O documento discute os cuidados de enfermagem em emergências. Aborda conceitos sobre anatomia humana, atendimento pré-hospitalar e hospitalar de emergência, doenças comuns e procedimentos de enfermagem nesse contexto. Também inclui informações sobre ética, legislação e emergências cardiológicas.
4. V
Organizadora
Nébia Maria Almeida de Figueiredo
Pró-reitora de extensão e assuntos comunitários. Livre-docente em Administração de
EnfermagempelaUniversidadeFederaldoEstadodoRiodeJaneiro(UniRio).Doutoraem
Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Coordenadora do cur-
so de pós-graduação (mestrado) e Professora Titular em Fundamentos de Enfermagem
da UNIRIO. Área de atuação/produção: Cuidados de Enfermagem, Fundamentos de
Enfermagem e Administração de Enfermagem.
5. VII
Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira
Doutor em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ). Mestre
em Enfermagem pela UniRio. Área de atuação: Enfermagem de Emergência, Saber de
Enfermagem Hospitalar, Cuidado de Enfermagem Hospitalar, Administração Hospitalar e
Direito Médico.
Carlos Roberto Lyra da Silva
Doutorando em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ).
Mestre em Enfermagem pela UNIRIO. Professor Assistente da Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto (EEAP/UNIRIO). Área de atuação/produção: Fundamentos de Enfermagem,
Cuidado de Enfermagem.
Colaboradores
6. VIII
Enfermagem: Cuidando em Emergência
Iraci dos Santos
Doutora em Enfermagem pela UFRJ. Livre-docente/Professora Titular em Pesquisa de
Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Área de atuação/
produção: Administração de Enfermagem e Pesquisa Sociopoética.
Joséte Luzia Leite
Livre-docente pela UniRio. Professora Visitante da Escola de Enfermagem Anna Nery
(EEAN/UFRJ). Professora Emérita pela UniRio.
Maria Aparecida de Luca Nascimento
Doutora em Enfermagem pela UFRJ. Professora Adjunta da Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto (EEAP/UNIRIO). Área de atuação/produção: Enfermagem Pediátrica.
Maria José Coelho
Doutora em Enfermagem pela UFRJ. Pesquisadora do CNPq. Áreas de atuação:
Enfermagem Médico-cirúrgica, Enfermagem de Doenças Contagiosas, Ensino–
Aprendizagem e Administração de Unidades Educativas.
Marluci Andrade Conceição Stipp
Doutora em Enfermagem pela UFRJ. Professora Adjunta da Escola de Enfermagem
Anna Nery (EEAN/UFRJ). Área de atuação/produção: Enfermagem Cardiovascular,
Gerência, Cuidados de Enfermagem.
Nalva Pereira Caldas
Livre-docenteeDoutoraemAdministraçãodeEnfermagempelaPontifíciaUniversidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Mestre em Administração Pública e Especialista
em Administração de Pessoal e Organização e Métodos pela Escola Brasileira de
Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV). Professora Emérita pela
Uerj. Área de atuação: orientação de pesquisas de iniciação científica e de extensão,
e responsável pelo Centro de Memória da Faculdade de Enfermagem da Uerj.
Roberto Carlos Lyra da Silva
Enfermeiro. Doutorando em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery
(EEAN/UFRJ). Mestre em Enfermagem pela UERJ. Professor Assistente da Disciplina de
7. Colaboradores
IX
Semiologia, nos cursos de graduação e pós-graduação lato sensu do Departamento
de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP/
UNIRIO).
Teresa Tonini
Doutoranda em Medicina Social pela UERJ. Mestre em Enfermagem Psiquiátrica pela
UERJ. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Fundamental da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP/UNIRIO). Especialista em Administração
dos Serviços de Saúde. Área de atuação/produção: Fundamentos de Enfermagem e
Saúde Coletiva, Administração e Cuidados de Enfermagem, Gestão em Saúde.
Terezinha Feliciano
Vilma de Carvalho
Enfermeira pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ). Pós-graduação em
Teaching Medical – Surgical Nursing pela Wayne State University, Detroit (Michigan,
EUA). Bacharela e licenciada em Filosofia pela Uerj. Livre-docente/Professora Titular
em Enfermagem de Saúde Pública da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ).
Professora emérita pela UFRJ.
Wiliam César Alves Machado
DoutoremEnfermagempelaEscoladeEnfermagemAnnaNery(EEAN/UFRJ).Professor
Adjunto do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto (EEAP/UNIRIO). Professor Titular da Faculdade de Ciências da Saúde
de Juiz de Fora da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Pesquisador da
Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (Funadesp).
