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Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo
Análise da obra
A obra foi escrita em 1878. São contos fantásticos, macabros. Numa taverna, em noite escura de
tormenta, entre mundanas bêbadas e adormecidas, jovens boêmios (Solfieri, Johann, Gennaro,
Bertran, Hermann e Arnold) resolvem, por desafio, contar casos verdadeiros e escabrosos que
tivessem vivido. O livro compõe-se dessas narrativas, e é o que de melhor a literatura brasileira
possui no gênero fantástico, que tinha em Hoffmann seu modelo e em Edgar Allan Poe um
verdadeiro gênio do terror.
Movido pela imaginação exacerbada, a obra apresenta os desvarios do poeta envolvido por uma
conturbação febril, na qual se deixa influenciar por quase todas as grandes características das
novelas mórbidas do século XIX. Visivelmente artificiais, as narrativas que constituem o cerne desta
obra recebem certa dose de magia e coerência por envolver o leitor, prender-lhe a atenção, dirigi-lo
ao final. E se as história relatadas não são verossímeis, pelo menos disfarçam suas incoerências pela
atração com que o autor conduz sua imaginação, de modo que quase parecem reais, colocando-as
envolvidas por uma onda infindável de orgias deboches, sátiras, paixões transfiguradas, relatadas
pela pequena galeria de personagens boêmios que vão tomando a palavra. Das páginas de Noite na
Taverna
vão
surgindo
relatos
impregnados
de
um
clima
inumano
e
anormal.
Noite na Taverna é uma narrativa (novela ou conto) construída em sete partes, contendo epígrafes e
os nomes de cada personagem, como subtítulos, antecedendo as narrativas, contadas em uma
taverna. Há, na última parte, o entrelaçamento da história de Johann e de alguns personagens.
Mais do que pelos elementos romanescos e satânicos que a condimentam (violentação, corrupção,
incesto, adultério, necrofilia, traição, antropofagia, assassinatos por vingança ou amor), a obra
impõe-se pela estrutura: um narrador em terceira pessoa introduz o cenário, as personagens, a
situação, e praticamente desaparece, dando lugar a outros narradores - as próprias personagens,
que em primeira pessoa contam, uma a uma, episódios de suas vidas aventureiras.
Na última narrativa, a presença física (na roda dos moços) de personagens mencionadas em uma
narrativa anterior faz com que todo o ambiente fantástico e irreal dos contos se legitime como
verídico.
Noite na Taverna, obra escrita em tom bastante emotivo, antecipa em vários aspectos a narração da
prosa moderna: a liberdade cênica, a dupla narração e suas confluências, a mistura do real ao
fantástico conferem atualidade à obra, apesar de toda a atmosfera byroniana.
Primeira parte
A primeira parte constitui uma espécie de apresentação do ambiente da taverna, da roda de
bebedeira, de devassidão em que se encontram os personagens, do clima notívago e vampiresco. O
tom declamatório anuncia a noitada e as história que estão por vir.
As primeiras páginas deixam antever o clima das geração do mal do século, a irreverência incontida,
a tendência a divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente, a morbidez e a
lascívia.
Entre os "brados" e as taças que circulavam, são apresentados os personagens, e alguns deles
tomas a palavra. Em primeira pessoa, relatam histórias pessoais. O primeiro a tomar a palavra é
Solfieri que faz suas evocações, remontando-as a Roma, a "cidade do fanatismo e da perdição",
onde "na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo
lívido". Certa noite, Solfieri vê um vulto de mulher. Segue-a até um cemitério; o vulto desaparece e
o personagem adormece sob o frio da noite e a umidade da chuva. A visão deste vulto de uma
mulher atordoou o personagem durante um ano, nada o satisfazia na troca de amores com
mundanas. Uma noite, após prolongada orgia, saio vagando pelas ruas e acaba entre "as luzes de
quatro círios" que iluminavam um caixão entreaberto. Lá estava a mulher que lhe provocara tantas
alucinações e insônias. Era agora uma defunta. O homem tomou o cadáver em seus braços, despiulhe o véu e...
Mas, para disfarçar o caso de necrofilia, a mulher não estava morta, apenas sofrera um ataque e
catalepsia. Ao perceber que a mulher não havia morrido, Solfieri levou-a para seu leito, contemploua e ela, depois de breve delírio, vaio a falecer. Solfieri mandou fazer uma estátua de cera da virgem,
guardou-a em seu quarto, conservou com uma grinalda de flores.
Johann, Bertram, Archibald, Solfieri, o adormecido, Arnold e outros companheiros estão na taverna,
dialogando sobre loucuras noturnas, enquanto as mulheres dormem ébrias sobre as mesas. Falam
das noites passadas em embriaguez e pura orgia. Solfieri os questiona a respeito da imortalidade da
alma, sendo mais velho, parece não crer nela, por isso, Archibald o censura pelo materialismo.
Solfieri acredita na libertinagem, na bebida e na mulher sobre o colo do amado. Os homens só se
voltam para Deus quando estão próximos da morte, Deus é, pois, a "utopia do bem absoluto".
Segunda parte - Solfieri e a Necrofilia
Solfieri decide contar sua história, conforme sugere Archibald, desejoso de histórias fantásticas,
cheias de sangue e paixão. Conta, então, que uma noite, ao vagar por uma rua, em Roma, passa
por uma ponte, quando as luzes dos palácios se apagam. Vê a sombra de uma mulher chorando,
numa escura e solitária janela, parecendo uma estátua pálida à lua.
