Este trabalho se propõe a pensar a história dos maracatus-nação no Recife, nos anos de 1960 a 2000, imersos numa complexa luta política para estabelecer o poder de significar suas práticas culturais negras. Pensar a história dos maracatus-nação é estar atento à complexidade do processo de globalização e espetacularização da cultura popular, e de como esse processo se desdobra localmente. Nesse sentido, importa discutir as relações que os maracatuzeiros e os seus maracatus estabeleceram com os poderes públicos que normatizam o carnaval, bem como com a indústria do turismo que objetiva transformar as manifestações da cultura popular em bens culturais vendáveis. Concomitantemente, objetiva-se discutir como os folcloristas e intelectuais que promovem a “defesa” da cultura popular contra suas descaracterizações têm atuado em favor dos maracatus e na defesa dessas manifestações contra o assédio da indústria cultural que promove sua espetacularização. No entanto, esse processo não pode ser pensado sem se considerar a própria história dos maracatus, e suas relações com as comunidades de negros e negras, com o movimento negro e com o poder público. Optou-se por analisar a atuação individual dos maracatuzeiros diante do processo histórico mais global, discutindo as estratégias que estes sujeitos definiram diante de um campo cultural bastante disputado, ganhando visibilidade e legitimidade para os seus grupos.