Área de atuação/produção: Enfermagem Fundamental, Cuidados de Enfermagem,
História da Enfermagem, Reabilitação, Inclusão Social das Pessoas com Deficiência.
8. X
Enfermagem: Cuidando em Emergência
Coordenadora Fotográfica e Revisão Técnica
Dirce Laplaca Viana
Mestre em Ciências pelo Departamento de Enfermagem da Unifesp-EPM. Especialista
em Pediatria pelo Instituto da Criança – Hospital das Clínicas/FMUSP. Docente no cur-
so de Especialização em Enfermagem Hospitalar à Criança e ao Adolescente e no cur-
so de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos e Emergência à Criança
e ao Adolescente no Instituto da Criança – Hospital das Clínicas/FMUSP. Enfermeira na
Educação Continuada do Instituto da Criança – Hospital das Clínicas/FMUSP.
9. XI
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . XV
1. O Corpo em Emergências Básicas . . . . . . . . . 1
Anatomia Humana . . . . . . . . . . . . . . . 13
Sistema Musculoesquelético . . . . . . . . . . . . 9
2. O Atendimento de Emergência no Brasil . . . . . . . 13
Cuidando do Cliente no Hospital e na Emergência . . . . 19
3. Cuidando em Acidentes . . . . . . . . . . . . . 31
Riscos Concretos . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Riscos Subjetivos . . . . . . . . . . . . . . . . 61
12. XV
Apresentação
Acidentes são eventos que não escolhem vítimas. Podem acometer crian-
ças, adultos e idosos. Acontecem, na grande maioria das vezes, inesperada-
mente, embora em alguns casos sejam perfeitamente previsíveis, mas que, por
alguma falha, geralmente inobservância de medidas de segurança, acabam
acontecendo. Acidentes podem acontecer em casa, na rua ou no trabalho,
exigindo intervenção imediata na tentativa de minimizar os danos que pode-
rão pôr em risco a vida de suas vítimas.
Essas intervenções são freqüentemente denominadas intervenções de
emergência ou de urgência. Elas podem ser clínicas ou cirúrgicas, dependen-
do da gravidade do comprometimento orgânico.
A presente obra é ousada, pois ensina não somente a enfermeiros, técni-
cos, auxiliares e acadêmicos de enfermagem, mas também a leitores leigos,
que serão capazes de cuidar de pessoas em situações de emergência, vitima-
13. XVI
Enfermagem: Cuidando em Emergência
das por acidentes domésticos, urbanos e de trabalho. De posse dos conhe-
cimentos e ensinamentos deste livro, poderão prestar cuidados básicos e
serão capazes de garantir uma sobrevida, até que medidas mais avançadas
sejam tomadas, pois esta obra não pretende, em hipótese alguma, apresen-
tar cuidados relacionados ao suporte avançado de vida.
Neste livro, consideramos oportuno abordar, entre outros assuntos, os
aspectos relacionados ao corpo em situação de emergência, bem como apre-
sentar um breve contexto histórico do atendimento de emergência no Brasil,
por considerá-los temas pouco explorados nas literaturas especializadas.
Como não poderia deixar de ser, reservamos um capítulo para tratar dos
cuidados de enfermagem em situações de emergências pediátricas, pois acre-
ditamos tratar-se de uma clientela que necessita de intervenções e cuidados
altamente especializados.
Desejamos que nossos leitores aproveitem ao máximo os ensinamentos
presentes neste livro, produto da experiência profissional de cada um de
nós. Tenham todos uma boa leitura.
Professor Roberto Carlos Lyra da Silva
14. 167
Capítulo 7
Tipos de Cuidado em Emergência
Este capítulo é mais que atual e traz para conhecimento de estudantes de
graduação e de nível técnico resultados de um estudo de tese de doutorado
sobre a morfologia do cuidar em emergência, realizado pela Dra. Maria José
Coelho.
Nesse estudo, foram encontrados 14 tipos de cuidados, identificados em
diversas situações de emergência em meio à ordem e à desordem que se cria
para se manter e salvar uma vida.
São tipos de cuidados com diversas variações, mas comportando a mesma
essência, todos descritos pela enfermagem de nível superior e técnico.
