Este documento descreve a poesia trovadoresca no período medieval português, incluindo suas principais características e gêneros. A poesia trovadoresca floresceu entre os séculos XII e XIV e era cantada por trovadores e interpretada por jograis. Os principais gêneros eram as cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer. As novelas de cavalaria também floresceram durante este período e descreviam heróis cavaleiros cristãos.
3. Características gerais do período
Medieval
• O Trovadorismo se caracteriza como um estilo de
época, o qual se manifestou na Idade
Média, durante o período do feudalismo.
• Discrepâncias entre fé e razão.
• A arte da época era concebida sobre um formato
bidimensional, com ausência de perspectiva.
• Métodos sociais eram ditados pela concepção
religiosa vigente, ou seja, o Cristianismo
defendido pela Igreja Católica.
4. O trabalho camponês nos feudos – principal atividade
durante o período trovadoresco
5. A poesia no período trovadoresco
Chamamos de poesia trovadoresca a produção poética, em galego-português, do
final do século XII ao século XIV. Seu apogeu ocorre no reinado de Afonso III, em
meados do século XIII.
Os cancioneiros
Só tardiamente (a partir do final do século XIII) as cantigas foram copiadas em
manuscritos chamados cancioneiros. Três desses livros, contendo aproximadamente
1 680 cantigas, chegaram até nós.
• Cancioneiro da Ajuda
• Cancioneiro da Vaticana
• Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa
Os autores
Os autores das cantigas são chamados trovadores. Eram pessoas cultas, quase
sempre nobres, contando-se entre eles alguns reis, como D. Sancho I, D. Afonso
X, de Castela, e D. Dinis. Nos cancioneiros que conhecemos, estão reunidos as
cantigas de 153 trovadores.
Os intérpretes
As cantigas compostas pelos trovadores eram musicadas e interpretadas pelo
jogral, pelo segrel e pelo menestrel, artistas agregados às cortes ou que
perambulavam pelas cidades e feiras. Muitas vezes o jogral também compunha
cantigas.
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7. Características das cantigas
• Língua galego-português.
• Tradição oral e coletiva.
• Poesia cantada e acompanhada por instrumentos
musicais colecionada em cancioneiros
(melopeia).
• Autores trovadores.
• Intérpretes: jograis, segréis e menestréis.
• Gêneros:
– lírico (cantigas de amigo, cantigas de amor);
– satírico (cantigas de escárnio, cantigas de maldizer).
8. Os gêneros
Nas cantigas prevaleciam distintos propósitos: havia
aquelas em que se manifestavam juras de amor feitas à
mulher do cavaleiro, outras em que predominava o
sofrimento de amor da jovem em razão de o namorado ter
partido para as Cruzadas, e ainda outras, em que a
intenção era descrever, de forma irônica, os costumes da
sociedade portuguesa, então vigente. Assim, em virtude
do aspecto que apresentavam, as cantigas se subdividiam
em:
• gênero lírico: cantigas de amor, cantigas de amigo.
• gênero satírico: cantigas de escárnio e de maldizer.
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10. Cantigas de Amor
• Eu-lírico masculino acometido de coita, ou
seja, sofrimento amoroso;
• Ambientação palaciana (corte); mulher idealizada;
• Vassalagem amorosa: o eu-lírico assume uma atitude
submissa, de vassalo em relação à amada, ele é servo
da mulher amada;
• O nome da mulher amada está sempre oculto
(mesura - ponderação);
• Composição masculina.
12. Cantiga da Ribeirinha
“No mundo nom me sei parelha, “No mundo não conheço outro como eu,
mentre me for como me vai; enquanto me acontecer como me acontece:
ca ja moiro por vós, e ai!, porque já morro por vós, e ai!,
A expressão senhor
mia senhor branca e vermelha, minha senhora branca e vermelha,
queredes que vos retraia vassalagem..
refere-se à quereis que vos censure
quando vos eu vi em saia? quando vos eu vi em saia? (em corpo bem
Mao dia me levantei, feito)
Mau dia me levantei
que vos entom nom vi feia!
que vos então não vi feia!
E, mia senhor, des aquelha, E, minha senhora, desde então,
me foi a mi mui mal di' ai! passei muitos maus dias, ai!
E vós, filha de Dom Pai E vós, filha de D. Paio
Moniz, en bem vos semelha Moniz, parece-vos bem
d' haver eu por vós garvaia? ter eu de vós uma garvaia? (manto)
Pois eu, mia senhor, d' alfaia Pois eu, minha senhora, de presente
nunca de vós houve nem hei nunca de vós tive nem tenho
valia d'ua correia!” nem a mais pequenina coisa.”
Cantiga da garvaia, Paio Soares Taveiroos Tradução livre, de algumas possíveis, da
Cantiga da garvaia de Paio Soares Taveiroos
13. Cantigas de Amigo
• Eu-lírico feminino;
• Ambiente popular (campo, vilas, praia etc.);
• Tema
a) separação do namorado, que parte em alguma expedição militar e
a espera de seu retorno;
(b) a romaria a lugares santos, onde a donzela busca uma conquista
amorosa, através da dança;
(c) as bailadas, que versam exclusivamente o tema da dança;
(d) as marinhas ou barcarolas, à beira do mar;
(e) tema das tecedeiras, no interior dos lares;
(f) tema das chamadas cantigas de fonte, onde as donzelas iam lavar
os cabelos ou mesmo a roupa, encontrando-se com os namorados.
