1) Monitoramento de indicadores sociais e ambientais que afetam os resultados econômicos, como redução de custos com resíduos, economia de recursos e diminuição de riscos;
2) Elaboração de relatórios de sustentabilidade para mapear impactos e criar métricas que ajudem a maximizar benefícios e minimizar custos associados à sustentabilidade;
3) Publicação transparente de indicadores para dar visibilidade aos pont
como solicitado e atende ao limite máximo de , sendo otimizado para
1. AMBIENTAL ECONÔMICO SOCIAL
R E V I S TA Alimentos e biocombustíveis Finanças sustentáveis Segurança no trabalho
edição - 1 • outubro de 2008 • R$ 15,00
Os desafios da sustentabilidade empresarial
A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada
de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas.
CASE: Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 1
2. A Kimberly-Clark tem várias marcas
registradas. Sustentabilidade é uma delas.
A Kimberly-Clark acredita que a chave para qualquer negócio é a
sustentabilidade. Por isso trabalhamos para ser referência tanto para outras
empresas no Brasil como para nossas unidades distribuídas pelo mundo.
3. Editorial
Sergio Molinari
Sócio
sergio.molinari@negociosustentavel.com.br
A Revista Negócio Sustentável se originou da incontestável e crescente
relevância que o tema Sustentabilidade assume no mundo empresarial
e, como decorrência disso, da carência de informação qualificada e na
linguagem profissional para empresários e executivos que traçam os
contornos deste mundo.
A visão que inspirou a Revista Negócio Sustentável é a de que a postura
e a atitude de cada empresa gera impacto não apenas em si mesma,
mas, especialmente, em todo o ambiente de negócios, na sociedade
e no ambiente.
Entendemos haver uma base de valores e crenças que ancora a discussão
da sustentabilidade e que transforma numa relação de causa e efeito atrair
para perto das empresas que a praticam parceiros interessantes, adequados
e duráveis, sejam clientes, consumidores, fornecedores, entre outros.
Assim, quando levamos aos empresários e executivos de centenas das
importantes empresas do País, conceitos e boas práticas de
Sustetabilidade, acreditamos que nos tornamos agentes de transformação
do cenário empresarial.
Sustentabilidade é para nós fator de inovação e de moderação de risco
empresarial, que implica na perenidade e no sucesso dos negócios;
desejamos estar ao seu lado nestes desafios, apoiando-os para que
considerem a sustentabilidade de uma forma pragmática e vinculada
aos seus resultados.
Convidamos você a avaliar e participar da Revista Negócio Sustentável,
com sua atenção, opinião e mensagem. Muito obrigado e boa leitura!
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 3
4. R E V I S TA
“A REVISTA NEGÓCIO SUSTENTÁVEL BUSCA SE TORNAR UMA DAS MAIS IMPORTANTES FONTES DE INFORMAÇÕES E INTERCÂMBIO
DE IDÉIAS E EXPERIÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. O OBJETIVO É ELEGER E APROFUNDAR AS PRINCIPAIS DISCUSSÕES
DO MOVIMENTO PELA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL, MOSTRANDO CAMINHOS PARA QUE FAÇA PARTE DO PROCESSO DE TOMADA
DE DECISÃO E GESTÃO ESTRATÉGICA.”
Colaboraram nesta edição
Fabrizio G. Violini Raquel Sabrina Arnaldo Marques Andrea Goldschmidt Nélio Bilate
Sócio-Diretor da Consultora de de Oliveira Neto Diretora da Apoena CEO da Addcomm
Ecosfera Consultoria Comunicação Sócio-Diretor da Sustentável Consultoria Comunicação Digital
Ambiental e Sustentabilidade Performance Alliott em Gestão e Marketing
Brasil Consultoria Expediente
Sócio Responsável: Sergio Molinari – sergio.molinari@negociosustentavel.com.br
Conselheira Executiva: Andrea Goldschmidt – andrea@apoenasustentavel.com.br
Jornalista Responsável: Raquel Sabrina – raquelsabrina@gmail.com – MTB SC02747JP
Direção de Arte: Caio Carlucci – caio@casabrasileira.com.br
Diagramação: Casa Brasileira – www.casabrasileira.com.br
Pesquisa: UFR – Unit for Research – www.ufr.com.br
Fotografia: Márcio Kato – katophoto@ig.com.br
Revisão: Geni Goldschmidt – geni@apoenasustentavel.com.br
Administração: Márcia M. Bertolino – marcia.bertolino@negociosustentavel.com.br
Distribuição dirigida: Treelog S/A Logística e Distribuição
Impressão: Vox Gráfica - revista impressa em papel couché 90 g/m2 (miolo) e 150 g/m2 (capa)
da Suzano Papel e Celulose, produzido a partir de florestas renováveis de eucalipto;
cada árvore utilizada foi plantada para este fim.
Conselho Editorial
Adalgiso Telles - Grupo Bunge • Almiro dos Reis Neto - Franquality • Daniela de Fiori - Wal-Mart • Flávia Moraes - FCM Consultoria
Juracy Parente - CEV - Fundação Getúlio Vargas – SP • Marco Antonio Iszlaji - Kimberly-Clark • Paulo Roberto Ferreira da Cunha - ESPM
Sandra Turchi - Associação Comercial de São Paulo
A Revista Negócio Sustentável é uma publicação bimestral da Ombrello Editora Ltda. • CNPJ 05.800.433/0001-45
Rua Dr. Luiz Nazareno de Assumpção, 13 – CEP 02316-190 - São Paulo – SP
Tiragem desta edição: 8.000 exemplares
Escreva para a Redação: redacao@negociosustentavel.com.br
Compartilhe suas críticas e sugestões: ouvidoria@negociosustentavel.com.br
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Atualize suas informações: leitor@negociosustentavel.com.br www.negociosustentavel.com.br
4 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
5. Compartilhe suas ações, estratégias sustentáveis
e outros assuntos de alta relevância com nossos parceiros,
anunciando na Revista Negócio Sustentável.
Cada empresa tem seus objetivos e estratégias específicos. Consideramos fundamental
formular um plano específico para cada parceiro, em linha com estas situações individuais.
Estamos prontos para desenvolver
um “case” único para sua empresa.
Entre em contato conosco e conheça como podemos apoiá-los
em seus esforços junto à Sustentabilidade Empresarial.
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R E V I S TA
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 5
6. Sumário Outubro
2008
10 Alimentos e biocombustíveis
Os biocombustíveis e o aumento no preço dos alimentos:
uma questão econômica, ambiental ou política?
16 CASE: Ética empresarial Wal-Mart
Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção
22 Os desafios da sustentabilidade empresarial
A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada
de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas.
08 CONSULTORIA
52 SNACKS
54 ARTIGOS
30 Consumo consciente
Pesquisa confirma que consumidor ainda não exerce seu poder de
compra como forma de incentivar o desenvolvimento sustentável.
59 10 DICAS
35 A evolução das finanças sustentáveis no país
Considerar indicadores de sustentabilidade para a concessão de
financiamentos desponta nas carteiras de crédito das instituições brasileiras.
38 Os impactos socioambientais da construção civil
Afinal, o que é realmente essencial para que uma construção
seja sustentável?
46 Segurança no trabalho
500 mil acidentes e 2 mil mortes por ano mostram um país
com empresas que ainda precisam evoluir para se tornar sustentáveis.
6 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
7.
