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APARELHO ESTOMATOGNÁTICO
                                              Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006




      Sabedor de que é um ser bio psico       da capacidade de trabalho, complicações
social, boa parte das ações do homem na       emocionais, sociais e econômicas.
sociedade objetiva fazer a vida melhor para         Mesmo com o conhecimento que os
a humanidade, ou despertá-la para as          profissionais da Odontologia tem sobre as
medidas ou precauções necessárias.            desordens do Aparelho Estomatognático,
      Um importante elemento neste caso é     um grande número de pacientes continua
o nível de saúde do indivíduo, de um grupo    sem um diagnóstico definitivo, seguido de
ou de uma sociedade.                          uma falta de interesse em tratá-los. Isto
      Saúde não significa apenas a ausência   constitui um importante estímulo aos
de doença, mas também bem estar somático,     profissionais em aprofundar os conheci-
psico, social e harmonia no meio em que       mentos nesta área.
vive.                                               Pesquisas epidemiológicas têm dado
      É importante que os profissionais que   importantes informações da freqüência
trabalham com pacientes que apresentam e      destas desordens em pacientes de ambos os
sofrem com as conseqüências das desordens     sexos, e de diferentes faixas etárias e classes
do Aparelho Estomatognático e estruturas      sociais.
relacionadas, tenham consciência de que             Considerando que todas as condutas
também os fatores somáticos, psíquicos e      terapêuticas se sustentam no respeito à
sociais podem estar alterados e compro-       natureza, e objetivam a remoção dos fatores
meter o senso normal de bem estar.            etiológicos e o resgate da biologia dos
      Estes pacientes podem apresentar        tecidos e fisiologia do Aparelho Estomatog-
persistente desconforto na face, cabeça,      nático, não se pode pensar em promoção de
articulações temporomandibulares – ATMs       saúde sem um profundo conhecimento deste
e pescoço, além de contrações, fadiga         aparelho, o que justifica uma breve revisão
muscular e limitação dos movimentos           sobre esse assunto.
mandibulares.                                       O Aparelho Estomatognático - AE, é
      Estalidos nas ATMs ocorrem com          uma entidade fisiológica, funcional,
freqüência e geralmente são tolerados pelos   perfeitamente definida e integrada por um
pacientes, até que atraiam a atenção de       conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos,
outros, originando um incômodo e um           cuja biologia e fisiopatologia são absoluta-
problema social ao paciente. A dor de         mente interdependentes, envolvidos nos
cabeça pode ser tolerada uma única vez,       atos funcionais como: fala, mastigação e
mas a repetição diária altera o comporta-     deglutição dos alimentos, e nos atos para-
mento do paciente, irrita familiares e        funcionais como: apertamento dentário e
colegas de trabalho.                          bruxismo.
      Os sintomas mencionados se forem              Esse aparelho tem como funções
discretos e esporádicos podem ser ignorados   mastigação, deglutição, fonação, expressão
por alguns pacientes, porém para outros       e estética facial e postura da mandíbula, da
podem ser sérios a ponto de causar redução    língua e do osso hióide. Dentre elas a
Aparelho Estomatognático                           Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006   2


mastigação é que gera o maior esforço            oclusal, faz-se necessário o conhecimento
oclusal.                                         das relações anatômicas das ATMs e de
       Seus componentes anatômicos são:          seus ligamentos com os músculos que o
todos os ossos fixos da cabeça, a mandíbula,     constituem. Este conhecimento inclui a
o hióide, as clavículas e o esterno, os          função, a inervação e a vascularização
músculos da mastigação, deglutição, expres-      destes músculos.
são facial e posteriores do pescoço, as
articulações dento-alveolar (periodonto) e                         SISTEMA NERVOSO
temporomandibular (ATM) e seus ligamen-                O sistema nervoso tem como funções
tos, os sistemas vasculares e nervoso, os        básicas:
dentes, a língua, os lábios, as bochechas e as       Manutenção da constância do meio
glândulas salivarias.                                interno (homeostase), por meio de
       O sistema neuromuscular, as articula-         funções vegetativas que asseguram sua
ções temporomandibulares - ATMs, a oclu-             organização.
são dentária e o periodonto são as quatro            Emissão de comportamentos que são
unidades fisiológicas básicas que integram           funções globais do organismo no meio
uma unidade biológica funcional do AE,               em que vive.
que por sua vez pertence à outra unidade               Para o melhor entendimento do
biológica fundamental, o indivíduo, do qual      mecanismo de ação do sistema nervoso,
não pode ser separada ao se fazer conside-       deve-se recordar que este se constitui de
rações diagnósticas, prognosticas e terapêu-     sistema nervoso central (SNC) e sistema
ticas em se tratando de promoção de saúde.       nervoso periférico (SNP).
                                                       O SNC constitui-se do encéfalo e da
             Sistema Neuromuscular
                                                 medula espinhal.
      O sistema neuromuscular é conside-               O encéfalo abrange o cérebro, o
rado fator preponderante nas funções do          cerebelo e o tronco encefálico.
Aparelho Estomatognático, pois os múscu-               No cérebro distinguem-se: o córtex
los excitados pelo sistema nervoso,              motor que se relaciona com os movimentos
constituem-se no elemento ativo, que             voluntários dos músculos estriados, o córtex
origina as forças necessárias às funções a       sensorial que se relaciona com a sensibi-
que se destinam (fig. 01). As demais             lidade profunda e cutânea e o tálamo que é
unidades representam os elementos passivos       o centro de passagem de todas as sensações,
encarregados de receber e transmitir a ação      com exceção do olfato.
das forças.                                            O cerebelo tem como função principal
                                                 a coordenação e refinamento dos movimen-
                                                 tos musculares, sendo também importante
                                                 na postura e tônus muscular.
                                                       No tronco encefálico distinguem-se o
                                                 mesencéfalo, a ponte e o bulbo.
                                                       A principal estrutura do sistema
                                                 nervoso periférico é o neurônio (célula
                                                 nervosa), que é composto de um corpo
                                                 celular e seu processo (axônio) que conduz
                                                 impulsos para e do corpo celular. Um
                                                 neurônio aferente conduz impulsos nervosos
                                                 em direção ao SNC, enquanto um neurônio
           Fig. 01 – Sistema neuromuscular       eferente conduz impulsos para a periferia
                                                 por meio de axônios.
      Para o entendimento da interação do              A detecção e subseqüente transmissão
sistema neuromuscular com a morfologia           de um evento nocivo é chamada de
Aparelho Estomatognático                         Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006   3


nocicepção. Nervos aferentes primários com     um determinado tipo de estímulo, e pouco
terminais periféricos (receptores) são         ou quase nada a outros.
conhecidos como nociceptores.                         Os receptores são classificados em
      Os principais nervos do Aparelho         grandes grupos:
Estomatognático são o facial (fig. 02), o      • Exteroceptores que são estimulados por
trigêmeo, o glossofaríngeo e o hipoglosso.         mudanças externas, como dor (termi-
                                                   nações nervosas livres), temperatura
                                                   (corpúsculo de Ruffini ao calor e bulbo
                                                   terminal de Krause ao frio), tato
                                                   (corpúsculo de Meissner), pressão
                                                   (corpúsculo de Paccini), audição, visão,
                                                   e outros. Estão localizados nas mucosas,
                                                   pele e estruturas especializadas dos
                                                   órgãos dos sentidos.
                                               • Interoceptores que são estimulados pelas
                                                   mudanças das condições internas do
                                                   indivíduo, como pressão (corpúsculos
                                                   de Vater-Paccini localizados no tecido
                 Fig. 02 - Nervo facial
                                                   gengival, periósteo, tecido sub-cutâneo,
                   • Neurofisiologia               ligamentos e cápsulas articulares),
                                                   mudanças químicas, posição relativa, e
       A neurofisiologia bucal é a parte da        outros.
biologia que explica os mecanismos a serem            Os interoceptores incluem:
explorados como recursos terapêuticos.                a) os visceroceptores, localizados nas
       É fundamental aprofundar o conhe-       vísceras e vasos sangüíneos, que percebem
cimento nesta área, para estabelecer um elo    a fome, a sede e a dor visceral.
entre o estímulo e a resposta nas abordagens          b) os proprioceptores, localizados nas
clínicas, visto que os diversos caminhos       articulações, músculos, ligamentos e mem-
percorridos pelos estímulos, elucidam por      brana periodontal que estão relacionados
meio da participação do sistema nervoso,       com a sensação de posição e pressão,
onde e como agir.                              sentido de movimentos, etc.
       A neurofisiologia se desenvolve em             Todos os interoceptores, especialmen-
três etapas definidas:                         te os proprioceptores, são mais sensíveis
1. Percepção do estímulo sensorial.            que os exteroceptores, e informa ao SNC
2. Integração no SNC.                          sobre possíveis condições adversas na
3. Reação motora (na forma de contração        intimidade dos tecidos do organismo. Como
    muscular e/ou função glandular).           exemplo, na membrana periodontal há
       A percepção do estímulo sensorial é o   proprioceptores capazes de perceber uma
mecanismo pelo qual o SNC se mantém            folha de papel de um centésimo de
informado das condições internas e externas    milímetro de espessura entre os dentes
existentes no organismo, e se constitui de     ocluídos, assim ocorre com restaurações
duas fases: a recepção do estímulo por meio    ligeiramente altas que são percebidas por
dos receptores nervosos e a condução do        estes.
estímulo até o SNC por meio das vias                  Um outro tipo especial de receptor é o
condutoras aferentes (sensorial).              fuso neuromuscular, localizado nos múscu-
       Os receptores nervosos são termina-     los, na região de transição entre as fibras
ções nervosas sensoriais, especializadas e     musculares e as fibras tendíneas. São sensí-
sensíveis a determinados estímulos. Em         veis às mudanças de tensão muscular e aos
geral, cada tipo de receptor só responde a     impulsos provenientes do SNC, com inerva-
Aparelho Estomatognático                         Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006   4


