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SOCIEDADE UNIVERSITÁRIA REDENTOR
             FACULDADE REDENTOR
        PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA DA PSICANÁLISE




             IVANILDO FELIX DE LIMA




ADOLESCÊNCIA X SEXUALIDADE X PSICANÁLISE:

   UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA




                 ITAPERUNA-RJ
                      2004
IVANILDO FELIX DE LIMA




ADOLESCÊNCIA X SEXUALIDADE X PSICANÁLISE:

  UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA




                 Área de concentração: Psicanálise Infantil




                 Monografia apresentada a Faculdade Redentor,
                 como parte das exigências para a conclusão do
                 Curso de Especialização em Teoria da Psicanáli-
                 se.


                 Orientadora: Profa. Francisca Lopes das N. Ca-
                 listrato




               ITAPERUNA-RJ
                   2004
IVANILDO FELIX DE LIMA




             “ADOLESCÊNCIA X SEXUALIDADE X PSICANÁLISE”

                 UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA




Monografia aprovada como parte das exigências para a conclusão do Curso de Es-

pecialização em Teoria da Psicanálise, pela seguinte banca:




                            _____________________________________
                            Prof. Dr.

                            _____________________________________
                            Prof. Dr.

                            _____________________________________
                            Profa. Ms.




                            Itaperuna-RJ, 14 de fevereiro de 2004.
DEDICATÓRIA:


Dedico o meu trabalho aos meus pais Luiz Felix de Li-
ma (in memoriam) e Luiza Felix de Lima, que me pro-
porcionaram a vida e me oportunizaram conhecer as
maravilhas do conhecimento. A minha gratidão!


A meus filhos Ivanildo Felix de Lima Filho e Sabrina Ma-
ria Belarmino de Lima (esta chegando ao final do curso)
que foram a razão que me impulsionou a terminar o
curso. Vocês são a razão do meu viver.
AGRADECIMENTOS


        Primeiramente a Deus que me conservou a vida até o presente momento,
íntegro, com saúde e com disposição de bem servir aos outros.


        Depois a minha esposa e companheira Severina Belarmino Neves de Lima
(Minininha), que por vezes me acompanhou até Natal, me fazendo companhia na
viagem, um tanto perigosa, pelo fato de noturna e também pelo apoio nos estudos, o
meu obrigado!


        Aos meus companheiros de classe, que insistentemente lutaram para um
curso de qualidade, enriquecendo meus conhecimentos nos debates, discussões e
trabalhos. Vocês hão de ficar registrados na minha memória.


        A minha Psicanalista Pessoal Dra. Neide que soube me ouvir e a Psicanalis-
ta Didata Dra. Francisca, que soube me apoiar, aconselhar, criticar, chamar atenção
e me ensinar como uma boa mãe, minha eterna gratidão!


        Aos funcionários do Instituto de Educação e Cultura Dom Pedro II em Tan-
gará-RN, que em alguns momentos se dispuseram a escutar minhas explanações
sobre o conhecimento psicanalítico.


        Ao Sr. Dedé, Presidente da Associação dos Deficientes Físicos da Cidade
de São Tomé-RN- ADEFIST, que me convidou para proferir a primeira palestra so-
bre Psicanálise, em Encontro Regional dos deficientes físicos da região Potengi.


        Agradeço a Socorro Pereira e Mona Lisa que abriram as portas da Clínica
Mentalis, em Santa Cruz-RN, para que pudesse trabalhar com pacientes pilotos. Os
meus sinceros agradecimentos!


        A colaboradora Célia, que se dispôs a abrir a clínica, marcar e desmarcar
sessões, enfim a dar todo apoio administrativo para o bom funcionamento da mes-
ma, o meu obrigado.
A todos os meus pacientes pilotos, que por questões éticas, não poderei
mencionar seus nomes aqui.


        A todos os professores que transmitiram seus conhecimentos com a maior
serenidade e sinceridade possível, a minha gratidão.


        Enfim a todos que direta ou indiretamente, foram companheiros e estiveram
comigo em mais essa batalha.


        Vocês todos ficarão comigo!
RESUMO




Esta monografia trata sobre a adolescência, principalmente do papel que desempe-
nha a sexualidade neste período, mostrando as transformações ocorridas na biolo-
gia do mesmo, e como estas transformações físicas e hormonais desempenham pa-
pel fundamental na formação da personalidade e da sexualidade do adolescente.
Trata ainda, da adolescência como período de tempestade e tormenta, devido às
inquietações próprias do momento, numa visão psicanalítica e principalmente numa
abordagem de Anna Freud.


Palavras Chave: Psicanálise – Adolescência – Sexualidade – Teoria da Sexualida-
de – Freud – Anna Freud.
ABSTRACT




 This monograph about adolescence, mainly of the role of sexuality in this period,
showing the transformations in biology, and how these hormonal and physical trans-
formations play key role in the formation of personality and adolescent sexuality.
This is still, of adolescence as the period of storm and storm, due to the concerns of
the time, in a vision and psychoanalytic approach primarily of Anna Freud.


Keywords: Psychoanalysis – Teens – Sexuality – Theory of sexuality- Freud – Anna
Freud.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO




FIGURA 1 – EFEITOS DOS HORMÔNIOS SEXUAIS SOBRE O DESENVOLVI-
MENTO DA PUBERDADE.
SUMÁRIO


1. INTRODUÇÃO......................................................................................          10
2. O ADOLESCENTE: UMA VISÃO BIOLOGICISTA................................                                     12
2.1. Adolescência.....................................................................................       12
2.1.1. Puberdade........................................................................................     13
2.1.1.1. Idade de início da puberdade e alterações hormonais............                                     13
2.1.1.2. Desenvolvimento puberal-sexual...............................................                       14
2.2. O término da adolescência...................................................................            16
3. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA PERSONALIDADE.................                                               17
3.1. A formação da personalidade do adolescente.....................................                         17
3.2. Desenvolvimento moral.......................................................................            18
4. ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE: UMA VISÃO PSICANALÍTICA.                                                      20
4.1. Teoria da Sexualidade Infantil..............................................................            20
4.1.1. Teoria Estrutural..............................................................................       20
4.1.2. Fases do desenvolvimento da sexualidade..................................                             22
4.1.2.1. Fase oral........................................................................................   22
4.1.2.2. Fase anal.......................................................................................    24
4.1.2.3. Fase fálica.....................................................................................    27
4.1.2.4. Período de latência.......................................................................          32
4.1.2. Teoria Topográfica..........................................................................          33
5. ADOLESCÊNCIA: UMA NOÇÃO DE TEMPESTA DE E TORMENTA                                                         34
5.1. Uma abordagem de Anna Freud......................................................                       34
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................                     38
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................          39
10



1 INTRODUÇÃO




        Falar da adolescência nos tempos atuais é uma tarefa muito difícil. É falar
de sexualidade, drogas, violência e também das transformações físicas e biológicas,
que permeiam a vida do adolescente. Entretanto, preferi falar da adolescência, en-
quanto período de transição, de angústias e de conflitos. Por vezes mal compreen-
dido, o adolescente passa por um duplo sentimento de rejeição e tormenta: seja no
perceber as transformações ocorridas no seu corpo e no seu pensar, seja no não ser
bem aceito pelos adultos, por seus pares e pela sociedade.
        Escolhi esta temática porque lido com jovens e na análise de pacientes pilo-
tos, defrontei-me com vários jovens adolescentes, que passaram seus problemas,
suas angústias e seus conflitos e pude perceber o sofrimento vivido pelos mesmos.
        No primeiro capítulo foi analisado o tema adolescência, conceituado o que é
a adolescência, e suas transformações físicas e biológicas. Foi tratado da puberda-
de, idade de início da puberdade e alterações hormonais, desenvolvimento puberal-
sexual e o término da adolescência, produção de autores que escreveram sobre a
temática: Kaplan e Sadock.
        O segundo capítulo expõe aspectos do desenvolvimento cognitivo da per-
sonalidade, usando como referencial a obra de Judith Gallatin, mostrando vários
pensamentos comparativos, seja na visão de Hall, Rosseau, Piaget e Erik Erikson.
Discorre ainda sobre o desenvolvimento moral do adolescente.
        No terceiro capítulo expus uma visão psicanalítica do adolescente e sua
sexualidade, enfatizando a Teoria da Sexualidade Infantil de S. Freud e as fases do
desenvolvimento da sexualidade, como também uma resumida visão das tópicas,
destacando-se o papel que as fases do desenvolvimento da sexualidade exerce so-
bre o desenvolvimento do adolescente.
        Por fim numa visão de Anna Freud, analisamos a adolescência enquanto
momento de profundas transformações, uma vez que as forças da libido reprimidas
ou adormecidas na latência voltam a tona, com força total, sempre como um refe-
rencial dos conflitos das fases iniciais. Por ser um período de passagem, de desco-
berta, principalmente da sexualidade e de ajustamento, os adolescentes enfrentam
11



uma tempestade de angústia, que os deixam vulneráveis, longe dos pais, da família,
como se alheios fosse.
12



               2 O ADOLESCENTE: UMA VISÃO BIOLOGICISTA


2.1 – ADOLESCÊNCIA




        A adolescência, um estágio de início e duração variáveis, é o período situa-
do entre a infância e a idade adulta. Caracteriza-se por profundas alterações do de-
senvolvimento biológico, psicológico e social. O início biológico da adolescência é
marcado pela rápida aceleração do crescimento esquelético e primórdios do desen-
volvimento sexual; o início psicológico se caracteriza por uma aceleração do desen-
volvimento cognitivo e uma consolidação da formação da personalidade; socialmen-
te, a adolescência é um período de preparo intensivo para a idade adulta jovem, que
vem a seguir.(KAPLAN & SADOCK, 1997)
        Em muitas culturas, o início da adolescência é claramente assinalado por
ritos de passagem que, em geral, envolvem testes de força e coragem. Nas socie-
dades tecnologicamente avançadas, entretanto, o final da meninice e os requisitos
para a idade adulta não estão claramente definidos. Em tais circunstâncias, o ado-
lescente passa por um conflito mais prolongado e, às vezes, confuso, para atingir
uma situação de adulto independente.
        A adolescência, geralmente é dividida em três períodos: 1) inicial(dos 11
aos 14 anos); 2)intermediária (dos 14 aos 17 anos); e 3) tardia (dos 17 aos 20 anos).
Entretanto, essas divisões são arbitrárias: o crescimento e o desenvolvimento ocor-
rem ao longo de uma linha de continuidade que varia de pessoa para pessoa. Deve-
se distinguir entre a puberdade, que é um processo de mudança física, caracterizado
pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias, e a adolescência que
é, em grande parte, um processo psicológico de mudança. Entretanto, os processos
são sincronizados, quando não simultâneos. Como acontece muitas vezes, o ado-
lescente precisa dar conta deste desequilíbrio e o estresse adicional. (KAPLAN &
SADOCK, 1997)
13



2.1.1. Puberdade



        O início da puberdade é ativado pela maturação do eixo hipotalâmico-
hipofisário-adrenal-gonadal, levando à secreção dos esteróides sexuais. Esta ativi-
dade hormonal produz as manifestações da puberdade. Tradicionalmente categori-
zadas como características sexuais primárias e secundárias. As características pri-
márias são aquelas diretamente envolvidas no coito e na reprodução, a saber, ór-
gãos reprodutores e genitália externa. As características secundárias incluem o de-
senvolvimento dos seios e alargamento dos quadris, nas mulheres, e o crescimento
de pelos faciais e mudança no tom de voz, nos homens. Em ambos os sexos, a mai-
oria dos níveis hormonais adultos é atingida em torno dos 16 anos, mas as garotas
começam a puberdade, em média, aos 11 anos, e os meninos aos 13 anos. Os au-
mentos característicos de peso e altura também ocorrem mais cedo nas meninas do
que nos meninos, de modo que aos 12 anos, as meninas são mais altas e pesadas
do que os meninos.
        Crescimento precoce ou retardado, acne, obesidade e aumento das glându-
las mamárias em meninos, e seios pequenos ou grandes demais em meninas, são
alguns desvios dos padrões esperados do amadurecimento. (KAPLAN & SADOCK,
1997)




2.1.1.1. Idade de Início da Puberdade e alterações hormonais




        O início da puberdade varia, com as meninas ingressando na puberdade 12
a 18 meses antes dos meninos. A idade média é 11 anos para as meninas (com
uma faixa etária dos 8 a 13) e 13 para os meninos (com uma faixa dos 10 a 14).
        Os hormônios sexuais aumentam lentamente durante toda a adolescência e
correspondem às alterações corporais. O hormônio folículo-estimulante(FSH) e hor-
mônio luteinizante (LH) também aumentam durante toda a adolescência, mas o LH
freqüentemente está elevado acima dos valores adultos entre os 17 e os 18 anos.
Os níveis de LH característicos do funcionamento adulto começam ao final da ado-
lescência. Dos 16 aos 17 anos, um grande aumento parece ocorrer nos níveis mé-
14



dios de testosterona, que, então, diminuem, para estabilizarem-se em um nível adul-
to.
        A testosterona é o hormônio responsável pela masculinização dos meninos,
ao passo que o estradiol é o hormônio responsável pela feminização das garotas.
Os dois hormônios também influenciam o funcionamento do sistema nervoso central,
incluindo o humor e o comportamento. Níveis diminuídos de estrógeno podem estar
associados com um humor deprimido (como ocorre no período pré-menstrual em
algumas mulheres). Altos níveis de testosterona têm sido correlacionados com a-
gressão e impulsividade em alguns homens. Em garotos adolescentes, os níveis de
testosterona correlacionam-se com a libido e são manifestados por impulso sexual,
masturbação e impulso para o coito. As garotas adolescentes também são influenci-
adas pelos andrógenos, mas em grau muito menor do que os meninos. (KAPLAN &
SADOCK, 1997)




2.1.1.2. Desenvolvimento puberal-sexual




        O impulso sexual é desencadeado por certos andrógenos, como a testoste-
rona, que estão em níveis mais altos durante a adolescência do que em qualquer
outro período da vida. Segundo William Masters e Virgínia Johnson, o pico do impul-
so sexual masculino ocorre entre 17 e 18 anos de idade. O pré-adolescente descar-
rega suas necessidades libidinais mais freqüentemente através da masturbação, um
modo seguro de satisfazer os impulsos sexuais.
        Uma vez que as meninas ingressam na puberdade 2 anos mais cedo do
que os meninos, podem começar a namorar e a ter intercurso sexual mais cedo do
que seus pares do sexo oposto. Entretanto, as garotas desta idade são menos se-
xualmente ativas do que os garotos. Estes são facilmente excitados por estímulos, e
as ereções são freqüentes. Para as garotas, o impulso sexual está mais associado
com outros sentimentos; elas tendem a ver o sexo e o amor como sentimentos rela-
cionados, enquanto que os homens consideram o desejo e o amor sentimentos mais
dissociáveis.(KAPLAN & SADOCK, 1997)
15



        Na adolescência intermediária, o comportamento sexual e a experimentação
com uma variedade de papéis sexuais são comuns. A masturbação ocorre como
uma atividade normal, quase com a mesma intensidade nos dois sexos, neste perío-
do; contudo, uma criação rigidamente religiosa pode engendrar fortes sentimentos
de culpa. São comuns as paixões heterossexuais, freqüentemente com uma pessoa
inatingível da mesma idade ou mais velha.
        Experiências homossexuais podem também ocorrer neste período, mas,
geralmente, são temporárias. Muitos adolescentes precisam de garantias acerca da
normalidade de uma experiência homossexual isolada e confirmação de que não se
trata de um indício de uma orientação homossexual permanente. Para outros, uma
orientação homossexual já se encontra predeterminada neste momento. Esses ado-
lescentes (estima-se que compreendem entre 1 a 4% de todos os meninos adoles-
centes e 0,5 a 2% de todas as meninas adolescentes) podem necessitar de aconse-
lhamento, acerca de como lidar com sua orientação sexual.
        Embora muitos adolescentes experimentem o sexo em uma idade precoce,
pesquisas recentes indicam que a idade média para o primeiro intercurso sexual em
ambos os sexos é 16 anos. Uma década atrás, por exemplo, a idade média para o
primeiro intercurso sexual era de 18 anos, e apenas 55% das mulheres haviam tido
intercurso sexual nesta idade. Atualmente, 80% dos homens e 70% das mulheres já
tiveram relações sexuais ao atingir 19 anos. (KAPLAN & SADOCK, 1997)
        O aparecimento da menarca é uma das alterações puberais nas meninas. A
tendência atual é no sentido de uma menarca mais precoce do que no passado. Nos
Estados Unidos da década de 20, a idade média para a menarca era de 14,5 anos,
nos anos 80, ela caiu para os 13 anos. As atitudes culturais para com a menarca
variam desde vê-la como uma maldição em um extremo, até encará-la como uma
afirmação prazerosa da própria feminilidade, no outro extremo.
        A maioria das adolescentes não é informada sobre a menstruação por seus
pais. Elas baseiam-se em informações das colegas, escola e meios de comunica-
ção. A menarca pode ser atrasada por vários fatores: fraco estado nutricional, exer-
cícios excessivos, treinamentos para maratonas e estresse psicológico. (KAPLAN &
SADOCK, 1997)
16



