SlideShare a Scribd company logo
1 of 11
Download to read offline
Apoio:
Curso: Reabilitação Urbana com foco em Áreas Centrais
Módulo 1 – Unidade 1
Um breve histórico do planejamento urbano no Brasil
1 – O contexto: rápido crescimento urbano x planejamento
Em pouco mais de 50 anos, saímos de um país majoritariamente rural1
para um
país urbano, que apresenta 81% da população, estimada em 170 milhões pelo IBGE
(Censo IBGE, 2000), habitando as cidades.
O expoente máximo deste rápido processo de urbanização brasileiro, é a cidade
de São Paulo, que por volta de 1886 possuía cerca de 50 mil habitantes e chegou a 1922
com uma população estimada em 580 mil pessoas. Vinte anos mais tarde a cidade já se
encontrava com 1,3 milhões de habitantes (ROLNIK, 1997: 19) e, segundo dados do
IBGE (Censo IBGE, 2000), a população estimada é de 10,5 milhões.
O crescimento acelerado das áreas urbanas não foi, no entanto, uma prerrogativa
das grandes cidades. No mesmo período, observamos no Brasil o surgimento de
metrópoles mundiais, como São Paulo e Rio de Janeiro, de metrópoles nacionais e
regionais, como Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Cuiabá, Porto Alegre e Belém e
de cidades de médio porte que se tornaram referências em suas regiões, a exemplo de
Campina Grande, Feira de Santana, Caruaru, Mossoró e Sobral. Além disso, houve um
aumento significativo do número de municípios no país e da população em geral.
Essa transformação no perfil de urbanização do país deixa claro, através de
números, o processo de inchamento populacional das cidades que não foi, entretanto,
acompanhado por um incremento na infraestrutura disponível, comprometendo as
condições de vida oferecidas à população. Termos como favelização, cortiços,
problemas urbanos, transporte de massa, caos urbano, planejamento urbano, planos
1
Por volta de 1950, 33 milhões de pessoas habitavam o campo, contra 19 milhões que habitavam as
cidades (GOUVÊA, 2005: 30).
Apoio:
urbanos, esvaziamento dos centros, diagnóstico dos problemas da cidade, dentre outros,
passam a fazer do vocabulário dos que vivem, governam e estudam as cidades.
É dentro deste contexto de grandes transformações e mudanças - que envolvem
não só os aspectos qualitativos e quantitativos das cidades brasileiras, mas também todo
o contexto político, econômico, legal e social do país -, que devemos buscar
compreender a história do planejamento urbano do Brasil, com objetivo formular uma
leitura crítica do passado e uma construção mais sólida, real e exeqüível para o futuro.
2 – Planejamento urbano: o que é?
Segundo José Afonso da Silva (2006), planejamento “é um processo técnico
instrumentado para transformar a realidade existente no sentido de objetivos
previamente estabelecidos” (SILVA, 2006: 89).
Csaba Dea´k (1999), em seu livro O Processo de Urbanização no Brasil, observa que
(...) foi a partir do segundo quartel deste século que a escala alcançada pela
urbanização começou a provocar iniciativas por parte do Estado e
modificações na administração pública. Um dos resultados nesse sentido é o
aparecimento de uma nova atividade governamental com a finalidade
específica de tratar dessas novas entidades que estavam surgindo: as
aglomerações urbanas. É o nascimento do planejamento e, particularmente,
do planejamento urbano, cujos primórdios podem ser situados no Estado
Novo – no advento do qual Otávio Ianni via, significativamente, a
consolidação de ‘uma vitória importante [...] da cidade sobre o campo.
(DEÁK; SCHIFFER, 1999: 12)
Ao contrário do que muitos pensam, o planejamento urbano no Brasil não se
inicia na década de 1950, período em que o Brasil passa a ser um país majoritariamente
urbano. Verifica-se seu início, em que pese ainda não haver uma denominação formal
de “Planejamento Urbano” e nem estruturas formais nas administrações públicas, no
último quartel do século XIX. Na época, preocupações com a saúde da cidade
(higienismo), a necessidade do rompimento com o passado colonial e a adesão ao
Apoio:
“moderno” e a ascensão de uma nova classe dominante (que demandou o
“embelezamento das cidades”), começam a propiciar intervenções nas cidades.
Villaça (1999) divide em três períodos a história do planejamento urbano no
Brasil: o primeiro inicia-se no final do século XIX, por volta de 1875 e vai até o ano de
1930. O segundo vai de 1930 até por volta de 1992, ano em que se inicia o terceiro
período e que perdura até o fim do século XX.
Podemos acrescentar, ao esquema proposto por Villaça, um quarto período que
inicia-se em 2001, com a aprovação do Estatuto da Cidade, legislação que regulamenta,
ratifica afasta qualquer dúvida, porventura existente, sobre a validade e/ou
aplicabilidade das diretrizes da nova ordem jurídico-urbanística no país, introduzida
pela Constituição de 1988, através do conceito de função social da propriedade..
2.1 – O primeiro período: 1875 – 1930.
O início do primeiro período - ou como afirma Villaça (1999), o nascimento do
planejamento urbano no Brasil - se dá em 1875, quando a então “Comissão de
Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro”, criada em 1874 pelo Ministro do Império
João Alfredo Correa de Oliveira, apresenta seu primeiro relatório, no qual são utilizados
pela primeira vez dois conceitos-chave: o de plano e o de conjunto geral ou global,
associados ao espaço urbano” (VILLAÇA, 1999: 194-195).
Este é o período dos planos de “melhoramentos e embelezamentos”, baseados
nas intervenções urbanas com “pretensões científicas” se iniciaram ao final do século XIX
nas grandes metrópoles européias, com o plano de extensão de Barcelona e o Plano de
Haussmann, em Paris 2
. É a proposta da nova classe dominante, que “rejeita” o passado
colonial e usa o planejamento para impor a sua ideologia. Neste período surgem as
grandes avenidas, praças e monumentos.
2
O urbanismo científico idealizava uma “era da máquina”, com cidades cartesianas e geométricas,
iluministas, que modificariam a sociedade por meio da reforma urbana. (PELUSO, 2003: 6)
Apoio:
Assim, no fim do século XIX e início do século XX, no Brasil a cidade era vista,
como:
(...) o locus de uma nova civilidade forjada ‘à européia’, em torno da qual
se estruturou um processo de modernização que conjugava regeneração,
reforma e saneamento moral e físico da sociedade brasileira. Para
inscrever-se no ‘concerto das nações’, o país deveria civilizar-se, isto é,
sintonizar-se com a Europa, promover uma cultura urbana moderna,
capitalista, do trabalho assalariado, do mercado (HERSCHMANN e
PEREIRA, 1994), muito embora – como amiúde aconteceu – se obrigasse a
moldar cenários que escondiam, pela segregação sócio-espacial, os
elementos denunciadores da persistência do ‘atraso’ que, dizia-se, queriam
superado.3
Conjuga-se, portanto, o higienismo4
e a necessidade de afirmação da nova classe
dominante para criar novas cidades, agora modernas e progressistas. Ressalta-se, que
não há preocupação, até então, com todos os habitantes das cidades. Aqueles que, por
exemplo, não podiam fazer melhoramentos nos seus imóveis propostos pelas Comissões
Sanitárias ou não podiam tê-los, eram colocados à margem da cidade bela, moderna e
sadia. Marcam este período, as Reformas de Pereira Passos (1903 – 1906), ocorridas no
Rio de Janeiro.
Nesse sentido, cabe destacar que a ação realizada por Pereira Passos é
emblemática para a história do planejamento urbano no país, pois traz dois elementos
importantes do urbanismo: a sua primeira fase higienista no qual predominavam os
médicos sanitaristas, e a segunda fase na qual os engenheiros e técnicos buscavam
soluções para o saneamento e a circulação na cidade, além da preocupação com o
padrão construtivo.
No caso do Rio de Janeiro, o resultado perverso da intervenção do poder público
foi a remoção da população mais pobre do centro, o que fez com que os morros ao redor
fossem ocupados, já que os terrenos no centro da cidade ficaram supervalorizados
4
O higienismo é uma doutrina que nasce com o liberalismo, na primeira metade do século XIX quando os
governantes começam a dar maior atenção à saúde dos habitantes das cidades. Considerava-se que a
doença era um fenômeno social que abarcava todos os aspectos da vida humana. Havia, portanto, a
necessidade de manter determinadas condições de salubridade no ambiente da cidade mediante a
instalação de adução e tratamento da água, esgotos, iluminação nas ruas e etc. Tais preceitos justificaram
grandes intervenções urbanas que culminaram com a expulsão da população mais pobre dos centros
urbanos.
Apoio:
depois da reforma. Esse processo deu inicio ao crescimento da “cidade informal”, com o
surgimento de favelas e a ocupação sucessiva de áreas de risco pela população pobre..
2.2 – O segundo período: 1930 – 1992
O segundo período inicia-se na década de 1930, momento da história nacional
em que se verifica um aumento na organização e consciência das classes operárias e um
consequente “enfraquecimento” das classes dominantes. Este fato se reflete na
Revolução de 30, que marca o da República Velha e da hegemonia política da burguesia
do café. As conseqüências das mudanças econômicas e sociais trazidas pela Revolução
de 1930 refletiram-se no planejamento urbano no Brasil, na medida em que surge a
necessidade de reprodução do capital imobiliário na cidade, ou seja, a cidade passa a ser
vista como força de produção. Deixa-se a cidade bela, para buscar-se a cidade eficiente.
O crescente aumento da consciência operária fez com que crescessem as críticas
à “derrubada” de bairros inteiros de casebres e a construção de novos bairros, que só
atendiam ao capital imobiliário e não aos anseios das classes populares urbanas.
Neste momento, os planos passam a uma nova fase: “É o período do plano
intelectual, que pretende impor-se e ser executado por que contém ‘boas idéias’, tem
base científica e é correto tecnicamente. É o plano-discurso que se satisfaz com sua
própria ‘verdade’ e não se preocupa com sua operacionalização e sua exeqüibilidade.
Sua ‘verdade’ bastaria.” (DEÁK; SCHIFFER, 1999: 204).
Villaça (1999) divide este período em três sub-períodos, os quais trataremos a
seguir.
2.2.1 – 1º Sub-período – O urbanismo e o Plano Diretor (1930-1965)
No ano de 1930 tem-se a divulgação dos planos para duas maiores cidades do
Brasil, que trazem como novidade o destaque para infraestrutura e o transporte.
Apoio:
Conforme Villaça (1999), em que pese à “novidade” acima citada, mantém-se “(...) o
interesse pelas oportunidades imobiliárias que as remodelações urbanas oferecem, e
nesse sentido o centro da cidade ainda é o grande foco de atenção dos planos. No
discurso, entretanto, pretende-se abordar a cidade inteira.” (VILLAÇA, 1999: 206).
Marcam este período os Planos Agache, para o Rio de Janeiro, e o de Prestes Maia, para
São Paulo.
Este período “(...) é marcado pela passagem do planejamento que era executado
para o planejamento-discurso. Nascem expressões como caos urbano, crescimento
descontrolado, e necessidade de planejamento, para tentar justificar a falta de soluções
para os “problemas urbanos”. (VILLAÇA, 1999: 206).
2.2.2 – 2º Sub-período – Planejamento Integrado e os Superplanos (1965-1971)
