Este documento discute a relação entre cidadania, reconhecimento e minorias. Aborda conceitos como liberalismo, liberdade versus igualdade, virtudes cívicas e o papel da mídia na mediação de conflitos sociais envolvendo minorias. As minorias são caracterizadas como "flutuantes" ou "passionais" dependendo de seu grau de engajamento político.
Cidadania, Reconhecimento e Minorias nos Meios de Comunicação
1. Cidadania,
Reconhecimento e
Minorias
- os meios de comunicação e a mediação de conflitos -
Faculdade Cásper Líbero
Programa de Pós-Graduação
Mestrado em Comunicação
2º Semestre de 2010
Disciplina: Mídia, Poder e Ética
Professora: Ângela Cristina Salgueiro Marques
Aluna: Janaíra Dantas da Silva França
2. Sejam bem-vindos!
Nossa agenda:
Analisar o conceito de cidadania e sua relação com a teoria
do reconhecimento;
Analisar o significado de “minorias” no atual contexto social e
político;
Avaliar as virtudes cívicas e a ética na cidadania;
O papel dos meios de comunicação na mediação de conflitos
sociais;
Considerações finais.
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3. Bibliografia:
BARBALHO, Alexandre. “Cidadania, minorias e mídia: ou
algumas questões postas ao liberalismo”. In: PAIVA, Raquel;
BARBALHO, Alexandre (orgs.). Comunicação e Cultura das
Minorias. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 27 a 39.
SILVA, Josué Pereira. “Cidadania e Reconhecimento”. In:
AVRITZER, Leonardo; DOMINGUES, José Maurício (orgs.). Teoria
Social e Modernidade no Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG,
2000, pp. 123-135.
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4. Bibliografia:
HELLER, Agnes; FÉHER, Ferenc. “Ética da cidadania e virtudes
cívicas”. In: A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1998, p. 113-129.
SODRÉ, Muniz. “Por um conceito de minoria”. In: PAIVA, Raquel;
BARBALHO, Alexandre (orgs.). Comunicação e Cultura das
Minorias. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 11 a 14.
PAIVA, Raquel. “Mídia e política da minorias”. In: PAIVA, Raquel;
BARBALHO, Alexandre (orgs.). Comunicação e Cultura das
Minorias. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 15 26,
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5. Cidadania, Liberdade e Igualdade
Uma questão que norteia nossa discussão hoje...
Todos são iguais
perante a lei?
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6. Cidadania, Liberdade e Igualdade
Referencial histórico:
Alguns movimentos sociais e políticos que aconteceram no final
do século XVIII, contribuíram para nosso atual conceito de
cidadania, liberdade e igualdade.
De um lado as monarquias absolutistas e do outro a burguesia
defendendo a liberdade individual como direito natural do
homem. 6
7. Cidadania, Liberdade e Igualdade
Dois grandes acontecimentos deste momento histórico:
A Revolução Americana de 1776;
A Revolução Francesa de 1789, que resultou na promulgação
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
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8. Cidadania, Liberdade e Igualdade
A importância dos revolucionários
franceses, segundo Barbalho (2005) não
está apenas na contribuição na definição
dos princípios de cidadania, mas
também por defendê-los como
“universais”.
A partir de então, estamos falando de
“direitos universais”.
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9. Liberalismo
Duas considerações se fazem importantes quando analisamos o
liberalismo:
Liberalismo não é sinônimo de regime democrático. Visto
que o ideal de Estado liberal é o mínimo de intervenção na vida
privada e do Estado democrático engloba todos como cidadãos,
independentes de fatores de diferenciação como credo, etnia
ou classe social.
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10. Liberalismo
Apesar do lema “igualdade, fraternidade e liberdade” ser
usado como referencial político até os dias atuais, há fortes
evidências que pele menos dois deles são considerados
excludentes entre si: liberdade e igualdade.