As ações de cuidar também são carregadas de silêncio na imensa confusão
e tensão em que o cuidado acontece. Essas ações são desenvolvidas na relação
cliente/enfermagem, numa convivência interdisciplinar e multiprofissional,
em que todos percebem e vêem o que a enfermagem faz. Porém, em nível
Maria José Coelho
Nébia Maria Almeida de Figueiredo
Vilma de Carvalho
15. 168
Enfermagem: Cuidando em Emergência
macrossocial, poucas pessoas conseguem apreender a complexidade e a es-
pecificidade de suas ações.
Considerações
Os cuidados de enfermagem fazem parte de um mundo silencioso, res-
trito geralmente à unidade, setor ou local conhecidos como cenário de
cuidar. Para o público em geral, em seu imaginário popular, a função da
enfermagem restringe-se a fazer curativos e ministrar medicação. Daí sa-
ber que a enfermagem trabalha num mundo próprio que, na emergência,
é mais diferenciado, pois é nele que circulam as possibilidades de vida e
morte. É nessa fronteira que a enfermagem se faz presente.
A prática da enfermagem é composta por uma multiplicidade de téc-
nicas e táticas bem articuladas. Os cuidados acontecem em momentos rá-
pidos e muitas vezes aparentemente descoordenados. Portanto, apreender
tudo isso às vezes pode ser uma tarefa difícil ou até mesmo impossível. No
entanto, o profissional nunca deve desanimar, pois é o desejo de manter
uma vida que o faz presente com seus cuidados.
Durante o desenvolvimento de sua tese em especial na fase de coleta de
dados em uma unidade de emergência, Coelho (1997) questionava como
um recurso tecnológico poderia apreender a especificidade e a distinção do
cuidado em toda a sua dinâmica e sequência de ações que, num primeiro
momento, parecem o caos, mas que contém, em seu núcleo, uma ordem e
uma sequência lógica. No cotidiano, nos serviços de emergência, tudo se
desarmoniza no ambiente. É a desordem buscando uma ordem: a vida.
A equipe de saúde e de enfermagem que faz a emergência funcionar
atua como peça fundamental para que toda a máquina funcione. Se a en-
fermagem pára ou não faz com competência e compromisso o seu traba-
lho, o atendimento pára e isso pode colocar tudo em risco.
16. Capítulo 7 – Tipos de Cuidado em Emergência
169
Observando a enfermagem trabalhar é que se dá conta do quanto é
importante seu trabalho, que não se trata apenas de parceria, mas também
de apoio, articulação e provisão de condições e materiais para que o cuidado
de todos seja realizado de forma satisfatória.
Funções da Enfermagem na Emergência
Durante todo o processo do cuidar não se pode esquecer que esta ação
é sócio-histórica. No cotidiano da emergência surgem situações que exi-
gem do profissional competência, intuição e ação; estética e ambiência;
criatividade para criar habilidades motoras e sensibilidade para moldar o
cuidado.
Esse processo de cuidar que envolve saber-fazer acontece em diversos
momentos, caracterizados como:
• diagnóstico: trata-se do histórico e da evolução da situação. Durante essa
fase são observados:
– comportamento, sinais e signos objetivos e subjetivos;
– emoções que se apresentam nas relações e interações;
• intervenção: são consideradas todas as dimensões: biológica, psicológica,
sociológica e espiritual.
Cuidar em emergência é um ritual específico e distinto, que compreen-
de basicamente vigiar e vigilância:
• cuidado com o ambiente;
• cuidado com as pessoas que atuam na emergência.
17. 170
Enfermagem: Cuidando em Emergência
Atenção
Vigiar e vigilância exigem também, além da ação racional fundamental, que os profis-
sionais sejam intuitivos; criativos; solidários; sensíveis e que considerem o conheci-
mento do senso comum de sua equipe.
Cuidados de Emergência em Enfermagem
Cuidado de alerta
O que é relevante aqui, é a idéia de intensidade dos cuidados, bem
como os equipamentos, material e pessoal especializado, obedecendo-se a
princípios de interação e funcionalidade. Tudo deve estar preparado nos
mínimos detalhes técnicos. Não pode faltar o necessário para o estabele-
cimento do diagnóstico e a implementação terapêutica para a prestação
de cuidados necessários para salvar vidas. Tais cuidados exigem, predo-
minantemente, atividades cognitivas psicomotoras. O cuidado de alerta
não segue a rotina dos outros setores. Tudo é imediato; uma expectativa
constante pelo que poderá chegar ou acontecer.
