As três frases resumem o documento da seguinte forma:
1) O documento descreve a história da escravidão no Brasil, desde a chegada dos primeiros africanos escravizados para trabalhar na produção de açúcar até a abolição da escravidão no Império.
2) Os africanos escravizados vinham de diversas regiões da África e eram classificados no Brasil de acordo com sua etnia, língua e local de embarque, sofrendo maus-tratos durante a travessia do Atlâ
2. Africanos no Brasil
• Durante os primeiros anos após a conquista das terras americanas,
a presença portuguesa era muito pequena, limitando-se a alguns
pontos como Salvador e São Vicente, onde realizavam trocas
comerciais vantajosas: facas, machados, anzóis, e peças de
vestuário eram trocadas por pau-brasil, papagaios, macacos e
peles.
• Como já havia acontecido em terras conquistadas por portugueses,
alguns destes eram deixados ou preferiam ficar na costa brasileira,
onde se tornavam intermediários nas trocas entre nativos e
europeus.
• Além dos portugueses, outros povos visitavam a costa e se
envolviam nesse comércio, como os franceses, por exemplo.
3. • Nessa época, a Coroa e os comerciantes portugueses estavam
mais interessados nas relações com os povos africanos (com os
quais comercializavam ouro e marfim) e com os povos do
Oriente, principalmente da Índia, de onde traziam seda, pedras
preciosas, especiarias, fontes de altos lucros.
• Entretanto, diante da ameaça dos franceses, a Coroa portuguesa
elaborou uma política de ocupação e colonização, conhecida
como Capitanias Hereditárias, aqueles que as recebiam,
conhecidos como donatários, deveriam se dedicar à proteção das
terras e à produção – principalmente do açúcar, seguindo a
experiência bem-sucedida das ilhas atlânticas (Açores, Madeira,
São Tomé).
• A base dessa colonização, que se estendeu por cerca de trezentos
anos, era a exportação de mercadorias produzidas pelo trabalho
escravo.
4. • O açúcar foi a primeira delas, mantendo-se importante na
economia brasileira do século XVI até o século XIX.
• Quase tudo o que era usado no engenho era feito lá mesmo, por
escravos: primeiros índios e, a seguir, africanos trazidos do outro
lado do Atlântico.
• Com o desenvolvimento da colonização em solo americano,
formava-se uma elite local ligada à exportação do açúcar. Essa
situação mudou com as descobertas de ouro e diamantes nos
sertões que passaram a ser chamados de Minas Gerais e que
deram uma nova dinâmica à economia no século XVIII.
• Apesar dos pesados tributos relacionados ao ouro, a colônia
também prosperou; desenvolveram-se cidades nas regiões das
minas e cresceram os portos por onde ele, o ouro, era
transportado. Também a mineração dependia do trabalho de
escravos.
5. • A independência política do Brasil (1822) não alterou as relações
nas formas de produção ou nas relações sociais, que continuavam
parecidas com as do período colonial e fundadas no trabalho
escravo.
• No Brasil imperial, o café foi o produto que mais trouxe riquezas
à elite brasileira. Nas fazendas produtoras de café, todas as
etapas do trabalho eram feitas por africanos escravizados. O
trabalho escravo continuava sendo a base da produção dirigida
para a exportação.
• Além da importância econômica (sendo a exploração do trabalho
escravo a principal forma de acumulação de riquezas), foi
montado um sistema de justificação e legitimação da escravização
de seres humanos. No que diz respeito ao cotidiano, a norma na
sociedade brasileira era possuir escravos que fizessem os
trabalhos pesados e desagradáveis e trouxessem dinheiro para o
seu senhor.
6. Quem eram os africanos trazidos
para o Brasil?
• A partir de meados do século XVI começaram a chegar com
frequência ao Brasil escravos trazidos de algumas regiões da África.
Antes disso, africanos escravizados eram levados à Portugal e
outros países da Europa, comercializados na própria costa africana
e enviados para as minas de prata espanholas no atual Peru, onde
se chegava pelo rio da Prata.
• Com o desenvolvimento das atividades econômicas no Brasil, como
a cana-de-açúcar, com a crescente dificuldade de escravização dos
índios e com a ampliação da presença portuguesa na costa
africana, onde o tráfico de escravos era o negócio mais lucrativo,
aumentou o fluxo de escravos trazidos para o Brasil.
7. • Entre 1580 e 1690, Luanda foi o porto pelo qual os
portugueses mais comerciaram escravos. Tivemos guerras
africanas que facilitaram a penetração dos portugueses no
continente.
• As guerras faziam muitos prisioneiros, que eram vendidos
como escravos. Guerras travadas onde supostamente
haveria minas de prata, que buscavam capturar o maior
número de pessoas a serem vendidas pelos comerciantes da
costa.
• Entre 1690 e 1850 (fim do tráfico), tanto os portos
angolanos quanto os portos da Costa da Mina forneceram
escravos para o Brasil, havendo uma ligação estreita entre
Salvador e a Costa da Mina, e o Rio de Janeiro e Angola.