2.2.   O TÉRMINO DA ADOLESCÊNCIA




        O término da adolescência ocorre quando o indivíduo começa a assumir as
tarefas da idade adulta jovem, que envolvem a escolha de uma profissão e o desen-
volvimento de um senso de maturidade que leva, na maioria dos casos, a casar e ter
filhos. Daniel Levinson descreveu uma transição na idade adulta precoce entre ado-
lescência e idade adulta, na qual o jovem começa a sair de casa e a levar uma vida
independente. Este período envolve um pico do desenvolvimento biológico, a assun-
ção de novos papéis, que envolve as capacidades de aprendizado e atitudes neces-
sárias para o bom desempenho desses papéis, e, por fim, a assunção de um self e
estrutura de vida adulta. (KAPLAN & SADOCK, 1997)




 FIGURA 01 – EFEITOS DOS HORMÔNIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO NA
                                  PUBERDADE




        FONTE: COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA DE KAPLAN E SADOCK
17



          3    DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA PERSONALIDADE


3.1. A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE DO ADOLESCENTE




        Seguindo o esquema de Judith Gallatin, usarei como referencial dois auto-
res que se dedicaram ao estudo da adolescência. O primeiro deles é G. Stanley Hall
que, sob influência do evolucionismo Darwiniano de Harckel e do “pré-suposto” didá-
tico de Rousseau, considerava o desenvolvimento da personalidade como uma re-
capitulação do desenvolvimento das espécies. Hall formulou a teoria de que, durante
os anos entre a infância e a maturidade sexual, a criança também repete a história
das espécies, mas não toda a história, ao invés de repetir todo o processo da evolu-
ção, a criança procedia em estágios cada um dos quais espelhando um estágio pri-
mitivo. Observa que o nascimento do intelecto acompanha o nascimento da sensua-
lidade. Enquanto na meninice o indivíduo se depara com as bases para a memoriza-
ção e exercícios de rotina, na adolescência ele adquire verdadeiramente a capaci-
dade de raciocinar.


                      “São estas habilidades intelectuais que, em última instância, capaci-
                      tarão o adolescente a tomar seu lugar na sociedade civilizada.”
                      (GALLATIN, 1978)


        Quanto a Rousseau, ele assimilou a idéia de que, durante a meninice, o in-
telecto é, a grosso modo, semelhante ao de um selvagem e que, neste período a
criança ainda não possui a capacidade de captar princípios geométricos, assim co-
mo os significados abstratos do tipo “justiça” e “liberdade”. Entretanto quando bem
talhado e utilizado, pode levar o jovem além de seus antecedentes animais. (GAL-
LATIN, 1978)
        Já segundo Piaget, no início da adolescência, o pensamento torna-se abs-
trato, conceitual e orientado para o futuro: ele chamou esta etapa de estágio das o-
perações formais. Neste momento, muitos adolescentes exibem uma notável criati-
vidade, que expressam em textos, música, arte e poesia. A criatividade também é
expressada nos esportes e nos interesses do adolescente pelo mundo das idéias –
questões humanitárias, morais, éticas e religiosas. A manutenção de um diário é um
escape criativo comum durante este período.
18



        De acordo com Erik Erikson, a principal tarefa da adolescência é adquirir a
identidade do ego, que ele definiu como a consciência de quem se é e para onde se
está indo. Erikson descreveu a luta normal da adolescência como identidade contra
confusão de papéis. Identidade é um senso seguro de si mesmo. Confusão, também
chamada de difusão de identidade, é um fracasso em desenvolver um self ou cons-
ciência coesa de si mesmo.
        Parte da resolução da crise de identidade diz respeito a deixar de ser uma
pessoa dependente para tornar-se independente. As lutas iniciais freqüentemente
giram em torno dos conceitos estabelecidos de papéis sexuais e identificação com o
gênero. (KAPLAN & SADOCK, 1997)




3.2. DESENVOLVIMENTO MORAL




        Um senso bem definido de moralidade é uma importante conquista, para a
maioria das pessoas no estágio da adolescência tardia e idade adulta. A moralidade
é definida como uma conformidade a padrões compartilhados, direitos e deveres.
Existe, entretanto a possibilidade de conflito entre dois critérios socialmente aceitos,
e a pessoa aprende a fazer julgamentos com base em um senso individualizado de
consciência. Há uma obrigação moral de obedecer a regras estabelecidas, mas, a-
penas, até onde servem aos fins humanos. Este estágio de desenvolvimento interna-
liza os princípios éticos e o controle da conduta.
        Piaget via o desenvolvimento da moralidade como um processo lento, em
conjugação com os estágios do desenvolvimento cognitivo. No estágio pré-
operatório, a criança simplesmente obedece a regras estabelecidas pelos pais; no
estágio das operações concretas, as regras são aceitas pela criança, mas existe
uma incapacidade de permitir exceções; no estágio das operações formais, as re-
gras são reconhecidas em termos do que é bom para a sociedade em geral. La-
wrence Kohlberg integrou os conceitos de Piaget e descreveu três níveis principais
de moralidade. O primeiro nível é o da moralidade pré-convencional, no qual a puni-
ção e a obediência aos pais são os fatores determinantes; o segundo nível é o da
moralidade da conformidade ao papel convencional, no qual a criança tenta confor-
mar-se com o fim de obter aprovação e manter boas relações com os outros; o ter-
19



ceiro e o mais alto nível é o da moralidade dos princípios morais auto-aceitos, no
qual existe uma obediência voluntária às regras, com base em uma noção de princí-
pios éticos e no qual podem ser feitas exceções às regras, sob certas circunstâncias.
(KAPLAN & SADOCK,1997)
20



      4 ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE: UMA VISÃO PSICANALÍTICA


4.1. TEORIA DA SEXUALIDADE INFANTIL


4.1.1. – Teoria Estrutural




        Na verdade considerar, pura e simplesmente, a teoria da sexualidade infantil
seria uma tarefa difícil, já que o próprio Freud, no decorrer de sua vida, deixou em
aberto aspectos que paulatinamente foram recebendo acréscimos. O que podemos
vislumbrar atualmente, na bibliografia são três sistemas teóricos que se inter-
relacionam. O primeiro que trata dos três estágios significativos do desenvolvimento
da personalidade – a Teoria da Sexualidade – o segundo que trata do desenvolvi-
mento constitutivos da personalidade – a Teoria Estrutural – e o terceiro que trata da
descrição do funcionamento da mente – Teoria Topográfica.
        Para compreendermos os processos da dinâmica adolescente na teoria psi-
canalítica, precisamos passar pela inter-relação desses três sistemas.
        Para Sigmund Freud “...longe de ser frágil, inocente, pura, imaculada e sem
vícios, o recém-nascido humano, era uma criança assediada por desejos e necessi-
dades imperiosas. Ele poderia ser frágil, mas não inocente, ao menos no sentido
convencional da palavra...” (GALLATIN, 1978)
        A criança de Freud se apresenta cheia de desejos e necessidades que lhe
são imperiosas e que exigem satisfação imediata. Para Freud a criança nos lustres
de sua vida era invadida por um conjunto de impulsos, dados como possuidora de
um reservatório básico com os quais o bebê vinha dotado ao nascimento e em últi-
ma instância, fonte central de toda a vida que denominou pela abreviação teórica
com derivação latina de ID.
        Com a emergência da vida e, também destes impulsos herdados, a criança
torna-se escrava do princípio do prazer, já que a satisfação de suas necessidades
têm que se dar de forma imediata e, sendo que, ela por si só, está impossibilitada,
dependendo então diretamente de outros indivíduos, começa então aí o desenvolvi-
mento da segunda estrutura de sua personalidade, isto é, quando a gratificação de
seus impulsos não se dá de forma imediata, a criança passa por uma grande frustra-
ção o que lhe provoca um sentimento de desproteção, ansiedade e dor o que decor-
21



rerá na necessidade de uma estrutura controladora do id. Freud denominou esta se-
gunda estrutura, de EGO que em latim significa eu. O ego representará a parte ra-
cional necessária ao indivíduo para amenizar a ação impulsiva do id. O ego consiste
de:
                     “Um conjunto de funções que os seres humanos desempenham para
                     manter-se mais ou menos em contato com a realidade: percebendo
                     acuradamente qualquer evento que ocorra, lembrando o que ocorreu
                     no passado, pensando logicamente, agindo apropriadamente...”
                     (GALLATIN, 1978)

é claro que estas funções, durante os primeiros anos de vida é frágil, mas a relação
de confronto entre as forças animais do id e as racionais do ego, possibilitarão a in-
teração e o choque da criança com o mundo. E nessa relação conflituosa não há um
domínio total do segundo sobre o primeiro como o próprio Freud antecipou:


                      “A relação do ego com o id é fundamentalmente a de um cavaleiro e
                     seu cavalo. Há pouca dúvida sobre qual deles é o mais razoável e
                     sensível, mas é sempre possível que o cavaleiro fique excessiva-
                     mente preocupado e distraído, a ponto do cabalo fugir-lhe das ré-
                     deas”. (S. FREUD, 1969)


        A perda do controle permanece perpetuamente como uma ameaça e assim,
a criança adquire uma outra agência para assistir o ego e lidar com o id, nasce as-
sim uma terceira estrutura que Freud denominou de Superego.
        Freud considerava o aspecto desenvolvimental da personalidade dividido
em etapas definidas, só que ao invés de considerá-las breves recapitulações dos
estágios iniciais da história da evolução do homem (HALL) ele acreditava que cada
uma delas era representada pela emergência de um aspecto diferente da sexualida-
de humana.
        Se o Id é considerado como reservatório de impulsos involuntários, poderí-
amos interrogar: Como se daria a procedência desses eventos? Freud teorizou que
durante o desenvolvimento dos primeiros cinco ou seis anos de vida da criança três
fases relacionadas a três aspectos distintos da sexualidade se dariam e se fixariam
integrando-se à vida adulta. Para Freud estes eventos estariam ligados a questões
basicamente biológicas, intrínsecas a existência do indivíduo.
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4.1.2. Fases do desenvolvimento da sexualidade


4.1.2.1.    Fase Oral




           A primeira fase, que Freud chamou de Fase Oral, se dará no período mais
inicial da vida em torno do décimo oitavo mês. É muito comum ao observarmos uma
criança pequena percebermos que tudo que lhe vem a mão, imediatamente é intro-
duzido na boca. Segundo Freud, nessa fase, as energias da libido estão todas con-
centradas nas atividades que envolvem a boca do bebê. Observando uma criança,
poderíamos dizer que ela se interessa por alimentos em função de sua libido oral,
mas não é bem assim, vez que, mesmo saciado, ela põe tudo o que alcança na bo-
ca; suga sua própria língua; chupa os dedos e até os artelhos, parando de chorar
quando lhe dão uma chupeta. Logo após nascer, mantém-se a criança inteiramente
alheia ao mundo exterior, revelando suas sensações por meio de choro, sossego,
risos e encontrando prazer apenas no seio materno ou no seu próprio corpo, sem
saber ainda como localizar estes elementos. É por isso mesmo que o seio, que lhe
causa tanto prazer, é entendido como parte do seu ego. É, também, por isso mesmo
que dizemos que esta superposição seio-ego, que descreve uma ausência de obje-
to, é a imagem perfeita do narcisismo. (UYRATAN, 2000). A seguir começa a criança
a perceber que as repetidas experiências de alívio lhes foram fornecidas por meio do
seio, o que é determinante para que ela possa entender que há algo fora dela, esta-
belecendo uma diferença mais ou menos definida entre os mundos interno e exter-
no. Como resultado do instinto de auto-preservação, o indivíduo é levado a contac-
tos prazerosos com o mundo exterior e como resultado da união entre libido e o ego,
estes instintos se tornam carregados de energia sexual desde o princípio, devendo
vir a se dirigir ao mundo exterior em busca de gratificação. O fato, porém, é que co-
mo para a criança pequena ainda não existe uma separação muito bem definida en-
tre ela mesma e o mundo exterior, a libido permanece ligada ao ego. Entretanto
chega o momento em que ela se dá conta que nem sempre lhe é oferecido o seio
em caso de desconforto: é o contacto com a privação, com que ela acaba se familia-
rizando, levando-a a reter a libido, que produz sensações de tensão e de desprazer,
que a levam a deixar a posição narcisista e dirigir-se a um objeto no mundo exterior,
premido pela necessidade de alimento. Aí começa algo interessante: tendo-se em
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vista que nem toda a quantidade de libido armazenada no ego, poderá se satisfazer
com os alimentos, a libido excedente passa a se tornar independente das satisfa-
ções com a nutrição. Começa, então, o desenvolvimento de outras necessidades
libidinais: o tocar, o ver, o ouvir a mãe, o que representa um “deslocamento” da libido
em relação ao ego, determinando uma desassociação da libido com a alimentação.
É quando a criança, já muscularmente mais desenvolvida, pega objetos. Mas ela
continua a sugar tudo o que pode, mas quando lhe aparecem os dentes, ela morde e
machuca o seio, quadro que descrevemos como uma tendência à incorporação por
devorá-lo. Na fase oral, este momento é chamado de “canibalística”. Mas isto logo
se atenua, porquanto a vontade de devorar passa apenas a ser esboçada. (UYRA-
TAN, 2000).
        A relação entre a boca e o impulso sexual fica mais evidente se imaginar-
mos que entre os adultos, a boca é um instrumento erógeno, os adultos se beijam e
usam a boca como objeto de captação e doação de prazer. (GALLATIN, 1978).
        A “introjeção oral” é, do mesmo passo o executivo da “identificação primá-
ria”. As idéias de que se come um objeto ou de que por ele se é comido vêm a ser
os modos pelos quais se pensa, inconscientemente, em qualquer reunião objetal. A
comunhão mágica que consiste em “transformar-se na mesma substância”, ou co-
mendo o mesmo alimento, ou misturando os sangues respectivos, bem como a
crença mágica de que nos tornamos semelhantes ao objeto que comemos baseiam-
se no mesmo fato. (GALLATIN, 1978)
        Como este período, segundo Freud, é um período de vulnerabilidade e de-
pendência, qualquer distúrbio neste momento poderá acarretar situações semelhan-
tes na idade adulta, daí a ligação que se faz, em termos psicanalíticos, da oralidade
com o estado de dependência.
        Algumas manifestações de neuroses orais são: beber e comer em excesso,
problemas da linguagem e fala, agressão com palavras – correspondente ao morder
- xingamentos, gozações, escrúpulos exagerados para não “incomodar”, desejo in-
consciente de se instalar e desalojar todas as pessoas, incapacidade de aceitar fa-
vores e receber presentes. O afã de saber, o estudo de idiomas, o cantar, a oratória,
a declamação, são exemplos de sublimação das tendências orais.
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4.1.2.2.    Fase Anal




