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O País das Pessoas Tristes
Adaptado do conto de Manuel António Pina
Há muito tempo, no tempo em
que os teus pais ou avós
andavam na escola, num país
muito distante, vivia um povo
infeliz e solitário, vergado sob
o peso de uma misteriosa
tristeza. O céu era alto e azul,
os campos férteis, o mar e os
rios cheios de vida, as cidades
quentes e luminosas, mas as
pessoas que passavam umas
pelas outras entreolhavam-se
com olhos tristes, caminhando
apressadamente e sumindo-se
assustadas, dentro das casas.
Quando se encontravam umas com as
outras, nos cafés, nos empregos, na rua,
falavam baixo, como se alguma coisa,
um segredo terrível, as amedrontasse.
Quem, vindo de outras terras,
chegava ao País das Pessoas
Tristes, não compreendia. As
pessoas eram boas e afectuosas,
e aparentemente só tinham
motivos para serem felizes. Mas
quando lhes faziam perguntas
sobre a sua tristeza, as pessoas
afastavam-se e não respondiam,
ou mudavam delicadamente de
assunto pedindo desculpa.
Às vezes, porém, os
visitantes demoravam-se
mais tempo, e depressa
faziam amigos, porque era
muito fácil fazer amigos
naquele país. Levavam-
nos então a suas casas e,
depois de terem trancado
bem as suas portas e
fechado todas as janelas,
revelavam-lhes o segredo
da sua tristeza.
Contavam-lhe que o povo daquele país tivera um dia
um imenso e belo tesouro e que alguém lho roubara.
Esse tesouro era tão grande e tão valioso que, sem ele,
não podiam ser felizes.
-Um tesouro? - perguntavam os visitantes, muito
surpreendidos.
- Sim, um tesouro…a LIBERDADE!
- A liberdade, um tesouro?
Os visitantes nem queriam acreditar, porque nas suas
terras a liberdade era uma coisa comum. Toda a gente era
livre de fazer o que quisesse desde que não fizesse mal a
ninguém, e isso era tão normal que as pessoas nem davam
pela liberdade. Eram livres, do mesmo modo que
respiravam, e ninguém dá conta que respira; respira e
pronto!
- Sim, a Liberdade é como o ar que respiramos, - diziam os
habitantes aos seus novos amigos, tristemente. – Só
quando nos falta e sufocamos cheios de aflição, é que
descobrimos que, sem ela, não podemos viver.
- E como pode alguém viver sem liberdade? Como é
possível? - perguntavam, admirados, os visitantes.
Então explicavam-lhes: naquele
país, as pessoas não podiam fazer
o que queriam, nem podiam dizer
o que pensavam ou sentiam, nem
partir livremente, para visitar
outros países e conhecer outros
povos. Viviam fechados no seu país
como se ele fosse uma prisão.
Nem sequer podiam contar este
segredo que os afligia, porque
seriam presos ou até mesmo
mortos.
- Mas isso deve ser uma grande infelicidade! –diziam os
visitantes. – Não admira que vocês estejam sempre tão
tristes.
E os seus amigos, depois de irem
espreitar de novo à porta para ver
se lá fora, alguém os espreitava,
contavam-lhes como era a vida de
todos os dias no País das Pessoas
Tristes.
Havia polícias por toda a
parte, não os polícias bons
que orientam o trânsito e
prendem os ladrões, mas
polícias para vigiar as
pessoas e impedir que elas
falassem livremente umas
com as outras sobre os seus
problemas e tristezas.
Polícias nas fronteiras para não
as deixar sair; até polícias que
abriam as suas cartas e ouviam
as suas conversas para
descobrirem o que diziam e
pensavam, e que as
perseguiam e lhes batiam se
elas não dissessem nem
pensassem o que eles queriam
que dissessem e pensassem.
Os meninos do País das Pessoas Tristes nem
podiam ouvir as músicas, nem ver os filmes nem
ler os livros e revistas de que gostavam, mas só as
músicas, filmes, livros e revistas que não eram
proibidos. Nem sequer podiam beber Coca-Cola,
porque a Coca-Cola (ninguém sabia porquê), era
proibida!
Os rapazes, quando cresciam, eram
mandados para guerras horríveis
em países longínquos, e obrigados
a matar gentes que não conheciam
e que nunca lhes tinham feito mal
nenhum, e muitos deles morriam
por lá ou regressavam loucos ou
estropiados.
As raparigas e os rapazes não podiam conversar
nem conviver uns com os outros, e tinham que
andar em escolas separadas e brincar em
recreios separados por muros e por grades. As
raparigas não podiam vestir calças, e andar
sem meias era também proibido.
