O autor expressa profunda tristeza e dor pela morte do amor em sua vida. Ele se vê como uma sombra do tempo, carregando uma pesada cruz e lamentando os erros do passado. A dor é tão profunda que ele já não acredita mais no amor.
1. A MORTE DO AMOR
Sinto uma dor de morte e quem me dera eu tenha chegada à hora de
sobreviver. Não vejo meu futuro e o que vejo é um futuro de morte. E que
morte falo aqui? Vóstodos sois inocentesquandopensamquesou forte. Sou
assim como vós que deitais em camas molhadas e lençóis rasgados. Sou
como muitos de vós que atentais para o leito de morte e procura a vida.
Como muitos que ainda estão descansados dos piores momentos. Como
encontrarasarmas, para a guerra que estou a enfrentar? Vivo num poço
tãoprofundo queminhaalma só paira quando chega à noite. Pois a noite
dissimula opeso de minha cruz. O descansodeminha labuta é encontrar o
caminho de volta, porém olho pra mim e vejo o lugar sem caminhos pra
sair. Deito no meu leito de espinhose lamento cada erro infantil cometido.
Meus lamentos são infortúnios, pois não tenho como voltar atrás. A cada
dia quese passa, vou levandominha cruz como se a qualquer momento eu
fosse deixá-la pra alguém: a dor é profunda e a morte é ligeira. Não sou
aquele jovem de outrora, nem um idoso do amanhã: sou uma sombra do
tempo. Indecisões de momentos e coisas a fazer. Quero fazer de mim um
jovem honrado. Nãoquero ser mártir, mas a vida e os meus problemas me
impelem a isso. Vejo todos a minha volta sorrindo, vivendo a vida sem se
aperceberem do meu estado. E pra ser egoísta como sou, vou indo calado
sem me pronunciar. Vou calado, suportando cada dia o seu próprio mal,
como se fosse algopeculiara minha vida – e de fato se tornou mesmo. Até
onde irão essas palavras? Até onde chegarão essas palavras e quem irão
atingir? Ouço ao longe pessoas que gritam sem me chamar pelo nome,
percebo queestou sempre sozinho, indona contra partidadonovo momento
que é o de chorar – na verdade não é novo. Como lamento muito meus
pesares! Como verto minhaslágrimas como se fosse minha anátema! Meu
canto é de desespero e meu caminhar é de um tolo: ando fazendo círculos
tentando ludibriar os meus algozes. Vou sentindo cada dor, vou levando
cada lágrima em meu coração, pois o pecado já me tem tomado como isca e
mui frágilcaiosempre. Será quenasci pra padecer? Vou indo com gosto de
derrota nos lábios, pois de fato, nasci pra ser vítima daquilo que mais me
fascina: o amor. Todavia estou aqui: na miséria de uma vida que nunca
haviapensadonesse labor. Eis-me aqui, sem coraçãoemuito arrasado. Sem
2. um amore da vida, acabado. Vou indo, comomuitos já foram: não acredito
mais no amor.