           A segunda fase descrita por Freud é denominada de anal. Aqui os impulsos
da libido se deslocam das relações orais para centrarem-se na região anal. Segundo
ele este deslocamento se dá preferencialmente seguindo as características biológi-
cas, mas deve-se considerar que as relações de socialização que frustram a fase
oral, a exemplo da repressão da mãe quanto ao fato de a criança executar a sucção
dos dedos, podem encaminhar a energia para outro objeto. Embora o prazer anal se
ache presente desde o início da vida, é no segundo ano que a zona erógena-anal
parece tornar-se o executivo principal de toda excitação, a qual, então onde quer
que se origine, tende a descarregar-se pela defecação. É a fase em que a libido se
concentra na região anal, que se torna uma área carregada de emoção agradável,
sendo que em primeiro lugar está a satisfação física do “vazio” que sentimos após a
saída das fezes, o esvaziar o intestino e em seguida na satisfação mental que a cri-
ança sente na execução desta função para os seus pais. Essa região compreende a
junção da pele e a membrana mucosa anu-retal. As junções de pele e mucosas do
corpo são sensíveis e ao receberem suave estimulação, produzem sentimentos de
prazer. O objetivo primário do erotismo anal, certamente, é o gozo de sensações
prazerosas na excreção. A estimulação da mucosa retal pode aumentar com a re-
tenção anal, exemplificando bem as combinações de prazer erógeno e a segurança
contra a ansiedade. O medo da excreção originalmente prazerosa leva à retenção e
à descoberta do prazer que esta última produz. A possibilidade de realizar estimula-
ção mais intensa da mucosa – além de sensação mais intensa pelo aumento da ten-
são de retenção – é responsável pelo prazer tensional, que é maior no erotismo anal
do que em qualquer outro. (FREUD, 1969). Aqueles que, nas suas satisfações, pro-
curam prolongar o pré-prazer e estender o prazer final são sempre, latentemente,
eróticos anais. Freud argumenta:


                        “Há algo intrínseco a criança que a torna especialmente interessada
                        em suas funções de eliminação, por volta da idade de um ano e meio
                        ou mais”. ( FREUD, 1969)


           Nesta fase percebemos a agressividade, que nada tem a ver com o sadismo
da fase anal. É no transcurso do surgimento e da instalação da agressividade, que a
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zona anal se torna muito ativa e a criança passa a obter prazer pela estimulação da
membrana mucosa retal e das partes imediatamente adjacentes, passando a ser a
função do ânus preponderantemente prazerosa, tanto quanto o era a entrada no tra-
to digestivo. É quando começam as manobras de retenção das fezes, ou freqüentes
evacuações, que estimulam a mucosa retal e a região glútea, o que resulta em pra-
zer.
          A recusa de uma criança em defecar, é um modo de desafiar a autoridade
parental e reafirmar que as fezes “são delas”, tendo um prazer adicional na sensa-
ção em manter o reto cheio. Elas consideram que as fezes são parte integrante de si
mesma, com as quais presenteia os pais e os adultos que a envolvem, sendo muito
precioso, pois é dado de dentro do seu próprio corpo, do seu ser. O manuseio das
fezes pela criança é proveniente desta fase, sendo reprovadas pelos pais como algo
nojento, sujo. Apesar deste valor – indesejado – que é transmitido pelos pais para
as crianças no seu consciente, para o inconsciente irá uma mensagem de repressão
devido ao valor atribuido as fezes pela criança. (FREUD, 1969).
          É a fase do desenvolvimento da libido, em que a evacuação e a tendência à
agressão se encontram saturadas de impulsos sexuais: é a fase denominada de sá-
dico-anal, que chega até aos 2 ou 3 anos mais ou menos de idade. Esta fase, pela
desimportância dos órgãos genitais, é chamada de pré-genital da organização da
libido.
          Freud argumenta que existe uma ligação estrita entre a função de elimina-
ção e a sexualidade.
          O exercício da socialização, novamente vai se instaurar, para que a criança
aprenda a controlar suas funções que ele denomina de “Treinamento do Toalete”.
Este treinamento poderá ser muito doloroso já que a criança não tem na sua forma-
ção egoíca, argumentos que a possibilite entender tal treinamento, o que deverá
propiciar uma relação de bloqueios ainda maior que na fase anterior. Estes bloquei-
os poderão ser responsáveis por diversos reflexos na vida adulta. A excessiva de-
terminação da mãe em relação ao asseio e a limpeza, poderão refletir na idade adul-
ta numa personalidade anal, ou melhor, uma personalidade com uma fixação por
tudo limpo, asseado e ordeiro.
          Onde ocorreu a fixação anal – neurose anal – mesmo que as fezes não
possam ser acumuladas indefinidamente, o indivíduo acumulará o que de valor pu-
der adquirir, entesourando, sem contudo, atingir o seu uso apropriado. Alguns casos
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de neurose anal: o caso do avaro que junta dinheiro, o colecionador que compra
quadros valiosos e não os exibe e nem mesmo os olha; dos indivíduos obssessivos,
que insistem longo tempo e improdutivamente em tarefas não completadas; pontua-
lidade exagerada; tendência ao uso de roupa íntima suja; sede de poder; prazer na
descarga de uma linguagem chula. As crianças que foram obrigadas a defecar por
meio de ordens, quando adultas apresentam acentuada tendência a terem seus pro-
blemas solucionados por outras e tendem a realização de várias atividades simulta-
neamente, que se manifesta numa obsessão à leitura durante a defecação.
        A origem e o caráter da conexão que existe entre impulsos anais e sádicos,
a que se alude na expressão usada para designar o nível de organização – sadismo
anal - são análogas à oralidade e sadismo: em parte, deve-se a influências frustrado-
ras e, em parte, ao caráter dos objetivos de incorporação. Acresçam-se, contudo,
dois fatores: em primeiro lugar, o fato de a eliminação ser, objetivamente, tão “des-
trutiva” quanto a incorporação; o objeto do primeiro ato sádico-anal são as próprias
fezes, cuja expulsão se percebe como uma espécie de ato sádico. Posteriormente,
as pessoas são tratadas como já o foram as fezes; em segundo lugar, o fator de
“poder social” que se envolve no controle dos enfíncteres; exercitando-se no asseio,
a criança encontra oportunidade efetiva para exprimir oposição contra os adultos.
        Razões fisiológicas existem para a conexão de erotismo anal, de um lado, e
de outro lado, ambivalência e bissexualidade.
        O erotismo anal faz que a criança trate um objeto, a saber, as fezes, de ma-
neira contraditória: expele a matéria para fora do corpo e a retém como se fosse um
objeto amado; aí está a raiz fisiológica da “ambivalência anal”. Por outro lado ainda,
o reto é órgão oco excretório; órgão excretório que é, pode expelir ativamente algu-
ma coisa; órgão oco, pode ser estimulado por um corpo estranho que penetre. As
tendências masculinas derivam da primeira faculdade; as tendências femininas, da
segunda; temos aí a raiz fisiológica da conexão existente entre erotismo anal e a
“bissexualidade”.
        Quando a criança tem uma educação de higiene pessoal prematura, o indi-
víduo posteriormente quando adulto poderá ter um comportamento hostil e rebelde.
Porém em seu aspecto formal apresenta-se asseado, obediente, passivo e medroso.
Quando o indivíduo tem uma educação de higiene tardia, tenderá a ser desasseado,
desleixado e irresponsável. Quando tem uma educação no momento adequado, o
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indivíduo terá inconscientemente um sentido normal de poder, e conseqüentemente
uma atitude adequada diante da sujeira e da limpeza.
           Como sublimação das tendências da fase anal, ou seja, os desvios das pul-
sões para fins aceitos pela cultura, temos as atividades de artes plásticas, que são
transformações mais ostensivas do prazer infantil de brincar com as fezes.




4.1.2.3.    Fase Fálica




           A fase fálica ou Fase edipiana, se dá segundo Freud por volta dos três a
quatro anos de idade. É a fase precursora da forma final assumida pela vida sexual
e que muito se assemelha a ela. Mais uma vez a energia da libido se desloca, agora
para os órgãos sexuais. É quando o menino percebe que seu pênis lhe dá prazer e a
menina de uma forma mais tímida descobre seu clitóris. Nesta fase a criança desco-
bre o prazer da região genital, seja pelo contato do vento, ou da mão de quem reali-
za sua higiene, ainda que inconsciente. Assim, os garotos passam a pegar com mais
freqüência no pênis e as meninas no clitóris. O ego da criança de três a quatro anos
é mais experiente, mais desenvolvido, mais integrado e, conseqüentemente, diferen-
te sob muitos aspectos do ego da criança de um ou dois anos. Essas diferenças se
evidenciam no aspecto do funcionamento do ego. Nessa idade a criança já não mais
possui relações parciais de objeto, se seu desenvolvimento foi normal. Assim por
exemplo, as diferentes partes do corpo da mãe, seus diferentes humores, e seus
papéis contraditórios de mãe “boa” que satisfaz os desejos da criança e da mãe “má”
que os frustra, são todos reconhecidos pela criança dessa idade como compondo
um objeto único chamado mãe. No caso do menino, onde foi centrado o interesse do
estudo de Freud, começam a apresentar certos sentimentos dele em relação a mãe,
esses sentimentos provocam na criança uma disputa triangular, onde o pai é o rival
e a mãe o objeto de prazer, originando assim o chamando complexo de Édipo, em
referência ao mito grego que matou o pai e desposou a mãe.
           Esta relação de disputa é profundamente perturbadora e deverá transcorrer
num período muito curto de tempo, já que a criança fantasia uma punição terrível
de seu pai por causa de seus sentimentos pela sua mãe. Esta punição foi descrita
por Freud como Complexo de Castração. O medo de alguma coisa acontecer a este
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órgão sensível e prezado chama-se angústia de castração; medo que se atribui pa-
pel tão significativo no desenvolvimento total do menino. A angústia de castração no
menino do período fálico pode comparar-se ao medo de ser comido do período oral,
ou ao medo de ser despojado do conteúdo corporal do período anal; é o medo reta-
liatório do período fálico, que representa o clímax dos temores fantásticos de lesão
corporal. Em última análise, pode-se rastrear a idéia de castração no antigo reflexo
biológico da autonomia; menos profunda, porém, certamente, baseia-se ela na idéia
retaliatória arcaica de Talião: o próprio órgão que pecou tem de ser punido. Vê-se
entretanto, que o ambiente das crianças lhes reforça idéias fantásticas de punição,
muitos adultos ainda ameaçam o menino de “cortar-lhes isto”, quando o surpreen-
dem masturbando-se. Em geral, a ameaça é menos direta, mas há outros castigos
que se sugerem, a sério ou brincando e a criança interpreta-os como ameaças de
castração. Todavia, mesmo as experiências que, objetivamente, não contêm qual-
quer ameaça podem ser falsamente interpretadas neste sentido pelo menino que
tenha a consciência culpada; por exemplo, a experiência de que existem realmente
criaturas sem pênis na observação dos genitais femininos. Há vezes em que uma
observação desta ordem empresta caráter sério a uma ameaça anterior a que não
se dera maior atenção; noutros casos, a realização da fase fálica basta, só ela, para
ativar ameaças passadas que não haviam feito impressão excessivamente intensa
durante os períodos pré-genitais. Também varia a natureza do perigo que se acredi-
ta esteja ameaçando o pênis. Há quem pense estar o pênis ameaçado por um inimi-
go masculino, ou seja por um instrumento penetrante, pontudo; ou por um inimigo
feminino, isto é, instrumento que envolve, isso conforme se apresente o pai ou a
mãe como a pessoa que mais ameaça; ou conforme as fantasias especiais que tem
o menino no tocante ao contato sexual. Como o ego da criança é muito fraco para
distinguir entre o que é fantasioso e o que é real, o pavor da punição forçará uma
terceira estrutura que Freud vai chamar de Superego.
        O fato de os adultos ameaçarem ou brincarem de castração com tanta faci-
lidade e animação constitui, certamente, expressão dos seus próprios complexos de
castração; porque amedrontar os outros é meio ótimo de acalmar os próprios temo-
res, donde resulta que os complexos de castração vão passando de geração em
geração.
        Com os conflitos provocados pelo complexo de Édipo a criança se vê diante
da necessidade de construir uma nova estrutura, partindo do pavor da punição, a
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criança vai afastar o complexo de Édipo se igualando e se identificando com o pai.
Mas qual seria a relação entre a identificação ao pai com a criação do superego?
Freud argumenta que como a criança toma ciência de que jamais terá sua mãe em
detrimento de seu pai, deverá, ela se assemelhar ao pai, seguindo o ditado popular
“se você não pode com ele, junte-se a ele”. E ao se igualar ao pai, a criança começa
a desenvolver os valores e padrões que lhe permitirão a socialização. O que lhe ga-
rantirá não transgredir os ditames da sociedade, e mesmo se o fizer, deverá se arre-
pender ou se auto criticar. Com o passar do tempo estes preceitos vão sendo incor-
porados a sua própria personalidade, passando a ser o seu protetor interno ou a sua
voz da consciência o que poderá ser comparada a necessidade que a criança tem
de ser orientada pelo adulto, quanto ao que é certo e errado. É necessário argumen-
tar que até agora fica evidente a canalização das preocupações para o desenvolvi-
mento da personalidade do menino. Com a abordagem do Complexo de Édipo, esta
situação é mais acentuada, já que o próprio Freud assumiu suas dificuldades de es-
tabelecer um paralelo entre os meninos e meninas. Se o medo da castração é, no
pensamento freudiano, o grande responsável pela formação do superego, como fica
então a formação desta estrutura entre as meninas, que não passam por este está-
gio fantasioso? Freud afirma que na menina a formação do superego se dá de forma
mais tímida, e além de estar associada ao que ele chamou de inveja do pênis. Em
um determinado momento a menina descobre a diferença existente entre ela e o
sexo oposto, isto faz com que a culpa da diferença recaia sobre sua mãe. Ela passa-
rá então a desejar ter um filho com seu pai, para suprir esta falta, este conflito, a e-
xemplo do menino, tem um pequeno período de duração, e por ver que será impos-
sível sua fantasia, ela encaminhará para a construção do superego. Nem mesmo
Freud ficou muito convicto desta formulação. (GALLATIN, 1978)
          Nos casos, porém, em que se desenvolveram certas fixações, operam for-
ças que resistem a deslocamento desta ordem, de modo que, por exemplo, as fixa-
ções pré-genitais dos neuróticos obstam a concentração genital progressiva da exci-
tação durante o ato sexual. O prazer se encontra basicamente nessas regiões, onde
permanecerá, embora haja na garota um deslocamento, diríamos parcial, para a va-
gina e na puberdade para o clitóris-vaginal. Nenhuma catexia libidinal forte será ja-
mais completamente abandonada. É possível que grande parte da libido flua para
outros objetos, porém, pelo menos certa quantidade permanece ligada ao objeto de
origem.
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        É nesta fase que desperta nas crianças de ambos os sexos o desejo de ver
os genitais umas das outras, bem como mostrar os seus, incluindo neste ato de curi-
osidade e exibicionismo outras partes do corpo e também outras funções corporais.
        A masturbação, ou seja a estimulação dos genitais próprios para obtenção
do prazer sexual é normal na infância; nas condições culturais atuais, também é
normal na adolescência e até na idade adulta como substituto, quando não se dis-
põe de objeto sexual. Se um indivíduo cujas atividades sexuais são bloqueadas por
circunstâncias exteriores se recusa a usar deste expediente, a análise sempre revela
medo inconsciente ou sentimento de culpa na raiz da inibição. Os pacientes que não
se masturbaram na adolescência também revelam haverem sido seus desejos sexu-
ais esmagados em alto grau pelo medo e por sentimentos de culpa, caso em que o
prognóstico é mau, resultando, em geral, de repressão especialmente profunda da
masturbação infantil.
        A excessiva identificação com o genitor do sexo oposto pode estar associa-
da ao desenvolvimento de características de inversão sexual no menino, ou mesmo
nas meninas. O medo do genitor do sexo oposto, pode prejudicar a capacidade indi-
vidual de lidar com pessoas deste sexo em fase ulterior da vida. Um estágio edipiano
parcialmente solucionado pode resultar num superego mal formado ou mesmo defi-
ciente, o qual pode vir a ser determinante de alterações sociopáticas do caráter e
das neuroses.
        O acesso ao período edipiano com conflitos na fase oral, anal, ou fálica, que
são do período pré-edipiano, trazendo para período novo, alguém sem energia sufi-
ciente para enfrentar as novas circunstâncias. A ausência de um dos genitores –
sem também haver um substituto a altura – devido a divórcio ou qualquer outro tipo
de separação, são causas de uma solução não satisfatória deste estágio.
        Meninos ou pessoas com uma neurose com medo de castração podem de-
senvolver fantasias de que o pênis lhe voasse do corpo, micróbios devorando o pê-
nis, sonhos com calvície, cortar cabelos, extração ou queda de dentes, decapitação.
O medo preventivo da castração pode ser representado em um sonho como uma
lagartixa – que perde o rabo e cresce novamente – ou quando um símbolo fálico pe-
niano aparece mutilado. Há indivíduos com fixações orais que temem lhes seja o
pênis arrancado a mordidas, de onde resultam idéias confusas, compostas de ele-
mento tanto orais quanto genitais. Existem homens que têm medo obsessivo consci-
ente de terem o pênis pequeno demais, cujo resultado foi alguma observação im-
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pressionante, na infância, do tamanho do pênis de outrem, quando o deles era real-
mente pequeno. Nos meninos a “feminilidade” nem sempre significa “acho que já
estou castrado”, mas, pelo contrário, uma evolução para a feminilidade – que repre-
senta desvio do uso ativo do pênis – muitas vezes se tenta como tranqüilização con-
tra castração futura possível: “Se proceder como se já não tivesse pênis, não o cor-
tarão”, ou até “Se não há meio algum de evitar a castração, prefiro praticá-la ativa-
mente na previsão a poder acontecer, e pelo menos terei a vantagem de ficar nas
boas graças de quem me ameaça...” A intensidade da “angústia de castração” à va-
lorização intensa do órgão durante a fase fálica, valoração esta que faz o menino
decidir em benefício da desistência da função. Um adulto perguntará: “Para que
serve um órgão, quando me proíbem de usá-lo?”. No período fálico, contudo os fato-
res narcisísticos contrabalançam os sexuais, de modo que a posse do pênis vem a
ser o objetivo principal. Segundo Freud, o menino desta idade ainda não toma posse
de um pênis como questão de determinação sexual; diferencia não em função de
homem e mulher, mas em função de portador de pênis e castrado. Quando obrigado
a aceitar existência de pessoas sem pênis, fica presumido que elas um dia tiveram o
órgão, mas o perderam. Os analistas, que tem confirmado os achados desta ordem,
cogitam que este modo de pensar talvez resulte de repressão anterior. Talvez que o
menino tenha razão mais primária de temer os genitais femininos do que o medo de
castração – angústias orais de uma vagina dentada – (FENICHEL, 1972), significan-
do temor retaliatório de impulsos sádicos-orais; daí tentar negar-lhes a existência.
        A idéia de que as meninas tiveram um pênis, mas de que este lhes foi cor-
tado representaria tentativa no sentido desta negação. Certo é que vem, ao mesmo
tempo, a angústia: Isto pode acontecer também comigo”, com a vantagem, porém,
de que se nega a existência primária dos temidos genitais femininos. Não se tem a
impressão, contudo, de que os meninos se consolem, de qualquer modo, por saber
que certas criaturas tiveram o pênis cortado; pelo contrário, esta idéia afigura-se
muito assustadora. De mais a mais, parece natural que o menino presuma, enquanto
não lhe ensinam o contrário, que todas as pessoas sejam construídas tal qual ele o
é, de modo que esta presunção não se baseia, necessariamente no medo; mas sim,
a idéia de que a presunção é incorreta é que cria o medo.
        Jung, contemporâneo e discípulo dissidente de Freud, argumentará mais
tarde que independentemente do sexo, a mãe é o primeiro objeto de amor, porém
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sem qualquer significado sexual imediato, já que para ele, a mãe representa confor-
to, afeto e proteção para o seu filho.