Segundo essa concepção de planejamento, a cidade não poderia ser
encarada apenas em seus aspectos físicos. Os problemas urbanos não
poderiam limitar-se ao âmbito da engenharia e da arquitetura. A cidade –
passa a pregar a ideologia dominante – é também um organismo econômico
e social, gerido por um aparato político-institucional. Os planos não podem
limitar-se a obras de remodelação urbana: eles devem ser integrados tanto
do ponto de vista interdisciplinar como do ponto de vista espacial,
integrando a cidade em sua região. Sem isso não seria possível resolver os
‘problemas urbanos’ que se avolumavam. (VILLAÇA, 1999: 211-212).
Este período ratifica o que já se mostrava claro no Plano Agache: o distanciamento entre
os planos e a realidade posta nas cidades. Conforme explicita Villaça (1999), este
distanciamento atingirá seu apogeu com os Superplanos, que se caracterizam pelas
idéias de globalidade, de sofisticação técnica e interdisciplinaridade do planejamento.
São características dos Superplanos:
Apoio:
a- “Distanciamento crescente entre, de um lado, os planos e suas propostas
e de outro, as possibilidade de sua implementação por parte de
administração pública”
b- “Pelo seu conflito com uma administração pública crescente setorizada e
especializada, principalmente se considerarmos que vários planos emitiam
recomendações endereçadas aos vários órgãos das esferas municipal,
estadual e federal”; e
c- “Outra manifestação da alienação dos planos integrados está na idéia de
sua ‘aprovação’ e ‘execução’.” (VILLAÇA, 1999: 212-213).;
Surge uma nova forma de abordagem, conduzida agora institucionalmente pelo
SERFHAU – Serviço Federal de Habitação e Urbanismo, que gerenciava o Sistema
Nacional de Planejamento para o Desenvolvimento, que tinha por finalidade “induzir os
municípios brasileiros a elaborarem planos diretores”. “Nasce” a indústria dos Planos
Diretores.
Uma característica destes Planos nos é explicitado por Villaça (1999), ao afirmar que
(...) estes planos foram elaborados de maneira totalmente diversa dos
planos do século passado e do de Prestes Maia. Enquanto estes
consolidavam o pensamento dominante em sucessivas administrações
municipais e estaduais, sendo elaborados dentro das prefeituras, os
superplanos são peças da mais pura tecnocracia, elaborados por
especialistas de escritórios privados. Essa prática dominou o período do
Serfhau. (VILLAÇA, 1999: 216).
2.2.3 – 3º Sub-período – O Plano sem Mapa (1971-1992)
Nos anos de 1970, os planos passam da complexidade, do rebuscamento
técnico e da sofisticação intelectual para o plano singelo, simples – na
verdade, simplório – feito pelos próprios técnicos municipais, quase sem
mapas, sem diagnósticos técnicos ou com diagnósticos reduzidos se
confrontados com os de dez anos antes. Seus dispositivos são um conjunto
de generalidades. Novamente, o plano inconseqüente.
Com a expressão ‘plano sem mapa’ pretende-se designar o novo tipo de
plano que a ideologia dominante inventou nas usas constantes tentativas de
dar a impressão de que está cuidando do planejamento e ‘aperfeiçoando-o’
continuamente. O novo tipo de plano apresente ‘apenas objetivos, políticas
e diretrizes’. Já que é assim, o diagnóstico e a grande quantidade de mapas
e estatísticas são dispensados.
O Plano sem Mapa em geral enumera objetivos, políticas e diretrizes os
mais louváveis e bem-intencionados possíveis. Com isso elimina as
discórdias e oculta os conflitos.
(...)
Apoio:
O planejamento urbano no Brasil passa a ser identificado com a atividade
intelectual de elaborar planos. Uma atividade fechada dentro de si própria,
‘desvinculada das políticas públicas e da ação concreta do Estado’, mesmo
que, procure justificá-las. Na maioria dos casos, entretanto, na verdade,
ocultá-las. (VILLAÇA, 1999: 221).
2.3 – O Terceiro Período: 1992 – 2001:
Por fim, tem-se o terceiro período que se inicia na década de 1990 e que
entendemos vigorar até 2001, quando é promulgado o Estatuto da Cidade. Este é fruto
dos vários movimentos pela reforma urbana, iniciados em 1963, quando da realização
do Seminário de Habitação e Reforma Urbana, realizado em Petrópolis. Tem como
ponto marcante a inserção, por meio de uma Emenda Popular (Emenda pela Reforma
Urbana), na Constituição Federal de 1988, dos artigos 182 e 183, que pavimentam em
definitivo uma nova fase para a questão urbana no Brasil.
Mesmo sem ter uma regulamentação dos artigos, várias cidades, dentre as quais
destacamos Recife e Porto Alegre, tentaram por em prática os princípios estabelecidos
por essa nova ordem urbanística estabelecida pela Constituição de 1988. A insegurança
jurídica e a mentalidade dos operadores do direito e dos governantes, ainda vinculada
aos aspectos tradicionais absolutos da propriedade urbana contidos no Código Civil de
1916, fizeram com que poucos casos práticos tivessem sucesso, em que pese o caráter
desbravador destas iniciativas.
No período procura-se sair dos planos tecnocráticos para os planos políticos.
Busca-se extrapolar, transpor as barreiras dos escritórios técnicos e colocar em
discussão (técnica e política) a cidade real, com seus anseios e vários atores envolvidos.
3 – Conclusão: O momento atual e o futuro.
Com o surgimento do Estatuto da Cidade, treze anos após a Constituição,
ratifica-se a função social da propriedade, a participação social e se estabelecem,
Apoio:
legalmente, instrumentos para valer o direito à cidade “de todos e para todos”,
retomando a idéia do planejamento prévio das ações do Estado, sobretudo através de um
Plano Diretor Municipal elaborado de forma integrada e participativa.
No entanto, após todos os problemas expostos anteriormente, neste momento
podemos nos perguntar: se na história do planejamento urbano no Brasil os planos não
tiveram sucesso, por que insistir em elaborá-los?
A resposta a esta questão não pode ser reducionista ou simplista. Há de ser
analisada à luz da conjuntura de cada momento, ou seja, a conveniência da elaboração
de planos urbanísticos dependerá sempre das arenas de disputa política existentes e de
seus atores, bem como da ideologia dominante, da situação econômica e do grau de
mobilização da sociedade civil, dentre outros aspectos.
Observando as variáveis, colocadas acima, para a definição de um plano urbano,
entendemos que o modelo de planejamento adotado ao longo dos últimos anos não
atingiu seus objetivos, dentre outros fatores por:
- Serem produtos pensados para uma parte da cidade a ser “embelezada”, sem
considerar as pessoas que habitavam os cortiços insalubres ou as áreas degradadas das
cidades;
- Crerem que só os técnicos e “planejadores” urbanos conhecem a cidade e por
isso deles devem partir a solução dos problemas urbanos;
- Desconsiderarem a cidade real e planejarem apenas para a cidade legal/formal;
- Crerem que a supremacia técnica e os documentos por ela elaborados poderiam
reger o crescimento das cidades de forma lógica e racional, sem considerar as forças
sociais dinâmicas que nela atuam; e
- Desconsiderarem o anseio da maioria dos que vivem nas cidades e atenderem a
uma minoria dominante.
No entanto, com a entrada em vigor do Estatuto da Cidade, buscou-se
instrumentalizar a sociedade e o poder público com institutos jurídico/urbanísticos que
corrijam os problemas verificados no passado e possibilitem estabelecer planos que
efetivamente tenham foco na construção de cidades mais justas, sustentáveis e de todos.
Apoio:
Um grande avanço nesse sentido é a inclusão, no Estatuto, do Capítulo IV – Da
Gestão Democrática da Cidade (art.43 a 45 – Lei 10.257/2001), que amplia a idéia de
gestão participativa e compartilhada através da introdução de instrumentos como os
Conselhos de Política Urbana; os debates, audiências e consultas públicas; as
conferências de desenvolvimento urbano; e a iniciativa popular de projetos de lei e
planos.
Tais instrumentos já produziram efeitos práticos, dentre os quais se destacam:
- A realização de quatro Conferências das Cidades, nos anos de 2003, 2005,
2007 e 2010;
- A elaboração e aprovação de diversos Planos Diretores no Brasil, onde a
participação popular efetivamente se fez presente; e
- A introdução da obrigatoriedade da existência dos Conselhos Gestores, nos três
níveis de governo, com a participação da sociedade civil, para gestão e coordenação dos
recursos destinados à habitação de interesse social no âmbito do Sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social (SNHIS – lei 11.124).
Assim, é possível inferir que o sucesso do planejamento depende intimamente da
participação da sociedade na formulação e execução das políticas urbanas e que, nesse
sentido, para garantir a efetividade dos planos municipais precisamos, necessariamente,
ampliar a prática da gestão compartilhada da cidade.
A democratização dos processos decisórios – e do controle social de sua
implementação – é fundamental para romper este círculo vicioso e
transformar o planejamento da ação municipal em algo não apenas
compartilhado pelos cidadãos, mas assumido por estes, produzindo uma
interface real com as demandas, pleitos e desejos dos diferentes grupos na
cidade. É evidente que este processo é marcado por conflitos – e o papel do
poder público (Câmara/Executivo) é promover um processo organizado de
escuta e de debate em torno das diferentes opções e suas implicações para a
cidade, viabilizando as escolhas e sua implementação. Assim, os planos
urbanísticos, os projetos urbanos e a regulação precisam aproximar-se dos
cidadãos, estabelecendo um forte vínculo com a cidade real. (CÂMARA,
2005: 192-193)
Apoio:
Referências:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: [S.n], 1988.
BRASIL. Lei 10.257/2001- Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal,
estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Brasília: [S.n],
2001.
BRASIL. Lei 1.124/2005 - Dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse
Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e
institui o Conselho Gestor do FNHIS. Brasília: [S.n], 2005.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Estatuto da Cidade: Guia para implementação pelos
municípios e cidadãos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2005.
COSTA, Geraldo Magela, MENDONÇA, Jupira Gomes de. Planejamento Urbano no
Brasil: Trajetória, Avanços e Perspectivas. Belo Horizonte: Editora C/ Arte, 2008.
DEÁK, Csaba, SCHIFFER, Sueli Ramos. O Processo de Urbanização no Brasil. São
Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1999.
GOUVÊA, Ronaldo Guimarães. A questão metropolitana no Brasil. Rio de Janeiro:
FGV Editora, 2005.
PELUSO, Marília Luíza. Brasília: do mito ao plano, da cidade sonhada à cidade
administrativa. In: Espaço & Geografia: Brasília, v. 6, n. 2, p.1-29, dez. 2003.
ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de
São Paulo. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 1997, Reimpressão 2007.
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006.
VILLAÇA, Flávio. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no
Brasil. In: DEÁK, Csaba; SCHIFFER, Sueli Ramos (org.) O processo de urbanização
no Brasil. São Paulo: EdUSP, 1999. p. 169–243.