De acordo com Barbalho (2005) é impossível que um Estado
implemente a máxima liberdade e a máxima igualdade ao
mesmo tempo numa sociedade que preze os Direitos Humanos.
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11. Liberalismo
Segundo ele, uma mediação entre as duas seria mais viável,
porque:
Se o Estado
Se o Estado
concede a
iguala a
máxima Máxima todos, a
liberdade, Liberdade Máxima liberdade da
passa a existir Igualdade diferença fica
o mais fraco e
no mínimo
o mais fraco =
restrita.
desigualdade.
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12. Liberdade e Igualdade
Norberto Bobbio é outro estudioso que define o desencontro
liberdade x igualdade, uma vez que ambas possuem visões
distintas sobre homem e sociedade. (Bobbio, 1988, p.9).
• Visa a expansão da personalidade
individual. É mais individualista,
Liberal conflituarista e pluralista.
• Visa o desenvolvimento da
comunidade em seu conjunto,
Igualitário mesmo que diminua a oferta de
liberdades dos “singulares”.
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14. O que é minoria?
Sodré (2005) apresenta a conceituação sobre “minoria” de
forma bem interessante e de vários aspectos...
A democracia é um regime de minorias, porque só por meio
do processo democrático a minoria pode se fazer ouvir. Neste
caso, a minoria é maioria no processo político.
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15. O que é minoria?
A minoria é uma voz “qualitativa” de um grupo de
pessoas.
Apóia-se em Kant (alemão), para definir os conceitos
de maioridade e menoridade. A maioridade implica
literalmente na capacidade de falar do sujeito. A
minoridade é a impossibilidade de falar do sujeito.
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17. Minoria...
A noção contemporânea de minoria “é
a possibilidade terem voz ativa ou
interferirem nas instâncias decisórias
do Poder e naqueles setores sociais ou
frações de classe comprometidos com
as diversas modalidades de luta
assumidas pela questão social”.
(SODRÉ, 2005, p. 12)
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18. Minoria...
O que move a minoria é o impulso para a transformação!
O devir minoritário, que segundo Deleuze e Guattari, a minoria
não é sujeito coletivo numericamente definido e nem idêntica a
si mesma, mas é um fluxo de mudança que atravessa um grupo,
na direção de uma subjetividade não capitalista.
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19. Lugar minoritário...
Não é algo necessariamente físico...
“É o topos polarizador das turbulências, conflitos e
fermentação social. O conceito de minoria é um lugar onde se
animam os fluxos de transformação de uma identidade ou de
uma relação de poder. Implica uma tomada de posição grupal
no interior de uma dinâmica conflitual”. (SODRÉ, 2005)
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20. Como caracterizar uma minoria?
Minoria não é uma multidão ou grupo
mobilizado por um ideal, é um
dispositivo simbólico com a
intencionalidade ético-política de luta
contra a hegemonia.
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21. Como caracterizar uma minoria?
o Vulnerabilidade jurídico-social: por ser considerada
vulnerável mediante as regras de ordenamento jurídico;
o Identidade in status nascendi: uma entidade em formação
que se alimenta da força e dos ânimos dos estados nascentes,
vive sempre em recomeço;
o Luta contra-hegemônica: a não aceitação de um poder
hegemônico;
o Estratégias discursivas: ações demonstrativas como
passeatas, invasões, manifestos e similares.
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23. Cidadania e Reconhecimento
O autor Josué P. Silva descreve a relação entre cidadania e
reconhecimento, trazendo à discussão os conceitos
desenvolvidos por Marshall (1965) e por Honneth (1994:1995).
Os conceitos de cidadania e reconhecimento se
complementam, porque a noção de cidadania só é possível se
estudarmos a teoria de reconhecimento proposta por Honneth.