8. Consultoria
Como as empresas podem se dizer a favor da sustentabilidade, se ainda continuam comprando
produtos e serviços “made in China” (que todos sabem que são às custas de trabalho
escravo/infanti)? A sustentabilidade é um conceito global ou local?
Luciana Jacob – RH – Lanxess
Definitivamente o conceito é global. O mesmo vale para empresas que Problemas ambientais, como
mantêm sua produção em países mais o aquecimento global, não se
Por mais que cada gestor seja responsável
desenvolvidos, mas não se preocupam restringem ao local onde as emissões
pelas atividades que controla localmente,
com a origem dos insumos ou das de poluentes ocorrem, mas afetam
como empresa, os impactos gerados pela
matérias-primas que compõem o seu o planeta como um todo e seus
atividade econômica devem ser pensados
produto final. habitantes em todos os continentes.
globalmente.
É importante lembrar que o conceito Sugiro que você assista ao filme “A
Neste sentido, uma empresa que
de sustentabilidade envolve aspectos história das coisas”, disponível no
transfere sua área de produção para a
econômicos, sociais e ambientais e, Youtube, que aborda este tema de
China - ou para qualquer outro lugar
neste sentido, as oportunidades que a forma muito interessante e mostra
onde as exigências e o nível de controle
globalização traz para reduzir custos claramente como as decisões dos
sejam menores - pensando apenas na
sempre devem ser avaliadas. No entanto, gestores, sem dúvida, devem estar
redução de custos que irá obter, sem
justamente porque a sustentabilidade é baseadas nos impactos econômicos,
se preocupar com os impactos sociais
um conceito global, as empresas nunca sociais e ambientais de curto e longo
e ambientais que possa estar causando
devem tomar uma decisão sem levar em prazo para que realmente estejamos
localmente, não está agindo de forma
consideração as outras duas dimensões. falando de desenvolvimento sustentável.
sustentável.
A Revista Negócio Sustentável desenvolveu a Seção Consultoria em parceria
com a Consultoria Apoena Sustentável, que responderá às questões
encaminhadas por nossos leitores.
Em “Consultoria”, receberemos perguntas sobre os mais variados temas relacionados
à Sustentabilidade, através do e-mail consultoria@negociosustentavel.com.br.
Com o com o apoio de nosso Conselho Editorial, selecionaremos sempre duas perguntas
que serão respondidas pela Apoena Sustentável e publicadas na revista impressa.
Outras perguntas que também sejam de interesse amplo para os leitores serão
respondidas e estarão disponíveis para consulta no site
www.negociosustentavel.com.br.
Para saber mais ou entrar em contato com a Apoena Sustentável, nossa parceira
nesta Seção, acesse: www.apoenasustentavel.com.br – (11) 3079-0312
8 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
9. Consultoria
Quais os mecanismos mais interessantes de mensuração dos benefícios da sustentabilidade para as empresas?
Adriana Cozzette e Daniel Périgo – Responsabilidade Social – Fleury
Mensurar os benefícios da sustentabilidade
para as empresas não é realmente uma
tarefa simples de ser executada.
Como o objetivo é abordar os impactos
de um negócio levando em consideração
o tripé composto por questões
econômicas, sociais e ambientais, a
mensuração de resultados também deve
levar em consideração estes 3 aspectos.
Neste sentido, há vários indicadores
sociais e ambientais que afetam os
resultados econômicos de uma empresa
e, desta forma, devem ser perdiodicamente
monitorados para que se possa realmente
avaliar os benefícios de uma gestão Do ponto de vista ambiental: O relatório de sustentabilidade, por
baseada nos princípios da sustentabilidade. exemplo, é um instrumento bastante
• Diminuição dos resíduos – que
completo e que pode ajudar na
têm alto custo de processamento e
mensuração dos benefícios das ações
podem afetar a saúde das pessoas
Do ponto de vista social, os benefícios desenvolvidas pelas empresas.
podem ser de diferentes origens como: • Economia de recursos - como
Através dele, a empresa conseguirá
acontece, por exemplo, quando
• Diminuição da abstinência e/ou da identificar quais os impactos mais
a empresa substitui alguma fonte
rotatividade dos funcionários – que relevantes para o seu negócio e para
de energia ou quando inicia
gera redução de custos de substi- os seus públicos de interesse; poderá
um programa de mobilização dos
tuição e treinamento e evita a criar indicadores que possam ser
funcionários para redução de consumo.
perda de produtividade. acompanhados permanentemente e
• Diminuição de riscos – como por monitorá-los de forma a aproveitar ao
• Melhoria da qualidade de vida das
exemplo, de autuação por problemas máximo os benefícios e evitar, sempre que
pessoas, podendo até gerar impactos
ambientais, boicotes de consumi- possível, os custos associados.
na área de saúde (governamental)
dores e necessidades de recall.
Além disso, a publicação destes
• Aumento do acesso de populações
Antes de iniciar qualquer nova ação, a indicadores torna todo o processo mais
menos favorecidas a produtos e serviços,
empresa precisa identificar quais são os transparente e ajuda a dar visibilidade à
por exemplo, através de programas de
seus objetivos e determinar as metas que empresa, destacando seus pontos fortes
geração de emprego e renda. O que
pretende atingir em relação a cada um e esclarecendo que medidas ela irá tomar
aumenta o fluxo econômico na região
destes 3 aspectos. para evitar seus pontos fracos e, com isso,
afeta e pode aumentar o volume de
pode conseguir também o benefício do
vendas da empresa. Em seguida, deve-se selecionar a envolvimento das partes interessadas.
metodologia mais adequada para
levantamento e registro de dados.
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 9
10. Os biocombustíveis
e a produção de alimentos
Os biocombustíveis e o aumento
no preço dos alimentos: uma questão
econômica, ambiental ou política?
OS NÚMEROS
DA CRISE
A preocupação e a ação desencadeada pela crise envolve A miséria e a fome aumentaram
dados impressionantes. A previsão da Organização das Nações em pelo menos 37 países.
Unidas é que, em função da alta mundial dos alimentos, 100
milhões de pessoas entrem na linha da extrema pobreza,
mais de um bilhão de pessoas na Ásia se tornaram pobres e
que a miséria e a fome aumentem em pelo menos 37 países.
A organização também prevê que 10 milhões de latino-
americanos podem se juntar à camada mais miserável da
população.
10 milhões de latino-americanos
Segundo dados da entidade da ONU para agricultura e
podem se juntar à camada mais
alimentação, a FAO, nos últimos dois anos, importantes
miserável da população.
produtos da dieta da maior parte da população mundial e da
balança comercial dos países aumentaram de preço em mais
de 100%. A soja subiu 107%, o milho 125%, o trigo, 136%
e o arroz aumentou 217%.
A crise dos alimentos, como já está sendo chamada, é uma questão cenário internacional como proponente e produtor de combustíveis
que tem ocupado a agenda de organizações internacionais alternativos, em especial o etanol, feito da cana-de-açúcar.
e governos pelo mundo afora. Que os preços subiram não há
Entre os que acusam os biocombustíveis e o etanol como
discussão e que a tendência é mundial também não. O principal
responsáveis pelo aumento do preço dos alimentos, o argumento
debate está em torno dos motivos para o aumento: embora sejam
é que 100 milhões de toneladas de grãos são usadas para fazer
apontados vários fatores, o foco entre as nações industrializadas
combustíveis alternativos todos os anos. Apontam também
e organismos internacionais é o aumento da produção de uma tendência de haver um crescente aumento da demanda
biocombustíveis. Assim, o Brasil ganha o centro das discussões no pelos biocombustíveis, financiados por subsídios dos governos.