Ela canta mansamente, saindo para a rua, sempre seguida por Solfieri. Pela manhã, ele percebe que
está em um cemitério, sem saber, ao certo, se adormeceu ou desmaiou. Sente muito frio, adoece,
delira, tendo visões com a bela e pálida mulher. Retorna a Roma um ano depois, sem encontrar
alento nos beijos das amantes, perseguido pela visão da mulher do cemitério. Certa noite, muito
bêbado, após uma orgia, se encontra num templo muito escuro e, vendo um caixão semi-aberto, crê
que a mulher está lá dentro. Arranca-lhe a mortalha, faz amor com ela, que, pela madrugada, dá
sinais
de
vida,
retornando
da
catalepsia
para
desmaiar
em
seguida.
Solfieri coloca sua capa sobre a moça e foge com ela. Encontra com o coveiro e depois com a
patrulha, que o considera um ladrão de cadáveres. Justifica-se, apresentando a esposa desfalecida.
Ao chegar em casa, a moça grita, ri e estremece, morrendo 2 dias depois. Solfieri levanta o piso do
quarto para dar lugar ao túmulo, suborna, antes, um escultor que lhe faz em cera a estátua da
virgem. Aguarda um ano para estátua definitiva ficar pronta.
Volta-se para Bertram, recordando-lhe a visita deste em sua casa e de a ter visto por entre véus,
sendo a ela apresentado como "uma virgem que dormia". Os amigos surpresos com a história
desejam saber se se trata de um conto, mas ele jura por todo mal existente que não. Como prova,
mostra sob a camisa a grinalda de flores mirradas, pertencente à moça.
Terceira parte - Bertran e a Antropofagia
A seguir, Bertram, um dinamarquês ruivo, de olhos verdes, conta que, também, uma mulher, uma
donzela de Cadiz, Angela, o levou à bebida e a duelar com seus três melhores amigos e a enterrálos. Quando decide casar com ela e consegue lhe dar o primeiro beijo, recebe carta do pai, pedindo
seu retorno à Dinamarca. Encontra o velho já moribundo, chora, mas por saudades de Angela. Dois
anos depois, vende toda fortuna, coloca o dinheiro num banco de Hamburgo e volta para a Espanha.
Encontra a moça casada e mãe de um filho. A paixão persiste e os amantes passam a se encontrar
às escondidas, vivendo verdadeiras loucuras noturnas até que o marido, enciumado, descobre tudo.
Uma noite, Angela, com a mão ensangüentada, pede ao rapaz para subir até sua casa e por entre a
penumbra, ele encontra o marido degolado e sobre seu peito, o filho de bruços, sangrando. Angela
deseja fugir em sua companhia, saem pelo mundo, ela vestida de homem vive grandes orgias. Foge
mais tarde, deixando o rapaz entregue às paixões e vícios.
Bertram bêbado e ferido é atropelado por uma carruagem, diante de um palácio, sendo socorrido
por um velho fidalgo, pai de uma bela menina, que, mais tarde, foge para casar-se com Bertram.
Vendida em uma mesa de jogo a Siegfried, um pirata, ela o mata e o envenena, afogando-se a
seguir. De dissipação em dissipação, o rapaz resolve matar-se no mar na Itália, mas salvo por
marinheiros, fica sabendo que a pessoa que o salvou acabou, acidentalmente, morta por ele. São
socorridos por um navio e Bertram é aceito a bordo em troca de que combatesse se necessário.
Mas, apaixona-se pela pálida mulher do comandante e, durante uma batalha contra um navio pirata,
ele o trai, fazendo amor com a mulher. O navio encalha em um banco de areia, despedaçando-se
aos poucos - os náufragos agarram-se a uma jangada e, em meio à noite e à tempestade, o casal
vive horas de amor. Vagam a ermo pelo mar as três figuras, sobrevivendo de bolachas e, mais
tarde, tiram a sorte para ver quem morrerá. O comandante perde, clama por piedade, mas Bertram
se nega ouvi-lo, prefere a luta. Mata o comandante, que serve, por dois dias, de alimento a Bertram
e a mulher. Ela propõe morrerem juntos, ele aceita. O casal gasta as últimas energias se amando. A
mulher, enlouquecida, começa a gargalhar, Bertram febril a sufoca. Ela é levada pelas águas,
enquanto o rapaz é salvo pelo navio inglês, Swallow.
Quarta parte - Gennaro e a Traição das Traições
A próxima história é a de Gennaro. Sua narrativa é sobre um velho pintor, Godofredo Walsh, casado
com uma jovem de 20 anos, Nauza, que lhe serve de modelo e é amada como a filha do primeiro
casamento, Laura, garota de 15 anos. Gennaro, aos 18 anos, é aprendiz de pintor e aluno de
Godofredo. Vive na casa do mestre como um filho, recebendo, no corredor, antes de dormir, beijos
de Laura. Um dia, desperta e a encontra em sua cama, perdendo a cabeça diante da estonteante
beleza da virgem. A cena se repete ao longo de 3 meses, quando a menina lhe diz que deve pedi-la
em casamento, porque espera um filho. O moço nada responde, ela desmaia e se afasta, tornandose cada dia mais pálida.