ção sensorial e motora própria, permite        3- Reação motora (específica), um neurônio
produzir os estímulos no próprio músculo.         motor eferente que transmite a infor-
      A integração no SNC ocorre a partir         mação ao órgão executor.
da produção de um estímulo no SNP                     Os arcos reflexos se classificam como
captado por um receptor específico, a partir   incondicionados e condicionados.
do qual, se inicia uma via ascendente (pelos          Os incondicionados (inatos – congêni-
nervos sensoriais aferentes) até o SNC         tos) são aqueles que não intervêm previa-
especificamente até o córtex sensorial, por    mente no cérebro, nem há treinamento. Ex.:
meio dos diferentes constituintes do sistema   respiração, sucção, deglutição, movimentos
nervoso (cerebelo, tálamo, e outros), quando   mandibulares.
o estímulo é então identificado, tornando-se          Os condicionados (adquiridos ou
consciente.                                    aprendidos) são aqueles nos quais o cérebro
      Cada estímulo específico é individua-    atua nas primeiras ocorrências da percep-
lizado e determina uma reação específica       ção, da integração e da resposta motora.
correspondente.                                Com a sucessiva repetição do estímulo e sua
      A reação motora, do córtex motor,        correspondente integração e reação motora,
inicia-se após a integração de um estímulo     estabelece-se uma sinapse entre os neurô-
ao córtex sensorial do cérebro. O impulso      nios aferentes (sensitivos) e os eferentes
motor gerado inicia uma via descendente,       (motores) ao nível do talo encefálico, sem a
por meio dos vários constituintes do sistema   intervenção do córtex cerebral, tornando-se
nervoso até o executor correspondente. Ex.:    automático ou inconsciente.
córtex motor, cerebelo, tronco encefálico,            Ex. Presente nas crianças antes da
mesencéfalo (núcleo motor), nervos eferen-     erupção dos dentes, os movimentos reflexos
tes e músculos.                                simples de abertura e fechamento mandibu-
      Em todo o trajeto seguido pelos          lar fazem parte dos reflexos inatos de
impulsos, existem vários controles de regis-   sucção e amamentação. Com a erupção e
tro, regulação, modificação e coordenação      oclusão dos dentes, os contatos interoclusais
em diversos níveis (tálamo, formações          excitam os proprioceptores da membrana
reticulares), para dar uma resposta motora     periodontal, cujos estímulos sensoriais
adequada. Porém a função reguladora            chegam ao SNC pelo cérebro onde são
principal dos impulsos sensoriais e motores    integrados, produzindo a resposta motora
estão no cerebelo, cumprindo uma impor-        indicada. Posteriormente, ante a situação de
tante função de coordenação e refinamento      reforço constante do mesmo estímulo, cria-
da reação motora.                              se um arco reflexo adquirido, produzindo-se
      Existe outro tipo de mecanismo           a sinapse dos neurônios aferentes e eferen-
neuromuscular inconsciente, cuja ação          tes, tornando-se desnecessária a intervenção
motora se produz sem intervenção do córtex     do córtex cerebral para que ocorra a
cerebral, de forma automática que são os       mastigação, reflexo semelhante ocorre no
arcos reflexos.                                ato de andar e outros.
      Os componentes fundamentais de um               Os reflexos mais importantes que se
arco reflexo são:                              apresentam no Aparelho Estomatognático
1- Estímulo específico, um receptor perifé-    são:
   rico, sensível a um determinado estímulo           - Reflexo de estiramento (miotático):
   ambiental;                                  atua no sentido de evitar o estiramento
2- Integração (cérebro), uma ou mais célu-     passivo dos músculos. Apresenta-se mais
   las intercalares ou interneurônios, que     sensível nos músculos que se opõem à força
   competem a elaboração das informações       de gravidade. Ex. masseter, temporal e
   transmitidas pelos receptores e sua         pterigóideo lateral (que evitam queda da
   posterior transmissão;                      mandíbula).
Aparelho Estomatognático                         Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006   5


      - Reflexo tactoceptivo (tangoceptivo):         Os músculos fásicos são compostos de
existente na membrana periodontal e nos        fibras capazes de rápida ativação e
músculos, a partir de receptores nervosos      relaxamento. Eles são bem adaptados para
sensitivos permitem ao SNC reconhecer o        movimentos rápidos de curta duração. As
movimento mandibular a ser realizado e a       fibras dos músculos tônicos contraem-se e
intensidade da força que deverá aplicar.       relaxam mais lentamente, induzem movi-
      - Reflexo flexor (nociceptivo): tem      mentos lentos e sustentam as estruturas
função protetora de todas as estruturas do     anexas por um longo período de tempo.
Aparelho Estomatognático, pois afasta a        Ainda que seja muitas vezes útil pensar nos
parte excitada do agente injuriante. É         músculos como fásicos ou tônicos é difícil
responsável pela alteração da posição          caracterizá-los claramente como tal, pois os
mandibular para evitar o trauma periodontal    períodos de contração e relaxamento variam
em um dente com distúrbio oclusal.             intensamente nos diferentes músculos, além
      - A coordenação dos reflexos se deve     disso, alguns deles podem contrair fasica-
em razão dos reflexos de estiramento e         mente num determinado momento e
flexor serem antagônicos, logo a atividade     tonicamente em outro.
de um deve necessariamente inibir a do               A extremidade de um músculo ligada
outro. Se ambos os reflexos forem ativados     a um elemento móvel é chamada de
simultaneamente, o padrão flexor é o domi-     inserção e a extremidade oposta, unida a um
nante, o que é muito favorável ao              elemento fixo, é chamada de origem.
organismo, pois o mesmo é fundamental-               A inserção e a origem são termos
mente protetor.                                descritivos convenientes, mas deve-se
      - A inervação recíproca atua quando      enfatizar que a tensão nos dois extremos é a
um músculo é ativado simultaneamente,          mesma.
inibindo ou relaxando os músculos de ação            Não se pode atribuir uma função
antagônica. O fracasso dessa inervação         específica a cada músculo, pois estudos
recíproca desempenha um papel importante       recentes mostram uma integração extrema-
na patogenia de diversas disfunções do         mente complexa em cada um dos movi-
Aparelho Estomatognático.                      mentos mandibulares. As descrições a
                                               seguir se limitam às funções principais de
                    Sistema Muscular           cada músculo para o entendimento dos
       O sistema muscular humano compõe-       movimentos e posições mandibulares.
se: de músculos esqueléticos, também
chamados músculos estriados, que atuam
sob controle voluntário e estão envolvidos
com os movimentos, postura e equilíbrio, e
de músculos lisos que atuam sob controle
involuntário e encontram-se nas paredes dos
vasos sangüíneos e em estruturas como
bexiga urinária, intestinos, estômago e
músculo cardíaco.
       Muitos invertebrados e todos os
vertebrados dependem deste tecido contrátil
para locomoverem-se, e tais tecidos são
agrupados em sistemas coordenados para          Fig. 03 – Músculos do Aparelho Estomatognático
maior eficiência.
                                                     Durante a função fisiológica dos
      • Tipos funcionais dos músculos
                                               músculos do AE na oclusão dos dentes em
       Os músculos são divididos pelos
                                               uma posição mandibular estável, um
fisiologistas em dois grandes grupos:
                                               distúrbio oclusal poderá se tornar
fásicos e tônicos.
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intolerável ao paciente e gerar desconforto                   O músculo Masseter.
muscular, podendo precipitar uma pato-                •     Sua porção superficial tem origem nos
logia. O acadêmico e o Cirurgião Dentista                   2/3 anteriores do arco zigomático e sua
devem ser capazes de palpar a musculatura                   porção profunda na superfície média do
do AE (fig. 03), e diagnosticar qualquer                    arco zigomático.
possível patologia e seus fatores etiológicos.        •     Insere-se na superfície lateral externa do
                                                            ramo e ângulo da mandíbula.
     Consideram-se músculos da mastigação:
                                                      •     É inervado pelo nervo masseterino
        O músculo Temporal.                                 (ramo do trigêmeo).
•     Tem origem na linha temporal superior           •     É vascularizado pela artéria masseterina
      e soalho da fossa temporal.                           (ramo da artéria maxilar).
•     Insere-se no processo coronóide e               •     Têm as funções de elevar a mandíbula e
      borda anterior do ramo mandibular, por                ocluir os dentes (fig. 06).
      meio dos tendões: superficial e longo
      profundo (fig. 04).
•     É inervado pelos nervos temporais
      profundos (ramos do trigêmeo).
•     É vascularizado pelas artérias tempo-
      rais profunda anterior, média e
      posterior.
•     Tem as funções de elevar, retrair e
      posicionar a mandíbula e ocluir os
      dentes (fig. 05).
                      A
                  B
             A                                             Fig. 06 – Músculo masseter – funções: elevar a
                                                                    mandíbula e ocluir os dentes.

                                                           A força dos músculos (masseteres)
                                                      tem sua maior concentração sobre a cúspide
                                                      mésio-palatina dos primeiros molares (fig.
                                                      07).


Fig. 04 – Inserção do músculo temporal: A – tendão
       superficial: B – tendão longo profundo




                                                              Fig. 07 – Localização do ponto de maior
                                                          concentração das forças dos músculos masseteres.

                                                              O músculo Pterigóideo Lateral.
                                                      •     Sua porção superior tem origem na
    Fig. 05 – Músculo temporal – funções: elevação,         superfície infratemporal da asa maior do
        retração e posicionamento da mandíbula.
                                                            osso esfenóide, e a porção inferior na
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     superfície do processo pterigóide do
     osso esfenóide.
•    Insere-se ao feixe superior no disco
     articular (menisco) e cápsula da ATM, e
     o feixe inferior na fossa pterigóidea
     (colo do côndilo).
                                                                      P FO
•    É inervado pelo nervo pterigóideo                                     -UF
                                                                               U

     lateral (ramo do trigêmeo),
•    Vascularizado pela artéria pterigóidea
     lateral (ramo da artéria maxilar).
•    Tem as funções de protruir a mandíbula
     e tracionar o disco articular para frente,           Fig.09 – Músculo pterigóideo medial – elevar e
     assistindo aos movimentos protrusivos                     estabilizar lateralmente a mandíbula.
     da mandíbula (fig. 08).
                                                           Consideram-se músculos supra-hióideos:
                                                              O músculo gênio-hióideo.
                                                      •     Tem sua origem nos tubérculos genia-
                                                            nos inferiores na superfície interna da
                                                            sínfise mandibular (fig. 10).
                                                      •     Insere-se na superfície anterior do corpo
                                                            do osso hióide.
                                                      •     É inervado pelo nervo genio-hióideo
                                                            (ramo do nervo hipoglosso).
                                                      •     É vascularizado pelas artérias lingual e
                                                            sublingual.
                                                      •     Tem a função de movimentar o osso
                                                            hióide para frente.

    Fig. 08 – Músculo pterigóideo lateral – função:
                protrusão mandibular.



        O músculo Pterigóideo Medial
•    Tem sua origem na face medial da
     lâmina lateral da fossa pterigóidea na
     base do crânio.
•    Insere-se nas porções posterior e inferior                     Fig 10 – Músculo gênio-hioídeo
     da superfície medial do ramo ascendente
     e ângulo da mandíbula.                                   O Músculo milo-hióideo.
•    É inervado pelo nervo pterigóideo (ramo          •     Tem sua origem na linha milo-hióidea
     do trigêmeo).                                          da mandíbula (da raiz do último molar à
•    É vascularizado pela artéria pterigóidea               sínfise mandibular), (fig. 11).
     medial (ramo da artéria maxilar).                •     Insere-se no corpo do osso hióide e rafe
•    Tem as funções de elevar e estabilizar                 milo-hióidea.
     lateralmente a mandíbula (fig. 09).              •     É inervado pelo nervo milo-hióideo
                                                            (ramo do nervo mandíbula).
                                                      •     É vascularizado pela artéria submento-
                                                            niana (ramo da artéria facial).
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•    Tem as funções de elevar o soalho da        •     Tem com função tracionar o osso hióide
     boca e com ele a língua, e se os dentes           para cima e para trás.
     estão ocluídos, auxiliar na deglutição.




                                                                 Fig. 13 – Músculo digástrico
            Fig. 11 – Músculo milo-hióideo
                                                       Consideram-se músculos infra-hióideos:
        O músculo Digástrico.
•    Tem a origem do ventre posterior: na              O tiro-hióideo, o esterno-hióideo, o
     incisura mastóidea do temporal e do         esterno-tireóideo e o omo-hióideo (fig. 14),.
     ventre anterior na fossa digástrica da            Agindo em grupo estão envolvidos
     mandíbula (fig. 12).                        nas funções mandibulares de abaixar e
•    Insere-se no tendão intermediário,          estabilizar o osso hióide, o que permite a
     aderindo ao osso hióide por uma alça        ação auxiliar dos músculos supra-hióideos
     fibrosa.                                    no abaixamento da mandíbula. São
•    É inervado pelos nervos milo-hióideo        inervados pelo nervo hipoglosso, tem
     (ramo do trigêmeo) e facial.                origem na clavícula e inserção no osso
•    É vascularizado pelas artérias submento-    hióide.
     niana, occipital e auricular posterior.
•    Tem a função de puxar o mento para
     trás e para baixo na abertura da boca,
     auxiliando assim o pterigóideo lateral na
     protrusão da mandíbula.