10 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
11. Os biocombustíveis
e a produção de alimentos
Afinal o etanol é vilão, reduzindo a produção de alimentos e contribuindo para aumentar os preços da comida
ou é o mocinho, contribuindo para aumentar o interesse dos mercados e dos produtores pelo campo e oferecendo
uma alternativa sustentável para a redução dos gases e para o desenvolvimento que não polua o planeta?
Este ano, o custo global de importação de alimentos,
conforme a FAO, deve chegar a US$ 1.035 bilhões, 26% a
Mais de 1 bilhão de pessoas na mais do que no ano passado. Os países economicamente mais
Ásia se tornaram pobres. vulneráveis vão pagar a maior conta no custo de importação
de alimentos. Devem acumular uma despesa total entre 37%
e 40% em relação a 2007.
OS AUMENTOS DE 2008
Desde janeiro deste ano os alimentos contribuíram com 6,4%
do aumento do índice, contra 2,81% no ano passado. Com
isso, o preço do pão subiu 19,38%, o do arroz 25,75%, o do
tomate 109,36% e do óleo de soja 30,05%.
Média mundial de aumento de
preços para itens importantes
da dieta da população.
O espaço de terra e os próprios grãos que deveriam servir açúcar. O Banco Mundial também compara o custo das diferentes
para alimentar estariam indo para a produção de combustível, produções. Enquanto o etanol da cana-de-açúcar custava US$
causando escassez, aumento da procura e conseqüente aumento 0,90 o galão em 2007, contra um custo de US$ 1,70 por galão
de preço. O consumo de etanol aumentou de 20 bilhões de litros
do etanol de milho produzido pelos Estados Unidos e US$ 4 por
em 2006, para 26 bilhões em 2007, apenas nos EUA.
galão do biodiesel produzido pelos americanos e europeus.
Etanol de milho X etanol de cana
Brasil - Mas o Brasil, que além do etanol também investe
O documento reconhece, no entanto, que a produção brasileira do em combustível a partir de óleos vegetais, é um dos principais
etanol à base de cana não levou a altas substanciais no preço do interessados tanto na produção de combustíveis alternativos
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 11
12. Os biocombustíveis
e a produção de alimentos
O DESTAQUE DAS EMPRESAS
BRASILEIRAS
O mercado brasileiro de etanol
movimenta cerca de 10 bilhões de
dólares por ano em investimentos.
A Votorantim, uma das empresas
com atuação mais marcante, investe
anualmente cerca de um milhão
em pesquisas. As maiores empresas
brasileiras que produzem etanol são as
maiores do mundo, junto com algumas
americanas.
Os destaques brasileiros são: Copersucar,
Crystalsev, Cosan, São Martinho, Irmãos
quanto na de alimentos, já que investe Biagi, João Lyra, Tércio Wanderley, Nova
para crescer ambos os produtos, visando Entre 2000 e 2008, América e Carlos Lyra. Há em operação
os mercados interno e externo. O principal diminuíram as áreas no Brasil cerca de 350 usinas, a maioria
argumento do governo brasileiro é a controlada por famílias tradicionais.
plantadas com soja,
distinção entre o etanol de milho, produzido Outras 100 usinas estão sendo
nos Estados Unidos, e o etanol de cana algodão e arroz. O construídas, a maioria também por
feito no país. A FAO também admite resultado é que o preço empresários locais.
que a demanda adicional por milho para do milho subiu 224%
combustível tem tido um grande impacto
nos preços. Segundo a organização da
entre 2005 e 2008, em
ONU, das quase 40 milhões de toneladas todo o mundo.
a mais de milho utilizadas em 2007, quase
30 milhões foram destinadas às indústrias de biocombustíveis, mas a cana-de-açúcar O governo brasileiro defende o etanol
de etanol. A maior parte dessa expansão ocupa hoje apenas 0,4% da área antes e os biocombustíveis dizendo que
ocorreu nos Estados Unidos, o maior plantada com grãos. Ainda assim a ONU eles impulsionaram a agricultura no
produtor mundial e exportador de milho. rebate dizendo que 27% da expansão da país, geraram renda para os pequenos
O milho, inclusive, tomou espaço de outras cana ocorreu em áreas ocupadas antes por agricultores e ofereceram oportunidades
culturas no país. soja, milho, café e laranja. no campo ao invés de promover o êxodo
para as cidades. Cerca de 85% da mamona
A situação do Brasil parece ser diferente e produzida no Brasil, oleoginosa largamente
particular, segundo a FAO, em função da usada para a produção de biocombustível,
disponibilidade de terras (ver grafico). Mesmo está concentrada na Bahia e é cultivada
assim, o produto está na mira de entidades por pequenos agricultores. Junto com o
internacionais e governos em função dos produto, muitos agricultores plantam, por
números robustos que a produção tem exemplo, milho e feijão já que a colheita
apresentado no Brasil. O etanol brasileiro, da mamona ocorre justamente nos meses
feito de cana-de-açúcar, este ano terá a de seca. O produto, que foi importante
maior colheita da história: entre 607 e 631 nos anos 1980 e depois perdeu valor
milhões de toneladas. Cerca de 55% da econômico, agora volta a se valorizar
colheita de cana será usada na produção e dá mais rendimento aos agricultores
12 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
13. Os biocombustíveis
e a produção de alimentos
da região. Em 2004, a saca de 60kg era
vendida a atravessadores por 16 reais. Em
2008, a mesma saca rende o mínimo de
45 reais e é vendida direto para o produtor
de biocombustível. Para isso, o Governo
Federal criou o selo Combustível Social,
que garante a venda do produto e
estabelece um preço fixo. A indústria do
biodiesel compra direto dos produtores
e oferece assistência técnica. Luciano
Brito, pequeno agricultor do interior
na questão climática e de novas alternativas A opinião das ONGS
da Bahia, garante que a mamona mudou
energéticas, a questão agora parece se
a economia da região e a condição de vida
dos agricultores. “Se não fosse a mamona,
concentrar nos elementos econômicos, Estudo WWF confirma benefício
tarifários, na especulação financeira
muita gente já teria deixado esse sertão em ambiental do etanol brasileiro
e, especialmente, no investimento em
busca de outros lugares por aí”, afirma.
agricultura para superar a crise, baixar A produção de etanol à base de cana-de-
Respondendo aos debates e à reação de os preços e garantir o abastecimento. açúcar tem efeitos benéficos do ponto de
países como o Brasil, que não aceitam que No encontro do G-8 foram apresentadas vista ambiental, não avança sobre áreas
o etanol e os biocombustíveis paguem a propostas de liberação de recursos para de floresta na Amazônia e não compete
conta, importantes entidades como o G-8, aumentar a produção de alimentos. A de forma significativa com a produção de
já começam a ter que dar explicações sobre União Européia (UE), que não faz parte alimentos, afirma estudo da organização
os outros fatores apontados. No encontro do G-8, mas participa de suas cúpulas, ambientalista WWF-Brasil.
do G-8 realizado no início de julho no anunciou a disposição de liberar 1 bilhão
O estudo, divulgado em julho, foi
Japão, a alta dos preços dos alimentos foi de euros para apoio à agricultura nos
encomendado há três anos e é parte de
tema de destaque. A expectativa era de países em desenvolvimento. A informação
um projeto financiado pelo Ministério de
estabelecer medidas de médio e longo prazos foi dada pelo presidente da Comissão
Assuntos Internacionais da Holanda. O
para combater a inflação dos alimentos e Européia, José Manuel Durão Barroso,
objetivo inicial era avaliar os efeitos da
garantir a segurança alimentar tanto em países no primeiro dia da reunião. O Japão vai
expansão do setor de cana-de-açúcar no
pobres quanto nas nações desenvolvidas. dobrar a ajuda oficial ao continente e
Brasil, em razão da Rodada de Doha, da
Mais do que recriminar os biocombustíveis abrirá linhas de crédito para a região.