4.1.2.4.    Período de Latência




           Para a Psicanálise, este período decorre entre a resolução do complexo de
Édipo e o atingimento da puberdade. Sabemos que Freud não deu muita importân-
cia a adolescência por acreditar ser apenas uma recapitulação dos eventos ocorri-
dos na infância, mas acreditava que a latência era primordial para a fixação de um
superego forte e bem determinado.


                       “...um conjunto de padrões morais que a tornavam menos dependen-
                       te das autoridades adultas no que concerne aos julgamentos do que
                       é certo ou errado.”(FREUD, 1969)

           Para Anna Freud, a responsável por uma abordagem mais específica, a la-
tência tinha como característica a “imutabilidade do id e a mutabilidade do ego”.


                       “A única esperança da humanidade, o único atributo que pode elevar
                       o homem acima dos animais é permitir-lhe um melhor controle sobre
                       seus impulsos, é sua própria racionalidade e é, portanto, este aspec-
                       to egoíco que deve ser fortalecido durante a meninice”.(GALLATIN,
                       1978)


           Freud compara a latência a um rio represado, onde a presença de qualquer
abalo poderá liberar a represa e o indivíduo será torrenciado por seus impulsos re-
presados.
           Perturbações sexuais muitíssimo acentuadas, ocorrendo no período de la-
tência, realmente ultrapassam a normalidade, que é aquele em que a criança, desin-
teressada pela sexualidade, precisa viver num ambiente que lhe assegure repouso
nesta área. Quando isso não é assim, tornando-se ela alvo de contínuos estímulos,
vai acontecer que ela não poderá manter os seus desejos sob controle, em função
da imaturidade do seu Ego, mas mesmo assim, não se pode afirmar que se instalará
um quadro de neurose, vez que o seu desenvolvimento sexual poderá ser recom-
posto no transcurso da puberdade. (UYRATAN, 2000).
33



4.1.1.2. Teoria Topográfica




        Para entendermos o conjunto inter-relacionado que Freud propôs, precisa-
mos fazer uma breve exposição da teoria topográfica. Perguntamos: Para onde teria
ido todos os impulsos repreensíveis e todas as fantasias assustadoras? Para enten-
der estas questões Freud usou a sua vasta experiência clínica. Já com os experi-
mentos de Charcot, ele pode identificar que deveria existir um conjunto de imagens
que as pessoas ou lembravam vagamente ou nada lembravam em estado de vigília.
Estas imagens e lembranças foram colocadas a parte da consciência por represen-
tarem perigos a socialização, chamando-a de inconsciente. Freud chamou de re-
pressão a técnica mais simples encontrada pelo ego de defender-se do id. Outra
forma encontrada pelo ego, nesta batalha foi o que Freud chamou de Forma Reati-
va, onde o indivíduo se lembra de apenas uma versão do evento reprimido, guarda-
do no pré-consciente. Essas e outras defesas, poderão a qualquer momento se
revelar de outra maneira, como por exemplo a menina que reprimira a sua noção de
sexualidade e expressa todo o erotismo em suas vestimentas provocantes e sensu-
ais. Aquele executivo que mantém uma vida promíscua durante parte de sua vida e
ao mesmo tempo torna-se um defensor ardoroso do moralismo.
34



      5    ADOLESCÊNCIA: UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA


5.1. UMA ABORDAGEM DE ANNA FREUD




          Para Anna Freud a adolescência, apesar de ser uma recapitulação dos es-
tágios da infância, se dará de forma que os conflitos do passado e, especialmente o
Complexo de Édipo voltarão com força total a pressionar as formas racionais desen-
volvidas durante o período de latência. A. Freud acreditava que os impulsos do id
adormecidos na latência, em função das mudanças hormonais e fisiológicas sofre
um aumento em sua força. Os conflitos Orais, por exemplo, poderão reaparecer na
forma de uma profunda e exagerada dependência. Os conflitos anais poderão de-
sencadear momentos de um indivíduo extremamente sujo e outros de extrema lim-
peza. Os conflitos edípicos poderão desencadear um profundo interesse pelas ques-
tões sexuais. As forças da libido reprimidas ou adormecidas durante a latência deve-
rão voltar a tona sempre como um referencial dos conflitos das fases iniciais. (GAL-
LATIN, 1978)
          Anna Freud argumenta que a adolescência não é, pura e simplesmente um
processo de recapitulação, em função das diferenças específicas entre esse período
e a infância. Segundo ela, nem a luta, nem as estratégias de defesa são as mesmas,
as tensões da infância e da adolescência podem ser semelhantes, mas as situações
no qual se desenvolvem mudaram substancialmente. Com o período de latência a
criança adquire uma estrutura de caráter.


                    “O ego do período inicial da infância é sub-desenvolvido e indetermi-
                    nado, impressionável e sujeito às influências do id; no período pré-
                    puberal, pelo contrário ele se encontra rígido e firmemente consolida-
                    do. E ele conhece sua mente. O ego infantil era capaz de repentina-
                    mente revoltar-se contra o mundo exterior e se aliar com o id na ob-
                    tenção da gratificação instintiva mas, se o ego do adolescente faz isso,
                    ele se envolve num conflito com o superego. Suas relações firmemen-
                    te estabelecidas com o id por um lado e com o superego pelo outro –
                    que nós chamaremos de caráter – torna o ego inflexível. Ele só tem
                    um desejo: represar o caráter desenvolvido durante o período de la-
                    tência, re-estabelecer a relação primitiva entre suas próprias forças e
                    as do de responder às grandes urgências das demandas instintivas
                    com redobrado esforço de autodefesa.” (A. FREUD)
35



        Segundo ela os conflitos da infância são solucionados sob a influência ex-
terna, ou melhor sob a atitude orientadora dos pais quanto ao acerto ou ao erro das
atitudes. Na adolescência isso também ocorre, porém agora sob o julgo de dimen-
sões internas, de conceitos próprios, o que fará despertar nos indivíduos um profun-
do sentimento de culpa frente aos desejos proibidos. O equilíbrio destas forças de-
pende de diversas outras variáveis, tais como a força dos impulsos do id condiciona-
dos pelos processos fisiológicos durante a puberdade e a qualidade do caráter de-
senvolvido durante a latência que atuarão na repressão dos impulsos do id ou na
substituição deles por objetos socialmente desejáveis.


                     “O id, agora com força crescente, pode vencer o ego, e neste caso
                     não se manterá qualquer traço do caráter prévio do indivíduo, e sua
                     entrada na vida adulta será marcada por um excesso de gratificação
                     desinibida do instinto. Ou o ego pode ser vitorioso, e neste caso o ca-
                     ráter do indivíduo durante o período de latência se declarará para
                     sempre. Quando isto ocorre, os impulsos do id do adolescente se
                     confinam dentro dos limites já prescritos para a vida instintiva da cri-
                     ança.” (A. FREUD)

        Uma vez que os fatores que determinam estes ajustamentos são principal-
mente uma questão de experiências anteriores a adolescência, aqui, passa a repre-
sentar um mero campo de batalha e, por isso passa a ter um papel secundário na
formação da personalidade adulta.
        Outro aspecto que diferencia a adolescência da infância são os mecanismos
de defesa que o adolescente desenvolve para conter a ação dos impulsos do id. O
ascetismo adolescente aparece como um mecanismo inusual de defesa do ego para
conter o id. (GALLATIN, 1978)

                     Os jovens que passam por esse tipo de fase ascética que eu tenho
                     em mente, parecem ter medo mais da quantidade do que da qualida-
                     de de seus instintos. Eles suspeitam dos divertimentos em geral e
                     assim sua segurança parece resultar simplesmente da contraposição
                     de seus desejos mais presentes, por meio das mais severas proibi-
                     ções. Toda vez que o instinto diz “Eu quero”, o ego retruca “Tu não
                     deves”, mas ou menos como nas restrições paternas, quando do
                     treinamento da criancinha. Esta desconfiança do instinto do adoles-
                     cente tem uma perigosa tendência a se difundir; ela começa com os
                     desejos instintivos propriamente ditos e se estende às necessidades
                     físicas comuns. Todos nós já encontramos jovens que renunciam se-
                     veramente a qualquer impulso que possa ser sensual e que evitam a
                     sociedade das pessoas de sua própria idade, não querendo partici-
                     par de qualquer diversão e, de uma forma verdadeiramente puritana,
                     recusam qualquer ligação com o teatro, a música ou a dança. Nós
36



                     podemos entender que há uma ligação entre a renúncia de roupas
                     bonitas e atraentes e a proibição da sexualidade. Mas nós começa-
                     mos a nos inquietar quando a renúncia se estende a coisas que são
                     inofensivas e necessárias, como p. ex., quando um jovem se recusa
                     a usar a mais simples proteção contra o frio, mortifica seu corpo de
                     todas as formas possíveis e expõe sua saúde a riscos desnecessá-
                     rios, quando ele não só não se permite tipos específicos de prazer
                     oral, mas também, “por princípio” reduz sua alimentação diária a um
                     mínimo, quando reluta em sorrir ou rir, ou quando, em casos extre-
                     mos, ele adia o defecar ou o urinar tanto quanto possível, a fim de
                     não satisfazer imediatamente a todas as suas necessidades físicas.”
                     ( A. FREUD)


        Anna Freud enunciou uma explicação para tal ascetismo. O id que agora se
faz mais impertinente que na infância, requer o uso de medidas defensivas inusuais,
ao passo que na infância estas medidas eram comuns. O ascetismo aqui funciona
como um abandono de todos os prazeres, uma certa indulgência, não simplesmente
como um treinamento social mas até certo ponto como uma herança filogênica, ou
seja, se historicamente a humanidade teve que se precaver de tais impulsos, ela
própria, misteriosamente incutiu esta situação nas futuras formações genéticas. (
GALLATI, 1978)
        Outro mecanismo de defesa desenvolvido pela adolescência é a intelectua-
lização. Ana Freud vai descrever este evento como uma atitude protetora do ego
para controlar os impulsos do id. Neste caso a relação conflituosa da infância será o
da fase édipica. Há um florescimento da inteligência que estará a serviço dos inte-
resses da defesa. A luta interna do adolescente, assim, poderá ser canalizada para
a evocação de argumentos abstratos, como p. ex., quando um jovem se vê atormen-
tado pela hostilidade do pai e passa a condenar, em discurso, toda e qualquer tipo
de tirania de autoridade. Para A. Freud a sexualidade é o motivo de toda a curiosi-
dade intelectual.
        Por fim trataremos do amor adolescente e a relação de tempestade e tor-
menta, segundo a interpretação psicanalítica de Anna Freud. Como filha do criador
da Psicanálise, argumenta, que este período é marcado por amizades e amores
passionais, às vezes tão consumidores e em outras tão breves. Os adolescentes
segundo A. Freud, são muito volúveis em função da necessidade de ajustamento e
de controle da recapitulação da sexualidade infantil. Os jovens pressentindo o perigo
de tais desejos procuram se afastar de seus pais, vivendo praticamente como um
estranho dentro de sua residência. A perda deste tão duradouro objeto de amor, de-
37



verá ocasionar um profundo vazio interior, que poderá ser substituído por romances
intempestivos ou por episódios de adoração de heróis. (GALLATIN, 1978)
        Anna Freud não considerava que a adolescência fosse um período total-
mente desprovido de significado, pelo contrário, para ela a tempestade e tormenta
era inteiramente desejável. O indivíduo necessita destes transtornos para que possa
entrar na idade adulta de uma forma genuinamente madura.
38



                           6 CONSIDERAÇÕES FINAIS




        Dentro das metas propostas pela pesquisa a qual teve como objetivo falar
da adolescência, de uma forma generalista, entretanto enfatizando o papel da se-
xualidade e do desenvolvimento das fases da sexualidade do adolescente, enquanto
momento de transformações, angústias e tormentas, somos apontados a fazer al-
gumas considerações.
        Ainda que haja divergências acerca do desenvolvimento da personalidade
por parte de pensadores, é certo que não é fácil para o adolescente passar por este
período a que chamamos de adolescência/puberdade. Bombardeado por alterações
hormonais que reclamam uma demanda, principalmente na esfera sexual, é ao
mesmo tempo, impedido de exercê-la em sua plenitude, porque alvo de proibição e
recriminação por parte dos adultos, descarregando quase sempre seu alvo libidinal
através da masturbação, que para o adolescente representa um misto de permitido e
bom e proibido e mau.
        Para S. Freud a adolescência representaria tão somente uma recapitulação
dos eventos ocorridos na infância, entretanto para Anna Freud a adolescência re-
presentaria muito mais do que isto, uma vez que nem as lutas, nem as estratégias
de defesa são as mesmas da infância em virtude de que as situações no qual se
desenvolvem mudaram substancialmente. Agora o adolescente pensa por si só,
questiona, experimenta, porque possui um ego mais consolidado, apesar que ainda,
se conflitua com o superego.
        Deixei de analisar as obras de Melanie Klein, que tão bem discorre sobre a
infância e adolescência, pela urgência e adiantado do tempo, que me impediram de
fazer uma leitura mais acurada das suas obras, muito embora, o meu objetivo tenha
sido, falar tão somente da adolescência e de sua sexualidade e o que isto represen-
ta no processo de socialização e convivência no mundo dos adultos.
        Por certo que o tema não está acabado, uma vez que é grande o número de
pensadores e pesquisadores que debruçaram-se sobre o assunto e produziram uma
gama de obras, que comportaria um tempo maior de estudo e pesquisa, mais espe-
ro, ter contribuído para sintetizar algum material que possa ajudar a quem se dedica
ao tema.
39



                               BIBLIOGRAFIA




ABERASTURY, ARMINDA. Psicanálise da Criança. Teoria e Técnica. Porto Ale-
gre: Artmed, 1992.

