O documento fornece um resumo histórico da fundação e desenvolvimento inicial da cidade do Rio de Janeiro. Começa descrevendo a descoberta da baía de Guanabara e a fundação da França Antártida pelos franceses na região. Em seguida, relata a fundação oficial da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro pelos portugueses em 1555 para expulsar os franceses, sua transferência para o Morro do Castelo e crescimento inicial. Por fim, aborda o desenvolvimento da cidade como capital do Impé
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Memórias da cidade
1. Memória da Cidade
História e patrimônio urbano no Brasil
RIO DE JANEIRO
Profa. Ms. Ynaê Lopes dos Santos
Mestre em História Social – USP
Doutoranda em História Social – USP
Rio de Janeiro, Outubro de 2011
3. Carioca: “casa de Branco”
• Antes da chegada do
europeus nas
Américas, a região
que ficou conhecida
como capitania do
Rio de Janeiro era,
em sua maioria,
habitada por índios
tamoios e tupis.
4. O RIO DE JANEIRO
E O NASCIMENTO DO MUNDO
ATLÂNTICO
• Existe certo mistério em relação à descoberta da baía
de Guanabara.
• Hipótese mais recorrente aponta que a descoberta
teria ocorrido no dia 1º de janeiro de 1502, data que
teria batizado, anos mais tarde, a cidade.
• Mas diários de Navegação apontam que a chegada à
baía da Guanabara teria ocorrido em outro mês
5. FRANÇA ANTÁRTIDA
•
No Verão de 1544 Nicolas Durand de
Villegagnon visitou secretamente a região do Cabo
Frio, na costa do Brasil, onde seus compatriotas
habitualmente escambavam. Ali obteve valiosas
informações junto aos Tamoios, informando-se dos
hábitos dos portugueses naquele litoral, colhendo
dados essenciais ao futuro projeto de uma
expedição para a fundação de um estabelecimento
colonial. O local escolhido localizava-se cerca de
cento e cinquenta quilômetros a Oeste: a Baía de
Guanaba, evitada pelos portugueses devido à
hostilidade dos indígenas na região. O projeto
concebia transformá-la em uma poderosa base
militar e naval, de onde a Coroa Francesa poderia
tentar o controle do comércio com as Índias.
Embora na ocasião não a tenha visitado, estava
acerca dela bem informado por André Thèvet, que
já a havia visitado por duas vezes, estando ciente de
que os portugueses receavam os Tupinambás,
indígenas ali estabelecidos. Na ocasião fez boas
relações com ambos os povos (Tamoios e
Tupinambás) recolhendo, além de valiosas
informações, uma boa carga, com a qual lucrou ao
retornar à França
6. FRANÇA ANTÁRTIDA
Em fins de 1554, o soberano ordenou ao seu principal ministro, Gaspard de
Coligny (ainda católico), a preparação de uma expedição sigilosa ao Brasil, cujo
comando entregou a Villegagnon. Embora tenha fornecido recursos modestos (apenas
dez mil libras), os armadores de Dieppe (base do armador Jean Ango, experiente com a
costa brasileira), decidiram investir na expedição. À falta de voluntários para integrá-la,
Villegagnon percorreu as prisões da região norte da França, prometendo a liberdade a
quem quer que se lhe juntasse.
Para não despertar a atenção do Ministro de Portugal na França, Villegagnon fez
espalhar a notícia de que a expedição se dirigia à costa da Guiné.
Tendo atingido a baía de Guanabara em 10/11/1555, após tomar posse da Ilha de
Sergipe, escolhida como local de estabelecimento da principal defesa da França
Antártica, principiou-se a instalação. Para esse fim, foram providenciados alojamentos
em terra e desembarcados homens, armas, munições e ferramentas. Apesar das
dificuldades com a mão-de-obra européia, gracas ao auxílio dos indígenas, uma
fortificação foi concluída em três meses. Ao fim de alguns meses, entretanto, essa
mão-de-obra cansou-se dos presentes que recebia, assim como do excesso de
trabalho, uma vez que os franceses se esquivavam das tarefas mais pesadas. O Forte
Coligny dispunha de cinco baterias apontadas para o mar.
8. FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
• A região da Baía de Guanabara
possuía um dos portos com a
melhor defesa natural em toda
a América: uma entrada
marítima estreita com quatro
morros circundando-a. Dessa
feita, as mesmas vantagens
naturais que levaram
franceses a invadir essa parte
da América portuguesa
também mobilizaram aos
lusitanos ocupar a região.
9. FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada no contexto de conquista e
colonização do século XVI, que obrigou os portugueses a responder de forma
mais efetiva às invasões da França em terra lusitanas de além mar. No ano de
1555, a província do Rio de Janeiro foi, em parte, tomada por Villegaignon,
que ficou na América portuguesa por cinco anos. A eficácia da investida
francesa no Brasil deveu-se em grande parte à ausência do aparato
metropolitano na região. Em 1555, a futura cidade do Rio de Janeiro era uma
porção de terras alagadiças habitada por índios – na sua maioria tamoios que contava apenas com uma pequena casa forte na Praia da Saudade,
construída por Martim Afonso de Sousa na década de 1530.
Embora as atenções das autoridades portuguesas estivessem voltadas para a
região nordeste da colônia – que em meados do século XVI já era importante
produtora de açúcar –, a invasão francesa no sudeste foi um lembrete, no
mínimo incômodo, da necessidade em ocupar, efetivamente, toda a região
costeira das possessões do Novo Mundo. Neste cenário de reconquista,
destacou-se o nome de Mem de Sá, o reinol responsável pela expulsão dos
franceses.
10. SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO
Finalmente, a 1º de março, Estácio de Sá desembarcava a sua
gente numa estreita praia entre o morro do Pão de Açúcar e o
morro Cara de Cão, iniciando imediatamente a construção de uma
paliçada (atual Fortaleza de São João) e declarando fundada a
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma homenagem ao
nome do soberano. Na ocasião, o padre Gonçalo de Oliveira
entronizou, numa ermida de taipa, coberta de sapê, uma imagem
de São Sebastião, que passava a ser o padroeiro da cidade. O
próprio Estácio instituiu, na ocasião, as três setas do martírio do
santo como armas da cidade.
Ainda com os primeiros muros sendo levantados, a recém-fundada
cidade sofreu um assalto por mar, a 6 de março, desfechado por
três naus francesas e mais de cento e trinta canoas de guerra
procedentes do Cabo Frio. Após alguns dias resistindo ao assalto,
Estácio decidiu passar ao contra-ataque, acometendo as
embarcações francesas e logrando repelí-las.
11. TRANSFERÊNCIA PARA
O MORRO DO CASTELO
•
O marco zero do Rio de Janeiro foi construído em
Vila Velha - quando o padre Gonçalo Oliveira ergueu
uma igreja no pé do morro do Pão de Açúcar em 1º
de março de 1565. Dois anos depois, seguindo a
lógica defensiva e os critérios de sobrevivência, a
vila foi transferida para o morro do Castelo, onde
havia maior oferta de água, mais ventos e maior
segurança. Ali, a Câmara, a cadeia, a casa do
governador, as igrejas e algumas casas mais
abastadas foram muradas de acordo com um
modelo urbanístico profundamente militarizado.
Procurando incrementar suas atividades portuárias,
ainda no século XVI, a cidade expandiu seu espaço
geográfico e sua importância política. Após a vitória
sobre os tamoios e o fim das ofensivas espanholas e
francesas, a cidade desceu o morro e a várzea
passou a ser ocupada pelos habitantes e pelo
apostolado. Nas terras enxutas foi delineado o
perímetro urbano que além de ganhar as ruas
próximas o Morro do Castelo (como a Ladeira da
Ajuda e a Ladeira do Castelo) ocupou as regiões
próximas ao Morro de São Bento. Criou-se então
um plano urbanístico ortogonal muito semelhante a
um tabuleiro de xadrez. Nesse modelo de plano
urbano, o plano radiocêntrico é oposto pela
implementação de ruas retas que se cruzam
formando ângulos igualmente retos.
