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  1. 18 LIVROS INFANTO-JUVENIL PÚBLICO 4 FEVEREIRO 2006 | LETRA PEQUENA | Rita Pimenta 25 anos a brincar Há mais de duas décadas que Álvaro Magalhães faz, desfaz e refaz palavras — a brincar. “Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor. Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for. Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for. Quando for grande, quero ser um brincador”, escreve no primeiro texto do livro que assinala os 25 anos da sua carreira literária. Título: “O Brincador”. Álvaro Magalhães já criou um limpa-palavras, porque acredita que “quase todas precisam de ser limpas e acaricia- das”. Algumas, diz-nos, “têm mesmo de ser lavadas, é preciso raspar-lhe a sujidade dos dias e do mau uso”. Também não esquece que há palavras que chegam “simplesmente gastas, estafadas, dobradas pelo peso das coisas que trazem às costas” (“O Limpa-Palavras e Outros Poemas”, 2000). Um pequeno álbum ilustrado que conta em poucas palavras uma Imaginou um menino com uma erva a crescer no lugar zanga universal: entre mãe e filho. Jutta Bauer escreve e desenha. do coração, porque “se um rapaz ou uma rapariga estão a crescer, tudo lhes pode acontecer” (“Hipopóptimos”, 2001). A zanga dos pinguins Escreveu sobre uma criança, o Miguel, que tempos depois de nascer queria regressar à barriga da mãe: “Vou mas é voltar lá para dentro.” “Quem vem dum sítio fofo, quente, calmo, aconchegado, silencioso etc., não pode apreciar o barulho, as correntes de ar, as camisolas que picam e o resto” (“Isto é Que Foi Ser!”, 1984). Inventou depois uma lagarta que adorava livros de poesia: “Os que se engolem melhor” (“A Mata dos Medos”, 2001). Autor da colecção Triân- | Rita Pimenta pela ilustração), uma rainha a diferentes, optando assim até que termino o livro. Até gulo Jota (1989), que passou preto e branco tem uma grave por reduzir as personagens a hoje nunca escrevi um texto a série de televisão (emitida “Hoje de manhã, a minha desavença com a cor amare- traços elementares. completo a que tenha juntado aos domingos na RTP1), faz mãe gritou comigo, e eu fiquei la, o que levou a uma mistura O livro “Quando a Mãe logo a ilustração, muito me- nestas narrativas de aventura desfeito.” A partir desta frase violenta de todas as cores Grita...” surge mais “estáti- nos o inverso. Nunca de um um uso singular do fantásti- (e circunstância), Jutta Bauer suas súbditas. Um imenso co”, sendo no entanto muito conjunto de ilustrações me co e mostra como as perso- cria uma narrativa comovente e cinzento acabará por invadir relevante e eficaz a ligação surgiu um texto. Geralmente nagens se guiam mais por expressiva sobre o efeito que os a paisagem e será o choro da entre o texto e imagem, como crio um ‘story board’ como o dinâmicas interiores do que conflitos têm em quem os prota- monarca que trará a solução se um não pudesse existir sem que se usa para os desenhos pelos acontecimentos. Uma goniza. Crianças ou adultos. ao conflito e levará cada cor o outro. A separação das duas animados: numa série de pe- lógica que parecerá estranha Tomando à letra a palavra a retomar o seu lugar. Mais linguagens (a visual e a lite- quenas janelas vou registando a quem está convencido de “desfeito”, a autora e ilustra- que um final feliz, dá-nos um rária) decerto empobreceria a sequência das ilustrações; que todos os jovens se inte- dora conta como o pinguim desfecho colorido. A autora a compreensão e a fruição da depois, vou completando à O Brincador ressam apenas pelas comu- filho sentiu a sua cabeça des- associa a identificação de narrativa. medida que o texto ou outras AUTOR Álvaro Magalhães nicações em tempo real, por locar-se para “junto das es- cada cor ao reconhecimento Na entrevista à “Ba- imagens me vão surgindo. De ILUSTRADOR José de uma quantidade infinita de trelas”, o