3. Era um alfabeto pessoal.
(As palavras escolhidas tinham de se
relacionar com o autor.)
4.
5. Alguns não viram o meu exemplo.
Extensão tinha de ser razoável. Era um
comentário a propósito de cada palavra
escolhida.
Não se pretendia que dissessem
apenas que gostavam de…
11. Bailia plena de sensualidade e colorido:
no adro da igreja de Vigo, bailava a moça
que nunca antes tinha tido um namorado,
mas que, a partir desse baile, passou a ter.
E está enamorada.
12. Eno sagrado = No adro da ermida
corpo velido = corpo belo
corpo delgado = corpo esbelto
ergas = exceto
13.
14. No processo de leixa-prem:
• o 1.° dístico emparelha com o 2.° dístico,
mudando a palavra rimante (i > a), mas
reproduzindo o sentido;
• no 3.° dístico, o 1.° verso retoma o 2.° verso
do 1.° dístico (processo de leixa-prem,
propriamente dito), acrescentando um verso
novo;
15. • o 4.° dístico retoma o 2.° verso do 2.° dístico
(leixa-prem) e repete, com variação, o 2.°
verso do 3.° dístico;
• a progressão do pensamento faz-se sempre
no 2.° verso das estrofes/coblas ímpares,
culminando na penúltima estrofe/cobla.
16. Há paralelismo perfeito se o número de
estrofes/coblas for par.
Há várias cantigas de amigo que são
paralelísticas perfeitas, isto é, que
obedecem ao seguinte esquema de
construção:
17.
18.
19. A cantiga de amigo caracteriza-se por
uma a) estrutura estrófica e rítmica que
aproxima a b) poesia da música. Também
o paralelismo c) anafórico (com anáforas),
d) semântico (de significados) e e)
sintático (frásico) e, ainda, o f) refrão
(repetição na íntegra de verso(s) no fim de
cada g) cobla (estrofe) contribuem para a
h) memoriza-ção, essencial ao i) canto.
20.
21. ca = porque
mandado = notícia, mensagem
ferido = campo de batalha
fossado = reunião anual das tropas
Santa Cecília = Ermida de Santa Cecília
22. Como vivo coitada, madre, por meu amigo
ca m'enviou mandado que se vai no ferido:
e por el vivo coitada!
Como vivo coitada, madre, por meu amado
ca m’enviou mandado que se vai no fossado:
e por el vivo coitada!
23. Ca m’enviou mandado que se vai no ferido;
eu a Santa Cecília de coraçon o digo:
e por el vivo coitada!
Ca m’enviou mandado que se vai no fossado;
eu a Santa Cecília de coraçon o falo
e por el vivo coitada!
24. A donzela dá conta à sua mãe da
tristeza em que vive desde que o seu
amigo lhe mandou dizer que vai partir
para a guerra.
28. Vou-m’a la bailia
que fazem em vila,
do amor.
Vou-m’a la bailada
que fazem em casa
do amor.
29. Que fazem em vila
do que eu bem queria
do amor.
Que fazem em casa
do que eu muit’amava
do amor.
30. Do que eu bem queria;
chamar-m’am garrida
do amor.
Do que eu muit’amava;
chamar-m’am perjurada
do amor.
31. A donzela anuncia ternamente à sua
mãe que vai ao baile, na vila, na casa do
seu amado, mesmo sabendo que talvez a
critiquem.
32. A donzela anuncia ternamente à sua
mãe que vai ao baile, na vila, na casa do
seu amado, mesmo sabendo que talvez a
critiquem.
Este é um resumo possível e muito simplista
de uma cantiga (bailia), não só cheia de ritmo,
mas também plena de subtil sensualidade. Para
melhor compreender esta subtileza, o leitor
poderá atentar, por exemplo, na polissemia do
refrão, ou seja, nos diferentes modos como o
refrão se liga ao corpo das estrofes, suscitando
diversas possibilidade de leitura.
33.