O pintor definha com a tristeza da filha, passeia pelos corredores à noite e deixa de pintar. Uma
noite, Gennaro é chamado, porque Laura está morrendo e murmura seu nome. O moço aproxima-se
e, ela, sussurrando-lhe ao ouvido o perdão, diz que matou o filho e dá o último suspiro. O velho
passa o ano endoidecido, chora todas as noites no quarto da morta, arfando ou afogando-se em
soluços.
Enquanto isso, o rapaz e Nauza amam-se em seu leito. Uma noite, o velho o arranca da cama e o
leva até o dormitório de Laura. Levanta o lençol que cobre um painel, descortinando a imagem
moribunda de Laura, que murmura algo no ouvido do cadavérico Gennaro. Atordoado, o aprendiz
confessa
tudo
a
Godofredo.
No dia seguinte, o velho se comporta naturalmente, sem mencionar o ocorrido, lamenta apenas a
falta da moça. Sonâmbulo, repete a mesma cena ao longo de várias noites e, numa delas, Nauza é
testemunha. Uma noite de outono, após a ceia, Walsh convida Gennaro para um passeio fora da
cidade. Após contornar um despenhadeiro, pede ao rapaz para esperá-lo, dirigindo-se a uma cabana
de onde sai uma mulher. Depois, junta-se a Gennaro e ao chegar à beira de um penhasco, descreve
a
traição,
envolvendo
a
filha
e
a
esposa.
Pede ao rapaz para jogar-se precipício abaixo. Gennaro assim o faz, mas, após uma noite de
delírios, acorda salvo por camponeses, em uma cabana. Decide retornar à casa de Walsh e pedir-lhe
perdão, entretanto encontra pelo caminho o punhal do pintor. Decide vingar-se, mas encontra
Nauza e Godofredo envenenados e apodrecidos, talvez, com o veneno obtido com a mulher da
cabana.
Quinta parte - Claudius Hermann e a Paixão de Morte
Claudius Hermann, após preâmbulos em que discursa com os amigos de orgia acerca de diversos
temas, expõe sua história, onde narra suas loucuras e orgias e de como desperdiçou uma fortuna no
turfe, em Londres, onde vê uma bela amazonas, a duquesa Eleonora, esposa do duque Maffio. Antes
de prosseguir com a história, Bertram indaga sobre a poesia, descrita como um punhado de sons e
palavras vãs, enquanto Claudius a considera um prazer extremado, o que há de belo na natureza.
Os colegas os interrompem, pedindo ao narrador que retome a história.
No dia em que avista a bela duquesa, Hermann dobra sua fortuna e, à noite, no teatro, a vê, mais
uma vez. Ao longo de 6 meses, encontra a senhora em bailes e teatros até que decide comprar de
um criado a chave do castelo. Entra, sorrateiramente, quando ela já está adormecida e coloca-lhe
nos lábios narcótico. Aguarda que durma profundamente e, então, a possui, repetindo o fato, noite
após

noite,

durante

um

mês.

Certa vez, após um baile, entra no quarto de Eleonora e vendo um copo com água junto à sua
cabeceira, derrama nele o narcótico. Entram a duquesa e o duque que, antes de sair do quarto,
prometendo-lhe retornar, bebe um pouco do líquido, seguido por ela. Claudius sabe que Maffio não
virá
ao
quarto
e
que
Eleanora
dormirá
profundamente.
Ergue-a do leito e foge com ela numa carruagem, chegando, ao meio-dia, a uma estalagem. Mais
tarde, a duquesa desperta e surpresa por não estar em seu palácio, grita por socorro, desespera-se,
ameaçando jogar-se pela janela. O rapaz lhe declara profundo amor e lhe descreve o rapto, dandolhe duas horas para pensar se fica ou não com ele. Inconformada a princípio, decide aceitar o amor
oferecido, pois a família e amigos, certamente, não a aceitariam mais.
Ao retornar, Claudius a encontra debruçada sobre um de seus versos. Interrompe a narrativa, retira
um papel do bolso, mostrando o verso aos colegas. Conta que Eleonora lhe respondeu que ficava,
mas caiu desmaiada.Dito isso, o rapaz tomba por sobre a mesa, calando-se. Archibald o sacode,
implora para que desperte. Solfieri e os companheiros desejam saber sobre a duquesa, mas o rapaz
está confuso, não se recorda de mais nada.Ouvem a gargalhada do louro Arnold que despertando,
dá continuidade ao relato, dizendo que um dia Claudius entrou em casa e encontrou sobre a cama
ensopada de sangue dois cadáveres; o Duque de Maffio matou Eleonora e enlouquecido, suicidou-se
em
seguida.
Arnold
estende
a
capa
no
chão
e
volta
a
dormir.
Sexta parte - Johann e o Incesto
Johann decide contar sua história. Está em um bilhar em Paris, jogando com Artur que, numa
jogada definitiva para Johann, se encosta à mesa, por descuido ou de propósito. A mesa estremece
e Johann é levado à derrota. O perdedor, enlouquecido de raiva, desafia o parceiro para um duelo.
Antes porém, Artur pede ao adversário que, caso morra, entregue a carta, que está em seu bolso, e
o anel no seu dedo, para uma mulher que dirá, mais tarde quem é.