CARVALHO, UYRATAN. Psicanálise I. SPOB, 2000.

FENICHEL, OTTO. Teoria Psicanalítica das Neuroses. Fundamentos e Bases da
Doutrina Psicanalítica. São Paulo: Atheneu, 2001.

FREUD, SIGMUND. Três ensaios sobre a sexualidade. Obras Completas eletrôni-
cas. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

GALLATIN, JUDITH ESTALLE. Adolescência e Individualidade. Uma abordagem
conceitual da psicologia da adolescência. São Paulo: Harper & Row do Brasil
Ltda, 1978.

HORACIO, R. Fundamentos da Técnica Psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, 1989.


KAPLAN & SADOCK. Compêndio de Psiquiatria. Ciências do Comportamento e
Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artmed, 1997.

LAPLANCHE E PONTALIS. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fon-
tes, 2001.

MULLAHY, PATRICK. Édipo, mito e complexo – Uma crítica da teoria psicanalí-
tica. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.

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Monografia do curso de teoria da psicanálise3

  • 1. SOCIEDADE UNIVERSITÁRIA REDENTOR FACULDADE REDENTOR PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA DA PSICANÁLISE IVANILDO FELIX DE LIMA ADOLESCÊNCIA X SEXUALIDADE X PSICANÁLISE: UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA ITAPERUNA-RJ 2004
  • 2. IVANILDO FELIX DE LIMA ADOLESCÊNCIA X SEXUALIDADE X PSICANÁLISE: UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA Área de concentração: Psicanálise Infantil Monografia apresentada a Faculdade Redentor, como parte das exigências para a conclusão do Curso de Especialização em Teoria da Psicanáli- se. Orientadora: Profa. Francisca Lopes das N. Ca- listrato ITAPERUNA-RJ 2004
  • 3. IVANILDO FELIX DE LIMA “ADOLESCÊNCIA X SEXUALIDADE X PSICANÁLISE” UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA Monografia aprovada como parte das exigências para a conclusão do Curso de Es- pecialização em Teoria da Psicanálise, pela seguinte banca: _____________________________________ Prof. Dr. _____________________________________ Prof. Dr. _____________________________________ Profa. Ms. Itaperuna-RJ, 14 de fevereiro de 2004.
  • 4. DEDICATÓRIA: Dedico o meu trabalho aos meus pais Luiz Felix de Li- ma (in memoriam) e Luiza Felix de Lima, que me pro- porcionaram a vida e me oportunizaram conhecer as maravilhas do conhecimento. A minha gratidão! A meus filhos Ivanildo Felix de Lima Filho e Sabrina Ma- ria Belarmino de Lima (esta chegando ao final do curso) que foram a razão que me impulsionou a terminar o curso. Vocês são a razão do meu viver.
  • 5. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus que me conservou a vida até o presente momento, íntegro, com saúde e com disposição de bem servir aos outros. Depois a minha esposa e companheira Severina Belarmino Neves de Lima (Minininha), que por vezes me acompanhou até Natal, me fazendo companhia na viagem, um tanto perigosa, pelo fato de noturna e também pelo apoio nos estudos, o meu obrigado! Aos meus companheiros de classe, que insistentemente lutaram para um curso de qualidade, enriquecendo meus conhecimentos nos debates, discussões e trabalhos. Vocês hão de ficar registrados na minha memória. A minha Psicanalista Pessoal Dra. Neide que soube me ouvir e a Psicanalis- ta Didata Dra. Francisca, que soube me apoiar, aconselhar, criticar, chamar atenção e me ensinar como uma boa mãe, minha eterna gratidão! Aos funcionários do Instituto de Educação e Cultura Dom Pedro II em Tan- gará-RN, que em alguns momentos se dispuseram a escutar minhas explanações sobre o conhecimento psicanalítico. Ao Sr. Dedé, Presidente da Associação dos Deficientes Físicos da Cidade de São Tomé-RN- ADEFIST, que me convidou para proferir a primeira palestra so- bre Psicanálise, em Encontro Regional dos deficientes físicos da região Potengi. Agradeço a Socorro Pereira e Mona Lisa que abriram as portas da Clínica Mentalis, em Santa Cruz-RN, para que pudesse trabalhar com pacientes pilotos. Os meus sinceros agradecimentos! A colaboradora Célia, que se dispôs a abrir a clínica, marcar e desmarcar sessões, enfim a dar todo apoio administrativo para o bom funcionamento da mes- ma, o meu obrigado.
  • 6. A todos os meus pacientes pilotos, que por questões éticas, não poderei mencionar seus nomes aqui. A todos os professores que transmitiram seus conhecimentos com a maior serenidade e sinceridade possível, a minha gratidão. Enfim a todos que direta ou indiretamente, foram companheiros e estiveram comigo em mais essa batalha. Vocês todos ficarão comigo!
  • 7. RESUMO Esta monografia trata sobre a adolescência, principalmente do papel que desempe- nha a sexualidade neste período, mostrando as transformações ocorridas na biolo- gia do mesmo, e como estas transformações físicas e hormonais desempenham pa- pel fundamental na formação da personalidade e da sexualidade do adolescente. Trata ainda, da adolescência como período de tempestade e tormenta, devido às inquietações próprias do momento, numa visão psicanalítica e principalmente numa abordagem de Anna Freud. Palavras Chave: Psicanálise – Adolescência – Sexualidade – Teoria da Sexualida- de – Freud – Anna Freud.
  • 8. ABSTRACT This monograph about adolescence, mainly of the role of sexuality in this period, showing the transformations in biology, and how these hormonal and physical trans- formations play key role in the formation of personality and adolescent sexuality. This is still, of adolescence as the period of storm and storm, due to the concerns of the time, in a vision and psychoanalytic approach primarily of Anna Freud. Keywords: Psychoanalysis – Teens – Sexuality – Theory of sexuality- Freud – Anna Freud.
  • 9. LISTA DE ILUSTRAÇÃO FIGURA 1 – EFEITOS DOS HORMÔNIOS SEXUAIS SOBRE O DESENVOLVI- MENTO DA PUBERDADE.
  • 10. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 10 2. O ADOLESCENTE: UMA VISÃO BIOLOGICISTA................................ 12 2.1. Adolescência..................................................................................... 12 2.1.1. Puberdade........................................................................................ 13 2.1.1.1. Idade de início da puberdade e alterações hormonais............ 13 2.1.1.2. Desenvolvimento puberal-sexual............................................... 14 2.2. O término da adolescência................................................................... 16 3. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA PERSONALIDADE................. 17 3.1. A formação da personalidade do adolescente..................................... 17 3.2. Desenvolvimento moral....................................................................... 18 4. ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE: UMA VISÃO PSICANALÍTICA. 20 4.1. Teoria da Sexualidade Infantil.............................................................. 20 4.1.1. Teoria Estrutural.............................................................................. 20 4.1.2. Fases do desenvolvimento da sexualidade.................................. 22 4.1.2.1. Fase oral........................................................................................ 22 4.1.2.2. Fase anal....................................................................................... 24 4.1.2.3. Fase fálica..................................................................................... 27 4.1.2.4. Período de latência....................................................................... 32 4.1.2. Teoria Topográfica.......................................................................... 33 5. ADOLESCÊNCIA: UMA NOÇÃO DE TEMPESTA DE E TORMENTA 34 5.1. Uma abordagem de Anna Freud...................................................... 34 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 38 BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 39
  • 11. 10 1 INTRODUÇÃO Falar da adolescência nos tempos atuais é uma tarefa muito difícil. É falar de sexualidade, drogas, violência e também das transformações físicas e biológicas, que permeiam a vida do adolescente. Entretanto, preferi falar da adolescência, en- quanto período de transição, de angústias e de conflitos. Por vezes mal compreen- dido, o adolescente passa por um duplo sentimento de rejeição e tormenta: seja no perceber as transformações ocorridas no seu corpo e no seu pensar, seja no não ser bem aceito pelos adultos, por seus pares e pela sociedade. Escolhi esta temática porque lido com jovens e na análise de pacientes pilo- tos, defrontei-me com vários jovens adolescentes, que passaram seus problemas, suas angústias e seus conflitos e pude perceber o sofrimento vivido pelos mesmos. No primeiro capítulo foi analisado o tema adolescência, conceituado o que é a adolescência, e suas transformações físicas e biológicas. Foi tratado da puberda- de, idade de início da puberdade e alterações hormonais, desenvolvimento puberal- sexual e o término da adolescência, produção de autores que escreveram sobre a temática: Kaplan e Sadock. O segundo capítulo expõe aspectos do desenvolvimento cognitivo da per- sonalidade, usando como referencial a obra de Judith Gallatin, mostrando vários pensamentos comparativos, seja na visão de Hall, Rosseau, Piaget e Erik Erikson. Discorre ainda sobre o desenvolvimento moral do adolescente. No terceiro capítulo expus uma visão psicanalítica do adolescente e sua sexualidade, enfatizando a Teoria da Sexualidade Infantil de S. Freud e as fases do desenvolvimento da sexualidade, como também uma resumida visão das tópicas, destacando-se o papel que as fases do desenvolvimento da sexualidade exerce so- bre o desenvolvimento do adolescente. Por fim numa visão de Anna Freud, analisamos a adolescência enquanto momento de profundas transformações, uma vez que as forças da libido reprimidas ou adormecidas na latência voltam a tona, com força total, sempre como um refe- rencial dos conflitos das fases iniciais. Por ser um período de passagem, de desco- berta, principalmente da sexualidade e de ajustamento, os adolescentes enfrentam
  • 12. 11 uma tempestade de angústia, que os deixam vulneráveis, longe dos pais, da família, como se alheios fosse.
  • 13. 12 2 O ADOLESCENTE: UMA VISÃO BIOLOGICISTA 2.1 – ADOLESCÊNCIA A adolescência, um estágio de início e duração variáveis, é o período situa- do entre a infância e a idade adulta. Caracteriza-se por profundas alterações do de- senvolvimento biológico, psicológico e social. O início biológico da adolescência é marcado pela rápida aceleração do crescimento esquelético e primórdios do desen- volvimento sexual; o início psicológico se caracteriza por uma aceleração do desen- volvimento cognitivo e uma consolidação da formação da personalidade; socialmen- te, a adolescência é um período de preparo intensivo para a idade adulta jovem, que vem a seguir.(KAPLAN & SADOCK, 1997) Em muitas culturas, o início da adolescência é claramente assinalado por ritos de passagem que, em geral, envolvem testes de força e coragem. Nas socie- dades tecnologicamente avançadas, entretanto, o final da meninice e os requisitos para a idade adulta não estão claramente definidos. Em tais circunstâncias, o ado- lescente passa por um conflito mais prolongado e, às vezes, confuso, para atingir uma situação de adulto independente. A adolescência, geralmente é dividida em três períodos: 1) inicial(dos 11 aos 14 anos); 2)intermediária (dos 14 aos 17 anos); e 3) tardia (dos 17 aos 20 anos). Entretanto, essas divisões são arbitrárias: o crescimento e o desenvolvimento ocor- rem ao longo de uma linha de continuidade que varia de pessoa para pessoa. Deve- se distinguir entre a puberdade, que é um processo de mudança física, caracterizado pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias, e a adolescência que é, em grande parte, um processo psicológico de mudança. Entretanto, os processos são sincronizados, quando não simultâneos. Como acontece muitas vezes, o ado- lescente precisa dar conta deste desequilíbrio e o estresse adicional. (KAPLAN & SADOCK, 1997)
  • 14. 13 2.1.1. Puberdade O início da puberdade é ativado pela maturação do eixo hipotalâmico- hipofisário-adrenal-gonadal, levando à secreção dos esteróides sexuais. Esta ativi- dade hormonal produz as manifestações da puberdade. Tradicionalmente categori- zadas como características sexuais primárias e secundárias. As características pri- márias são aquelas diretamente envolvidas no coito e na reprodução, a saber, ór- gãos reprodutores e genitália externa. As características secundárias incluem o de- senvolvimento dos seios e alargamento dos quadris, nas mulheres, e o crescimento de pelos faciais e mudança no tom de voz, nos homens. Em ambos os sexos, a mai- oria dos níveis hormonais adultos é atingida em torno dos 16 anos, mas as garotas começam a puberdade, em média, aos 11 anos, e os meninos aos 13 anos. Os au- mentos característicos de peso e altura também ocorrem mais cedo nas meninas do que nos meninos, de modo que aos 12 anos, as meninas são mais altas e pesadas do que os meninos. Crescimento precoce ou retardado, acne, obesidade e aumento das glându- las mamárias em meninos, e seios pequenos ou grandes demais em meninas, são alguns desvios dos padrões esperados do amadurecimento. (KAPLAN & SADOCK, 1997) 2.1.1.1. Idade de Início da Puberdade e alterações hormonais O início da puberdade varia, com as meninas ingressando na puberdade 12 a 18 meses antes dos meninos. A idade média é 11 anos para as meninas (com uma faixa etária dos 8 a 13) e 13 para os meninos (com uma faixa dos 10 a 14). Os hormônios sexuais aumentam lentamente durante toda a adolescência e correspondem às alterações corporais. O hormônio folículo-estimulante(FSH) e hor- mônio luteinizante (LH) também aumentam durante toda a adolescência, mas o LH freqüentemente está elevado acima dos valores adultos entre os 17 e os 18 anos. Os níveis de LH característicos do funcionamento adulto começam ao final da ado- lescência. Dos 16 aos 17 anos, um grande aumento parece ocorrer nos níveis mé-
  • 15. 14 dios de testosterona, que, então, diminuem, para estabilizarem-se em um nível adul- to. A testosterona é o hormônio responsável pela masculinização dos meninos, ao passo que o estradiol é o hormônio responsável pela feminização das garotas. Os dois hormônios também influenciam o funcionamento do sistema nervoso central, incluindo o humor e o comportamento. Níveis diminuídos de estrógeno podem estar associados com um humor deprimido (como ocorre no período pré-menstrual em algumas mulheres). Altos níveis de testosterona têm sido correlacionados com a- gressão e impulsividade em alguns homens. Em garotos adolescentes, os níveis de testosterona correlacionam-se com a libido e são manifestados por impulso sexual, masturbação e impulso para o coito. As garotas adolescentes também são influenci- adas pelos andrógenos, mas em grau muito menor do que os meninos. (KAPLAN & SADOCK, 1997) 2.1.1.2. Desenvolvimento puberal-sexual O impulso sexual é desencadeado por certos andrógenos, como a testoste- rona, que estão em níveis mais altos durante a adolescência do que em qualquer outro período da vida. Segundo William Masters e Virgínia Johnson, o pico do impul- so sexual masculino ocorre entre 17 e 18 anos de idade. O pré-adolescente descar- rega suas necessidades libidinais mais freqüentemente através da masturbação, um modo seguro de satisfazer os impulsos sexuais. Uma vez que as meninas ingressam na puberdade 2 anos mais cedo do que os meninos, podem começar a namorar e a ter intercurso sexual mais cedo do que seus pares do sexo oposto. Entretanto, as garotas desta idade são menos se- xualmente ativas do que os garotos. Estes são facilmente excitados por estímulos, e as ereções são freqüentes. Para as garotas, o impulso sexual está mais associado com outros sentimentos; elas tendem a ver o sexo e o amor como sentimentos rela- cionados, enquanto que os homens consideram o desejo e o amor sentimentos mais dissociáveis.(KAPLAN & SADOCK, 1997)
