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7 problemas que a sua cooperativa
precisa resolver para ser estratégica
O cooperativismo é muito específico e regido por uma base de princípios que por vezes
limita a implementação de processos estratégicos. Seja pela complexidade ou pela
necessidade de ruptura, a doutrina cooperativista convive com problemas sérios que
dificilmente são contornados por estratégias. A única certeza que se tem hoje em dia é
que não se tem certeza de mais nada. A gestão por previsão torna-se um exercício cada
vez mais trabalhoso e seus resultados cada vez mais incertos. Então, cabe definitivamente
a pergunta:
Como implementar estratégias e aprimorar o processo de gestão?
As cooperativas geralmente possuem 7 grandes problemas:
1 – O produtor também é cliente [e vice versa]
Começamos pelo papel do cooperado. Quando o assunto é administração de estratégias, a
gestão é conduzida pelo próprio cooperado, o que pode levar à perda de qualidade pelo
fato da especialização. O que muito se ouve é que o cooperado começa bem, mas quando
a cooperativa cresce e a gestão fica mais complexa do que o modelo prega, a eficiência é
emperrada pela ausência de profissionalismo.
2 – O problema do horizonte [como imobilizar capital por longos períodos?]
Esta questão configura-se como um dos problemas mais crônicos para a gestão de
estratégias, pois quando tratamos deste assunto falamos de futuro e como incrementar
melhorias a longo prazo. O horizonte da cooperativa torna-se um problema quando existe
a necessidade de imobilização de capital por longos períodos para implementar projetos
fortes e consistentes. Na minha visão, para os cooperados é difícil, por vezes, enxergar
longe, abstrair e concordar que competitividade e posicionamento estratégicos não
acontecem do dia para a noite.
3 – O cooperado excede demanda de serviços e não reverte a produção
Ou seja, consome insumos e recursos, mas desvia o seu produto para outras organizações.
A perda está na rentabilidade, no faturamento e também nas estratégias de
relacionamento que emperram a fidelização do produtor e, consequentemente, o
resultado não retorna.
4 – Desenvolvimento de novos produtos
Emblemático é mergulhar nesse complexo mundo cooperativista e pensar sobre o
problema do desenvolvimento de novos produtos. Diretamente ligado aos planos de
incentivos, o portfólio torna-se refém dos projetos de curto prazo, que expõem a
cooperativa a riscos maiores, justamente por não executarem projetos de longo prazo.
Investir em projeto de curto prazo não possibilita a consolidação da marca, dificulta a
competitividade e emperra o desenvolvimento de novos produtos e linhas de negócios.
5 – O problema do controle
Chegamos ao quinto fator também de alta criticidade para a execução de estratégias nas
cooperativas. Na maioria das cooperativas o monitoramento e as decisões estratégicas é
definido pela mesma pessoa. Isso pode ser visto como um inibidor para uma gestão
eficiente. Cooperativas são negócios complexos por natureza e requerem especialização
de seus gestores, principalmente em separar a propriedade e o controle da organização.
6 – Custos de influência
Ainda nos resta a sexta situação por avaliar, que é o problema dos custos de influência que
derivam da situação de controle, visto que os incentivos que existem em virtude dos
cargos executivos, disputados pelos membros das cooperativas, geram grandes conflitos
políticos e de competitividade, impactando na implementação de estratégias. Esse fator
tem gerado complicadores enormes na formação das diretorias executivas das
cooperativas e afastado os cooperados, custo altíssimo para qualquer gestão.
7 – Unindo estratégias e pessoas
Este problema está diretamente relacionado ao fato de que pessoas não entendem o que
elas fazem. A visão da estratégia precisa estar sincronizada com as operações da
cooperativa e as pessoas precisam estar no lugar certo para entenderem o resultado a ser
buscado. Muito importante: a estratégia define a trajetória de um negócio, mas o
processo de pessoas define quem vai fazer o negócio chegar lá. Esse problema é
relacionado à capacidade de execução da cooperativa.