More Related Content

What's hot

Planejamento Urbano
Planejamento Urbano Planejamento Urbano
Planejamento Urbano Jubsilva
 
Tony garnier e a cidade industrial
Tony garnier e a cidade industrialTony garnier e a cidade industrial
Tony garnier e a cidade industrialMarcia Rodrigues
 
Aula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdf
Aula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdfAula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdf
Aula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdfAndreaFrancoVelazque
 
História do Urbanismo de São Paulo
História do Urbanismo de São PauloHistória do Urbanismo de São Paulo
História do Urbanismo de São PauloFelipe Regues
 
Artigo sobre Saturnino de Brito
Artigo sobre Saturnino de BritoArtigo sobre Saturnino de Brito
Artigo sobre Saturnino de Britosandor_freire88
 
Planejamento Urbano - Aspectos Teóricos
Planejamento Urbano - Aspectos TeóricosPlanejamento Urbano - Aspectos Teóricos
Planejamento Urbano - Aspectos TeóricosMarcos
 
Cidades Racionalistas
Cidades Racionalistas Cidades Racionalistas
Cidades Racionalistas Rafaela Stella
 
Início da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaInício da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaViviane Marques
 
Conceitos e instrumentos de planejamento urbano
Conceitos e instrumentos de planejamento urbanoConceitos e instrumentos de planejamento urbano
Conceitos e instrumentos de planejamento urbanoPaulo Orlando
 
