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TECNOLOGIAS SOCIAIS
Luis Eduardo TavaresLuis Eduardo Tavares
Faculdade Escola de Sociologia e Política de São Paulo
11 a 15 de julho de 2016
Curso de Extensão
Conceitos
● Conceito difuso usado de muitas maneiras e em contextos
diferentes.
● Conceito complexo que abarca uma multiplicidade de subconceitos
e conceitos variantes.
● Tecnologia diferente da convencional que reúne um conjunto de
valores éticos alternativos aos padrões civilizatórios dominantes.
● São chamadas sociais, pois em contraste com as tecnologias
convencionais, estão ligadas a um projeto de emancipação social
pela democratização do acesso e pela liberdade de uso.
TECNOLOGIA SOCIAL
● Desenvolvida no âmbito dos Estudos Sociais de Ciência e
Tecnologia
O termo Tecnologia Social foi gerado no Brasil e é recente em
relação aos princípios aos quais ele está associado e que vem
sendo formulados em diversas partes do mundo pelo menos
desde a consumação da sociedade industrial e seus efeitos
sociais e ambientais negativos.
TECNOLOGIA SOCIAL
Técnica e TECNOLOGIA
Tecnologia é um domínio social que abrange inúmeras formas, tais
como um conjunto de técnicas, conhecimentos, regulamentos,
métodos, ferramentas e objetos artificiais em geral. A tecnologia
expressa a própria sociedade, suas habilidades e formas de
aplicação do conhecimento.
A tecnologia é a mesmo tempo abstrata e concreta, reunindo a
arquitetura e o discurso, o mecanismo e o programa, a
funcionalidade e a ideologia num mesmo agenciamento.
Técnica e TECNOLOGIA
A palavra “técnica” vem de technè em grego, cujo sentido constitui
o fazer na habilidade artesanal e nas belas artes. Ou seja, pertence
à produção e é algo poético. Mas é um fazer que implica
primeiramente um conhecer próprio que é a habilidade necessária
do artesão para transformar os materiais com uma determinada
finalidade. E como um princípio do conhecimento, cada técnica se
desenvolve numa ciência correspondente.
Técnica e TECNOLOGIA
A palavra “tecnologia” apareceu somente no século XII,
significando o discurso sobre as técnicas, ou melhor, a ciência
fundamentada das diferentes técnicas.
Na atualidade, o termo tecnologia conserva o significado original,
sendo usado para se referir às ciências, mas também para
caracterizar os mais diversos tipos de artefatos (físicos) e artifícios
(métodos), fazendo com que técnica e tecnologia sejam
praticamente sinônimos.
Técnica e TECNOLOGIA
O filósofo alemão Martin Heidegger aponta duas características
fundamentais da tecnologia.
A primeira é a característica antropológica:
“A tecnologia moderna passa, como qualquer tecnologia
mais antiga, por coisa humana, inventada, executada,
desenvolvida e dirigida de modo estável pelo homem e
para o homem.”
A segunda é a característica instrumental:
“O instrumento é o aparelho ou o utensílio, o
instrumento de trabalho, o meio de transporte, o meio
em geral. A tecnologia passa por qualquer coisa que o
homem manipula, da qual ele se serve na perspectiva
de uma utilidade.”
Técnica e TECNOLOGIA
A característica antropológico-instrumental da tecnologia possibilita
uma visão de conjunto que unifica toda a história do
desenvolvimento tecnológico.
Desse ponto de vista, não há diferença entre um machado de
pedra do paleolítico e um satélite espacial de comunicação, para
usar um exemplo do próprio filósofo.
Técnica e TECNOLOGIA
A tecnologia ocidental moderna ainda possui a especificidade
de estar associadas à ciência moderna, caracterizada pelo
desejo de desenvolvimento ilimitado, de dominação e
exploração da natureza.
Técnica e TECNOLOGIA
Heidegger vê nesta concepção corrente da tecnologia, de um
desejo de um avanço ilimitado, uma perplexidade e impotência do
homem sobre algo que ele já não controla.
“Quando se aceita esta submissão como
inevitável, adere-se ao triunfo de um processo
que se reduz a preparar continuamente os
meios, sem nunca se preocupar com a
determinação dos fins.”
Técnica e TECNOLOGIA
A tecnologia de uma época é a tecnologia selecionada e direcionada pela
estrutura de poder da época.
Assim como a bomba atômica não é o resultado inevitável do
desenvolvimento da física atômica, podemos pensar o mesmo de
qualquer tecnologia que temos como convencionais.
São motivadas por atender a racionalidade dominante.
Racionalidades alternativas produzem tecnologias alternativas. Mas estas
enfrentam muitas dificuldades para se impor.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A revolução tecnológica industrial não diz respeito apenas às
máquinas concretas (máquinas de fiar movidas a vapor), mas
também às máquinas abstratas (sistemas de fábrica) que
conformavam aquela estrutura social.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Ambas tecnologias que visavam a intensificação da produção
atendiam aos desígnios de uma estrutura de poder capitalista que
tinha como principal sujeito a ascendente burguesia urbana.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Apoiada na ciência moderna, a Revolução Industrial deflagrou uma
aceleração do ritmo das inovações tecnológicas, reunindo e fazendo
convergir um número crescente de conhecimentos e incitando a
tendência à expansão ilimitada do domínio tecnológico.
Primeira Revolução Industrial: máquinas a vapor, das ferrovias,
telégrafos
Segunda Revolução Industrial: petróleo, eletricidade, automóveis e
aviões, telefones, rádio e televisão
Terceira Revolução Industrial: energia nuclear, eletrônica, computadores
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
“O objetivo das inovações mecânicas na produção não tem por
finalidade aliviar a labuta diária, mas sim baratear a mercadoria,
encurtando a parte do dia de trabalho da qual precisa o
trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá
gratuitamente ao capitalista. A maquinaria é o meio para produzir
mais-valia.” (MARX, 2008: 427)
Em “A maquinaria e a industrial moderna”, Capítulo XIII do Livro I de O
Capital, Karl Marx fez uma das mais importantes reflexões sobre a
tecnologia da Revolução Industrial.
“A tecnologia revela o modo de proceder do homem para com a
natureza, o processo imediato de produção de sua vida, e,
assim, elucida as condições de sua vida social e as concepções
mentais que delas decorrem.” (MARX, 2008: 428)
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A estrutura da Revolução Industrial provocou a alienação dos
trabalhadores ao retirar os meios de produção de sua posse e transferir
suas habilidades manuais para as máquinas.
A função do trabalhador manual se converte em um operador da máquina
ou apenas seu vigia. Se torna ele próprio um instrumento da máquina.
“Depois que os instrumentos se transformam de ferramentas
manuais em ferramentas incorporadas a um aparelho
mecânico, a máquina motriz, o motor, adquire uma forma
independente, inteiramente livre dos limites da força humana.”
(MARX, 2008: 434)
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
O caráter irresistível do avanço do domínio tecnológico, por um lado,
alimentou as utopias de progresso advindas da filosofia das luzes, por
outro, descortinou a tragédia inerente a ele, fazendo surgir uma
consciência de negação desse processo ou que deseja impor limites a
ele.
Utopias e distopias tecnológicas da literatura.
Pensamento radical no século XIX: movimento ludita (quebradores de
máquinas), socialismo utópico, socialismo revolucionário, anarquismo.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Socialismo utópico é fonte de inspiração para tecnologias
alternativas.
● Charles Fourier (1772-1837): Falanstérios
● Robert Owen (1771-1859): New Lanark, New Harmony, Labour
Exchange
Socialismo científico de Karl Mark não desenvolveu um
pensamento sobre tecnologias alternativas, apenas sobre a
transferência da posse das tecnologias industriais.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Durante a Segunda Revolução Industrial, a Escola de Frankfurt,
desenvolveu importantes reflexões críticas sobre a sociedade
tecnológica.
Conceito de “razão instrumental” define a racionalidade dominante
integrada à maquinaria que extrapola o ambiente de fábrica para
toda a sociedade.
REVOLUÇÃO INFORMACIONAL
REVOLUÇÃO INformacional
A revolução tecnológica que vivemos hoje é um processo que vem
transcorrendo desde a década de 1940, com o fim da Segunda Guerra
Mundial.
Trata-se de um longo processo de transformações que envolve
mudanças de paradigmas nas ciências que vão num sentido de
transversalidade dos saberes, crises energéticas, colapso da URSS e
globalização. Período em que as tecnologias informacionais foram
desenvolvidas e moldadas.
Também equivale a passagem para a pós-modernidade.
REVOLUÇÃO INformacional
Esta revolução tecnológica envolve novos instrumentos de
produção que estão atrelados a uma nova organização do trabalho.
Não se trata mais do sistema de fábrica, da linha de montagem
fordista, mas da rede colaborativa não linear, em que as
informações, conhecimentos e sabres são compartilhados.
O sistema de produção informacional instaura novas contradições
e conflitos com o sistema industrial.
REVOLUÇÃO INformacional
Máquinas da Revolução Industrial
● energéticas, grandes, pesadas,
barulhentas, poluentes
● extensões dos músculos
● produzem bens materiais
● transferem para as máquinas
habilidades manuais dos
trabalhadores
Máquinas da Revolução Informacional
● informáticas, pequenas, leves,
silenciosas, limpas
● extensões do sistema nervoso
● produzem bens imateriais
● transferem para as máquinas
funções cerebrais dos trabalhadores
Mudança de padrões das máquinas
REVOLUÇÃO INformacional
Ao transferir funções cerebrais para as máquinas, as tecnologias
da Revolução Informacional podem gerar novas formas de
alienação e dominação.
Ao mesmo tempo, sua portabilidade faz com que os meios de
produção retornem a posse dos trabalhadores, possibilitando
novas formas de emancipação.
tecnologias sociais
Tecnologias sociais
Surgem como uma crítica e uma proposta alternativa à tecnologia
convencional dominante.
Momentos crise econômica e social
Influência dos socialismos utópicos e padrões civilizatórios não-
ocidentais.
Conceito que usamos no Brasil é um desdobramento de uma
longa evolução e funciona como um guarda-chuva de diferentes
conceitos que levam nomes como:
tecnologias apropriadas, tecnologias intermediárias, tecnologias
alternativas, tecnologias utópicas, tecnologias abertas, tecnologias
livres, entre tanto outros a eles associados e que são usados
conforme a tendência ideológica e o viés econômico, cultural ou
social que se queira enfatizar.
Tecnologias sociais
TECNOLOGIA APROPRIADA
TECNOLOGIA APROPRIADA
Um movimento em torno da ideia de tecnologias apropriadas surge na
década de 1970 no contexto da uma crise energética do período e da
ascenção do pensamento ecológico.
Tecnologias apropriadas são tecnologias adequadas aos contextos
sociais, culturais e naturais das localidades e em conformidade com seus
recursos materiais e imateriais existentes
Seus princípios são muito anteriores, sendo reconhecidos na índia desde
o final do século XIX
Mahatma Gandhi (1869-1948)
Durante as décadas de 1920 e 1930, dedicou-se intensamente a construir
programas visando o desenvolvimento de uma indústria autossuficiente
dos pequenos vilarejos indianos.
Estratégia advinha já de reformadores indianos do final do século XIX,
que buscavam reabilitar as tecnologias tradicionais indianas como forma
de combater a dominação britânica que avançava com as máquinas de
fiar a vapor.
Em 1925, fundou a All-India Spinners Association e em 1935 fundou a All-
India Village Industries Association.
TECNOLOGIA APROPRIADA
““Produção pelas massas, não produção em massa.Produção pelas massas, não produção em massa.””
O projeto de Gandhi envolveu a popularização da Charkha, uma roca de fiarO projeto de Gandhi envolveu a popularização da Charkha, uma roca de fiar
manual, despertando a consciência política de milhões de habitantes dosmanual, despertando a consciência política de milhões de habitantes dos
vilarejos sobre a necessidade da autodeterminação do povo e da renovaçãovilarejos sobre a necessidade da autodeterminação do povo e da renovação
da indústria nativa.da indústria nativa.
O projeto não consistia numa conservação estática das tecnologiasO projeto não consistia numa conservação estática das tecnologias
tradicionais. Mas objetivava:tradicionais. Mas objetivava:
Aplicação de uma tecnologia apropriada as condições locaisAplicação de uma tecnologia apropriada as condições locais
Pesquisa científica para o melhoramento das técnicas tradicionaisPesquisa científica para o melhoramento das técnicas tradicionais
Desenvolvimento orgânico das aldeias e vilarejosDesenvolvimento orgânico das aldeias e vilarejos
Gandhi nunca usou o termo Tecnologia Apropriada, mas os princípiosGandhi nunca usou o termo Tecnologia Apropriada, mas os princípios
dela podem ser reconhecidos de maneira integral em suas práticas.dela podem ser reconhecidos de maneira integral em suas práticas.