11. • Navio Negreiro: https://www.youtube.com/watch?v=9v1hZE8fbDM
• Navio Negreiro – Castro Alves
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
12. E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão
resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote
estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro
enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a
manobra,
E após fitando o céu que se
desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos
nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente.
. .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras
voam!...
Gritos, ais, maldições, preces
ressoam!
E ri-se Satanás!...
14. • O continente africano era habitado por uma enorme variedade de
povos, que falavam línguas diferentes, organizavam de maneiras
diversa suas sociedades e tinham religiões, atividades econômicas
e habilidades diferentes. Quando condenadas pelas leis de suas
sociedades, capturadas em aldeias ou nos caminhos que as ligavam a
outras (aldeias), ou então em batalhas, essas pessoas viam seu
mundo se acabar e um horizonte de incertezas se descortinar.
• Além de serem afastadas das aldeias nas quais cresceram e que
eram o centro de seu universo, muito poucas vezes conseguiam se
manter próximas de conhecidos ou familiares, mesmo quando todos
eram capturados juntos.
• Cada etapa da travessia do mundo da liberdade para o da
escravidão, da África para o Brasil, era mais provável a pessoa se
ver sozinha diante do desconhecido, tendo de aprender quase tudo
de novo.
15. • No entanto, nada disso era capaz de apagar o que ele, o africano agora
escravizado, havia sido até então, mesmo que capturado quando criança.
Ainda que fossem de diversas etnias, achavam entre si semelhanças que faziam
com que se identificassem umas com as outras.
• Os escravos que chegavam ao Brasil eram embarcados em alguns portos
africanos como: Luanda, Benguela e Cabinda, na costa de Angola, Ajudá e
Lagos, na Costa da Mina, e mais tarde no porto de Moçambique.
• No Brasil as diferentes etnias foram reagrupadas com os nomes de angola,
congo, benguela e cabinda, identificando os africanos pelos portos nos quais
haviam sido embarcados ou pela região na qual eles se localizavam. (Também
foram utilizados os nomes das feiras (Cassanje, por exemplo).
• Os embarcados no Golfo da Guiné passaram a ser conhecidos como minas:
negro mina, preto mina.
17. • Depois dos horrores da travessia do Atlântico, amontoados em porões
imundos, comendo e bebendo o mínimo, vendo companheiros de
viagem morrer em razão de doenças e maus-tratos, certos de que não
era um bom destino o que os esperava, os diversos africanos eram
levados a galpões e mercados nos quais eram postos à venda.
Entretanto, antes disso, eram tratadas as suas doenças, eram melhor
alimentados e começavam a se informar com os africanos que haviam
chegado antes.
• Nos navios, descobriam laços entre si e formas de se comunicar,
aprendendo uns a língua dos outros.
• Os senhores chamavam os recém-chegados, que ainda não
entendiam o português, nem conheciam os costumes da terra, de
boçais: ideia de que os africanos pertenciam a culturas inferiores às
europeias, tendo comportamentos animalescos, como andar nus, e
religiões reprováveis, que envolviam práticas que os portugueses
chamavam de feitiçaria.
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19. • Quando os africanos aprendiam os costumes da nova terra e o
português, se mostravam obedientes aos seus senhores e
desempenhavam bem as tarefas, passavam a ser chamados de
ladinos.
• Já os crioulos eram os que haviam nascido no Brasil, tinham o
português como sua primeira língua, quase sempre eram batizados
e, pelo menos na frente dos senhores, se comportavam bem,
tornando-se “brasileiros”.
• Dos mercados, os africanos poderiam ir para: engenhos, minas, ficar
nas cidades, fazer trabalhos domésticos, nas plantações de café,
etc.
• Uma outra variável importante era se o indivíduo era escravo, liberto
ou forro (escravo que havia ganho ou comprado sua liberdade), ou
livre, ou seja um afrodescendente filho de mãe livre e portanto já
nascido com essa condição.
20. • Africanos ou afrodescendentes, ao se integrarem à sociedade
brasileira que estava sendo formada também com a sua participação,
tinham de lidar com diversidades culturais e sociais entre eles, pois
havia diferenças entre escravos, forros e livres, bem como africanos e
crioulos. Além da construção das comunidades negras, havia a
relação destas com os grupos dominantes representados pelos
senhores rurais e urbanos, pelos administradores e pelos sacerdotes
católicos.
• Escravos que trabalhavam na lavoura, tinham pouco ou nenhum
contato com seus senhores, representados pelos feitores;
geralmente moravam em senzalas, onde conviviam com escravos
domésticos, que conviviam com seus senhores todos os dias (sinhá e
sinhô).
21. •Mas era nas cidades que os escravos domésticos estavam
presentes em maior número; eram carregadores,
vendedores, combinavam com os seus senhores a quantia
de dinheiro que deveriam entregar ao fim de cada dia –
ou semana. Essa quantia era chamada de jornal e os
escravos que trabalhavam dessa maneira eram chamados
de jornaleiros ou escravos de ganho. Esta era uma forma
típica de exploração urbana do trabalho escravo, que se
tornou comum nas cidades mais movimentadas, como
Salvador e Rio de Janeiro.