Aula 6 planejamento urbano e amb
Aula 6   planejamento urbano e ambAula 6   planejamento urbano e amb
Aula 6 planejamento urbano e ambGiovanna Ortiz
 
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]glauci coelho
 
Camillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estaçãoCamillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estaçãoSteves Rocha
 
Introdução à infra estrutura urbana
Introdução à infra estrutura urbanaIntrodução à infra estrutura urbana
Introdução à infra estrutura urbanaPatricia Fraga
 
Plano Agache em Curitiba
Plano Agache em CuritibaPlano Agache em Curitiba
Plano Agache em CuritibaCarolvlb
 
10. planejamento urbano
10. planejamento urbano10. planejamento urbano
10. planejamento urbanoAna Cunha
 

What's hot (20)

Planejamento urbano
Planejamento urbanoPlanejamento urbano
Planejamento urbano
 
Planejamento Urbano
Planejamento Urbano Planejamento Urbano
Planejamento Urbano
 
Tony garnier e a cidade industrial
Tony garnier e a cidade industrialTony garnier e a cidade industrial
Tony garnier e a cidade industrial
 
Aula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdf
Aula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdfAula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdf
Aula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdf
 
História do Urbanismo de São Paulo
História do Urbanismo de São PauloHistória do Urbanismo de São Paulo
História do Urbanismo de São Paulo
 
Artigo sobre Saturnino de Brito
Artigo sobre Saturnino de BritoArtigo sobre Saturnino de Brito
Artigo sobre Saturnino de Brito
 
Planejamento Urbano - Aspectos Teóricos
Planejamento Urbano - Aspectos TeóricosPlanejamento Urbano - Aspectos Teóricos
Planejamento Urbano - Aspectos Teóricos
 
Cidades Racionalistas
Cidades Racionalistas Cidades Racionalistas
Cidades Racionalistas
 
Início da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaInício da arquitetura moderna
Início da arquitetura moderna
 
Aula2 cartas patrimoniais
Aula2 cartas patrimoniaisAula2 cartas patrimoniais
Aula2 cartas patrimoniais
 
Conceitos e instrumentos de planejamento urbano
Conceitos e instrumentos de planejamento urbanoConceitos e instrumentos de planejamento urbano
Conceitos e instrumentos de planejamento urbano
 
Aula 6 planejamento urbano e amb
Aula 6   planejamento urbano e ambAula 6   planejamento urbano e amb
Aula 6 planejamento urbano e amb
 
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
 
Camillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estaçãoCamillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estação
 
Morfologia Urbana
Morfologia UrbanaMorfologia Urbana
Morfologia Urbana
 
Introdução à infra estrutura urbana
Introdução à infra estrutura urbanaIntrodução à infra estrutura urbana
Introdução à infra estrutura urbana
 
A Forma Urbana
A Forma UrbanaA Forma Urbana
A Forma Urbana
 
Plano Agache em Curitiba
Plano Agache em CuritibaPlano Agache em Curitiba
Plano Agache em Curitiba
 
Aula circulação
Aula   circulaçãoAula   circulação
Aula circulação
 
10. planejamento urbano
10. planejamento urbano10. planejamento urbano
10. planejamento urbano
 

Viewers also liked

Introducao ao planejamento_urbano
Introducao ao planejamento_urbanoIntroducao ao planejamento_urbano
Introducao ao planejamento_urbanoPatricia Fraga
 
URB | Panorama São Paulo
URB | Panorama São PauloURB | Panorama São Paulo
URB | Panorama São PauloEdison Ribeiro
 
Plano diretor instrumento de planejamento urbano
Plano diretor instrumento de planejamento urbanoPlano diretor instrumento de planejamento urbano
Plano diretor instrumento de planejamento urbanoPaulo Orlando
 
8. evolução urbana no brasil 2
8. evolução urbana no brasil 28. evolução urbana no brasil 2
8. evolução urbana no brasil 2Ana Cunha
 
Planejamento urbano serviços e infraestrutura
Planejamento urbano serviços e infraestruturaPlanejamento urbano serviços e infraestrutura
Planejamento urbano serviços e infraestruturaPaulo Orlando
 
7. evolução urbana no brasil
7. evolução urbana no brasil7. evolução urbana no brasil
7. evolução urbana no brasilAna Cunha
 
Objetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de Arquitetura
Objetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de ArquiteturaObjetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de Arquitetura
Objetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de ArquiteturaFellipe Lucas
 
Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da CidadeMorfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da CidadeARQ210AN
 
Serie Ordem Urbana Maringá
Serie Ordem Urbana MaringáSerie Ordem Urbana Maringá
Serie Ordem Urbana MaringáDouglas Rabelo
 
Politica urbana e_gestao_ambiental
Politica urbana e_gestao_ambientalPolitica urbana e_gestao_ambiental
Politica urbana e_gestao_ambientalGuilherme Thies
 
Propuesta de volumetria urbana elgueta ortega_reyesg
Propuesta de volumetria urbana   elgueta ortega_reyesgPropuesta de volumetria urbana   elgueta ortega_reyesg
Propuesta de volumetria urbana elgueta ortega_reyesgLuis Reyes
 
Abc do desenvolvimento urbano
Abc do desenvolvimento urbanoAbc do desenvolvimento urbano
Abc do desenvolvimento urbanoEmerson Sousa
 
Brasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicos
Brasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicosBrasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicos
Brasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicosBruna Camargo
 

Viewers also liked (20)

Introducao ao planejamento_urbano
Introducao ao planejamento_urbanoIntroducao ao planejamento_urbano
Introducao ao planejamento_urbano
 
URB | Panorama São Paulo
URB | Panorama São PauloURB | Panorama São Paulo
URB | Panorama São Paulo
 
Plano diretor instrumento de planejamento urbano
Plano diretor instrumento de planejamento urbanoPlano diretor instrumento de planejamento urbano
Plano diretor instrumento de planejamento urbano
 
Cartilha Plano Diretor
Cartilha Plano Diretor Cartilha Plano Diretor
Cartilha Plano Diretor
 
Planejamento urbano
Planejamento urbanoPlanejamento urbano
Planejamento urbano
 
8. evolução urbana no brasil 2
8. evolução urbana no brasil 28. evolução urbana no brasil 2
8. evolução urbana no brasil 2
 
Planejamento urbano serviços e infraestrutura
Planejamento urbano serviços e infraestruturaPlanejamento urbano serviços e infraestrutura
Planejamento urbano serviços e infraestrutura
 
7. evolução urbana no brasil
7. evolução urbana no brasil7. evolução urbana no brasil
7. evolução urbana no brasil
 
Objetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de Arquitetura
Objetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de ArquiteturaObjetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de Arquitetura
Objetivos Gerais de cada uma das fases do Projeto de Arquitetura
 
Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da CidadeMorfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
 
Plano de Belo Horizonte
Plano de Belo HorizontePlano de Belo Horizonte
Plano de Belo Horizonte
 
Serie Ordem Urbana Maringá
Serie Ordem Urbana MaringáSerie Ordem Urbana Maringá
Serie Ordem Urbana Maringá
 
Politica urbana e_gestao_ambiental
Politica urbana e_gestao_ambientalPolitica urbana e_gestao_ambiental
Politica urbana e_gestao_ambiental
 
Revisão 7 ano
Revisão 7 anoRevisão 7 ano
Revisão 7 ano
 
Universidade
 Universidade Universidade
Universidade
 
Propuesta de volumetria urbana elgueta ortega_reyesg
Propuesta de volumetria urbana   elgueta ortega_reyesgPropuesta de volumetria urbana   elgueta ortega_reyesg
Propuesta de volumetria urbana elgueta ortega_reyesg
 
Thau arq 1 aula 2 - new deal
Thau arq 1  aula 2 - new dealThau arq 1  aula 2 - new deal
Thau arq 1 aula 2 - new deal
 
Abc do desenvolvimento urbano
Abc do desenvolvimento urbanoAbc do desenvolvimento urbano
Abc do desenvolvimento urbano
 
Brasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicos
Brasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicosBrasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicos
Brasil e europa no seculo XIX e movimentos messiânicos
 
Urbanização do Rio de Janeiro
Urbanização do Rio de JaneiroUrbanização do Rio de Janeiro
Urbanização do Rio de Janeiro
 

Similar to Um breve histórico do planejamento urbano no brasil

Urbanismo na periferia do mundo globalizado
Urbanismo na periferia do mundo globalizadoUrbanismo na periferia do mundo globalizado
Urbanismo na periferia do mundo globalizadoAlexandre Balthazar
 
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃOINDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃOUEMA
 
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011Aridson Andrade
 
Aula 3 - A questão ambiental
Aula 3 - A questão ambientalAula 3 - A questão ambiental
Aula 3 - A questão ambientalMargarida MTG
 
Geografia urbanizacao e planejamento urbano
Geografia   urbanizacao e planejamento urbanoGeografia   urbanizacao e planejamento urbano
Geografia urbanizacao e planejamento urbanoGustavo Soares
 
O imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveisO imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveisFernando Alcoforado
 
UrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao BrsileiraUrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao Brsileiralucianno
 
Areas urbanas
Areas urbanasAreas urbanas
Areas urbanasmanjosp
 
Planejamento Urbano - Nível Federal
Planejamento Urbano - Nível FederalPlanejamento Urbano - Nível Federal
Planejamento Urbano - Nível FederalChawana Bastos
 
Urbanização mundial renato brasil
Urbanização mundial renato brasilUrbanização mundial renato brasil
Urbanização mundial renato brasilRenato Brasil
 
Urbanização e Planejamento Urbano.ppt
Urbanização e Planejamento Urbano.pptUrbanização e Planejamento Urbano.ppt
Urbanização e Planejamento Urbano.pptRenatoEpifniodeSouza
 
Aprofundamento urbanização
Aprofundamento urbanizaçãoAprofundamento urbanização
Aprofundamento urbanizaçãoJean Azevedo
 
AULA 2 - URBANIZAÇÃO.ppt
AULA 2 - URBANIZAÇÃO.pptAULA 2 - URBANIZAÇÃO.ppt
AULA 2 - URBANIZAÇÃO.pptspo25acipm
 
Urbanização brasileira[1]
Urbanização brasileira[1]Urbanização brasileira[1]
Urbanização brasileira[1]José Roberto
 

Similar to Um breve histórico do planejamento urbano no brasil (20)

Urbanismo na periferia do mundo globalizado
Urbanismo na periferia do mundo globalizadoUrbanismo na periferia do mundo globalizado
Urbanismo na periferia do mundo globalizado
 
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃOINDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO
INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO
 
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011
 
Geo urb a09
Geo urb a09Geo urb a09
Geo urb a09
 
Aula 3 - A questão ambiental
Aula 3 - A questão ambientalAula 3 - A questão ambiental
Aula 3 - A questão ambiental
 
Geografia urbanizacao e planejamento urbano
Geografia   urbanizacao e planejamento urbanoGeografia   urbanizacao e planejamento urbano
Geografia urbanizacao e planejamento urbano
 
O imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveisO imperativo de cidades sustentáveis
O imperativo de cidades sustentáveis
 
UrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao BrsileiraUrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao Brsileira
 
1264
12641264
1264
 
1264
12641264
1264
 
Areas urbanas
Areas urbanasAreas urbanas
Areas urbanas
 
Urbanizacao[1][1]
Urbanizacao[1][1]Urbanizacao[1][1]
Urbanizacao[1][1]
 
Planejamento Urbano - Nível Federal
Planejamento Urbano - Nível FederalPlanejamento Urbano - Nível Federal
Planejamento Urbano - Nível Federal
 
Urbanização mundial renato brasil
Urbanização mundial renato brasilUrbanização mundial renato brasil
Urbanização mundial renato brasil
 
T1 ad alunamayramartinssilva
T1 ad alunamayramartinssilvaT1 ad alunamayramartinssilva
T1 ad alunamayramartinssilva
 
Urbanização e Planejamento Urbano.ppt
Urbanização e Planejamento Urbano.pptUrbanização e Planejamento Urbano.ppt
Urbanização e Planejamento Urbano.ppt
 
Urbanização e planejamento urbano
Urbanização e planejamento urbanoUrbanização e planejamento urbano
Urbanização e planejamento urbano
 
Aprofundamento urbanização
Aprofundamento urbanizaçãoAprofundamento urbanização
Aprofundamento urbanização
 
AULA 2 - URBANIZAÇÃO.ppt
AULA 2 - URBANIZAÇÃO.pptAULA 2 - URBANIZAÇÃO.ppt
AULA 2 - URBANIZAÇÃO.ppt
 
Urbanização brasileira[1]
Urbanização brasileira[1]Urbanização brasileira[1]
Urbanização brasileira[1]
 

More from Paulo Orlando

Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternarioGeomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternarioPaulo Orlando
 
Plano diretor instrumento de planejamento urbano novo
Plano diretor instrumento de planejamento urbano novoPlano diretor instrumento de planejamento urbano novo
Plano diretor instrumento de planejamento urbano novoPaulo Orlando
 
Metas de vida Madre Teresa de calcutá
Metas de vida Madre Teresa de calcutáMetas de vida Madre Teresa de calcutá
Metas de vida Madre Teresa de calcutáPaulo Orlando
 
A Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasil
A Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasilA Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasil
A Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasilPaulo Orlando
 
Planejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginado
Planejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginadoPlanejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginado
Planejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginadoPaulo Orlando
 
Controle ambiental - Licenciamento Ambiental
Controle ambiental - Licenciamento AmbientalControle ambiental - Licenciamento Ambiental
Controle ambiental - Licenciamento AmbientalPaulo Orlando
 
Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas
Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisasUm conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas
Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisasPaulo Orlando
 
Vamos matar formigas
Vamos matar formigasVamos matar formigas
Vamos matar formigasPaulo Orlando
 
Manual receptor hicon rcr 3800
Manual receptor hicon rcr 3800 Manual receptor hicon rcr 3800
Manual receptor hicon rcr 3800 Paulo Orlando
 
O relevo e a carta de declividade
O relevo e a carta de declividadeO relevo e a carta de declividade
O relevo e a carta de declividadePaulo Orlando
 
Planejamento ambiental trabalho Unidades de Conservação
Planejamento ambiental trabalho Unidades de ConservaçãoPlanejamento ambiental trabalho Unidades de Conservação
Planejamento ambiental trabalho Unidades de ConservaçãoPaulo Orlando
 
Plano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - Graduação
Plano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - GraduaçãoPlano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - Graduação
Plano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - GraduaçãoPaulo Orlando
 
Leis e regulamentos profissão de geógrafo
Leis e regulamentos profissão de geógrafoLeis e regulamentos profissão de geógrafo
Leis e regulamentos profissão de geógrafoPaulo Orlando
 
Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01
Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01
Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01Paulo Orlando
 
Código de Ética CREA
Código de Ética CREACódigo de Ética CREA
Código de Ética CREAPaulo Orlando
 
Zoneamento Ecológico e Econômicoda Amazônia
Zoneamento Ecológico e Econômicoda AmazôniaZoneamento Ecológico e Econômicoda Amazônia
Zoneamento Ecológico e Econômicoda AmazôniaPaulo Orlando
 

More from Paulo Orlando (20)

Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternarioGeomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
 
Plano diretor instrumento de planejamento urbano novo
Plano diretor instrumento de planejamento urbano novoPlano diretor instrumento de planejamento urbano novo
Plano diretor instrumento de planejamento urbano novo
 
Metas de vida Madre Teresa de calcutá
Metas de vida Madre Teresa de calcutáMetas de vida Madre Teresa de calcutá
Metas de vida Madre Teresa de calcutá
 
A Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasil
A Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasilA Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasil
A Questão Ecológica e o Planejamento Ambiental no brasil
 