12. IMPORTÂNCIA DA IGREJA
A organização espacial dos centros urbanos coloniais foi realizada
quase toda pela Igreja Católica. As leis eclesiásticas e a própria
religiosidade criaram uma dinâmica de cotidiano nas vilas e cidades
até as reformas Pombalinas no final do século XVIII. Mas não era
apenas pelo soar dos sinos e pela magnitude de seus edifícios que a
Igreja Católica fazia sentir sua presença. Também preocupada com a
segurança da vila, as diferentes ordens religiosas tiveram grande
influência na construção das primeiras muralhas e forte. Além disso,
do nascimento à morte, a Igreja e a religião católica fizeram parte da
vida de todos os habitantes da cidade. A sociabilidade desse período
era, em boa parte, criada a partir das missas, dos funerais, das festas
litúrgicas e de instituições que funcionavam como “braços” da Igreja,
tais como a Santa Casa de Misericórdia (fundada em 1582) e as
Irmandades de Ordem Terceira que passaram a “pipocar” a partir
dos seiscentos.
13. CARTA TOPOGRÁFICA DO
RIO DE JANEIRO
Carta Topographica da Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeyro, tirada,
e executada pelo Capitão Andre Vaz Figueyra, Academico da Aula
Militar. Anno de1750".
autor: André Vaz Figueira
14. LARGO DO PAÇO
Construído em 1733 durante o governo de Gomes Freire de
Andrade, o conde de Bobadela
16. O RIO DE JANEIRO
ILUSTRADO
A planta de 1767 corresponde ao levantamento realizado nesse ano, mostrando um
significativo avanço da área edificada da cidade em direção ao interior
Autor: não identificado.
Fonte: Original manuscrito do Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro.
18. HABITANTES DO RIO COLÔNIA
Configuração que mostra a Entrada do Rio de Ianeiro em distancia de
meya legoa ao mar. No. 6 Na. Sa. De Copacabana, No. 7 o Pão de Assucar,
No. 8 Fortaleza de Sa. Crus". 1779
autor: Carlos Julião
19. Vestuário de mulheres escravas
no Rio de Janeiro, 1770
Festa de Nossa Senhora do Rosário, Rio de
Janeiro, 1770
Negras de Tabuleiro,
1770
20. CHAFARIZ DO CARMO
Chafariz projetado por Mestre Valentim e
construído entre 1779-1780
Thomas Ender, Chafariz do Carmo, 1817
21. PASSEIO PÚBLICO
Primeiro Parque Ajardinado do Brasil foi concebido por
Mestre Valentim e construído em 1783, tornando-se o
grande ponto de encontro da população carioca
22. CHAFARIZ DAS MARRECAS
Construído pelo Mestre Valentim para fornecer
água ao Passeio Público
Pallière, Chafariz das Marrecas, 1830
24. VALONGO
O Mercado do Valongo foi construído em 1769, quando a América
Portuguesa estava sob a administração do vice-rei Marquês do
Lavradio. O objetivo principal do vice-rei era retirar o
desembarque e a comercialização de escravos da região central da
cidade. Segundo o Marquês, tal atitude evitaria “o terrível costume
de tão logo os negros desembarcarem no porto vindos da costa
africana, entrar na cidade através das principais vias públicas, não
penas carregados de inúmeras doenças, mas nus (...) e fazem tudo
o que a natureza sugeria no meio da rua.” (Carta do Marquês do
Lavradio. Apub: PEREIRA, 2007, p. 72).