Saem com duas pistolas, uma carregada, a outra não; Artur é alvejado e morre, apontando para o
bolso. Johann tira-lhe o anel, colocando-o em seu dedo e, a seguir, encontra dois papéis no bolso do
morto: uma carta para a mãe, e outra indicando o horário e endereço para um encontro. O rapaz
decide tomar o lugar de Artur. Descobre que aí mora a virgem namorada do rival que acaba na
cama
com
Johann,
num
quarto
escuro.
De repente, interrompe a narrativa, enche o copo e o bebe com estremecimento. Prossegue,
narrando que ao sair do quarto, encontra um vulto à porta, cuja voz lhe soa familiar. É atacado com
uma faca, luta ferozmente com o vulto; um homem desconhecido, que deixa cair o punhal,
morrendo sufocado pela mão de Johann. Ao se retirar, tropeça numa lanterna e decide ver o rosto
do estranho, estremece, a luz da lanterna se apaga. Vai arrastando o corpo até um lampião e, para
sua surpresa, descobre tratar-se de seu irmão. Louco de terror retorna ao quarto, mas, outra vez,
interrompe a narrativa, bebe mais um copo. Diz que encontrando a donzela desmaiada, a levou para
a
janela
e
percebeu
que
estava
com
a
irmã
nos
braços.
Última parte - O Último Beijo de Amor
Com Último beijo de amor, Álvares de Azevedo fecha a obra Noite na Taverna. Ao contrário dos
outros, traz a narrativa em 3ª pessoa.
É noite alta na taverna, todos dormem. Entra uma mulher pálida, vestida de negro, procurando
alguém com uma lanterna na mão. Vê Arnold, tenta beijá-lo, mas o deixa em paz, voltando-se para
Johann, tornando-se, subitamente, sombria. Traz, além da lanterna, um punhal, que crava no
pescoço deste último, enxugando as mãos ensangüentadas no cabelo do ferido. Vai até Arnold e o
desperta. Ele a reconhece; é a irmã de Johann, agora transformada na prostituta Giorgia, a quem
Arnold
pede
que
lhe
chame
de
Artur,
como
outrora.
O rapaz recorda-se do duelo, do tempo passado no hospital para se recuperar, o desespero e a vida
de devassidão a que se entregou por não encontrar mais Giorgia. Deseja ficar junto dela agora, mas
a moça acha que é tarde demais, pede-lhe apenas um beijo de despedida, porque vai morrer. Leva
Arnold até o corpo de Johann, dizendo que o matou por ter sido por ele desonrada, a ela que era
sua irmã. Arnold horrorizado cobre o rosto, enquanto Giorgia cai ao chão. Arnold aperta o punhal
contra o peito e cai sobre ela, sufocando os dois gemidos de morte. A lâmpada apaga-se.
Texto escolhido:
Uma noite do século
Silencio, moços! Acabei com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias,
macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras
onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?
— Cala-te Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold-o-louro cambaleia e adormece
murmurando as canções de orgia de Tiech, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando
as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia como a luz de
uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo
das taças?
— És um louco, Bertran! Não é a lua que lá vai macilenta: é o relâmpago que passa e ri de escárnio
às agonias do povo que morre... aos soluços que seguem as mortualhas da cólera!
— Oh cólera! E que importa? Não há pôr ora vida bastante nas veias do homem? Não borbulha a
febre ainda às ondas do vinho? Não reduz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do
crânio?
— Vinho! Vinho! Não vês que as taças estão vazias e bebemos o vácuo, como um sonâmbulo?
— É o fetichismo na embriaguez! Espiritualista, bebe a imaterialidade da embriaguez!
— Oh! Vazio! Meu copo está vazio! Olá, taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não
sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto o
fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava?
— O vinho acabou-se nos copos, Bertran, mas o fumo ondula ainda nos cachimbos! Após dos
vapores do vinho os vapores da fumaça! Senhores, em nome de todas as nossas reminiscências, de
todos os nossos sonhos que mentiram, de todas as nossas esperanças que desbotaram, uma última
saúde! A taverneira aí nos trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo é a imagem doidealismo, é o
transunto de tudo quanto há mais vaporoso naquele espiritualismo que nos fala da imortalidade da
alma!
e
pois,
ao
fumo
das
Antilhas,
à
imortalidade
da
alma!
— Bravo! Bravo!
Um urra! tríplice respondeu ao moço meio ébrio.
Um conviva se ergueu entre a vozeria: contrastava-lhe com as faces de moço as rugas da fronte e a
rouxidão dos lábios convulsos. Por entre os cabelos prateava-se-lhe o reflexo das luzes do festim.
Falou:
— Calai-vos, malditos ! A imortalidade da Alma!? Pobres doidos! E por que a alma é bela, por que
não concebeis que esse ideal possa tornar-se em lodo e podridão, como as faces belas da virgem
morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! Nunca velada levastes por ventura uma noite à
cabeceira de um cadáver? E então não duvidastes que ele não era morto, que aquele peito e aquela
fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrir-se, que era apenas o ópio do sono que
emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! E porque também não sonhar a das flores, a das
brisas, a dos perfumes? Oh! Não mil vezes! a alma não é, como a lua, sempre moça, nua e bela em
sua virgindade eterna! A vida não é mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era
um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o
que era um corpo de verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais loura e bela.
Como Schiller o disse, o átomo da inteligência de Platão foi talvez para o coração de um ser impuro.