  • 16. 15 Na adolescência intermediária, o comportamento sexual e a experimentação com uma variedade de papéis sexuais são comuns. A masturbação ocorre como uma atividade normal, quase com a mesma intensidade nos dois sexos, neste perío- do; contudo, uma criação rigidamente religiosa pode engendrar fortes sentimentos de culpa. São comuns as paixões heterossexuais, freqüentemente com uma pessoa inatingível da mesma idade ou mais velha. Experiências homossexuais podem também ocorrer neste período, mas, geralmente, são temporárias. Muitos adolescentes precisam de garantias acerca da normalidade de uma experiência homossexual isolada e confirmação de que não se trata de um indício de uma orientação homossexual permanente. Para outros, uma orientação homossexual já se encontra predeterminada neste momento. Esses ado- lescentes (estima-se que compreendem entre 1 a 4% de todos os meninos adoles- centes e 0,5 a 2% de todas as meninas adolescentes) podem necessitar de aconse- lhamento, acerca de como lidar com sua orientação sexual. Embora muitos adolescentes experimentem o sexo em uma idade precoce, pesquisas recentes indicam que a idade média para o primeiro intercurso sexual em ambos os sexos é 16 anos. Uma década atrás, por exemplo, a idade média para o primeiro intercurso sexual era de 18 anos, e apenas 55% das mulheres haviam tido intercurso sexual nesta idade. Atualmente, 80% dos homens e 70% das mulheres já tiveram relações sexuais ao atingir 19 anos. (KAPLAN & SADOCK, 1997) O aparecimento da menarca é uma das alterações puberais nas meninas. A tendência atual é no sentido de uma menarca mais precoce do que no passado. Nos Estados Unidos da década de 20, a idade média para a menarca era de 14,5 anos, nos anos 80, ela caiu para os 13 anos. As atitudes culturais para com a menarca variam desde vê-la como uma maldição em um extremo, até encará-la como uma afirmação prazerosa da própria feminilidade, no outro extremo. A maioria das adolescentes não é informada sobre a menstruação por seus pais. Elas baseiam-se em informações das colegas, escola e meios de comunica- ção. A menarca pode ser atrasada por vários fatores: fraco estado nutricional, exer- cícios excessivos, treinamentos para maratonas e estresse psicológico. (KAPLAN & SADOCK, 1997)
  • 17. 16 2.2. O TÉRMINO DA ADOLESCÊNCIA O término da adolescência ocorre quando o indivíduo começa a assumir as tarefas da idade adulta jovem, que envolvem a escolha de uma profissão e o desen- volvimento de um senso de maturidade que leva, na maioria dos casos, a casar e ter filhos. Daniel Levinson descreveu uma transição na idade adulta precoce entre ado- lescência e idade adulta, na qual o jovem começa a sair de casa e a levar uma vida independente. Este período envolve um pico do desenvolvimento biológico, a assun- ção de novos papéis, que envolve as capacidades de aprendizado e atitudes neces- sárias para o bom desempenho desses papéis, e, por fim, a assunção de um self e estrutura de vida adulta. (KAPLAN & SADOCK, 1997) FIGURA 01 – EFEITOS DOS HORMÔNIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO NA PUBERDADE FONTE: COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA DE KAPLAN E SADOCK
  • 18. 17 3 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA PERSONALIDADE 3.1. A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE DO ADOLESCENTE Seguindo o esquema de Judith Gallatin, usarei como referencial dois auto- res que se dedicaram ao estudo da adolescência. O primeiro deles é G. Stanley Hall que, sob influência do evolucionismo Darwiniano de Harckel e do “pré-suposto” didá- tico de Rousseau, considerava o desenvolvimento da personalidade como uma re- capitulação do desenvolvimento das espécies. Hall formulou a teoria de que, durante os anos entre a infância e a maturidade sexual, a criança também repete a história das espécies, mas não toda a história, ao invés de repetir todo o processo da evolu- ção, a criança procedia em estágios cada um dos quais espelhando um estágio pri- mitivo. Observa que o nascimento do intelecto acompanha o nascimento da sensua- lidade. Enquanto na meninice o indivíduo se depara com as bases para a memoriza- ção e exercícios de rotina, na adolescência ele adquire verdadeiramente a capaci- dade de raciocinar. “São estas habilidades intelectuais que, em última instância, capaci- tarão o adolescente a tomar seu lugar na sociedade civilizada.” (GALLATIN, 1978) Quanto a Rousseau, ele assimilou a idéia de que, durante a meninice, o in- telecto é, a grosso modo, semelhante ao de um selvagem e que, neste período a criança ainda não possui a capacidade de captar princípios geométricos, assim co- mo os significados abstratos do tipo “justiça” e “liberdade”. Entretanto quando bem talhado e utilizado, pode levar o jovem além de seus antecedentes animais. (GAL- LATIN, 1978) Já segundo Piaget, no início da adolescência, o pensamento torna-se abs- trato, conceitual e orientado para o futuro: ele chamou esta etapa de estágio das o- perações formais. Neste momento, muitos adolescentes exibem uma notável criati- vidade, que expressam em textos, música, arte e poesia. A criatividade também é expressada nos esportes e nos interesses do adolescente pelo mundo das idéias – questões humanitárias, morais, éticas e religiosas. A manutenção de um diário é um escape criativo comum durante este período.
  • 19. 18 De acordo com Erik Erikson, a principal tarefa da adolescência é adquirir a identidade do ego, que ele definiu como a consciência de quem se é e para onde se está indo. Erikson descreveu a luta normal da adolescência como identidade contra confusão de papéis. Identidade é um senso seguro de si mesmo. Confusão, também chamada de difusão de identidade, é um fracasso em desenvolver um self ou cons- ciência coesa de si mesmo. Parte da resolução da crise de identidade diz respeito a deixar de ser uma pessoa dependente para tornar-se independente. As lutas iniciais freqüentemente giram em torno dos conceitos estabelecidos de papéis sexuais e identificação com o gênero. (KAPLAN & SADOCK, 1997) 3.2. DESENVOLVIMENTO MORAL Um senso bem definido de moralidade é uma importante conquista, para a maioria das pessoas no estágio da adolescência tardia e idade adulta. A moralidade é definida como uma conformidade a padrões compartilhados, direitos e deveres. Existe, entretanto a possibilidade de conflito entre dois critérios socialmente aceitos, e a pessoa aprende a fazer julgamentos com base em um senso individualizado de consciência. Há uma obrigação moral de obedecer a regras estabelecidas, mas, a- penas, até onde servem aos fins humanos. Este estágio de desenvolvimento interna- liza os princípios éticos e o controle da conduta. Piaget via o desenvolvimento da moralidade como um processo lento, em conjugação com os estágios do desenvolvimento cognitivo. No estágio pré- operatório, a criança simplesmente obedece a regras estabelecidas pelos pais; no estágio das operações concretas, as regras são aceitas pela criança, mas existe uma incapacidade de permitir exceções; no estágio das operações formais, as re- gras são reconhecidas em termos do que é bom para a sociedade em geral. La- wrence Kohlberg integrou os conceitos de Piaget e descreveu três níveis principais de moralidade. O primeiro nível é o da moralidade pré-convencional, no qual a puni- ção e a obediência aos pais são os fatores determinantes; o segundo nível é o da moralidade da conformidade ao papel convencional, no qual a criança tenta confor- mar-se com o fim de obter aprovação e manter boas relações com os outros; o ter-
  • 20. 19 ceiro e o mais alto nível é o da moralidade dos princípios morais auto-aceitos, no qual existe uma obediência voluntária às regras, com base em uma noção de princí- pios éticos e no qual podem ser feitas exceções às regras, sob certas circunstâncias. (KAPLAN & SADOCK,1997)
  • 21. 20 4 ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE: UMA VISÃO PSICANALÍTICA 4.1. TEORIA DA SEXUALIDADE INFANTIL 4.1.1. – Teoria Estrutural Na verdade considerar, pura e simplesmente, a teoria da sexualidade infantil seria uma tarefa difícil, já que o próprio Freud, no decorrer de sua vida, deixou em aberto aspectos que paulatinamente foram recebendo acréscimos. O que podemos vislumbrar atualmente, na bibliografia são três sistemas teóricos que se inter- relacionam. O primeiro que trata dos três estágios significativos do desenvolvimento da personalidade – a Teoria da Sexualidade – o segundo que trata do desenvolvi- mento constitutivos da personalidade – a Teoria Estrutural – e o terceiro que trata da descrição do funcionamento da mente – Teoria Topográfica. Para compreendermos os processos da dinâmica adolescente na teoria psi- canalítica, precisamos passar pela inter-relação desses três sistemas. Para Sigmund Freud “...longe de ser frágil, inocente, pura, imaculada e sem vícios, o recém-nascido humano, era uma criança assediada por desejos e necessi- dades imperiosas. Ele poderia ser frágil, mas não inocente, ao menos no sentido convencional da palavra...” (GALLATIN, 1978) A criança de Freud se apresenta cheia de desejos e necessidades que lhe são imperiosas e que exigem satisfação imediata. Para Freud a criança nos lustres de sua vida era invadida por um conjunto de impulsos, dados como possuidora de um reservatório básico com os quais o bebê vinha dotado ao nascimento e em últi- ma instância, fonte central de toda a vida que denominou pela abreviação teórica com derivação latina de ID. Com a emergência da vida e, também destes impulsos herdados, a criança torna-se escrava do princípio do prazer, já que a satisfação de suas necessidades têm que se dar de forma imediata e, sendo que, ela por si só, está impossibilitada, dependendo então diretamente de outros indivíduos, começa então aí o desenvolvi- mento da segunda estrutura de sua personalidade, isto é, quando a gratificação de seus impulsos não se dá de forma imediata, a criança passa por uma grande frustra- ção o que lhe provoca um sentimento de desproteção, ansiedade e dor o que decor-
  • 22. 21 rerá na necessidade de uma estrutura controladora do id. Freud denominou esta se- gunda estrutura, de EGO que em latim significa eu. O ego representará a parte ra- cional necessária ao indivíduo para amenizar a ação impulsiva do id. O ego consiste de: “Um conjunto de funções que os seres humanos desempenham para manter-se mais ou menos em contato com a realidade: percebendo acuradamente qualquer evento que ocorra, lembrando o que ocorreu no passado, pensando logicamente, agindo apropriadamente...” (GALLATIN, 1978) é claro que estas funções, durante os primeiros anos de vida é frágil, mas a relação de confronto entre as forças animais do id e as racionais do ego, possibilitarão a in- teração e o choque da criança com o mundo. E nessa relação conflituosa não há um domínio total do segundo sobre o primeiro como o próprio Freud antecipou: “A relação do ego com o id é fundamentalmente a de um cavaleiro e seu cavalo. Há pouca dúvida sobre qual deles é o mais razoável e sensível, mas é sempre possível que o cavaleiro fique excessiva- mente preocupado e distraído, a ponto do cabalo fugir-lhe das ré- deas”. (S. FREUD, 1969) A perda do controle permanece perpetuamente como uma ameaça e assim, a criança adquire uma outra agência para assistir o ego e lidar com o id, nasce as- sim uma terceira estrutura que Freud denominou de Superego. Freud considerava o aspecto desenvolvimental da personalidade dividido em etapas definidas, só que ao invés de considerá-las breves recapitulações dos estágios iniciais da história da evolução do homem (HALL) ele acreditava que cada uma delas era representada pela emergência de um aspecto diferente da sexualida- de humana. Se o Id é considerado como reservatório de impulsos involuntários, poderí- amos interrogar: Como se daria a procedência desses eventos? Freud teorizou que durante o desenvolvimento dos primeiros cinco ou seis anos de vida da criança três fases relacionadas a três aspectos distintos da sexualidade se dariam e se fixariam integrando-se à vida adulta. Para Freud estes eventos estariam ligados a questões basicamente biológicas, intrínsecas a existência do indivíduo.
  • 23. 22 4.1.2. Fases do desenvolvimento da sexualidade 4.1.2.1. Fase Oral A primeira fase, que Freud chamou de Fase Oral, se dará no período mais inicial da vida em torno do décimo oitavo mês. É muito comum ao observarmos uma criança pequena percebermos que tudo que lhe vem a mão, imediatamente é intro- duzido na boca. Segundo Freud, nessa fase, as energias da libido estão todas con- centradas nas atividades que envolvem a boca do bebê. Observando uma criança, poderíamos dizer que ela se interessa por alimentos em função de sua libido oral, mas não é bem assim, vez que, mesmo saciado, ela põe tudo o que alcança na bo- ca; suga sua própria língua; chupa os dedos e até os artelhos, parando de chorar quando lhe dão uma chupeta. Logo após nascer, mantém-se a criança inteiramente alheia ao mundo exterior, revelando suas sensações por meio de choro, sossego, risos e encontrando prazer apenas no seio materno ou no seu próprio corpo, sem saber ainda como localizar estes elementos. É por isso mesmo que o seio, que lhe causa tanto prazer, é entendido como parte do seu ego. É, também, por isso mesmo que dizemos que esta superposição seio-ego, que descreve uma ausência de obje- to, é a imagem perfeita do narcisismo. (UYRATAN, 2000). A seguir começa a criança a perceber que as repetidas experiências de alívio lhes foram fornecidas por meio do seio, o que é determinante para que ela possa entender que há algo fora dela, esta- belecendo uma diferença mais ou menos definida entre os mundos interno e exter- no. Como resultado do instinto de auto-preservação, o indivíduo é levado a contac- tos prazerosos com o mundo exterior e como resultado da união entre libido e o ego, estes instintos se tornam carregados de energia sexual desde o princípio, devendo vir a se dirigir ao mundo exterior em busca de gratificação. O fato, porém, é que co- mo para a criança pequena ainda não existe uma separação muito bem definida en- tre ela mesma e o mundo exterior, a libido permanece ligada ao ego. Entretanto chega o momento em que ela se dá conta que nem sempre lhe é oferecido o seio em caso de desconforto: é o contacto com a privação, com que ela acaba se familia- rizando, levando-a a reter a libido, que produz sensações de tensão e de desprazer, que a levam a deixar a posição narcisista e dirigir-se a um objeto no mundo exterior, premido pela necessidade de alimento. Aí começa algo interessante: tendo-se em
  • 24. 23 vista que nem toda a quantidade de libido armazenada no ego, poderá se satisfazer com os alimentos, a libido excedente passa a se tornar independente das satisfa- ções com a nutrição. Começa, então, o desenvolvimento de outras necessidades libidinais: o tocar, o ver, o ouvir a mãe, o que representa um “deslocamento” da libido em relação ao ego, determinando uma desassociação da libido com a alimentação. É quando a criança, já muscularmente mais desenvolvida, pega objetos. Mas ela continua a sugar tudo o que pode, mas quando lhe aparecem os dentes, ela morde e machuca o seio, quadro que descrevemos como uma tendência à incorporação por devorá-lo. Na fase oral, este momento é chamado de “canibalística”. Mas isto logo se atenua, porquanto a vontade de devorar passa apenas a ser esboçada. (UYRA- TAN, 2000). A relação entre a boca e o impulso sexual fica mais evidente se imaginar- mos que entre os adultos, a boca é um instrumento erógeno, os adultos se beijam e usam a boca como objeto de captação e doação de prazer. (GALLATIN, 1978). A “introjeção oral” é, do mesmo passo o executivo da “identificação primá- ria”. As idéias de que se come um objeto ou de que por ele se é comido vêm a ser os modos pelos quais se pensa, inconscientemente, em qualquer reunião objetal. A comunhão mágica que consiste em “transformar-se na mesma substância”, ou co- mendo o mesmo alimento, ou misturando os sangues respectivos, bem como a crença mágica de que nos tornamos semelhantes ao objeto que comemos baseiam- se no mesmo fato. (GALLATIN, 1978) Como este período, segundo Freud, é um período de vulnerabilidade e de- pendência, qualquer distúrbio neste momento poderá acarretar situações semelhan- tes na idade adulta, daí a ligação que se faz, em termos psicanalíticos, da oralidade com o estado de dependência. Algumas manifestações de neuroses orais são: beber e comer em excesso, problemas da linguagem e fala, agressão com palavras – correspondente ao morder - xingamentos, gozações, escrúpulos exagerados para não “incomodar”, desejo in- consciente de se instalar e desalojar todas as pessoas, incapacidade de aceitar fa- vores e receber presentes. O afã de saber, o estudo de idiomas, o cantar, a oratória, a declamação, são exemplos de sublimação das tendências orais.