seu corpo perder-se que as crianças terão de fazer bar”, revista de literatura início, escrevo e desenho tudo Guimarães “gadgets” inúteis ou que se “por entre as ondas do mar”, de si próprias e também à sua infantil e juvenil (http: muito pequenino e, quando o EDITOR Edições Asa movem exclusivamente pela as asas voarem e só pararem aceitação como indivíduos //revistababar.com), Jutta conjunto está terminado, re- 64 págs., €19,90 aparência. Por isso, centenas “na selva”, o bico alcançar “o por parte dos pais, ou outros Bauer desmonta o seu mé- toco algumas partes dos dois de leitores dos oito aos 20 anos compensam-no diariamente, cimo de um monte”, a cauda adultos que delas cuidem. todo de trabalho: “Às vezes elementos.” lendo-o e exigindo sempre mais e mais volumes. perder-se no meio da cidade surgem-me primeiro umas A autora, também cartoo- Influência dos Em “O Brincador”, reúnem-se 26 poemas retirados dos e as patas correrem sem parar palavras que me levam até a nista, nasceu em Hamburgo desenhos animados livros “Isto é Que Foi Ser!”, “O Reino Perdido” (1986) e “O até alcançarem o deserto. uma imagem, ou vice-versa. em 1955 e acredita que “as Limpa-Palavras”. Cinco textos inéditos completam a obra, “Quando a Mãe Grita...” foi Há uma simplificação artís- E assim vai acontecendo histórias são como jarros, ilustrada com as pinturas de José de Guimarães. criado depois de um outro livro tica nos trabalhos de Jutta oferecem uma forma, mas Álvaro Magalhães é natural do Porto (1951), já assinou mais da escritora alemã, também Bauer, com a presença de todos os leitores — pouco de 40 títulos (de poesia, contos, ficção e textos dramáticos) e muito interessante e original, poucos elementos mas cujas importa se novos ou velhos venceu o Grande Prémio de Literatura para Crianças e Jovens “A Rainha das Cores” (edito- formas e posições imprimem — os enchem com as suas 2000-2001, na categoria de texto literário. Em 2002, integrou ra Cobra Laranja, 2002). Em um dinamismo muito forte, próprias experiências e his- a Lista de Honra do Prémio Hans Christian Andersen. ambos, Jutta Bauer joga com o nalgumas imagens quase tórias pessoais”. Sobre o “autor-brincador” escreve Manuel António Pina: conflito, o sofrimento e a recon- hipnótico. Ao leitor chega Com os pinguins, há de “Na sua literatura a palavra nunca é um mero instrumento, ciliação, pois “acredita que para a dar a sensação de que as novo um conflito que se re- mas antes um ser físico e semovente que o escritor limpa da se resolver desentendimentos figuras se movem de umas solve: “A mãe, depois de ter usura quotidiana e restitui à sua milagrosa capacidade de, há que passar primeiro pela páginas para as outras, sobre- gritado, tinha ido ao encontro mais do que nomear, criar mundos e sentidos. Só os melhores tristeza e pela dor”, disse em tudo no caso da “Rainha das de cada parte de mim e, com escritores são capazes de fazer esse trabalho, e é justamente entrevista à revista espanhola Cores”. Esta técnica obteve-a paciência, linha e agulha, já Quando a Mãe Grita... o facto de serem capazes de o fazer que faz deles grandes “Babar”, durante as Jornadas da experiência de produção tinha unido quase todas, só AUTOR E ILUSTRADOR Jutta escritores.” Não é conversa para brincadeiras. • Europeias do Livro Infantil e de desenhos animados, em faltavam as pernas.” Por fim, Bauer Juvenil (Madrid, 2005). que tinha de repetir infinitas disse a palavra mágica que TRADUTOR: Ana Marques Letra Pequena sai no primeiro sábado de cada mês. Comentários No livro “A Rainha das Co- vezes a mesma forma mas em nem todos os adultos conhe- EDITOR Gatafunho sobre livros para o público infanto-juvenil podem ser enviados para letra.pequena@publico.pt res” (premiado na Alemanha atitudes e enquadramentos cem: “Desculpa.” • 38 págs., €10
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