O lugar escolhido para ser a nova praça de comércio de africanos
novos foi a Rua do Valongo (que deu o nome ao mercado), situada
na freguesia de Santa Rita. Embora fosse um lugar relativamente
distante das principais vias da época, a Rua do Valongo possuía
duas importantes vantagens: ainda fazia parte do perímetro
urbano da cidade, o que permitia o fácil trânsito para o centro
comercial do Rio de Janeiro; e tinha acesso direto ao porto.
27. Diversas mudanças foram feitas a fim de
adaptar a cidade à sua nova condição:
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•
•
•
•
A criação da academia militar e de novas
cadeias;
a abertura dos cursos médicos;
a construção do Horto Botânico e do
Museu Real;
a instalação da Biblioteca Real em 1814 ;
a abertura da Escola Real de Ciência, Artes
e Ofício;
a construção da Quinta da Boa Vista
(1811) moradia da família real,
Construção do Campo de Santana
(1815).;
Teatro São José e o Passeio Público foram
reformados para que a nobreza pudesse
circular em locais apropriados e
condizentes ao seu significado,
evidenciando, assim, seu prestígio social.
28. INTENDÊNCIA GERAL DA POLÍCIA DA
CORTE
• A Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado
do Brasil merece especial atenção, pois foi o órgão
responsável o pela coordenação da magistratura de
boa parte da Corte joanina. Com o objetivo de
assegurar a limpeza, a saúde e a segurança da
cidade, a Intendência viabilizou o processo
civilizador na nova capital, já iniciado com as
mudanças pombalinas, mas que foi levado a cabo
pelo regente D. João.
•
29. A INTENDÊNCIA SOB A CHEFIA DE
PAULO FERNADES VIANA (1808-1821)
Junto às reuniões quase diárias com D. João, o intendente
construiu uma ampla rede de comunicação que articulou as
principais autoridades governativas do Brasil (governadores
de capitania, ouvidores, ministros, juízes de fora e de crime de
bairro, etc.), visando tratar dos mais variados assuntos. A fim
de facilitar essa comunicação, o Príncipe Regente dividiu a
Corte em duas jurisdições que ficaram sob a responsabilidade
de dois Juízes de Crime, cargo recém-criado, cujos ocupantes
seriam escolhidos pelo monarca. Subordinados ao Intendente,
esses magistrados facilitaram a associação dos poderes
policiais e judiciais
30. ALGUMAS FUNÇÕES DA INTENDÊNCIA
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Implementação da Décima Urbana
Calçamento de vias
Aterramento de Brejos
Ampliação do Perímetro Urbano
Iluminação Noturna
Rondas Noturnas
Construções de estradas que ligassem a
cidade às regiões produtoras de alimentos
31. QUESTÕES COTIDIANAS DA
INTENDÊNCIA GERAL DE POLÍCIA
•
“Aos vinte e nove dias do mês de Novembro de mil oitocentos e dezenove anos, na Secretaria da Intendência Geral
da Polícia compareceu Joanna Francisca preta forra de ordem do conselheiros Intendente Geral da Polícia Paulo
Fernandes Vianna, e pelo mesmo Conselheiros lhe foi determinado que vizinhasse bem com Maria Roza, casada
com Pedro Congo, e no caso de contravenção ser presa por vinte dias na cadeia. O que sendo por ela ouvido assim
o prometeu cumprir, e assinou a seu rogo Antonio Felipe de Souza por ela não saber escrever, e eu Antonio Xavier
da Rocha que o escrevi e assinei.
Antonio Xavier da Rocha
Antonio Felipe de Souza.”