  • 25. 24 4.1.2.2. Fase Anal A segunda fase descrita por Freud é denominada de anal. Aqui os impulsos da libido se deslocam das relações orais para centrarem-se na região anal. Segundo ele este deslocamento se dá preferencialmente seguindo as características biológi- cas, mas deve-se considerar que as relações de socialização que frustram a fase oral, a exemplo da repressão da mãe quanto ao fato de a criança executar a sucção dos dedos, podem encaminhar a energia para outro objeto. Embora o prazer anal se ache presente desde o início da vida, é no segundo ano que a zona erógena-anal parece tornar-se o executivo principal de toda excitação, a qual, então onde quer que se origine, tende a descarregar-se pela defecação. É a fase em que a libido se concentra na região anal, que se torna uma área carregada de emoção agradável, sendo que em primeiro lugar está a satisfação física do “vazio” que sentimos após a saída das fezes, o esvaziar o intestino e em seguida na satisfação mental que a cri- ança sente na execução desta função para os seus pais. Essa região compreende a junção da pele e a membrana mucosa anu-retal. As junções de pele e mucosas do corpo são sensíveis e ao receberem suave estimulação, produzem sentimentos de prazer. O objetivo primário do erotismo anal, certamente, é o gozo de sensações prazerosas na excreção. A estimulação da mucosa retal pode aumentar com a re- tenção anal, exemplificando bem as combinações de prazer erógeno e a segurança contra a ansiedade. O medo da excreção originalmente prazerosa leva à retenção e à descoberta do prazer que esta última produz. A possibilidade de realizar estimula- ção mais intensa da mucosa – além de sensação mais intensa pelo aumento da ten- são de retenção – é responsável pelo prazer tensional, que é maior no erotismo anal do que em qualquer outro. (FREUD, 1969). Aqueles que, nas suas satisfações, pro- curam prolongar o pré-prazer e estender o prazer final são sempre, latentemente, eróticos anais. Freud argumenta: “Há algo intrínseco a criança que a torna especialmente interessada em suas funções de eliminação, por volta da idade de um ano e meio ou mais”. ( FREUD, 1969) Nesta fase percebemos a agressividade, que nada tem a ver com o sadismo da fase anal. É no transcurso do surgimento e da instalação da agressividade, que a
  • 26. 25 zona anal se torna muito ativa e a criança passa a obter prazer pela estimulação da membrana mucosa retal e das partes imediatamente adjacentes, passando a ser a função do ânus preponderantemente prazerosa, tanto quanto o era a entrada no tra- to digestivo. É quando começam as manobras de retenção das fezes, ou freqüentes evacuações, que estimulam a mucosa retal e a região glútea, o que resulta em pra- zer. A recusa de uma criança em defecar, é um modo de desafiar a autoridade parental e reafirmar que as fezes “são delas”, tendo um prazer adicional na sensa- ção em manter o reto cheio. Elas consideram que as fezes são parte integrante de si mesma, com as quais presenteia os pais e os adultos que a envolvem, sendo muito precioso, pois é dado de dentro do seu próprio corpo, do seu ser. O manuseio das fezes pela criança é proveniente desta fase, sendo reprovadas pelos pais como algo nojento, sujo. Apesar deste valor – indesejado – que é transmitido pelos pais para as crianças no seu consciente, para o inconsciente irá uma mensagem de repressão devido ao valor atribuido as fezes pela criança. (FREUD, 1969). É a fase do desenvolvimento da libido, em que a evacuação e a tendência à agressão se encontram saturadas de impulsos sexuais: é a fase denominada de sá- dico-anal, que chega até aos 2 ou 3 anos mais ou menos de idade. Esta fase, pela desimportância dos órgãos genitais, é chamada de pré-genital da organização da libido. Freud argumenta que existe uma ligação estrita entre a função de elimina- ção e a sexualidade. O exercício da socialização, novamente vai se instaurar, para que a criança aprenda a controlar suas funções que ele denomina de “Treinamento do Toalete”. Este treinamento poderá ser muito doloroso já que a criança não tem na sua forma- ção egoíca, argumentos que a possibilite entender tal treinamento, o que deverá propiciar uma relação de bloqueios ainda maior que na fase anterior. Estes bloquei- os poderão ser responsáveis por diversos reflexos na vida adulta. A excessiva de- terminação da mãe em relação ao asseio e a limpeza, poderão refletir na idade adul- ta numa personalidade anal, ou melhor, uma personalidade com uma fixação por tudo limpo, asseado e ordeiro. Onde ocorreu a fixação anal – neurose anal – mesmo que as fezes não possam ser acumuladas indefinidamente, o indivíduo acumulará o que de valor pu- der adquirir, entesourando, sem contudo, atingir o seu uso apropriado. Alguns casos
  • 27. 26 de neurose anal: o caso do avaro que junta dinheiro, o colecionador que compra quadros valiosos e não os exibe e nem mesmo os olha; dos indivíduos obssessivos, que insistem longo tempo e improdutivamente em tarefas não completadas; pontua- lidade exagerada; tendência ao uso de roupa íntima suja; sede de poder; prazer na descarga de uma linguagem chula. As crianças que foram obrigadas a defecar por meio de ordens, quando adultas apresentam acentuada tendência a terem seus pro- blemas solucionados por outras e tendem a realização de várias atividades simulta- neamente, que se manifesta numa obsessão à leitura durante a defecação. A origem e o caráter da conexão que existe entre impulsos anais e sádicos, a que se alude na expressão usada para designar o nível de organização – sadismo anal - são análogas à oralidade e sadismo: em parte, deve-se a influências frustrado- ras e, em parte, ao caráter dos objetivos de incorporação. Acresçam-se, contudo, dois fatores: em primeiro lugar, o fato de a eliminação ser, objetivamente, tão “des- trutiva” quanto a incorporação; o objeto do primeiro ato sádico-anal são as próprias fezes, cuja expulsão se percebe como uma espécie de ato sádico. Posteriormente, as pessoas são tratadas como já o foram as fezes; em segundo lugar, o fator de “poder social” que se envolve no controle dos enfíncteres; exercitando-se no asseio, a criança encontra oportunidade efetiva para exprimir oposição contra os adultos. Razões fisiológicas existem para a conexão de erotismo anal, de um lado, e de outro lado, ambivalência e bissexualidade. O erotismo anal faz que a criança trate um objeto, a saber, as fezes, de ma- neira contraditória: expele a matéria para fora do corpo e a retém como se fosse um objeto amado; aí está a raiz fisiológica da “ambivalência anal”. Por outro lado ainda, o reto é órgão oco excretório; órgão excretório que é, pode expelir ativamente algu- ma coisa; órgão oco, pode ser estimulado por um corpo estranho que penetre. As tendências masculinas derivam da primeira faculdade; as tendências femininas, da segunda; temos aí a raiz fisiológica da conexão existente entre erotismo anal e a “bissexualidade”. Quando a criança tem uma educação de higiene pessoal prematura, o indi- víduo posteriormente quando adulto poderá ter um comportamento hostil e rebelde. Porém em seu aspecto formal apresenta-se asseado, obediente, passivo e medroso. Quando o indivíduo tem uma educação de higiene tardia, tenderá a ser desasseado, desleixado e irresponsável. Quando tem uma educação no momento adequado, o
  • 28. 27 indivíduo terá inconscientemente um sentido normal de poder, e conseqüentemente uma atitude adequada diante da sujeira e da limpeza. Como sublimação das tendências da fase anal, ou seja, os desvios das pul- sões para fins aceitos pela cultura, temos as atividades de artes plásticas, que são transformações mais ostensivas do prazer infantil de brincar com as fezes. 4.1.2.3. Fase Fálica A fase fálica ou Fase edipiana, se dá segundo Freud por volta dos três a quatro anos de idade. É a fase precursora da forma final assumida pela vida sexual e que muito se assemelha a ela. Mais uma vez a energia da libido se desloca, agora para os órgãos sexuais. É quando o menino percebe que seu pênis lhe dá prazer e a menina de uma forma mais tímida descobre seu clitóris. Nesta fase a criança desco- bre o prazer da região genital, seja pelo contato do vento, ou da mão de quem reali- za sua higiene, ainda que inconsciente. Assim, os garotos passam a pegar com mais freqüência no pênis e as meninas no clitóris. O ego da criança de três a quatro anos é mais experiente, mais desenvolvido, mais integrado e, conseqüentemente, diferen- te sob muitos aspectos do ego da criança de um ou dois anos. Essas diferenças se evidenciam no aspecto do funcionamento do ego. Nessa idade a criança já não mais possui relações parciais de objeto, se seu desenvolvimento foi normal. Assim por exemplo, as diferentes partes do corpo da mãe, seus diferentes humores, e seus papéis contraditórios de mãe “boa” que satisfaz os desejos da criança e da mãe “má” que os frustra, são todos reconhecidos pela criança dessa idade como compondo um objeto único chamado mãe. No caso do menino, onde foi centrado o interesse do estudo de Freud, começam a apresentar certos sentimentos dele em relação a mãe, esses sentimentos provocam na criança uma disputa triangular, onde o pai é o rival e a mãe o objeto de prazer, originando assim o chamando complexo de Édipo, em referência ao mito grego que matou o pai e desposou a mãe. Esta relação de disputa é profundamente perturbadora e deverá transcorrer num período muito curto de tempo, já que a criança fantasia uma punição terrível de seu pai por causa de seus sentimentos pela sua mãe. Esta punição foi descrita por Freud como Complexo de Castração. O medo de alguma coisa acontecer a este
  • 29. 28 órgão sensível e prezado chama-se angústia de castração; medo que se atribui pa- pel tão significativo no desenvolvimento total do menino. A angústia de castração no menino do período fálico pode comparar-se ao medo de ser comido do período oral, ou ao medo de ser despojado do conteúdo corporal do período anal; é o medo reta- liatório do período fálico, que representa o clímax dos temores fantásticos de lesão corporal. Em última análise, pode-se rastrear a idéia de castração no antigo reflexo biológico da autonomia; menos profunda, porém, certamente, baseia-se ela na idéia retaliatória arcaica de Talião: o próprio órgão que pecou tem de ser punido. Vê-se entretanto, que o ambiente das crianças lhes reforça idéias fantásticas de punição, muitos adultos ainda ameaçam o menino de “cortar-lhes isto”, quando o surpreen- dem masturbando-se. Em geral, a ameaça é menos direta, mas há outros castigos que se sugerem, a sério ou brincando e a criança interpreta-os como ameaças de castração. Todavia, mesmo as experiências que, objetivamente, não contêm qual- quer ameaça podem ser falsamente interpretadas neste sentido pelo menino que tenha a consciência culpada; por exemplo, a experiência de que existem realmente criaturas sem pênis na observação dos genitais femininos. Há vezes em que uma observação desta ordem empresta caráter sério a uma ameaça anterior a que não se dera maior atenção; noutros casos, a realização da fase fálica basta, só ela, para ativar ameaças passadas que não haviam feito impressão excessivamente intensa durante os períodos pré-genitais. Também varia a natureza do perigo que se acredi- ta esteja ameaçando o pênis. Há quem pense estar o pênis ameaçado por um inimi- go masculino, ou seja por um instrumento penetrante, pontudo; ou por um inimigo feminino, isto é, instrumento que envolve, isso conforme se apresente o pai ou a mãe como a pessoa que mais ameaça; ou conforme as fantasias especiais que tem o menino no tocante ao contato sexual. Como o ego da criança é muito fraco para distinguir entre o que é fantasioso e o que é real, o pavor da punição forçará uma terceira estrutura que Freud vai chamar de Superego. O fato de os adultos ameaçarem ou brincarem de castração com tanta faci- lidade e animação constitui, certamente, expressão dos seus próprios complexos de castração; porque amedrontar os outros é meio ótimo de acalmar os próprios temo- res, donde resulta que os complexos de castração vão passando de geração em geração. Com os conflitos provocados pelo complexo de Édipo a criança se vê diante da necessidade de construir uma nova estrutura, partindo do pavor da punição, a
  • 30. 29 criança vai afastar o complexo de Édipo se igualando e se identificando com o pai. Mas qual seria a relação entre a identificação ao pai com a criação do superego? Freud argumenta que como a criança toma ciência de que jamais terá sua mãe em detrimento de seu pai, deverá, ela se assemelhar ao pai, seguindo o ditado popular “se você não pode com ele, junte-se a ele”. E ao se igualar ao pai, a criança começa a desenvolver os valores e padrões que lhe permitirão a socialização. O que lhe ga- rantirá não transgredir os ditames da sociedade, e mesmo se o fizer, deverá se arre- pender ou se auto criticar. Com o passar do tempo estes preceitos vão sendo incor- porados a sua própria personalidade, passando a ser o seu protetor interno ou a sua voz da consciência o que poderá ser comparada a necessidade que a criança tem de ser orientada pelo adulto, quanto ao que é certo e errado. É necessário argumen- tar que até agora fica evidente a canalização das preocupações para o desenvolvi- mento da personalidade do menino. Com a abordagem do Complexo de Édipo, esta situação é mais acentuada, já que o próprio Freud assumiu suas dificuldades de es- tabelecer um paralelo entre os meninos e meninas. Se o medo da castração é, no pensamento freudiano, o grande responsável pela formação do superego, como fica então a formação desta estrutura entre as meninas, que não passam por este está- gio fantasioso? Freud afirma que na menina a formação do superego se dá de forma mais tímida, e além de estar associada ao que ele chamou de inveja do pênis. Em um determinado momento a menina descobre a diferença existente entre ela e o sexo oposto, isto faz com que a culpa da diferença recaia sobre sua mãe. Ela passa- rá então a desejar ter um filho com seu pai, para suprir esta falta, este conflito, a e- xemplo do menino, tem um pequeno período de duração, e por ver que será impos- sível sua fantasia, ela encaminhará para a construção do superego. Nem mesmo Freud ficou muito convicto desta formulação. (GALLATIN, 1978) Nos casos, porém, em que se desenvolveram certas fixações, operam for- ças que resistem a deslocamento desta ordem, de modo que, por exemplo, as fixa- ções pré-genitais dos neuróticos obstam a concentração genital progressiva da exci- tação durante o ato sexual. O prazer se encontra basicamente nessas regiões, onde permanecerá, embora haja na garota um deslocamento, diríamos parcial, para a va- gina e na puberdade para o clitóris-vaginal. Nenhuma catexia libidinal forte será ja- mais completamente abandonada. É possível que grande parte da libido flua para outros objetos, porém, pelo menos certa quantidade permanece ligada ao objeto de origem.
  • 31. 30 É nesta fase que desperta nas crianças de ambos os sexos o desejo de ver os genitais umas das outras, bem como mostrar os seus, incluindo neste ato de curi- osidade e exibicionismo outras partes do corpo e também outras funções corporais. A masturbação, ou seja a estimulação dos genitais próprios para obtenção do prazer sexual é normal na infância; nas condições culturais atuais, também é normal na adolescência e até na idade adulta como substituto, quando não se dis- põe de objeto sexual. Se um indivíduo cujas atividades sexuais são bloqueadas por circunstâncias exteriores se recusa a usar deste expediente, a análise sempre revela medo inconsciente ou sentimento de culpa na raiz da inibição. Os pacientes que não se masturbaram na adolescência também revelam haverem sido seus desejos sexu- ais esmagados em alto grau pelo medo e por sentimentos de culpa, caso em que o prognóstico é mau, resultando, em geral, de repressão especialmente profunda da masturbação infantil. A excessiva identificação com o genitor do sexo oposto pode estar associa- da ao desenvolvimento de características de inversão sexual no menino, ou mesmo nas meninas. O medo do genitor do sexo oposto, pode prejudicar a capacidade indi- vidual de lidar com pessoas deste sexo em fase ulterior da vida. Um estágio edipiano parcialmente solucionado pode resultar num superego mal formado ou mesmo defi- ciente, o qual pode vir a ser determinante de alterações sociopáticas do caráter e das neuroses. O acesso ao período edipiano com conflitos na fase oral, anal, ou fálica, que são do período pré-edipiano, trazendo para período novo, alguém sem energia sufi- ciente para enfrentar as novas circunstâncias. A ausência de um dos genitores – sem também haver um substituto a altura – devido a divórcio ou qualquer outro tipo de separação, são causas de uma solução não satisfatória deste estágio. Meninos ou pessoas com uma neurose com medo de castração podem de- senvolver fantasias de que o pênis lhe voasse do corpo, micróbios devorando o pê- nis, sonhos com calvície, cortar cabelos, extração ou queda de dentes, decapitação. O medo preventivo da castração pode ser representado em um sonho como uma lagartixa – que perde o rabo e cresce novamente – ou quando um símbolo fálico pe- niano aparece mutilado. Há indivíduos com fixações orais que temem lhes seja o pênis arrancado a mordidas, de onde resultam idéias confusas, compostas de ele- mento tanto orais quanto genitais. Existem homens que têm medo obsessivo consci- ente de terem o pênis pequeno demais, cujo resultado foi alguma observação im-