Ernst Friedrich Schumacher (1911-1977)
Precursor do movimento contemporâneo das
tecnologias apropriadas.
Em 1965, publicou o artigo “Como ajudá-los a
ajudar a si próprios”
Em 1966, ele cria o Intermediate Technology
Development Group – ITDG
Em 1973 publicou “Small Is Beautiful: A Study of
Economics As If People Mattered”
TECNOLOGIA APROPRIADA
Durante a década de 1970 até começo dos 80, o movimento das
tecnologias apropriadas cresceu bastante.
Em 1977, a OECD identificou 680 organizações envolvidas no
desenvolvimento e promoção de tecnologias apropriadas e em 1980 este
número havia aumentado para mais de 1000.
Em 1976, o Banco Interamericano de Desenvolvimento criou o Comitê
para Aplicação de Tecnologias Apropriadas e Organização Mundial da
Saúde estabeleceu programas de tecnologias apropriadas para a saúde.
Em 1977, o governo dos EUA criou o Centro Nacional para Tecnologias
Apropriadas.
TECNOLOGIA APROPRIADA
As tecnologias apropriadas foram pensadas tanto para países em
desenvolvimento, quanto para países desenvolvidos. No primeiro
caso, serviam como forma de combater a pobreza extrema, fome,
desemprego, devastação ecológica e migração urbana. No
segundo, servia como meio de diminuir impactos negativos sobre o
meio ambiente e a sociedade.
TECNOLOGIA APROPRIADA
As principais aplicações das tecnologias apropriadas são nos
campos da construção, água e saneamento, geração e uso de
energia, transporte, saúde, preparação e estoque de alimentos,
comunicação e informação e finanças.
TECNOLOGIA APROPRIADA
Em 1983, a OECD publicou o resultado de seu extensivo
levantamento sobre a temática intitulado “The World of Appropriate
Technology”, no qual define o conceito como caracterizado por
baixo custo de investimento e do produto final, simplicidade
organizacional, alta adaptabilidade para um meio cultural ou social
particular, alto potencial de aplicação e redução do uso de recursos
naturais.
TECNOLOGIA APROPRIADA
O movimento das tecnologias apropriadas vem declinando desde a
década de 1980 e diversas causas podem ser atribuídas a este
fato.
● Baixo custo das tecnologias que se reflete no baixo retorno de
investimento no seu desenvolvimento
● Dependência de políticas públicas e cooperação internacional
● Contraria aos interesses dominantes
● Criadas fora dos contextos onde eram aplicadas
TECNOLOGIA APROPRIADA
Os princípios de tecnologias apropriadas retornam na atualidade
em junção com os princípios e open source, são as chamadas
Open Source Appropriate Technology (OSAT).
Mais recentemente a rede de midialabs, fablabs e hacklabs ganha
a alcunha de Civic Tech.
A proposta de negócios sociais formulado por Muhammad Yunus e
os crowfundings aparecem como nova forma de superar as
barreiras do investimento sem retorno dentro de uma lógica de
mercado.
Ressurgimento do conceito
TECNOLOGIA APROPRIADA
TECNOLOGIA Alternativa
A discussão sobre as chamadas tecnologias alternativas
apresentavam um viés diferente e mais radical que as tecnologias
apropriadas, estando associadas a ideais anarquistas e resgatando
princípios dos socialistas utópicos. Faziam não somente a crítica à
economia capitalista, mas também à dos países comunistas.
TECNOLOGIA Alternativa
Eram também chamadas de tecnologias utópicas somente
possíveis de se realizar em outros modelos de sociedade e seus
defensores consideravam que uma reforma social deveria vir
primeiro.
Ao mesmo tempo, identificava-se esse potencial alternativo em
certas tecnologias existentes como manifestações do nascimento
de uma nova sociedade.
TECNOLOGIA Alternativa
Murray Bookchin (1921-2006)
Em 1965, publicou o ensaio “Toward a Liberatory
Technology”
Pensador anarquistas bastante influente em
movimentos sociais urbanos, ligados ao direito à
cidade, defensor da ideia de municipalismo
libertário.
● Autogestão → Autonomia (selfhood) →
Autogoverno
● Trabalho livre e criativo
● Descentralização do poder econômico e
político
Trabalho livre e criativo
Inspiração em Fourier que vai no sentido de retorno
ao modelo de trabalho artesanal e prazeiroso em que
o homem tem o controle da ferramenta e possui
autonomia.
Autogestão
Significado próximo ao sentido grego de autonomia
individual (selfhood) que leva ao autogoverno e
demanda educação.
Descentralização econômica e política
Sociedade formada por pequenas unidades
produtivas e políticas autossuficientes e federadas.
Uso de tecnologias informacionais para deslocar o
poder da escala nacional para a local, dos meios
burocráticos centralizados para as assembleias
populares locais.
Ivan Illich (1926-2002)
Biólogo, teólogo e filósofo, influenciado pela
democracia cristã, desenvolveu uma crítica
radical a sociedade ocidental e suas instituições,
buscando caminhos para uma sociedade
alternativa.
Em 1973, publicou “A Convivencialidade”.
“Chamo sociedade convivencial
àquela em que a ferramenta moderna
está a serviço da pessoa integrada na
coletividade e não a serviço da um
corpo de especialistas. Convivencial é
a sociedade em que o homem
controla a ferramenta.”
Análise crítica da sociedade industrial que
perpassa a medicina, o sistema de transporte, a
indústria da construção, as formas de monopólio
privadas e estatais, e a degradação do meio
ambiente.
A sociedade atual está dividida entre os que
não tem o suficiente e os que tem em demasia.
Os pobres sentem-se frustrados e os ricos
insatisfeitos.
A raiz está no málogro do projeto da
modernidade que resultou na substituição do
homem pela máquina, gerando servidão para o
produtor e intoxicação para o consumidor.
A solução para a crise exige a conversão da
estrutura que regula a relação entre o homem e a
ferramenta para fazer emergir as ferramentas
justas, que sejam:
1.criadoras de eficiência sem degradar a
autonomia pessoal;
2.não produtoras nem escravos, nem senhores;
3.Ampliadoras do raio de ação pessoal.
Uma ferramenta que não se apodere do trabalho
humano, que tire o melhor partido da energia e da
imaginação das pessoas ao invés de as
programar e tiranizar. E que possibilite a cada um
utilizá-la sem dificuldade para os fins que o
próprio determine.
Illich utiliza o termo ferramenta da maneira ampla,
abrangendo todos os instrumentos racionais da ação
humana, as máquinas, as instituições, as estruturas,
seus modos de funcionamento e utilização. Tudo que
pode ser tomado como meio e posto a serviço de uma
intencionalidade é para ele ferramenta.
A ferramenta é inerente às relações sociais e sempre
que o homem atua ele se serve de ferramentas, quer
ele as domine ou seja dominado por elas.
“Enquanto eu dominar a ferramenta, dou
ao mundo meu sentido, quando a
ferramenta me dominar, sua estrutura
conforma e informa a representação que
tenho de mim mesmo. Ferramenta
convivencial é aquela que me deixa a
maior latitude e o maior poder para
modificar o mundo de acordo com minha
intenção.”
Esta seria a passagem da sociedade industrial para
a sociedade convivencial que traduz a passagem
da repetição da carência para a espontaneidade do
dom. Em outras palavras, a substituição de um
valor técnico por um valor ético.
“Uma sociedade convivencial é uma
sociedade que oferece ao homem a
possibilidade de exercer uma ação mais
autônoma e mais criativa, com auxílio das
ferramentas menos controláveis pelos
outros. A produtividade conjuga-se em
termos de ter, a convivencialidade em
termos de ser.”
Esse projeto exige a renúncia a superpopulação, a
superabundância e ao superpoder. Exige a escolha
por uma vida simples.
David Dickson (1947-2013)
Em 1975, publicou “Tecnologias Alternativas:
Políticas da Mudança Tecnológica”.
Apresenta as tecnologias alternativas como vetor
fundamental de uma transformação social, mas
reconhecendo sua dimensão utópica de que
somente são viáveis em outro modelo de
sociedade.
Realiza um grande compêndio de ideias sobre
tecnologias alternativas, discutindo as tecnologias
de diversas sociedades e épocas, até os saberes
tradicionais e etnociências.
“Uma tecnologia alternativa só pode
ser aplicada com êxito em larga
escala uma vez que tenha sido
criada uma forma alternativa de
sociedade. Assim, toda a discussão
sobre a tecnologia alternativa há de
ser necessariamente utópica. Isto
não significa que os instrumentos e
máquinas descritos como
alternativos sejam impraticáveis,
mas que sua introdução em uma
escala importante seria virtualmente
impossível dentro da atual estrutura
da sociedade.”
As sociedades socialistas do século XX em sua
tentativa de criar um modelo mais justo de
sociedade se apropriaram do modo de produção
formulado inicialmente dentro dos marcos
capitalistas, sendo obrigadas a aplicar forte
centralização e controle da organização social
para fazerem uso eficaz desta tecnologia.
É preciso deslocar a ideologia industrial
dominante, bem como as práticas sociais as que
ela se baseia e pensar numa forma alternativa
de desenvolvimento social em que a inovação
tecnológica responda a necessidades sociais
diretas, abarcando uma série de valores sociais
e culturais muito diferentes dos atuais.
Existem três grupos de relações sobre os quais
uma tecnologia alternativa deve implicar. A relação
da tecnologia com os indivíduos, com a
comunidade e com o meio ambiente.
Deve proporcionar idealmente os meios pelos
quais este poderia realizar-se e experimentar
de modo completo todas as potencialidades
humanas.
Relação com os indivíduos
Uma tecnologia não alienadora, que auxilia
um trabalho prazeiroso, permanecendo sob
o controle direto dos indivíduos, seja
produtores ou consumidores, assegurando
que as máquinas sigam sendo um apêndice
dos homens e não o contrário.
Que os una com os demais membros da
comunidade, bem como de seu entorno
ambiental.
Devem acentuar unidades produtivas
semelhantes a oficinas artesanais, isto é, em
pequenas escalas.
Relações comunitárias
A produção social deveria estar organizada de
maneira descentralizada em três níveis:
A partir de oficinas vicinais, nas quais o trabalho
artesanal atenderia as demandas microlocais;
A partir de pequenas fábricas com diversidade de
objetos capazes de criar toda uma série de
produtos diferentes com instrumentos flexíveis;
A partir de fábricas do tamanho médio,
amplamente automatizadas que respondessem a
um nível regional, produzindo tanto bens
acabados e elementares para as fábricas e
oficinas comunais.
Devem dar bastante ênfase aos aspectos
ecológicos, fazendo uso mínimo dos recursos
naturais não-renováveis, sem emissão de
poluentes.
Relação com o meio ambiente
Que não suponham um perigo à saúde da
comunidade e que não apenas causem a menor
interferência possível, mas que busque uma
confluência com os ciclos naturais. Isso envolve o
uso de fontes energéticas limpas (eólicas,
hidráulicas, solares), e reciclagem de materiais.
Mais uma vez, tais ideias sobre tecnologia
alternativas, implicam uma vida mais simples:
“Ainda que o nível de vida geral –
medido em termos de quantidades
de bens, materiais, etc – será
provavelmente muito menor que o
proporcionado pelas sociedades
industriais contemporâneas,
também serão menores os riscos
que a tecnologia utópica apresenta
sobre a estrutura social e
ambiental.”
TECNOLOGIA LIVRE
Ideia de que a tecnologia possa ser livremente acessada,
usada, modificada e distribuída
Implica num modelo alternativo à propriedade intelectual, em
formas de licenças abertas e/ou flexíveis.
As principais inovações tecnológicas no nosso tempo são
baseadas nesse padrão de abertura, que advém da ética hacker.
TECNOLOGIA livre
Enquanto um jargão da informática,a ética hacker possui entendimentos
que em geral coincidem quando se refere a pessoas com grandes
habilidades em computação. Mas que divergem quando se usa para se
referir a cibercrimes como invasões de sistemas, roubo de informações e
disseminação de vírus de computadores.
TECNOLOGIA Alternativa
Ética hacker
Eric S. Raymond, autor de “A catedral e o bazar” (1999), descreve “ética
hacker” da seguinte maneira:
“A crença de que a partilha da informação é um bem
poderoso, positivo, e que é um dever ético dos hackers
partilhar os seus conhecimentos, escrevendo códigos de
fonte abertos e facilitando o acesso à informação e aos
recursos de computação sempre que possível. Grandes
redes de cooperação, tais como Usenet, FidoNet e a
própria Internet podem funcionar sem um controle central
por causa dessa característica que ambos dependem e
reforçar um sentido de comunidade que pode ser o mais
valioso ativo intangível dos hackers.”