•
“Aos vinte e seis dias do mês de Fevereiro de mil oitocentos e vinte anos, na Secretaria da Intendência Geral da
Polícia apareceu José Patrício, e pelo Conselheiro Intendente Paulo Fernandes Vianna lhe foi determinado que
assinasse Termo de não rondar a preta do suplicante Antonio da Silva Paes, e lhe (ilegível) e de não seduzir a
escrava do mesmo suplicante com a pena de três meses de prisão, e trabalhos em obras públicas. O que tendo lhe
ouvido se obrigou cumprir e por não saber escrever se assinou com a cruz, sinal de que usa, e eu Francisco Xavier
Barreiro que escrevi e assinei.
Francisco Xavier Barreiro”
•
“Aos três dias do mês de Outubro de mil oitocentos e vinte e três anos à Secretaria da Intendência foram vindos
d’ordem do Intendente Estevão Ribeiro Rezende, Jacinto Pinto Gomes e Domingo Coutinho Pereira, e pelo dito
Intendente lhes foi determinado, que assinassem o termo de não darem coito a negros fugidos, e nem terem
comércio com eles, e menos darem-lhes entrada nas suas casas de molhados, pena no caso de obrarem o contrário
de três meses de prisão, e de nunca mais poderem abrir as ditas casas. O que sendo por eles ouvido assim o
prometeram cumprir, e assinaram esse termo, comigo que o escrevi e assinei
Antonio Xavier da Rocha”
32. A ESCRAVIDÃO EM TODO LUGAR
• Não era preciso mais que um breve passeio pelo centro para
confirmar a força de seu pragmatismo: a escravidão estava em
todo lugar. Luccock chegou a comparar, ainda em 1808, o Rio
de Janeiro com o coração da África, com a particularidade,
porém, de que, como ressaltou Leithold,
• "negros e negras se cumprimentam ao estilo europeu: os
homens tirando o chapéu com uma inclinação na cabeça; as
mulheres fazendo uma reverência”. Debret, no início dos
oitocentos, relatou como que "percorrendo as ruas fica-se
espantado com a prodigiosa quantidade de negros,
perambulando seminus e que executam os trabalhos mais
penosos”
34. A MÃO DE OBRA QUE
TRANSFORMOU A CIDADE EM
CORTE
Praticamente todas as obras
descritas foram feitas com mãode-obra escrava; e o uso dos
cativos não parou por aí. Durante
todo o período joanino bem
como nos anos que se seguiram
até maio de 1888, parte
expressiva da rede de serviços
urbanos era realizada por
escravos. Essas duas constatações
permitem afirmar que, na prática,
não existiu nenhuma contradição
insolúvel na dinâmica de uma
Corte escravista.
Debret, Calçamento público
36. A ESCRAVIDÃO E A CORTE
Embora um rumor de que a vinda da Família
Real para o Brasil representaria o fim da
escravidão tenha se espalhado entre a
escravaria, teria sido um despautério abolir o
escravismo no Rio de Janeiro para garantir
certa fidedignidade ao modelo de Corte
existente em Lisboa desde 1773.
38. POPULAÇÃO ESCRAVA CRESCEU COM
A VINDA DA CORTE
•
Os dados trabalhados por Manolo Florentino
apontam uma duplicação no volume dos cativos que
chegavam da África.
•
No curto espaço de três anos: em 1808 a
estimativa era que aportavam, anualmente, 9.602
cativos no Rio de Janeiro, número que cresceu para
18.677 em 1810.
• É claro que boa parte dos escravos seguia para outras
regiões do sudeste brasileiro, mas, vale ressaltar, um
significativo número deles ficava na Corte,
principalmente nas freguesias urbanas, como aponta a
tabela a seguir.
39. População da cidade do Rio de Janeiro
por freguesia em 1821
Freguesias Urbanas
Fogos
Pessoas Livres
Escravos
Total
Santa Rita
1.742
6.949
6.795
13.744
Santana
1.351
6.887
3.948
10.835
Sacramento
3.352
12.525
9.961
22.486
Candelária
1.434
5.405
7.040
12.445
São José
2.272
11.373
8.438
19.811
Total
10.151
43.136
36.139
79.321
51. ESCRAVOS AO GANHO
• Na atividade do ganho característica dos grandes
centros urbanos do Brasil,
como Salvador, Recife e a
capital da Corte –, o escravo
teria que dispor de sua
força de trabalho, passando
a maior parte do tempo nas
ruas à procura de serviços
e, portanto, longe das vistas
de seu senhor.