Por isso eu vo-lo direi: se entendeis a imortalidade pela metempsicose, bem ! talvez eu a creia um
pouco, pelo platonismo, não!
— Solfieri! És um insensato! O materialismo é árido como o deserto, é escuro como o túmulo! A nós
frontes queimadas pelo mormaço do sol da vida, a nós sobre cuja cabeça a velhice regelou os
cabelos, essas crenças frias? A nós os sonhos do espiritualismo.

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Noite na taverna - análise

  • 1. Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo Análise da obra A obra foi escrita em 1878. São contos fantásticos, macabros. Numa taverna, em noite escura de tormenta, entre mundanas bêbadas e adormecidas, jovens boêmios (Solfieri, Johann, Gennaro, Bertran, Hermann e Arnold) resolvem, por desafio, contar casos verdadeiros e escabrosos que tivessem vivido. O livro compõe-se dessas narrativas, e é o que de melhor a literatura brasileira possui no gênero fantástico, que tinha em Hoffmann seu modelo e em Edgar Allan Poe um verdadeiro gênio do terror. Movido pela imaginação exacerbada, a obra apresenta os desvarios do poeta envolvido por uma conturbação febril, na qual se deixa influenciar por quase todas as grandes características das novelas mórbidas do século XIX. Visivelmente artificiais, as narrativas que constituem o cerne desta obra recebem certa dose de magia e coerência por envolver o leitor, prender-lhe a atenção, dirigi-lo ao final. E se as história relatadas não são verossímeis, pelo menos disfarçam suas incoerências pela atração com que o autor conduz sua imaginação, de modo que quase parecem reais, colocando-as envolvidas por uma onda infindável de orgias deboches, sátiras, paixões transfiguradas, relatadas pela pequena galeria de personagens boêmios que vão tomando a palavra. Das páginas de Noite na Taverna vão surgindo relatos impregnados de um clima inumano e anormal. Noite na Taverna é uma narrativa (novela ou conto) construída em sete partes, contendo epígrafes e os nomes de cada personagem, como subtítulos, antecedendo as narrativas, contadas em uma taverna. Há, na última parte, o entrelaçamento da história de Johann e de alguns personagens. Mais do que pelos elementos romanescos e satânicos que a condimentam (violentação, corrupção, incesto, adultério, necrofilia, traição, antropofagia, assassinatos por vingança ou amor), a obra impõe-se pela estrutura: um narrador em terceira pessoa introduz o cenário, as personagens, a situação, e praticamente desaparece, dando lugar a outros narradores - as próprias personagens, que em primeira pessoa contam, uma a uma, episódios de suas vidas aventureiras. Na última narrativa, a presença física (na roda dos moços) de personagens mencionadas em uma narrativa anterior faz com que todo o ambiente fantástico e irreal dos contos se legitime como verídico. Noite na Taverna, obra escrita em tom bastante emotivo, antecipa em vários aspectos a narração da prosa moderna: a liberdade cênica, a dupla narração e suas confluências, a mistura do real ao fantástico conferem atualidade à obra, apesar de toda a atmosfera byroniana. Primeira parte A primeira parte constitui uma espécie de apresentação do ambiente da taverna, da roda de bebedeira, de devassidão em que se encontram os personagens, do clima notívago e vampiresco. O tom declamatório anuncia a noitada e as história que estão por vir. As primeiras páginas deixam antever o clima das geração do mal do século, a irreverência incontida, a tendência a divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente, a morbidez e a lascívia. Entre os "brados" e as taças que circulavam, são apresentados os personagens, e alguns deles tomas a palavra. Em primeira pessoa, relatam histórias pessoais. O primeiro a tomar a palavra é Solfieri que faz suas evocações, remontando-as a Roma, a "cidade do fanatismo e da perdição", onde "na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido". Certa noite, Solfieri vê um vulto de mulher. Segue-a até um cemitério; o vulto desaparece e o personagem adormece sob o frio da noite e a umidade da chuva. A visão deste vulto de uma mulher atordoou o personagem durante um ano, nada o satisfazia na troca de amores com mundanas. Uma noite, após prolongada orgia, saio vagando pelas ruas e acaba entre "as luzes de quatro círios" que iluminavam um caixão entreaberto. Lá estava a mulher que lhe provocara tantas