Jargon File
Ética hacker
O sentido do termo hacker, literalmente significa uma pessoa ou
instrumento que aplica um corte ou fenda (hack).
A origem do jargão hacker e da própria ética hacker vem de laboratórios
de tecnologia de universidades dos EUA, desde os anos 1940,
designando a habilidade de seus integrantes em intervir numa
determinada máquina, abri-la e modificá-la.
Eram como clubes, ambientes descontraídos e não-autoritários, em que
seus membros desenvolviam essas atividades enquanto hobbies, ao
mesmo tempo em que se misturava aos projetos institucionais e
acadêmicos.
A ética hacker está intimamente ligada às atividades laborais, ou
melhor, a uma concepção alternativa de atividades laborais. Na
sociedade da informação, ela participa de fato do rol de
características do trabalho pós-fordista, nas suas dinâmicas
colaborativas e dos processos compartilhados.
Em “A ética hacker e o espírito da era da informação”, Pekka
Himanen compara a ética hacker com a ética protestante no
trabalho.
Ética hacker
“Linus Torvalds descreveu seu trabalho com Linux como uma
combinação de hobby agradável e trabalho sério: 'Linux tem sido em
grande medida um hobby (ainda que do melhor tipo: um hobby sério)'”.
Himanen salienta a postura dos hackers em relação a seu ofício, em geral de
programação de computadores, como um entretenimento, uma diversão à qual
se dedicam com afinco e entusiasmo. E que ao mesmo tempo é um trabalho
levado a sério:
“Um bom exemplo disso é o modo como a hacker irlandesa de
dezesseis anos Sarah Flanery descreve seu trabalho no chamado
algoritmo de encriptação Cayley-Purser; 'me toma uma sensação de
total entusiasmo... Trabalhava constantemente dias inteiros até
terminar, e era estimulante. Havia momentos em que não queria
parar'.
Ética hacker
Richard Stallman (1953- )
Em 1984, fundou a Free Software Foundation,
criando o modelo de software livre, a General
Public License (GPL).
Vivenciou o processo de desenvolvimento dos
computadores pessoais e da imposição do
nondisclosure agreement (acordo de não
revelar o código dos softwares).
“O ato de compartilhar software não
estava limitado a nossa
comunidade em particular; é tão
antigo como os computadores, da
mesma maneira que compartilhar
receitas é tão antigo como
cozinhar.”
● Liberdade de executar o programa com
qualquer propósito.
● Liberdade de modificar o programa para
adaptá-lo às suas necessidades, o que
pressupõe o acesso ao código fonte;
● Liberdade de redistribuir cópias de um
programa livre, tanto grátis quanto pelo
preço que queira;
● Liberdade de distribuir versões
modificadas do programa de tal forma que
a comunidade possa se beneficiar das
melhorias.
O tema central apregoado pelo movimento é
a ideia de liberdade.
São 4 Liberdades
Stallman entende a liberdade como um
direito natural e, por isso, qualifica o
copyright de anti-social e não-ético:
“O copyright não é um direito
natural, mas sim um monopólio
artificial imposto pelo governo que
limita o direito natural dos usuários
à cópia. Segundo a filosofia do
software livre, os usuários de
computadores devem ter liberdade
para modificar os programas, para
ajustá-los às suas necessidades, e
liberdade para compartilhar o
software, porque a base da
sociedade está em ajudar outras
pessoas.”
Tecnologias Apropriadas
Tecnologias Intermediárias
Tecnologias Alternativas
Tecnologias Utópicas
Tecnologias Livres
Tecnologias Abertas
TECNOLOGIAS SOCIAIS
TECNOLOGIAS SOCIAIS
Estar sob controle e a serviço do bem comum dos
indivíduos e coletividades.
Permitir de autonomia, trabalho livre e criativo
Aplicada em escala comunitária, de maneira
descentralizado em pequenas unidades políticas e
econômicas
Envolvimento dos atores e saberes locais no seu
desenvolvimento
Responder a necessidades sociais diretas
Liberdade de uso, modificação e distribuição
Baixo custo de produção
Utilizem máximo de recursos naturais renováveis e o
mínimo não-renováveis.
Estar associada a uma vida simples
LIMITES DAS TECNOLOGIAS SOCIAIS
● Baixo custo das tecnologias que se reflete no baixo retorno de
investimento no seu desenvolvimento.
● Dependência de políticas públicas e cooperação internacional.
● Desenvolvidas fora dos contextos onde eram aplicadas.
● Contraria aos interesses dominantes.
● Dimensão utópica somente viáveis em outro modelo de
sociedade.
TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL
TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL
O termo tecnologia sociais foi gerado no Brasil no campo dos Estudos
Sociais de Ciência e Tecnologia, início da década de 2000, a partir de
diversos atores ligados ligados a universidades, ONGs, movimentos
sociais que vinham se articulando no âmbito da economia solidária e
compartilhavam da percepção de que era necessária uma tecnologia que
respondesse a seus propósitos.
Tendo em vista todo o repertório de experiências e acúmulo teórico e crítico a
respeito das tecnologias apropriadas e alternativas das décadas passadas,
destacou-se a ideia de que a retomada de projetos de tecnologias alternativas à
convencional demandasse atores com força política.
TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL
Pensou-se que estes aliados indispensáveis fossem:
● No campo produtivo: as cooperativas e fábricas recuperadas;
● No Estado: os gestores das políticas sociais e de C&T;
● No campo cognitivo: os professores, alunos e técnicos de institutos de
pesquisa, em especial os que militavam nas incubadoras universitárias de
cooperativas populares.
Grupo de Análise de Políticas de Inovação (GAPI) da UNICAMP.
TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL
Instituto de Tecnologias Sociais (ITS Brasil)
Fundação Banco do Brasil (FBB) → Banco de Tecnologias Sociais
Empreendimentos Solidários
Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP)
TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL
A RTS é uma iniciativa que reúne órgãos governamentais, empresas
estatais, órgãos privados de fim público, universidades, ONGs e movimentos
sociais.
Em 2003, foi constituída a Rede de Tecnologias Sociais (RTS)
Cerca de 600 instituições fazem parte da rede. Ela pode ser
considerada um modelo de governança para a elaboração da Política
de Ciência e Tecnologia, e também de trabalho e renda.
Economia solidária
Economia solidária
Conceito que compreende a ideia de solidariedade em contraste com o
individualismo competitivo característico do comportamento econômico
das sociedades capitalistas.
Reaparece no final do século XX frente à crise econômica do período.
Como princípio de uma economia alternativa, é antigo tendo seus
principais antecedentes no século XIX.
A economia solidária atual tem como principal antecedente as
experiências de Roberto Owen no século XIX, em New Lanark, New
Harmony e Labour Exchange (cooperativismo revolucionário).
As comunas
Aldeias que desenvolvem suas provisões de energia, transporte,
educação e saúde, onde todo patrimônio é coletivo e administrado com a
participação de todos, as decisões são tomadas em assembleias. Os
ganhos dos membros são colocados em um fundo do qual cada um pode
retirar de acordo com suas necessidades. Praticam ideologias distintas:
religiosas (as mais diversas), anarquista, falansterista, nacionalista e
socialista, como os Kibbutzim.
Economia solidária
Cooperativas de Produção (Mondragón, 1956)
Cooperativas de consumo (Rochdale, 1844)
Cooperativas de crédito e microcrédito (Grameen Bank, 1976).
Economia solidária
O movimento cooperativista que vigorou no século XIX como alternativa ao
sistema capitalista declinou em função das conquistas dos direitos trabalhistas
na grande indústria pelo movimento operário, fazendo com os trabalhadores se
acomodassem com o assalariamento.
Isso mudou no final da década de 1970, em resposta a crises econômicas e a
emergência do neoliberalismo que desregulam a economia, o Estado de bem
estar social, gerando desemprego em massa, fechamento de empresas e
crescente marginalização dos desempregados crônicos – aqueles sem
possibilidade de encontrar trabalho.
O novo contexto é o das associações da sociedade civil, como ONGs e
movimentos sociais que lutam por direitos,
Economia solidária
A economia solidária em geral vem cumprir um importante papel de
combate ao desemprego, sobretudo dos mais desfavorecidos:
desempregados, crianças em situação de risco, idosos, dependentes
químicos, deficientes físicos e mentais.
O desenvolvimento da economia solidária conta com apoio do Estado e
de recursos públicos para o resgate de comunidades muito pobres para
encetar um processo de auto-emancipação. Mas seu desenvolvimento
depende delas mesmas, de sua disposição de aprender e experimentar e
adesão aos princípios da solidariedade, igualdade e democracia.
Economia solidária
Economia da cultura
&
Economia criativa
Economia da cultura & Economia criativa
Economia da Cultura
Cadeias produtivas ligadas à produção de
bens culturais.
Inicialmente pautada no campos das belas
artes (sentido sociológico de cultura)
Economia da Criativa
Ideias que geram inovação e produtos
singulares.
Podendo ser linguagens, estéticas,
modos de vida... (sentido antropológico
de cultura)
Economia da cultura & Economia criativa
Qual é o sentido de ambas na atualidade?
Economia da cultura & Economia criativa
Sendo a informação o principal elemento do capitalismo contemporâneo,
tudo que é passível de ser convertido em informação pela codificação
digital é capturado pelos fluxos de produção informacional enquanto bens
agregadores de valores de uso e troca.
Isso envolve, num primeiro momento, os bens imateriais, como
conhecimentos, saberes (subjetivos e intersubjetivos), e a cultura de uma
modo geral, enquanto o campo do imaterial por excelência. E, num
segundo momento, bens materiais que podem ser desmaterializados e
rematerializados,
Átomos podem ser convertidos e bits
Economia da cultura & Economia criativa
Esse processo, no qual estão inseridas as economias da cultura e criativa
apresenta dois viéses. O primeiro de continuidade dos padrões de reprodução
capitalista e o segundo, disruptivo desses padrões, pela emergente economia
dos bens comuns.
No primeiro caso, temos um novo processo de enclousure pela expansão do
capitalismo em zonas até então marginais à economia e à política. São
processos que geram propriedade intelectual sobre bens tradicionalmente
comuns, tal como as diversidades cultural e biológica que passam a ser vistas de
maneira instrumental como bancos de dados informacionais que alimentam os
circuitos de produção.
No segundo caso, a instantaneidade da informação e da comunicação permite a
circulação, sem custos, de bens informacionais para qualquer parte, gerando
contradições e conflitos.
Economia da cultura & Economia criativa
A dinâmica de produção em redes colaborativas, de comunicação instantânea,
contrasta com a linha de produção fordista de funções bem definidas e
especializadas. Ela compartilha funções, funde papéis, nivela o poder entre os
nodos da rede.
Ela não se restringe a um ambiente de trabalho fixo, pois os instrumentos de
produção leves e portáteis foram reapropriados pelas pessoas comuns e as
múltiplas conexões que podem ser estabelecidas geram produção social que
pode ou não ser direcionada ao mercado, mas da qual todos os que estejam
conectados são potenciais produtores.
As relações entre produtores e consumidores, global e local, tornam-se opacas e
conceitos como prosumidores e glocal são criados neste contexto.
Economia da cultura & Economia criativa
As pessoas em geral, estando full time conectadas à rede, com seus dispositivos
de acesso móveis, estão assim conectadas full time ao processo de produção e,
com isso, mesclam o “tempo de trabalho” e o “tempo de vida”, o “trabalho
profissional” e o “trabalho doméstico”. Esses aspecto do trabalho imaterial
favorece a inserção das formas de vida culturais e a produção da subjetividade à
produção do capitalismo informacional.
Além da qualificação formal do trabalhador, o tratamento eficaz da informação
também depende da qualidade de seus saberes, que caracterizam a
subjetividade individual.
Podemos diferenciar então os conhecimentos formalizados e objetivados da
ciência, que são adquiridos pelo ensino formal, e os saberes não formalizáveis
da experiência cotidiana, tradicionalmente vinculados ao tempo livre, e que são
revalorizados nesse processo de informatização da produção como fontes
geradoras de valor.
Economia da cultura & Economia criativa
“A conjugação entre conhecimentos (ciência) e saberes
(experiência) recobre e designa uma grande diversidade de
capacidades heterogêneas, ou seja, sem medida comum, entre as
quais o julgamento, a intuição, o senso estético, o nível de
formação e de informação, a faculdade de aprender e de se
adaptar a situações imprevistas; capacidades elas mesmas
operadas por atividades heterogêneas que vão do cálculo
matemático à retórica e à arte de convencer o interlocutor; da
pesquisa técnico-científica à invenção de normas estéticas”
André Gorz, O Imaterial
Economia da cultura & Economia criativa
Essa força produtiva, também denominada como “inteligência coletiva” não pode
ser medida pelo tempo ou pela quantidade de trabalho empregado, mas da
potência criativa dos agentes envolvidos na produção.
