. Daí a importância do registro como elemento que permite a busca experimental de um trabalho do qual dificilmente se sabe como a dinâmica acontecerá. Infere-se então que a vida está estruturada por comportamentos repetidos e que a performance não está apenas associada ao fazer mas ao refazer a partir de uma autoconsciência poética sobre o que se apresenta. Portanto, o presente trabalho, para além de um ensaio fotográfico, também é uma performance registrada na medida que masturbar-se faz parte de um ritual, de uma ação, de uma repetição da atividade humana que possui uma série de pesos sociais e está presente no nosso cotidiano. No entanto, quando mostrada como expressão poética e características artísticas, essa atividade ganha outras potencialidades e outros lugares onde “podemos fazer ações sem pensar, mas, quando pensamos sobre elas, isso introduz uma consciência que lhes dá qualidade de performance” (CARLSON, 2010, p. 15). Sirvo-me desse pensamento para tecer considerações sobre o corpo e a ação na formação da performance como lugar efêmero e transitório, que revela o outro do mundo sensível. Os trabalhos apresentados à seguir partilham da mesma estratégia de projeção da vida privada revelando indícios de como alguns artistas lidam com a temática do (auto) prazer como alguns artistas contemporâneos como Elke Krystufef através do trabalho
  • 3. Satisfaction (Figura1) e Andy Warhol com Blow Job (Figura 2) cujas estratégias utilizadas aproximam-se da realizada em Intimidades, Série Orgasmo 8 (Figura 3) na medida em que são registradas experiências do orgasmo revelando indícios de como esses artistas voluntariamente tornam pública a sua vida privada. Em Satisfaction, Elke Krystufek expõe sua intimidade durante uma performance, em 1997, durante a Bienal de Viena, onde se masturba publicamente diante de uma vitrine cujo público assiste a esse ritual do privado separado por um vidro que separa o espaço da intimidade da artista e o ambiente da galeria. Ela está deitada numa banheira cheia de água enquanto revela o ciclo de gozos em um espaço branco que lembra a de um banheiro. No chão, perto da banheira, há outros utensílios que a artista usa para obter prazer. “Atuando como protagonistas de sua própria obra, são as musas masturbatórias. Não é mais o espectador que se masturba frente à imagem. É nesse jogo que o objeto se torna o sujeito do desejo e realiza suas fantasias antes que o público o faça”. (DE MARTINO. 2010. p. 92). A galeria de arte e sua privacidade se confundem numa experiência voyeur. Como em um Zoológico, a artista também se coloca em uma posição de observadora que também assiste aos rostos e olhares do compartilhamento do orgasmo com as pessoas que a assistem. Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 3 Figura 1: Imagens da performance Satisfaction da performer Elke Krystufek. Fonte: http://31.media.tumblr.com/tumblr_mc6wt1hMXa1r3ctglo1_500.jpg Em Blow Job (p/b, 16 mm, 1964), de Andy Warhol (Figura 2), é mostrado em plano seqüência o rosto de um homem cuja expressão facial muda no decorrer do filme aludindo à presença de uma segunda pessoa que estaria fazendo sexo oral neste jovem. É possível supor essa relação por meio de pequenos movimentos do rosto, ombro, cabeça e pescoço. E, claro, pelo próprio nome escolhido para nomear a obra: Blow Job (Boquete, chupeta ou sexo oral. Tradução da autora). Em grande parte dos trinta e seis minutos do filme, o personagem olha para um ponto indefinido, às vezes fuma um cigarro e em outros momentos dirige o olhar direto para a câmera como se estivesse dialogando sem palavras.
  • 4. Vídeo Blow Job – Andy Warhol (1964) https://vimeo.com/45258317 Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 4 Figura 2: Imagens do vídeo Blow Job de Andy Warhol. Fonte: http://cinespect.com/wp-content/uploads/2011/01/Warhol_Blow_Job.gif Ao não revelar quais outros personagens estaria presentes na ação do ato sexual, quer dizer, por quem o jovem recebe o prazer e se, inclusive, é possível nomear essa(s) pessoa(s), Blow Job deixa uma fissura que rompe com toda uma série de dicotomias: homossexualidade/heterossexualidade, homem/mulher, masculino/feminino. Ao tomar o corpo como um espaço de construção bio-política, que age como lugar de opressão, mas também como centro de resistência, Beatriz Preciado apregoa a construção do gênero – a partir das práticas contra-sexuais - para além daquelas identidades sexuais tradicionalmente associadas à reprodução, como a de homem ou mulher. Para Beatriz Preciado em seu Manifiesto contra-sexual: prácticas subversivas de identidad sexual sugere que as formas mais eficazes de resistência da produção de sexualidade não seria a luta pela proibição, mas sim uma produção de forma de prazer alternativa. Assim, a “paródia” e “simulação” dos efeitos associados ao orgasmo transformariam uma reação natural ideologicamente construída, onde pênis e vagina são transformados em centros orgásticos¹. Em Intimidades, Série Orgasmo 8 (figura 3) revela a sequência de 87 fotos transformadas em arquivo de vídeo apresentando um estudo visual do ciclo de um gozo a partir da decomposição do movimento em pequenos fragmentos deste processo. A