  • 2. alucinações e insônias. Era agora uma defunta. O homem tomou o cadáver em seus braços, despiulhe o véu e... Mas, para disfarçar o caso de necrofilia, a mulher não estava morta, apenas sofrera um ataque e catalepsia. Ao perceber que a mulher não havia morrido, Solfieri levou-a para seu leito, contemploua e ela, depois de breve delírio, vaio a falecer. Solfieri mandou fazer uma estátua de cera da virgem, guardou-a em seu quarto, conservou com uma grinalda de flores. Johann, Bertram, Archibald, Solfieri, o adormecido, Arnold e outros companheiros estão na taverna, dialogando sobre loucuras noturnas, enquanto as mulheres dormem ébrias sobre as mesas. Falam das noites passadas em embriaguez e pura orgia. Solfieri os questiona a respeito da imortalidade da alma, sendo mais velho, parece não crer nela, por isso, Archibald o censura pelo materialismo. Solfieri acredita na libertinagem, na bebida e na mulher sobre o colo do amado. Os homens só se voltam para Deus quando estão próximos da morte, Deus é, pois, a "utopia do bem absoluto". Segunda parte - Solfieri e a Necrofilia Solfieri decide contar sua história, conforme sugere Archibald, desejoso de histórias fantásticas, cheias de sangue e paixão. Conta, então, que uma noite, ao vagar por uma rua, em Roma, passa por uma ponte, quando as luzes dos palácios se apagam. Vê a sombra de uma mulher chorando, numa escura e solitária janela, parecendo uma estátua pálida à lua. Ela canta mansamente, saindo para a rua, sempre seguida por Solfieri. Pela manhã, ele percebe que está em um cemitério, sem saber, ao certo, se adormeceu ou desmaiou. Sente muito frio, adoece, delira, tendo visões com a bela e pálida mulher. Retorna a Roma um ano depois, sem encontrar alento nos beijos das amantes, perseguido pela visão da mulher do cemitério. Certa noite, muito bêbado, após uma orgia, se encontra num templo muito escuro e, vendo um caixão semi-aberto, crê que a mulher está lá dentro. Arranca-lhe a mortalha, faz amor com ela, que, pela madrugada, dá sinais de vida, retornando da catalepsia para desmaiar em seguida. Solfieri coloca sua capa sobre a moça e foge com ela. Encontra com o coveiro e depois com a patrulha, que o considera um ladrão de cadáveres. Justifica-se, apresentando a esposa desfalecida. Ao chegar em casa, a moça grita, ri e estremece, morrendo 2 dias depois. Solfieri levanta o piso do quarto para dar lugar ao túmulo, suborna, antes, um escultor que lhe faz em cera a estátua da virgem. Aguarda um ano para estátua definitiva ficar pronta. Volta-se para Bertram, recordando-lhe a visita deste em sua casa e de a ter visto por entre véus, sendo a ela apresentado como "uma virgem que dormia". Os amigos surpresos com a história desejam saber se se trata de um conto, mas ele jura por todo mal existente que não. Como prova, mostra sob a camisa a grinalda de flores mirradas, pertencente à moça. Terceira parte - Bertran e a Antropofagia A seguir, Bertram, um dinamarquês ruivo, de olhos verdes, conta que, também, uma mulher, uma donzela de Cadiz, Angela, o levou à bebida e a duelar com seus três melhores amigos e a enterrálos. Quando decide casar com ela e consegue lhe dar o primeiro beijo, recebe carta do pai, pedindo seu retorno à Dinamarca. Encontra o velho já moribundo, chora, mas por saudades de Angela. Dois anos depois, vende toda fortuna, coloca o dinheiro num banco de Hamburgo e volta para a Espanha. Encontra a moça casada e mãe de um filho. A paixão persiste e os amantes passam a se encontrar às escondidas, vivendo verdadeiras loucuras noturnas até que o marido, enciumado, descobre tudo. Uma noite, Angela, com a mão ensangüentada, pede ao rapaz para subir até sua casa e por entre a penumbra, ele encontra o marido degolado e sobre seu peito, o filho de bruços, sangrando. Angela deseja fugir em sua companhia, saem pelo mundo, ela vestida de homem vive grandes orgias. Foge mais tarde, deixando o rapaz entregue às paixões e vícios. Bertram bêbado e ferido é atropelado por uma carruagem, diante de um palácio, sendo socorrido por um velho fidalgo, pai de uma bela menina, que, mais tarde, foge para casar-se com Bertram. Vendida em uma mesa de jogo a Siegfried, um pirata, ela o mata e o envenena, afogando-se a seguir. De dissipação em dissipação, o rapaz resolve matar-se no mar na Itália, mas salvo por
  • 3. marinheiros, fica sabendo que a pessoa que o salvou acabou, acidentalmente, morta por ele. São socorridos por um navio e Bertram é aceito a bordo em troca de que combatesse se necessário. Mas, apaixona-se pela pálida mulher do comandante e, durante uma batalha contra um navio pirata, ele o trai, fazendo amor com a mulher. O navio encalha em um banco de areia, despedaçando-se aos poucos - os náufragos agarram-se a uma jangada e, em meio à noite e à tempestade, o casal vive horas de amor. Vagam a ermo pelo mar as três figuras, sobrevivendo de bolachas e, mais tarde, tiram a sorte para ver quem morrerá. O comandante perde, clama por piedade, mas Bertram se nega ouvi-lo, prefere a luta. Mata o comandante, que serve, por dois dias, de alimento a Bertram e a mulher. Ela propõe morrerem juntos, ele aceita. O casal gasta as últimas energias se amando. A mulher, enlouquecida, começa a gargalhar, Bertram febril a sufoca. Ela é levada pelas águas, enquanto o rapaz é salvo pelo navio inglês, Swallow. Quarta parte - Gennaro e a Traição das Traições A próxima história é a de Gennaro. Sua narrativa é sobre um velho pintor, Godofredo Walsh, casado com uma jovem de 20 anos, Nauza, que lhe serve de modelo e é amada como a filha do primeiro casamento, Laura, garota de 15 anos. Gennaro, aos 18 anos, é aprendiz de pintor e aluno de Godofredo. Vive na casa do mestre como um filho, recebendo, no corredor, antes de dormir, beijos de Laura. Um dia, desperta e a encontra em sua cama, perdendo a cabeça diante da estonteante beleza da virgem. A cena se repete ao longo