Embora seja uma construção comum, a força produtiva sob a forma de
inteligência coletiva encontra-se ao lado do capital, nas suas formas de
propriedade intelectual, e é comandada por ele, entretanto ela também o excede.
Sua dinâmica descentralizada e colaborativa e suas múltiplas conexões
constituem momentos de subjetivação, como potência criadora dos indivíduos e
da coletividade. Trata-se da produção de novas formas de organização, de
fruição e compartilhamento de informações, conhecimentos e saberes, enfim, de
novas maneiras de viver (biopolítica).
Economia da cultura & Economia criativa
Se a inteligência coletiva pode ser convertido em informação digital para entrar
nos circuitos de produção, a fluidez e replicação da informação digital podem
socializá-la.
“Hoje a capitalização do conhecimento se detém em uma nova
fronteira. Todo conhecimento passível de formalização pode ser
abstraído de seu suporte material e humano, multiplicado quase sem
custos na forma de software e utilizado ilimitadamente em máquinas
que seguem um padrão universal. Quanto mais se propaga, mais util
ele é a sociedade. Seu valor mercantil, ao contrário, tende a zero: o
conhecimento torna-se um bem comum acessível a todos. Uma
autêntica economia do conhecimento corresponderia a um comunismo
do saber no qual deixam de ser necessárias as relações monetárias de
troca”.
André Gorz, O Imaterial
Economia da cultura & Economia criativa
O viés da economia criativa que leva a uma economia compartilhada
manifesta-se primeiro nos bens imateriais por meio do movimento da
Cultura Livre
O termo “cultura livre” vem de “software livre” e carrega os mesmos
princípios.
Decorre da fluidez alcançada pela digitalização desses bens culturais
que podem e do ímpeto do capitalismo em impedir sua livre circulação.
Lawrence Lessig
● Cultura Livre: como a mídia usa a tecnologia e a lei para barra a
criação cultural e controlar a criatividade (2004)
● Remix (2008)
A ideia foi apropriada pela sociedade e praticada e defendida por muitos
artistas e movimentos que atuam no campo da cultura e de forma bem
mais radical que a defendida por Lessig.
Cultura livre
Cultura livre
A ideia comporta um projeto ético de disponibilização dos bens culturais
ao alcance de todos que no atual contexto econômico vai além de uma
democratização da cultura, mas de uma verdadeira democracia cultural
que permite a todos serem produtores de cultura.
A partir do momento que os bens culturais tornam-se uma das fontes mais
importantes de produção e geração de inovação na economia
contemporânea, a democracia cultural torna-se democracia econômica.
Esta tendência colaborativa que requer o compartilhamento dos recursos
é geradora de uma forma de propriedade comum - os “comuns” - distinta
das formas de propriedade privada ou pública estatal. Daí surgem novos
modelos de negócios não ancorados na propriedade intelectual.
A geração de valor monetário e renda será baseada, por exemplo, na
singularidade dos produtos, na prestação de serviços, além de se apoiar
em diferentes formas de fomento e subsídios.
Não há um modelo único, mas uma multiplicidade de possibilidades que
podem ser inventadas por cada artista ou produtor.
Cultura livre
Ciência cidadã
Ciência cidadã
Ciência cidadã é um conceito que pode se referir a produção de ciência,
tecnologia e inovação, na base, isto é, por cidadãos organizados em
redes colaborativas e compartilhadas, fora dos espaços tradicionalmente
estabelecidos para tal, como universidades e empresas.
O conceito é reforçado quando a finalidade dessa ciência se volta para a
cidadania e o bem comum.
Muitas comunidades surgem de experimentos de produção e
conhecimentos distribuídos em rede, troca de ideias e informações entre
amadores, profissionais e acadêmicos em todas as disciplinas.
Estas redes de colaboração e sua proliferação são responsáveis pela
criação de enormes projetos coletivos, como GNU/Linux e Wikipédia,
destacando a necessidade de resolver problemas globais e locais.
Estas redes podem ser criadas e funcionar de maneira autônoma ou
serem ativadas e agenciadas por grandes instituições de pesquisa
estatais ou privadas.
Ciência cidadã
Universidades, institutos de pesquisa e empresas tem criado dinâmicas para o
engajamento de cidadãos no desenvolvimento da ciência e da busca de
soluções para problemas sociais nos mais diversos campos do conhecimento.
Projetos como BOINC, Einstein@Home, LHC@Home e Source Forge, baseiam-
se no princípio de que a soma de muitos computadores domésticos aplicados
voluntariamente resulta numa capacidade de processamento equivalente a de
um supercomputador, a baixo custo.
No Brasil, uma iniciativa pioneira desta prática foi o Brasil@Home, promovido
pela Citizen Cyberscience Center.
Ciência cidadã
O crowdsourcing científico operam um deslocamento da produção de ciência,
tecnologia e inovação de dentro dos espaços fechados de laboratórios de
universidades e empresas para as redes distribuídas pela sociedade, embora
ainda sejam capitaneadas e comandadas por estas grandes instituições.
Ao mesmo tempo, as múltiplas conexões em rede de práticas colaborativas
também criam circuitos autônomos de produção científica pela capacidade de
apropriação tecnológica de alguns coletivos.
A socialização crescente das tecnologias informacionais juntamente com acesso
de informações e conhecimentos compartilhados na Web facilitam e estimulam a
criação de laboratórios dos mais variados tipos de laboratórios.
Ciência cidadã
Existem hoje uma grande diversidade de laboratórios denominados de Media
Labs e Hack Labs e Fab Labs pesquisando e produzindo novas tecnologias de
softwares, hardware, aplicativos, robótica, audiovisual, estúdios artísticos,
mobiliário e uma infinidade de peças e objetos customizados, além de se
configurarem como espaços de pesquisa em geral.
Estes espaços não parem de se multiplicar e se interconectar configurando
coletivos tecnológicos de todos os tipos que produzem novas tecnologias voltadas
às comunidades em que se encontram e à coletividade mais ampla pela
capacidade de replicação dessas tecnologias.
Ciência cidadã
A disseminação de novos tipos de tecnologia que envolvem
hardware livre, impressoras 3D, modeladores e cortadores de
madeira deu ensejo ao chamado Movimento Maker, que integrado
à internet das coisas, tem elevado a economia compartilhada a
novos patamares.
Ciência cidadã
Internet das coisas
Internet das coisas
A internet das coisas (IdC) conecta todas as coisas com todo o mundo
numa rede global integrada.
Pessoas, máquinas, recursos naturais, redes de produção, fluxos de
reciclagem, infraestrutura urbana e praticamente todo e qualquer aspecto
da vida econômica e social estará conectado via sensores e software à
plataforma de IdC, alimentando continuamente cada nó – empresas, lares,
veículos – com Big Data (megadados), em tempo.
As possibilidades de aplicação são muito amplas: gestão urbana, gestão
de estoques, medicina, conservação ecológica, energia,
A IdC envolve o ambiente construído e o ambiente natural numa rede
operacional coerente, permitindo que cada ser humano e cada coisa se
comuniquem entre si para encontrar sinergia e facilitar interconexões que
otimizem a eficiência termodinâmica da sociedade e, ao mesmo tempo,
assegurem o bem estar do planeta como um todo.
Cada um de nós é um neurônio do sistema nervoso da biosfera.
Internet das coisas
A IdC é composta pela Internet das Comunicações, Internet da Energia e
Internet do Transporte, que juntas num sistema operacional único,
encontrando continuamente maneiras de aumentar eficiência
termodinâmica e a produtividade para o gerenciamento de recursos, a
produção, a distribuição de bens e serviços, e a reciclagem do lixo.
A natureza distribuída e interconectada da IdC aprofunda o engajamento
empreendedor do indivíduo em proporção direta à diversidade e à força
de suas relações colaborativas na economia social.
Internet das coisas
Medialabs, hacklabs, fablabs
Medialabs, hacklabs, fablabs
Existem hoje uma grande diversidade de laboratórios denominados de
Media Labs e Hack Labs e Fab Labs pesquisando e produzindo novas
tecnologias de softwares, hardware, robótica, audiovisual, estúdios
artísticos, mobiliário e uma infinidade de peças e objetos customizados,
além de se configurarem como espaços de pesquisa em geral.
Estão se multiplicando e se interconectando em redes de colaboração,
produzindo novas tecnologias voltadas às comunidades em que se
encontram e à coletividade mais ampla pela capacidade de replicação
dessas tecnologias.
Medialabs, hacklabs, fablabs
Este surgimento está associado ao desenvolvimento de tecnologias de
produção mais acessíveis e capazes de produzir uma grande variedade
de coisas.
Medialabs, hacklabs, fablabs
São espaços permanentes ou temporários que a partir de modelos e
perspectivas variadas se dedicam a trabalhar com as novas tecnologias
promovendo a integração de artistas, designers, engenheiros,
educadores, cientistas, entre outros profissionais. Possuem enfoques e
metodologias que variam de acordo com as estratégias escolhidas e com
o contexto no qual estão inseridos,
Medialabs, hacklabs, fablabs
Medialabs, hacklabs, fablabs
Estão envolvidos por princípios de um movimento mais amplo
denominado Movimento Maker e DIY – do it your self
Medialabs
MIT Media Lab, fundado por Nicholas Negroponte em 1985 foi o
precursor.
Laboratórios Multimídias, impulsionados pelos popularização dos
computadores e outros dispositivos de informática.
Experiências com o desenvolvimento de tecnologias multimídia, arte e
tecnologia aplicação de softwares.
hacklabs
Semelhantes aos Medialabs, como com um viés mais político.
Desenvolvem aplicações com dados governamentais abertos no âmbito
das práticas de Civic Hacking, plataformas web para movimentos sociais
e projetos de Mídia Tática.
Fablabs
Fab Lab (abreviação do termo em inglês fabrication laboratory), produz
objetos físicos como máquinas de operação digital e hoje constitui uma
rede internacional.
Surgiu no Centro de Bits e Átomos do MIT em 2001, como invenção do
físico Neil Gershenfeld, a partir de um curso chamado “Como Fazer
(Quase) Tudo”.
● Fab: The Coming Revolution on Your Desktop:
from Personal Computers to Personal Fabrication (2005)
A missão do projeto Fab Lab era proporcionar um laboratório onde
qualquer pessoa poderia usar as ferramentas disponíveis para criar seus
próprios projetos de impressão 3D.
Fablabs
● Cortadora de vinil
● Cortadora a laser
● Fresadora de precisão
● Fresadora de grande formato
● Impressora 3D
● Componentes eletrônicos
● Sistema de videoconferência
Maquinário proposto pelo CBA-MIT
Fablabs
Os Fab Labs como parte do Movimento Maker, tem sido guiados por 4
princípios:
● O compartilhamento aberto de novas invenções
● A promoção da cultura de aprendizado colaborativa
● Uma crença na autossuficiência da comunidade
● Compromisso com práticas de produção sustentáveis.
Fablabs
O está em jogo é a democratização da manufatura, possibilitando que
cada pessoa e todas tenham acesso aos meios de produção, tornando
irrelevante a questão de quem deve ter a posse e o controle dos meios
de produção.
Referências bibliográficas
Referências bibliográficas
BOOKCHIN, Murray. Autogestão e tecnologias alternativas. In Textos Dispersos.
Lisboa: SOCIUS, 1998.
DAGNINO, Renato (Org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra
sociedade. Campinas: Komedi, 2010.
DAUMAS, Maurice. Las grandes etapas del progresso técnico. México, D.F.:
Fondo de Cultura Económica, 1996.
DICKSON, David. Tecnologia alternativa. Madrid: H. Blume Ediciones, 1978.
GORZ, André, O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume,
2003.
HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. In Ensaios e Conferências, páginas
11-38. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.
Referências bibliográficas
HIMANEN, Pekka, La ética del hacker y el espíritu de la era de la informarción.
http://www.misol.org.ar/wp-content/uploads/libros/EticaHacker.pdf
ILLICH, Ivan. A convivencialidade. Lisboa: Publicações Europa-América, 1976.
LESSIG, Lawrence. Cultura Livre: como a mídia usa a tecnologia e a lei para
barra a criação cultural e controlar a criatividade, 2005.
LÉVY, Pierre, Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 2005.
LOJKINE, Jean. A revolução informacional. São Paulo: Cortez, 2002.
MARCUSE, Herbert. I Algumas implicações sociais da tecnologia moderna. In
Tecnologia, Guerra e Fascismo, páginas 71-104. São Paulo: Editora Unesp,
1998.