Organização Mundial do Comércio (OMC).
e o etanol pela alta dos preços, retrocedendo A guerra de versões, culpas e opor-
“O estudo conclui que existem benefícios
tunidades no mercado internacional
ambientais confirmados e consolidados
continua, com cada um dos atores
no que diz respeito à produção de etanol
procurando defender a sua posição. As
(a partir de cana-de-açúcar)”, disse o
respostas à crise dos alimentos podem
coordenador do programa de Agricultura
impulsionar os debates sobre planos de
e Meio Ambiente da ONG, Luis Fernando
desenvolvimento de energias alternativas,
Laranja. Segundo ele, o etanol brasileiro
priorizando culturas de pouco impacto,
tem um balanço energético mais positivo
como a da cana, ao invés do milho, e gerar
(ou seja, é mais eficiente) do que, por
oportunidades internacionais para o Brasil
exemplo, o etanol à base de milho,
aumentar sua produção de alimentos para
produzido nos Estados Unidos. O estudo
abastecer a própria população e atender
referenda a posição defendida pelo
parte do aumento da demanda mundial.
governo brasileiro. “Do ponto de vista
ambiental, é um bom negócio substituir
gasolina por etanol”, afirmou Laranja.
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 13
14. Os biocombustíveis
e a produção de alimentos
O estudo do WWF-Brasil analisou algumas das dúvidas que
ETANOL X AMAZÔNIA
envolvem a produção de etanol.
Durante sua recente visita ao Brasil, Al Gore, ex-candidato
O primeiro seria sobre a eventual expansão de plantações de cana-de- à Presidência dos Estados Unidos e uma das principais
açúcar na Amazônia. Segundo ele, há em torno de 200 mil hectares vozes da causa ambiental, veio saber se a expansão do etanol
de cana-de-açúcar na Amazônia. “Isso não significa nada no universo faria com que as plantações de cana avançassem sobre a
da Amazônia. Só de pastagens, há 50 milhões de hectares.” floresta Amazônica. A resposta do governo a Al Gore: não.
Primeiro, porque o ambiente amazônico não é propício ao
O segundo ponto analisado é o quanto a produção de cana-de-
cultivo de cana. Segundo, porque essa cultura não requer
açúcar compete com outras culturas alimentares, considerando-
grandes extensões de terra. O país pode dobrar a produção
se o atual cenário de crise mundial dos alimentos. De acordo
de etanol sem ter de avançar sobre áreas preservadas.
com Laranja, esse risco é baixo. “Compete pouco com as culturas
alimentares, especialmente porque ocupa pouca área e sendo que
metade vai para a produção de açúcar, e a outra metade para o
etanol”, disse.
O estudo, porém, alerta para alguns riscos ambientais da produção
de etanol em escala regional. “É uma cultura muito concentrada,
quase toda no Estado de São Paulo e em regiões vizinhas. Isso
representa um risco em potencial sobre a biodiversidade, sobre
os recursos hídricos e efeitos diretos sobre o solo. “Precisamos
fazer essa ocupação das novas áreas de forma mais estratégica,
da maneira mais racional possível”, disse.
O fracasso da Rodada Doha
e o empresariado brasileiro estudos mais profundos que comprovem sua eficácia e impacto
Na nova rodada de negociações para liberalização do comércio ambiental. O álcool brasileiro paga, atualmente, uma taxa extra
mundial, realizada pelos países-membros da OMC (Organização de US$ 0,54 por galão para entrar no mercado americano, além
Mundial do Comércio), o Brasil defendia que o álcool deveria da tarifa regular de importação de 2,5% sobre valor do produto.
fazer parte de uma lista de produtos ambientais com acesso livre Com o fracasso da Rodada e a conseqüente paralisação das
a todos os mercados por sua contribuição em conter a mudança negociações sobre o etanol, sujeitas ao acordo global, o Brasil
climática e preservar o meio ambiente. Com a liberação, o produto agora considera fazer uma consulta na OMC (Organização Mundial
brasileiro não deveria ser submetido aos cortes gerais de tarifas do Comércio) sobre as tarifas para a exportação do produto cobradas
de importação. A rodada foi considerada um fracasso e os países pelos Estados Unidos.
não conseguiram um acordo sobre tarifas de importação para o
setor agrícola.
O setor privado no Brasil defende que a sobretaxa é uma forma
mascarada de proteger contra a concorrência os produtores
americanos, menos competitivos. O presidente da União
da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, que
acompanhava as negociações, defende que a redução das tarifas
européia e americana para o etanol permitiria a esses países
aumentarem suas importações, o que beneficiaria os países mais
pobres produtores de matérias-primas.
Os Estados Unidos e União Européia se opõem a ideia, onde
grandes recursos públicos e altas tarifas de importação asseguram
a liderança de mercado, se opõem à idéia, alegando que faltam
14 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
15. Os biocombustíveis
e a produção de alimentos
ETANOL X PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
Na safra de 2007/2008, a área plantada com
cana-de-açúcar aumentou 653.700 hectares, um
crescimento de 12% em comparação com a safra
anterior, sendo 0,4% da área total cultivada com
grãos. Os canaviais avançaram principalmente sobre
as áreas de pastagens (65%), não ameaçando
as áreas de produção de alimentos.
ETANOL DE CANA X ETANOL DE MILHO
O etanol de cana-de-açucar é o mais eficiente...
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 15
16. Combate à Corrupção
Wal-Mart lança Programa Global
de Combate à Corrupção
Para uma empresa, a corrupção significa aumento de despesa, o será significativamente maior. Os efeitos poderão ser observados
risco com fornecedores, a cobrança de propinas para aberturas no custo mais elevado dos recursos para as empresas.
legais e chance de aumentar o risco de uma ação da justiça ou
Gigante do setor de varejo, o Wal-Mart é uma rede mundial e
uma condenação por parte dos clientes. Quantas empresas já
por isso é uma de muitas empresas que pode encontrar casos
não foram prejudicadas em seu direito de competir por acordos
de corrupção. Com faturamento de R$ 15 bilhões em 2007
corruptos entre participantes de licitações públicas ou sofrem
apenas no Brasil, 320 lojas em 17 estados brasileiros e no Distrito
constantes pedidos de propina em troca de fiscalizações brandas?
Federal e mais de 70 mil funcionários, ao planejar aumentar suas
Um país com alto índice de corrupção pode ter impacto sobre atividades a empresa precisa lidar com maiores riscos, e investe
os negócios de todas a empresas. Quando a corrupção é prática agora no combate à corrupção. A novidade é a capacitação dos
comum em um país, as empresas daquele lugar tem custos mais funcionários para lidar com todas as situações do cotidiano de
altos para obter financiamento externo, por exemplo, e o custo forma ética, com ênfase para o tratamento com governos locais.