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24. Cidadania e Reconhecimento
O conceito de cidadania segundo Marshall (1965), possui
3 elementos:
Relativa aos Referente aos Como conjunto
Cidadania Social
Cidadania Civil
Cidadania Política
direitos de direitos de de direitos que
liberdade participação no inclui
individual. exercício do segurança e
poder. bem estar,
permitindo
viver um vida
civilizada.
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25. Cidadania e Reconhecimento
Reconhecimento (Honneth 1994:1995)
Baseado nas Respeito A auto-estima
Reconhecimento
Reconhecimento
Reconhecimento
relações moral e da social.
no Amor
familiares. consciência
Jurídico
Social
dos direitos.
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26. Consolidando...
Cada tipo de cidadania pertence à um estágio distinto de
desenvolvimento do processo civilizatório e também de
reconhecimento.
A cidadania social está associada ao surgimento de uma esfera
social diferenciada, que Hannah Arendt chama de “emergência
social”.
O status da cidadania é alcançado por meio da luta de pessoas
ou grupos de pessoas que se sentem excluídos e portanto não
possuem reconhecimento diante da sociedade.
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27. Cidadania e Reconhecimento
Nancy Fraser (1995) contribui para nosso entendimento:
Redistribuição Reconhecimento
(injustiça econômica) (injustiça cultural ou simbólica)
Construção dos Movimentos Sociais
Movimento operário clássico (sindicatos, empresas, sistema)
Grupos sociais que sofrem opressão cultural/sexual
Movimentos ambivalentes: feministas e os negros
Nos ajuda a entender o que é cidadania que foi discutida por Marshall.
Ambos os conceitos se complementam, não são excludentes! 27
28. Cidadania e Virtudes Cívicas
Há normas e regras em todos os campos de interação e
comunicação, conforme descrito por Heller & Féher (1998).
Todo adulto de um estado democrático moderno é por
definição um cidadão. Mas nem todos têm uma relação prática
individual com as normas e regras que regem a esfera política.
Quanto mais ampla for a experiência de vida, quanto mais
múltiplas as necessidades dos atores políticos, maior é a
probabilidade de que normas e regras justas possam substituir
as existentes.
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29. Cidadania e Virtudes Cívicas
As virtudes são traços de caráter considerados exemplares por
uma comunidade de pessoas.
Virtudes cívicas são as virtudes do cidadão, possui valor
intrínseco, significa literalmente a “coisa comum”. São coisas que
partilhamos e consideramos como pré-condições da vida.
A prática das virtudes fazem da “cidade” o que ela deve ser: a
soma de total de todos os cidadãos. As virtudes civícas
contribuem para a boa vida de todos.
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30. Cidadania e Virtudes Cívicas
As ações políticas acontecem de três maneiras:
1. As pessoas agem dentro das organizações políticas;
2. Podem traduzir reivindicações privadas em público;
3. As pessoas podem mobilizar outras para tratar questões
sociais privadas ou públicas, tornando-as normas
democráticas gerais ou universais.
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31. Virtudes Cívicas e o Valores
Valores Universais de Liberdade...
Valores Universais da Vida...
Valor Condicional da Igualdade...
Valor da Racionalidade Comunicativa...
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33. Mídia e Minorias
Cada indivíduo estabelece contatos e contratos com o mundo
(família, escola, trabalho e até religião) e inserimos neste
contexto social, as normas, regras e costumes, criando um
padrão de relacionamento com o outro.
Ou seja, o tecido social é construído com base no conjunto de
mediações sociais.
Emergem entre os sujeitos pré-moderno e moderno novas
formas sociais, novos e distintos formatos de relacionamento
do indivíduo com o mundo e principalmente com o outro.
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34. Mídia e Minorias
O papel das instituições:
Segundo Paiva (2005), um dos maiores desafios da
contemporaneidade está centrado no problema do
estabelecimento de regras, padrões, normas, afetos; enfim, na
aceitação radical do outro.
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35. Mídia e Minorias
E a mídia?
A mídia responsabilizar-se hoje por todas as mediações sociais
e é ela que regula a relação do indivíduo com seus pares.