52.
53. ESCRAVOS DOMÉSTICOS
A maior parte dos cativos do Rio de Janeiro
era destinada aos afazeres domésticos,
cuja parcela significativa era semelhante
aos serviços realizados pelos escravos das
zonas agrícolas. As famílias ricas do Rio
tinham cozinheiras, copeiras, mucamas,
cocheiros, lavadeiras e engomadeiras e
cada uma dessas sub-atividades estava
relacionada com um espaço específico da
casa senhorial. Em certos casos, o nível de
especialização dos serviços domésticos
era tamanho que chegavam a exigir certa
profissionalização dos cativos, o que em
diversas situações chegou a moldar uma
hierarquia entre os escravos domésticos
de um mesmo senhor.
59. ESTRADA DE FERRO
•
a construção de um trecho de 14 Km de linha
férrea entre o porto de Mauá, na baía de
Guanabara, e a estação de Fragoso, na raiz da serra
da Estrela (Petrópolis), na então Província do Rio de
Janeiro, a primeira no Brasil.[2 No dia da
inauguração (30 de abril de 1854), na presença do
imperador e de autoridades, a locomotiva,
posteriormente apelidada de Baroneza[ (em
homenagem à esposa de Mauá), percorreu em
23 minutos o percurso. Na mesma data, em
reconhecimento, o empresário recebeu o título de
barão de Mauá. Este seria o primeiro trecho de um
projeto maior, visando a comunicar a região
cafeicultora do vale do rio Paraíba e de Minas
Gerais ao porto do Rio de Janeiro.
Em 1873 pela Estrada União e Indústria, a primeira
estrada pavimentada no país, chegavam as
primeiras cargas de Minas Gerais para a Estrada de
Ferro Dom Pedro II (depois Estrada de Ferro Central
do Brasil) empreendimento estatal inaugurado
em 1858, que oferecia fretes mais baixos. Em 1882,
vencidas as dificuldades técnicas da serra, os trilhos
chegavam a Petrópolis.
60. BONDES CARIOCAS
O primeiro bonde do Rio de Janeiro circula, puxado a burro, em 30 de janeiro de 1859,
ligando o Largo do Rocio (atual Praça de Tiradentes) a um local perto da atual Usina, na
Tijuca, num trajeto de 7 km de comprimento. Mas tarde esta linha tem a tração animal
substituída pela do vapor em setembro de 1862 - o que leva a companhia exploradora
do serviço à falência e à extinção do serviço em 28 de novembro de 1865.
Três anos depois, em 8 de outubro de 1868, inaugura-se o primeiro trecho da linha
de bondes da The Botanical Garden Rail Road Company ligando a esquina da ruas do
Ouvidor e Gonçalves Dias, no Centro, ao Largo do Machado, no Catete; e em 19 de
janeiro de 1870, a recém-criada companhia Rio de Janeiro Street Railway reabre a linha
da Tijuca, sendo novamente usada a tração animal.
Está criado, na cidade do Rio de Janeiro, um sistema de transportes públicos sobre
trilhos - que passarão aqui a ser conhecidos por bondes - e que irá permanecer (com
muitas altereções, naturalmente) até aos dias de hoje
61.
62. BONS DIAS NO BONDE
Ocorreu -me compor uma certas regras para uso dos que frequentam bonds.
O desenvolvimento que tem sido entre nós esse meio de locomoção,
essencialmente democrático! exige que ele não seja deixado ao puro
capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do
meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão
apenas dez.
Art. I - Dos encatarroados
Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem
mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.
Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os
encatarroados têm dois alvitres: -ou irem a pé, que é bom exercício, ou
meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.
Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem
escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no próprio bond, salvo caso
de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc., etc.
Art. II - Da posição das pernas
As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do
mesmo banco. Não se proíbem formalmente as pernas abertas, mas com a
condição de pagar os outros lugares, e fazê-los ocupar por meninas pobres ou
viúvas desvalidas, mediante uma pequena gratificação.
63. BONS DIAS NOS BONDES
Art. III - Da leitura dos jornais
Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado
de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também
não é bonito encostá-los no passageiro da frente.
Art. IV - Dos quebra-queixos
É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circunstâncias: a primeira
quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.
Art. V - Dos amoladores
Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos,
sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro
escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No
caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga
de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve
imediatamente pespegá-los. No caso, aliás extraordinário e quase absurdo,
de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-lo
minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais,
repelindo os ditos, .pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente
jure aos seus deuses não cair em outra.
64. CRESCIMENTO PARA A ZONA SUL
Túnel Aloar Prata (Túnel Velho) inaugurado em 1892
ligava Botafogo à Copacabana foi reformado em 1926.
70. Rio de Janeiro em 1879
Planta da cidade do Rio de Janeiro com o seu traçado urbano, em 1879, mostrando os principais prédios
públicos em vermelho e as igrejas em preto, Luiz Schreiner. Fonte: Bolsa do Rio XXI, 2000.
72. A FESTA DA ABOLIÇÃO
Missa de Ação de Graças No Rio de Janeiro reuniu A Princesa Isabel e Cerca de
20 mil pessoas para celebrar a Abolição da Escravidão em 17 de maio de 1888.
74. RIO DE JANEIRO DE PEREIRA PASSOS
No início do século XX, o Rio de Janeiro passava por graves problemas sociais,
decorrentes, em grande parte de seu rápido e desordenado crescimento,
alavancado pela imigração europeia e pela transição do trabalho escravo para o
trabalho livre.
Na ocasião em que Pereira Passos assume a Prefeitura da cidade, o Rio de
Janeiro, com sua estrutura de cidade colonial, possuía quase um milhão de
habitantes carentes de transporte, abastecimento de água, rede de esgotos,
programas de saúde e segurança.
No centro do Rio de janeiro – a Cidade Velha e adjacências – eclodiam habitações
coletivas insalubres (cortiços), epidemias de febra amarela, varíola, cólera,
conferindo à cidade a fama internacional de porto sujo ou "cidade da morte",
como se tornara conhecida.
A reforma urbana de Pereira Passos, período conhecido popularmente como
“Bota-abaixo”, visou o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, dando ao
Rio de Janeiro ares de cidade moderna e cosmopolita.
75. FEITOS DE PEREIRA PASSOS
1903-1905
1903 - Inauguração do Pavilhão da Praça XV
1903 - Prolongamento da Rua do Sacramento (atual Avenida Passos) até a Rua Marechal Floriano
1903 - Inauguração do Jardim do Alto da Boa Vista
1903 a 1904 - Alargamento da antiga Rua da Prainha (atual Rua do Acre)
1904 - Construção do Aquário do Passeio Público
1904 - Obras na Rua 13 de Maio
1905 - Início da Construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (inaugurado em 1909)
1905 - Inauguração da nova estrada da Tijuca
1905 - Alargamento e prolongamento da Rua Marechal Floriano até o Largo de Santa Rita
1905 - Alargamento da Rua do Catete
1905 - Alargamento e prolongamento da Rua Uruguaiana
1905 - Inauguração da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), marco de sua administração
1905 - Decreto para a construção da Avenida Atlântica, em Copacabana
1905 - Inauguração da Escola-Modelo Tiradentes
1905 - Abertura da Rua Gomes Freire de Andrade
1905 - Abertura da Avenida Maracanã
76. Avenida Central. À esquerda o Teatro Municipal e à direita a Escola
Nacional de Belas Artes. Foto de Marc Ferrer (1909).