Cuidado de guerra
Emerge do confronto entre a vida e a morte. A todo momento chegam
clientes com os mais diversos tipos de queixas e há também as enormes
filas. No cuidado de guerra, destacam-se as ações de triar, diagnosticar e
atender à fase aguda, além da de manter em observação aqueles clientes
sem condições de serem liberados. Tudo isso requer uma semiótica por
18. Capítulo 7 – Tipos de Cuidado em Emergência
171
parte da equipe de enfermagem, que deve saber identificar sinais e sinto-
mas indicadores de gravidade. A leitura e a interpretação dos sinais, sen-
sações e sintomas corporais, da evolução da doença ou das circunstâncias
que envolvem o cliente e sua perspectiva de cura e de morte são pontos
básicos para o cuidado de guerra. Trata-se de um confronto entre a vida e
a morte, numa utilização de todos os recursos que a enfermagem dispõe
para utilizar.
Cuidado contingencial
Delineia-se pelo investimento de todos os recursos de que a enfermei-
ra e sua equipe dispõem. São os esforços coletivos para salvar o cliente
numa atitude de vigilância, uma espécie de “radar” para detectar qualquer
anormalidade ou sintoma alarmante. A sua principal característica são os
modos e a tecnologia do cuidar como ato concreto, além de uma atenção
especial aos aspectos subjetivos que se encontram no ambiente e nos clien-
tes, já que estes necessitam de uma observação detalhada. É importante
que o profissional fique vigilante para detectar qualquer anormalidade ou
aparecimento de sintomas intensos.
Cuidado contínuo
É o momento em que ocorrem a manutenção e a seqüência do cui-
dar diário. Envolve os rituais diários, como a higiene por exemplo. Tem a
função de prevenção, manutenção da vida e impedimento do surgimento
de seqüelas que possam agravar o quadro do cliente. Fundamenta-se nas
necessidades universais do ser humano e exige cuidados básicos de enfer-
magem, é o cuidar do corpo em seqüência, numa sistematização contínua
19. 172
Enfermagem: Cuidando em Emergência
que determina regras e modos de proceder. Visa inicialmente a correção de
situações que ameaçam a vida do cliente ou ao atendimento de uma série
de desvios clínicos agudizados.
Cuidado dinâmico
Engloba os cuidados feitos num contato relativamente curto e rápido.
Os clientes são atendidos de forma simultânea: enquanto alguns estão sen-
do cuidados, outros chegam, somando-se àqueles. Uma das características
do cuidado dinâmico é a intensidade com que são realizados os cuidados
(devido a concentração numérica de clientes graves sujeitos a possíveis mu-
danças abruptas em suas condições orgânicas).
Cuidado expressivo
Assume a forma de encorajamento, com o intuito de incentivar o clien-
te a lutar e reagir. O profissional se utiliza dos sentidos, através de uma rela-
ção interpessoal, que contém a linguagem verbal e não verbal para ampliar
suas ações de cuidar. O corpo expressivo do enfermeiro traduz sentimento
e é o seu instrumento de trabalho e atuação, estando em sintonia com os
corpos expressivos dos clientes, no contexto do cuidar expressivo.
20. Capítulo 7 – Tipos de Cuidado em Emergência
173
Cuidado anônimo
Existem quadros que só são vistos na unidade de emergência, e um de-
les é o cuidado anônimo. O cliente que não porta nenhum documento de
identidade e está inconsciente é inicialmente registrado como “desconhe-
cido”. No espaço reservado para o seu nome, no prontuário, esse cliente
é descrito por meio de expressões com as seguintes: “um homem”, “uma
mulher”, “uma criança”, assim como ocorre com a cor: branca, negra ou
parda e a idade aparente.
Alguns cuidados são fundamentais, tais como: fazer a pulseira do clien-
te, acompanhar as alterações do seu nível de consciência, registrar suas
decrições no boletim de atendimento e prendê-lo na maca-leito, sem dei-
xar que escape. Todas essas ações caracterizam o cuidado de preservação
nominal, que tem o intuito de resgatar a identidade do cliente, situando-o
no tempo e no espaço. No caso de morte violenta, evidente ou suspeita, o
corpo deverá ser encaminhado ao IML, com informações registradas em
uma guia especial, muitas vezes sem a identificação nominal.