Referências bibliográficas
MARX, Karl. A maquinaria e a indústria moderna. In O capital: crítica da economia
política: livro I, páginas 425-499. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
RAYMOND, Eric S. (1998), Como se Tornar um Hacker, – tradução de Rafael
Caetano dos Santos. http://www.linux.ime.usp.br/~rcaetano/docs/hacker-howto-pt.html
RIFKIN, Jeremy, Sociedade com custo marginal zero: a internet das coisas, os bens
comuns colaborativos e o eclipse do capitalismo. São Paulo: M. Books, 2016.
STALLMAN, Richard. Software libre para una sociedad libre. Madrid: Traficantes de
Sueños, 2004.
Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação
Banco do Brasil, 2004.
WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos. São
Paulo: Cultrix, 1968.

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TECNOLOGIAS SOCIAIS

  • 1. TECNOLOGIAS SOCIAIS Luis Eduardo TavaresLuis Eduardo Tavares Faculdade Escola de Sociologia e Política de São Paulo 11 a 15 de julho de 2016 Curso de Extensão
  • 3. ● Conceito difuso usado de muitas maneiras e em contextos diferentes. ● Conceito complexo que abarca uma multiplicidade de subconceitos e conceitos variantes. ● Tecnologia diferente da convencional que reúne um conjunto de valores éticos alternativos aos padrões civilizatórios dominantes. ● São chamadas sociais, pois em contraste com as tecnologias convencionais, estão ligadas a um projeto de emancipação social pela democratização do acesso e pela liberdade de uso. TECNOLOGIA SOCIAL ● Desenvolvida no âmbito dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia
  • 4. O termo Tecnologia Social foi gerado no Brasil e é recente em relação aos princípios aos quais ele está associado e que vem sendo formulados em diversas partes do mundo pelo menos desde a consumação da sociedade industrial e seus efeitos sociais e ambientais negativos. TECNOLOGIA SOCIAL
  • 5. Técnica e TECNOLOGIA Tecnologia é um domínio social que abrange inúmeras formas, tais como um conjunto de técnicas, conhecimentos, regulamentos, métodos, ferramentas e objetos artificiais em geral. A tecnologia expressa a própria sociedade, suas habilidades e formas de aplicação do conhecimento. A tecnologia é a mesmo tempo abstrata e concreta, reunindo a arquitetura e o discurso, o mecanismo e o programa, a funcionalidade e a ideologia num mesmo agenciamento.
  • 6. Técnica e TECNOLOGIA A palavra “técnica” vem de technè em grego, cujo sentido constitui o fazer na habilidade artesanal e nas belas artes. Ou seja, pertence à produção e é algo poético. Mas é um fazer que implica primeiramente um conhecer próprio que é a habilidade necessária do artesão para transformar os materiais com uma determinada finalidade. E como um princípio do conhecimento, cada técnica se desenvolve numa ciência correspondente.
  • 7. Técnica e TECNOLOGIA A palavra “tecnologia” apareceu somente no século XII, significando o discurso sobre as técnicas, ou melhor, a ciência fundamentada das diferentes técnicas. Na atualidade, o termo tecnologia conserva o significado original, sendo usado para se referir às ciências, mas também para caracterizar os mais diversos tipos de artefatos (físicos) e artifícios (métodos), fazendo com que técnica e tecnologia sejam praticamente sinônimos.
  • 8. Técnica e TECNOLOGIA O filósofo alemão Martin Heidegger aponta duas características fundamentais da tecnologia. A primeira é a característica antropológica: “A tecnologia moderna passa, como qualquer tecnologia mais antiga, por coisa humana, inventada, executada, desenvolvida e dirigida de modo estável pelo homem e para o homem.” A segunda é a característica instrumental: “O instrumento é o aparelho ou o utensílio, o instrumento de trabalho, o meio de transporte, o meio em geral. A tecnologia passa por qualquer coisa que o homem manipula, da qual ele se serve na perspectiva de uma utilidade.”
  • 9. Técnica e TECNOLOGIA A característica antropológico-instrumental da tecnologia possibilita uma visão de conjunto que unifica toda a história do desenvolvimento tecnológico. Desse ponto de vista, não há diferença entre um machado de pedra do paleolítico e um satélite espacial de comunicação, para usar um exemplo do próprio filósofo.
  • 10. Técnica e TECNOLOGIA A tecnologia ocidental moderna ainda possui a especificidade de estar associadas à ciência moderna, caracterizada pelo desejo de desenvolvimento ilimitado, de dominação e exploração da natureza.
  • 11. Técnica e TECNOLOGIA Heidegger vê nesta concepção corrente da tecnologia, de um desejo de um avanço ilimitado, uma perplexidade e impotência do homem sobre algo que ele já não controla. “Quando se aceita esta submissão como inevitável, adere-se ao triunfo de um processo que se reduz a preparar continuamente os meios, sem nunca se preocupar com a determinação dos fins.”
  • 12. Técnica e TECNOLOGIA A tecnologia de uma época é a tecnologia selecionada e direcionada pela estrutura de poder da época. Assim como a bomba atômica não é o resultado inevitável do desenvolvimento da física atômica, podemos pensar o mesmo de qualquer tecnologia que temos como convencionais. São motivadas por atender a racionalidade dominante. Racionalidades alternativas produzem tecnologias alternativas. Mas estas enfrentam muitas dificuldades para se impor.
  • 14. A revolução tecnológica industrial não diz respeito apenas às máquinas concretas (máquinas de fiar movidas a vapor), mas também às máquinas abstratas (sistemas de fábrica) que conformavam aquela estrutura social. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Ambas tecnologias que visavam a intensificação da produção atendiam aos desígnios de uma estrutura de poder capitalista que tinha como principal sujeito a ascendente burguesia urbana.
  • 15. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Apoiada na ciência moderna, a Revolução Industrial deflagrou uma aceleração do ritmo das inovações tecnológicas, reunindo e fazendo convergir um número crescente de conhecimentos e incitando a tendência à expansão ilimitada do domínio tecnológico. Primeira Revolução Industrial: máquinas a vapor, das ferrovias, telégrafos Segunda Revolução Industrial: petróleo, eletricidade, automóveis e aviões, telefones, rádio e televisão Terceira Revolução Industrial: energia nuclear, eletrônica, computadores
  • 16. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL “O objetivo das inovações mecânicas na produção não tem por finalidade aliviar a labuta diária, mas sim baratear a mercadoria, encurtando a parte do dia de trabalho da qual precisa o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratuitamente ao capitalista. A maquinaria é o meio para produzir mais-valia.” (MARX, 2008: 427) Em “A maquinaria e a industrial moderna”, Capítulo XIII do Livro I de O Capital, Karl Marx fez uma das mais importantes reflexões sobre a tecnologia da Revolução Industrial. “A tecnologia revela o modo de proceder do homem para com a natureza, o processo imediato de produção de sua vida, e, assim, elucida as condições de sua vida social e as concepções mentais que delas decorrem.” (MARX, 2008: 428)
  • 17. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A estrutura da Revolução Industrial provocou a alienação dos trabalhadores ao retirar os meios de produção de sua posse e transferir suas habilidades manuais para as máquinas. A função do trabalhador manual se converte em um operador da máquina ou apenas seu vigia. Se torna ele próprio um instrumento da máquina. “Depois que os instrumentos se transformam de ferramentas manuais em ferramentas incorporadas a um aparelho mecânico, a máquina motriz, o motor, adquire uma forma independente, inteiramente livre dos limites da força humana.” (MARX, 2008: 434)
  • 18. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL O caráter irresistível do avanço do domínio tecnológico, por um lado, alimentou as utopias de progresso advindas da filosofia das luzes, por outro, descortinou a tragédia inerente a ele, fazendo surgir uma consciência de negação desse processo ou que deseja impor limites a ele. Utopias e distopias tecnológicas da literatura. Pensamento radical no século XIX: movimento ludita (quebradores de máquinas), socialismo utópico, socialismo revolucionário, anarquismo.
  • 19. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Socialismo utópico é fonte de inspiração para tecnologias alternativas. ● Charles Fourier (1772-1837): Falanstérios ● Robert Owen (1771-1859): New Lanark, New Harmony, Labour Exchange Socialismo científico de Karl Mark não desenvolveu um pensamento sobre tecnologias alternativas, apenas sobre a transferência da posse das tecnologias industriais.
  • 20. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Durante a Segunda Revolução Industrial, a Escola de Frankfurt, desenvolveu importantes reflexões críticas sobre a sociedade tecnológica. Conceito de “razão instrumental” define a racionalidade dominante integrada à maquinaria que extrapola o ambiente de fábrica para toda a sociedade.
  • 22. REVOLUÇÃO INformacional A revolução tecnológica que vivemos hoje é um processo que vem transcorrendo desde a década de 1940, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um longo processo de transformações que envolve mudanças de paradigmas nas ciências que vão num sentido de transversalidade dos saberes, crises energéticas, colapso da URSS e globalização. Período em que as tecnologias informacionais foram desenvolvidas e moldadas. Também equivale a passagem para a pós-modernidade.
  • 23. REVOLUÇÃO INformacional Esta revolução tecnológica envolve novos instrumentos de produção que estão atrelados a uma nova organização do trabalho. Não se trata mais do sistema de fábrica, da linha de montagem fordista, mas da rede colaborativa não linear, em que as informações, conhecimentos e sabres são compartilhados. O sistema de produção informacional instaura novas contradições e conflitos com o sistema industrial.
  • 24. REVOLUÇÃO INformacional Máquinas da Revolução Industrial ● energéticas, grandes, pesadas, barulhentas, poluentes ● extensões dos músculos ● produzem bens materiais ● transferem para as máquinas habilidades manuais dos trabalhadores Máquinas da Revolução Informacional ● informáticas, pequenas, leves, silenciosas, limpas ● extensões do sistema nervoso ● produzem bens imateriais ● transferem para as máquinas funções cerebrais dos trabalhadores Mudança de padrões das máquinas
  • 25. REVOLUÇÃO INformacional Ao transferir funções cerebrais para as máquinas, as tecnologias da Revolução Informacional podem gerar novas formas de alienação e dominação. Ao mesmo tempo, sua portabilidade faz com que os meios de produção retornem a posse dos trabalhadores, possibilitando novas formas de emancipação.
  • 27. Tecnologias sociais Surgem como uma crítica e uma proposta alternativa à tecnologia convencional dominante. Momentos crise econômica e social Influência dos socialismos utópicos e padrões civilizatórios não- ocidentais.
  • 28. Conceito que usamos no Brasil é um desdobramento de uma longa evolução e funciona como um guarda-chuva de diferentes conceitos que levam nomes como: tecnologias apropriadas, tecnologias intermediárias, tecnologias alternativas, tecnologias utópicas, tecnologias abertas, tecnologias livres, entre tanto outros a eles associados e que são usados conforme a tendência ideológica e o viés econômico, cultural ou social que se queira enfatizar. Tecnologias sociais
  • 30. TECNOLOGIA APROPRIADA Um movimento em torno da ideia de tecnologias apropriadas surge na década de 1970 no contexto da uma crise energética do período e da ascenção do pensamento ecológico. Tecnologias apropriadas são tecnologias adequadas aos contextos sociais, culturais e naturais das localidades e em conformidade com seus recursos materiais e imateriais existentes Seus princípios são muito anteriores, sendo reconhecidos na índia desde o final do século XIX
  • 31. Mahatma Gandhi (1869-1948) Durante as décadas de 1920 e 1930, dedicou-se intensamente a construir programas visando o desenvolvimento de uma indústria autossuficiente dos pequenos vilarejos indianos. Estratégia advinha já de reformadores indianos do final do século XIX, que buscavam reabilitar as tecnologias tradicionais indianas como forma de combater a dominação britânica que avançava com as máquinas de fiar a vapor. Em 1925, fundou a All-India Spinners Association e em 1935 fundou a All- India Village Industries Association. TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 32. ““Produção pelas massas, não produção em massa.Produção pelas massas, não produção em massa.””
  • 33. O projeto de Gandhi envolveu a popularização da Charkha, uma roca de fiarO projeto de Gandhi envolveu a popularização da Charkha, uma roca de fiar manual, despertando a consciência política de milhões de habitantes dosmanual, despertando a consciência política de milhões de habitantes dos vilarejos sobre a necessidade da autodeterminação do povo e da renovaçãovilarejos sobre a necessidade da autodeterminação do povo e da renovação da indústria nativa.da indústria nativa.