                                                              Fig. 14 – Músculos infra-hióideos

                                                            Músculos posteriores do pescoço
             Fig. 12 – Músculo digástrico                Músculo esternocleidomastóideo
       O Músculo estilo-hióideo.                 •     Tem sua origem no manúbrio do esterno
                                                       e na porção medial da clavícula (fig.15
•    Tem sua origem na borda posterior do
                                                       A).
     processo estilóide, (fig. 13).
                                                 •     Insere-se no processo mastóide do osso
•    Insere-se no corpo do osso hióide, na
                                                       temporal.
     junção com o corno maior.
                                                 •     É inervado pelo nervo acessório.
•    É inervado pelo ramo estilo-hióideo (do
     nervo facial).                              •     É vascularizado pelas artérias supra
                                                       escapular e occiptal
•    É vascularizado pela artéria auricular
     posterior.
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•    Tem as funções de flexionar a coluna
     vertebral e girar a cabeça para o lado
     oposto.
        Músculo trapézio
•    Tem sua origem na protuberância
     occipital externa (fig. 15 B).
•    Insere-se na borda posterior do terço
     lateral da clavícula.
•    É inervado pelo nervo acessório
     espinhal.                                                          Fig. 16 – Músculo bucinador
•    É vascularizado pela artéria trapezoidal.
•    Tem a função de girar a escápula.                                 Músculo Orbicular da Boca

       Músculos intrínsecos do pescoço                  •     Tem sua origem nas fibras do bucinador
•    Tem a função de atuar na fala (fig. 15 C).               e outros músculos vizinhos (fig.17).
                                                        •     Insere suas fibras de um lado com as
                                                              fibras do lado oposto na linha mediana
                                                              dos lábios.
                                                        •     É inervado pelo nervo facial.
                                                        •     É vascularizado pelas artérias labial
                                                              superior e inferior.
                           C
                                                        •     Tem as funções de comprimir os lábios
                       A                                      sobre os dentes, fechar a boca e protruir
                               B                              os lábios.

   Fig. 15 – Músculos posteriores do pescoço: A –
esternocleidomastóideo, B – trapézio, C – intrínsecos

                  Músculo bucinador
•    Tem sua origem nos processos álveo-
     lares das maxilas e mandíbula na região
     molar e no ligamento pterigomandibular
     (fig. 16).
•    Insere suas fibras que se misturam com
     as fibras do músculo orbicular da boca,                       Fig. 17 – Músculo orbicular da boca
     no ângulo da boca.
•    É inervado pelo nervo facial.                                        Músculo Platisma
•    É vascularizado pela artéria bucal.                •     Tem sua origem na fáscia dos músculos
•    Tem a função de auxiliar na mastigação,                  peitoral maior e deltóide (fig. 18).
     distende a bochecha e a comprime de                •     Insere-se na borda inferior da mandi-
     encontro aos dentes, e retrai o ângulo da                bula, pele do mento e bochecha.
     boca.                                              •     É inervado pelo nervo facial
                                                        •     Tem a função de abaixar a mandíbula, o
                                                              lábio inferior e os ângulos da boca e
                                                              repuxar a pele do pescoço.
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                                                     •   ISOTÔNICA: quando o músculo ao se
                                                         contrair tem somente um de seus
                                                         extremos de inserção fixo, e se encurta
                                                         sem aumentar a tensão de suas fibras
                                                         (ex.: abrir e fechar a boca).
                                                     • ISOMÉTRICA: quando o músculo ao se
                                                         contrair tem os dois extremos de
                                                         inserção fixos, não podendo se encurtar,
                                                         o que gera um aumento da tensão de
                                                         suas fibras (ex.: hábito de apertamento
                                                         dentário ou bruxismo).
                Fig. 18 – Músculo platisma
                                                           Com base na ação integrada em
                                                     relação às funções primárias, os músculos
              Músculos da língua                     da mastigação podem ser divididos em:
      São dezessete, um ímpar o lingual              1. Motores Primários: também chamados
superior e mais oito pares que executam os               de iniciadores.
diferentes movimentos da língua.                     2. Sinergistas: que atuam auxiliando os
      A pressão da língua para fora versus a             motores primários.
pressão do músculo bucinador para dentro             3. Antagonistas: que se opõem à ação dos
da cavidade bucal, determinam o                          primários.
posicionamento do corredor da pressão                4. Estabilizadores (ou de fixação): que
neutra (zona neutra), (fig. 19). Conforme os             mantêm firmes os ossos ou articulações,
dentes erupcionam, essas forças oponentes                permitindo uma ação efetiva do grupo
os conduzem horizontalmente para sua                     muscular ativo.
posição.                                                   No movimento de fechamento fisioló-
      O tamanho da língua e o comprimento            gico da mandíbula atuam:
dos músculos peribucais influenciam na               -como músculos primários os masséteres;
posição da zona neutra, assim como o faz             -como sinergistas, os pterigoídeos mediais,
qualquer hábito parafuncional que altere a           temporais anteriores e médios;
pressão da língua ou dos lábios.                     -como antagonistas os pterigoídeos laterais
                                                     e o digástrico e
                                                     - como estabilizadores os temporais
                                                     posteriores (figs 20 A e B).




 Fig. 19 – Direcionamento das forças de pressão da
 língua e do músculo bucinador, delimitando a zona
               neutra (região dentada)                        A                                B

            •       Funções musculares               Fig. 20 – Movimento de fechamento fisiológico, A –
                                                              fase inicial, B – fase intermediária.
     Ocorrem por meio de contrações
sempre em direção à sua origem, podendo                            • Vascularização
                                                           A principal artéria do aparelho
ser:
                                                     estomatognático é a carótida externa com
                                                     seus ramos maxilar e facial (fig. 21).
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                                                           apoia-se anteriormente contra a eminência
                                  VASCULARIZAÇÃO           articular, que é protegida por uma camada
                                                           fibrocartilaginosa em toda a superfície de
                                                           relacionamento funcional. O disco articular
                                         Artérias:
                                             - facial
                                                           (menisco) com forma bicôncava está colo-
                                           - maxilar       cado entre ambas as superfícies articulares,
                                      - carótida externa   e apresenta a inserção do feixe superior do
                                                           músculo pterigóideo lateral (no disco arti-
                                                           cular), e do feixe inferior na fossa pterigói-
Fig. 21 – Representação esquemática do suprimento
                                                           dea (colo do côndilo). Posterior-mente ao
       arterial do Aparelho Estomatognático                côndilo, encontra-se a zona bilaminar com
                                                           vascularização e inervação própria, que não
  Articulação Temporomandibular - ATM                      é apropriada para suportar o côndilo.
                                                                                               D     E
      A articulação temporomandibular
pode ser tecnicamente considerada uma                             C
articulação ginglemoartroidal, por realizar                   J
movimentos de rotação (ginglemoidal) e                       A
translação (artroidal).
                                                             L
      O homem é portador das articulações
temporomandibulares desde o seu nasci-                                M                                  B

mento, quando ainda inexistem os dentes
nas arcadas dentárias. Durante o seu                         Fig. 24 – Elementos da ATM – vista sagital: A-
desenvolvimento, os côndilos e as fossas                      superfície articular do osso temporal, B- disco
vão se remodelando continuamente por                        articular, C- cavidade sinovial superior, D- tecido
meio da transição da dentição temporária                    retrodiscal, E- feixe superior da zona bilaminar, J-
                                                           superfície articular do côndilo, L- feixe superior do
para a permanente e mesmo quando da
                                                           pterigoideo lateral, M- feixe inferior do pterigoideo
perda desta última (fig. 23).                                                      lateral.
      As ATMs se projetarão ligeiramente
para anterior quando da ausência de todos                         A irrigação dos elementos que consti-
os dentes e são, juntamente com o sistema                  tuem as ATMs é conduzida por ramos das
neuromuscular, as referências que se                       artérias temporal superficial, timpânica an-
mantêm durante toda a vida do homem.                       terior, meníngea média e auricular posterior.
                                                                  A inervação se dá a partir dos
                                 FU
                           PF
                             O/ U
                                                           receptores localizados em:
                                                           • Regiões posteriores e laterais da cápsula
                                                               e ligamento lateral externo – inervados
                                                               pelo nervo aurículo-temporal.
                                                           • Região anterior da cápsula – inervada
                                                               pelos nervos temporais profundos
Fig. 23 - Nesta ilustração vê-se os diferentes estágios        posteriores e massetérico.
das ATMs durante o desenvolvimento do crânio e da          • Região anterior (articular) do menisco e
mandíbula de um recém nascido, de uma criança, de
                                                               membrana sinovial contendo poucos
              um adulto e de um idoso.
                                                               receptores.
      As articulações temporomandibulares                      São descritos quatro tipos de receptores
possuem todos os elementos de uma                          nas ATMs:
articulação sinovial, incluindo um disco                   • Os receptores de Ruffini que determi-
articular (fig. 24). O côndilo é revestido de                  nam o ângulo de abertura da boca e
uma camada fibrocartilaginosa, posiciona-se                    variam dependendo do grau de abertura.
ânterosuperiormente na fossa mandibular e,
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•    Os receptores de Pacini que são ativados                eminência articular, e inserção na face
     juntos ou transitoriamente com os de                    lateral do côndilo.
     Ruffini e assinalam o início e o fim do
     movimento, e suas respostas não                                               Oclusão
     dependem da direção nem da posição
                                                               Oclusão se refere ao estudo das
     inicial do movimento.
                                                         relações estáticas (intercuspidação dentária)
•     Os receptores de Golgi que respondem               e dinâmicas (movimentos mandibulares)
     à pressões fortes nos tecidos articulares           entre as superfícies oclusais, e entre estas e
     e são protetores.                                   todos os demais componentes do AE.
•    As Terminações Nervosas Livres que                        Uma oclusão é fisiológica quando
     são nociceptivas e respondem pela dor.              apresenta harmonia entre os determinantes
       São ligamentos da ATM:                            anatômicos e as unidades fisiológicas do
                                                         AE, não gerando patologias aos tecidos.
     Temporomandibular com origem na                     Entretanto na presença de desarmonia a
     superfície lateral da eminência articular           oclusão será patológica, podendo gerar
     do osso temporal e inserção no colo da              patologias aos tecidos.
     mandíbula (fig. 25).                                      É considerado maloclusão os contatos
                                                         oclusais antagônicos ou adjacentes dos
                                   disco articular       dentes em desarmonia, com os componentes
                                                         anatômicos e unidades fisiológicas do AE.
                                                         O termo maloclusão não significa doença ou
                                                         saúde, e sim dentes mal posicionados ou
                                         ligamento       desalinhados. Muitas pessoas apresentam
                                     temporomandibular
                                                         uma maloclusão, mas se adaptam à ela não
                                                         apresentando sinais patológicos.
                                                               No Aparelho Estomatognático, os
                                                         dentes posteriores têm como funções: masti-
       Fig. 25 – Cápsula da ATM – ligamento              gação, ponto de apoio da mandíbula durante
                 temporomandibular.                      a deglutição, manutenção da dimensão
     Estilomandibular com origem no                      vertical de oclusão, transmissão e dissipação
     processo estilóide e inserção no ângulo             das forças axiais, e proteção aos dentes
     da mandíbula, (fig. 26A).                           anteriores e às ATMs na posição de oclusão
     Esfenomandibular com origem na                      em relação cêntrica - ORC.
     espinha do osso esfenóide e inserção na                   Os dentes anteriores têm como fun-
     língula mandibular, (fig. 25B).                     ções: estética, fonética, apreensão e corte
                                                         dos alimentos, e proteção aos dentes
                                                         posteriores e às ATMs nos movimentos
                                                         excêntricos da mandíbula.