de 3 meses, quando a menina lhe diz que deve pedi-la em casamento, porque espera um filho. O moço nada responde, ela desmaia e se afasta, tornandose cada dia mais pálida. O pintor definha com a tristeza da filha, passeia pelos corredores à noite e deixa de pintar. Uma noite, Gennaro é chamado, porque Laura está morrendo e murmura seu nome. O moço aproxima-se e, ela, sussurrando-lhe ao ouvido o perdão, diz que matou o filho e dá o último suspiro. O velho passa o ano endoidecido, chora todas as noites no quarto da morta, arfando ou afogando-se em soluços. Enquanto isso, o rapaz e Nauza amam-se em seu leito. Uma noite, o velho o arranca da cama e o leva até o dormitório de Laura. Levanta o lençol que cobre um painel, descortinando a imagem moribunda de Laura, que murmura algo no ouvido do cadavérico Gennaro. Atordoado, o aprendiz confessa tudo a Godofredo. No dia seguinte, o velho se comporta naturalmente, sem mencionar o ocorrido, lamenta apenas a falta da moça. Sonâmbulo, repete a mesma cena ao longo de várias noites e, numa delas, Nauza é testemunha. Uma noite de outono, após a ceia, Walsh convida Gennaro para um passeio fora da cidade. Após contornar um despenhadeiro, pede ao rapaz para esperá-lo, dirigindo-se a uma cabana de onde sai uma mulher. Depois, junta-se a Gennaro e ao chegar à beira de um penhasco, descreve a traição, envolvendo a filha e a esposa. Pede ao rapaz para jogar-se precipício abaixo. Gennaro assim o faz, mas, após uma noite de delírios, acorda salvo por camponeses, em uma cabana. Decide retornar à casa de Walsh e pedir-lhe perdão, entretanto encontra pelo caminho o punhal do pintor. Decide vingar-se, mas encontra Nauza e Godofredo envenenados e apodrecidos, talvez, com o veneno obtido com a mulher da cabana. Quinta parte - Claudius Hermann e a Paixão de Morte Claudius Hermann, após preâmbulos em que discursa com os amigos de orgia acerca de diversos temas, expõe sua história, onde narra suas loucuras e orgias e de como desperdiçou uma fortuna no turfe, em Londres, onde vê uma bela amazonas, a duquesa Eleonora, esposa do duque Maffio. Antes de prosseguir com a história, Bertram indaga sobre a poesia, descrita como um punhado de sons e palavras vãs, enquanto Claudius a considera um prazer extremado, o que há de belo na natureza. Os colegas os interrompem, pedindo ao narrador que retome a história. No dia em que avista a bela duquesa, Hermann dobra sua fortuna e, à noite, no teatro, a vê, mais uma vez. Ao longo de 6 meses, encontra a senhora em bailes e teatros até que decide comprar de um criado a chave do castelo. Entra, sorrateiramente, quando ela já está adormecida e coloca-lhe nos lábios narcótico. Aguarda que durma profundamente e, então, a possui, repetindo o fato, noite
  • 4. após noite, durante um mês. Certa vez, após um baile, entra no quarto de Eleonora e vendo um copo com água junto à sua cabeceira, derrama nele o narcótico. Entram a duquesa e o duque que, antes de sair do quarto, prometendo-lhe retornar, bebe um pouco do líquido, seguido por ela. Claudius sabe que Maffio não virá ao quarto e que Eleanora dormirá profundamente. Ergue-a do leito e foge com ela numa carruagem, chegando, ao meio-dia, a uma estalagem. Mais tarde, a duquesa desperta e surpresa por não estar em seu palácio, grita por socorro, desespera-se, ameaçando jogar-se pela janela. O rapaz lhe declara profundo amor e lhe descreve o rapto, dandolhe duas horas para pensar se fica ou não com ele. Inconformada a princípio, decide aceitar o amor oferecido, pois a família e amigos, certamente, não a aceitariam mais. Ao retornar, Claudius a encontra debruçada sobre um de seus versos. Interrompe a narrativa, retira um papel do bolso, mostrando o verso aos colegas. Conta que Eleonora lhe respondeu que ficava, mas caiu desmaiada.Dito isso, o rapaz tomba por sobre a mesa, calando-se. Archibald o sacode, implora para que desperte. Solfieri e os companheiros desejam saber sobre a duquesa, mas o rapaz está confuso, não se recorda de mais nada.Ouvem a gargalhada do louro Arnold que despertando, dá continuidade ao relato, dizendo que um dia Claudius entrou em casa e encontrou sobre a cama ensopada de sangue dois cadáveres; o Duque de Maffio matou Eleonora e enlouquecido, suicidou-se em seguida. Arnold estende a capa no chão e volta a dormir. Sexta parte - Johann e o Incesto Johann decide contar sua história. Está em um bilhar em Paris, jogando com Artur que, numa jogada definitiva para Johann, se encosta à mesa, por descuido ou de propósito. A mesa estremece e Johann é levado à derrota. O perdedor, enlouquecido de raiva, desafia o parceiro para um duelo. Antes porém, Artur pede ao adversário que, caso morra, entregue a carta, que está em seu bolso, e o anel no seu dedo, para uma mulher que dirá, mais tarde quem é. Saem com duas pistolas, uma carregada, a outra não; Artur é alvejado e morre, apontando para o bolso. Johann tira-lhe o anel, colocando-o em seu dedo e, a seguir, encontra dois papéis no bolso do morto: uma carta para a mãe, e outra indicando o horário e endereço para um encontro. O rapaz decide tomar o lugar de Artur. Descobre que aí mora