2. Quais as diferenças entre fala e escrita?
Uma pode influenciar a outra?
O que é leitura? Qual o papel da leitura na
fala e na escrita?
3. A língua é usada em diferentes
registros, quer dizer, em diferentes
modalidades, como a escrita e a
fala. Cada uma dessas carrega
características, que, segundo Koch e
Elis (2010, p. 16), são:
4. Fala:
contextualizada;
implícita;
redundante;
não planejada;
pragmática;
fragmentada;
incompleta;
pouco elaborada;
pouca densidade
informacional;
predominância de frases
curtas;
pequena frequência de
passivas;
menor densidade lexical.
Escrita:
descontextualizada;
explícita;
condensada;
planejada;
sintática;
não fragmentada;
completa;
elaborada;
densidade informacional;
predominância de frases
complexas;
emprego de passivas;
maior densidade lexical.
5. Todavia, as marcas da escrita podem estar
presentes na fala e vice versa, como acontece
em um pronunciamento presidencial em que o
texto escrito é lido, de maneira a produzir
uma oralização da escrita. Cada contexto de
uso específico da língua demandará ou
permitirá que marcas da escrita ou da fala
estejam presentes na produção comunicativa.
6. GERENTE: Gerência do banco de investimentos. Em
que eu posso ajudá-lo?
CLIENTE: Estou interessado em financiamento para
compra de veículo. Gostaria de saber quais as
modalidades de crédito que o banco oferece.
GERENTE: Nós dispomos de várias modalidades. O
senhor é nosso cliente? Com quem estou falando, por
favor.
CLIENTE: Eu sou Júlio César Fontoura, também sou
funcionário do banco.
GERENTE: Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê
tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência
de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversá com
calma. E vamo vê o seu financiamento.
(BORTONI-RICARDO, 2004, adaptado)
7. A maneira de falar da gerente foi
alterada de repente devido à
adequação de sua fala à conversa
com um amigo, caracterizada pela
informalidade.
8. O uso da língua produz necessariamente
gêneros textuais. Esses referem-se a textos
materializados em situações comunicativas
correntes. “São os textos que encontramos
em nossa vida diária e que apresentam
padrões sociocomunicativos característicos
definidos por composições funcionais,
objetivos enunciativos e estilos
concretamente realizáveis” (MARCUSHCHI,
2008, p. 155).
11. Vício na fala
(Oswald de Andrade)
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
12. A oralidade, mais do que a escrita,
tem a capacidade de imprimir traços
econômicos, culturais e regionais nas
interações comunicativas.
13. A leitura transcende o mero ato de decodificar
a mensagem codificada, de simplesmente ler,
para se tornar a "leitura do mundo". Já que "A
leitura do mundo precede a leitura da palavra,
daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele"
(FREIRE, 2011, p. 19-20).
14. É aplicada tanto à oralidade quanto à escrita,
ou seja, a todos os gêneros textuais por se
tratarem de textos produzidos a partir de
condições específicas, terem estrutura
relativamente estável e objetivos rastreáveis.
"Leitura, vista em sua acepção mais ampla,
pode ser entendida como 'atribuição de
sentidos'. Daí ser utilizada indiferentemente
tanto para a escrita quanto para a oralidade"
(ORLANDI, 2008, p. 7).
15. Então, vimos que a fala é muito mais dinâmica
do que a escrita, sendo que uma pode
influenciar a outra. Cada qual tem seus recursos.
O uso da fala e da escrita funda os gêneros
textuais, que são composições textuais orais ou
escritas com estruturas mais ou menos estáveis,
com conteúdos específicos em relação aos seus
objetivos e com contextos comunicacionais de
uso.
A leitura, para além do ato de ler, é atribuição
de sentido tanto para o uso oral da língua quanto
para o uso escrito. Numa palavra, leitura é
interpretação.
16. Para responder as posteriores questões, leia abaixo o
texto de Jô Soares:
Português é fácil de aprender porque é uma língua
que se escreve exatamente como se fala
“Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender,
purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti
cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi
di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi
algumas palavras. Im purtuguêis não. É só
prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais
doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui
é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a
minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabi
iscrevê”.
(Revista Veja, 28 de novembro de 1990, p. 19)
17. a) A leitura permite o rastreio de objetivos dos
textos. Nela estão contempladas a estrutura do
texto, as condições de sua produção e seu conteúdo.
A partir de sua leitura, qual o assunto do texto e a
qual a intenção de Jô Soares em escrevê-lo?
b) Em qual registro de uso da língua é produzido o
texto? Há interferência de outra modalidade?
Explique sua resposta com elementos do texto.
c) Ao considerar o gênero textual como o uso da
língua em situação concreta de comunicação, em
qual gênero textual se enquadra o texto de Jô
Soares? A modalidade de emprego da língua está
adequada ao gênero? Explique.
18. a) Reescreva o texto de Jô Soares vertendo
sua característica oral para a escrita.
b) Depois de reescrito o texto, ele mantém a
mesma intenção?
c) Em que medida a leitura, como uma
ferramenta de interpretação, te auxiliou na
respostas de todas as questões? Explique.
19. ANDRADE, O. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1971.
BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna.
São Paulo: Parábola, 2004.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos
que se completam. 51ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
KOCH. I.V; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estratégias de
produção textual. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2010.
ORLANDI, E. Discurso e Leitura. 8ª ed. São Paulo: Cortez,
2008.
SOARES, J. Português é fácil de aprender porque é uma
língua que se escreve exatamente como se fala. Revista
Veja 28 de novembro de 1990, p. 19.
http://humortadela.bol.uol.com.br/charges/33888.