Cuidado multifaces
É aquele que tem muitas outras faces interligando-o, tornando-o sin-
gular e múltiplo. Trata-se de uma intersecção entre várias áreas de conheci-
mento de saúde, aliadas a outros conhecimentos. Sua construção tem suas
bases nas áreas de antropologia, sociologia, economia, política e diploma-
cia (nos limites nacional e internacional), no caso de cuidados prestados a
estrangeiros, e envolvendo sua nacionalidade, cultura, idioma, símbolos e
vivências. É comum o cuidado a clientes portadores de mais de um mal,
21. 174
Enfermagem: Cuidando em Emergência
como por exemplo, um acidentado com uma doença infecto-parasitária
ou crônica ou simplesmente com um quadro agudizado de tuberculose,
meningite, hepatite, tétano, escabiose, a pediculose, entre outras enfer-
midades. O profissional deve escutar o cliente e demonstrar interesse em
conhecer a história de cada uma das pessoas que estão sendo cuidadas fa-
zendo as devidas conexões.
Uma das funções do enfermeiro é discernir não só a gravidade do caso,
mas também o perigo de transmissão da doença básica para os outros clien-
tes e para a equipe de enfermagem, assim como os casos extremos de agi-
tação psicomotora. Nos casos dos clientes psiquiátricos ou com quadro
de desorientação psíquica causada por descompensação orgânica, deve-se
conquistar a sua confiança, penetrando de uma maneira positiva e terapêu-
tica no seu mundo interior, para que o cuidado ocorra satisfatóriamente.
Cuidado ao que se encontra à margem social
Trata-se do aspecto jurídico-policial das situações surgidas, quando o
cliente é levado à unidade de emergência por policiais, na maioria das vezes
ferido durante uma troca de tiros com as autoridades e em outras circuns-
tâncias similares. É preciso bom senso para se lidar com tal situação. No
caso de posse ou ingestão de drogas, o enfermeiro deve recolher, contar e
descrever o material na presença de uma testemunha, encaminhando-o ao
policial de plantão. Isso também deve ser feito com os projéteis e corpos
estranhos retirados das lesões, que deverão ser identificados, relacionados
e entregues à administração do hospital, para encaminhamento às autori-
dades competentes.
22. Capítulo 7 – Tipos de Cuidado em Emergência
175
Cuidado à população de rua
É o cuidado prestado a crianças e idosos abandonados ou não pelos
familiares: crianças de rua, mendigos, pessoas sem residência fixa, que bus-
cam abrigo e comida na unidade de emergência. Representa a prescrição
de um corpo debilitado que precisa de alimentos e abrigo como forma
terapêutica.
O cuidado fundamental é confortar, proporcionar um espaço para abri-
gar o cliente na sala de atendimento, e comida para saciar a sua fome.
Trata-se também de uma questão social, de educação e de saúde pública.
Os cuidados desenvolvidos ultrapassam a terapêutica medicamentosa pre-
conizada pelo modelo biomédico.
Um dos incômodos é a ausência de higiene, com a qual se precisa convi-
ver, respeitando “a diferença”. Os cuidados tomam um sentido de propor-
cionar um conforto temporário, mas com dedicação, respeito e a expressão
da arte de unir ciência e humanidade.
Cuidado mural
O objetivo é o de advertência e de direção. Sua criação é fundamenta-
da na prevenção, na vigilância e na situação-limite, proporcionando um
esquema de ação ágil e seguro, num encadeamento lógico e coerente de
raciocínio. Trata-se da descrição de cuidados estratégicos, afixada nas pare-
des do posto de enfermagem, em local de destaque e de fácil visualização;
proporcionando uma ação rápida, como um mapa. Como exemplo têm-se
a escala de Glasgow e a classificação para afogados de Szpilman.
23. 176
Enfermagem: Cuidando em Emergência
Cuidado perto/distante
Envolve os órgãos dos sentidos dos enfermeiros, acionados pela situação
de alerta, pelos instrumentos e equipamentos, ampliando a capacidade na-
tural de sentir, ouvir o ruído do respirador, a respiração estertorosa, gemi-
dos, silêncios prolongados, entre outros ruídos apreendidos pelos sentidos
e compostos de dados intuitivos, dos quais, mesmo distante, o enfermeiro
continua cuidando, captando e identificando, com os seus sentidos, uma
situação de risco para o cliente. Utiliza-se dos sentidos perceptivos como
olfato, tato, audição, visão, paladar e percepção como instrumentos de ma-
nutenção dos cuidados. Todos os sentidos estão presentes, impregnando os
cuidados dos enfermeiros e/ou dos técnicos de enfermagem.