Encostas urbanas
Encostas urbanasEncostas urbanas
Encostas urbanas
 
Planejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginado
Planejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginadoPlanejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginado
Planejamento ambiental cap03 area escala tempo repaginado
 
Controle ambiental - Licenciamento Ambiental
Controle ambiental - Licenciamento AmbientalControle ambiental - Licenciamento Ambiental
Controle ambiental - Licenciamento Ambiental
 
Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas
Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisasUm conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas
Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas
 
Vamos matar formigas
Vamos matar formigasVamos matar formigas
Vamos matar formigas
 
Cnumad
CnumadCnumad
Cnumad
 
Receptor hicon 3800
Receptor hicon 3800Receptor hicon 3800
Receptor hicon 3800
 
Manual receptor hicon rcr 3800
Manual receptor hicon rcr 3800 Manual receptor hicon rcr 3800
Manual receptor hicon rcr 3800
 
O relevo e a carta de declividade
O relevo e a carta de declividadeO relevo e a carta de declividade
O relevo e a carta de declividade
 
Mobilidade Urbana
Mobilidade UrbanaMobilidade Urbana
Mobilidade Urbana
 
Planejamento ambiental trabalho Unidades de Conservação
Planejamento ambiental trabalho Unidades de ConservaçãoPlanejamento ambiental trabalho Unidades de Conservação
Planejamento ambiental trabalho Unidades de Conservação
 
Plano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - Graduação
Plano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - GraduaçãoPlano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - Graduação
Plano Diretor Instrumento de Planejamento Urbano - Graduação
 
Leis e regulamentos profissão de geógrafo
Leis e regulamentos profissão de geógrafoLeis e regulamentos profissão de geógrafo
Leis e regulamentos profissão de geógrafo
 
Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01
Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01
Temticasetemasusadosnoplanejamentoambiental 130321120635-phpapp01
 
Código de Ética CREA
Código de Ética CREACódigo de Ética CREA
Código de Ética CREA
 
Zoneamento Ecológico e Econômicoda Amazônia
Zoneamento Ecológico e Econômicoda AmazôniaZoneamento Ecológico e Econômicoda Amazônia
Zoneamento Ecológico e Econômicoda Amazônia
 