- Mas por que é que vocês não votam em governantes
que acabem com todas essas coisas más e que vos
restituam a vossa Liberdade, o vosso tesouro? –
perguntavam os visitantes, admirados.
- Porque nós também não podemos
votar e mesmo quando votamos, os
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habitantes do País das Pessoas Tristes.
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Tristes, as pessoas decidiram
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mãos dos ladrões.
E toda a gente saiu
alvoraçadamente para a rua e
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cantando e gritando: “Viva a
Liberdade! Viva a Liberdade!”
“Viva a Liberdade! Viva a Liberdade!”
Os corações exultaram de alegria e as janelas
encheram-se de bandeiras e flores;
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vermelhos nas espingardas…
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das casas, e
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primeira vez, dar as mãos e falar e olhar-se,
caminhando lado a lado sem medo de
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Todo o país se transformou
numa grande festa, ruidosa e
transbordante de felicidade, e
as pessoas deixavam sair
livremente os sentimentos
acumulados durante os anos de
infelicidade. Era o dia 25 de
Abril e, porque foi nesse dia
que aquele povo recuperou o
tesouro da Liberdade, esse
passou para sempre a chamar-
se o Dia da Liberdade.
Esse país agora já não se
chama País das Pessoas
Tristes. Chama-se Portugal e é
o teu país.
Esta não é uma história
inventada. É uma história
verdadeira, que aconteceu
mesmo, há trinta e cinco anos,
e que se deve, em grande
parte a homens muito
valentes, que tiveram a
coragem suficiente para te
darem a Liberdade que hoje
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E o tesouro que tinham roubado
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O tesouro 25 de abril

  • 1. O País das Pessoas Tristes Adaptado do conto de Manuel António Pina
  • 2. Há muito tempo, no tempo em que os teus pais ou avós andavam na escola, num país muito distante, vivia um povo infeliz e solitário, vergado sob o peso de uma misteriosa tristeza. O céu era alto e azul, os campos férteis, o mar e os rios cheios de vida, as cidades quentes e luminosas, mas as pessoas que passavam umas pelas outras entreolhavam-se com olhos tristes, caminhando apressadamente e sumindo-se assustadas, dentro das casas.
  • 3. Quando se encontravam umas com as outras, nos cafés, nos empregos, na rua, falavam baixo, como se alguma coisa, um segredo terrível, as amedrontasse.
  • 4. Quem, vindo de outras terras, chegava ao País das Pessoas Tristes, não compreendia. As pessoas eram boas e afectuosas, e aparentemente só tinham motivos para serem felizes. Mas quando lhes faziam perguntas sobre a sua tristeza, as pessoas afastavam-se e não respondiam, ou mudavam delicadamente de assunto pedindo desculpa.
  • 5. Às vezes, porém, os visitantes demoravam-se mais tempo, e depressa faziam amigos, porque era muito fácil fazer amigos naquele país. Levavam- nos então a suas casas e, depois de terem trancado bem as suas portas e fechado todas as janelas, revelavam-lhes o segredo da sua tristeza.
  • 6. Contavam-lhe que o povo daquele país tivera um dia um imenso e belo tesouro e que alguém lho roubara. Esse tesouro era tão grande e tão valioso que, sem ele, não podiam ser felizes. -Um tesouro? - perguntavam os visitantes, muito surpreendidos. - Sim, um tesouro…a LIBERDADE! - A liberdade, um tesouro?
  • 7. Os visitantes nem queriam acreditar, porque nas suas terras a liberdade era uma coisa comum. Toda a gente era livre de fazer o que quisesse desde que não fizesse mal a ninguém, e isso era tão normal que as pessoas nem davam pela liberdade. Eram livres, do mesmo modo que respiravam, e ninguém dá conta que respira; respira e pronto! - Sim, a Liberdade é como o ar que respiramos, - diziam os habitantes aos seus novos amigos, tristemente. – Só quando nos falta e sufocamos cheios de aflição, é que descobrimos que, sem ela, não podemos viver. - E como pode alguém viver sem liberdade? Como é possível? - perguntavam, admirados, os visitantes.
  • 8. Então explicavam-lhes: naquele país, as pessoas não podiam fazer o que queriam, nem podiam dizer o que pensavam ou sentiam, nem partir livremente, para visitar outros países e conhecer outros povos. Viviam fechados no seu país como se ele fosse uma prisão.
  • 9. Nem sequer podiam contar este segredo que os afligia, porque seriam presos ou até mesmo mortos. - Mas isso deve ser uma grande infelicidade! –diziam os visitantes. – Não admira que vocês estejam sempre tão tristes.