Ao regular as relações, a mídia parte do pressuposto que a
compreensão do consumo assume papel determinante.
A nova ordem privilegia um número diminuto de indivíduos
capazes de experimentar as novas proposições midiáticas e de
outro lado excluí um número cada vez maior de indivíduos.
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36. Mídia e Minorias
A partir deste contexto, dois distintos grupos produzem uma
nova forma social, regulada pela violência e crueldade e pela
espetacularização midiática.
Minorias Minorias
Flutuantes Passionais
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37. Minorias Flutuantes...
Como a mediação entre as relações sociais é substituída pela
midiatização, a violência e a crueldade é transformada em
espetáculo e utilizada pelos grupos minoritários como
ferramenta de “aparição”.
A isso é dado o nome de “minoria flutuante”, um grupo que se
assume como força política de oposição ao sistema de
hegemonia e de forma ‘guetificada’, adotando posturas
violentas e marcadamente terroristas.
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38. Minorias Passionais...
Sua expressão não ultrapassa o ambiente retórico e as
explosões verbais, ou seja, a manifestação se expressa no
ambiente discursivo e de espetacularização.
Esses movimentos podem assumir uma relevância
organizacional ou partidária ativa, capazes de comprometer a
governabilidade democrática e sua presença caracteriza o perfil
atual dos movimentos: a era das turbulências.
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39. Mídia e Minorias
Espósito fez uma releitura de Hobbes e publicou: “aquilo que os
homens realmente tem em comum é a capacidade de matarem
uns aos outros” (2000, p.45)
Os grupos minoritários que forem pautados pela premissa da
inclusão podem desenvolver práticas que visem interromper a
violência social.
Por isso a importância de se entender
as teorias do reconhecimento e da cidadania.
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40. Mídia e Minorias
Segundo Paiva (2005), as minorias podem optar por duas formas
de atuação, em:
Comunidade Gerativa:
Conjunto de ações norteadas propósito do bem
comum, com aspectos próprios de
sociabilidade: cooperação, solidariedade,
tolerância, fraternidade, docilidade, amizade,
generosidade e caridade.
Comunidade Negativa:
Grupos e facções que usam práticas
violentas para exclusão visceral de outro
ao núcleo grupal.
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41. Mídia e Minorias
A mídia passa a pensar numa estrutura social que inclua a
multiplicidade e conviviabilidade. Entre os conceitos que
devem ser considerados nesta envergadura teórico-prática
capaz de promover uma reformulação da estrutura social
são: aceitação, diferença/igualdade, inclusão, 41
compartilhamento, pertencimento, diálogo e comunicação.
42. Mídia e Minorias
No esforço de definir a atuação dos grupos minoritários, é
preciso lembrar que não bastar atuar sobre os fracassos das
instituições sociais e do poder público (saúde, segurança,
educação, lazer, urbanização, saneamento, moradia, etc.), é
importante também o envolvimento digno e efetivo dos
indivíduos sob a premissa da inclusão, da responsabilidade,
do afeto e do respeito.
É o “reconhecimento mútuo” proposto do Honneth.
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43. Cidadania e Virtudes Cívicas
As principais virtudes relacionadas com os valores
anteriores são: tolerância radical, coragem cívica,
solidariedade, justiça, prudência e a racionalidade
discursiva.
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44. Considerações finais...
Segundo o filósofo americano Richard Rorty, devemos nos
“concentrar em nossa habilidade de tornar irrelevante as
pequenas particularidades que nos separam – não por meio de
uma comparação com uma coisa grandiosa que nos une, mas
mediante a comparação com outras coisinhas pequenas”.
Partindo da premissa que todos nós temos “virtudes cívicas”,
será que estamos praticando-as em nossas relações sociais?
A moralidade é uma questão de sentimento, que talvez exija
(boa) vontade e reivindique presença concreta dos indivíduos.
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