16 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
17. Combate à Corrupção
Tendo as diretrizes mundiais voltadas para o tema da
sustentabilidade, o Wal-Mart busca atuar agora com ações
coordenadas para o combate à corrupção. Ao mesmo tempo em que
cresce sua participação no país, a empresa expande sua atuação com
projetos e ações corporativas relacionadas à ética e à transparência.
Com iniciativas sistemáticas e consistentes de expansão dos
negócios ao longo dos últimos anos, o ano de 2007 é considerado
pela empresa como um marco. Nas iniciativas de fomento da
ética, foi o início de um novo projeto que implica no trabalho
sistematizado de treinamento e conscientização sobre o tema. Já
foram realizados treinamentos presenciais de três horas com todas
as lideranças dos escritórios e o aperfeiçoamento dos sistemas de
monitoramento e avaliação.
Equipe responsável pelo programa
Para melhorar a identificação de problemas potenciais,
todos os setores em contato com órgãos públicos passaram e empresas independentes, responsáveis por avaliar e validar
a ser monitorados mais de perto. o programa, identificando possíveis falhas nos processos.
A capacitação tem dois focos principais. O primeiro é relacionado O objetivo geral é proporcionar relacionamentos mais
à integridade, lidando com eventuais dilemas éticos que os consistentes para a rede no Brasil, contribuindo para a
funcionários tenham e preparando-os para tomar a decisão correta, melhoria do desempenho em todas as frentes de negócio.
com base em princípios éticos, em qualquer situação. O segundo
As aspirações são altas, tanto no âmbito das relações públicas e
foco é em relação ao contato com entidades públicas. Cada
privadas com bases éticas quanto nos objetivos de expansão da
setor tem contatos diferentes com representantes públicos. “Os
rede. Até o final de 2008, a empresa vai inaugurar mais 36 lojas e
vendedores, por exemplo, têm contato com fiscais. O programa
levar as bandeiras da companhia a mais cidades. O investimento
quer ensinar como lidar de forma ética com esse público”,
este ano é de R$ 1,2 bilhão em todos os formatos. Segundo a
afirma Leonardo Machado, gerente de ética e conformidade da
empresa, o mercado de baixa renda tem especial destaque. Com o
Wal-Mart. Para os diretores, a orientação é, por exemplo, como
crescimento do número de lojas e do numero de funcionários, os
realizar reuniões com entidades públicas e como registrar gastos
desafios de capacitação e envolvimento são também cada vez maiores.
realizados em situações em que esteja presente um representante
de órgão público. “Enquanto houver algum ato de corrupção, a
concorrência será sempre desleal”, concluiu Machado.
A questão ética, além de ser um tema incorporado às
A meta é capacitar 100% dos funcionários ainda este ano.
práticas empresariais através da difusão de conceitos de
responsabilidade social, hoje é também uma questão de
saúde e sustentabilidade do próprio negócio. O Brasil está em 80º lugar no último ranking de corrupção
O Programa Global de Combate à Corrupção do Wal-Mart é 2008 divulgado em setembro pela ONG Transparência
composto de mais três ações em diferentes frentes. O primeiro Internacional. A instituição classifica 180 países com base
módulo passa pela formalização de políticas e procedimentos na percepção de corrupção entre autoridades públicas e
internos, treinamentos para todos os colaboradores no Brasil e a políticos, criando o Índice de Percepção de Corrupção
identificação dos parceiros contratados para atuar em nome da referência no mundo. Mesmo com a manutenção do
empresa perante qualquer autoridade pública no país. Uma vez índice em 3,5, o Brasil aparece atrás de países como Butão,
implantada a primeira etapa do programa, o módulo seguinte Botsuana, Gana e Seicheles na lista da ONG.
visa a transparência e deve viabilizar a criação de um software que Em 2008, o treinamento está sendo estendido a todos os
permitirá a centralização de todas as informações e documentos funcionários. Foi produzido um DVD de 30 minutos com
gerados por cada país pelo Departamento Jurídico nos Estados orientações específicas para o dia-a-dia dos colaboradores,
Unidos. O terceiro módulo consiste em um programa de auditoria exemplificando situações que eles vivem no cotidiano.
intenso que contará com a participação de equipes internas
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 17
18. Os desafios da sustentabilidade empresarial
A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada
de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas
As ferramentas utilizadas pelas empresas
Os indicadores com maior evolução
As conquistas já alcançadas pelo movimento
18 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
20. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
Os desafios da sustentabilidade empresarial
No 15°andar de um imponente prédio na Avenida Paulista, o diretor de responsabilidade corporativa de uma grande
empresa faz os últimos ajustes na apresentação do relatório de sustentabilidade 2007. Esse foi um ano decisivo para os
negócios e faltam poucos minutos para mostrar aos acionistas os resultados consolidados no relatório. A tarefa dele é
apresentar a executivos acostumados a excelentes resultados financeiros as novas diretrizes de sustentabilidade a que a
empresa busca se alinhar a partir deste ano e que resultarão em escolhas importantes nos negócios.
Pauta recorrente na mídia e tema de dezenas de eventos e do Brasil, Gazeta do Povo (PR), Estado de Minas, Zero Hora (RS) e
palestras, a sustentabilidade empresarial desgasta seu discurso, Correio Braziliense (DF). As matérias tiveram tom positivo em 91% dos
irritando céticos, mas ainda enchendo de esperanças os otimistas, casos, nestes quatro meses, correspondendo a 96 páginas de jornal
que acreditam no papel das empresas na construção de um e 45 páginas de revista. Matérias negativas representaram menos
mundo melhor. O fato é que a incorporação de critérios sociais e de oito páginas nos jornais e não tiveram representação nas revistas
ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a pesquisadas – entre elas Exame, Veja, Isto É, Época e Carta Capital.
ser alcançado e existe o risco de que o tema se perca em marketing
Uma estratégia do movimento pelo desenvolvimento sustentável
institucional antes mesmo de fazer parte da gestão estratégica
é a valorização das boas práticas realizadas pelas empresas, para
da maioria das empresas. No Brasil, que ganha cada vez mais
que sirvam de referência e estimulem outras boas iniciativas.
visibilidade nesse universo, a pouca evolução dos indicadores é
A disseminação do tema na imprensa é uma das conquistas
um sinal do longo caminho que temos a percorrer.
alcançadas. Mas no Brasil, país do contra-senso em cada um
Segundo pesquisa realizada pela Aberje, Associação Brasileira dos itens do tripple bottom line, a contradição se faz quando
de Jornalismo Empresarial, o tema foi pauta de 256 matérias no cada pequena conquista é anunciada aos quatro ventos como
período de fevereiro a maio de 2008, pesquisado junto às mídias um caso de sucesso, enquanto os indicadores socioambientais
impressas de grande impacto, como O Estado de São Paulo, Folha não mostram melhorias significativas. O risco maior para todos
de São Paulo, Gazeta Mercantil, Valor Econômico, O Globo, Jornal que trabalham seriamente pela melhoria dos indicadores é o
marketing pouco responsável, com o qual empresas querem ter sua
imagem associada ao conceito ‘sustentável’ e levantam a bandeira
assinando um slogan e investindo milhões em campanhas. Mesmo
quando a intenção é apenas disseminar a idéia, cada ação como
essa constrói para todo o movimento um imenso telhado de vidro
e expõe as fraquezas de todas as empresas.