  • 34. O projeto não consistia numa conservação estática das tecnologiasO projeto não consistia numa conservação estática das tecnologias tradicionais. Mas objetivava:tradicionais. Mas objetivava: Aplicação de uma tecnologia apropriada as condições locaisAplicação de uma tecnologia apropriada as condições locais Pesquisa científica para o melhoramento das técnicas tradicionaisPesquisa científica para o melhoramento das técnicas tradicionais Desenvolvimento orgânico das aldeias e vilarejosDesenvolvimento orgânico das aldeias e vilarejos
  • 35. Gandhi nunca usou o termo Tecnologia Apropriada, mas os princípiosGandhi nunca usou o termo Tecnologia Apropriada, mas os princípios dela podem ser reconhecidos de maneira integral em suas práticas.dela podem ser reconhecidos de maneira integral em suas práticas.
  • 36. Ernst Friedrich Schumacher (1911-1977) Precursor do movimento contemporâneo das tecnologias apropriadas. Em 1965, publicou o artigo “Como ajudá-los a ajudar a si próprios” Em 1966, ele cria o Intermediate Technology Development Group – ITDG Em 1973 publicou “Small Is Beautiful: A Study of Economics As If People Mattered” TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 37. Durante a década de 1970 até começo dos 80, o movimento das tecnologias apropriadas cresceu bastante. Em 1977, a OECD identificou 680 organizações envolvidas no desenvolvimento e promoção de tecnologias apropriadas e em 1980 este número havia aumentado para mais de 1000. Em 1976, o Banco Interamericano de Desenvolvimento criou o Comitê para Aplicação de Tecnologias Apropriadas e Organização Mundial da Saúde estabeleceu programas de tecnologias apropriadas para a saúde. Em 1977, o governo dos EUA criou o Centro Nacional para Tecnologias Apropriadas. TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 38. As tecnologias apropriadas foram pensadas tanto para países em desenvolvimento, quanto para países desenvolvidos. No primeiro caso, serviam como forma de combater a pobreza extrema, fome, desemprego, devastação ecológica e migração urbana. No segundo, servia como meio de diminuir impactos negativos sobre o meio ambiente e a sociedade. TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 39. As principais aplicações das tecnologias apropriadas são nos campos da construção, água e saneamento, geração e uso de energia, transporte, saúde, preparação e estoque de alimentos, comunicação e informação e finanças. TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 40. Em 1983, a OECD publicou o resultado de seu extensivo levantamento sobre a temática intitulado “The World of Appropriate Technology”, no qual define o conceito como caracterizado por baixo custo de investimento e do produto final, simplicidade organizacional, alta adaptabilidade para um meio cultural ou social particular, alto potencial de aplicação e redução do uso de recursos naturais. TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 41. O movimento das tecnologias apropriadas vem declinando desde a década de 1980 e diversas causas podem ser atribuídas a este fato. ● Baixo custo das tecnologias que se reflete no baixo retorno de investimento no seu desenvolvimento ● Dependência de políticas públicas e cooperação internacional ● Contraria aos interesses dominantes ● Criadas fora dos contextos onde eram aplicadas TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 42. Os princípios de tecnologias apropriadas retornam na atualidade em junção com os princípios e open source, são as chamadas Open Source Appropriate Technology (OSAT). Mais recentemente a rede de midialabs, fablabs e hacklabs ganha a alcunha de Civic Tech. A proposta de negócios sociais formulado por Muhammad Yunus e os crowfundings aparecem como nova forma de superar as barreiras do investimento sem retorno dentro de uma lógica de mercado. Ressurgimento do conceito TECNOLOGIA APROPRIADA
  • 44. A discussão sobre as chamadas tecnologias alternativas apresentavam um viés diferente e mais radical que as tecnologias apropriadas, estando associadas a ideais anarquistas e resgatando princípios dos socialistas utópicos. Faziam não somente a crítica à economia capitalista, mas também à dos países comunistas. TECNOLOGIA Alternativa
  • 45. Eram também chamadas de tecnologias utópicas somente possíveis de se realizar em outros modelos de sociedade e seus defensores consideravam que uma reforma social deveria vir primeiro. Ao mesmo tempo, identificava-se esse potencial alternativo em certas tecnologias existentes como manifestações do nascimento de uma nova sociedade. TECNOLOGIA Alternativa
  • 46. Murray Bookchin (1921-2006) Em 1965, publicou o ensaio “Toward a Liberatory Technology” Pensador anarquistas bastante influente em movimentos sociais urbanos, ligados ao direito à cidade, defensor da ideia de municipalismo libertário. ● Autogestão → Autonomia (selfhood) → Autogoverno ● Trabalho livre e criativo ● Descentralização do poder econômico e político
  • 47. Trabalho livre e criativo Inspiração em Fourier que vai no sentido de retorno ao modelo de trabalho artesanal e prazeiroso em que o homem tem o controle da ferramenta e possui autonomia. Autogestão Significado próximo ao sentido grego de autonomia individual (selfhood) que leva ao autogoverno e demanda educação. Descentralização econômica e política Sociedade formada por pequenas unidades produtivas e políticas autossuficientes e federadas. Uso de tecnologias informacionais para deslocar o poder da escala nacional para a local, dos meios burocráticos centralizados para as assembleias populares locais.
  • 48. Ivan Illich (1926-2002) Biólogo, teólogo e filósofo, influenciado pela democracia cristã, desenvolveu uma crítica radical a sociedade ocidental e suas instituições, buscando caminhos para uma sociedade alternativa. Em 1973, publicou “A Convivencialidade”. “Chamo sociedade convivencial àquela em que a ferramenta moderna está a serviço da pessoa integrada na coletividade e não a serviço da um corpo de especialistas. Convivencial é a sociedade em que o homem controla a ferramenta.”
  • 49. Análise crítica da sociedade industrial que perpassa a medicina, o sistema de transporte, a indústria da construção, as formas de monopólio privadas e estatais, e a degradação do meio ambiente. A sociedade atual está dividida entre os que não tem o suficiente e os que tem em demasia. Os pobres sentem-se frustrados e os ricos insatisfeitos. A raiz está no málogro do projeto da modernidade que resultou na substituição do homem pela máquina, gerando servidão para o produtor e intoxicação para o consumidor.
  • 50. A solução para a crise exige a conversão da estrutura que regula a relação entre o homem e a ferramenta para fazer emergir as ferramentas justas, que sejam: 1.criadoras de eficiência sem degradar a autonomia pessoal; 2.não produtoras nem escravos, nem senhores; 3.Ampliadoras do raio de ação pessoal. Uma ferramenta que não se apodere do trabalho humano, que tire o melhor partido da energia e da imaginação das pessoas ao invés de as programar e tiranizar. E que possibilite a cada um utilizá-la sem dificuldade para os fins que o próprio determine.
  • 51. Illich utiliza o termo ferramenta da maneira ampla, abrangendo todos os instrumentos racionais da ação humana, as máquinas, as instituições, as estruturas, seus modos de funcionamento e utilização. Tudo que pode ser tomado como meio e posto a serviço de uma intencionalidade é para ele ferramenta. A ferramenta é inerente às relações sociais e sempre que o homem atua ele se serve de ferramentas, quer ele as domine ou seja dominado por elas. “Enquanto eu dominar a ferramenta, dou ao mundo meu sentido, quando a ferramenta me dominar, sua estrutura conforma e informa a representação que tenho de mim mesmo. Ferramenta convivencial é aquela que me deixa a maior latitude e o maior poder para modificar o mundo de acordo com minha intenção.”
  • 52. Esta seria a passagem da sociedade industrial para a sociedade convivencial que traduz a passagem da repetição da carência para a espontaneidade do dom. Em outras palavras, a substituição de um valor técnico por um valor ético. “Uma sociedade convivencial é uma sociedade que oferece ao homem a possibilidade de exercer uma ação mais autônoma e mais criativa, com auxílio das ferramentas menos controláveis pelos outros. A produtividade conjuga-se em termos de ter, a convivencialidade em termos de ser.” Esse projeto exige a renúncia a superpopulação, a superabundância e ao superpoder. Exige a escolha por uma vida simples.
  • 53. David Dickson (1947-2013) Em 1975, publicou “Tecnologias Alternativas: Políticas da Mudança Tecnológica”. Apresenta as tecnologias alternativas como vetor fundamental de uma transformação social, mas reconhecendo sua dimensão utópica de que somente são viáveis em outro modelo de sociedade. Realiza um grande compêndio de ideias sobre tecnologias alternativas, discutindo as tecnologias de diversas sociedades e épocas, até os saberes tradicionais e etnociências.
  • 54. “Uma tecnologia alternativa só pode ser aplicada com êxito em larga escala uma vez que tenha sido criada uma forma alternativa de sociedade. Assim, toda a discussão sobre a tecnologia alternativa há de ser necessariamente utópica. Isto não significa que os instrumentos e máquinas descritos como alternativos sejam impraticáveis, mas que sua introdução em uma escala importante seria virtualmente impossível dentro da atual estrutura da sociedade.”
  • 55. As sociedades socialistas do século XX em sua tentativa de criar um modelo mais justo de sociedade se apropriaram do modo de produção formulado inicialmente dentro dos marcos capitalistas, sendo obrigadas a aplicar forte centralização e controle da organização social para fazerem uso eficaz desta tecnologia. É preciso deslocar a ideologia industrial dominante, bem como as práticas sociais as que ela se baseia e pensar numa forma alternativa de desenvolvimento social em que a inovação tecnológica responda a necessidades sociais diretas, abarcando uma série de valores sociais e culturais muito diferentes dos atuais. Existem três grupos de relações sobre os quais uma tecnologia alternativa deve implicar. A relação da tecnologia com os indivíduos, com a comunidade e com o meio ambiente.
  • 56. Deve proporcionar idealmente os meios pelos quais este poderia realizar-se e experimentar de modo completo todas as potencialidades humanas. Relação com os indivíduos Uma tecnologia não alienadora, que auxilia um trabalho prazeiroso, permanecendo sob o controle direto dos indivíduos, seja produtores ou consumidores, assegurando que as máquinas sigam sendo um apêndice dos homens e não o contrário. Que os una com os demais membros da comunidade, bem como de seu entorno ambiental.
  • 57. Devem acentuar unidades produtivas semelhantes a oficinas artesanais, isto é, em pequenas escalas. Relações comunitárias A produção social deveria estar organizada de maneira descentralizada em três níveis: A partir de oficinas vicinais, nas quais o trabalho artesanal atenderia as demandas microlocais; A partir de pequenas fábricas com diversidade de objetos capazes de criar toda uma série de produtos diferentes com instrumentos flexíveis; A partir de fábricas do tamanho médio, amplamente automatizadas que respondessem a um nível regional, produzindo tanto bens acabados e elementares para as fábricas e oficinas comunais.
  • 58. Devem dar bastante ênfase aos aspectos ecológicos, fazendo uso mínimo dos recursos naturais não-renováveis, sem emissão de poluentes. Relação com o meio ambiente Que não suponham um perigo à saúde da comunidade e que não apenas causem a menor interferência possível, mas que busque uma confluência com os ciclos naturais. Isso envolve o uso de fontes energéticas limpas (eólicas, hidráulicas, solares), e reciclagem de materiais.
  • 59. Mais uma vez, tais ideias sobre tecnologia alternativas, implicam uma vida mais simples: “Ainda que o nível de vida geral – medido em termos de quantidades de bens, materiais, etc – será provavelmente muito menor que o proporcionado pelas sociedades industriais contemporâneas, também serão menores os riscos que a tecnologia utópica apresenta sobre a estrutura social e ambiental.”
  • 61. Ideia de que a tecnologia possa ser livremente acessada, usada, modificada e distribuída Implica num modelo alternativo à propriedade intelectual, em formas de licenças abertas e/ou flexíveis. As principais inovações tecnológicas no nosso tempo são baseadas nesse padrão de abertura, que advém da ética hacker. TECNOLOGIA livre
  • 62. Enquanto um jargão da informática,a ética hacker possui entendimentos que em geral coincidem quando se refere a pessoas com grandes habilidades em computação. Mas que divergem quando se usa para se referir a cibercrimes como invasões de sistemas, roubo de informações e disseminação de vírus de computadores. TECNOLOGIA Alternativa
  • 63. Ética hacker Eric S. Raymond, autor de “A catedral e o bazar” (1999), descreve “ética hacker” da seguinte maneira: “A crença de que a partilha da informação é um bem poderoso, positivo, e que é um dever ético dos hackers partilhar os seus conhecimentos, escrevendo códigos de fonte abertos e facilitando o acesso à informação e aos recursos de computação sempre que possível. Grandes redes de cooperação, tais como Usenet, FidoNet e a própria Internet podem funcionar sem um controle central por causa dessa característica que ambos dependem e reforçar um sentido de comunidade que pode ser o mais valioso ativo intangível dos hackers.” Jargon File
  • 64. Ética hacker O sentido do termo hacker, literalmente significa uma pessoa ou instrumento que aplica um corte ou fenda (hack). A origem do jargão hacker e da própria ética hacker vem de laboratórios de tecnologia de universidades dos EUA, desde os anos 1940, designando a habilidade de seus integrantes em intervir numa determinada máquina, abri-la e modificá-la. Eram como clubes, ambientes descontraídos e não-autoritários, em que seus membros desenvolviam essas atividades enquanto hobbies, ao mesmo tempo em que se misturava aos projetos institucionais e acadêmicos.