• Amor real (saudades de quem o eu lírico teve); Paralelismo
(repetições parciais); Refrão (repetições integrais); Sentimentos de
saudade do "amigo"; Composições com diálogo; Presença das
forças da natureza; Composição masculina.
15. Canção de amigo
Ondas do mar de Vigo, Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo? acaso vistes meu amigo? Queira
E ai Deus, se verra cedo! Deus que ele venha cedo!
Ondas do mar levado, Ondas do mar agitado,
se vistes meu amado? acaso vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo! Queira Deus que ele venha cedo!
Se vistes meu amigo, Acaso vistes meu amigo
o por que eu sospiro? aquele por quem suspiro?
E ai Deus, se verra cedo! Queira Deus que ele venha cedo!
Se vistes meu amado, Acaso vistes meu amado,
por que ei gran coitado? por quem tenho grande cuidado
E ai Deus, se verra cedo! (preocupado) ?
Martim Codax Queira Deus que ele venha cedo!
Martim Codax
16. Cantigas de Escárnio
• Sátiras indiretas por meio das quais critica-se, de
forma irônica e velada, pessoas sem citar nomes;
• Sutis e bem-humoradas.
18. CANTIGA DE ESCÁRNIO
De vós, senhor, quer’eu dizer Sobre vós, senhora, eu quero dizer
verdade verdade
e nom ja sobr’[o] amor que vos ei: e não já sobre o amor que tenho por
senhor, bem [moor] é vossa vós:
torpicidade senhora, bem maior é vossa
de quantas outras eno mundo sei; estupidez
assi de fea come de maldade do que a de quantas outras conheço
nom vos vence oje senom filha no mundo
tanto na feiúra quanto na maldade
dum rei
não vos vence hoje senão a filha de
[Eu] nom vos amo nem me
um rei
perderei,
Eu não vos amo nem me perderei
u vos nom vir, por vós de soidade de saudade por vós, quando não vos
(...) vir.
Pero Larouco Pero Larouco
19. Cantigas de Maldizer
• Sátiras diretas por meio das quais falava-se mal
das pessoas conhecidas;
• Cita-se o nome;
• Vocabulário de baixo calão;
• Grosseiras com a intenção de ofender.
21. CANTIGA DE MALDIZER
Ai, dona fea, fostes-vos queixar Ai, dona feia, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar; que nunca vos louvo em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar mas agora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via; em que vos louvares de qualquer modo;
e vedes como vos quero loar: e vede como quero vos louvar
dona fea, velha e sandia! dona feia, velha e maluca!
Dona fea, se Deus mi pardom, Dona feia, que Deus me perdoe,
pois avedes [a]tam gram coraçom pois tendes tão grande desejo
que vos eu loe, em esta razom de que eu vos louve, por este motivo
vos quero ja loar toda via; quero vos louvar já de qualquer modo;
e vedes qual sera a loaçom: e vede qual será a louvação:
dona fea, velha e sandia! dona feia, velha e maluca!
Dona fea, nunca vos eu loei Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trobar, pero muito trobei; em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mais ora ja um bom cantrar farei, mas agora já farei um bom cantar;
em que vos loarei toda via; em que vos louvarei de qualquer modo;
e direi-vos como vos loarei: e vos direi como vos louvarei:
dona fea, velha e sandia! dona feia, velha e maluca!
João Garcia de Ghilhade João Garcia de Ghilhade
22. NOVELAS DE CAVALARIA
Nem só de poesia viveu o Trovadorismo. Também floresceu um
tipo de prosa ficcional, as novelas de cavalaria, originárias das
canções de gesta francesas (narrativas de assuntos
guerreiros), onde havia sempre a presença de heróis cavaleiros
que passavam por situações perigosíssimas para defender o
bem e vencer o mal.
Sobressai nas novelas a presença do cavaleiro
medieval, concebido segundo os padrões da Igreja Católica
(por quem luta): ele é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer
sacrifício para defender a honra cristã. Esta concepção de
cavaleiro medieval opunha-se à do cavaleiro da
corte, geralmente sedutor e envolvido em amores ilícitos.
23. NOVELAS DE CAVALARIA
A origem do cavaleiro-herói das novelas é feudal e nos remete
às Cruzadas: ele está diretamente envolvido na luta em defesa
da Europa Ocidental contra sarracenos, eslavos, magiares e
dinamarqueses, inimigos da cristandade.
As novelas de cavalaria estão divididas em três ciclos e se
classificam pelo tipo de herói que apresentam. Assim, as que
apresentam heróis da mitologia greco-romana são do ciclo
Clássico (novelas que narram a guerra de Tróia, as aventuras de
Alexandre, o grande); as que apresentam o Rei Artur e os
cavaleiros da Távola Redonda pertencem ao ciclo Arturiano ou
Bretão (A Demanda do Santo Graal); as que apresentam o rei
Carlos Magno e os doze pares de França são do ciclo
Carolíngeo (a história de Carlos Magno).
24. NOVELAS DE CAVALARIA
Geralmente, as novelas de cavalaria não apresentam
uma autoria. Elas circulavam pela Europa como
verdadeira propaganda das Cruzadas, para estimular
a fé cristã e angariar o apoio das populações ao
movimento. As novelas eram tidas em alto apreço e
foi muito grande a sua influência sobre os hábitos e
os costumes da população da época.