                                                                                Periodonto

                                                               As forças que incidem sobre os dentes
                                                         são transmitidas aos ossos por meio das
                                                         fibras periodontais (fig. 22). O equilíbrio
                           A   B                         entre as forças de ação que incidem sobre os
                                                         dentes e a reação biológica adequada dos
     Fig. 26 – A: ligamento estilomandibular; B:         tecidos do periodonto de sustentação,
            ligamento esfenomandibular.                  cemento, fibras periodontais e osso alveolar,
                                                         mantêm a integridade das estruturas e
     Capsular com origem no osso temporal,
     ao longo da fossa mandibular e
Aparelho Estomatognático                                  Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006    13


representa o principal componente da                  •   Anamnésia, exames: clínico, radiográ-
homeostasia desse periodonto.                             fico e dos modelos de estudo montados
                                                          em articulador semi-ajustável em RC.
                                                      • Diagnóstico.
                                                      • Planejamento e execução de procedi-
                                                          mentos educativos, preventivos e restau-
                                                          radores.
                                                             O que são e a que se destinam os
                                                      objetivos:
                                                             Dimensão vertical (DV) é a medida
                                                      vertical da face, entre dois pontos quaisquer,
                                                      arbitrariamente selecionados e conveniente-
                                                      mente localizados um acima, e outro abaixo
  Fig. 22 Transmissão das forças incidentes ao osso
           por meio das fibras periodontais.          da boca, normalmente na linha mediana da
                                                      face, variando entre a dimensão vertical de
       Na mandíbula as forças seguem a                repouso e dimensão vertical de oclusão.
trajetória das trabéculas ósseas em direção           Fundamental na preservação da saúde da
aos côndilos, de onde são transmitidas e              unidade fisiológica neuromuscular do AE.
neutralizadas nas regiões temporal, parietal                 A dimensão vertical de repouso
e occipital.                                          (DVR) é a dimensão vertical da face,
       Nas maxilas a trajetória trabecular            quando a mandíbula se encontra sustentada
forma três pilares ósseos: anterior, médio e          pela posição postural, ou de repouso
posterior, por meio dos quais as forças se            fisiológico dos músculos do AE e com os
direcionam para as áreas frontal, orbital,            lábios se contatando levemente. Independe
nasal e zigomática, onde são neutralizadas.           da presença ou não dos dentes.
Essas disposições trabeculares asseguram o                   A dimensão vertical de oclusão
máximo de resistência óssea ao estresse.              (DVO) é a dimensão vertical da face,
                                                      quando os dentes estão em máxima
 A manutenção ou reabilitação do Aparelho             intercuspidação e os músculos contraídos
            Estomatognático                           em seu ciclo de potência máxima. Depende
                                                      da presença dos dentes em oclusão (fig. 27).
       A manutenção ou reabilitação do
Aparelho Estomatognático pelo Cirurgião-
Dentista tem como objetivo preservar ou
                                                                                                   Músculos da
restabelecer a:                                                                                    Mastigação
• Dimensão vertical – DV.
                                                                                                  Supra-hióideos
• Relação cêntrica – RC.
• Estabilidade oclusal – EO.                                                                      Infra-hióideos
• Guia anterior – GA.
                                                                                               Músculos anteriores
       Para isto se fazem necessários os                                                                 e
                                                                                               posteriores cervicais
conhecimentos de:
• Biologia dos tecidos.
• Fisiologia do Aparelho Estomatogná-                 Fig. 27 - Grupo de músculos que atuam na dimensão
    tico.                                                                  vertical
• Propriedade dos materiais odontológi-
    cos.                                                    O paciente pode apresentar diferentes
• Técnicas de execução dos procedimen-                perfis faciais em detrimento de alterações na
    tos clínicos e laboratoriais.                     DV (fig. 28).
• Fundamentos de estética odontológica.
       E os procedimentos:
Aparelho Estomatognático                                  Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006   14


                                                               - Thomas (1979), diz ser o relacio-
                                                        namento espacial entre o crânio e os
                                                        côndilos, sob o mínimo estresse fisiológico,
                                                        numa posição posterior, superior e media-na
                                                        na fossa condilar.
                                                               - Okeson (1989), é a posição mais
                                                        anterior e superior dos côndilos nas suas
                                                        fossas com os discos adequadamente inter-
         Correta           Excessiva   Reduzida         postos.
 Fig. 28 Diferentes perfis sociais: A- DV correta, B-          - Dawson (1995), é a posição mais
          DV excessiva, C- DV reduzida.
                                                        superior que as estruturas côndilo-disco
       A distância existente entre as                   propriamente alinhados, podem alcançar
superfícies oclusais e incisais dos dentes              contra a eminência.
antagonistas, quando a mandíbula se                            - Jiménez (1995), é a posição fisioló-
encontra sustentada pela posição postural ou            gica do côndilo, na qual ele se encontra
de repouso muscular fisiológico, é                      centrado na fossa, em seu posicionamento
denominada espaço funcional livre (EFL) o               mais superior e correta-mente relacionado
que representa a diferença entre a DVO e a              com o disco articular, contra a vertente
DVR, sendo de aproximadamente 3 mm.                     posterior da eminência articular.
       A relação cêntrica (RC) trata do                        - Fernandes Neto (2002), é a relação
relacionamento temporomandibular, funda-                do côndilo com a fossa mandibular do osso
mental na preservação da saúde das                      temporal em completa harmonia com o
unidades fisiológicas, neuromuscular e                  disco articular (fig. 29). É uma posição
ATMs, do AE. Existem na literatura                      estável e reproduzível pelo equilíbrio
odontológica várias conceituações de                    fisiológico dos músculos de sustentação
diferentes autores, entre as quais se                   mandibular, e independe do relacionamento
destacam algumas citadas abaixo.                        dentário.
       - Neff (1975), é a posição inicial dos
movimentos mandibulares, estável e fácil de
ser reproduzida.
       - Celenza (1978), é a posição
fisiológica mais anterior e superior dos
côndilos contra a inclinação da eminência
articular, permitida pelas estruturas limi-
tantes da ATM, a uma DV dada. É uma
posição que comumente não coincide com a
máxima intercuspidação e é uma referência
                                                                Fig. 29 – RC: relação côndilo – fossa.
aceitável para o tratamento.
       - Moffett (1978), é uma relação                        Estabilidade oclusal – EO é a
crânio-mandibular, na qual a mandíbula se               estabilidade dada à mandíbula em relação às
encontra numa posição mais retruída em                  maxilas pela intercuspidação simultânea das
relação à máxima intercuspidação quando                 cúspides funcionais, nas respectivas fossas
os dentes fazem os seus contato oclusal                 antagonistas em ambos os lados da arcada
inicial. É uma posição bordejante e fácil-              dentária. Fundamental na preservação da
mente reproduzível.                                     saúde das unidades fisiológicas, neuro-
       - Ramfjord (1983), é uma posição                 muscular, ATMs e oclusão dentária (fig. 30)
ligamentosa mais retruída da mandíbula, a               e periodonto(fig. 31), do AE.
partir da qual os movimentos de abertura e
lateralidade podem ser executados conforta-
velmente.
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                       A
                                                                               A



                           B
                                                                                                    B

 Fig. 30 – A: Estabilidade condilar, B: estabilidade
                       oclusal                         Fig. 33 – Oclusão em relação cêntrica: A – RC, B –
                                                                    intercuspidação dentária.

                                                              Como máxima intercuspidação habi-
                                                       tual - MIH, é considerada a posição maxilo-
                                                       mandibular com o maior número de conta-
                                                       tos entre os dentes antagonistas. É uma
                                                       posição dentária que independe da posição
                                                       dos côndilos, logo não deve ser impro-
                                                       priamente chamada de oclusão cêntrica,
 Fig. 31 – Estabilidade oclusal, direcionamento das    pois nesta posição a mandíbula estará
 forças para o longo eixo dos dentes e conseqüente     sempre desviada da RC.
                  saúde periodontal                           Estudos têm mostrado que, na maioria
                                                       dos casos, a neuromusculatura posiciona a
      Para manter ou restabelecer a estabi-
                                                       mandíbula para alcançar a máxima inter-
lidade maxilo-mandibular do aparelho
                                                       cuspidação independente da posição dos
estomatognático, são indispensáveis a
                                                       côndilos na fossa. Quando interferências
oclusão dos pré-molares e dos 1ºs molares
                                                       oclusais estão presentes o “feedback”
antagônicos.
                                                       proprioceptivo das fibras periodontais ao
                                                       redor do dente envolvido programa a função
                                                       muscular para evitar as interferências. A
                                                       função muscular resultante pode ser tão
                                                       dominante que a posição mandibular
                                                       adquirida será freqüentemente considerada
                                                       erroneamente pelos clínicos como a
                                                       verdadeira RC.
                                                              Para melhor entendimento de toda
                                                       esta nomenclatura é importante observar
                                                       que o termo relação cêntrica se refere
                                                       sempre a uma posição de estabilidade entre
                                                       o côndilo e a fossa mandibular, indepen-
                                                       dente dos dentes. Os termos intercuspidação
      Fig. 32 - Estabilidade maxilo-mandibular
                                                       e oclusão referem-se a uma relação de
      Denomina-se oclusão em relação                   estabilidade dentária entre as maxilas e a
cêntrica - ORC (oclusão cêntrica ou máxima             mandíbula (maxilo-mandibular), indepen-
intercuspidação cêntrica) quando há coinci-            dente dos côndilos. No entanto, uma
dência da posição de máxima intercuspi-                oclusão fisiológica requer estabilidade e
dação dentária com a posição de RC das                 reprodutibilidade no relacionamento da
ATMs (fig. 33).                                        mandíbula com os ossos temporais e
                                                       maxilas. Para que isto ocorra, é necessário
                                                       preservar ou restabelecer simultaneamente,
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a relação temporomandibular por meio das
ATMs direita e esquerda em RC como
apoio posterior, e a relação maxiloman-
dibular por meio da intercuspidação dos
dentes posteriores simultaneamente de
ambos os lados da arcada dentária, como
apoio anterior. Obtém-se desta forma, uma
oclusão em relação cêntrica ou uma máxima
intercuspidação cêntrica, de tal maneira que,
quando unidos os extremos destes pontos de
apoio, forme uma figura geométrica                        Fig. 34 – Representação esquemática de guia anterior
(quadrilátero de estabilidade).
       Como Guia Anterior GA, descreve-se                             Fig. 35 – Guia anterior – plano
o relacionamento das bordas incisais dos
dentes anteriores inferiores, com a face
lingual dos dentes anteriores superiores,
durante os movimentos protrusivo e
retrusivo da mandíbula (fig. 34), sem
contato dental posterior, formando-se com
as ATMs direita e esquerda um tripé de
estabilidade (fig. 35). Fundamental na
preservação da saúde das unidades                         sagital
fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão
dentária e periodonto do AE