  • 65. A ética hacker está intimamente ligada às atividades laborais, ou melhor, a uma concepção alternativa de atividades laborais. Na sociedade da informação, ela participa de fato do rol de características do trabalho pós-fordista, nas suas dinâmicas colaborativas e dos processos compartilhados. Em “A ética hacker e o espírito da era da informação”, Pekka Himanen compara a ética hacker com a ética protestante no trabalho. Ética hacker
  • 66. “Linus Torvalds descreveu seu trabalho com Linux como uma combinação de hobby agradável e trabalho sério: 'Linux tem sido em grande medida um hobby (ainda que do melhor tipo: um hobby sério)'”. Himanen salienta a postura dos hackers em relação a seu ofício, em geral de programação de computadores, como um entretenimento, uma diversão à qual se dedicam com afinco e entusiasmo. E que ao mesmo tempo é um trabalho levado a sério: “Um bom exemplo disso é o modo como a hacker irlandesa de dezesseis anos Sarah Flanery descreve seu trabalho no chamado algoritmo de encriptação Cayley-Purser; 'me toma uma sensação de total entusiasmo... Trabalhava constantemente dias inteiros até terminar, e era estimulante. Havia momentos em que não queria parar'. Ética hacker
  • 67. Richard Stallman (1953- ) Em 1984, fundou a Free Software Foundation, criando o modelo de software livre, a General Public License (GPL). Vivenciou o processo de desenvolvimento dos computadores pessoais e da imposição do nondisclosure agreement (acordo de não revelar o código dos softwares). “O ato de compartilhar software não estava limitado a nossa comunidade em particular; é tão antigo como os computadores, da mesma maneira que compartilhar receitas é tão antigo como cozinhar.”
  • 68. ● Liberdade de executar o programa com qualquer propósito. ● Liberdade de modificar o programa para adaptá-lo às suas necessidades, o que pressupõe o acesso ao código fonte; ● Liberdade de redistribuir cópias de um programa livre, tanto grátis quanto pelo preço que queira; ● Liberdade de distribuir versões modificadas do programa de tal forma que a comunidade possa se beneficiar das melhorias. O tema central apregoado pelo movimento é a ideia de liberdade. São 4 Liberdades
  • 69. Stallman entende a liberdade como um direito natural e, por isso, qualifica o copyright de anti-social e não-ético: “O copyright não é um direito natural, mas sim um monopólio artificial imposto pelo governo que limita o direito natural dos usuários à cópia. Segundo a filosofia do software livre, os usuários de computadores devem ter liberdade para modificar os programas, para ajustá-los às suas necessidades, e liberdade para compartilhar o software, porque a base da sociedade está em ajudar outras pessoas.”
  • 70. Tecnologias Apropriadas Tecnologias Intermediárias Tecnologias Alternativas Tecnologias Utópicas Tecnologias Livres Tecnologias Abertas TECNOLOGIAS SOCIAIS
  • 71. TECNOLOGIAS SOCIAIS Estar sob controle e a serviço do bem comum dos indivíduos e coletividades. Permitir de autonomia, trabalho livre e criativo Aplicada em escala comunitária, de maneira descentralizado em pequenas unidades políticas e econômicas Envolvimento dos atores e saberes locais no seu desenvolvimento Responder a necessidades sociais diretas Liberdade de uso, modificação e distribuição Baixo custo de produção Utilizem máximo de recursos naturais renováveis e o mínimo não-renováveis. Estar associada a uma vida simples
  • 72. LIMITES DAS TECNOLOGIAS SOCIAIS ● Baixo custo das tecnologias que se reflete no baixo retorno de investimento no seu desenvolvimento. ● Dependência de políticas públicas e cooperação internacional. ● Desenvolvidas fora dos contextos onde eram aplicadas. ● Contraria aos interesses dominantes. ● Dimensão utópica somente viáveis em outro modelo de sociedade.
  • 74. TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL O termo tecnologia sociais foi gerado no Brasil no campo dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, início da década de 2000, a partir de diversos atores ligados ligados a universidades, ONGs, movimentos sociais que vinham se articulando no âmbito da economia solidária e compartilhavam da percepção de que era necessária uma tecnologia que respondesse a seus propósitos.
  • 75. Tendo em vista todo o repertório de experiências e acúmulo teórico e crítico a respeito das tecnologias apropriadas e alternativas das décadas passadas, destacou-se a ideia de que a retomada de projetos de tecnologias alternativas à convencional demandasse atores com força política. TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL Pensou-se que estes aliados indispensáveis fossem: ● No campo produtivo: as cooperativas e fábricas recuperadas; ● No Estado: os gestores das políticas sociais e de C&T; ● No campo cognitivo: os professores, alunos e técnicos de institutos de pesquisa, em especial os que militavam nas incubadoras universitárias de cooperativas populares.
  • 76. Grupo de Análise de Políticas de Inovação (GAPI) da UNICAMP. TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL Instituto de Tecnologias Sociais (ITS Brasil) Fundação Banco do Brasil (FBB) → Banco de Tecnologias Sociais Empreendimentos Solidários Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP)
  • 77. TECNOLOGIAS SOCIAIS NO BRASIL A RTS é uma iniciativa que reúne órgãos governamentais, empresas estatais, órgãos privados de fim público, universidades, ONGs e movimentos sociais. Em 2003, foi constituída a Rede de Tecnologias Sociais (RTS) Cerca de 600 instituições fazem parte da rede. Ela pode ser considerada um modelo de governança para a elaboração da Política de Ciência e Tecnologia, e também de trabalho e renda.
  • 79. Economia solidária Conceito que compreende a ideia de solidariedade em contraste com o individualismo competitivo característico do comportamento econômico das sociedades capitalistas. Reaparece no final do século XX frente à crise econômica do período. Como princípio de uma economia alternativa, é antigo tendo seus principais antecedentes no século XIX.
  • 80. A economia solidária atual tem como principal antecedente as experiências de Roberto Owen no século XIX, em New Lanark, New Harmony e Labour Exchange (cooperativismo revolucionário). As comunas Aldeias que desenvolvem suas provisões de energia, transporte, educação e saúde, onde todo patrimônio é coletivo e administrado com a participação de todos, as decisões são tomadas em assembleias. Os ganhos dos membros são colocados em um fundo do qual cada um pode retirar de acordo com suas necessidades. Praticam ideologias distintas: religiosas (as mais diversas), anarquista, falansterista, nacionalista e socialista, como os Kibbutzim. Economia solidária
  • 81. Cooperativas de Produção (Mondragón, 1956) Cooperativas de consumo (Rochdale, 1844) Cooperativas de crédito e microcrédito (Grameen Bank, 1976). Economia solidária
  • 82. O movimento cooperativista que vigorou no século XIX como alternativa ao sistema capitalista declinou em função das conquistas dos direitos trabalhistas na grande indústria pelo movimento operário, fazendo com os trabalhadores se acomodassem com o assalariamento. Isso mudou no final da década de 1970, em resposta a crises econômicas e a emergência do neoliberalismo que desregulam a economia, o Estado de bem estar social, gerando desemprego em massa, fechamento de empresas e crescente marginalização dos desempregados crônicos – aqueles sem possibilidade de encontrar trabalho. O novo contexto é o das associações da sociedade civil, como ONGs e movimentos sociais que lutam por direitos, Economia solidária
  • 83. A economia solidária em geral vem cumprir um importante papel de combate ao desemprego, sobretudo dos mais desfavorecidos: desempregados, crianças em situação de risco, idosos, dependentes químicos, deficientes físicos e mentais. O desenvolvimento da economia solidária conta com apoio do Estado e de recursos públicos para o resgate de comunidades muito pobres para encetar um processo de auto-emancipação. Mas seu desenvolvimento depende delas mesmas, de sua disposição de aprender e experimentar e adesão aos princípios da solidariedade, igualdade e democracia. Economia solidária
  • 85. Economia da cultura & Economia criativa Economia da Cultura Cadeias produtivas ligadas à produção de bens culturais. Inicialmente pautada no campos das belas artes (sentido sociológico de cultura) Economia da Criativa Ideias que geram inovação e produtos singulares. Podendo ser linguagens, estéticas, modos de vida... (sentido antropológico de cultura)
  • 86. Economia da cultura & Economia criativa Qual é o sentido de ambas na atualidade?
  • 87. Economia da cultura & Economia criativa Sendo a informação o principal elemento do capitalismo contemporâneo, tudo que é passível de ser convertido em informação pela codificação digital é capturado pelos fluxos de produção informacional enquanto bens agregadores de valores de uso e troca. Isso envolve, num primeiro momento, os bens imateriais, como conhecimentos, saberes (subjetivos e intersubjetivos), e a cultura de uma modo geral, enquanto o campo do imaterial por excelência. E, num segundo momento, bens materiais que podem ser desmaterializados e rematerializados, Átomos podem ser convertidos e bits
  • 88. Economia da cultura & Economia criativa Esse processo, no qual estão inseridas as economias da cultura e criativa apresenta dois viéses. O primeiro de continuidade dos padrões de reprodução capitalista e o segundo, disruptivo desses padrões, pela emergente economia dos bens comuns. No primeiro caso, temos um novo processo de enclousure pela expansão do capitalismo em zonas até então marginais à economia e à política. São processos que geram propriedade intelectual sobre bens tradicionalmente comuns, tal como as diversidades cultural e biológica que passam a ser vistas de maneira instrumental como bancos de dados informacionais que alimentam os circuitos de produção. No segundo caso, a instantaneidade da informação e da comunicação permite a circulação, sem custos, de bens informacionais para qualquer parte, gerando contradições e conflitos.
  • 89. Economia da cultura & Economia criativa A dinâmica de produção em redes colaborativas, de comunicação instantânea, contrasta com a linha de produção fordista de funções bem definidas e especializadas. Ela compartilha funções, funde papéis, nivela o poder entre os nodos da rede. Ela não se restringe a um ambiente de trabalho fixo, pois os instrumentos de produção leves e portáteis foram reapropriados pelas pessoas comuns e as múltiplas conexões que podem ser estabelecidas geram produção social que pode ou não ser direcionada ao mercado, mas da qual todos os que estejam conectados são potenciais produtores. As relações entre produtores e consumidores, global e local, tornam-se opacas e conceitos como prosumidores e glocal são criados neste contexto.
  • 90. Economia da cultura & Economia criativa As pessoas em geral, estando full time conectadas à rede, com seus dispositivos de acesso móveis, estão assim conectadas full time ao processo de produção e, com isso, mesclam o “tempo de trabalho” e o “tempo de vida”, o “trabalho profissional” e o “trabalho doméstico”. Esses aspecto do trabalho imaterial favorece a inserção das formas de vida culturais e a produção da subjetividade à produção do capitalismo informacional. Além da qualificação formal do trabalhador, o tratamento eficaz da informação também depende da qualidade de seus saberes, que caracterizam a subjetividade individual. Podemos diferenciar então os conhecimentos formalizados e objetivados da ciência, que são adquiridos pelo ensino formal, e os saberes não formalizáveis da experiência cotidiana, tradicionalmente vinculados ao tempo livre, e que são revalorizados nesse processo de informatização da produção como fontes geradoras de valor.
  • 91. Economia da cultura & Economia criativa “A conjugação entre conhecimentos (ciência) e saberes (experiência) recobre e designa uma grande diversidade de capacidades heterogêneas, ou seja, sem medida comum, entre as quais o julgamento, a intuição, o senso estético, o nível de formação e de informação, a faculdade de aprender e de se adaptar a situações imprevistas; capacidades elas mesmas operadas por atividades heterogêneas que vão do cálculo matemático à retórica e à arte de convencer o interlocutor; da pesquisa técnico-científica à invenção de normas estéticas” André Gorz, O Imaterial
  • 92. Economia da cultura & Economia criativa Essa força produtiva, também denominada como “inteligência coletiva” não pode ser medida pelo tempo ou pela quantidade de trabalho empregado, mas da potência criativa dos agentes envolvidos na produção. Embora seja uma construção comum, a força produtiva sob a forma de inteligência coletiva encontra-se ao lado do capital, nas suas formas de propriedade intelectual, e é comandada por ele, entretanto ela também o excede. Sua dinâmica descentralizada e colaborativa e suas múltiplas conexões constituem momentos de subjetivação, como potência criadora dos indivíduos e da coletividade. Trata-se da produção de novas formas de organização, de fruição e compartilhamento de informações, conhecimentos e saberes, enfim, de novas maneiras de viver (biopolítica).