Um breve histórico do planejamento urbano no brasil

  • 1. Apoio: Curso: Reabilitação Urbana com foco em Áreas Centrais Módulo 1 – Unidade 1 Um breve histórico do planejamento urbano no Brasil 1 – O contexto: rápido crescimento urbano x planejamento Em pouco mais de 50 anos, saímos de um país majoritariamente rural1 para um país urbano, que apresenta 81% da população, estimada em 170 milhões pelo IBGE (Censo IBGE, 2000), habitando as cidades. O expoente máximo deste rápido processo de urbanização brasileiro, é a cidade de São Paulo, que por volta de 1886 possuía cerca de 50 mil habitantes e chegou a 1922 com uma população estimada em 580 mil pessoas. Vinte anos mais tarde a cidade já se encontrava com 1,3 milhões de habitantes (ROLNIK, 1997: 19) e, segundo dados do IBGE (Censo IBGE, 2000), a população estimada é de 10,5 milhões. O crescimento acelerado das áreas urbanas não foi, no entanto, uma prerrogativa das grandes cidades. No mesmo período, observamos no Brasil o surgimento de metrópoles mundiais, como São Paulo e Rio de Janeiro, de metrópoles nacionais e regionais, como Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Cuiabá, Porto Alegre e Belém e de cidades de médio porte que se tornaram referências em suas regiões, a exemplo de Campina Grande, Feira de Santana, Caruaru, Mossoró e Sobral. Além disso, houve um aumento significativo do número de municípios no país e da população em geral. Essa transformação no perfil de urbanização do país deixa claro, através de números, o processo de inchamento populacional das cidades que não foi, entretanto, acompanhado por um incremento na infraestrutura disponível, comprometendo as condições de vida oferecidas à população. Termos como favelização, cortiços, problemas urbanos, transporte de massa, caos urbano, planejamento urbano, planos 1 Por volta de 1950, 33 milhões de pessoas habitavam o campo, contra 19 milhões que habitavam as cidades (GOUVÊA, 2005: 30).
  • 2. Apoio: urbanos, esvaziamento dos centros, diagnóstico dos problemas da cidade, dentre outros, passam a fazer do vocabulário dos que vivem, governam e estudam as cidades. É dentro deste contexto de grandes transformações e mudanças - que envolvem não só os aspectos qualitativos e quantitativos das cidades brasileiras, mas também todo o contexto político, econômico, legal e social do país -, que devemos buscar compreender a história do planejamento urbano do Brasil, com objetivo formular uma leitura crítica do passado e uma construção mais sólida, real e exeqüível para o futuro. 2 – Planejamento urbano: o que é? Segundo José Afonso da Silva (2006), planejamento “é um processo técnico instrumentado para transformar a realidade existente no sentido de objetivos previamente estabelecidos” (SILVA, 2006: 89). Csaba Dea´k (1999), em seu livro O Processo de Urbanização no Brasil, observa que (...) foi a partir do segundo quartel deste século que a escala alcançada pela urbanização começou a provocar iniciativas por parte do Estado e modificações na administração pública. Um dos resultados nesse sentido é o aparecimento de uma nova atividade governamental com a finalidade específica de tratar dessas novas entidades que estavam surgindo: as aglomerações urbanas. É o nascimento do planejamento e, particularmente, do planejamento urbano, cujos primórdios podem ser situados no Estado Novo – no advento do qual Otávio Ianni via, significativamente, a consolidação de ‘uma vitória importante [...] da cidade sobre o campo. (DEÁK; SCHIFFER, 1999: 12) Ao contrário do que muitos pensam, o planejamento urbano no Brasil não se inicia na década de 1950, período em que o Brasil passa a ser um país majoritariamente urbano. Verifica-se seu início, em que pese ainda não haver uma denominação formal de “Planejamento Urbano” e nem estruturas formais nas administrações públicas, no último quartel do século XIX. Na época, preocupações com a saúde da cidade (higienismo), a necessidade do rompimento com o passado colonial e a adesão ao
  • 3. Apoio: “moderno” e a ascensão de uma nova classe dominante (que demandou o “embelezamento das cidades”), começam a propiciar intervenções nas cidades. Villaça (1999) divide em três períodos a história do planejamento urbano no Brasil: o primeiro inicia-se no final do século XIX, por volta de 1875 e vai até o ano de 1930. O segundo vai de 1930 até por volta de 1992, ano em que se inicia o terceiro período e que perdura até o fim do século XX. Podemos acrescentar, ao esquema proposto por Villaça, um quarto período que inicia-se em 2001, com a aprovação do Estatuto da Cidade, legislação que regulamenta, ratifica afasta qualquer dúvida, porventura existente, sobre a validade e/ou aplicabilidade das diretrizes da nova ordem jurídico-urbanística no país, introduzida pela Constituição de 1988, através do conceito de função social da propriedade.. 2.1 – O primeiro período: 1875 – 1930. O início do primeiro período - ou como afirma Villaça (1999), o nascimento do planejamento urbano no Brasil - se dá em 1875, quando a então “Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro”, criada em 1874 pelo Ministro do Império João Alfredo Correa de Oliveira, apresenta seu primeiro relatório, no qual são utilizados pela primeira vez dois conceitos-chave: o de plano e o de conjunto geral ou global, associados ao espaço urbano” (VILLAÇA, 1999: 194-195). Este é o período dos planos de “melhoramentos e embelezamentos”, baseados nas intervenções urbanas com “pretensões científicas” se iniciaram ao final do século XIX nas grandes metrópoles européias, com o plano de extensão de Barcelona e o Plano de Haussmann, em Paris 2 . É a proposta da nova classe dominante, que “rejeita” o passado colonial e usa o planejamento para impor a sua ideologia. Neste período surgem as grandes avenidas, praças e monumentos. 2 O urbanismo científico idealizava uma “era da máquina”, com cidades cartesianas e geométricas, iluministas, que modificariam a sociedade por meio da reforma urbana. (PELUSO, 2003: 6)
  • 4. Apoio: Assim, no fim do século XIX e início do século XX, no Brasil a cidade era vista, como: (...) o locus de uma nova civilidade forjada ‘à européia’, em torno da qual se estruturou um processo de modernização que conjugava regeneração, reforma e saneamento moral e físico da sociedade brasileira. Para inscrever-se no ‘concerto das nações’, o país deveria civilizar-se, isto é, sintonizar-se com a Europa, promover uma cultura urbana moderna, capitalista, do trabalho assalariado, do mercado (HERSCHMANN e PEREIRA, 1994), muito embora – como amiúde aconteceu – se obrigasse a moldar cenários que escondiam, pela segregação sócio-espacial, os elementos denunciadores da persistência do ‘atraso’ que, dizia-se, queriam superado.3 Conjuga-se, portanto, o higienismo4 e a necessidade de afirmação da nova classe dominante para criar novas cidades, agora modernas e progressistas. Ressalta-se, que não há preocupação, até então, com todos os habitantes das cidades. Aqueles que, por exemplo, não podiam fazer melhoramentos nos seus imóveis propostos pelas Comissões Sanitárias ou não podiam tê-los, eram colocados à margem da cidade bela, moderna e sadia. Marcam este período, as Reformas de Pereira Passos (1903 – 1906), ocorridas no Rio de Janeiro. Nesse sentido, cabe destacar que a ação realizada por Pereira Passos é emblemática para a história do planejamento urbano no país, pois traz dois elementos importantes do urbanismo: a sua primeira fase higienista no qual predominavam os médicos sanitaristas, e a segunda fase na qual os engenheiros e técnicos buscavam soluções para o saneamento e a circulação na cidade, além da preocupação com o padrão construtivo. No caso do Rio de Janeiro, o resultado perverso da intervenção do poder público foi a remoção da população mais pobre do centro, o que fez com que os morros ao redor fossem ocupados, já que os terrenos no centro da cidade ficaram supervalorizados 4 O higienismo é uma doutrina que nasce com o liberalismo, na primeira metade do século XIX quando os governantes começam a dar maior atenção à saúde dos habitantes das cidades. Considerava-se que a doença era um fenômeno social que abarcava todos os aspectos da vida humana. Havia, portanto, a necessidade de manter determinadas condições de salubridade no ambiente da cidade mediante a instalação de adução e tratamento da água, esgotos, iluminação nas ruas e etc. Tais preceitos justificaram grandes intervenções urbanas que culminaram com a expulsão da população mais pobre dos centros urbanos.
  • 5. Apoio: depois da reforma. Esse processo deu inicio ao crescimento da “cidade informal”, com o surgimento de favelas e a ocupação sucessiva de áreas de risco pela população pobre.. 2.2 – O segundo período: 1930 – 1992 O segundo período inicia-se na década de 1930, momento da história nacional em que se verifica um aumento na organização e consciência das classes operárias e um consequente “enfraquecimento” das classes dominantes. Este fato se reflete na Revolução de 30, que marca o da República Velha e da hegemonia política da burguesia do café. As conseqüências das mudanças econômicas e sociais trazidas pela Revolução de 1930 refletiram-se no planejamento urbano no Brasil, na medida em que surge a necessidade de reprodução do capital imobiliário na cidade, ou seja, a cidade passa a ser vista como força de produção. Deixa-se a cidade bela, para buscar-se a cidade eficiente. O crescente aumento da consciência operária fez com que crescessem as críticas à “derrubada” de bairros inteiros de casebres e a construção de novos bairros, que só atendiam ao capital imobiliário e não aos anseios das classes populares urbanas. Neste momento, os planos passam a uma nova fase: “É o período do plano intelectual, que pretende impor-se e ser executado por que contém ‘boas idéias’, tem base científica e é correto tecnicamente. É o plano-discurso que se satisfaz com sua própria ‘verdade’ e não se preocupa com sua operacionalização e sua exeqüibilidade. Sua ‘verdade’ bastaria.” (DEÁK; SCHIFFER, 1999: 204). Villaça (1999) divide este período em três sub-períodos, os quais trataremos a seguir. 2.2.1 – 1º Sub-período – O urbanismo e o Plano Diretor (1930-1965) No ano de 1930 tem-se a divulgação dos planos para duas maiores cidades do Brasil, que trazem como novidade o destaque para infraestrutura e o transporte.