      O objetivo maior da Odontologia está em preservar ou restabelecer a biologia dos
tecidos e a fisiologia do AE.
      Recomenda-se assim a prática da odontologia 4 x 4, onde o alcance dos quatro objetivos
resulta na preservação e ou restabelecimento das quatro unidades fisiológicas (Tab. 01)

    Objetivos permanentes a serem alcançados:                Unidades fisiológicas – preservadas:
                Dimensão vertical                                      Neuromuscular
                                                                       Neuromuscular
                       Relação cêntrica
                                                                            ATMs
                                                                       Neuromuscular
                                                                            ATMs
                    Estabilidade oclusal
                                                                           Dentes
                                                                         Periodonto.
                                                                       Neuromuscular
                                                                            ATMs
                           Guia anterior
                                                                           Dentes
                                                                         Periodonto
Tabela 01 – Odontologia 4 x 4: quatro objetivo da odontologia que visam preservar quatro unidades fisiológicas
do aparelho estomatognático.
Aparelho Estomatognático                         Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006   17


              Bibliografia consultada          School of Dentistry, Seventh printed,
                                               Washington, D.C. 60 p. 1993.
CELENZA, F., NASEDKIN, J. N.                   OKESON, J. P. Management of tem-
Occlusion The state of the art. Chicago:       poromandibular disorders and occlusion.
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occlusion to varying conditions of the         ed. Philadelphia: Saunders; 1983.
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Fisiologia do sistema nervoso Traduzido        1975.
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Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 398 p.       Conceitos Básicos. São Paulo, Santos Liv.
1977.                                          Editora. 336 p. 1997.
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GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim,             PERTES, R. A., GROSS, S. G. Clinical
California: Denar Corp., 117 p. 1977.          management        of    temporo-mandibular
JIMÉNEZ-LOPEZ, V. Próteses sobre               disorders and orofacial pain. Illinois:
implantes: Oclusão, casos clínicos e           Quintessence, Cap. 1. 368p. 1995.
laboratório. 2ª ed. Tradução por Zulema        POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles
Eugênia      G.   Batista.    São     Paulo:   of Occlusion. Detroit: University of Detroit,
Quintessence, 264p. 1996.                      56 p., s.d.
MADEIRA,M.C. Anatomia da face. Bases           THE       ACADEMY         OF     PROSTHO-
anátomofuncionais par a prática odontoló-      DONTICS. The glossary of pros-thodontics
gica. 2ª ed. São Paulo, Sarvier Editora,       terms., 6th ed. Journal of Prosthetic.
1997.                                          Dentistry St. Louis, 112 p., 1994.
NEFF, P. E. TMJ Occlusion and Function.
Washington: Georgetown University -