As recentes declarações de algumas personalidades
envolvidas no movimento podem ajudar a compor
esse cenário. Ricardo Young, presidente do Instituto
Ethos, a principal instituição referência brasileira em
sustentabilidade, afirmou que ainda há uma grande
distância entre o discurso das empresas e a aplicação
prática de boas intenções. Georg Kell, diretor do
Pacto Global, a iniciativa da ONU voltada para a
promoção da responsabilidade socioambiental das
empresas, disse que a sustentabilidade ainda não
entrou com profundidade na estratégia das empresas.
O economista Gustavo Pimentel, gerente de ecofinanças
da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, afirma que
as estratégias socioambientais evoluem no setor financeiro
de forma mais lenta do que anuncia o marketing dos bancos.
20 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
21. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
GRI já são utilizadas por 1.500 instituições no mundo. No Brasil
Os principais desafios da a adesão tem sido crescente: em 2007, setenta e duas empresas
sustentabilidade empresarial: elaboram seus relatórios nesse padrão. Dentro dos critérios criados
pela GRI é possível avaliar os indicadores que apresentam avanços
e os indicadores mais atrasados no Brasil, excluindo-se, é claro,
Os clássicos
- aplicar os critérios ambientais e sociais a cada processo aqueles pouco aplicáveis, já que a referência é mundial.
de tomada de decisão O levantamento Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS)
- comprovar os resultados dos projetos e iniciativas 2008, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- convencer a alta cúpula da importância de (IBGE) com cruzamento de dados de 60 pesquisas, mostra que,
investimentos sustentáveis
nos últimos anos, os maiores avanços do país ocorreram na área
- engajar e dialogar com os principais públicos econômica. O que não é pouco, já que a distribuição de renda é
de relacionamento
um dos fatores principais para a promoção do desenvolvimento
sustentável em qualquer lugar do mundo.
Os atuais
O problema é que os avanços param por aí. No Brasil, enquanto
- coerência entre o discurso e a prática
as mulheres representam 40% da População Economicamente
- timing: monitoramento e melhoria de indicadores
Ativa (PEA), elas ocupam somente 35% das vagas de emprego.
- conceito departamentalizado: sustentabilidade é
Enquanto mais da metade da população brasileira é negra e outros
responsabilidade de toda a empresa e não de uma área.
13% têm alguma deficiência, só 3,5% e 0,4% dos cargos de
direção são ocupados pelos negros e deficientes, respectivamente.
Os futuros
“Os números indicam que não há inclusão nas empresas. Nem
- separar o joio do trigo: quais empresas estão realmente
as leis estão sendo aplicadas corretamente”, conclui Ricardo
alinhadas e o que é só marketing
Young, lembrando que já existe legislação que prevê a reserva de
- persistência: continuar a evolução de indicadores enquanto
os resultados só aparecem a médio e longo prazo vagas de emprego em empresas com mais de 100 funcionários para
trabalhadores com deficiência. Dados de levantamentos citados pelo
- perseverança: manter o movimento em alta, apesar da
lentidão dos resultados e do desgaste natural do tema. próprio Young apontam que há, aproximadamente, 1,4 milhão de
crianças exercendo alguma atividade de trabalho no Brasil. Maranhão
e Piauí têm 18% das suas crianças trabalhando e o Ceará tem 17%,
bem acima da média nacional. A taxa brasileira é de 11%.
Um indicador de difícil evolução para qualquer empresa do mundo
hoje é o que se refere à responsabilidade sobre os fornecedores
e à criação de uma cadeia de valor sustentável. As condições de
trabalho nos países asiáticos e a oferta de produtos que chegam
ao mercado às custas da violação aos Direitos Humanos ou sem
cumprimento de qualquer legislação ambiental, é uma realidade a
ser enfrentada por empresas de todos os portes.
No Brasil, as discussões acabam refletindo na Amazônia. Uma lei
criada pelo Ministério do Meio Ambiente, em junho, diz que todas
as grandes empresas que atuam em território amazônico terão
que apresentar a lista de seus fornecedores até o final do ano.
Indicadores básicos ainda em evolução Siderúrgicas, frigoríficos e madeireiras estão sendo notificados
Os indicadores de sustentabilidade apresentam diferentes versões pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
e subdivisões. O padrão mais respeitado hoje, para publicação de Renováveis (Ibama) sobre o procedimento. O objetivo é tornar as grandes
relatórios, é o da Global Reporting Initiative (GRI). As diretrizes empresas co-responsáveis por crimes ambientais da sua cadeia.
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 21
22. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
O desafio da evolução de indicadores
Estratégias de combate às mudanças climáticas, aumento da Mas se os indicadores da GRI são complexos para qualquer
eficiência energética, desenvolvimento do capital humano, empresa, quando aplicados à realidade brasileira, a dificuldade
gestão do conhecimento, relacionamento com acionistas e é ainda maior. Mesmo para os indicadores mais básicos, o país
governança corporativa são alguns dos indicadores avaliados pela ainda tem uma difícil lição de casa a fazer. Quando o indicador é o
GRI. No Brasil, os indicadores mais aplicáveis podem ser classificados, vergonhoso trabalho escravo, impensável para qualquer empresa
segundo o nível de evolução das empresas: que fale de responsabilidade social, os dados mostram que,
só em 2007, 5.975 trabalhadores foram libertados
Os básicos: Os indicadores de dessa condição em 115 ações realizadas pelo
desempenho ambiental obrigatórios Ministério do Trabalho, sendo citadas
para as empresas que optam por como responsáveis 179 empresas
relatar no nível C da GRI ainda brasileiras. Segundo
são os mais simples: como levantamento realizado
consumo de energia e água. pela Organização
Os demais aspectos da Internacional do
responsabilidade Trabalho e o Instituto
ambiental são Ethos, a pecuária bovina
difíceis de ser da Amazônia é responsável
relatados pela por mais de 50% dos
maioria das empreendimentos que usam
empresas, trabalho escravo no país.
ou por falta
Reconhecendo as
de histórico
conquistas
e medição,
ou por falta de Embora a realidade seja muito
conscientização da diferente do que anunciam as
necessidade de mitigação campanhas institucionais e do
dos impactos ambientais. que os prêmios se esforçam
Os evoluídos: Os indicadores de para estimular, os primeiros
desempenho econômico também são passos têm sido dados
um desafio para a maioria das empresas, pelas empresas e indicam o
mas estão mais evoluídos devido a tradição de potencial de evolução das
publicação do Ibase, o padrão do Instituto Brasileiro práticas sustentáveis no país.
de Análise Sócio-Econômica. Os indicadores relacionados Algumas empresas brasileiras
aos fornecedores locais ainda são raros nas publicações. têm sido reconhecidas
Os avançados: indicadores de desempenho social, que dizem internacionalmente por seu
respeito à gestão do público interno, como práticas trabalhistas conjunto de ações nesta direção
e direitos humanos, exigidos pela legislação brasileira, acabam e impulsionam seus fornecedores a alinhar suas estratégias de
se tornando o centro dos relatórios de sustentabilidade. Mesmo gestão. Entre os importantes resultados estão o número de
assim, sair do nível inicial de comprometimento ainda é difícil. relatórios de sustentabilidade publicados, o lançamento de
Os maiores desafios são os indicadores que dizem respeito produtos com impacto ambiental reduzido e o fato de que o
a práticas anti-corrupção e à transparência em relação às desempenho em sustentabilidade começa a se tornar parâmetro
contribuições para campanhas políticas. para investidores em índices.
