A poesia concreta é o primeiro movimento
internacional que teve na sua criação a
participação direta original de poetas brasileiros
como no caso do anterior movimento de
renovação que houve neste século na literatura
brasileira – o movimento modernista de 22 –
também a poesia concreta se constitui em São
Paulo.
Plano-Piloto para Poesia Concreta
ideograma: apelo à comunicação não-verbal. o poema concreto
comunica a sua própria estrutura: estrutura-conteúdo. o poema
concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de
objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. seu
material: a palavra (som, forma visual, carga semântica). seu
problema: um problema de funções-relações desse material. fatores
de proximidade e semelhança, psicologia da gestalt. ritmo: força
relacional. o poema concreto,usando o sistema fonético (dígitos) e
uma sintaxe analógica, cria uma área lingüística específica –
“verbivocovisual” – que participa das vantagens da comunicação
não-verbal,s em abdicar das virtualidades da palavra. com o poema
concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação; coincidência e
simultaneidade da comunicação verbal e não-verbal, coma nota de
que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-
conteúdo, não da usual comunicação de mensagens.
Augusto de Campos, Décio Pignatari
e Haroldo de Campos
Noigrandes, 4, São Paulo, 1958
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te
guie porque eu não posso guiá e viva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá soando
como um shamisen e feito apenas com um arame
tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira
no pino do sol a pino mas para outros não existia
aquela música não podia porque não podia popular
aquela música se não canta não é popular se não
afina não tintina não tarantina e no entanto puxada na
tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria
física e doendo doendo como um prego na palma da
mão um ferrugem prego cego na palma espalma da
mão coração exposto como um nervo tenso retenso
um renegro prego cego durando na palma polpa da
mão ao sol circuladô de fulô ao deus ao demodará que
deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já
me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá...
Galáxias – Haroldo de Campos
rua rua rua sol
rua rua sol rua
rua sol rua rua
sol rua rua rua
rua rua rua
Ronaldo Azeredo