  • 93. Economia da cultura & Economia criativa Se a inteligência coletiva pode ser convertido em informação digital para entrar nos circuitos de produção, a fluidez e replicação da informação digital podem socializá-la. “Hoje a capitalização do conhecimento se detém em uma nova fronteira. Todo conhecimento passível de formalização pode ser abstraído de seu suporte material e humano, multiplicado quase sem custos na forma de software e utilizado ilimitadamente em máquinas que seguem um padrão universal. Quanto mais se propaga, mais util ele é a sociedade. Seu valor mercantil, ao contrário, tende a zero: o conhecimento torna-se um bem comum acessível a todos. Uma autêntica economia do conhecimento corresponderia a um comunismo do saber no qual deixam de ser necessárias as relações monetárias de troca”. André Gorz, O Imaterial
  • 94. Economia da cultura & Economia criativa O viés da economia criativa que leva a uma economia compartilhada manifesta-se primeiro nos bens imateriais por meio do movimento da Cultura Livre O termo “cultura livre” vem de “software livre” e carrega os mesmos princípios. Decorre da fluidez alcançada pela digitalização desses bens culturais que podem e do ímpeto do capitalismo em impedir sua livre circulação.
  • 95. Lawrence Lessig ● Cultura Livre: como a mídia usa a tecnologia e a lei para barra a criação cultural e controlar a criatividade (2004) ● Remix (2008) A ideia foi apropriada pela sociedade e praticada e defendida por muitos artistas e movimentos que atuam no campo da cultura e de forma bem mais radical que a defendida por Lessig. Cultura livre
  • 96. Cultura livre A ideia comporta um projeto ético de disponibilização dos bens culturais ao alcance de todos que no atual contexto econômico vai além de uma democratização da cultura, mas de uma verdadeira democracia cultural que permite a todos serem produtores de cultura. A partir do momento que os bens culturais tornam-se uma das fontes mais importantes de produção e geração de inovação na economia contemporânea, a democracia cultural torna-se democracia econômica.
  • 97. Esta tendência colaborativa que requer o compartilhamento dos recursos é geradora de uma forma de propriedade comum - os “comuns” - distinta das formas de propriedade privada ou pública estatal. Daí surgem novos modelos de negócios não ancorados na propriedade intelectual. A geração de valor monetário e renda será baseada, por exemplo, na singularidade dos produtos, na prestação de serviços, além de se apoiar em diferentes formas de fomento e subsídios. Não há um modelo único, mas uma multiplicidade de possibilidades que podem ser inventadas por cada artista ou produtor. Cultura livre
  • 99. Ciência cidadã Ciência cidadã é um conceito que pode se referir a produção de ciência, tecnologia e inovação, na base, isto é, por cidadãos organizados em redes colaborativas e compartilhadas, fora dos espaços tradicionalmente estabelecidos para tal, como universidades e empresas. O conceito é reforçado quando a finalidade dessa ciência se volta para a cidadania e o bem comum.
  • 100. Muitas comunidades surgem de experimentos de produção e conhecimentos distribuídos em rede, troca de ideias e informações entre amadores, profissionais e acadêmicos em todas as disciplinas. Estas redes de colaboração e sua proliferação são responsáveis pela criação de enormes projetos coletivos, como GNU/Linux e Wikipédia, destacando a necessidade de resolver problemas globais e locais. Estas redes podem ser criadas e funcionar de maneira autônoma ou serem ativadas e agenciadas por grandes instituições de pesquisa estatais ou privadas. Ciência cidadã
  • 101. Universidades, institutos de pesquisa e empresas tem criado dinâmicas para o engajamento de cidadãos no desenvolvimento da ciência e da busca de soluções para problemas sociais nos mais diversos campos do conhecimento. Projetos como BOINC, Einstein@Home, LHC@Home e Source Forge, baseiam- se no princípio de que a soma de muitos computadores domésticos aplicados voluntariamente resulta numa capacidade de processamento equivalente a de um supercomputador, a baixo custo. No Brasil, uma iniciativa pioneira desta prática foi o Brasil@Home, promovido pela Citizen Cyberscience Center. Ciência cidadã
  • 102. O crowdsourcing científico operam um deslocamento da produção de ciência, tecnologia e inovação de dentro dos espaços fechados de laboratórios de universidades e empresas para as redes distribuídas pela sociedade, embora ainda sejam capitaneadas e comandadas por estas grandes instituições. Ao mesmo tempo, as múltiplas conexões em rede de práticas colaborativas também criam circuitos autônomos de produção científica pela capacidade de apropriação tecnológica de alguns coletivos. A socialização crescente das tecnologias informacionais juntamente com acesso de informações e conhecimentos compartilhados na Web facilitam e estimulam a criação de laboratórios dos mais variados tipos de laboratórios. Ciência cidadã
  • 103. Existem hoje uma grande diversidade de laboratórios denominados de Media Labs e Hack Labs e Fab Labs pesquisando e produzindo novas tecnologias de softwares, hardware, aplicativos, robótica, audiovisual, estúdios artísticos, mobiliário e uma infinidade de peças e objetos customizados, além de se configurarem como espaços de pesquisa em geral. Estes espaços não parem de se multiplicar e se interconectar configurando coletivos tecnológicos de todos os tipos que produzem novas tecnologias voltadas às comunidades em que se encontram e à coletividade mais ampla pela capacidade de replicação dessas tecnologias. Ciência cidadã
  • 104. A disseminação de novos tipos de tecnologia que envolvem hardware livre, impressoras 3D, modeladores e cortadores de madeira deu ensejo ao chamado Movimento Maker, que integrado à internet das coisas, tem elevado a economia compartilhada a novos patamares. Ciência cidadã
  • 106. Internet das coisas A internet das coisas (IdC) conecta todas as coisas com todo o mundo numa rede global integrada. Pessoas, máquinas, recursos naturais, redes de produção, fluxos de reciclagem, infraestrutura urbana e praticamente todo e qualquer aspecto da vida econômica e social estará conectado via sensores e software à plataforma de IdC, alimentando continuamente cada nó – empresas, lares, veículos – com Big Data (megadados), em tempo. As possibilidades de aplicação são muito amplas: gestão urbana, gestão de estoques, medicina, conservação ecológica, energia,
  • 107. A IdC envolve o ambiente construído e o ambiente natural numa rede operacional coerente, permitindo que cada ser humano e cada coisa se comuniquem entre si para encontrar sinergia e facilitar interconexões que otimizem a eficiência termodinâmica da sociedade e, ao mesmo tempo, assegurem o bem estar do planeta como um todo. Cada um de nós é um neurônio do sistema nervoso da biosfera. Internet das coisas
  • 108. A IdC é composta pela Internet das Comunicações, Internet da Energia e Internet do Transporte, que juntas num sistema operacional único, encontrando continuamente maneiras de aumentar eficiência termodinâmica e a produtividade para o gerenciamento de recursos, a produção, a distribuição de bens e serviços, e a reciclagem do lixo. A natureza distribuída e interconectada da IdC aprofunda o engajamento empreendedor do indivíduo em proporção direta à diversidade e à força de suas relações colaborativas na economia social. Internet das coisas
  • 110. Medialabs, hacklabs, fablabs Existem hoje uma grande diversidade de laboratórios denominados de Media Labs e Hack Labs e Fab Labs pesquisando e produzindo novas tecnologias de softwares, hardware, robótica, audiovisual, estúdios artísticos, mobiliário e uma infinidade de peças e objetos customizados, além de se configurarem como espaços de pesquisa em geral.
  • 111. Estão se multiplicando e se interconectando em redes de colaboração, produzindo novas tecnologias voltadas às comunidades em que se encontram e à coletividade mais ampla pela capacidade de replicação dessas tecnologias. Medialabs, hacklabs, fablabs
  • 112. Este surgimento está associado ao desenvolvimento de tecnologias de produção mais acessíveis e capazes de produzir uma grande variedade de coisas. Medialabs, hacklabs, fablabs
  • 113. São espaços permanentes ou temporários que a partir de modelos e perspectivas variadas se dedicam a trabalhar com as novas tecnologias promovendo a integração de artistas, designers, engenheiros, educadores, cientistas, entre outros profissionais. Possuem enfoques e metodologias que variam de acordo com as estratégias escolhidas e com o contexto no qual estão inseridos, Medialabs, hacklabs, fablabs
  • 114. Medialabs, hacklabs, fablabs Estão envolvidos por princípios de um movimento mais amplo denominado Movimento Maker e DIY – do it your self
  • 115. Medialabs MIT Media Lab, fundado por Nicholas Negroponte em 1985 foi o precursor. Laboratórios Multimídias, impulsionados pelos popularização dos computadores e outros dispositivos de informática. Experiências com o desenvolvimento de tecnologias multimídia, arte e tecnologia aplicação de softwares.
  • 116. hacklabs Semelhantes aos Medialabs, como com um viés mais político. Desenvolvem aplicações com dados governamentais abertos no âmbito das práticas de Civic Hacking, plataformas web para movimentos sociais e projetos de Mídia Tática.
  • 117. Fablabs Fab Lab (abreviação do termo em inglês fabrication laboratory), produz objetos físicos como máquinas de operação digital e hoje constitui uma rede internacional. Surgiu no Centro de Bits e Átomos do MIT em 2001, como invenção do físico Neil Gershenfeld, a partir de um curso chamado “Como Fazer (Quase) Tudo”. ● Fab: The Coming Revolution on Your Desktop: from Personal Computers to Personal Fabrication (2005) A missão do projeto Fab Lab era proporcionar um laboratório onde qualquer pessoa poderia usar as ferramentas disponíveis para criar seus próprios projetos de impressão 3D.
  • 118. Fablabs ● Cortadora de vinil ● Cortadora a laser ● Fresadora de precisão ● Fresadora de grande formato ● Impressora 3D ● Componentes eletrônicos ● Sistema de videoconferência Maquinário proposto pelo CBA-MIT
  • 119. Fablabs Os Fab Labs como parte do Movimento Maker, tem sido guiados por 4 princípios: ● O compartilhamento aberto de novas invenções ● A promoção da cultura de aprendizado colaborativa ● Uma crença na autossuficiência da comunidade ● Compromisso com práticas de produção sustentáveis.
  • 120. Fablabs O está em jogo é a democratização da manufatura, possibilitando que cada pessoa e todas tenham acesso aos meios de produção, tornando irrelevante a questão de quem deve ter a posse e o controle dos meios de produção.
  • 122. Referências bibliográficas BOOKCHIN, Murray. Autogestão e tecnologias alternativas. In Textos Dispersos. Lisboa: SOCIUS, 1998. DAGNINO, Renato (Org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: Komedi, 2010. DAUMAS, Maurice. Las grandes etapas del progresso técnico. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1996. DICKSON, David. Tecnologia alternativa. Madrid: H. Blume Ediciones, 1978. GORZ, André, O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume, 2003. HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. In Ensaios e Conferências, páginas 11-38. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.
  • 123. Referências bibliográficas HIMANEN, Pekka, La ética del hacker y el espíritu de la era de la informarción. http://www.misol.org.ar/wp-content/uploads/libros/EticaHacker.pdf ILLICH, Ivan. A convivencialidade. Lisboa: Publicações Europa-América, 1976. LESSIG, Lawrence. Cultura Livre: como a mídia usa a tecnologia e a lei para barra a criação cultural e controlar a criatividade, 2005. LÉVY, Pierre, Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 2005. LOJKINE, Jean. A revolução informacional. São Paulo: Cortez, 2002. MARCUSE, Herbert. I Algumas implicações sociais da tecnologia moderna. In Tecnologia, Guerra e Fascismo, páginas 71-104. São Paulo: Editora Unesp, 1998.
  • 124. Referências bibliográficas MARX, Karl. A maquinaria e a indústria moderna. In O capital: crítica da economia política: livro I, páginas 425-499. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. RAYMOND, Eric S. (1998), Como se Tornar um Hacker, – tradução de Rafael Caetano dos Santos. http://www.linux.ime.usp.br/~rcaetano/docs/hacker-howto-pt.html RIFKIN, Jeremy, Sociedade com custo marginal zero: a internet das coisas, os bens comuns colaborativos e o eclipse do capitalismo. São Paulo: M. Books, 2016. STALLMAN, Richard. Software libre para una sociedad libre. Madrid: Traficantes de Sueños, 2004. Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004. WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos. São Paulo: Cultrix, 1968.