22 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
23. 013201_21x28_326_DL.pdf August 29, 2008 17:39:00 1 de 1
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24. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
de Trabalho organizado pela FGV, com certificação da própria
GRI, lançou no final de junho uma publicação para facilitar a
compreensão de relatórios de sustentabilidade GRI . O grupo
busca proporcionar às empresas um espaço para troca de
experiências e discussão dos desafios em torno deste processo,
ainda pouco compreendido. O objetivo é que o maior número de
empresas, stakeholders e ONGs tenham acesso aos indicadores.
Com a tema “o que você não mede, não pode gerenciar, e
o que você não gerencia, não muda”, a intenção da GRI é
ser uma ferramenta que aponte caminhos de gestão, incentive a
transparência na prestação de contas das empresas, abordando
os impactos sociais e ambientais das organizações.
Apesar do aumento do número de relatórios, os conteúdos ainda
têm um longo processo de melhoria a percorrer. Segundo a GRI,
um dos desafios enfrentados pelas empresas que decidem fazer
seus relatórios de sustentabilidade é definir quais aspectos devem
Os índices de sustentabilidade têm por objetivo reunir as
ser relatados e saber se eles atendem às demandas dos leitores.
empresas que atuam como promotoras das boas práticas no meio
empresarial. A Bolsa de Nova York é pioneira com a criação, em Segundo a pesquisa Readers’ Choice Awards, realizada pela GRI,
1999, do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Outras bolsas os leitores esperam que os relatórios mostrem o aprendizado
pegaram carona no movimento e estabeleceram seus próprios das organizações por meio de suas falhas e incluam mais os
índices, como são os casos da Bolsa de Londres, que criou o stakeholders no processo de levantamento de dados. Já os
FTSE4Good (Footsie for good) em 2001 e a de Johanesburgo, investidores desejam relatórios concisos e com foco nas questões
com o JSE (2003). A metodologia desenvolvida pelo Índice Dow mais relevantes para a empresa, sugerindo que os indicadores
Jones de Sustentabilidade seleciona 10% das 2500 companhias
líderes na prática desse conceito em 58 setores e tem registrado
um retorno anual de 16,1%, enquanto o Morgan Stanley Capital
Index (MSCI), por exemplo, tem retorno de 15,6% ao ano.
Esses índices funcionam como uma espécie de selo de qualidade
e o reconhecimento mundial facilita a disseminação por aqui.
Seguindo a tendência, a Bovespa criou em 2005 o Índice de
Sustentabilidade Empresarial (ISE) brasileiro. Com 32 empresas
de 13 setores, somando 40 ações e um valor de mercado de R$
927 bilhões, o ISE representa cerca de 40% da capitalização da
Bovespa. Mas o índice ainda tem uma alta alternância de empresas
presentes, sendo alvo de críticas e desconfiança.
Relatório e transparência
O número cada vez maior de adesão das empresas brasileiras
às diretrizes da GRI é outra importante conquista que merece
ser destacada. Uma iniciativa que deve ampliar ainda mais esse
número foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas. Um Grupo
24 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
25. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
Como melhorar o processo de elaboração do relatório de sustentabilidade, segundo a GRI:
1 2 3
Prepare – esta fase envolve o Conecte-se/engaje – fase de Defina – seleção de temas sobre
planejamento do relatório, o identificação, priorização e os quais a empresa vai atuar, de
desenvolvimento de um plano de diálogo com os stakeholders. acordo com suas estratégias e
ação para cumpri-lo, o estabelecimento com os desejos de seus stakeholders.
de datas e a definição da equipe que vai
participar do processo.
4 5 6
Monitore – coleta e análise das Relate – organização das Execute – fase de criação e
informações que vão compor o informações adquiridas em todas implantação dos planos de ação
relatório de sustentabilidade. as etapas anteriores no relatório advindos do diagnóstico efetuado.
propriamente dito.
sejam usados de forma mais consistente socioambiental impactou os negócios investir em ações sociais que beneficiam
para facilitar a comparabilidade entre menos do que deveria e não construiu o a comunidade de entorno, promovem
os relatórios de diferentes empresas e da valor se esperava. Mas é fato que o setor o desenvolvimento social, criando uma
mesma empresa de um ano para o outro. empresarial é um agente importante na parceria que também favorecerá a
promoção das mudanças necessárias, estabilidade da empresa e a qualidade de
Outro ponto destacado é a necessidade de por ser detentor de enormes recursos
vida de seus funcionários. Organizações
transparência e coerência: 80% dos leitores financeiros, econômicos e tecnológicos,
que adotam práticas de governança
afirmam ficar com uma visão mais positiva bem como por sua influência política e
corporativa tendem a aumentar o valor de
da organização quando essa assume seus capital intelectual.
suas ações, e assim por diante.
problemas e falhas. “Cada vez mais as Mesmo com pouco esforço, a maioria
A contribuição das empresas será
empresas vão reportar não só aquilo que das empresas parece já ter compreendido
os porquês da sustentabilidade. As determinante para mudanças estruturais
fazem de positivo, mas também os seus
mudanças necessárias não refletem nos modelos atuais de produção e
desafios. Do contrário, a impressão que
apenas em benefícios para a sociedade, consumo, um novo paradigma que deverá
se tem é que a companhia está tentando
mas também para seus próprios negócios. ocupar os corações e mentes dos gestores.
passar uma imagem de que é perfeita,
As empresas que agem de forma ética, A sustentabilidade é um compromisso
o que gera desconfiança nos leitores por exemplo, contribuem para a criação com o futuro; não é uma meta que
de que ela não está informando tudo o de um mercado baseado na concorrência possa ser atingida, mas um caminho
que deveria”, conclui a representante da leal, preservando sua marca e reputação. que as organizações devem trilhar. Este
organização no Brasil, Gláucia Térreo. Ao valorizar a diversidade, colaboram compromisso com o futuro se expressa
para que a discriminação não seja uma
Perspectivas futuras barreira para a atração e retenção de
de diversas maneiras e em distintos graus
dentro das organizações. O fundamental
Segundo especialistas da Anders & Winst talentos e contribuem para a redução
é que permeie sempre qualquer decisão
Company, importante escritório internacional das desigualdades sociais. Empresas
dentro dos processos de gestão.
de consultoria em sustentabilidade, nos que adotam práticas de ecoeficiência
próximos cinco anos muitas empresas tendem a reduzir seus custos, utilizando
deverão reconhecer que a responsabilidade menos recursos naturais do planeta. Ao
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 25
26. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
pelo Reputation Institute, de Nova York. A participação da
Petrobrás nos índices Dow Jones de Sustentabilidade e no ISE
da bolsa brasileira ampliou o acesso a um mercado potencial de
investidores em empresas social e ambientalmente responsáveis. O
reconhecimento foi atestado pelo instituto de pesquisa de mercado
e opinião pública Marketing Analysis. A pesquisa apresenta
os resultados do levantamento que aponta as dez melhores e
piores companhias em Responsabilidade Social atuantes no país.