  • 5. experiência é mostrada sequencialmente e linear, delimitando o começo, meio e fim deste ciclo. Nega-se o cabelo como elemento construtor de uma identidade fixa ao me fotografar após a raspagem total do cabelo com máquina zero. Manejos do corpo para aludir à imagem de um ser cujo gênero não está explícito, um ser andrógino cuja ambigüidade remete a um “anjo sem sexo”. Brinco com a aura da divindade angelical que se reforça a partir das possibilidades de prazer independe da variabilidade do sexo. É por ser um ser divino que se pode possuir qualquer atributo humano de prazer. elemento primordial para que a narrativa seja exposta: uma causa social, um engajamento político, um veículo de transferência, um emissor da dor, como um suporte para a existência niilista, como um questionador do ser e do estar e como uma máquina desejante que fere e é ferido. Um corpo sem órgãos que evagina o desejo (DE MARTINO. 2009. p. 18) A existência de cada frame-imagem pressupõe o término e o começo da obra na medida em que cada fotografia me revela novas modalidades do gozo. Minha excitação aumenta à cada clic² ao ponto de não saber ao certo se é o meu corpo ou a câmera que conduzem a ação. Num dado momento estreito relações com esse espelho que me vê e traio meu corpo ao fechar os olhos e permitir penetrar em outro estado. Assumo pra mim mesma que não consigo mais manter o olhar aberto e aceito esse jogo de tensão/tesão que a masturbação nos convida à participar. Intimidades, Série Orgasmo 8 http://vimeo.com/35572864 Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 5 Figura 3: 67ª imagem da série Intimidades, Orgasmo 8. Fonte: Arquivo pessoal
  • 6. Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 6 A experiência de um corpo-cidade que goza O gozo expandido e aberto que frui por entre os poros do espaço público, escondida entre os cantos da esquina por meio da excitação dos corpos-cidade. A proposta de trazer o orgasmo para o espaço público se relaciona com a necessidade de naturalizar essa performance como elemento presente no cotidiano. Para tanto, uma das 87 fotos da série foi escolhida para ser transformada em um stencil³ de quatro cores (Figura 4). A imagem, ápice do ciclo do orgasmo onde a fotografada passa por uma intensidade corporal para em seguida passar por um descanso do corpo, foi colocado em centros da cidade de Brasília como Rodoviária, Setor Comercial Sul, algumas quadras do Plano Piloto e nos arredores da Universidade de Brasília. Figura 4: 67ª imagem da série Intimidades, Orgasmo 8 (versão stencil). Fonte: Arquivo pessoal Ao levar essa projeção feita no espaço privado para o espaço público me utilizo de táticas para desvio de espaços normatizantes e de constante policiamento, como é o local da rua, para o aparecimento de discursos não-oficiais da cidade - um local de conflito e troca - na medida em que as pessoas começam a se apropriar do corpo urbano para colocar suas reivindicações e criar um deslocamento simbólico, pois inicialmente não se espera que o orgasmo esteja presente nas ruas e exposto às pessoas. Ao assumir o orgasmo em público há uma negociação constante do meu corpo com o corpo da cidade a partir dessa fissura que permite que a rua se torne um local de troca-troca onde o total controle sobre os corpos (o corpo da cidade e o corpo humano) é dificultado pelo atravessamento biopolítico que esse tema carrega. É preciso situar para atuar: se colocar no mundo para interagir e agir. Trago a complacência de outros elementos que pensam de corpo inteiro: como ferramenta de existência onde é possível partilhar um espaço já demandado por uma série de acordos, negociações, tensões e tesões.
  • 7. Universidade de Brasília | Instituto de Artes | Programa de Pós-Graduação IV COMA – IV Coletivo da Pós-Graduação em Arte: LUGAR in COMUM [2013] www.coletivocoma.net/ | coletivocoma@gmail.com 7 Referências BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980. CANTON, Katia, Corpo, Identidade e Erotismo – Temas da Arte Contemporânea. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. CARLSON, Marvin. Performance: Uma Introdução Crítica. Editora UFMG.Tradução de Thaís Flores Nogueira Diniz e Maria Antonieta Pereira. Belo Horizonte. 2010. DE MARTINO, Marlen Batista. Narrativas do eu: confissões na arte contemporânea - o corpo como diário. Porto Alegre: Editora UFRGS. 2009. _____. Relatos em primeira pessoa: Confissões Artísticas. Revista Poiésis, n 16, p.86-95, Dez. de 2010. NOTAS ¹ La contra-sexualidad afirma que el deseo, la excitación sexual y el orgasmo son sino los productos retrospectivos de cierta tecnología sexual que identifica los órganos reproductivos como órganos sexuales, en detrimento de una sexualización de la totalidad del cuerpo. (PRECIADO, 2002). ² Som do fechamento do espelho da máquina fotográfica por onde a luz entra para atingir o sensor e assim formar a imagem fotográfica. ³ Técnica que permite a aplicação de uma tinta através do molde vazado em uma base de papel ou acetato. Neste caso foram usadas quatro camadas de stencil sobrepostas – do mesmo molde – para criar ilusão de profundidade.