  • 10. E os seus amigos, depois de irem espreitar de novo à porta para ver se lá fora, alguém os espreitava, contavam-lhes como era a vida de todos os dias no País das Pessoas Tristes. Havia polícias por toda a parte, não os polícias bons que orientam o trânsito e prendem os ladrões, mas polícias para vigiar as pessoas e impedir que elas falassem livremente umas com as outras sobre os seus problemas e tristezas.
  • 11. Polícias nas fronteiras para não as deixar sair; até polícias que abriam as suas cartas e ouviam as suas conversas para descobrirem o que diziam e pensavam, e que as perseguiam e lhes batiam se elas não dissessem nem pensassem o que eles queriam que dissessem e pensassem.
  • 12. Os meninos do País das Pessoas Tristes nem podiam ouvir as músicas, nem ver os filmes nem ler os livros e revistas de que gostavam, mas só as músicas, filmes, livros e revistas que não eram proibidos. Nem sequer podiam beber Coca-Cola, porque a Coca-Cola (ninguém sabia porquê), era proibida! Os rapazes, quando cresciam, eram mandados para guerras horríveis em países longínquos, e obrigados a matar gentes que não conheciam e que nunca lhes tinham feito mal nenhum, e muitos deles morriam por lá ou regressavam loucos ou estropiados.
  • 13. As raparigas e os rapazes não podiam conversar nem conviver uns com os outros, e tinham que andar em escolas separadas e brincar em recreios separados por muros e por grades. As raparigas não podiam vestir calças, e andar sem meias era também proibido.
  • 14. - Mas por que é que vocês não votam em governantes que acabem com todas essas coisas más e que vos restituam a vossa Liberdade, o vosso tesouro? – perguntavam os visitantes, admirados. - Porque nós também não podemos votar e mesmo quando votamos, os resultados são sempre falseados em favor do governantes!
  • 15. Era espantoso! - Não podem votar? Então como escolhem os vossos governantes? - Mas nós não escolhemos os nossos governantes… - Então quem os escolhe? - Ninguém sabe…- respondiam, com tristeza, os habitantes do País das Pessoas Tristes.
  • 16. Até que chegou um dia em que, no País das Pessoas Tristes, as pessoas decidiram reconquistar o seu tesouro. Os soldados reuniram-se nos quartéis e pegaram nas suas armas para arrancar finalmente o tesouro das mãos dos ladrões.
  • 17. E toda a gente saiu alvoraçadamente para a rua e acompanhou os soldados, cantando e gritando: “Viva a Liberdade! Viva a Liberdade!” “Viva a Liberdade! Viva a Liberdade!”
  • 18. Os corações exultaram de alegria e as janelas encheram-se de bandeiras e flores;
  • 19. Os soldados puseram cravos vermelhos nas espingardas…
  • 20. …e as mulheres esqueceram-se do jantar e das limpezas das casas, e correram para a rua com os filhos ao colo e cravos vermelhos ao peito, chorando e rindo, comovidas e confusas.
  • 21. As pessoas que tinham sido expulsas do país e obrigadas a refugiar-se longe das suas famílias regressaram; as portas das cadeias onde estavam presas as pessoas que tinham tentado lutar pela liberdade abriram-se e estas pessoas voltaram a casa; os jovens vieram da guerra, felizes por estarem de novo rodeados dos amigos e abraçar os pais e irmãos; os meninos e meninas puderam, pela primeira vez, dar as mãos e falar e olhar-se, caminhando lado a lado sem medo de acusações nem de castigos de polícias maus.
  • 22. Todo o país se transformou numa grande festa, ruidosa e transbordante de felicidade, e as pessoas deixavam sair livremente os sentimentos acumulados durante os anos de infelicidade. Era o dia 25 de Abril e, porque foi nesse dia que aquele povo recuperou o tesouro da Liberdade, esse passou para sempre a chamar- se o Dia da Liberdade.
  • 23. Esse país agora já não se chama País das Pessoas Tristes. Chama-se Portugal e é o teu país. Esta não é uma história inventada. É uma história verdadeira, que aconteceu mesmo, há trinta e cinco anos, e que se deve, em grande parte a homens muito valentes, que tiveram a coragem suficiente para te darem a Liberdade que hoje tens.
  • 24. E o tesouro que tinham roubado àquele povo triste, pertence-te a ti, és tu que agora tens que cuidar dele, guardando-o muito bem no fundo do teu coração para que ninguém to roube outra vez. FIM