A Petrobrás foi a mais bem avaliada com 19,8%. A empresa
também ganhou o prêmio “Prêmio GRI por escolha dos leitores”
(GRI Reader’s Choice Awards) por sua transparência e evolução
no relatório de sustentabilidade. Mas todo esse reconhecimento
coloca a empresa na vitrine e expõe dilemas e contradições.
Durante a última Conferência Internacional Ethos, a empresa
precisou responder porque ainda não cumpriu a meta de redução
de enxofre em seu diesel. A meta visa reduzir o enxofre no diesel
para 50 ppm, valor duas vezes mais alto que o estabelecido em
As empresas vitrine
países que contém essa política de redução.
Real - Desde que abraçou esse tema, no início da década, o
Natura - Pioneira na implantação do conceito da sustentabilidade,
Banco Real avançou de forma consistente na integração de
a Natura é uma das empresas que está em uma nova fase da
princípios sustentáveis à sua estratégia de negócios. Criou uma
busca pela evolução: diminuiu suas ações de divulgação da marca
área dedicada à avaliação de riscos socioambientais, linhas de
vinculadas ao tema e aumentou o investimento na melhoria de
financiamento para empresas interessadas em melhorar seus
seus indicadores. Ser vitrine da sustentabilidade tornou a empresa
padrões de atuação e produtos sustentáveis para pessoas físicas.
alvo fácil de críticas e levou a importantes decisões, como a redução
Criou também um programa de microcrédito e o primeiro fundo
de gases geradores do efeito estufa em sua cadeia produtiva e o
de investimentos socialmente responsável do país. Iniciativas
fim aos testes em animais em 100% de sua linha de produtos.
como essas foram possíveis por meio da disseminação do conceito
Referência no relacionamento com comunidades produtoras
internamente. Dos 30 mil colaborares no Brasil, cerca de 19 mil já
de seus insumos, a empresa tem parceria com comunidades da
passaram por treinamentos sobre desenvolvimento sustentável. O
Amazônia e da Bahia, que são treinadas para fazer o extrativismo
banco foi o primeiro a inserir o tema em programas de educação
sustentado de matérias primas. A Natura repassa às comunidades
voltados para quem trabalha na ponta da operação, nas agências.
um percentual da receita líquida proveniente das vendas do
A área de desenvolvimento sustentável do Real, responsável por
produto final. A empresa também é patrocinadora ou apoiadora
disseminar o conceito pela organização, tem 65 pessoas.
de quase todas as iniciativas de promoção e desenvolvimento
Petrobrás - Apontada pelo terceiro ano seguido como a da sustentabilidade no país e todos os anos é destaque entre
empresa mais sustentável do país, a Petrobrás tem evoluído os melhores relatórios de sustentabilidade. Em 2007, a empresa
suas práticas, o que se reflete tanto em indicadores como no passou por questões financeiras importantes, fincando abaixo
reconhecimento público. Entre 2005 e 2007, o valor de mercado das expectativas dos investidores. Buscando um novo ciclo de
da Petrobras cresceu 148% e a incorporação da sustentabilidade crescimento, a empresa investe agora em produtos voltados
na estratégia do negócio teve impacto significativo na reputação para crianças, sem abrir mão de seus demais investimentos em
da empresa. Em 2007, a companhia saltou da 83 para a 8 posição sustentabilidade.
no ranking das empresas mais respeitadas do mundo, organizado
26 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
27. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
O papel das
consultorias
Um dos caminhos para a efetiva
implantação de indicadores como forma
de medir e melhorar o desempenho da
empresa é a contratação de consultorias.
O principal papel de uma consultoria
nessa área é conseguir realizar um bom
diagnóstico do estágio de evolução da
empresa e propor soluções viáveis para
a evolução dos indicadores. Alguns dos
critérios para a escolha de uma consultoria:
- alinhamento conceitual: é importante
que a consultoria apresente os conceitos
alinhados com o que pensa e defende a
empresa e as organizações-referência em
sustentabilidade.
- cases: o portfólio de clientes e projetos
já realizados pela consultoria mostra
os trabalhos já realizados e o acúmulo
de experiências bem e mal sucedidas,
fundamentais nesta área.
- consultores: a experiência dos
profissionais-líderes é sempre um importante
diferencial em consultoria empresarial. Mas
é interessante também verificar quem são os
profissionais que realmente devem atuar no
trabalho a ser realizado.
- presença em eventos-referência: a
presença dos consultores em eventos-
referência e congressos contribui para
indicar alinhamento e credibilidade.
- empatia: o processo é longo e é
importante que os consultores sejam
capazes de entender a cultura da empresa e
trabalhar com sua equipe para alcançar os
melhores resultados.
Outubro 2008 Revista Negócio Sustentável 27
28. Capa
Os desafios da sustentabilidade empresarial
Os fornecedores entram no clima impacto ao meio ambiente e traz ganhos para a qualidade da
carne, já que os animais são mais saudáveis. O cuidado ambiental
Pressionados por clientes e seguindo tendências mundiais, as
ajudou a garantir contratos de fornecimento para as redes
empresas fornecedoras buscam se alinhar aos conceitos adotados
Carrefour e Pão de Açúcar.
por seus clientes e contribuem para criação da cadeia de valor
sustentável. O exemplo buscado pelos fornecedores da carne:
Varejo sustentável - O engajamento das redes varejistas
na busca por fornecedores mais sustentáveis é tema de uma
campanha do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
A preocupação sobre as condições de produção da carne, por
exemplo, está levando redes varejistas a investirem na chamada
“carne sustentável’’, produzida em condições menos agressivas
ao ambiente e com respeito às leis trabalhistas. Além de fomentar
boas práticas nas fazendas, o objetivo é o desenvolvimento da
qualidade da carne, com rastreamento da produção e identificação
clara nas lojas.
Wal-Mart - Seguindo as diretrizes mundiais de sustentabilidade,
a rede Wal-Mart passou a pedir que seus fornecedores busquem
se alinhar às boas práticas, melhorando indicadores e minimizando
seus impactos ambientais. Entre outras medidas incorporou ao
Top to Top (encontro semestral entre os gestores de alta hierarquia
da rede com seus pares de mais de 100 empresas fornecedoras,
entre elas as principais fornecedoras de carnes) a proposta de
criar ações sociais e/ou ambientais conjuntas.
JBS Friboi - O gigante dos frigoríficos lançou em 2004 uma linha-
piloto de carne orgânica, que hoje representa 3% da produção do
grupo. A carne é oriunda de um grupo de 20 fazendas da região
de Tangará da Serra (MT), que fornecem exclusivamente para a
empresa e cuja produção inclui cuidados com o bem-estar e a
rastreabilidade dos animais. Parte da produção é exportada para
Europa e Oriente Médio.
Asa Alimentos - Empresa integrada de produção de aves e
suínos de Brasília, também vislumbra um mercado para a carne
sustentável. A divisão de suinocultura da companhia, por exemplo,
adotou um sistema de criação de porcos que utiliza camas de
palha nas granjas, um sistema que permite produzir com menor
28 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
29.
30. Consumo consciente
A decisão de compra e a
sustentabilidade das empresas
Pesquisa realizada com exclusividade para a Revista Negócio Sustentável
pela UFR – Unit For Research, confirma que consumidor ainda não exerce
seu poder de compra como forma de incentivar o desenvolvimento sustentável
30 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008