•Esta relação exigia muita confiança do senhor, e além
disso existiam os controles sociais limitando a liberdade
escrava: a aparência física.
22. • A princípio, ser escravo era ser destituído de quaisquer direitos, e
uma das estruturas de controle social foi a própria cor. Entretanto,
assim como existiam os senhores cruéis, existiam os que tratavam
seus escravos com “humanidade”. Mas o que era certo mesmo era
que um obedecia e outro mandava, recorrendo a castigos, que
serviam de punição e exemplo para os demais, evidenciando a
autoridade do senhor.
24. • Nem sempre os escravos aceitaram se integrar à sociedade
escravista brasileira, enquadrando-se em algum tipo de relação com
seus senhores. Foram várias as formas de resistir à escravidão, seja
negando-a pela fuga, seja negociando melhores condições de vida
e trabalho.
• Fugir era o recurso mais radical, iam para lugares de difícil acesso.
Os agrupamentos de escravos fugidos eram chamados de
quilombos. Um dos mais famosos foi o de Palmares (região de
Alagoas), o maior que existiu e o que mais tempo durou.
• Nas aldeias dos quilombos viviam também alguns índios e mesmo
brancos, misturando-se às diversidades africanas.
25. • Palmares, que se espalhava por terras cheias de palmeiras, era
composto por um conjunto cheio de aldeias subordinadas a uma
delas, onde estava o principal chefe.
• Tal estrutura era comum na África-ocidental, onde confederações
de aldeias formavam províncias, que formavam reinos, para
usarmos as terminologia que primeiro descreveu essas
organizações políticas.
• Ganga Zumba era líder do quilombo dos Palmares, responsável por
um acordo com Aires de Souza e Castro, governador de
Pernambuco: seu povo teria terra para viver e seriam reconhecidos
como súditos livres do rei de Portugal. Esse acordo não foi aceito
por todos os Palmarinos e, liderados por Zumbi, os adversários
envenenaram Ganga Zumba. Em seguida, aqueles que haviam se
mudado para as terras do acordo entre Ganga Zumba e Aires de
Souza e Castro foram reescravizados.
26. • Zumbi passou a liderar Palmares, que foi destruído pelo bandeirante
Domingos Jorge Velho, paulista com vasta experiência em capturar índios e
escravos fugidos.
• Palmares e Zumbi se tornaram símbolos de resistência contra a escravidão.
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29. • Além das fugas, os escravos também fingiam doenças, demoravam
para fazer algum trabalho, quebravam instrumentos ou se faziam
dóceis, para ganharem um tratamento diferenciado.
• Havia também rebeliões, quase sempre sufocadas antes de
acontecerem, onde os grupos planejavam matar os senhores e
administradores, ocupando seus lugares.
• Apesar de muitas terem sido planejadas na região das minas, as que
chegaram mais longe foram as do Recôncavo Baiano, onde os
rebeldes queimaram casas, engenhos, mataram feitores.
• A mais importante foi a Revolta dos Malês em 1835. Malês era o
nome dado aos escravos muçulmanos.
30. • Nos últimos anos da existência da escravidão no Brasil, os escravos
se concentravam nas fazendas de café e delas começaram a fugir
aos bandos, sendo que a partir de um determinado momento os
oficiais do Exército se recusaram a persegui-los, dizendo que não
eram capitães do mato.
• Houve um descontrole e os fazendeiros buscavam negociar com os
escravos a liberdade imediatamente após a colheita do café, pois
caso não fosse colhido, a safra seria perdida.
• Tivemos no final do século XIX leis abolicionistas que não
conseguiram dar conta do problema da escravidão, como:
• Eusébio de Queirós,
• Ventre Livre, Sexagenários,
• Lei Áurea (os libertou e entretanto, não deu condições de melhoria
de vida).
31. Leitura sugerida:
• O Livro de Ouro da História do Brasil – Mary Del Priore e
Renato Pinto Venâncio
• História Concisa do Brasil – Boris Fausto
• Revista de História da Biblioteca Nacional , ano 7, nº 78,
Março de 2012
• Casa Grande e Senzala em quadrinhos – Gilberto Freire,
com adaptação de Estêvão Pinto
• África e Brasil Africano – Marina de Mello e Souza
• Breve história do Brasil – Mary Del Priore e Renato
Venâncio
• Brasil: mito fundador e sociedade autoritária – Marilena
Chauí
32. Vídeos sugeridos:
• Histórias do Brasil – Colonização (TV Brasil)
• Histórias do Brasil – O Sangrador e o doutor (TV Brasil)
• Quilombo Cangume – TV Cultura
• Dos grilhões aos quilombos – TV Escola – Brasil 500 anos
• Quilombo – Filme de Carlos Diegues