  • 32. 31 pressionante, na infância, do tamanho do pênis de outrem, quando o deles era real- mente pequeno. Nos meninos a “feminilidade” nem sempre significa “acho que já estou castrado”, mas, pelo contrário, uma evolução para a feminilidade – que repre- senta desvio do uso ativo do pênis – muitas vezes se tenta como tranqüilização con- tra castração futura possível: “Se proceder como se já não tivesse pênis, não o cor- tarão”, ou até “Se não há meio algum de evitar a castração, prefiro praticá-la ativa- mente na previsão a poder acontecer, e pelo menos terei a vantagem de ficar nas boas graças de quem me ameaça...” A intensidade da “angústia de castração” à va- lorização intensa do órgão durante a fase fálica, valoração esta que faz o menino decidir em benefício da desistência da função. Um adulto perguntará: “Para que serve um órgão, quando me proíbem de usá-lo?”. No período fálico, contudo os fato- res narcisísticos contrabalançam os sexuais, de modo que a posse do pênis vem a ser o objetivo principal. Segundo Freud, o menino desta idade ainda não toma posse de um pênis como questão de determinação sexual; diferencia não em função de homem e mulher, mas em função de portador de pênis e castrado. Quando obrigado a aceitar existência de pessoas sem pênis, fica presumido que elas um dia tiveram o órgão, mas o perderam. Os analistas, que tem confirmado os achados desta ordem, cogitam que este modo de pensar talvez resulte de repressão anterior. Talvez que o menino tenha razão mais primária de temer os genitais femininos do que o medo de castração – angústias orais de uma vagina dentada – (FENICHEL, 1972), significan- do temor retaliatório de impulsos sádicos-orais; daí tentar negar-lhes a existência. A idéia de que as meninas tiveram um pênis, mas de que este lhes foi cor- tado representaria tentativa no sentido desta negação. Certo é que vem, ao mesmo tempo, a angústia: Isto pode acontecer também comigo”, com a vantagem, porém, de que se nega a existência primária dos temidos genitais femininos. Não se tem a impressão, contudo, de que os meninos se consolem, de qualquer modo, por saber que certas criaturas tiveram o pênis cortado; pelo contrário, esta idéia afigura-se muito assustadora. De mais a mais, parece natural que o menino presuma, enquanto não lhe ensinam o contrário, que todas as pessoas sejam construídas tal qual ele o é, de modo que esta presunção não se baseia, necessariamente no medo; mas sim, a idéia de que a presunção é incorreta é que cria o medo. Jung, contemporâneo e discípulo dissidente de Freud, argumentará mais tarde que independentemente do sexo, a mãe é o primeiro objeto de amor, porém
  • 33. 32 sem qualquer significado sexual imediato, já que para ele, a mãe representa confor- to, afeto e proteção para o seu filho. 4.1.2.4. Período de Latência Para a Psicanálise, este período decorre entre a resolução do complexo de Édipo e o atingimento da puberdade. Sabemos que Freud não deu muita importân- cia a adolescência por acreditar ser apenas uma recapitulação dos eventos ocorri- dos na infância, mas acreditava que a latência era primordial para a fixação de um superego forte e bem determinado. “...um conjunto de padrões morais que a tornavam menos dependen- te das autoridades adultas no que concerne aos julgamentos do que é certo ou errado.”(FREUD, 1969) Para Anna Freud, a responsável por uma abordagem mais específica, a la- tência tinha como característica a “imutabilidade do id e a mutabilidade do ego”. “A única esperança da humanidade, o único atributo que pode elevar o homem acima dos animais é permitir-lhe um melhor controle sobre seus impulsos, é sua própria racionalidade e é, portanto, este aspec- to egoíco que deve ser fortalecido durante a meninice”.(GALLATIN, 1978) Freud compara a latência a um rio represado, onde a presença de qualquer abalo poderá liberar a represa e o indivíduo será torrenciado por seus impulsos re- presados. Perturbações sexuais muitíssimo acentuadas, ocorrendo no período de la- tência, realmente ultrapassam a normalidade, que é aquele em que a criança, desin- teressada pela sexualidade, precisa viver num ambiente que lhe assegure repouso nesta área. Quando isso não é assim, tornando-se ela alvo de contínuos estímulos, vai acontecer que ela não poderá manter os seus desejos sob controle, em função da imaturidade do seu Ego, mas mesmo assim, não se pode afirmar que se instalará um quadro de neurose, vez que o seu desenvolvimento sexual poderá ser recom- posto no transcurso da puberdade. (UYRATAN, 2000).
  • 34. 33 4.1.1.2. Teoria Topográfica Para entendermos o conjunto inter-relacionado que Freud propôs, precisa- mos fazer uma breve exposição da teoria topográfica. Perguntamos: Para onde teria ido todos os impulsos repreensíveis e todas as fantasias assustadoras? Para enten- der estas questões Freud usou a sua vasta experiência clínica. Já com os experi- mentos de Charcot, ele pode identificar que deveria existir um conjunto de imagens que as pessoas ou lembravam vagamente ou nada lembravam em estado de vigília. Estas imagens e lembranças foram colocadas a parte da consciência por represen- tarem perigos a socialização, chamando-a de inconsciente. Freud chamou de re- pressão a técnica mais simples encontrada pelo ego de defender-se do id. Outra forma encontrada pelo ego, nesta batalha foi o que Freud chamou de Forma Reati- va, onde o indivíduo se lembra de apenas uma versão do evento reprimido, guarda- do no pré-consciente. Essas e outras defesas, poderão a qualquer momento se revelar de outra maneira, como por exemplo a menina que reprimira a sua noção de sexualidade e expressa todo o erotismo em suas vestimentas provocantes e sensu- ais. Aquele executivo que mantém uma vida promíscua durante parte de sua vida e ao mesmo tempo torna-se um defensor ardoroso do moralismo.
  • 35. 34 5 ADOLESCÊNCIA: UMA NOÇÃO DE TEMPESTADE E TORMENTA 5.1. UMA ABORDAGEM DE ANNA FREUD Para Anna Freud a adolescência, apesar de ser uma recapitulação dos es- tágios da infância, se dará de forma que os conflitos do passado e, especialmente o Complexo de Édipo voltarão com força total a pressionar as formas racionais desen- volvidas durante o período de latência. A. Freud acreditava que os impulsos do id adormecidos na latência, em função das mudanças hormonais e fisiológicas sofre um aumento em sua força. Os conflitos Orais, por exemplo, poderão reaparecer na forma de uma profunda e exagerada dependência. Os conflitos anais poderão de- sencadear momentos de um indivíduo extremamente sujo e outros de extrema lim- peza. Os conflitos edípicos poderão desencadear um profundo interesse pelas ques- tões sexuais. As forças da libido reprimidas ou adormecidas durante a latência deve- rão voltar a tona sempre como um referencial dos conflitos das fases iniciais. (GAL- LATIN, 1978) Anna Freud argumenta que a adolescência não é, pura e simplesmente um processo de recapitulação, em função das diferenças específicas entre esse período e a infância. Segundo ela, nem a luta, nem as estratégias de defesa são as mesmas, as tensões da infância e da adolescência podem ser semelhantes, mas as situações no qual se desenvolvem mudaram substancialmente. Com o período de latência a criança adquire uma estrutura de caráter. “O ego do período inicial da infância é sub-desenvolvido e indetermi- nado, impressionável e sujeito às influências do id; no período pré- puberal, pelo contrário ele se encontra rígido e firmemente consolida- do. E ele conhece sua mente. O ego infantil era capaz de repentina- mente revoltar-se contra o mundo exterior e se aliar com o id na ob- tenção da gratificação instintiva mas, se o ego do adolescente faz isso, ele se envolve num conflito com o superego. Suas relações firmemen- te estabelecidas com o id por um lado e com o superego pelo outro – que nós chamaremos de caráter – torna o ego inflexível. Ele só tem um desejo: represar o caráter desenvolvido durante o período de la- tência, re-estabelecer a relação primitiva entre suas próprias forças e as do de responder às grandes urgências das demandas instintivas com redobrado esforço de autodefesa.” (A. FREUD)
  • 36. 35 Segundo ela os conflitos da infância são solucionados sob a influência ex- terna, ou melhor sob a atitude orientadora dos pais quanto ao acerto ou ao erro das atitudes. Na adolescência isso também ocorre, porém agora sob o julgo de dimen- sões internas, de conceitos próprios, o que fará despertar nos indivíduos um profun- do sentimento de culpa frente aos desejos proibidos. O equilíbrio destas forças de- pende de diversas outras variáveis, tais como a força dos impulsos do id condiciona- dos pelos processos fisiológicos durante a puberdade e a qualidade do caráter de- senvolvido durante a latência que atuarão na repressão dos impulsos do id ou na substituição deles por objetos socialmente desejáveis. “O id, agora com força crescente, pode vencer o ego, e neste caso não se manterá qualquer traço do caráter prévio do indivíduo, e sua entrada na vida adulta será marcada por um excesso de gratificação desinibida do instinto. Ou o ego pode ser vitorioso, e neste caso o ca- ráter do indivíduo durante o período de latência se declarará para sempre. Quando isto ocorre, os impulsos do id do adolescente se confinam dentro dos limites já prescritos para a vida instintiva da cri- ança.” (A. FREUD) Uma vez que os fatores que determinam estes ajustamentos são principal- mente uma questão de experiências anteriores a adolescência, aqui, passa a repre- sentar um mero campo de batalha e, por isso passa a ter um papel secundário na formação da personalidade adulta. Outro aspecto que diferencia a adolescência da infância são os mecanismos de defesa que o adolescente desenvolve para conter a ação dos impulsos do id. O ascetismo adolescente aparece como um mecanismo inusual de defesa do ego para conter o id. (GALLATIN, 1978) Os jovens que passam por esse tipo de fase ascética que eu tenho em mente, parecem ter medo mais da quantidade do que da qualida- de de seus instintos. Eles suspeitam dos divertimentos em geral e assim sua segurança parece resultar simplesmente da contraposição de seus desejos mais presentes, por meio das mais severas proibi- ções. Toda vez que o instinto diz “Eu quero”, o ego retruca “Tu não deves”, mas ou menos como nas restrições paternas, quando do treinamento da criancinha. Esta desconfiança do instinto do adoles- cente tem uma perigosa tendência a se difundir; ela começa com os desejos instintivos propriamente ditos e se estende às necessidades físicas comuns. Todos nós já encontramos jovens que renunciam se- veramente a qualquer impulso que possa ser sensual e que evitam a sociedade das pessoas de sua própria idade, não querendo partici- par de qualquer diversão e, de uma forma verdadeiramente puritana, recusam qualquer ligação com o teatro, a música ou a dança. Nós
  • 37. 36 podemos entender que há uma ligação entre a renúncia de roupas bonitas e atraentes e a proibição da sexualidade. Mas nós começa- mos a nos inquietar quando a renúncia se estende a coisas que são inofensivas e necessárias, como p. ex., quando um jovem se recusa a usar a mais simples proteção contra o frio, mortifica seu corpo de todas as formas possíveis e expõe sua saúde a riscos desnecessá- rios, quando ele não só não se permite tipos específicos de prazer oral, mas também, “por princípio” reduz sua alimentação diária a um mínimo, quando reluta em sorrir ou rir, ou quando, em casos extre- mos, ele adia o defecar ou o urinar tanto quanto possível, a fim de não satisfazer imediatamente a todas as suas necessidades físicas.” ( A. FREUD) Anna Freud enunciou uma explicação para tal ascetismo. O id que agora se faz mais impertinente que na infância, requer o uso de medidas defensivas inusuais, ao passo que na infância estas medidas eram comuns. O ascetismo aqui funciona como um abandono de todos os prazeres, uma certa indulgência, não simplesmente como um treinamento social mas até certo ponto como uma herança filogênica, ou seja, se historicamente a humanidade teve que se precaver de tais impulsos, ela própria, misteriosamente incutiu esta situação nas futuras formações genéticas. ( GALLATI, 1978) Outro mecanismo de defesa desenvolvido pela adolescência é a intelectua- lização. Ana Freud vai descrever este evento como uma atitude protetora do ego para controlar os impulsos do id. Neste caso a relação conflituosa da infância será o da fase édipica. Há um florescimento da inteligência que estará a serviço dos inte- resses da defesa. A luta interna do adolescente, assim, poderá ser canalizada para a evocação de argumentos abstratos, como p. ex., quando um jovem se vê atormen- tado pela hostilidade do pai e passa a condenar, em discurso, toda e qualquer tipo de tirania de autoridade. Para A. Freud a sexualidade é o motivo de toda a curiosi- dade intelectual. Por fim trataremos do amor adolescente e a relação de tempestade e tor- menta, segundo a interpretação psicanalítica de Anna Freud. Como filha do criador da Psicanálise, argumenta, que este período é marcado por amizades e amores passionais, às vezes tão consumidores e em outras tão breves. Os adolescentes segundo A. Freud, são muito volúveis em função da necessidade de ajustamento e de controle da recapitulação da sexualidade infantil. Os jovens pressentindo o perigo de tais desejos procuram se afastar de seus pais, vivendo praticamente como um estranho dentro de sua residência. A perda deste tão duradouro objeto de amor, de-
  • 38. 37 verá ocasionar um profundo vazio interior, que poderá ser substituído por romances intempestivos ou por episódios de adoração de heróis. (GALLATIN, 1978) Anna Freud não considerava que a adolescência fosse um período total- mente desprovido de significado, pelo contrário, para ela a tempestade e tormenta era inteiramente desejável. O indivíduo necessita destes transtornos para que possa entrar na idade adulta de uma forma genuinamente madura.
  • 39. 38 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentro das metas propostas pela pesquisa a qual teve como objetivo falar da adolescência, de uma forma generalista, entretanto enfatizando o papel da se- xualidade e do desenvolvimento das fases da sexualidade do adolescente, enquanto momento de transformações, angústias e tormentas, somos apontados a fazer al- gumas considerações. Ainda que haja divergências acerca do desenvolvimento da personalidade por parte de pensadores, é certo que não é fácil para o adolescente passar por este período a que chamamos de adolescência/puberdade. Bombardeado por alterações hormonais que reclamam uma demanda, principalmente na esfera sexual, é ao mesmo tempo, impedido de exercê-la em sua plenitude, porque alvo de proibição e recriminação por parte dos adultos, descarregando quase sempre seu alvo libidinal através da masturbação, que para o adolescente representa um misto de permitido e bom e proibido e mau. Para S. Freud a adolescência representaria tão somente uma recapitulação dos eventos ocorridos na infância, entretanto para Anna Freud a adolescência re- presentaria muito mais do que isto, uma vez que nem as lutas, nem as estratégias de defesa são as mesmas da infância em virtude de que as situações no qual se desenvolvem mudaram substancialmente. Agora o adolescente pensa por si só, questiona, experimenta, porque possui um ego mais consolidado, apesar que ainda, se conflitua com o superego. Deixei de analisar as obras de Melanie Klein, que tão bem discorre sobre a infância e adolescência, pela urgência e adiantado do tempo, que me impediram de fazer uma leitura mais acurada das suas obras, muito embora, o meu objetivo tenha sido, falar tão somente da adolescência e de sua sexualidade e o que isto represen- ta no processo de socialização e convivência no mundo dos adultos. Por certo que o tema não está acabado, uma vez que é grande o número de pensadores e pesquisadores que debruçaram-se sobre o assunto e produziram uma gama de obras, que comportaria um tempo maior de estudo e pesquisa, mais espe- ro, ter contribuído para sintetizar algum material que possa ajudar a quem se dedica ao tema.
  • 40. 39 BIBLIOGRAFIA ABERASTURY, ARMINDA. Psicanálise da Criança. Teoria e Técnica. Porto Ale- gre: Artmed, 1992. CARVALHO, UYRATAN. Psicanálise I. SPOB, 2000. FENICHEL, OTTO. Teoria Psicanalítica das Neuroses. Fundamentos e Bases da Doutrina Psicanalítica. São Paulo: Atheneu, 2001. FREUD, SIGMUND. Três ensaios sobre a sexualidade. Obras Completas eletrôni- cas. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1969. GALLATIN, JUDITH ESTALLE. Adolescência e Individualidade. Uma abordagem conceitual da psicologia da adolescência. São Paulo: Harper & Row do Brasil Ltda, 1978. HORACIO, R. Fundamentos da Técnica Psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, 1989. KAPLAN & SADOCK. Compêndio de Psiquiatria. Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artmed, 1997. LAPLANCHE E PONTALIS. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fon- tes, 2001. MULLAHY, PATRICK. Édipo, mito e complexo – Uma crítica da teoria psicanalí- tica. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.