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Aparelho Estomatognático

  • 1. APARELHO ESTOMATOGNÁTICO Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 Sabedor de que é um ser bio psico da capacidade de trabalho, complicações social, boa parte das ações do homem na emocionais, sociais e econômicas. sociedade objetiva fazer a vida melhor para Mesmo com o conhecimento que os a humanidade, ou despertá-la para as profissionais da Odontologia tem sobre as medidas ou precauções necessárias. desordens do Aparelho Estomatognático, Um importante elemento neste caso é um grande número de pacientes continua o nível de saúde do indivíduo, de um grupo sem um diagnóstico definitivo, seguido de ou de uma sociedade. uma falta de interesse em tratá-los. Isto Saúde não significa apenas a ausência constitui um importante estímulo aos de doença, mas também bem estar somático, profissionais em aprofundar os conheci- psico, social e harmonia no meio em que mentos nesta área. vive. Pesquisas epidemiológicas têm dado É importante que os profissionais que importantes informações da freqüência trabalham com pacientes que apresentam e destas desordens em pacientes de ambos os sofrem com as conseqüências das desordens sexos, e de diferentes faixas etárias e classes do Aparelho Estomatognático e estruturas sociais. relacionadas, tenham consciência de que Considerando que todas as condutas também os fatores somáticos, psíquicos e terapêuticas se sustentam no respeito à sociais podem estar alterados e compro- natureza, e objetivam a remoção dos fatores meter o senso normal de bem estar. etiológicos e o resgate da biologia dos Estes pacientes podem apresentar tecidos e fisiologia do Aparelho Estomatog- persistente desconforto na face, cabeça, nático, não se pode pensar em promoção de articulações temporomandibulares – ATMs saúde sem um profundo conhecimento deste e pescoço, além de contrações, fadiga aparelho, o que justifica uma breve revisão muscular e limitação dos movimentos sobre esse assunto. mandibulares. O Aparelho Estomatognático - AE, é Estalidos nas ATMs ocorrem com uma entidade fisiológica, funcional, freqüência e geralmente são tolerados pelos perfeitamente definida e integrada por um pacientes, até que atraiam a atenção de conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos, outros, originando um incômodo e um cuja biologia e fisiopatologia são absoluta- problema social ao paciente. A dor de mente interdependentes, envolvidos nos cabeça pode ser tolerada uma única vez, atos funcionais como: fala, mastigação e mas a repetição diária altera o comporta- deglutição dos alimentos, e nos atos para- mento do paciente, irrita familiares e funcionais como: apertamento dentário e colegas de trabalho. bruxismo. Os sintomas mencionados se forem Esse aparelho tem como funções discretos e esporádicos podem ser ignorados mastigação, deglutição, fonação, expressão por alguns pacientes, porém para outros e estética facial e postura da mandíbula, da podem ser sérios a ponto de causar redução língua e do osso hióide. Dentre elas a
  • 2. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 2 mastigação é que gera o maior esforço oclusal, faz-se necessário o conhecimento oclusal. das relações anatômicas das ATMs e de Seus componentes anatômicos são: seus ligamentos com os músculos que o todos os ossos fixos da cabeça, a mandíbula, constituem. Este conhecimento inclui a o hióide, as clavículas e o esterno, os função, a inervação e a vascularização músculos da mastigação, deglutição, expres- destes músculos. são facial e posteriores do pescoço, as articulações dento-alveolar (periodonto) e SISTEMA NERVOSO temporomandibular (ATM) e seus ligamen- O sistema nervoso tem como funções tos, os sistemas vasculares e nervoso, os básicas: dentes, a língua, os lábios, as bochechas e as Manutenção da constância do meio glândulas salivarias. interno (homeostase), por meio de O sistema neuromuscular, as articula- funções vegetativas que asseguram sua ções temporomandibulares - ATMs, a oclu- organização. são dentária e o periodonto são as quatro Emissão de comportamentos que são unidades fisiológicas básicas que integram funções globais do organismo no meio uma unidade biológica funcional do AE, em que vive. que por sua vez pertence à outra unidade Para o melhor entendimento do biológica fundamental, o indivíduo, do qual mecanismo de ação do sistema nervoso, não pode ser separada ao se fazer conside- deve-se recordar que este se constitui de rações diagnósticas, prognosticas e terapêu- sistema nervoso central (SNC) e sistema ticas em se tratando de promoção de saúde. nervoso periférico (SNP). O SNC constitui-se do encéfalo e da Sistema Neuromuscular medula espinhal. O sistema neuromuscular é conside- O encéfalo abrange o cérebro, o rado fator preponderante nas funções do cerebelo e o tronco encefálico. Aparelho Estomatognático, pois os múscu- No cérebro distinguem-se: o córtex los excitados pelo sistema nervoso, motor que se relaciona com os movimentos constituem-se no elemento ativo, que voluntários dos músculos estriados, o córtex origina as forças necessárias às funções a sensorial que se relaciona com a sensibi- que se destinam (fig. 01). As demais lidade profunda e cutânea e o tálamo que é unidades representam os elementos passivos o centro de passagem de todas as sensações, encarregados de receber e transmitir a ação com exceção do olfato. das forças. O cerebelo tem como função principal a coordenação e refinamento dos movimen- tos musculares, sendo também importante na postura e tônus muscular. No tronco encefálico distinguem-se o mesencéfalo, a ponte e o bulbo. A principal estrutura do sistema nervoso periférico é o neurônio (célula nervosa), que é composto de um corpo celular e seu processo (axônio) que conduz impulsos para e do corpo celular. Um neurônio aferente conduz impulsos nervosos em direção ao SNC, enquanto um neurônio Fig. 01 – Sistema neuromuscular eferente conduz impulsos para a periferia por meio de axônios. Para o entendimento da interação do A detecção e subseqüente transmissão sistema neuromuscular com a morfologia de um evento nocivo é chamada de
  • 3. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 3 nocicepção. Nervos aferentes primários com um determinado tipo de estímulo, e pouco terminais periféricos (receptores) são ou quase nada a outros. conhecidos como nociceptores. Os receptores são classificados em Os principais nervos do Aparelho grandes grupos: Estomatognático são o facial (fig. 02), o • Exteroceptores que são estimulados por trigêmeo, o glossofaríngeo e o hipoglosso. mudanças externas, como dor (termi- nações nervosas livres), temperatura (corpúsculo de Ruffini ao calor e bulbo terminal de Krause ao frio), tato (corpúsculo de Meissner), pressão (corpúsculo de Paccini), audição, visão, e outros. Estão localizados nas mucosas, pele e estruturas especializadas dos órgãos dos sentidos. • Interoceptores que são estimulados pelas mudanças das condições internas do indivíduo, como pressão (corpúsculos de Vater-Paccini localizados no tecido Fig. 02 - Nervo facial gengival, periósteo, tecido sub-cutâneo, • Neurofisiologia ligamentos e cápsulas articulares), mudanças químicas, posição relativa, e A neurofisiologia bucal é a parte da outros. biologia que explica os mecanismos a serem Os interoceptores incluem: explorados como recursos terapêuticos. a) os visceroceptores, localizados nas É fundamental aprofundar o conhe- vísceras e vasos sangüíneos, que percebem cimento nesta área, para estabelecer um elo a fome, a sede e a dor visceral. entre o estímulo e a resposta nas abordagens b) os proprioceptores, localizados nas clínicas, visto que os diversos caminhos articulações, músculos, ligamentos e mem- percorridos pelos estímulos, elucidam por brana periodontal que estão relacionados meio da participação do sistema nervoso, com a sensação de posição e pressão, onde e como agir. sentido de movimentos, etc. A neurofisiologia se desenvolve em Todos os interoceptores, especialmen- três etapas definidas: te os proprioceptores, são mais sensíveis 1. Percepção do estímulo sensorial. que os exteroceptores, e informa ao SNC 2. Integração no SNC. sobre possíveis condições adversas na 3. Reação motora (na forma de contração intimidade dos tecidos do organismo. Como muscular e/ou função glandular). exemplo, na membrana periodontal há A percepção do estímulo sensorial é o proprioceptores capazes de perceber uma mecanismo pelo qual o SNC se mantém folha de papel de um centésimo de informado das condições internas e externas milímetro de espessura entre os dentes existentes no organismo, e se constitui de ocluídos, assim ocorre com restaurações duas fases: a recepção do estímulo por meio ligeiramente altas que são percebidas por dos receptores nervosos e a condução do estes. estímulo até o SNC por meio das vias Um outro tipo especial de receptor é o condutoras aferentes (sensorial). fuso neuromuscular, localizado nos múscu- Os receptores nervosos são termina- los, na região de transição entre as fibras ções nervosas sensoriais, especializadas e musculares e as fibras tendíneas. São sensí- sensíveis a determinados estímulos. Em veis às mudanças de tensão muscular e aos geral, cada tipo de receptor só responde a impulsos provenientes do SNC, com inerva-
  • 4. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 4 ção sensorial e motora própria, permite 3- Reação motora (específica), um neurônio produzir os estímulos no próprio músculo. motor eferente que transmite a infor- A integração no SNC ocorre a partir mação ao órgão executor. da produção de um estímulo no SNP Os arcos reflexos se classificam como captado por um receptor específico, a partir incondicionados e condicionados. do qual, se inicia uma via ascendente (pelos Os incondicionados (inatos – congêni- nervos sensoriais aferentes) até o SNC tos) são aqueles que não intervêm previa- especificamente até o córtex sensorial, por mente no cérebro, nem há treinamento. Ex.: meio dos diferentes constituintes do sistema respiração, sucção, deglutição, movimentos nervoso (cerebelo, tálamo, e outros), quando mandibulares. o estímulo é então identificado, tornando-se Os condicionados (adquiridos ou consciente. aprendidos) são aqueles nos quais o cérebro Cada estímulo específico é individua- atua nas primeiras ocorrências da percep- lizado e determina uma reação específica ção, da integração e da resposta motora. correspondente. Com a sucessiva repetição do estímulo e sua A reação motora, do córtex motor, correspondente integração e reação motora, inicia-se após a integração de um estímulo estabelece-se uma sinapse entre os neurô- ao córtex sensorial do cérebro. O impulso nios aferentes (sensitivos) e os eferentes motor gerado inicia uma via descendente, (motores) ao nível do talo encefálico, sem a por meio dos vários constituintes do sistema intervenção do córtex cerebral, tornando-se nervoso até o executor correspondente. Ex.: automático ou inconsciente. córtex motor, cerebelo, tronco encefálico, Ex. Presente nas crianças antes da mesencéfalo (núcleo motor), nervos eferen- erupção dos dentes, os movimentos reflexos tes e músculos. simples de abertura e fechamento mandibu- Em todo o trajeto seguido pelos lar fazem parte dos reflexos inatos de impulsos, existem vários controles de regis- sucção e amamentação. Com a erupção e tro, regulação, modificação e coordenação oclusão dos dentes, os contatos interoclusais em diversos níveis (tálamo, formações excitam os proprioceptores da membrana reticulares), para dar uma resposta motora periodontal, cujos estímulos sensoriais adequada. Porém a função reguladora chegam ao SNC pelo cérebro onde são principal dos impulsos sensoriais e motores integrados, produzindo a resposta motora estão no cerebelo, cumprindo uma impor- indicada. Posteriormente, ante a situação de tante função de coordenação e refinamento reforço constante do mesmo estímulo, cria- da reação motora. se um arco reflexo adquirido, produzindo-se Existe outro tipo de mecanismo a sinapse dos neurônios aferentes e eferen- neuromuscular inconsciente, cuja ação tes, tornando-se desnecessária a intervenção motora se produz sem intervenção do córtex do córtex cerebral para que ocorra a cerebral, de forma automática que são os mastigação, reflexo semelhante ocorre no arcos reflexos. ato de andar e outros. Os componentes fundamentais de um Os reflexos mais importantes que se arco reflexo são: apresentam no Aparelho Estomatognático 1- Estímulo específico, um receptor perifé- são: rico, sensível a um determinado estímulo - Reflexo de estiramento (miotático): ambiental; atua no sentido de evitar o estiramento 2- Integração (cérebro), uma ou mais célu- passivo dos músculos. Apresenta-se mais las intercalares ou interneurônios, que sensível nos músculos que se opõem à força competem a elaboração das informações de gravidade. Ex. masseter, temporal e transmitidas pelos receptores e sua pterigóideo lateral (que evitam queda da posterior transmissão; mandíbula).