Deixando um pouco de lado os aspectos do cooperativismo, conseguimos analisar os
pontos acima e concluir que cooperativas saudáveis e em crescimento são aquelas em que
as práticas de gestão de estratégias estão bem resolvidas. Em linhas gerais, isso implica em
adotar uma estratégia de Governança Corporativa.
Meu foco não é defender a governança, mas sim, dar insumos para que a gestão seja mais
pragmática, atingindo níveis passíveis de amadurecimento. É uma outra realidade que
conseguimos enxergar diante do efeito de um projeto estratégico em que a Governança
tem peso no equilíbrio organizacional.
Governança Corporativa é uma metodologia que cresce fortemente em todo o mundo
desde a década de 90 e exige comunicação forte e assertiva entre os meios interno e
externo das organizações. Ela é o melhor caminho? Não sei, mas ao adotar uma estratégia
de Governança Corporativa basicamente a cooperativa passa a priorizar 4 valores
essenciais para a sua gestão: conformidade legal, prestação responsável de contas,
transparência e senso de justiça.
Para facilitar nosso entendimento, vamos responder 3 questões para embasar uma boa
estratégia baseando no material extraído do artigo “Gestão Estratégica em Cooperativas
Agroindustriais” de Cláudio Antonio Pinheiro Machado Filho, Matheus Kfouri
Marino e Marco Antonio Conejero.
ONDE MINHA COOPERATIVA ESTÁ?
AMEAÇAS OPORTUNIDADES
• Acirramento da concorrência
• Abertura/desregulamentação econômica
• Concentração das atividades produtivas
• Desgaste da imagem do cooperativismo na
sociedade
• Possibilidade de coordenação de
produção
• Exploração da imagem (origem
certificada)
• Alianças e parcerias com empresas
nacionais e multinacionais para
industrialização e distribuição
• Possibilidade de alinhamento com o
conceito de responsabilidade social
corporativa
PONTOS FRACOS PONTOS FORTES
• Problemas internos de gestão
• Processo decisório complexo e muitas vezes
distorcido
• Ausência de critérios para alocação de
investimentos (questões políticas)
• Dificuldades no levantamento de capital
(impossibilidade de abertura de capital e
restrições
crescentes na obtenção de linhas de
financiamento)
• Acesso à produção agropecuária
• Incentivos especiais
• Possibilidade de coordenação da
produção
• Apoio ao produtor rural na difusão de
técnicas agrícolas
PARA ONDE QUERO CONDUZIR MINHA COOPERATIVA?
BARREIRAS DA GESTÃO ESTRATÉGICA
• Deficiência no processo de tomada de decisão, em geral influenciado por questões
políticas
• Deficiências na liderança do processo de AE, em geral fortemente polarizada,
impermeável e insensível à moderna gestão estratégica, ou fraca demais, com
dificuldades de vencer a heterogeneidade de demandas de cooperados, hesitante e
ineficaz na implementação de decisões
• Falta de profissionalismo na gestão, em todas as áreas, com especial ênfase na
capacidade de análise técnico-econômica de projetos (com visão sistêmica) e marketing
• Estruturas organizacionais pesadas
• Pouco envolvimento de várias instâncias decisórias críticas para a implementação de
ações de peso
• Sistemas de controle inadequados para acompanhamento do andamento de projetos
• Limitação de recursos
QUAL CAMINHO PRECISAMOS TRILHAR?
EIXOS ESTRATÉGICOS A SEREM PRIORIZADOS
• Focalização em negócios estratégicos
• Aumento de eficiência e otimização das margens nas cadeias agroindustriais que atuam
• Aumento da eficácia dos modelos de gestão
• Profissionalização e equacionamento do processo sucessório
• Otimização do processo de tomada de decisão
• Equacionamento da relação em cooperados
• Otimização das estruturas administrativas
• Fortalecimento da capacidade em lidar com o mercado, com a profissionalização em
marketing
• Otimização da estrutura de capital, com a reestruturação de passivos e aumento da
eficiência em capitalização e captação de recursos
Em cooperativas, os problemas parecem ser mais sérios do que o normal, tendo em vista
os aspectos relacionados à cultura a doutrina. Não se pode esperar por mudanças radicais
quando o objetivo é a implementação de processos de administração estratégica.
