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"Nunca estou satisfeito com meus trabalhos", diz
vencedor do Pritzker
Folha de São Paulo, 19 de março de 2013.
Quando Toyo Ito fala da Mediateca de Sendai, um de seus trabalhos mais famosos, o
arquiteto, que venceu do Prêmio Pritzker na noite do último domingo (17), diz que gosta
de observar as pessoas cochilando e relaxando dentro da estrutura de vidro.
Ito, o sexto arquiteto japonês a ganhar o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura,
disse nesta segunda-feira que a arquitetura precisa se tornar mais aberta às necessidades
das pessoas.
O arquiteto reconhece que, desde o tsunami que atingiu o Japão em 2011, tem
questionado seus projetos, acima de tudo considerando seu papel na recuperação de
áreas devastadas pelo desastre natural.
"Depois de conviver com moradores de regiões destruídas, sinto que devo apostar na
construção de casas que se pautem pelo estilo de vida das pessoas que irão morar nelas",
disse ele, em entrevista concedida em seu escritório, em Tóquio. "Os arquitetos se
acostumaram a projetar edifícios complexos demais. Precisamos simplificar as obras, usar
uma linguagem mais universal."
Os edifícios projetados por Ito, de bibliotecas a teatros, de casas a escritórios, são famosos
por se complementarem ao ambiente, por serem arejados e equilibrarem natureza e
funcionalismo.
Suas construções mais conhecidas são a casa em espiral de Marbella, no Chile, seu projeto
angular de 2002 para o pavilhão da Serpentine Gallery, em Londres, o curvilíneo Museu de
Arte da Universidade Tama e a Torre dos Ventos, de 1986, ambos em Tóquio.
"A arquitetura precisa se adaptar para a queda da população, as mudanças climáticas e os
recursos cada vez mais escassos", disse. Utilizando um design mais sustentável e um
movimento mais parecido com o de uma árvore, que se expande, galho a galho, de acordo
com a luz e o ambiente. Precisamos relacionar a arquitetura com o meio em que ela está
inserida."
Apesar de sua projeção internacional e seus edifícios ao redor do mundo, a obra de Ito
está intimamente ligada a Tóquio, para onde ele se mudou ainda na adolescência, e que
abriga alguns de seus projetos mais conhecidos. O arquiteto, porém, admite que tem se
interessado cada vez mais por trabalhar nas zonas rurais do Japão.
"As grandes cidades de qualquer país precisam de movimento para superar o passado e
avançar, e, lamentavelmente, Tóquio carece dessa energia", explicou.
O edifício em Sendai é um conjunto de biblioteca e centros de estudos e convivência em
um edifício transparente que deixa visíveis até mesmo os tubos de ventilação, como as
veias de um corpo humano, segundo Toyo Ito. Ele já tinha uma carreira de 30 anos quando
o edifício foi inaugurado, em 2001.
"Naquela época, eu realmente me senti orgulhoso de ser arquiteto. Aquela era uma
galeria sem paredes ou barreiras, que permitia as pessoas circularem à vontade. É comum
ver os visitantes tirando uma soneca, tornando-se parte do prédio."

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Arquiteto Pritzker fala sobre obra e necessidade de se adaptar

  • 1. "Nunca estou satisfeito com meus trabalhos", diz vencedor do Pritzker Folha de São Paulo, 19 de março de 2013. Quando Toyo Ito fala da Mediateca de Sendai, um de seus trabalhos mais famosos, o arquiteto, que venceu do Prêmio Pritzker na noite do último domingo (17), diz que gosta de observar as pessoas cochilando e relaxando dentro da estrutura de vidro. Ito, o sexto arquiteto japonês a ganhar o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura, disse nesta segunda-feira que a arquitetura precisa se tornar mais aberta às necessidades das pessoas. O arquiteto reconhece que, desde o tsunami que atingiu o Japão em 2011, tem questionado seus projetos, acima de tudo considerando seu papel na recuperação de áreas devastadas pelo desastre natural. "Depois de conviver com moradores de regiões destruídas, sinto que devo apostar na construção de casas que se pautem pelo estilo de vida das pessoas que irão morar nelas", disse ele, em entrevista concedida em seu escritório, em Tóquio. "Os arquitetos se acostumaram a projetar edifícios complexos demais. Precisamos simplificar as obras, usar uma linguagem mais universal." Os edifícios projetados por Ito, de bibliotecas a teatros, de casas a escritórios, são famosos por se complementarem ao ambiente, por serem arejados e equilibrarem natureza e funcionalismo. Suas construções mais conhecidas são a casa em espiral de Marbella, no Chile, seu projeto angular de 2002 para o pavilhão da Serpentine Gallery, em Londres, o curvilíneo Museu de Arte da Universidade Tama e a Torre dos Ventos, de 1986, ambos em Tóquio. "A arquitetura precisa se adaptar para a queda da população, as mudanças climáticas e os recursos cada vez mais escassos", disse. Utilizando um design mais sustentável e um movimento mais parecido com o de uma árvore, que se expande, galho a galho, de acordo com a luz e o ambiente. Precisamos relacionar a arquitetura com o meio em que ela está inserida." Apesar de sua projeção internacional e seus edifícios ao redor do mundo, a obra de Ito está intimamente ligada a Tóquio, para onde ele se mudou ainda na adolescência, e que abriga alguns de seus projetos mais conhecidos. O arquiteto, porém, admite que tem se interessado cada vez mais por trabalhar nas zonas rurais do Japão.
  • 2. "As grandes cidades de qualquer país precisam de movimento para superar o passado e avançar, e, lamentavelmente, Tóquio carece dessa energia", explicou. O edifício em Sendai é um conjunto de biblioteca e centros de estudos e convivência em um edifício transparente que deixa visíveis até mesmo os tubos de ventilação, como as veias de um corpo humano, segundo Toyo Ito. Ele já tinha uma carreira de 30 anos quando o edifício foi inaugurado, em 2001. "Naquela época, eu realmente me senti orgulhoso de ser arquiteto. Aquela era uma galeria sem paredes ou barreiras, que permitia as pessoas circularem à vontade. É comum ver os visitantes tirando uma soneca, tornando-se parte do prédio."