  • 5. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 5 - Reflexo tactoceptivo (tangoceptivo): Os músculos fásicos são compostos de existente na membrana periodontal e nos fibras capazes de rápida ativação e músculos, a partir de receptores nervosos relaxamento. Eles são bem adaptados para sensitivos permitem ao SNC reconhecer o movimentos rápidos de curta duração. As movimento mandibular a ser realizado e a fibras dos músculos tônicos contraem-se e intensidade da força que deverá aplicar. relaxam mais lentamente, induzem movi- - Reflexo flexor (nociceptivo): tem mentos lentos e sustentam as estruturas função protetora de todas as estruturas do anexas por um longo período de tempo. Aparelho Estomatognático, pois afasta a Ainda que seja muitas vezes útil pensar nos parte excitada do agente injuriante. É músculos como fásicos ou tônicos é difícil responsável pela alteração da posição caracterizá-los claramente como tal, pois os mandibular para evitar o trauma periodontal períodos de contração e relaxamento variam em um dente com distúrbio oclusal. intensamente nos diferentes músculos, além - A coordenação dos reflexos se deve disso, alguns deles podem contrair fasica- em razão dos reflexos de estiramento e mente num determinado momento e flexor serem antagônicos, logo a atividade tonicamente em outro. de um deve necessariamente inibir a do A extremidade de um músculo ligada outro. Se ambos os reflexos forem ativados a um elemento móvel é chamada de simultaneamente, o padrão flexor é o domi- inserção e a extremidade oposta, unida a um nante, o que é muito favorável ao elemento fixo, é chamada de origem. organismo, pois o mesmo é fundamental- A inserção e a origem são termos mente protetor. descritivos convenientes, mas deve-se - A inervação recíproca atua quando enfatizar que a tensão nos dois extremos é a um músculo é ativado simultaneamente, mesma. inibindo ou relaxando os músculos de ação Não se pode atribuir uma função antagônica. O fracasso dessa inervação específica a cada músculo, pois estudos recíproca desempenha um papel importante recentes mostram uma integração extrema- na patogenia de diversas disfunções do mente complexa em cada um dos movi- Aparelho Estomatognático. mentos mandibulares. As descrições a seguir se limitam às funções principais de Sistema Muscular cada músculo para o entendimento dos O sistema muscular humano compõe- movimentos e posições mandibulares. se: de músculos esqueléticos, também chamados músculos estriados, que atuam sob controle voluntário e estão envolvidos com os movimentos, postura e equilíbrio, e de músculos lisos que atuam sob controle involuntário e encontram-se nas paredes dos vasos sangüíneos e em estruturas como bexiga urinária, intestinos, estômago e músculo cardíaco. Muitos invertebrados e todos os vertebrados dependem deste tecido contrátil para locomoverem-se, e tais tecidos são agrupados em sistemas coordenados para Fig. 03 – Músculos do Aparelho Estomatognático maior eficiência. Durante a função fisiológica dos • Tipos funcionais dos músculos músculos do AE na oclusão dos dentes em Os músculos são divididos pelos uma posição mandibular estável, um fisiologistas em dois grandes grupos: distúrbio oclusal poderá se tornar fásicos e tônicos.
  • 6. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 6 intolerável ao paciente e gerar desconforto O músculo Masseter. muscular, podendo precipitar uma pato- • Sua porção superficial tem origem nos logia. O acadêmico e o Cirurgião Dentista 2/3 anteriores do arco zigomático e sua devem ser capazes de palpar a musculatura porção profunda na superfície média do do AE (fig. 03), e diagnosticar qualquer arco zigomático. possível patologia e seus fatores etiológicos. • Insere-se na superfície lateral externa do ramo e ângulo da mandíbula. Consideram-se músculos da mastigação: • É inervado pelo nervo masseterino O músculo Temporal. (ramo do trigêmeo). • Tem origem na linha temporal superior • É vascularizado pela artéria masseterina e soalho da fossa temporal. (ramo da artéria maxilar). • Insere-se no processo coronóide e • Têm as funções de elevar a mandíbula e borda anterior do ramo mandibular, por ocluir os dentes (fig. 06). meio dos tendões: superficial e longo profundo (fig. 04). • É inervado pelos nervos temporais profundos (ramos do trigêmeo). • É vascularizado pelas artérias tempo- rais profunda anterior, média e posterior. • Tem as funções de elevar, retrair e posicionar a mandíbula e ocluir os dentes (fig. 05). A B A Fig. 06 – Músculo masseter – funções: elevar a mandíbula e ocluir os dentes. A força dos músculos (masseteres) tem sua maior concentração sobre a cúspide mésio-palatina dos primeiros molares (fig. 07). Fig. 04 – Inserção do músculo temporal: A – tendão superficial: B – tendão longo profundo Fig. 07 – Localização do ponto de maior concentração das forças dos músculos masseteres. O músculo Pterigóideo Lateral. • Sua porção superior tem origem na Fig. 05 – Músculo temporal – funções: elevação, superfície infratemporal da asa maior do retração e posicionamento da mandíbula. osso esfenóide, e a porção inferior na
  • 7. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 7 superfície do processo pterigóide do osso esfenóide. • Insere-se ao feixe superior no disco articular (menisco) e cápsula da ATM, e o feixe inferior na fossa pterigóidea (colo do côndilo). P FO • É inervado pelo nervo pterigóideo -UF U lateral (ramo do trigêmeo), • Vascularizado pela artéria pterigóidea lateral (ramo da artéria maxilar). • Tem as funções de protruir a mandíbula e tracionar o disco articular para frente, Fig.09 – Músculo pterigóideo medial – elevar e assistindo aos movimentos protrusivos estabilizar lateralmente a mandíbula. da mandíbula (fig. 08). Consideram-se músculos supra-hióideos: O músculo gênio-hióideo. • Tem sua origem nos tubérculos genia- nos inferiores na superfície interna da sínfise mandibular (fig. 10). • Insere-se na superfície anterior do corpo do osso hióide. • É inervado pelo nervo genio-hióideo (ramo do nervo hipoglosso). • É vascularizado pelas artérias lingual e sublingual. • Tem a função de movimentar o osso hióide para frente. Fig. 08 – Músculo pterigóideo lateral – função: protrusão mandibular. O músculo Pterigóideo Medial • Tem sua origem na face medial da lâmina lateral da fossa pterigóidea na base do crânio. • Insere-se nas porções posterior e inferior Fig 10 – Músculo gênio-hioídeo da superfície medial do ramo ascendente e ângulo da mandíbula. O Músculo milo-hióideo. • É inervado pelo nervo pterigóideo (ramo • Tem sua origem na linha milo-hióidea do trigêmeo). da mandíbula (da raiz do último molar à • É vascularizado pela artéria pterigóidea sínfise mandibular), (fig. 11). medial (ramo da artéria maxilar). • Insere-se no corpo do osso hióide e rafe • Tem as funções de elevar e estabilizar milo-hióidea. lateralmente a mandíbula (fig. 09). • É inervado pelo nervo milo-hióideo (ramo do nervo mandíbula). • É vascularizado pela artéria submento- niana (ramo da artéria facial).
  • 8. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 8 • Tem as funções de elevar o soalho da • Tem com função tracionar o osso hióide boca e com ele a língua, e se os dentes para cima e para trás. estão ocluídos, auxiliar na deglutição. Fig. 13 – Músculo digástrico Fig. 11 – Músculo milo-hióideo Consideram-se músculos infra-hióideos: O músculo Digástrico. • Tem a origem do ventre posterior: na O tiro-hióideo, o esterno-hióideo, o incisura mastóidea do temporal e do esterno-tireóideo e o omo-hióideo (fig. 14),. ventre anterior na fossa digástrica da Agindo em grupo estão envolvidos mandíbula (fig. 12). nas funções mandibulares de abaixar e • Insere-se no tendão intermediário, estabilizar o osso hióide, o que permite a aderindo ao osso hióide por uma alça ação auxiliar dos músculos supra-hióideos fibrosa. no abaixamento da mandíbula. São • É inervado pelos nervos milo-hióideo inervados pelo nervo hipoglosso, tem (ramo do trigêmeo) e facial. origem na clavícula e inserção no osso • É vascularizado pelas artérias submento- hióide. niana, occipital e auricular posterior. • Tem a função de puxar o mento para trás e para baixo na abertura da boca, auxiliando assim o pterigóideo lateral na protrusão da mandíbula. Fig. 14 – Músculos infra-hióideos Músculos posteriores do pescoço Fig. 12 – Músculo digástrico Músculo esternocleidomastóideo O Músculo estilo-hióideo. • Tem sua origem no manúbrio do esterno e na porção medial da clavícula (fig.15 • Tem sua origem na borda posterior do A). processo estilóide, (fig. 13). • Insere-se no processo mastóide do osso • Insere-se no corpo do osso hióide, na temporal. junção com o corno maior. • É inervado pelo nervo acessório. • É inervado pelo ramo estilo-hióideo (do nervo facial). • É vascularizado pelas artérias supra escapular e occiptal • É vascularizado pela artéria auricular posterior.
  • 9. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 9 • Tem as funções de flexionar a coluna vertebral e girar a cabeça para o lado oposto. Músculo trapézio • Tem sua origem na protuberância occipital externa (fig. 15 B). • Insere-se na borda posterior do terço lateral da clavícula. • É inervado pelo nervo acessório espinhal. Fig. 16 – Músculo bucinador • É vascularizado pela artéria trapezoidal. • Tem a função de girar a escápula. Músculo Orbicular da Boca Músculos intrínsecos do pescoço • Tem sua origem nas fibras do bucinador • Tem a função de atuar na fala (fig. 15 C). e outros músculos vizinhos (fig.17). • Insere suas fibras de um lado com as fibras do lado oposto na linha mediana dos lábios. • É inervado pelo nervo facial. • É vascularizado pelas artérias labial superior e inferior. C • Tem as funções de comprimir os lábios A sobre os dentes, fechar a boca e protruir B os lábios. Fig. 15 – Músculos posteriores do pescoço: A – esternocleidomastóideo, B – trapézio, C – intrínsecos Músculo bucinador • Tem sua origem nos processos álveo- lares das maxilas e mandíbula na região molar e no ligamento pterigomandibular (fig. 16). • Insere suas fibras que se misturam com as fibras do músculo orbicular da boca, Fig. 17 – Músculo orbicular da boca no ângulo da boca. • É inervado pelo nervo facial. Músculo Platisma • É vascularizado pela artéria bucal. • Tem sua origem na fáscia dos músculos • Tem a função de auxiliar na mastigação, peitoral maior e deltóide (fig. 18). distende a bochecha e a comprime de • Insere-se na borda inferior da mandi- encontro aos dentes, e retrai o ângulo da bula, pele do mento e bochecha. boca. • É inervado pelo nervo facial • Tem a função de abaixar a mandíbula, o lábio inferior e os ângulos da boca e repuxar a pele do pescoço.
  • 10. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 10 • ISOTÔNICA: quando o músculo ao se contrair tem somente um de seus extremos de inserção fixo, e se encurta sem aumentar a tensão de suas fibras (ex.: abrir e fechar a boca). • ISOMÉTRICA: quando o músculo ao se contrair tem os dois extremos de inserção fixos, não podendo se encurtar, o que gera um aumento da tensão de suas fibras (ex.: hábito de apertamento dentário ou bruxismo). Fig. 18 – Músculo platisma Com base na ação integrada em relação às funções primárias, os músculos Músculos da língua da mastigação podem ser divididos em: São dezessete, um ímpar o lingual 1. Motores Primários: também chamados superior e mais oito pares que executam os de iniciadores. diferentes movimentos da língua. 2. Sinergistas: que atuam auxiliando os A pressão da língua para fora versus a motores primários. pressão do músculo bucinador para dentro 3. Antagonistas: que se opõem à ação dos da cavidade bucal, determinam o primários. posicionamento do corredor da pressão 4. Estabilizadores (ou de fixação): que neutra (zona neutra), (fig. 19). Conforme os mantêm firmes os ossos ou articulações, dentes erupcionam, essas forças oponentes permitindo uma ação efetiva do grupo os conduzem horizontalmente para sua muscular ativo. posição. No movimento de fechamento fisioló- O tamanho da língua e o comprimento gico da mandíbula atuam: dos músculos peribucais influenciam na -como músculos primários os masséteres; posição da zona neutra, assim como o faz -como sinergistas, os pterigoídeos mediais, qualquer hábito parafuncional que altere a temporais anteriores e médios; pressão da língua ou dos lábios. -como antagonistas os pterigoídeos laterais e o digástrico e - como estabilizadores os temporais posteriores (figs 20 A e B). Fig. 19 – Direcionamento das forças de pressão da língua e do músculo bucinador, delimitando a zona neutra (região dentada) A B • Funções musculares Fig. 20 – Movimento de fechamento fisiológico, A – fase inicial, B – fase intermediária. Ocorrem por meio de contrações sempre em direção à sua origem, podendo • Vascularização A principal artéria do aparelho ser: estomatognático é a carótida externa com seus ramos maxilar e facial (fig. 21).
  • 11. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 11 apoia-se anteriormente contra a eminência VASCULARIZAÇÃO articular, que é protegida por uma camada fibrocartilaginosa em toda a superfície de relacionamento funcional. O disco articular Artérias: - facial (menisco) com forma bicôncava está colo- - maxilar cado entre ambas as superfícies articulares, - carótida externa e apresenta a inserção do feixe superior do músculo pterigóideo lateral (no disco arti- cular), e do feixe inferior na fossa pterigói- Fig. 21 – Representação esquemática do suprimento dea (colo do côndilo). Posterior-mente ao arterial do Aparelho Estomatognático côndilo, encontra-se a zona bilaminar com vascularização e inervação própria, que não Articulação Temporomandibular - ATM é apropriada para suportar o côndilo. D E A articulação temporomandibular pode ser tecnicamente considerada uma C articulação ginglemoartroidal, por realizar J movimentos de rotação (ginglemoidal) e A translação (artroidal). L O homem é portador das articulações temporomandibulares desde o seu nasci- M B mento, quando ainda inexistem os dentes nas arcadas dentárias. Durante o seu Fig. 24 – Elementos da ATM – vista sagital: A- desenvolvimento, os côndilos e as fossas superfície articular do osso temporal, B- disco vão se remodelando continuamente por articular, C- cavidade sinovial superior, D- tecido meio da transição da dentição temporária retrodiscal, E- feixe superior da zona bilaminar, J- superfície articular do côndilo, L- feixe superior do para a permanente e mesmo quando da pterigoideo lateral, M- feixe inferior do pterigoideo perda desta última (fig. 23). lateral. As ATMs se projetarão ligeiramente para anterior quando da ausência de todos A irrigação dos elementos que consti- os dentes e são, juntamente com o sistema tuem as ATMs é conduzida por ramos das neuromuscular, as referências que se artérias temporal superficial, timpânica an- mantêm durante toda a vida do homem. terior, meníngea média e auricular posterior. A inervação se dá a partir dos FU PF O/ U receptores localizados em: • Regiões posteriores e laterais da cápsula e ligamento lateral externo – inervados pelo nervo aurículo-temporal. • Região anterior da cápsula – inervada pelos nervos temporais profundos Fig. 23 - Nesta ilustração vê-se os diferentes estágios posteriores e massetérico. das ATMs durante o desenvolvimento do crânio e da • Região anterior (articular) do menisco e mandíbula de um recém nascido, de uma criança, de membrana sinovial contendo poucos um adulto e de um idoso. receptores. As articulações temporomandibulares São descritos quatro tipos de receptores possuem todos os elementos de uma nas ATMs: articulação sinovial, incluindo um disco • Os receptores de Ruffini que determi- articular (fig. 24). O côndilo é revestido de nam o ângulo de abertura da boca e uma camada fibrocartilaginosa, posiciona-se variam dependendo do grau de abertura. ânterosuperiormente na fossa mandibular e,