Muitos clientes necessitam desse tipo de cuidado por conta da dificulda-
de de comunicação por meio da expressão verbal e de direção espaciotem-
poral. Essa dificuldade é causada por circunstâncias clínicas ou traumáticas,
impossibilitando a comunicação e a expressão. São situações que envolvem a
fala; deficiências auditivas, como o traumatismo bucofacial, traqueostomia,
surdo-mudez; deficiências visuais; deformidades congênitas ou adquiridas;
ausência de percepção tátil, entre outras. Às vezes, a própria circunstância
de sua admissão no setor de emergência requer tais cuidados.
24. Capítulo 7 – Tipos de Cuidado em Emergência
177
Cuidado ao corpo (semi)morto
Esta é uma temática delicada, pois apresenta múltiplos aspectos, tanto
na unidade de emergência, quanto na forma geral. Na unidade de emer-
gência, existe a questão da responsabilidade, tanto no aspecto moral e éti-
co, como no jurídico-policial, principalmente no caso de mortes de origem
suspeita, as chamadas “C.P.” (caso policial). Na unidade de emergência são
muitas as polêmicas e poucas as respostas aos questionamentos surgidos no
enfrentamento do dilema vida/morte no cotidiano do cuidar.
De um lado, há a filosofia que norteia o cuidado de emergência para
salvar vidas e a valorização do desempenho técnico altamente qualificado;
do outro lado, há o momento de parar, sem incorrer na questão polêmica
da imprudência, imperícia, negligência ou eutanásia.
O direito de morrer em paz, com dignidade e sem sofrimento é algo
que não pode ser esquecido, pois implica o respeito ao ser humano. A linha
tênue entre salvar a vida e permitir a morte digna, no cuidado de emergên-
cia, é um desafio para o enfermeiro. A morte na emergência engloba uma
série de etapas, envolvendo recursos técnicos e podendo levar várias horas,
dias, meses ou anos. A morte de todo o corpo ou de uma de suas partes faz
parte do cotidiano do cuidar nas salas de atendimento de emergência.
Outro aspecto é o corpo semimorto, isto é, quando há constatação da
morte biológica (cerebral) por meios diagnósticos. É considerado fora de
possibilidade terapêutica, em morte cerebral. Os transplantes, implantes e
25. 178
Enfermagem: Cuidando em Emergência
a biotecnologia, atualmente, fazem parte dos recursos terapêuticos, assim
como o óbito parcial.
Cuidado aos profissionais do cuidado
Pouco se fala do cuidado aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de en-
fermagem, em que o primeiro cuida do segundo e assim por diante, numa
inter-relação entre a construção do cuidado à clientela e os seus medos
e sentimentos, que afloram em silêncio durante o cuidado. Nas salas de
atendimento de emergência, o inesperado constitui rotina, pois trata-se
de um local estressante, que leva à angústia, apreensão e ao sentimento de
medo. Esses sentimentos costumam envolver os enfermeiros e sua equi-
pe.
Cooperação e negociação configuram esse cotidiano de cuidados tão es-
peciais, distintos e específicos. As situações vivenciadas expressam momen-
tos de valorização e apoio para a equipe de enfermagem realizadas pelas
enfermeiras e, ao mesmo tempo, um ônus a mais ao polivalente exercício
profissional.
Considerações Finais
No cuidado de enfermagem em emergência, o senso comum faz parte
do conhecimento dos enfermeiros e envolve conhecimentos sobre política,
economia etc, além de obrigá-los a saber que os clientes são sócio-his-
tóricos e têm direitos humanos a serem assegurados, inclusive em nível
internacional.
O cuidado de enfermagem em emergência, quando operacionalizado,
dá origem aos cuidados entendidos como específicos encontrados em situa-
ções do cotidiano como as que foram descritas anteriormente. Os cuidados
26. Capítulo 7 – Tipos de Cuidado em Emergência
179
de enfermagem, em sua totalidade, resumem a terapêutica de responsabi-
lidade do enfermeiro. O importante é que o profissional de enfermagem
conheça o cotidiano de sua arte e saiba que o cuidado envolve questões
sociais, políticas, econômicas, de saúde pública e de educação, articuladas
a uma questão jurídico-penal e policial, englobando e articulando conhe-
cimentos que não pertencem à área de enfermagem.
As abordagens nessa área de conhecimento de enfermagem – a de emer-
gência – são peculiares e vitais, pois são ações que têm a função de man-
ter o cliente vivo. O cuidado de enfermagem em emergência articula-se
através de uma rede com várias linhas imaginárias, que partem de quatro
princípios: agilidade, criatividade, humanismo e tecnologia.