a virgem namorada do rival que acaba na cama com Johann, num quarto escuro. De repente, interrompe a narrativa, enche o copo e o bebe com estremecimento. Prossegue, narrando que ao sair do quarto, encontra um vulto à porta, cuja voz lhe soa familiar. É atacado com uma faca, luta ferozmente com o vulto; um homem desconhecido, que deixa cair o punhal, morrendo sufocado pela mão de Johann. Ao se retirar, tropeça numa lanterna e decide ver o rosto do estranho, estremece, a luz da lanterna se apaga. Vai arrastando o corpo até um lampião e, para sua surpresa, descobre tratar-se de seu irmão. Louco de terror retorna ao quarto, mas, outra vez, interrompe a narrativa, bebe mais um copo. Diz que encontrando a donzela desmaiada, a levou para a janela e percebeu que estava com a irmã nos braços. Última parte - O Último Beijo de Amor Com Último beijo de amor, Álvares de Azevedo fecha a obra Noite na Taverna. Ao contrário dos outros, traz a narrativa em 3ª pessoa. É noite alta na taverna, todos dormem. Entra uma mulher pálida, vestida de negro, procurando alguém com uma lanterna na mão. Vê Arnold, tenta beijá-lo, mas o deixa em paz, voltando-se para Johann, tornando-se, subitamente, sombria. Traz, além da lanterna, um punhal, que crava no pescoço deste último, enxugando as mãos ensangüentadas no cabelo do ferido. Vai até Arnold e o desperta. Ele a reconhece; é a irmã de Johann, agora transformada na prostituta Giorgia, a quem Arnold pede que lhe chame de Artur, como outrora. O rapaz recorda-se do duelo, do tempo passado no hospital para se recuperar, o desespero e a vida de devassidão a que se entregou por não encontrar mais Giorgia. Deseja ficar junto dela agora, mas a moça acha que é tarde demais, pede-lhe apenas um beijo de despedida, porque vai morrer. Leva Arnold até o corpo de Johann, dizendo que o matou por ter sido por ele desonrada, a ela que era
  • 5. sua irmã. Arnold horrorizado cobre o rosto, enquanto Giorgia cai ao chão. Arnold aperta o punhal contra o peito e cai sobre ela, sufocando os dois gemidos de morte. A lâmpada apaga-se. Texto escolhido: Uma noite do século Silencio, moços! Acabei com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia? — Cala-te Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold-o-louro cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tiech, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das taças? — És um louco, Bertran! Não é a lua que lá vai macilenta: é o relâmpago que passa e ri de escárnio às agonias do povo que morre... aos soluços que seguem as mortualhas da cólera! — Oh cólera! E que importa? Não há pôr ora vida bastante nas veias do homem? Não borbulha a febre ainda às ondas do vinho? Não reduz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do crânio? — Vinho! Vinho! Não vês que as taças estão vazias e bebemos o vácuo, como um sonâmbulo? — É o fetichismo na embriaguez! Espiritualista, bebe a imaterialidade da embriaguez! — Oh! Vazio! Meu copo está vazio! Olá, taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava? — O vinho acabou-se nos copos, Bertran, mas o fumo ondula ainda nos cachimbos! Após dos vapores do vinho os vapores da fumaça! Senhores, em nome de todas as nossas reminiscências, de todos os nossos sonhos que mentiram, de todas as nossas esperanças que desbotaram, uma última saúde! A taverneira aí nos trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo é a imagem doidealismo, é o transunto de tudo quanto há mais vaporoso naquele espiritualismo que nos fala da imortalidade da alma! e pois, ao fumo das Antilhas, à imortalidade da alma! — Bravo! Bravo! Um urra! tríplice respondeu ao moço meio ébrio. Um conviva se ergueu entre a vozeria: contrastava-lhe com as faces de moço as rugas da fronte e a rouxidão dos lábios convulsos. Por entre os cabelos prateava-se-lhe o reflexo das luzes do festim. Falou: — Calai-vos, malditos ! A imortalidade da Alma!? Pobres doidos! E por que a alma é bela, por que não concebeis que esse ideal possa tornar-se em lodo e podridão, como as faces belas da virgem morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! Nunca velada levastes por ventura uma noite à cabeceira de um cadáver? E então não duvidastes que ele não era morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrir-se, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! E porque também não sonhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! Não mil vezes! a alma não é, como a lua, sempre moça, nua e bela em sua virgindade eterna! A vida não é mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo de verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais loura e bela. Como Schiller o disse, o átomo da inteligência de Platão foi talvez para o coração de um ser impuro. Por isso eu vo-lo direi: se entendeis a imortalidade pela metempsicose, bem ! talvez eu a creia um pouco, pelo platonismo, não!
  • 6. — Solfieri! És um insensato! O materialismo é árido como o deserto, é escuro como o túmulo! A nós frontes queimadas pelo mormaço do sol da vida, a nós sobre cuja cabeça a velhice regelou os cabelos, essas crenças frias? A nós os sonhos do espiritualismo.