  • 12. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 12 • Os receptores de Pacini que são ativados eminência articular, e inserção na face juntos ou transitoriamente com os de lateral do côndilo. Ruffini e assinalam o início e o fim do movimento, e suas respostas não Oclusão dependem da direção nem da posição Oclusão se refere ao estudo das inicial do movimento. relações estáticas (intercuspidação dentária) • Os receptores de Golgi que respondem e dinâmicas (movimentos mandibulares) à pressões fortes nos tecidos articulares entre as superfícies oclusais, e entre estas e e são protetores. todos os demais componentes do AE. • As Terminações Nervosas Livres que Uma oclusão é fisiológica quando são nociceptivas e respondem pela dor. apresenta harmonia entre os determinantes São ligamentos da ATM: anatômicos e as unidades fisiológicas do AE, não gerando patologias aos tecidos. Temporomandibular com origem na Entretanto na presença de desarmonia a superfície lateral da eminência articular oclusão será patológica, podendo gerar do osso temporal e inserção no colo da patologias aos tecidos. mandíbula (fig. 25). É considerado maloclusão os contatos oclusais antagônicos ou adjacentes dos disco articular dentes em desarmonia, com os componentes anatômicos e unidades fisiológicas do AE. O termo maloclusão não significa doença ou saúde, e sim dentes mal posicionados ou ligamento desalinhados. Muitas pessoas apresentam temporomandibular uma maloclusão, mas se adaptam à ela não apresentando sinais patológicos. No Aparelho Estomatognático, os dentes posteriores têm como funções: masti- Fig. 25 – Cápsula da ATM – ligamento gação, ponto de apoio da mandíbula durante temporomandibular. a deglutição, manutenção da dimensão Estilomandibular com origem no vertical de oclusão, transmissão e dissipação processo estilóide e inserção no ângulo das forças axiais, e proteção aos dentes da mandíbula, (fig. 26A). anteriores e às ATMs na posição de oclusão Esfenomandibular com origem na em relação cêntrica - ORC. espinha do osso esfenóide e inserção na Os dentes anteriores têm como fun- língula mandibular, (fig. 25B). ções: estética, fonética, apreensão e corte dos alimentos, e proteção aos dentes posteriores e às ATMs nos movimentos excêntricos da mandíbula. Periodonto As forças que incidem sobre os dentes são transmitidas aos ossos por meio das fibras periodontais (fig. 22). O equilíbrio A B entre as forças de ação que incidem sobre os dentes e a reação biológica adequada dos Fig. 26 – A: ligamento estilomandibular; B: tecidos do periodonto de sustentação, ligamento esfenomandibular. cemento, fibras periodontais e osso alveolar, mantêm a integridade das estruturas e Capsular com origem no osso temporal, ao longo da fossa mandibular e
  • 13. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 13 representa o principal componente da • Anamnésia, exames: clínico, radiográ- homeostasia desse periodonto. fico e dos modelos de estudo montados em articulador semi-ajustável em RC. • Diagnóstico. • Planejamento e execução de procedi- mentos educativos, preventivos e restau- radores. O que são e a que se destinam os objetivos: Dimensão vertical (DV) é a medida vertical da face, entre dois pontos quaisquer, arbitrariamente selecionados e conveniente- mente localizados um acima, e outro abaixo Fig. 22 Transmissão das forças incidentes ao osso por meio das fibras periodontais. da boca, normalmente na linha mediana da face, variando entre a dimensão vertical de Na mandíbula as forças seguem a repouso e dimensão vertical de oclusão. trajetória das trabéculas ósseas em direção Fundamental na preservação da saúde da aos côndilos, de onde são transmitidas e unidade fisiológica neuromuscular do AE. neutralizadas nas regiões temporal, parietal A dimensão vertical de repouso e occipital. (DVR) é a dimensão vertical da face, Nas maxilas a trajetória trabecular quando a mandíbula se encontra sustentada forma três pilares ósseos: anterior, médio e pela posição postural, ou de repouso posterior, por meio dos quais as forças se fisiológico dos músculos do AE e com os direcionam para as áreas frontal, orbital, lábios se contatando levemente. Independe nasal e zigomática, onde são neutralizadas. da presença ou não dos dentes. Essas disposições trabeculares asseguram o A dimensão vertical de oclusão máximo de resistência óssea ao estresse. (DVO) é a dimensão vertical da face, quando os dentes estão em máxima A manutenção ou reabilitação do Aparelho intercuspidação e os músculos contraídos Estomatognático em seu ciclo de potência máxima. Depende da presença dos dentes em oclusão (fig. 27). A manutenção ou reabilitação do Aparelho Estomatognático pelo Cirurgião- Dentista tem como objetivo preservar ou Músculos da restabelecer a: Mastigação • Dimensão vertical – DV. Supra-hióideos • Relação cêntrica – RC. • Estabilidade oclusal – EO. Infra-hióideos • Guia anterior – GA. Músculos anteriores Para isto se fazem necessários os e posteriores cervicais conhecimentos de: • Biologia dos tecidos. • Fisiologia do Aparelho Estomatogná- Fig. 27 - Grupo de músculos que atuam na dimensão tico. vertical • Propriedade dos materiais odontológi- cos. O paciente pode apresentar diferentes • Técnicas de execução dos procedimen- perfis faciais em detrimento de alterações na tos clínicos e laboratoriais. DV (fig. 28). • Fundamentos de estética odontológica. E os procedimentos:
  • 14. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 14 - Thomas (1979), diz ser o relacio- namento espacial entre o crânio e os côndilos, sob o mínimo estresse fisiológico, numa posição posterior, superior e media-na na fossa condilar. - Okeson (1989), é a posição mais anterior e superior dos côndilos nas suas fossas com os discos adequadamente inter- Correta Excessiva Reduzida postos. Fig. 28 Diferentes perfis sociais: A- DV correta, B- - Dawson (1995), é a posição mais DV excessiva, C- DV reduzida. superior que as estruturas côndilo-disco A distância existente entre as propriamente alinhados, podem alcançar superfícies oclusais e incisais dos dentes contra a eminência. antagonistas, quando a mandíbula se - Jiménez (1995), é a posição fisioló- encontra sustentada pela posição postural ou gica do côndilo, na qual ele se encontra de repouso muscular fisiológico, é centrado na fossa, em seu posicionamento denominada espaço funcional livre (EFL) o mais superior e correta-mente relacionado que representa a diferença entre a DVO e a com o disco articular, contra a vertente DVR, sendo de aproximadamente 3 mm. posterior da eminência articular. A relação cêntrica (RC) trata do - Fernandes Neto (2002), é a relação relacionamento temporomandibular, funda- do côndilo com a fossa mandibular do osso mental na preservação da saúde das temporal em completa harmonia com o unidades fisiológicas, neuromuscular e disco articular (fig. 29). É uma posição ATMs, do AE. Existem na literatura estável e reproduzível pelo equilíbrio odontológica várias conceituações de fisiológico dos músculos de sustentação diferentes autores, entre as quais se mandibular, e independe do relacionamento destacam algumas citadas abaixo. dentário. - Neff (1975), é a posição inicial dos movimentos mandibulares, estável e fácil de ser reproduzida. - Celenza (1978), é a posição fisiológica mais anterior e superior dos côndilos contra a inclinação da eminência articular, permitida pelas estruturas limi- tantes da ATM, a uma DV dada. É uma posição que comumente não coincide com a máxima intercuspidação e é uma referência Fig. 29 – RC: relação côndilo – fossa. aceitável para o tratamento. - Moffett (1978), é uma relação Estabilidade oclusal – EO é a crânio-mandibular, na qual a mandíbula se estabilidade dada à mandíbula em relação às encontra numa posição mais retruída em maxilas pela intercuspidação simultânea das relação à máxima intercuspidação quando cúspides funcionais, nas respectivas fossas os dentes fazem os seus contato oclusal antagonistas em ambos os lados da arcada inicial. É uma posição bordejante e fácil- dentária. Fundamental na preservação da mente reproduzível. saúde das unidades fisiológicas, neuro- - Ramfjord (1983), é uma posição muscular, ATMs e oclusão dentária (fig. 30) ligamentosa mais retruída da mandíbula, a e periodonto(fig. 31), do AE. partir da qual os movimentos de abertura e lateralidade podem ser executados conforta- velmente.
  • 15. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 15 A A B B Fig. 30 – A: Estabilidade condilar, B: estabilidade oclusal Fig. 33 – Oclusão em relação cêntrica: A – RC, B – intercuspidação dentária. Como máxima intercuspidação habi- tual - MIH, é considerada a posição maxilo- mandibular com o maior número de conta- tos entre os dentes antagonistas. É uma posição dentária que independe da posição dos côndilos, logo não deve ser impro- priamente chamada de oclusão cêntrica, Fig. 31 – Estabilidade oclusal, direcionamento das pois nesta posição a mandíbula estará forças para o longo eixo dos dentes e conseqüente sempre desviada da RC. saúde periodontal Estudos têm mostrado que, na maioria dos casos, a neuromusculatura posiciona a Para manter ou restabelecer a estabi- mandíbula para alcançar a máxima inter- lidade maxilo-mandibular do aparelho cuspidação independente da posição dos estomatognático, são indispensáveis a côndilos na fossa. Quando interferências oclusão dos pré-molares e dos 1ºs molares oclusais estão presentes o “feedback” antagônicos. proprioceptivo das fibras periodontais ao redor do dente envolvido programa a função muscular para evitar as interferências. A função muscular resultante pode ser tão dominante que a posição mandibular adquirida será freqüentemente considerada erroneamente pelos clínicos como a verdadeira RC. Para melhor entendimento de toda esta nomenclatura é importante observar que o termo relação cêntrica se refere sempre a uma posição de estabilidade entre o côndilo e a fossa mandibular, indepen- dente dos dentes. Os termos intercuspidação Fig. 32 - Estabilidade maxilo-mandibular e oclusão referem-se a uma relação de Denomina-se oclusão em relação estabilidade dentária entre as maxilas e a cêntrica - ORC (oclusão cêntrica ou máxima mandíbula (maxilo-mandibular), indepen- intercuspidação cêntrica) quando há coinci- dente dos côndilos. No entanto, uma dência da posição de máxima intercuspi- oclusão fisiológica requer estabilidade e dação dentária com a posição de RC das reprodutibilidade no relacionamento da ATMs (fig. 33). mandíbula com os ossos temporais e maxilas. Para que isto ocorra, é necessário preservar ou restabelecer simultaneamente,
  • 16. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 16 a relação temporomandibular por meio das ATMs direita e esquerda em RC como apoio posterior, e a relação maxiloman- dibular por meio da intercuspidação dos dentes posteriores simultaneamente de ambos os lados da arcada dentária, como apoio anterior. Obtém-se desta forma, uma oclusão em relação cêntrica ou uma máxima intercuspidação cêntrica, de tal maneira que, quando unidos os extremos destes pontos de apoio, forme uma figura geométrica Fig. 34 – Representação esquemática de guia anterior (quadrilátero de estabilidade). Como Guia Anterior GA, descreve-se Fig. 35 – Guia anterior – plano o relacionamento das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores, com a face lingual dos dentes anteriores superiores, durante os movimentos protrusivo e retrusivo da mandíbula (fig. 34), sem contato dental posterior, formando-se com as ATMs direita e esquerda um tripé de estabilidade (fig. 35). Fundamental na preservação da saúde das unidades sagital fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão dentária e periodonto do AE O objetivo maior da Odontologia está em preservar ou restabelecer a biologia dos tecidos e a fisiologia do AE. Recomenda-se assim a prática da odontologia 4 x 4, onde o alcance dos quatro objetivos resulta na preservação e ou restabelecimento das quatro unidades fisiológicas (Tab. 01) Objetivos permanentes a serem alcançados: Unidades fisiológicas – preservadas: Dimensão vertical Neuromuscular Neuromuscular Relação cêntrica ATMs Neuromuscular ATMs Estabilidade oclusal Dentes Periodonto. Neuromuscular ATMs Guia anterior Dentes Periodonto Tabela 01 – Odontologia 4 x 4: quatro objetivo da odontologia que visam preservar quatro unidades fisiológicas do aparelho estomatognático.
  • 17. Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 17 Bibliografia consultada School of Dentistry, Seventh printed, Washington, D.C. 60 p. 1993. CELENZA, F., NASEDKIN, J. N. OKESON, J. P. Management of tem- Occlusion The state of the art. Chicago: poromandibular disorders and occlusion. Quintessence, 1978. St.' Louis: Mosby; 108. 1989. DAWSON, P. E. New definition for relating RAMFJORD, S. ASH, M.M. Occlusion. 3rd occlusion to varying conditions of the ed. Philadelphia: Saunders; 1983. temporomandibular joint, JPD. V. 74(6), p. SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre 619-629, dec., 1995. neurofisiologia de la oclusion. Bogota, EYZAGUIRRE, C., FIDONE, S. J. Pontificia Universidad Javeriana, 66 p. Fisiologia do sistema nervoso Traduzido 1975. por Aglai Penna Barbosa de Sousa. 2ª ed. PAIVA, H. J. et. al. Oclusão. Noções e Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 398 p. Conceitos Básicos. São Paulo, Santos Liv. 1977. Editora. 336 p. 1997. FIELDS, HL. Pain. New York: Mcgraw- PERTES, R. A., GROSS, G. S. – Functional Hill, 1987: 1-78. Anatomy and Biomechanics of the joint. In: GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim, PERTES, R. A., GROSS, S. G. Clinical California: Denar Corp., 117 p. 1977. management of temporo-mandibular JIMÉNEZ-LOPEZ, V. Próteses sobre disorders and orofacial pain. Illinois: implantes: Oclusão, casos clínicos e Quintessence, Cap. 1. 368p. 1995. laboratório. 2ª ed. Tradução por Zulema POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles Eugênia G. Batista. São Paulo: of Occlusion. Detroit: University of Detroit, Quintessence, 264p. 1996. 56 p., s.d. MADEIRA,M.C. Anatomia da face. Bases THE ACADEMY OF PROSTHO- anátomofuncionais par a prática odontoló- DONTICS. The glossary of pros-thodontics gica. 2ª ed. São Paulo, Sarvier Editora, terms., 6th ed. Journal of Prosthetic. 1997. Dentistry St. Louis, 112 p., 1994. NEFF, P. E. TMJ Occlusion and Function. Washington: Georgetown University -