34. Se vistes = se vós vistes
Eu vi
Tu viste (*vistes)
Ele viu
Nós vimos
Vós vistes
Eles viram
35.
36. Em «Castigadores da parvoíce» (série
Meireles), uma das atitudes parvas
castigadas é a má flexão de certas
formas verbais.
37. As formas que surgem mal
conjugadas são da 2.ª pessoa do
singular do Pretérito Perfeito dos verbos
«chegar», «vir», «dizer», «fazer»,
«baldar-se». As personagens dizem, por
exemplo, «ouvistes» (em vez de
«ouviste»).
38. As formas em -stes («ouvistes»,
etc.) até podem ser corretas, se
corresponderem à 2.ª pessoa do plural,
que usaríamos se tratássemos alguém
por «vós».
Nos textos medievais que estamos a
ler, a terminação -stes corresponde, é
claro, a esta SEGUNDA PESSOA DO
PLURAL, a forma de tratamento então
usada com interlocutores plurais (e
também para com um só indivíduo com
estatuto especialmente elevado).
41. estives-te (ouvi-sse, anda-mos, leva-va)
estiveste
Toma-se como pronome o que é parte da
forma verbal.
[Saber flexão dos verbos; experimentar
substituir falso pronome. Se fosse
pronome, pondo a forma verbal na
negativa, o pronome ficaria antes do
verbo]
42. pôr vírgula entre o sujeito e o predicado
não pôr vírgula entre o sujeito e o
predicado
Na oralidade, por vezes, fazemos essa
pausa.
[Ter em conta que a pontuação depende
sobretudo da análise da sintaxe, não é
mera equivalência da entoação.]
43. sande de mortandela
sandes (ou sanduíche)
mortadela
Derivação não afixal ainda não aceite —
«sande» seria um singular de «sandes» (e
«sandes» já é uma acomodação popular
do empréstimo «sanduíche»).
Nasalização indevida (talvez por
assimilação ao m- inicial).
45. stander
stand [no pg. do Brasil: estande]
Acomodação ao português de um
empréstimo, assumindo-se ser o final do
étimo semelhante ao de outros
anglicismos.
47. á
à
Esquece-se que o acento usado na
contração a + a é grave.
[Recordar as poucas palavras com este
acento: à, às, àquele(s), àquela(s), àquilo,
àqueloutro(s), àqueloutra(s).]
48. à cinco anos (à tempos, à bocado, à pouco)
há cinco anos
Confunde-se o «há» destas expressões
com a contração de preposição e
determinante.
[Perceber que há sentido de ‘existência’
(«haver»), embora de tempo.]
50. voçê
você
Esquece-se que ci
e ce
nunca levam cedilha.
[Ao contrário de -ça, -ço, -çu — que se
opõem a ca, co, cu — ce e ci contrastam
com que, qui.]
51. há muitos anos atrás
há muitos anos
Faz-se um pleonasmo: «atrás» repete o
que já está implícito em «há».
52. há-des
hás de
Faz-se analogia com outras pessoas do
verbo e dos verbos em geral (a 2.ª
pessoa costuma terminar em -s).
[Recordar que «de» é uma preposição.]
55. fizestes
fizeste
Faz-se analogia com o que é habitual na
2.ª pessoa dos outros tempos verbais
(terminar em -s), o que é favorecido por
já não se usar a 2.ª pessoa do plural (que
é efetivamente em -tes).
[Conhecer o pretérito perfeito.]
56.
57. Tendo em conta o que já sabes sobre
a estrutura paralelística das cantigas de
amigo — e o que indico em Alguns
constrangimentos para criação de uma
cantiga de amigo — cria uma cantiga de
amigo contemporânea.
58.
59. TPC — Conclui (e melhora) a cantiga
de amigo criada. Podes até, se quiseres,
fazer ainda mais algumas estrofes
(cumprindo as características formais que
já conhecemos). Talvez devas usar nova
folha, que me trarás.