[1] O documento analisa como a sociabilidade "tribal" de jovens argentinos é apresentada na web, focando nos fóruns de discussão de rock barrial. [2] Mostra que esses fóruns promovem encontros presenciais, sociabilidade online e compartilhamento de sentimentos de grupo. [3] Discute aspectos contraditórios de globalização e identidade local nessa subcultura, que usa a web para se conectar mantendo traços nacionalistas.
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Rock barrial na web
1. Resenha por Tarcízio Silva - @tarushijio
BASILE, Diego. El rock barrial en la web. La sociabilidad tribal en el espacio virtual. In
URRESTI, Marcelo, Ciberculturas juveniles. Buenos Aires: La crujia, 2008, p.247-
265.
O artigo busca analisar como a sociabilidade “tribal” característica dos jovens
argentinos, se apresenta na web. O autor utiliza o conceito de “tribo urbana”, que são
agrupamentos de jovens que compartilham de padrões de consumo cultural e estético,
privilegiam a presença e contato físico e veem o grupo como ambiente afetivo e
emocional. O autor explica o que é o rock barrial, um tipo de música e subcultura
argentina baseada no rock e no legado da banda Rolling Stones. Devido ao aumento do
consumo – agora massivo – alcançado pelo rock barrial, o autor pretende observar
como esta subcultura, bastante calcada em locais carregados de valor simbólico, se
apresenta no ambiente online.
Em seguida, Basile fala de um “circuito virtual” identificável entre as ligações dos
ambientes online através dos quais os fãs do rock barrial navegam. Entre fóruns, blogs,
websites e fotologs, o autor escolheu 27 endereços representativos do fenômeno
observado. O autor fala sobre o aspecto presencial e mesmo tátil das tribos urbanas pra
dizer que, tanto o ambiente físico quanto o virtual são também compostos de mediação
simbólica, mas que nem todas que se apresentam nas relações face-a-face se apresentam
em totalidade no espaço virtual. O autor está correto, mas parece ter deixado de lado
relações características apenas da web.
Foram escolhidos três fóruns representativos, que estão disponíveis nos sites das bandas
El Bordo, Ojos Locos e La Mocosa. Parte do conteúdo descrito por Basile se foca nas
regras dos fóruns e na interpelação aos novos usuários, em tópicos criados pelos
moderadores. Explica que a dimensão corporal está presente, ao contrário do que se
possa pensar. Ao pedir que postem fotos, por exemplo, os moderadores diminuem o
aspecto anônimo dos usuários ao mesmo tempo que incentivam uma relação mais
empática, ligada ao corpo. Em seguida, são listados três recursos constitutivos dos perfis
de usuário nos fóruns: dados pessoais; canais de contato; recursos expressivos.
As seções seguintes vão tratar de três tipos de uso dos fóruns: promover encontros face
a face; promover sociabilidade através do próprio fórum; compartilhamento de
sentimentos de grupo. Em relação ao primeiro, Basile explica que a crescente
privatização do espaço urbano e restrições em relação a festas e consumo de álcool
Resenha por Tarcízio Silva - @tarushijio
2. Resenha por Tarcízio Silva - @tarushijio
dificultam a experiência plena da cidade, traço essencial do rock barrial. Pra mostrar
como estes problemas são abordados nos fóruns, Basile categoriza os tópicos em alguns
temas, eventualmente relativos à lugares, como “El Teatro Flores”, para mostrar como a
conversação no fórum se refere aos locais.
Obviamente, explica Basile, nem todas interações realizadas no fórum tem como
objetivo marcar encontros presenciais. Parte das interações são focadas na apresentação
e discussão de opiniões, outras na troca de objetos (como fotos e músicas) e outras
focadas em entretenimento, como alguns tipos de jogos.
Segundo Basile, “se observa también em El foro uma dimensión autorreferente y difusa
que, sin embargo, manifiesta uma dimensión tribal fundamental” (p.259). Aqui o autor
fala de interações cotidianas com o propósito de sentir-se parte do grupo, de dividir
confissões, sentimentos e intimidades. O subjetivo predomina e, entre os tópicos
listados pelo autor, percebe-se a ausência de citações às bandas ou ao estilo musical. Ou
seja, pessoas que se agregaram a partir de experiências de consumo cultural, mas que
criaram entre si outros tipos de relacionamento e trocas afetivas.
Sobre globalização e identidade, o autor discute aspectos aparentemente contraditórios
no rock barrial. Mesmo tendo os Rolling Stones como ídolos e objeto de fetiche, não se
percebe essa subcultura como globalizada. É um agrupamento predominantemente local
e, ao mesmo tempo, nacionalista de certo modo: não consome significativamente o rock
inglês, como a origem dessa subcultura poderia fazer prever. Os membros dessa tribo
utilizam a web para se manterem conectados e partilhar experiências, mas outras
possibilidades da internet, como unir pessoas de diferentes culturas e lugares, por
exemplo, não é muito utilizada.
A efemeridade ou estabilidade das relações sociais na subcultura rock barrial é
abordada. No caso de sua apresentação web, um agrupamento de em tempo real de fãs
desse tipo de música pode ser facilmente suspendido, afinal: a comunicação é
assíncrona. Entretanto, os fóruns como dispositivo técnico e seus moderadores tentam
promover a permanência e participação recorrentes dos seus membros. Segundo
Basile,essa questão “presenta uma paradoja respecto de la sociabilidad de tipo tribal, ya
que ésta combina El vínculo intenso y emocional com el contacto efímero y fluido, sin
necesidade de derivar el lazo afectivo y emocional de uma relación estable y duradera”
(p. 264).
Resenha por Tarcízio Silva - @tarushijio
3. Resenha por Tarcízio Silva - @tarushijio
Fechando o trabalho, o autor pontua algumas questões envolvendo o caráter visível da
intimidade compartilhada. As interações se estabelecem através de textos e fotos que
ficam armazenadas de forma pública, permitindo que qualquer pessoa entre de forma
anônima e leia as “intimidades” dos membros do fórum.
Resenha por Tarcízio Silva - @tarushijio