  • 6. Apoio: Conforme Villaça (1999), em que pese à “novidade” acima citada, mantém-se “(...) o interesse pelas oportunidades imobiliárias que as remodelações urbanas oferecem, e nesse sentido o centro da cidade ainda é o grande foco de atenção dos planos. No discurso, entretanto, pretende-se abordar a cidade inteira.” (VILLAÇA, 1999: 206). Marcam este período os Planos Agache, para o Rio de Janeiro, e o de Prestes Maia, para São Paulo. Este período “(...) é marcado pela passagem do planejamento que era executado para o planejamento-discurso. Nascem expressões como caos urbano, crescimento descontrolado, e necessidade de planejamento, para tentar justificar a falta de soluções para os “problemas urbanos”. (VILLAÇA, 1999: 206). 2.2.2 – 2º Sub-período – Planejamento Integrado e os Superplanos (1965-1971) Segundo essa concepção de planejamento, a cidade não poderia ser encarada apenas em seus aspectos físicos. Os problemas urbanos não poderiam limitar-se ao âmbito da engenharia e da arquitetura. A cidade – passa a pregar a ideologia dominante – é também um organismo econômico e social, gerido por um aparato político-institucional. Os planos não podem limitar-se a obras de remodelação urbana: eles devem ser integrados tanto do ponto de vista interdisciplinar como do ponto de vista espacial, integrando a cidade em sua região. Sem isso não seria possível resolver os ‘problemas urbanos’ que se avolumavam. (VILLAÇA, 1999: 211-212). Este período ratifica o que já se mostrava claro no Plano Agache: o distanciamento entre os planos e a realidade posta nas cidades. Conforme explicita Villaça (1999), este distanciamento atingirá seu apogeu com os Superplanos, que se caracterizam pelas idéias de globalidade, de sofisticação técnica e interdisciplinaridade do planejamento. São características dos Superplanos:
  • 7. Apoio: a- “Distanciamento crescente entre, de um lado, os planos e suas propostas e de outro, as possibilidade de sua implementação por parte de administração pública” b- “Pelo seu conflito com uma administração pública crescente setorizada e especializada, principalmente se considerarmos que vários planos emitiam recomendações endereçadas aos vários órgãos das esferas municipal, estadual e federal”; e c- “Outra manifestação da alienação dos planos integrados está na idéia de sua ‘aprovação’ e ‘execução’.” (VILLAÇA, 1999: 212-213).; Surge uma nova forma de abordagem, conduzida agora institucionalmente pelo SERFHAU – Serviço Federal de Habitação e Urbanismo, que gerenciava o Sistema Nacional de Planejamento para o Desenvolvimento, que tinha por finalidade “induzir os municípios brasileiros a elaborarem planos diretores”. “Nasce” a indústria dos Planos Diretores. Uma característica destes Planos nos é explicitado por Villaça (1999), ao afirmar que (...) estes planos foram elaborados de maneira totalmente diversa dos planos do século passado e do de Prestes Maia. Enquanto estes consolidavam o pensamento dominante em sucessivas administrações municipais e estaduais, sendo elaborados dentro das prefeituras, os superplanos são peças da mais pura tecnocracia, elaborados por especialistas de escritórios privados. Essa prática dominou o período do Serfhau. (VILLAÇA, 1999: 216). 2.2.3 – 3º Sub-período – O Plano sem Mapa (1971-1992) Nos anos de 1970, os planos passam da complexidade, do rebuscamento técnico e da sofisticação intelectual para o plano singelo, simples – na verdade, simplório – feito pelos próprios técnicos municipais, quase sem mapas, sem diagnósticos técnicos ou com diagnósticos reduzidos se confrontados com os de dez anos antes. Seus dispositivos são um conjunto de generalidades. Novamente, o plano inconseqüente. Com a expressão ‘plano sem mapa’ pretende-se designar o novo tipo de plano que a ideologia dominante inventou nas usas constantes tentativas de dar a impressão de que está cuidando do planejamento e ‘aperfeiçoando-o’ continuamente. O novo tipo de plano apresente ‘apenas objetivos, políticas e diretrizes’. Já que é assim, o diagnóstico e a grande quantidade de mapas e estatísticas são dispensados. O Plano sem Mapa em geral enumera objetivos, políticas e diretrizes os mais louváveis e bem-intencionados possíveis. Com isso elimina as discórdias e oculta os conflitos. (...)
  • 8. Apoio: O planejamento urbano no Brasil passa a ser identificado com a atividade intelectual de elaborar planos. Uma atividade fechada dentro de si própria, ‘desvinculada das políticas públicas e da ação concreta do Estado’, mesmo que, procure justificá-las. Na maioria dos casos, entretanto, na verdade, ocultá-las. (VILLAÇA, 1999: 221). 2.3 – O Terceiro Período: 1992 – 2001: Por fim, tem-se o terceiro período que se inicia na década de 1990 e que entendemos vigorar até 2001, quando é promulgado o Estatuto da Cidade. Este é fruto dos vários movimentos pela reforma urbana, iniciados em 1963, quando da realização do Seminário de Habitação e Reforma Urbana, realizado em Petrópolis. Tem como ponto marcante a inserção, por meio de uma Emenda Popular (Emenda pela Reforma Urbana), na Constituição Federal de 1988, dos artigos 182 e 183, que pavimentam em definitivo uma nova fase para a questão urbana no Brasil. Mesmo sem ter uma regulamentação dos artigos, várias cidades, dentre as quais destacamos Recife e Porto Alegre, tentaram por em prática os princípios estabelecidos por essa nova ordem urbanística estabelecida pela Constituição de 1988. A insegurança jurídica e a mentalidade dos operadores do direito e dos governantes, ainda vinculada aos aspectos tradicionais absolutos da propriedade urbana contidos no Código Civil de 1916, fizeram com que poucos casos práticos tivessem sucesso, em que pese o caráter desbravador destas iniciativas. No período procura-se sair dos planos tecnocráticos para os planos políticos. Busca-se extrapolar, transpor as barreiras dos escritórios técnicos e colocar em discussão (técnica e política) a cidade real, com seus anseios e vários atores envolvidos. 3 – Conclusão: O momento atual e o futuro. Com o surgimento do Estatuto da Cidade, treze anos após a Constituição, ratifica-se a função social da propriedade, a participação social e se estabelecem,
  • 9. Apoio: legalmente, instrumentos para valer o direito à cidade “de todos e para todos”, retomando a idéia do planejamento prévio das ações do Estado, sobretudo através de um Plano Diretor Municipal elaborado de forma integrada e participativa. No entanto, após todos os problemas expostos anteriormente, neste momento podemos nos perguntar: se na história do planejamento urbano no Brasil os planos não tiveram sucesso, por que insistir em elaborá-los? A resposta a esta questão não pode ser reducionista ou simplista. Há de ser analisada à luz da conjuntura de cada momento, ou seja, a conveniência da elaboração de planos urbanísticos dependerá sempre das arenas de disputa política existentes e de seus atores, bem como da ideologia dominante, da situação econômica e do grau de mobilização da sociedade civil, dentre outros aspectos. Observando as variáveis, colocadas acima, para a definição de um plano urbano, entendemos que o modelo de planejamento adotado ao longo dos últimos anos não atingiu seus objetivos, dentre outros fatores por: - Serem produtos pensados para uma parte da cidade a ser “embelezada”, sem considerar as pessoas que habitavam os cortiços insalubres ou as áreas degradadas das cidades; - Crerem que só os técnicos e “planejadores” urbanos conhecem a cidade e por isso deles devem partir a solução dos problemas urbanos; - Desconsiderarem a cidade real e planejarem apenas para a cidade legal/formal; - Crerem que a supremacia técnica e os documentos por ela elaborados poderiam reger o crescimento das cidades de forma lógica e racional, sem considerar as forças sociais dinâmicas que nela atuam; e - Desconsiderarem o anseio da maioria dos que vivem nas cidades e atenderem a uma minoria dominante. No entanto, com a entrada em vigor do Estatuto da Cidade, buscou-se instrumentalizar a sociedade e o poder público com institutos jurídico/urbanísticos que corrijam os problemas verificados no passado e possibilitem estabelecer planos que efetivamente tenham foco na construção de cidades mais justas, sustentáveis e de todos.
  • 10. Apoio: Um grande avanço nesse sentido é a inclusão, no Estatuto, do Capítulo IV – Da Gestão Democrática da Cidade (art.43 a 45 – Lei 10.257/2001), que amplia a idéia de gestão participativa e compartilhada através da introdução de instrumentos como os Conselhos de Política Urbana; os debates, audiências e consultas públicas; as conferências de desenvolvimento urbano; e a iniciativa popular de projetos de lei e planos. Tais instrumentos já produziram efeitos práticos, dentre os quais se destacam: - A realização de quatro Conferências das Cidades, nos anos de 2003, 2005, 2007 e 2010; - A elaboração e aprovação de diversos Planos Diretores no Brasil, onde a participação popular efetivamente se fez presente; e - A introdução da obrigatoriedade da existência dos Conselhos Gestores, nos três níveis de governo, com a participação da sociedade civil, para gestão e coordenação dos recursos destinados à habitação de interesse social no âmbito do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS – lei 11.124). Assim, é possível inferir que o sucesso do planejamento depende intimamente da participação da sociedade na formulação e execução das políticas urbanas e que, nesse sentido, para garantir a efetividade dos planos municipais precisamos, necessariamente, ampliar a prática da gestão compartilhada da cidade. A democratização dos processos decisórios – e do controle social de sua implementação – é fundamental para romper este círculo vicioso e transformar o planejamento da ação municipal em algo não apenas compartilhado pelos cidadãos, mas assumido por estes, produzindo uma interface real com as demandas, pleitos e desejos dos diferentes grupos na cidade. É evidente que este processo é marcado por conflitos – e o papel do poder público (Câmara/Executivo) é promover um processo organizado de escuta e de debate em torno das diferentes opções e suas implicações para a cidade, viabilizando as escolhas e sua implementação. Assim, os planos urbanísticos, os projetos urbanos e a regulação precisam aproximar-se dos cidadãos, estabelecendo um forte vínculo com a cidade real. (CÂMARA, 2005: 192-193)
  • 11. Apoio: Referências: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: [S.n], 1988. BRASIL. Lei 10.257/2001- Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Brasília: [S.n], 2001. BRASIL. Lei 1.124/2005 - Dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. Brasília: [S.n], 2005. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Estatuto da Cidade: Guia para implementação pelos municípios e cidadãos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2005. COSTA, Geraldo Magela, MENDONÇA, Jupira Gomes de. Planejamento Urbano no Brasil: Trajetória, Avanços e Perspectivas. Belo Horizonte: Editora C/ Arte, 2008. DEÁK, Csaba, SCHIFFER, Sueli Ramos. O Processo de Urbanização no Brasil. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1999. GOUVÊA, Ronaldo Guimarães. A questão metropolitana no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005. PELUSO, Marília Luíza. Brasília: do mito ao plano, da cidade sonhada à cidade administrativa. In: Espaço & Geografia: Brasília, v. 6, n. 2, p.1-29, dez. 2003. ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 1997, Reimpressão 2007. SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. VILLAÇA, Flávio. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: DEÁK, Csaba; SCHIFFER, Sueli Ramos (org.) O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: EdUSP, 1999. p. 169–243.