"Criar a estratégia brilhante é fácil; o difícil é colocá-la em prática."
Ram Charan
Não temos mais tempo para errar na adoção e execução de estratégias, não podemos
mais aceitar imaturidade de nossos líderes e precisamos de monitoramento em tempo
real para nossas operações. Fundamental: dar um basta em ambientes cooperativistas
improdutivos e desorganizados. A dinâmica empresarial possui importância crescente,
principalmente pelos exemplos recentes de gestões desequilibradas das cooperativas e
pela hipótese bem difundida de que a adoção de práticas de gestão ajuda a fortalecer e
reforça alçadas para enfrentar novos níveis de competição.
Autor: Jordano Gonzatto
Gerente de clientes da Datacoper e da Vistra Business Intelligence. Atua há mais de 15
anos com tecnologia da informação, serviços e estratégias de negócios. Autor do livro
Empreendedorismo Ágil – Habilidade para Executar e de mais de 200 artigos sobre
gestão, inovação e comportamento empreendedor. Atualmente dedica-se à construção
do Strategy Model Generation – Modelo Gerador de Estratégias. Saiba mais no
blog jgonzatto.blogspot.com.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://www.administradores.com.br/noticias/negocios/4-barreiras-entre-
o-que-e-o-como-os-desafios-no-caminho-entre-a-ideia-e-a-execucao/73334
http://www.danieldomeneghetti.com.br/wp-
content/upload/posts/2012/01/As-Sacadas-do-Livro-
Execu%C3%A7%C3%A3o-Ram-Charam-Pt..pdf
http://www.franklincovey.com.br/treinamentos/solucoes-de-foco-e-
execucao/as-4-disciplinas-da-execucao.html
http://www.executiveboard.com/blogs/the-five-pillars-of-strategy-
execution
http://www.regeusp.com.br/arquivos/v11n2art5.pdf
http://www.fearp.usp.br/egna/arquivo/13.pdf
http://pensa.org.br/wp-
content/upload/posts/2011/10/Gestao_estrategica_em_cooperativas_agroin
dustriais_2003.pdf
http://pensa.org.br/category/livros-publicados

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7 problemas que a sua cooperativa precisa resolver para ser estratégica

  • 1. 7 problemas que a sua cooperativa precisa resolver para ser estratégica O cooperativismo é muito específico e regido por uma base de princípios que por vezes limita a implementação de processos estratégicos. Seja pela complexidade ou pela necessidade de ruptura, a doutrina cooperativista convive com problemas sérios que dificilmente são contornados por estratégias. A única certeza que se tem hoje em dia é que não se tem certeza de mais nada. A gestão por previsão torna-se um exercício cada vez mais trabalhoso e seus resultados cada vez mais incertos. Então, cabe definitivamente a pergunta: Como implementar estratégias e aprimorar o processo de gestão? As cooperativas geralmente possuem 7 grandes problemas: 1 – O produtor também é cliente [e vice versa] Começamos pelo papel do cooperado. Quando o assunto é administração de estratégias, a gestão é conduzida pelo próprio cooperado, o que pode levar à perda de qualidade pelo fato da especialização. O que muito se ouve é que o cooperado começa bem, mas quando a cooperativa cresce e a gestão fica mais complexa do que o modelo prega, a eficiência é emperrada pela ausência de profissionalismo. 2 – O problema do horizonte [como imobilizar capital por longos períodos?] Esta questão configura-se como um dos problemas mais crônicos para a gestão de estratégias, pois quando tratamos deste assunto falamos de futuro e como incrementar melhorias a longo prazo. O horizonte da cooperativa torna-se um problema quando existe a necessidade de imobilização de capital por longos períodos para implementar projetos fortes e consistentes. Na minha visão, para os cooperados é difícil, por vezes, enxergar longe, abstrair e concordar que competitividade e posicionamento estratégicos não acontecem do dia para a noite. 3 – O cooperado excede demanda de serviços e não reverte a produção Ou seja, consome insumos e recursos, mas desvia o seu produto para outras organizações. A perda está na rentabilidade, no faturamento e também nas estratégias de relacionamento que emperram a fidelização do produtor e, consequentemente, o resultado não retorna.