77. REVOLTA DA VACINA
Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio
fechado, transporte público assaltado e queimado,
lampiões quebrados às pedradas, destruição de
fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores
derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta
contra o projeto de vacinação obrigatório proposto
pelo sanitarista Oswaldo Cruz.
Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904)
79. REVOLTA DA VACINA
Para erradicar a varíola, o sanitarista convenceu o Congresso a aprovar a Lei da Vacina
Obrigatória (31 de Outubro de 1904), que permitia que brigadas sanitárias, acompanhadas por
policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à força.
A população estava confusa e descontente. A cidade parecia em ruínas, muitos perdiam suas
casas e outros tantos tiveram seus lares invadidos pelos mata-mosquitos, que agiam
acompanhados por policiais. Jornais da oposição criticavam a ação do governo e falavam de
supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a vacina teria de ser aplicada
nas "partes íntimas" do corpo (as mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou
a ira da população, que se rebelou.
A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta: no dia 5 de novembro, a oposição criava
a Liga contra a Vacina Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de novembro , a cidade virou um campo
de guerra. A população exaltada depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas,
arrancou trilhos, quebrou postes e atacou as forças da polícia com pedras, paus e pedaços de
ferro. No dia 14, os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se sublevaram contra as
medidas baixadas pelo Governo Federal.
A reação popular levou o governo a suspender a obrigatoriedade da vacina e a declarar estado de
sítio (16 de novembro). A rebelião foi contida, deixando 50 mortos e 110 feridos. Centenas de
pessoas foram presas e, muitas delas, deportadas para o Acre.
Ao reassumir o controle da situação, o processo de vacinação foi reiniciado, tendo a varíola, em
pouco tempo, sido erradicada da capital.
80. FEITOS DE PEREIRA PASSOS
1906
1906 - Alargamento da Rua da Carioca
1906 - Inauguração da fonte do Jardim da Glória
1906 - Inauguração da nova Fortaleza na Ilha de Lage
1906 - Inauguração do palácio da exposição permanente de São Luiz (futuro Palácio
Monroe)
1906 - Conclusão das obras de melhoramento do porto do Rio de Janeiro e do Canal do
Mangue
1906 - Inauguração das obras de melhoramento e embelezamento do Campo de São
Cristóvão
1906 - Aterramento das praias do Flamengo e Botafogo, com construção de jardins;
1906 - Inauguração do alargamento da Rua Sete de Setembro , entre as avenidas Central e
Primeiro de Março
1906 - Inauguração da Avenida Beira-Mar
1906 - Reforma do Largo da Carioca
1906 - Construção do Pavilhão Mourisco, em Botafogo[4]
1906 - Construção do Restaurante Mourisco, próximo à estação das barcas, no Centro
1906 - Melhorias no abastecimento de água da cidade.
87. A Alma encantadora das Ruas
Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria
revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este
amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós
somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias,
nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a
polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o
sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida,
resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o
ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os
séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos
notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da
rua.
88. A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que
vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada praça, tipo diabólico
que tem dos gnomos e dos silfos das florestas, tipo proteiforme, feito de risos e
de lágrimas, de patifarias e de crimes irresponsáveis, de abandono e de inédita
filosofia, tipo esquisito e ambíguo com saltos de felino e risos de navalha, o
prodígio de uma criança mais sabida e cética que os velhos de setenta invernos,
mas cuja ingenuidade é perpétua, voz que dá o apelido fatal aos potentados e
nunca teve preocupações, criatura que pede como se fosse natural pedir,
aclama sem interesse, e pode rir, francamente, depois de ter conhecido todos os
males da cidade, poeira d’ouro que se faz lama e torna a ser poeira – a rua criou
o garoto!