  • 2. 4 – Desenvolvimento de novos produtos Emblemático é mergulhar nesse complexo mundo cooperativista e pensar sobre o problema do desenvolvimento de novos produtos. Diretamente ligado aos planos de incentivos, o portfólio torna-se refém dos projetos de curto prazo, que expõem a cooperativa a riscos maiores, justamente por não executarem projetos de longo prazo. Investir em projeto de curto prazo não possibilita a consolidação da marca, dificulta a competitividade e emperra o desenvolvimento de novos produtos e linhas de negócios. 5 – O problema do controle Chegamos ao quinto fator também de alta criticidade para a execução de estratégias nas cooperativas. Na maioria das cooperativas o monitoramento e as decisões estratégicas é definido pela mesma pessoa. Isso pode ser visto como um inibidor para uma gestão eficiente. Cooperativas são negócios complexos por natureza e requerem especialização de seus gestores, principalmente em separar a propriedade e o controle da organização. 6 – Custos de influência Ainda nos resta a sexta situação por avaliar, que é o problema dos custos de influência que derivam da situação de controle, visto que os incentivos que existem em virtude dos cargos executivos, disputados pelos membros das cooperativas, geram grandes conflitos políticos e de competitividade, impactando na implementação de estratégias. Esse fator tem gerado complicadores enormes na formação das diretorias executivas das cooperativas e afastado os cooperados, custo altíssimo para qualquer gestão. 7 – Unindo estratégias e pessoas Este problema está diretamente relacionado ao fato de que pessoas não entendem o que elas fazem. A visão da estratégia precisa estar sincronizada com as operações da cooperativa e as pessoas precisam estar no lugar certo para entenderem o resultado a ser buscado. Muito importante: a estratégia define a trajetória de um negócio, mas o processo de pessoas define quem vai fazer o negócio chegar lá. Esse problema é relacionado à capacidade de execução da cooperativa. Deixando um pouco de lado os aspectos do cooperativismo, conseguimos analisar os pontos acima e concluir que cooperativas saudáveis e em crescimento são aquelas em que as práticas de gestão de estratégias estão bem resolvidas. Em linhas gerais, isso implica em adotar uma estratégia de Governança Corporativa. Meu foco não é defender a governança, mas sim, dar insumos para que a gestão seja mais pragmática, atingindo níveis passíveis de amadurecimento. É uma outra realidade que
  • 3. conseguimos enxergar diante do efeito de um projeto estratégico em que a Governança tem peso no equilíbrio organizacional. Governança Corporativa é uma metodologia que cresce fortemente em todo o mundo desde a década de 90 e exige comunicação forte e assertiva entre os meios interno e externo das organizações. Ela é o melhor caminho? Não sei, mas ao adotar uma estratégia de Governança Corporativa basicamente a cooperativa passa a priorizar 4 valores essenciais para a sua gestão: conformidade legal, prestação responsável de contas, transparência e senso de justiça. Para facilitar nosso entendimento, vamos responder 3 questões para embasar uma boa estratégia baseando no material extraído do artigo “Gestão Estratégica em Cooperativas Agroindustriais” de Cláudio Antonio Pinheiro Machado Filho, Matheus Kfouri Marino e Marco Antonio Conejero. ONDE MINHA COOPERATIVA ESTÁ? AMEAÇAS OPORTUNIDADES • Acirramento da concorrência • Abertura/desregulamentação econômica • Concentração das atividades produtivas • Desgaste da imagem do cooperativismo na sociedade • Possibilidade de coordenação de produção • Exploração da imagem (origem certificada) • Alianças e parcerias com empresas nacionais e multinacionais para industrialização e distribuição • Possibilidade de alinhamento com o conceito de responsabilidade social corporativa PONTOS FRACOS PONTOS FORTES • Problemas internos de gestão • Processo decisório complexo e muitas vezes distorcido • Ausência de critérios para alocação de investimentos (questões políticas) • Dificuldades no levantamento de capital (impossibilidade de abertura de capital e restrições crescentes na obtenção de linhas de financiamento) • Acesso à produção agropecuária • Incentivos especiais • Possibilidade de coordenação da produção • Apoio ao produtor rural na difusão de técnicas agrícolas
  • 4. PARA ONDE QUERO CONDUZIR MINHA COOPERATIVA? BARREIRAS DA GESTÃO ESTRATÉGICA • Deficiência no processo de tomada de decisão, em geral influenciado por questões políticas • Deficiências na liderança do processo de AE, em geral fortemente polarizada, impermeável e insensível à moderna gestão estratégica, ou fraca demais, com dificuldades de vencer a heterogeneidade de demandas de cooperados, hesitante e ineficaz na implementação de decisões • Falta de profissionalismo na gestão, em todas as áreas, com especial ênfase na capacidade de análise técnico-econômica de projetos (com visão sistêmica) e marketing • Estruturas organizacionais pesadas • Pouco envolvimento de várias instâncias decisórias críticas para a implementação de ações de peso • Sistemas de controle inadequados para acompanhamento do andamento de projetos • Limitação de recursos QUAL CAMINHO PRECISAMOS TRILHAR? EIXOS ESTRATÉGICOS A SEREM PRIORIZADOS • Focalização em negócios estratégicos • Aumento de eficiência e otimização das margens nas cadeias agroindustriais que atuam • Aumento da eficácia dos modelos de gestão • Profissionalização e equacionamento do processo sucessório • Otimização do processo de tomada de decisão • Equacionamento da relação em cooperados • Otimização das estruturas administrativas • Fortalecimento da capacidade em lidar com o mercado, com a profissionalização em marketing • Otimização da estrutura de capital, com a reestruturação de passivos e aumento da eficiência em capitalização e captação de recursos Em cooperativas, os problemas parecem ser mais sérios do que o normal, tendo em vista os aspectos relacionados à cultura a doutrina. Não se pode esperar por mudanças radicais quando o objetivo é a implementação de processos de administração estratégica. "Criar a estratégia brilhante é fácil; o difícil é colocá-la em prática." Ram Charan
  • 5. Não temos mais tempo para errar na adoção e execução de estratégias, não podemos mais aceitar imaturidade de nossos líderes e precisamos de monitoramento em tempo real para nossas operações. Fundamental: dar um basta em ambientes cooperativistas improdutivos e desorganizados. A dinâmica empresarial possui importância crescente, principalmente pelos exemplos recentes de gestões desequilibradas das cooperativas e pela hipótese bem difundida de que a adoção de práticas de gestão ajuda a fortalecer e reforça alçadas para enfrentar novos níveis de competição. Autor: Jordano Gonzatto Gerente de clientes da Datacoper e da Vistra Business Intelligence. Atua há mais de 15 anos com tecnologia da informação, serviços e estratégias de negócios. Autor do livro Empreendedorismo Ágil – Habilidade para Executar e de mais de 200 artigos sobre gestão, inovação e comportamento empreendedor. Atualmente dedica-se à construção do Strategy Model Generation – Modelo Gerador de Estratégias. Saiba mais no blog jgonzatto.blogspot.com.
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